Este documento discute a história da Biblioteca Pública Benedito Leite no Maranhão, desde sua criação em 1831 até sua transferência para o Instituto Literário Maranhense em 1866. A biblioteca passou por períodos de prosperidade inicial e posterior decadência devido à falta de recursos. Finalmente, foi entregue ao Instituto Literário para tentar restaurá-la, em estado bastante deteriorado.
2. ÍNDICE
número 15 abril / maio 2014
ÍNDICE
IDEIA DA CRIAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA
Jomar Moraes
SOB O SIGNO DO LIVRO
Sebastião Moreira Duarte
HISTÓRIA ALIADA À MODERNIZAÇÃO
Rosa Maria Ferreira Lima
Rosa Maria Ferreira Lima
DOADORES ILUSTRES
CURIOSIDADES
Rosa Maria Ferreira Lima
APRESENTAÇÃO EXPEDIENTE
3. Esta edição da revista Plural é totalmente dedicada à Biblioteca
Pública Benedito Leite.
Com textos de Jomar Moraes, Sebastião Moreira Duarte e Rosa
Maria Ferreira Lima, o leitor encontrará um breve relato sobre os
fatos que marcaram a sua história na vida intelectual e literária do
Maranhão.
Fundada em maio de 1831, é a segunda mais antiga instituição
pública no Brasil. Gonçalves Dias, Sousândrade, Joaquim Gomes
de Sousa, Aluísio e Artur Azevedo e Humberto de Campos foram
alguns de seus frequentadores e usuários de seu acervo, que
conta, hoje, mais de 130 mil livros, coleções de jornais e antigos
manuscritos.
Em 2013, no governo Roseana Sarney, a Biblioteca foi reaberta,
totalmente reformada e com novos equipamentos de digitalização,
scanner e leitora de microfilme.
A sede atual, inaugurada em janeiro de 1951, está localizada
na Praça do Panteon, e transformou-se num marco da arquitetura
neoclássica em São Luís.
Jorge Murad
Presidente do Conselho Deliberativo
Instituto Geia
APRESENTAÇÃO
4. IDEIA DA CRIAÇÃO DA
BIBLIOTECA PÚBLICA
Jomar Moraes
Foto:AlbaniRamos
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5. Ao que até hoje sabemos, a primeira
proposta da criação de uma biblioteca
pública no Maranhão foi apresentada a
8 de julho de 1826, no curso de uma ses-
são do Conselho do Governo da Provín-
cia. Formalizou-a o Dr. Antônio Pedro
da Costa Ferreira (Alcântara-MA, 1778
- Rio de Janeiro, 1860), bacharel em Câ-
nones pela Universidade de Coimbra,
futuro presidente da Província do Ma-
ranhão, senador do Império e agracia-
do com o titulo de barão de Pindaré.
Tal proposta, entretanto, não produ-
ziu nenhum efeito imediato, embora
haja desempenhado o papel de semen-
te boa lançada à terra e com efetivo po-
der de germinação.
É que a providência sugerida por
Costa Ferreira indicava que, para a
aquisição dos livros destinados à pro-
jetada biblioteca pública, fosse destina-
da uma dotação anual correspondente
a um oitavo do superávit provincial.
Mas como o Conselho não dispusesse
de dados que lhe permitissem estimar
o valor do “superávit” e muito menos
o de sua oitava parte, nenhuma decisão
foi adotada em relação à criação da bi-
blioteca.
A proposta de criação desse órgão foi
apresentada quando presidia a Provín-
cia e, consequentemente, o respectivo
Conselho do Governo o tenente-coro-
nel Pedro José da Costa Barros, que go-
vernou o Maranhão de 31 de agosto de
1825 a 1º de março de 1827, o qual foi
sucedido pelo vice-presidente Romual-
do Antônio Franco de Sá, cuja interi-
nidade se estendeu até 28 de fevereiro
de 1888, data em que assumiu o posto
o marechal-de-campo Manuel da Costa
Pinto. Este, a exemplo de seus dois ci-
tados antecessores, nada providenciou
relacionado com a criação da biblioteca,
talvez por motivo dos breves períodos
em que todos estiveram no Governo da
Província.
Coube ao governante seguinte, de-
sembargador Cândido José de Araújo
Viana, futuro Marquês de Sapucaí, que
presidiu a Província de 14 de janeiro de
1829 a 11 de outubro de 1832, dar efe-
tividade à proposta de Costa Ferreira.
Por ofício de 17 de junho do mesmo ano
em que assumiu o Governo da Provín-
cia, fez chegar a S.M.I.¹ pedido de auto-
rização e de ajuda financeira para que
fosse criada em São Luís uma bibliote-
ca pública, ofício esse acompanhado da
referida ata do Conselho.
A resposta, em nome do Imperador
Pedro I, assinada pelo ministro José
Clemente Pereira, datada de 30 de ou-
tubro do mesmo ano de 1829, dizia ha-
ver Sua Majestade determinado fosse
participado ao presidente da Província
“que as circunstâncias atuais das ren-
das públicas não permitem que se faça,
por ora, esta despesa.”
Era, assim ontem tal qual hoje, o co-
nhecido e lamentável menosprezo pela
cultura e pela educação, um dos males
que infelicitam o Brasil. Recursos os
mais comezinhos são negados para fins
culturais, ao mesmo tempo em que são
dissipadas quantias exponencialmen-
1. S.M.I - Sua Majestade Imperial
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6. te maiores de que aquelas que mante-
riam em bom funcionamento um órgão
cultural de importância relevante ou
custeariam um programa editorial de-
cente.
O presidente da Província, Araújo
Viana, entretanto, não se deu por ven-
cido em face da negativa imperial.
Desautorizado em sua pretensão de
utilizar recursos oficiais, empreendeu
uma subscrição popular e voluntária,
para obtenção dos meios necessários à
instalação da biblioteca. À Câmara Mu-
nicipal de São Luís delegou a incum-
bência de promover uma subscrição e
organizar a biblioteca.
É de 24 de setembro de 1829 o ofício
em que a Câmara se declarou honrada
pela deferência de sua escolha “para
dirigir o quanto fosse concernente à li-
vraria pública.” Para desobrigar-se do
compromisso assumido, designou uma
comissão composta dos vereadores Ma-
nuel Raimundo Correia de Faria e João
Gualberto da Costa.
A 10 de novembro o presidente
Araújo Viana comunicava ao impera-
dor a solução encontrada para o estabe-
lecimento da Biblioteca, sem acarretar
qualquer dispêndio para a Fazenda Na-
cional. Recebeu, por isso, a aprovação
e louvor de D. Pedro I, conforme ofício
que a 23 de janeiro de 1830 lhe dirigiu
o marquês de Caravelas, nestes termos:
“Aviso aprovando a medida tomada
para a Biblioteca Pública – Ilmo. e Exmo.
Snr. – Sendo presente a S.M. o Imperador
ofício de V. Exª., de 10 de novembro do
ano p. p., em que participa ter empreen-
dido uma subscrição voluntária para o es-
tabelecimento de uma Biblioteca Pública
nessa cidade, sem dispêndio da Fazenda
Nacional. Houve por bem o Mesmo Au-
gusto Senhor aprovar a deliberação da V.
Exª. àquele respeito; e me ordena louvar
no Seu Imperial Nome o zelo com que V.
Exª., sem aumentar as despesas do Esta-
do, procura tornar cada vez mais próspe-
ra a condição dos habitantes da Província
que lhe foi confiada. – Deus Guarde a V.
Exª. – Palácio do Rio de Janeiro, em 23
de janeiro de 1830. – Marquês de Carave-
las – Snr. Cândido José de Araújo Viana
– Cumpra-se e registre-se. – Maranhão,
Palácio do Governo, em 12 de março do
1330 – Araújo Viana.” ²
3 DE MAIO DE 1831,
NO CONVENTO DO CARMO
Ocupando a parte superior do Con-
vento do Carmo, foi a Biblioteca Pú-
blica Provincial aberta oficialmente ao
público de São Luís em 3 de maio de
1831. Dispunha, à época, de um acervo
de 1.448 volumes, provenientes, em sua
maioria, de generosas doações, como a
que fez o Dr. Costa Ferreira, de 300 li-
vros. Em ofício dirigido à Corte, Araú-
jo Viana, além de comunicar a abertura
da Biblioteca, pedia “algum socorro pe-
cuniário da Fazenda Pública”, para ma-
nutenção e desenvolvimento do órgão
recém-fundado.
Instalada graças a subscrição popular
e mantida, inicialmente, com recursos
da Província e das Câmaras Munici-
pais, já no Orçamento do Império, para
2. Do Livro 133, de Provisões e Avisos, 1826/30, fl. 174 ev.
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7. o exercício de 1832/33, era contemplada
com a dotação de um conto, trezentos
e cinquenta mil réis. Mas logo em 1834,
com a edição do Ato Adicional, passou
a depender exclusivamente da Provín-
cia a sua manutenção.
A Biblioteca possuía, nesse ano, um
acervo de 2.399 volumes, 443 dos quais
doados pela Biblioteca Imperial e Públi-
ca do Rio de Janeiro, a pedido do barão
de Pindaré.
Tudo leva a crer tenha a Biblioteca
vivido, inicialmente, um período de re-
lativa prosperidade, mormente quando
se sabe que pouco depois de sua insta-
lação assumiu o Governo da Província
o barão de Pindaré, grande entusiasta
de sua criação e funcionamento.
Em1836jápossuíaumacervode3.376
volumes. A análise, porém, das leis or-
çamentárias provinciais no período
que vai de 1835/36 a 1843/44 demonstra
a ausência de qualquer empenho em
possibilitar meios para sua expansão.
Antes, foram as dotações, mantidas em
dois contos de réis até 1842/43, reduzi-
das a um conto e duzentos mil réis, no
orçamento para o exercício de 1843/44.
É fácil inferir, por esse e outros mo-
tivos, haja a Biblioteca, depois do im-
pulso que lhe deu Costa Ferreira, en-
trado numa fase de involução cada vez
maior, à medida em que não dispunha
da recursos materiais para crescer pelo
menos na proporção em que o fazia a
cidade.
Com o decorrer do tempo essa situa-
ção não mudou para melhor, senão que
se agravou consideravelmente. Pelo que
se conclui de consulta a diversas fontes,
continuou para a Biblioteca uma época
de franca decadência e abandono.
