SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 13
Descargar para leer sin conexión
DISTÚRBIOSDOEQUILÍBRIOHIDROELETROLÍTICO
FLUID AND ELECTROLYTE DISORDERS
Osvaldo Merege Vieira Neto1
& Miguel Moysés Neto2
1
Médico Assistente e Pós-graduando. 2
Doutor em Nefrologia e Médico Assistente. Divisão de Nefrologia. Departamento de Clínica
Medica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP.
CORRESPONDÊNCIA: Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Campus
Universitário – CEP: 14048-900 Ribeirão Preto – SP
VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico. Medicina, Ribeirão Preto
36: 325-337, abr./dez. 2003.
RESUMO - O sódio e o potássio são os principais íons dos meios extra e intracelular, respec-
tivamente. Os distúrbios relacionados a esses íons são freqüentes e podem ser causados por
inúmeras condições clínicas. A fisiopatologia e a gravidade das alterações indicam o tratamento
a ser instituído.
UNITERMOS - Sódio. Potássio. Hiponatremia. Hipernatremia. Hipopotassemia. Hiperpotas-
semia.
325
1- DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO SÓDIO
O sódio é o íon mais importante do espaço ex-
tracelular, e a manutenção do volume do líquido extra-
celular depende do balanço de sódio. É mantido pelo
organismo em níveis estreitos (Na = 136 a 145 mEq/1),
sendo vários os mecanismos envolvidos no seu con-
trole (osmorreceptores, barorreceptores, mecanismos
extra-renais e sistema justaglomerular). Pode haver
alterações no equilíbrio de sódio plasmático, aumen-
tando ou diminuindo sua concentração, ocorrendo hi-
pernatremia ou hiponatremia.
Existe uma estreita relação entre a água e o sódio,
de tal modo que os distúrbios desses dois elementos
não devem ser tratados de maneira independente.
1.1- Hiponatremia
Definição
A hiponatremia é definida como a concentra-
ção de sódio, no soro, inferior a 136 mEq/1. É asso-
ciada com diferentes doenças, e quase sempre é re-
sultado de retenção hídrica. Na maioria das vezes, esse
problema é devido à secreção inapropriada do Hor-
mônio Anti diurético (HAD), embora a excreção de
água livre possa estar limitada em algumas situações,
como a insuficiência renal crônica, independente, e do
HAD. Enquanto a hipernatremia sempre denota hi-
pertonicidade, a hiponatremia pode estar associada a
tonicidades baixa, normal ou aumentada. A osmolali-
dade efetiva ou tonicidade refere-se à contribuição da
osmolalidade dos solutos, tais como sódio e glicose,
que não podem se deslocar livremente através das
membranas celulares, induzindo, portanto, deslocamen-
tos transcelulares de água. A hiponatremia dilucional,
a causa mais comum desse distúrbio, é provocada por
retenção de água. Se a capacidade renal de excretar
água é menor do que a ingestão, ocorre diluição dos
solutos no organismo, provocando hiposmolalidade e
hipotonicidade.
Quadro clínico
Na grande maioria das vezes, é assintomática,
só ocorrendo sinais e sintomas nos casos graves. Ge-
Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NEFROLÓGICAS
36: 325-337, abr./dez. 2003 Capítulo II
326