Minimizada em sua importância pela
anexação, em 1851, ao Liceu Maranhen-
se, também instalado, desde sua funda-
ção em 1839, no Convento do Carmo,
projetodeJoaquimSerraaoConselhoda
Província, em 1865, buscava certamente
salvar o que ainda restava, pondo-a sob
a proteção do Instituto Literário Mara-
nhense³, entidade recém-fundada em
São Luís.
Digno de atenção, para comprovar a
decadência em que se afundava nossa
principal casa de leitura, é o registro
que a 9 de maio faz o Publicador Mara-
nhense:
Biblioteca Pública – Este estabeleci-
mento conta apenas 1.900 volumes, dos
quais um grande número se acha conside-
ravelmente arruinado.
Com o regulamento que tem, no edifício
em que está e desprovida de livros como se
acha, a Biblioteca continua a ser de perfei-
ta inutilidade para o público.
Urge, pois, mudá-la para casa apropria-
da, enriquecê-la de grande cópia de obras
de todos os ramos de conhecimentos hu-
manos e dar-lhes regímen, de maneira que
esteja ela aberta nas horas em que pode ser
maior a afluência dos estudiosos.
3. Instituto Literário Maranhense – instalado em 25 de março de 1865, no pavimento superior do Convento do Carmo. A 9 de abril de 1866
elegeu a seguinte Diretoria: Presidente, Francisco Sotero dos Reis; Vice-Presidente, Francisco de Melo Coutinho de Vilhena; 1º Secretário, Bráulio
C. do Rêgo Mendes; Tesoureiro, Luís Carlos Pereira de Castro; Bibliotecário, Antônio Rêgo (apud. Publicador Maranhense, 10 de abril de 1866)
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8. A capital do Maranhão, por sua
adiantada civilização, pela conheci-
da aptidão dos seus habitantes para as
letras e ciências, tem direito a possuir
um estabelecimento deste gênero nas
condições expostas.
E para comprovar a situação de pro-
gressivo abandono da Biblioteca, certa-
mente nenhum testemunho seria mais
forte que as palavras do próprio Chefe
do Governo Maranhense, conselheiro
Antônio Manoel de Campos Melo, em
Relatório à Assembleia Legislativa Pro-
vincial, no ano de 1862:
TRANSFERÊNCIA PARA O
INSTITUTO LITERÁRIO
MARANHENSE
A Biblioteca era, então, um órgão de-
cadente e sem utilidade social. O pro-
jeto de Joaquim Serra não poderia ser
mais oportuno. Ao Governo importava
afastá-la de si, já que não providenciava
sua restauração, talvez por exiguidade
de recursos orçamentários. Com efeito,
entregou-a ao Instituto Literário Mara-
nhense, através da Lei nº 752, de 1º de
julho de 1866, cujo primeiro artigo re-
zava:
“A Biblioteca Pública Provincial fica,
desde já, a cargo e sob a guarda do Ins-
tituto Literário Maranhense, sem ônus
nenhum para a Província.”
Para se ter uma ideia do estado da
Biblioteca ao ser entregue aos cuida-
dos do Instituto Literário Maranhense,
basta ler a parte que lhe diz respeito no
Relatório do Presidente Franklin A. de
Menezes Dória. Registrando o feito, o
Almanaque do Maranhão, ed. de 1867
(p. 98), referia-se ao pouco valor da ins-
tituição transferida e, na edição de 1868
(p. 96), dava notícia de que o Instituto
Literário Maranhense consertara-lhe as
instalações e salvara das “traças e ca-
runchos” 984 volumes.
Realmente tudo leva a crer estivesse a
Biblioteca tão esquecida e mal cuidada,
que o Governo Provincial, eximindo-se
da obrigação de mantê-la, fez-lhe gran-
de bem.
Ora, se em 1836 chegara a ter 3.376 vo-
lumes e em 1866 só dispunha de 1.931,
de que puderam ser aproveitados ape-
nas 984, sua transferência para o Institu-
to Literário Maranhense constituiu me-
dida altamente benéfica, pois o zelo dos
dirigentesdaquelanotávelsociedadere-
sultou na incorporação de peças que até
hoje, não obstante extravios e descami-
nhos, enriquecem o seu acervo, como as
“BIBLIOTECA – Possui a Biblioteca
1.931 volumes arruinados, como observei.
Segundo informou o bibliotecário, {Dire-
tor, à época} este estrago é devido às más
condições da Biblioteca, e à dificuldade na
renovação do ar no edifício, e à péssima dis-
posição das estantes, que, sendo fixas nas
paredes, não podem ser espanejadas pela
parte interna, o que facilmente as sujeita
à ação das traças, brocas e outros vermes.
Nenhum aumento tem tido a Biblioteca no
número de volumes, a não ser o de alguns
livretes ou coleções de leis gerais e provin-
ciais.” E, no ano seguinte, a mesma auto-
ridade afirmava em seu relatório, quanto à
Biblioteca: “Nada tenho a acrescentar ao
que o ano passado vos disse a este respei-
to.”
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9. doações de Alexandre Teófilo de Carva-
lho Leal, Antônio Rego, viúvas de Gon-
çalves Dias e Teixeira Mendes, irmãos
do Dr. Caetano Cândido Cantanhede
e outras várias, merecendo especial re-
ferência a que fez Antônio Henriques
Leal, de livros e coleções dos seguin-
tes jornais: O Conciliador (1821/23),
O Censor (1825/30), A Estrela do Nor-
te do Brasil (1829/30), O Argos da Lei
(1825), Crônica Maranhense (1838/41),
O Farol Maranhense (1827/33), O Brasi-
leiro (1830/32), Eco do Norte (1834/36) e
alguns mais que integram, ainda hoje, a
sua importante coleção de jornais ma-
ranhenses.
Sob nova gestão, a Biblioteca, depois
de recuperadas suas péssimas instala-
ções, foi reaberta ao público, dispondo
de um acervo de 2.234 livros encader-
nados e convenientemente arrumados.
SEGUNDA TRANSFERÊNCIA:
SOCIEDADE 11 DE AGOSTO
Assim funcionou esta casa de leitura,
tendo por sede o mesmo local (Conven-
to do Carmo), até que o desmoronamen-
to e consequente extinção do Instituto
fê-la retornar ao Governo da Província.
Mas este novamente e sem nenhuma
tardançaaconfiouaterceiros.Destavez,
à Sociedade Onze de Agosto (conforme
Lei n. 991, de 10 de junho de 1872), que
lhe deu instalações condignas em seu
salão de honra, no pavimento superior
do prédio da Rua do Egito, que sediou
a Assembleia Legislativa do Estado.
Durante cerca de dez anos, a Socie-
dade Onze de Agosto floresceu entre
nós, graças à capacidade de trabalho
de seus dirigentes. Incorporando a Bi-
blioteca Pública Provincial, proveu-lhe
boas condições de funcionamento, des-
tinando espaço e equipamento para a
guarda de todas as peças de seu acervo,
conforme se depreende das palavras de
Henrique Costa Fernandes, em seu li-
vro Administrações maranhenses.
Sucedeu, porém, que as dificuldades
financeiras em que, após alguns anos
de relevantes serviços à educação e à
cultura de nossa terra, se encontrou a
Sociedade Promotora da Instrução Pú-
blica – Escola Onze de Agosto torna-
ram absolutamente impossível sua sub-
sistência. Entregue a sede ao Governo
Provincial, que indenizou a extinta cor-
poração das despesas de reconstrução
e adaptação do prédio, adquirido na
condição de próprio público cedido, a
Biblioteca perdeu suas instalações.
Algum tempo depois, foi resolvi-
do que, não dispondo de sede própria
para suas reuniões, a Assembleia Pro-
vincial deveria ocupar o imóvel da ex-
tinta Escola Onze de Agosto. Até então
nosso Legislativo se vinha reunindo
em dependência da Cúria Metropolita-
na, contígua à Sé Catedral, frente à hoje
Praça Benedito Leite.
Isto posto, uma simples troca de po-
sições possibilitou a execução plena do
projeto que dava sede própria à Assem-
bleia. Enquanto “pedreiros metiam o al-
vião nas paredes e arrancavam as estantes,
carapinas levantavam os estrados, desloca-
vam as mesas e preparavam a sala para re-
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10. ceber os representantes da Província” (do
Relatório do comendador Temístocles
da Silva MacielAranha, citado por Hen-
rique Costa Fernandes, in Administra-
ções maranhenses, p. 335).
Extinta a Sociedade Onze de Agosto,
não foi o prédio de sua sede vendido ao
Governo Provincial, para pagamento de
dívidas, como informa o professor Je-
rônimo de Viveiros, em seu livro Bene-
dito Leite, um verdadeiro republicano,
p. 154. O imóvel, adquirido no Gover-
no do Dr. Augusto Olympio Gomes de
Castro, foi cedido à Sociedade Onze de
Agosto por ato do presidente José Ben-
to da Cunha Figueiredo Júnior. A quan-
tia de Rs. 8:231$208 paga aos credores
da Sociedade referia-se a despesas de
reconstrução e adaptação do prédio.
RETORNO AO CONVENTO
DO CARMO, COM
PASSAGEM PELA SÉ
Ato contínuo, o local anteriormente
ocupado pelo Congresso passava a ser
a nova sede da Biblioteca. Foi ao pro-
mover tão desastrosa mudança que,
nas palavras do comendador Temísto-
cles Aranha, “os carregadores dos li-
vros muitas vezes deixavam os caixões
nas portas das quitandas, e, enquanto
faziam suas libações, o moleque que
passava subtraía um volume para di-
vertir-se ou vender mais adiante. As
ruas compreendidas entre os dois edi-
fícios, o que era despojado dos livros
e o que os recebia, ficavam alastradas
de estampas, mapas, jornais e folhas de
livros” (op. cit,, p. 335) .
Foto:AlbaniRamos
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11. Por ato de 7 de junho de 1882, o Go-
verno incumbiu Augusto da Silva Fon-
tes de organizar – ou reorganizar? – a
Biblioteca, após transferi-la para com-
partimento da Sé, desocupado pelo Le-
gislativo Provincial.
Ali teria a Biblioteca sido reaberta ao
público em 4 de abril de 1883, com 3.842
volumes.
Mas, ainda segundo o comendador
MacielAranha, designado em 1886 para
estudar as providências de salvação do
que restava da malfadada casa de cultu-
ra, os responsáveis pela administração
da Sé Catedral não tardaram a exigir o
espaço ali ocupado pela Biblioteca.
A solução para o impasse foi recorrer
ao Convento do Carmo, cujo provin-
cial, “satisfeito e sem protesto”, a rece-
beu de volta.
Não obstante o gesto hospitaleiro
da acolhida em situação tão crítica, so-
breleva esclarecer, novamente citando
o Relatório de Temístocles Aranha ao
presidente da Província, que foi “esta
mudança ainda mais precipitada que
a anterior, pois as salas (se salas são
esses quartos) que deviam receber os
livros nem sequer estavam caiadas e
ladrilhadas. O resultado foi o que em
princípio disse a V. Exa. – desaparecer
a Biblioteca!”
Daí por diante, a Biblioteca permane-
ceu abandonada e esquecida, tanto que,
pelo comum, deixou de figurar nos Re-
latórios dos Presidentes da Província, e
quando alguma rara ocasião tal aconte-
ceu, nada de importante se disse dela,
como neste exemplo: “BIBLIOTECA
PÚBLICA – Funciona atualmente este
estabelecimento em um dos salões do
pavimento térreo do Convento do Car-
mo. É diretor da Biblioteca o cidadão
Raimundo Carlos de Almeida Sobral.
(Presidente José Bento de Araújo, in
Fala à Assembleia Legislativa Provin-
cial do Maranhão, em 11.2.1888, p. 18).
Embora retificando a afirmação do
prof. Jerônimo de Viveiros (Benedi-
to Leite, um verdadeiro republicano,
p 156/161), sobre ser a atual Biblioteca
Pública Benedito Leite outro órgão que
não o fundado em 1831, em consequên-
cia da proposta apresentada ao Conse-
lho da Província pelo futuro barão de
Pindaré, importa reconhecer sua ne-
nhuma utilidade desde que voltou ao
Convento do Carmo, após a extinção
da Sociedade Onze de Agosto.
Sem recursos para manter-se e com-
prar livros novos, praticamente não
existia, com o seu acervo em ruínas,
empilhado no pavimento inferior do
Convento do Carmo.
UMA GLORIOSA RESSURREIÇÃO
É curioso observar como, ao período
em que se extinguem as grandes figu-
ras do Grupo Maranhense, corresponde
uma das fases mais críticas da história
da Biblioteca. E mais curioso ainda será
observar que sua reorganização ocorre
exatamente ao tempo em que o Mara-
nhão ressurge de suas próprias cinzas
gloriosas, pelas mãos dos chamados
“novos atenienses”.
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12. Em 1892, acompanhando o Liceu Ma-
ranhense, transfere-se do Convento do
Carmo para a Rua Afonso Pena (então,
Formosa), canto com a Rua Henriques
Leal, onde atualmente existe uma uni-
dade do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão.
Seus livros, destruídos e/ou extravia-
dos em grande parte, não ultrapassam
500 em 1895, ano em que é determinada
suaorganização,graçasaLeioriundade
projeto apresentado por Benedito Leite
ao Congresso Legislativo do Estado.
Encarregado, em caráter provisório,
de cuidar da Biblioteca, por ato gover-
namental de 5 de junho de 1895, o pro-
fessor José Ribeiro do Amaral desenvol-
ve intensa atividade na transferência do
acervo restante para o prédio da Rua da
Paz nº 80, sede, hoje, da Academia Ma-
ranhense de Letras. Nomeado Diretor a
13 de abril de 1896, prossegue o profes-
sor Ribeiro do Amaral em seu desvela-
do mister de restabelecer a Biblioteca,
providenciando-lhe instalações e solici-
tando doações de livros. Aos 500 volu-
mes a que, aproximadamente, montava
o acervo encontrado, somam-se, agora,
substanciais ofertas, como a de Benedi-
to Leite, constante de 341 volumes.
Finalmente, no ano de 1898, a 25 de
janeiro, foi a Biblioteca reaberta ao pú-
blico, já sob a direção de Antônio Lobo.
Inegavelmente, a administração de An-
tônio Lobo marcou uma das fases mais
brilhantes da história atormentada e si-
nuosa de nossa principal casa de leitura.
Transformada em ponto de conver-
gência da atividade intelectual mara-
Antiga sede da Biblioteca Pública, entre 1896 e 1950.
Foto:GaudêncioCunha1908/AcervodoMuseuHistóricoeArtísticodoMaranhão
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13. nhense, ali foram proferidas as famosas
conferências da Universidade Popular
do Maranhão, movimento surgido m
1909, e que contou com o entusiasmo
das mais proeminentes figuras, à épo-
ca, do mundo intelectual maranhense.
Local de encontro de jornalistas, pro-
fessores e intelectuais militantes, repre-
sentou, sem dúvida alguma, importante
papel em nossa vida cultural. Lá, foram
fundados, no tempo de Antônio Lobo, a
Oficina dos Novos, a Sociedade Cívica
das Datas Nacionais, a Academia Ma-
ranhense de Letras, jornais, revistas, etc.
Dentre as muitas personalidades que
a visitaram nessa época, deixando re-
gistradas suas impressões, seja-nos per-
mitido transcrever a de Coelho Neto,
que assim se expressou:
Não seria demais repetir que a Biblio-
teca Pública foi, em verdade, o centro
propulsor da grande fermentação espi-
ritual que aos albores deste século fez
refulgir nosso perdido brilho de terra
do talento e da inteligência.
Antes da reorganização, a contar de
1895, merece referência especial o des-
velo com que se houvessem Antônio
Henriques Leal e Antônio Rêgo, pelo
tempo que funcionou entre nós o Insti-
tuto Literário Maranhense, a cuja guar-
da e cuidados foi entregue a Biblioteca
em 1866.
MUDANÇAS, NOVAMENTE
As mudanças, como já vimos, consti-
tuíram terrível flagelo imposto à Biblio-
teca durante largo tempo. Relativamen-
te bem instalada na Rua da Paz nº 80, a
partir de 25 de janeiro de 1898, determi-
nação governamental fê-la retornar ao
prédio da Rua do Egito (onde estivera
ao tempo da Escola Onze de Agosto).
E, desta vez, para a parte térrea, em que
permaneceu de 1914 até 1927, quando
por ordem do governador Magalhães
de Almeida, foi novamente transferida
para sua sede anterior, na Rua da Paz.
Quatro anos depois, em 1931, é provi-
soriamente instalada no sobrado nº 107,
da mesma rua (justamente naquele em
que Humberto de Campos serviu como
caixeiro da Casa Trasmontana), a fim
de que se efetuassem reformas em sua
sede, cujo teto ameaçava desabar. So-
mente quase dois anos depois retorna-
ria ao prédio anterior, cuja reforma le-
vou mais de um ano para ser concluída.
“Esta é a grande colméia.
Aqui, nos seus alvéolos, vivem as abe-
lhas que trazem da grande flora do Espí-
rito Humano o mel sápido da Inspiração
e a cera da Sabedoria.
Distila o mel dourado das estrofes e os
conceito, feito da cera casta que é a ma-
téria-prima dos círios, dão luz ao altar
do mundo, onde o Pensamento é o Deus
único, forte, criador eviterno.
Guarda, Aristeu, às abelhas serenas e
aos que te pedirem mel ou cera, vai pro-
digamente dando, que, assim, praticas a
mais meiga e salutar das misericórdias,
qual a de consolar e esclarecer os espíri-
tos.”
Maranhão, 15 de julho de 1899.
Coelho Neto.
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14. Além dessa impressionante sequên-
cia de mudanças, pelo comum alta-
mente prejudiciais à integridade de seu
acervo e instalações, a história de nossa
Biblioteca Pública registra períodos de
graves dificuldades financeiras, em que
o orçamento estadual não lhe consigna-
va qualquer importância para aquisição
de livros e manutenção de serviços in-
dispensáveis, como limpeza, desinfec-
ção, encadernação, etc.
Dessa indiferença queixava-se ao Se-
cretário-Geral do Estado, em 31 de mar-
ço de 1933 (Of. n. 252), o Diretor Corrêa
de Araújo, reclamando a majoração de
vencimentos dos servidores da Casa,
congelados de 1899 a 1920, e desse ano
até 1933.
Vários diretores, especialmente An-
tônio Lobo e Domingos Perdigão, fi-
zeram repetidamente constar de seus
relatórios anuais sérias críticas às pre-
cárias condições de funcionamento da
Biblioteca. Apontavam sempre, como
solução para o problema, a construção
ou adaptação de um imóvel especial-
mente destinado a abrigar a Bibliote-
ca. Em 24 de abril de 1918, o governa-
dor José Joaquim Marques sancionou
a Lei n. 816, que autorizava o Poder
Executivo a construir ou adaptar um
prédio destinado a tornar efetiva essa
justa aspiração. Tal lei, entretanto, não
teve execução, e mais de quarenta anos
se passaram sem que nenhuma provi-
Sala de leitura da antiga sede da Biblioteca Pública
Foto:GaudêncioCunha1908/AcervodoMuseuHistóricoeArtísticodoMaranhão
14 / 45Ìndice
15. dência objetiva merecesse o problema.
A imponente sede atual, na Praça do
Panteon, é obra do Governo Sebastião
Archer da Silva, inaugurada a 29 de ja-
neiro de 1951, sendo sua Diretora a Srª
Aricéya Moreira Lima da Silva, a cujo
trabalho muito se deve.
Nome que também não pode ser es-
quecido entre os que mais lutaram pela
construção de um prédio próprio para
a Biblioteca é o do escritor maranhense
Josué Montello, que após encarregar-se
gratuitamente de adquirir, sob critérios
técnicos, todo o mobiliário da nova casa
de leitura, veio ao Maranhão para de-
fendê-la junto à Assembleia Legislativa,
contra alguns parlamentares que acha-
vam a obra suntuosa demais para uma
biblioteca! O discurso que ali proferiu
em 11 de dezembro de 1950, verdadeira
peça literária, cuja a íntegra a seguir vai
reproduzida:
Senhor Presidente,
Senhores Deputados
Quero agradecer a Vossas Excelências,
inicialmente, a honra que neste momen-
to me concedem, para expor desta tribuna,
tradicionalmente honrada pelos propugna-
dores da causa democrática no Maranhão, o
projeto das novas instalações da Biblioteca
Pública do Estado.
Não sendo eu elemento do Executi-
vo Maranhense nem possuindo as prerro-
gativas de um mandato popular, bem sei
que Vossas Excelências, convocando-me a
esta exposição, me distinguem de maneira
excepcional, que particularmente me sensi-
biliza.
Há, para aproximar-nos, uma razão
comum: a defesa de uma cultura ameaçada
– a do Maranhão –, simbolizada no templo
que se lhe pretende erigir, com as galas de
uma casa de Atenas, na nova Biblioteca Pú-
blica do Estado.
Não medi sacrifícios, Senhores De-
putados, ao deixar a oficina de meu trabalho
e aqui comparecer, com as insígnias de meu
título de maranhense que ama seu berço e
jamais conta as horas dos dias e das noites,
quando se acha em causa a batalha em prol
da preservação de patrimônio cultural de
nossa terra.
Confesso, no entanto, a Vossas Ex-
celências, como exórdio desta minha expla-
nação, que, ao ser distinguido pelo Governa-
dorArcher da Silva, em dias do ano passado,
com a honrosa incumbência de planejar as
novas instalações da Biblioteca de São Luís,
meu impulso foi esquivar-me à responsabi-
lidade da missão, em face dos dois motivos
ponderáveis, que a seguir apresento.
O primeiro, ligava-se ao fator tem-
po, que, com a graça de Deus, mercê de mi-
nha dedicação ao trabalho, nunca deixou de
me ser escasso, mormente agora, quando me
pesam sobre os ombros os dois milhões de
volumes da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. Único maranhense a galgar a sua
direção, em mais de um século de existência
de nossa mais importante livraria, busquei
compensar, em redobrado esforço, a circuns-
tância de haver chegado a um cargo de an-
cião letrado com menos de trinta anos. De
que não desservi a Casa nem comprometi
minha terra – aí estão as provas, no reco-
nhecimento público à operosidade de minha
administração, por parte das mais diversas
correntes culturais e políticas de meu país.
15 / 45Ìndice
16. Jamais deixei de associar minha pre-
sença, na direção de nossa mais alta insti-
tuição de cultura, ao nome de minha terra.
E recordo, para atestá-lo, os oito volumes
que a Biblioteca Nacional, na minha gestão,
já publicou até hoje a título de subsídios ao
documento da vida pregressa do Maranhão.
Por outro lado, pessoalmente ou
como diretor da Casa, sucessivas remessas
de publicações tenho orientado para a Biblio-
teca Pública de minha terra, além de haver
cooperado com o Deputado Odilon Soares
na instalação e na manutenção de numero-
sas pequenas bibliotecas que se acham dis-
seminadas por todos os pontos do território
maranhense. Os técnicos que hoje servem
à livraria maranhense foram formados por
mim, nos Cursos da Biblioteca Nacional,
através de bolsas de estudo que coloquei à
disposição do Estado. E devo acrescentar,
para reavivar um pouco a minha própria
memória, que o primeiro Curso de Bibliote-
conomia ministrado em nossa terra, fui eu
quem dele se incumbiu, gratuitamente, em
1946, no intuito de disseminar os conheci-
mentos básicos de organização e adminis-
tração de uma biblioteca moderna em São
Luís.
Possivelmente em razão desse reite-
rado propósito de servir ao Maranhão (de
que fui, certa vez, o único Secretário-Geral
sem ônus para o Estado), foi que o Gover-
nador Archer da Silva me distinguiu com a
convocação para orientar as instalações da
Biblioteca Pública que se pensa inaugurar
dentro em breve. Mas é preciso que eu diga,
Senhores Deputados, que a incumbência,
aceita nas mesmas condições de gratuida-
de de todos os meus trabalhos anteriores ao
Maranhão, correspondia a alguns meses de
labor constante, o qual deveria ser concilia-
do, ainda, com as minhas atividades à frente
da Biblioteca Nacional e também com as de-
mais obrigações de minha vida de escritor.
A essa dificuldade de conciliação do
tempo vinha somar-se um motivo de ordem
moral, bem mais delicado e de difícil supera-
ção. Eu teria naturalmente de envolver-me,
embora de maneira apenas opinativa, em
problema que demandava apelo ulterior aos
cofres do Estado, e deveria, por conseguin-
te, salvaguardar, no curso da transação que
dependia de meu veredito, ao mesmo tempo
a limpidez de meu nome e os interesses ma-
teriais de meu Estado.
Por isso, Senhores Deputados, man-
dava a minha prudência que eu, cautelosa-
mente, atordoado na minha falta de tempo,
me esquivasse à honraria do convite que me
fora dirigido.
E foi o que fiz, em carta ao Exmº. Sr.
Governador Archer da Silva.
Mas a minha condição de Diretor da
Biblioteca Nacional, que eu invocara como
argumento à recusa, serviu ao Governador
maranhense, precisamente, como motivo à
reiteração do convite.
Conta Jean Jacques Brousson que
Anatole France, ao chegar ao Rio, disse ao
almirante Jaceguai, que lhe fora apresenta-
do:
- Almirante, o senhor é um herói.
E como o almirante, contente, lhe
perguntasse se lhe conhecia os feitos glorio-
sos, Anatole France abanou negativamente
a cabeça e explicou-se:
- Por definição, um almirante é um
herói.
Pelo menos por definição, eu deveria
16 / 45Ìndice
17. entender do problema que o Maranhão me
convidava a resolver.
Anuindo então ao novo apelo, que
me lisonjeava, ponderei que seria de minha
conveniência expusesse eu a esta Assem-
bleia, no instante da decisão legislativa do
processo, todas as etapas de meu trabalho, e,
se possível, em sessão pública, para que, as-
sim, mais esclarecido ficasse o povo, numa
obra que ao povo unicamente se destina.
A aquiescência desta Casa, facultan-
do-me a palavra, corresponde, dessa forma,
a um desejo meu, na salvaguarda de meu
nome e dos supremos interesses de nosso
Estado.
Agradeço, portanto, bastante pe-
nhorado, à gentileza de Vossas Excelências,
Senhores Deputados, na oportunidade que
se me concede para honrar-me no altiplano
desta tribuna.
Por sua tradição cultural e por seu
culto ininterrupto ao bom gosto literário, o
Maranhão deveria erguer as pedras de sua
biblioteca pública com o fervor com que, na
Idade Média, a Cristandade projetou no es-
paço as linhas góticas de suas catedrais. Não
se poderia medir sacrifícios à consecução de
uma obra que se vincularia ao passado, ao
presente e ao futuro, e que devesse exprimir,
na beleza de sua imponência, toda a glória
cultural de um grande povo. Se os religiosos
antigos batiam o pó das estradas esmolando
em nome de Deus para construírem as igre-
jas opulentas, que simbolizariam a grande-
za da fé na humildade da condição humana,
por que motivo haveríamos nós, no nosso
devotamento às tradições intelectuais, de
erigir um templo mesquinho à cultura, na
Atenas Brasileira?
Em minha opinião, Senhores Depu-
tados, esse argumento bastaria para justi-
ficar a obra que nos vai envaidecer, se não
houvesse outras razões ponderáveis, bem
mais objetivas, de sentido mais prático,
para explicar, à luz do sol, com a clareza das
verdades evidentes, uma iniciativa que não
pertence unicamente ao Governo do coronel
Sebastião Archer da Silva, mas sobretudo a
Vossas Excelências, que souberam ratificar,
no texto das leis, a sugestão do Executivo
maranhense.
Quando recebi o convite para pro-
jetar as instalações da nova Biblioteca, já o
seu edifício, com a imponência das linhas
clássicas, dominava a praça Deodoro, numa
eminência de que descortina toda a cidade.
Cumpria-me traçar um plano que, dentro
dos princípios básicos da biblioteconomia
moderna, ajustasse as instalações ao edifí-
cio, a fim de que a obra não resultasse se-
gundo os versos populares:
“Por fora, bela viola;
Por dentro, pão bolorento”
Durante três meses consecutivos es-
tudei pormenorizadamente cada aspecto do
problema, apaixonando-me por ele, como
maranhense, e posso dizer a Vossas Exce-
lências que a obra, uma vez concluída, po-
derá servir de padrão às iniciativas congê-
neres em nosso país.
No primeiro pavimento, projetei o
salão de leitura, com seu serviço de referên-
cia, o vestíbulo, os catálogos, as acomoda-
ções do público e dos servidores; a seguir,
no segundo pavimento, previ a Biblioteca
Infantil, o Museu de Arte e a Biblioteca de
Adolescentes, convenientemente separadas
por paredes de vidros e com o mobiliário
adequado; no último pavimento procurei
aglutinar toda a obra cultural da instituição
17 / 45Ìndice
18. num salão de conferências, com duzentas e
quatro acomodações, e ainda um palco de
doze metros, de tal sorte que aí seria o teatro
natural da inteligência maranhense, para
as suas experiências dramáticas, os seus
concertos, as suas palestras, os seus debates
eruditos. Tudo isso, Senhores Deputados, se
projetou com equilíbrio e bom gosto, de que
constituem resumo expressivo as plantas e
desenhos que submeti à consideração do Sr.
Governador do Estado.
Aprovado esse plano, que atendia
perfeitamente aos propósitos de dotar-se o
Maranhão com uma biblioteca-modelo, cou-
be-me ainda processar a coleta de preços en-
tre as firmas especializadas e disto dei conta
ao Sr. Governador Archer da Silva no tex-
to do ofício que lhe dirigi em data de 18 de
agosto último e que se acha anexado ao pro-
cesso respectivo.
Dirigi-me, então, em nome do Go-
vernador maranhense, às seguintes firmas
especializadas:
G. F. Gunther, do Rio de Janeiro.
Brasileira Fornecedora Escolar, S.
A., de São Paulo.
Tapeçarias Souza Batista S.A., do
Rio de Janeiro.
Fábrica de Móveis Piratininga
Ltda., de São Paulo.
Certo de que tais firmas se poderiam
desincumbir-se do projeto, com exatidão e
rigor, escolhi-as entre as demais, da capital
da República e de São Paulo, em razão de
ter eu, como Diretor da Biblioteca Nacio-
nal, conhecimento direto de obras congêne-
res pelas mesmas firmas executadas.
Verifica-se pela documentação em
anexo, que a firma G. F. Gunther apresen-
tara a proposta que melhor consultava os
interesses do Estado, na base global de Cr$
3.067.000,00 (três milhões e sessenta e sete
mil cruzeiros).
Eram as seguintes as condições das
demais firmas consultadas:
Brasileira Fornecedora Escolar S.
A., de São Paulo:
- Cr$ 4.221.000,00 (quatro milhões
e duzentos e vinte e um mil cruzeiros).
Tapeçarias Souza Batista S. S., do
Rio de Janeiro.
- Cr$ 4.293.000,00 (quatro milhões
e duzentos e noventa e três mil cruzeiros).
Fábrica de Móveis Piratininga S.
A., de São Paulo.
- Cr$ 4.602.000,00 (quatro milhões
seiscentos e dois mil cruzeiros)
A firma que exibia a proposta de
preços mais reduzidos e que se distanciava
sensivelmente das demais apresentava como
credenciais de sua idoneidade, entre deze-
nas de outras, as seguintes obras de vulto,
de que, ultimamente, se desobrigara, após
vencer, na administração federal, as respec-
tivas concorrências públicas:
Reforma Geral da Biblioteca Nacional
Instalações da biblioteca do:
Ministério da Educação e Saúde.
Tribunal de Contas da União.
DASP.
Departamento Nacional de Saúde.
SAPS (Rio, Niterói, Juiz de Fora).
Instalação completa do Hospital dos
Servidores Públicos, no Rio de Janeiro.
Instalação de nove pavimentos do Mi-
nistério da Educação e Saúde.
18 / 45Ìndice
19. Instalação do Gabinete do Presidente e
dos doze Ministros do Tribunal de Contas.
Instalação do Gabinete do Presidente do
DASP.
Instalação dos salões e restaurante de
Oficinas da Base Aérea do Galeão.
Talvez se possa presumir, em virtu-
de do desconhecimento pormenorizado do
vulto da obra projetada, que se trata de ins-
talação onerosa. A esse propósito, julgo de
meu dever prestar ainda um esclarecimen-
to.
A obra que o Maranhão vai realizar,
no ano de 1950, está orçada em bases bem
mais módicas do que as que foram proces-
sadas na Biblioteca Nacional, em 1946, no
curso de administração anterior à minha.
Resumindo a questão direi apenas que os
dois salões de leitura da Biblioteca Nacio-
nal, também feitos em madeira, custaram,
há quase cinco anos, cerca de dois milhões
de cruzeiros – enquanto todas as instalações
da Biblioteca de São Luís, do primeiro ao
último pavimento, incluindo as decorações
e a iluminação e ainda um pequeno teatro
moderno, e um museu de arte, e uma biblio-
teca infantil, e uma biblioteca escolar, e os
depósitos de livros, e o salão de leitura, e o
gabinete de estudo, custarão ao nosso Es-
tado Cr$ 2.784.000,00, a que se somam as
despesas de transporte, calculadas em Cr$
283.000,00.
O principal argumento que natu-
ralmente se levanta contra as instalações
da Biblioteca do Estado é que se trata de
uma obra suntuosa. Penso que devemos, li-
minarmente, repelir esse adjetivo. Não foi
a suntuosidade que se buscou, mas sim o
bom-gosto, dentro das condições básicas de
uma biblioteca moderna.
Aos que presumem que miramos
muito alto, no propósito de dotar o Mara-
nhão de uma livraria modelar, desejo ape-
nas arguir que, em nossa terra, construímos
acertadamente um Palácio da Educação e
outro para a Justiça, enquanto a cultura
permanecia albergada num casarão obsole-
to, sem conforto e segurança.
No entanto, Senhores Deputados, o
renome do Maranhão advém precisamente
de suas letras, de seu amor à sabedoria, de
seu devotamento às humanidades. Presumi-
mo-nos de atenienses, envaidecidos de nos-
sas glórias intelectuais, e esquecemos que,
talvez por falta de uma catedral para a nossa
Inteligência, acabem rareando os sacerdotes
do culto de Minerva, para não falarmos no
abandono dos fiéis.
É necessário que eu diga a Vossa Ex-
celências, com a prova das estatísticas, que o
Maranhão se enfileira entre os Estados que
menos adquirem livros, na queixa universal
dos editores. Obras básicas essenciais para a
compreensão do mundo moderno vêm a São
Luís e dão aqui as de Viladiogo, porque não
encontram quem as escolha, num sintoma
aparente de desapreço.
Felizmente, Senhores Deputados,
se trata de um fenômeno de aparência, por-
quanto, mercê de Deus, continua bem viva
a inteligência dos maranhenses e a sua ân-
sia de sabedoria. O que ocorre, para expli-
car a situação desalentadora, é que o preço
do livro, alto demais para a bolsa do pobre,
se transformou numa iguaria de ricos, os
quais, com as exceções de praxe, parecem
atacados de dispepsia nos banquetes de Mi-
nerva.
Se verificarmos a média dos orde-
nados no Maranhão, concluiremos que o
19 / 45Ìndice
20. livro, por seu elevado custo, se converteu
para nós em artigo de luxo. É essa a razão
por que as nossas livrarias têm mais aspecto
de bazar do que de casa especializada no co-
mércio do livro. Há muitos anos perdemos
contato com os editores europeus, que dis-
punham em São Luís, no começo do século,
de um mercado para as novidades literárias
que surgiam em Paris, Lisboa e mesmo Lon-
dres. Na velha Livraria Teixeira, ainda en-
contrei Pierre Loti, Anatole France, Balzac,
nas edições Calman Levi. A literatura por-
tuguesa encontrava consumo certo nesta ci-
dade, reavivando-nos a memória dos moldes
antigos da língua, hauridos nas suas ma-
trizes essenciais. E hoje, Senhores Deputa-
dos? Qual a obra estrangeira que nos bate
à porta, trazida pelo livreiro solícito e expe-
dito, e interessado em nos impressionar a
inteligência com os valores de sua mensa-
gem? Verificamos que nada existe. Teremos
de concluir que minguou dentro de nós a
sedução da cultura? De maneira alguma. A
fascinação continua, mas talvez se possa di-
luir, pouco a pouco, no espírito das gerações
que se formam como consequência daquela
ausência da função que faz o órgão.
A única solução para o problema,
que nos consulta a vaidade e nos fere as tra-
dições, é a interferência do Estado, apare-
lhando convenientemente a sua biblioteca
pública e ajustando-a às condições técnicas
modernas, que a transformarão não na água
estagnada, que se converte em pântano, mas
na água corrente, que irriga as terras por
onde passa.
Cumpre-me dizer a Vossas Excelên-
cias que a Biblioteca, tal como hoje a com-
preendemos, se associa, de modo objetivo, à
comunidade a que se destina. Todas as fa-
cilidades são criadas para a sua articulação
efetiva com o público. Não visa unicamente
ao letrado, que a procura já com o domínio
das técnicas essenciais para bem explorá-la.
Nem o erudito, que dela se acerca interessa-
do na pesquisa. Nem ainda ao diletante, que
faz da leitura o tapete mágico das evasões
ociosas. É mais do que isso, porque se reves-
te das características de uma força social,
voltada para as mais diversas direções, po-
dendo atender à criança e ao ancião, ao ope-
rário e ao estudante, ao advogado e ao médi-
co, numa conciliação ecumênica dos valores
patrimoniais do espírito e da cultura. Não
pode converter-se, assim, numa instituição
de iniciados, mas numa casa do povo, com
as facilidades básicas para a disseminação
constante das técnicas e das ideias, consti-
tuída, portanto, em núcleo radiativo da res-
surreição intelectual do Maranhão.
JOSUÉ MONTELLO
A Biblioteca Pública do Estado do
Maranhão foi denominada, pelo Decre-
to nº1316, de 8 de abril de 1958, Biblio-
teca Pública Benedito Leite, em home-
nagem ao ilustre político maranhense
que propôs sua reorganização.
A bem da verdade histórica, deve ser
registrada, aqui, a ocupação, pela As-
sembleia Legislativa do Estado, dos 3º e
4º pavimentos do atual prédio da Biblio-
teca, no período de 1964 a 1970. Então
em obras a sua sede, veio o Legislativo
instalar-se provisoriamente na Bibliote-
ca, mas terminou permanecendo nela
durante seis anos.
Não obstando os altos e baixos por
20 / 45Ìndice
21. que tem passado através dos tempos,
é a Biblioteca Pública Benedito Leite
a guardiã de precioso tesouro que en-
cerra livros raros, documentos impor-
tantes de nossa história política, admi-
nistrativa e social, originais de livros e
uma riquíssima coleção de jornais que
se inicia com o número 1 do Concilia-
dor do Maranhão, primeiro jornal sur-
gido entre nós, em 1821.
Incorporou a seu acervo a parte bi-
bliográfica da Coleção Arthur Azeve-
do, bem como as bibliotecas particula-
res deixadas por Humberto de Campos
e Urbano Santos. Em 1970 transferiu
diversas peças de sua antiga Seção de
Museu para o Museu Histórico e Artís-
tico do Maranhão, entre as quais a Es-
tante Júlio Roca, doada pela Argentina
à Cidade de São Luís, e um fragmento
do Ville de Boulogne, em que naufra-
gou o poeta Gonçalves Dias.
No Governo Roseana Sarney, pas-
sou por uma interdição entre setembro
de 2009 e outubro de 2012, funcionan-
do provisoriamente na Rua do Egito
nº 218. Nesse período foram realizadas
consideráveis reformas materiais e es-
truturais no prédio sede que, ao pou-
cos, lhe vêm devolvendo o prestígio e
a fase áurea que inegavelmente viveu.
Seu acervo, aumentado, de 1971 até
esta data, em muitos milhares de volu-
mes, já responde satisfatoriamente aos
reclamos dos leitores que a frequentam,
diariamente.
Sua incorporação à estruturação
da Fundação Cultural do Maranhão e,
na sequência, à Secretaria de Estado da
Cultura, representa a garantia de que,
daqui por diante, continuará sempre
crescendo, para melhor e mais servir à
comunidade.
Escritor, historiador e ex-Presidente da Academia Maranhense de Letras.
Jomar Moraes
21 / 45Ìndice
22. Coleção Geia de Temas Maranhenses
Av. Colares Moreira, nº 01, qd. 121, sl. 102
Ed. Adriana, Renascença II, São Luís/MA
Cep: 65075-441
Tel: (98) 3227 66 55 geia@geia.org.br
www.geialoja.org.br
Ìndice
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+ +
23. O Padre Antônio Vieira queixava-se, a meados do século XVII, que
o Brasil estava infante. Ao pé da letra: incapaz de falar. De falar e de
ler: faltavam-lhe livros, conforme era a prática em todos os domínios
coloniais portugueses.
O Maranhão, ao contrário, nasceu sob o signo do livro. Como num
feliz augúrio, a Capitania desse nome foi confiada a João de Barros
(c. 1496-1570), primeiro romancista da língua portuguesa (Crônica do
imperador Clarimundo, 1522) e seu segundo gramático (Gramática da
língua portuguesa, 1540).
Disputado por franceses e portugueses, o Maranhão talvez seja o
Estado brasileiro que tem mais bem documentados em livro os inícios
de sua colonização. (Não esqueçamos que, a partir do século XVII,
aqui se constituiu um Estado à parte do Brasil). Basta mencionar a
História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão... (1614),
de Claude d’Abbeville, e sua continuação, a Viagem ao norte do Brasil
(publicada somente em 1874), de Yves d’Evreux, obras a que se jun-
tam, antes, a Jornada do Maranhão por ordem de S. Majestade, feita no ano
de 1614, que detalha a luta pela reivindicação portuguesa ao territó-
rio maranhense, e, depois, o circunstanciado Relatório de Alexandre
de Moura (1615), que documenta a rendição do francês Daniel de La
Touche, Senhor de La Ravardière.
SOBOSIGNODOLIVRO
Foto:AlbaniRamos
SebastiãoMoreiraDuarte
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24. Do Período Colonial, a educação jesuítica nos legou numerosa bi-
bliografia, da qual pode dizer-se emblemática a Crônica da missão dos
padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, do padre João Fi-
lipe Bettendorf (edição de 1910, na Revista do IHGB), sem esquecer
os sermões aqui pronunciados por Antônio Vieira, alguns dos quais
estão entre os mais afamados da obra do grande pregador.
No entanto, não há negar-se: escreviam-se livros sobre o Maranhão,
mas os livros não eram conhecidos no Maranhão. Também por estes
ladosdoNorte,aexistênciadebibliotecasnãofoimarcadacolonização
portuguesa. Os livros que transpunham o Oceano guardavam-se nos
conventos coloniais e destinavam-se, em sua quase absoluta exclusi-
vidade, à catequese e à formação dos religiosos.
Entende-se, nesse contexto, a lacuna, apontada pelo Dr. Antônio
Pedro da Costa Ferreira, Barão de Pindaré (1778-1860), e sua propos-
ta, logo após a Independência, de destinar uma parte do Orçamen-
to do Maranhão a criar-se uma biblioteca pública para a Capital da
Província. Começa o longo percurso, a que não faltaram vicissitudes
de diversa ordem, e chegam à que hoje se chama Biblioteca Pública
Benedito Leite, cuja história está contada noutro lugar desta revista.
Aqui se sumarizam, em dados breves, algumas curiosidades que per-
meiam a história da Biblioteca.
Pouca gente se dará conta, por exemplo, que o Dr. Cândido José
de Araújo Viana (1793-1875), cujo título de nobreza (Marquês de Sa-
pucaí) se perpetua na praça do Sambódromo, no Rio de Janeiro, foi
governador da Província do Maranhão e é lembrado por seu esforço
para o surgimento da Biblioteca maranhense. Escasseando recursos
públicos, ele propôs (1829) que os cidadãos particulares fizessem doa-
ções de livros para formalizar a iniciativa, a qual não levou a mais que
315 títulos
Firmado no propósito de deixar uma biblioteca na Capital da Pro-
víncia, Araújo Viana delegou o empreendimento à Câmara Municipal
de São Luís. Acolhida com entusiasmo a “provocação”, o governador
comunicou o feito ao imperador Pedro I, de quem recebeu louvores
por haver poupado o Erário. A Biblioteca Pública Provincial abriu-se
ao público a 3 de maio de 1831, reunindo um total de 1.448 obras.
Em 1851, Gonçalves Dias, comissionado pelo Governo Imperial,
viajou do Rio de Janeiro, com a finalidade de investigar a situação
educacional do Norte do Brasil e levar para a Capital do Império do-
cumentos históricos das províncias visitadas. No Maranhão, anotou a
Arraste
ManuscritoMachadodeAssis
24 / 45Ìndice
25. precária situação em que se encontravam as bibliotecas dos conventos
de Santo Antônio e das Mercês, cujos livros estavam, uns “sem prin-
cípios, outros sem fim, e todos sem préstimo”, conforme registrou em
famoso relatório. Em razão, talvez, da precariedade aqui verificada,
a viúva do Poeta, “satisfazendo uma de suas últimas vontades” (Cé-
sar Marques), fez remeter à Província natal do Poeta, em 1865, vários
retratos de bispos e missionários que aqui estiveram. O material foi
entregue à sociedade que se denominou Instituto Literário, que não
durou muito.
Destaque especial merece agora, como promotor da instrução pú-
blica e incentivador da Biblioteca, o maranhense Antônio de Almeida
Oliveira, figura de proa na criação e manutenção da Sociedade 11 de
Agosto, em 1870, uma das mais ativas instituições culturais de seu
tempo e para cujo prédio foram transferidos os livros do Instituto Li-
terário, como modo de permanência da Biblioteca, a qual depois an-
dou por diversos lugares em São Luís, quase fazendo perder-se o seu
acervo. Isso durou quase até ao fim do século XIX.
Anote-se, nesse interregno, a grande serventia para a difusão do sa-
ber letrado, que prestou o Gabinete Português de Leitura, criado em
São Luís a 9.10.1852, no nº 1 da Rua da Paz, e que chegou a catalogar
mais de 8 mil volumes (numa cidade cuja população andava pelos 40
mil habitantes). Quando, no final do século, o Gabinete fechou portas
e foi transferido à Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, seu acervo
foi inventariado como dos maiores entre as bibliotecas brasileiras.
E nem se esqueça o surpreendente desenvolvimento
que teve a imprensa na Província do Maranhão, por lar-
go tempo no século XIX, e cuja história é capítulo a
contar-se em separado, fugindo a este esquema rá-
pido. A quantidade de tipografias, jornais e livros
impressos, e sua alta qualidade, arrebatadora
de prêmios para além dos limites provinciais,
é algo que surpreende a quem desconheça
o elevado padrão cultural que valeu à velha
São Luís a antonomásia de Atenas Brasileira.
Já alcançado o Período Republicano, outro
nome a ser enaltecido é o de Antônio Lobo
(1870-1916), que recuperou a Biblioteca,
então instalada onde hoje funciona a
Academia Maranhense de Letras.
Foto:AlbaniRamos
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26. “Nessa fase, a Biblioteca Pública teve papel saliente na vida intelec-
tual do Maranhão, pois à volta dessa preclara figura [Antônio Lobo]
reuniam-se os homens cultos e os moços que ambicionavam lugar nas
letras e ciências.” (Antônio Lopes). Antônio Lobo, enfermo de hiper-
sensibilidade, perseguido e insultado em sua honra pessoal, suicidou-
se na noite de São João de 1916.
Chamava atenção, na Biblioteca daquele começo de século, uma es-
tante doada pelo presidente Júlio Roca, da Argentina, contendo obras
de autores de seu país. A estante, “hoje totalmente desfalcada de seu
acervo bibliográfico” (Jomar Moraes), acha-se agora no Museu Histó-
rico eArtístico do Maranhão. Em retribuição pelo presente, o Governo
do Maranhão ofereceu ao presidente Roca um busto de Gonçalves
Dias. Essa obra de arte, talhada em bronze, foi readquirida e hoje or-
namenta o salão nobre da Academia Maranhense de Letras.
Outra preciosa aquisição da Biblioteca foi a famosa Coleção Artís-
tica Artur Azevedo, reunião de gravuras que pertenceram ao Teatró-
logo maranhense, compradas na administração de Luís Domingues
(1910-1914). Esse material, também desbaratado em larga medida, foi
repassado à Curadoria de Bens Culturais do Palácio dos Leões, sede
do Governo Estadual.
Foto:AlbaniRamos
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27. Maranhenses ilustres fizeram incorporar suas bibliotecas particula-
res à Biblioteca do Estado. Lembrem-se os nomes de Urbano Santos,
José Ribeiro do Amaral e Humberto de Campos.
A Biblioteca pública pôde contar com egrégios representantes da in-
telectualidade maranhense como seus diretores. Entre eles, José Ribei-
ro do Amaral, Domingos de Castro Perdigão e Jomar Moraes.
Mas não passe sem registro, a título de curiosidade, a extravagância
de outro Diretor da Biblioteca, leitor em moto-contínuo, que, tendo à
mão os livros da Biblioteca, deu-se ao trabalho de danificá-los à medida
em que os lia, marcando-lhes as letras maiúsculas, todas, com canetas
de cor variável, segundo um código de seu exclusivo uso e domínio.
Indiscutivelmente, porém, o fato de maior importância a referir, na
história da Biblioteca Pública, é o valioso achado, que aí se fez nos dias
12 e 13 de fevereiro de 1970, respectivamente, dos textos inéditos Harpas
de ouro e Liras perdidas, do poeta Joaquim de Sousa Andrade, o Sousân-
drade (1832-1902). A descoberta, que se deu às mãos de Jomar Moraes
e Frederick G. Williams, associou-se a escrito revelador de Luiz Costa
Lima, de uma década antes, para tornar real a “profecia” do Poeta, se-
gundo a qual a sua obra seria ignorada enquanto não se passasse meio
século. (Por feliz coincidência, naquele mesmo fevereiro de 1970, Jomar
Moraes encontrou uma fotografia de Sousândrade, feita em tamanho
postal, dobrada várias vezes, dentro de um livro da Academia Mara-
nhense de Letras. O retrato mostra o Poeta na fase final de sua vida, e
é a segunda das duas únicas imagens que dele se conservaram).
Sala de atendimento
Foto:AlbaniRamos
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28. Em 12.9.1951, no governo de Sebastião Archer (1947-1951), a Biblio-
teca Pública será finalmente instalada em belo edifício de linhas neo-
clássicas, à Praça do Panteon, centro da Capital maranhense.
Em 8.4.1958, por decreto do governador José de Matos Carvalho, a
instituição centenária ganhará a denominação de Biblioteca Pública
Benedito Leite, em memória do grande estadista que a reorganizou
no início do século XX.
De aí até os nossos dias, a Biblioteca Pública Benedito Leite sofreram
várias reformas, a última das quais, feita por ação da governadora
Roseana Sarney, foi além das instalações físico-estruturais, e a enri-
queceu de equipamentos que a equiparam às mais modernas casas de
cultura do País.
Setor de obras raras
Foto:AlbaniRamos
Mestre em Administração Universitária, University of Alabama; PhD em Literatura
Latino Americana, University Illinois, Membro da Academia Maranhense de Letras.
Sebastião Moreira Duarte
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29. Rosa Maria Ferreira Lima
História aliada
à modernização
Scanner planetário
Foto:AlbaniRamos
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30. Plural e democrática, a Biblioteca Pública Benedito Leite vem
se modernizando através da história, transformando-se em
espaço que vai muito além de um abrigo de livros, jornais e
revistas. Hoje, na era cibernética, alcança o conceito maior de difu-
são do conhecimento e saber, em estrutura moderna e ampla, apoia-
da em ferramentas tecnológicas, na acessibilidade e na segmentação
para atendimento a todos os públicos -do bebê ao estudante, do pes-
quisador àqueles que apenas apreciam a boa leitura.
A Biblioteca, por si só, rende muitas narrativas a serem contadas.
Desde a sua criação, em 3 de maio de 1831, sempre recebeu notáveis
da literatura e das ciências. O acervo do órgão do Governo do Esta-
do, ligado à Secretaria de Estado de Cultura (Secma), guarda precio-
sidades, como o manuscrito de Machado de Assis enviado a Arthur
Azevedo, a maior expressão do teatro brasileiro, assim como outros
documentos, hoje digitalizados.
O presidente da Província Cândido José de Araújo Viana, ao criar
a Livraria Pública, deu a ela as funções de biblioteca, museu e ar-
quivo. A Casa é a segunda mais antiga de natureza pública do
Brasil e foi financiada através de uma subscrição popular e vo-
luntária. Se mergulharmos em seu passado, sua importância
torna-se ainda maior ao sabermos que nela foram proferidas
as famosas Conferências da Universidade Popular do Maranhão
e fundadas a Oficina dos Novos, a Sociedade Cívica das Datas
Nacionais e a Academia Maranhense de Letras. A busca por
estar além do seu tempo e oferecer o melhor aos lei-
tores sempre permeou a trajetória do órgão. Embo-
ra tenha surgido para atender as necessidades
dos filhos da aristocracia e aos bacharéis e
autodidatas de então, com o advento
da República, democratizou o aces-
so ao conhecimento, consolidando-
se como a maior guardiã da memória do
nosso estado. Seu acervo, inicialmente formado à custa
da subscrição pública, com o tempo passou a receber
a doação de intelectuais e autoridades públicas. Um
bom exemplo disso são os donativos em nome de
Manoel Odorico Mendes, Francisco Sotero dosHigienização de obras
Foto:AlbaniRamos
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31. Reis, Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade), Aluísio de Azeve-
do, Antônio Goncalves Dias, Henrique Coelho Neto, José Ribeiro do
Amaral e até da República Argentina.
No decorrer dos seus 182 anos, inúmeras foram as sedes da Biblio-
teca Pública, segundo apontam documentos remotos. No período de
1831 a 1951, entre idas e vindas (que ocasionaram perdas e danos ao
seu acervo), ela passou pelo Convento do Carmo, Sociedade Onze
de Agosto, na Rua do Egito; Catedral da Sé, na Praça Benedito Leite,
e Rua da Paz, imóvel de número 13, onde atualmente está instalada
a Academia Maranhense de Letras (AML). Ali, ela ficou até 1951,
quando ganhou sede própria, onde funciona até hoje. O edifício, de
notável valor arquitetônico, inspirado na arquitetura greco-romana,
foi idealizado para homenagear os tempos áureos da intelectualida-
de maranhense do século XIX, que deu a São Luís o título de Athe-
nas Brasileira.
Atualmente, seu acervo é com-
posto por mais de 130 mil li-
vros, incluindo 10 mil obras ra-
ras, como o jornal O Conciliador
do Maranhão, Revista Elegante,
Alteracoens de Evora, Mentor In-
glês, O Censor, O Progresso e
muitos outros. Também cons-
tam de seu acervo dois mil ma-
nuscritos dos séculos XVI, XVII,
XVIII e XIX; 555 títulos de jor-
nais maranhenses, do período
de 1821-2014; 10 mil livros em
braille e falados; 600 CDs, DVDs
e fotografias.
Atualização
Para manter o status de pon-
to de encontro de professores,
pesquisadores, jornalistas, es-
critores e intelectuais militan-
tes, a biblioteca vem se atuali-
zando ao longo dos anos. EntreTranscrição de manuscrito
Foto:AlbaniRamos
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32. as reformas pelas quais passou, vale destacar duas mais significativas:
a realizada em 1997 e a de 2013, ambas durante os governos de Rosea-
na Sarney.
Em 1997, a Biblioteca iniciou seu processo de modernização, clima-
tizando alguns setores e informatizando seu acervo. À época, recebeu
seus primeiros computadores - antes, só dispunha de máquinas de es-
crever Olivetti. O trabalho incluiu melhorias por meio de ações diversas.
Nesse ano, teve início no Maranhão a implementação das primeiras
políticas públicas do livro, leitura e biblioteca, envolvendo todos os
segmentos da cadeia produtiva da área. O período marcou a criação do
Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), que incrementou
os projetos no setor, além da ampliação e fortalecimento do Sistema de
Bibliotecas Públicas do Estado, coordenado pela Casa.
Em 2013, a Biblioteca Pública Benedito Leite foi reinaugurada, total-
mente reformada e modernizada, com ampliação do acervo, aquisição
de 10 mil livros novos, móveis, equipamentos de ponta e criação de
novos espaços. Entre os setores abertos ao público, destacam-se o de
Obras Raras, Jornais, Revistas, Multimídia e Laboratório de Higieni-
zação e Digitalização do acervo, Braille, Telecentro, Informação Utili-
tária, Escritório de Direitos Autorais, Biblioteca do Bebê e um amplo
auditório.
Seção de microfilme
Foto:AlbaniRamos
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33. Vale destacar a Sala de Leitura e Estudo, um espaço de livre acesso,
equipado com cabines individuais para que o usuário leia e estude em
seus próprios materiais; o Telecentro, que disponibiliza acesso gratui-
to à internet, bem como a serviços que facilitam a vida do cidadão, a
exemplo de emissão de boletos de pagamentos, consulta ao CPF, entre
outros, e a Biblioteca do Bebê, pioneira no Brasil, que contribui para os
primeiros passos no mundo das letras.
Incentivo permanente
Nesse contexto, a “Benedito Leite” também desenvolve projetos e
programas essenciais de incremento das ferramentas disponibiliza-
das e de estímulo à leitura e ao conhecimento. Dentro do projeto de
“Modernização do Acervo Raro da Biblioteca”, que tem parceria da
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico do Maranhão (Fapema), foram adquiridos equipamentos
de ponta, como scanner planetário - que permite a digitalização de 10
mil imagens por dia -, scanner de digitalização de microfilmes, arqui-
vos deslizantes, dentre outros. Os resultados alcançados com a inicia-
tiva são bastante positivos. Ao todo, foram 350 rolos de microfilmes de
35 mm higienizados, 200 digitalizados e 6 mil e trezentas obras raras
digitalizadas só em 2013, superando a meta traçada.
Seção Braille
Foto:AlbaniRamos
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34. Outra ação realizada é o Projeto “Cidadania e Leitura”, do Proler,
em parceria com a Biblioteca Nacional, e que consiste na contratação e
formação de mediadores que atuam nas redes de bibliotecas comuni-
tárias que integram o sistema de bibliotecas do Maranhão, a exemplo
das Redes Leitoras “Ler pra Valer” e “Terra das Palmeiras”.
Há, também, o Projeto “Biblioteca Dinâmica”, desenvolvido em 30
bibliotecas municipais, propiciando a supervisão, capacitação, organi-
zação e dinamização, em parceria com as Prefeituras.
Já o Projeto “Lendo o Verde: leitura sob uma perspectiva ecológica”
é executado em conjunto com a Secretaria de Estado do Meio Ambien-
te (Sema) e engloba atividades de incentivo à leitura para crianças, jo-
vens e adultos, com uso do Carro-Biblioteca em municípios do estado,
a exemplo de Alcântara, Axixá, Morros, entre outros.
O Fórum Estadual do Livro e Leitura é realizado anualmente, com o
objetivo de fomentar as políticas públicas do livro, leitura e biblioteca
implementadas pelo Governo do Estado. A ação se desdobra em duas
iniciativas importantes: os Encontros Estaduais do Proler e os Seminá-
rios Leitores em Rede, realizados em parceria com o Instituto C&A e
Biblioteca Infantil e Juvenil Viriato Corrêa
Foto:AlbaniRamos
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35. as Redes Leitores “Ler pra Valer” e “Terra das Palmeiras”. Os públicos-
-alvos são bibliotecários, professores, gestores, mediadores de leitura e
educadores.
A Biblioteca realiza, ainda, os Projetos “Livro na Praça”, premiado
como “O Melhor Programa de Incentivo à Leitura junto a crianças e
jovens de todo o Brasil”, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil (FNLIJ) e Fundação Biblioteca Nacional (FBN), e a Quinzena
do Livro Infantil, sempre no mês de abril, em homenagem aos escri-
tores Hans Christian Andersen (pai da literatura infantil mundial) e
Monteiro Lobato (criador da literatura infantil no Brasil).
Para estimular a produção, a Biblioteca promove também o Lança-
mento Coletivo de Obras Maranhenses, ação que reúne escritores da
capital, São Luís, e do interior do estado. O projeto trabalha o incentivo
e a valorização de autores e ilustradores maranhenses.
Dessa forma, com ações permanentes e essenciais, a Biblioteca Públi-
ca Benedito Leite segue firme, consolidando seu papel de grande rele-
vância no desenvolvimento da cultura do Maranhão, um espaço social
indispensável para a formação de leitores e construção da cidadania.
Sala de Pesquisa
Foto:AlbaniRamos
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36. Bibliotecária, Diretora da Biblioteca Pública Benedito Leite e Coordenadora Estadual do
Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura).
Rosa Maria Ferreira Lima
Palavras de mestres das letras
Os intelectuais, seguramente, se dirigiam à Biblioteca Pública no sé-
culo XIX para ler ou tomar emprestado obras adquiridas na Europa,
Estados Unidos e mesmo em São Paulo, nas línguas inglesa, francesa,
latina e portuguesa. Era ali que liam o Jornal do Comercio, publicações
do Rio de Janeiro e os demais de outras capitais do país, assim como
os jornais franceses e estadunidenses, cujas assinaturas eram regular-
mente renovadas.
Maranhenses que se destacaram no campo das letras têm suas histó-
rias pontuadas por muitas idas à Biblioteca Pública. Entre frequenta-
dores de destaque, estão os poetas Antônio Gonçalves Dias e Joaquim
de Souza Andrade (Sousândrade), o matemático Joaquim Gomes de
Sousa, o jurista Celso Magalhães, os escritores Arthur Azevedo, Aluí-
sio Azevedo, Benedito Leite, Humberto de Campos, Ribeiro do Ama-
ral, Viriato Correa, Antônio Lobo, José Sarney (ex-presidente da Re-
pública), Josué Montello, Ferreira Gullar, Jomar Moraes (ex-diretor da
Casa), Ubiratan Teixeira, Nauro Machado, dentre outros.
Ao falar da “Benedito Leite”, Gullar é enfático em ressaltar a impor-
tância do ambiente em sua trajetória. “A Biblioteca fez parte de minha
vida, porque foi nela que tomei conhecimento da literatura maranhense e da
literatura de modo geral. Ia quase todas as semanas passar uma tarde lendo
ali”, afirmou o autor de “Poema Sujo”.
O poeta Nauro Machado também é taxativo: “A Biblioteca Pública Be-
nedito Leite está indissociavelmente ligada à minha formação intelectual, pois
foi nela que me iniciei nas leituras”.
Ubiratan Teixeira fala da abrangência e das possibilidades oferecidas
pelo local. “Nunca fui estudar, especificamente estudar, na Biblioteca Pú-
blica. Sempre frequentei aquela Casa pra ler literatura, sobretudo romances e
contos - nacionais e estrangeiros”, observou.
Referências
Acervos da Biblioteca Pública Benedito Leite, do Arquivo Público do Estado do Mara-
nhão e da Fundação Biblioteca Nacional (FBN); Guia Histórico da Biblioteca Pública
Benedito Leite, de Jomar Moraes.
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37. Rosa Maria Ferreira Lima
Doadores
ilustres
O
rico acervo da Biblioteca
Pública Benedito Leite foi
construído também com a
colaboração de grandes personalidades.
Entre os doadores ilustres, estão Manuel
Odorico Mendes, Francisco Sotero dos
Reis, Antônio Gonçalves Dias, Antônio
Rego, Antônio Henriques Leal e muito
mais.
Registros históricos dão conta que,
Francisco Sotero dos Reis, em 23 de
dezembro de 1861, doou exemplar da
obra “Memórias sobre a história do extinto
Estado do Maranhão e da Companhia de Jesus
nas Províncias do Maranhão e do Pará”. Mais
tarde, seis anos depois, então presidente
do Instituto Letterario Maranhense,
Francisco Sotero dos Reis recebeu a
quantia de quinhentos mil reis, cedidos
através da Lei da província nº 752, para
a compra de livros, reparos da Biblioteca
Pública e mudança desta para o Instituto.
Também em 1867, a viúva de Antônio
Gonçalves Dias repassou ao espaço 16
quadros a óleo, representando bispos e
religiosos dos tempos coloniais e 2 globos
geográficos.Operiódicotambémdestacou
JoséRibeirodoAmaral
JoãoDuarteLisboaSerra
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38. as doações feitas pela viúva do Dr. Raymundo
Teixeira Mendes, pelos irmãos do Dr. Caetano
Candido Cantanhede e pelos sócios doutores
Alexandre Theophilo de Carvalho Leal, Antonio
Rego e Antonio Henriques Leal.
Além disso, já em 14 de novembro de 1899, o
Diário do Maranhão noticiou a doação do filho
de Sotero dos Reis, Américo Vespúcio dos Reis,
de obras pertencentes ao pai, já falecido. Também
estão nos registros históricos, as doações de 23
volumes de obras diversas pelo Dr. Domingos
Pedro dos Santos, residente no Rio de Janeiro; de
diversos romances das coleções em publicação,
pelo Sr. Luiz Luz, residente em São Luís; e pelo
Dr. Francisco Campello, residente no Rio de
Janeiro.
Em 09 de agosto de 1900, o Diário do Maranhão
destacou os doadores de abril a julho desse ano:
Tenente Coronel Cláudio Cruz, coronel Pedro
Freire; José Maria Correia de Frias (fundador do
Diário do Maranhão), Dr. Anisio de Carvalho
Palhano, Henrique Coelho Neto, Frias &
Companhia,Dr.AlfredoFerreira,tenenteAntonio
de Castro Pereira Rêgo, Dr. Cesar Marques (filho),
José Ribeiro do Amaral, João Duarte Lisboa Serra.
Jáem10deagostode1901,oDiáriodoMaranhão
assinalou: “O nosso conterrâneo Conselheiro João
Tavares da Silva, residente actualmente em Lisboa fez
donativo ä Biblioteca desta Capital d’uma colleção de
livros publicados em commemoração do centenário
indiano pela Sociedade de Geographia de Lysboa. Os
livros vindos no Vapor Brunswick por intermédio
do Sr. Domingos Perdigão, já se acham recolhidos á
Bibliotheca”.
Todas são doações que ajudaram a construir o
acervoeafazerdaBibliotecaPúblicaomonumento
que hoje é.
AntônioGonçalvesDias
AntônioHenriqueLeal
FranciscoSoterodosReis
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39. Outras publicações, cd e dvd
Livros
Cd
Dvd
Av. Colares Moreira, nº 01, qd. 121, sl. 102, Ed. Adriana,
Renascença II, São Luís/MA Cep: 65075-441
Tel: (98) 3227 66 55 geia@geia.org.br
40. 02/05/1832 - No ofício nº 151, o presidente da Província
sugere ao presidente da Câmara que as multas impostas
aos eleitores faltosos sejam destinadas à manutenção da
Biblioteca Pública.
09/05/1832 - Em oficio, de nº 163, o presidente da Câ-
mara responde ao presidente da província declarando
estar ciente da destinação dada ao dinheiro de multas
impostas a eleitores faltosos.
10/01/1899 – Antônio Lobo, diretor da Biblioteca, suge-
re ao Governador João Gualberto Torreão da Costa que,
por indicação de usuários, a Biblioteca seja aberta tam-
bém aos domingos. Sugere também que se altere o arti-
go do Regimento da Instituição que restringe o acesso à
sala de leitura a pessoas com idade inferior a 14 anos.
08/04/1899 - A Biblioteca ganha um aparelho telefôni-
co, instalado pelo gerente da Commpanhia Telephonica,
autorizado pelo governo.
23/05/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “A Biblio-
theca Pública do Estado, desta data em diante , achar-se-há
aberta todos os dias, inclusive aos domingos, das 8 horas da
manhã às 10 da noite”.
31/07/1899 - Foi criada uma sala de leitura exclusiva
para mulheres. Essa novidade foi obra do governador
João Gualberto Torreão da Costa.
11/11/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “Está em
exposição, no Salão das Senhoras na Biblioteca Pública, um
grande quadro colorido de vistosos figurinos parisienses para
a estação de inverno”.
14/11/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “O Sr. Di-
retor desta repartição chama a atenção dos interessados para a
seguinte disposição do código penal: Art. 386. Deixar de reme-
ter á Bibliotheca Pública, nos lugares onde a houver, um
exemplar do escripto ou obra impressa. Pena de multa de 50$
a 400 mil reis. Assina- F. Sarapião Serra, Ad. Do Diretor.”
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C
U
R
I
O
S
I
D
A
D
E
S
41. 03/05/1901 - O movimento do mês de abril indica a frequência de 66
leitores infantis.
28/01/1902 - O Diário do Maranhão noticia que “A Biblioteca da Ar-
gentina envia o telegrama seguinte: Buenos Ayres, 23. Acha-se prompto o
artístico móvel que o General Julio Roca, presidente da República Argenti-
na, vae offerecer à Bibliotheca Pública de São Luís do Maranhão. É uma
obra de arte preciosíssima, sobretudo pelo trabalho de esculptura em madeira.
Numa placa de honra está gravada a seguinte epigraphe dedicatória do Gene-
ral Roca. À culta e intellectual cidade de São Luiz do Maranhão, o presidente
da República Argentina, Julio Roca, offerece esta lembrança.”
14/08/1913 - O Jornal Pacotilha (FBN) registra à primeira página:
“Foi transferida para o pavimento térreo do Congresso Estadual a Biblioteca
Pública, acondicionando-se-lhe a Coleção Arthur Azevedo”.
26/03/1914 - Num esforço para conter gastos, o governante interino
Affonso Giffining de Matos mandou retirar o uso do telefone da Bi-
blioteca Pública.
03/08/1921 - O Jornal, sob o título na primeira página “Aluízio de
Azevedo – um MEDALHÃO NA BIBLIOTECA”, registra: “Amanhã às
9 horas será solenemente inaugurado, num dos salões da Biblioteca Pública
do Estado, um lindo medalhão de bronze de Celso Antonio – o jovem já é
vitoriozo escultor maranhense – com a efígie do grande escritor conterrâneo
Aluízio de Azevedo, autor gloriozo do Mulato”.
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42.
43. Editor: Jorge Murad
Edição: Instituto Geia
Produção Editorial: Josilene Maia
Editoração Eletrônica: Aline Durans
Fotografia: Albani Ramos
Desenvolvedor Web: Helder Maia
Colaboradores: Jomar Moraes, Rosa Maria Ferreira Lima e
Sebastião Moreira Duarte.
Plural é uma publicação bimensal editada pelo Instituto Geia,
localizada na Av. Cel.Colares Moreira, nº 1, Q. 121, sala 102,
São Luís–MA CEP 65.075-440 Fonefax: +55 98 3227 6655.
contato@geiaplural.org.br
www.geiaplural.org.br
ISSN: 2238-4413
As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de exclusiva
responsabilidade dos mesmos, não refletindo a opinião da revista
nem do Instituto Geia. Sua publicação tem o propósito de estimular
o debate e refletir as diversas opiniões do pensamento atual.
EXPEDIENTE
Ìndice
44. EMPRESAS ASSOCIADAS
Agropecuária e Industrial Serra Grande
Alpha Máquinas e Veículos do Nordeste
ALUMAR
Atlântica Serviços Gerais
Bel Sul Administração e Participações
CEMAR - Companhia Energética do Maranhão
CIGLA - Cia. Ind. Galletti de Laminados
Ducol Engenharia
Grupo Mateus
Lojas Gabryella
Mardisa Veículos
Moinhos Cruzeiro do Sul
Niágara Empreendimentos
Oi
Rápido London
SempreVerde
Televisão Mirante
UDI Hospital
VALE
Ìndice
geia.org.br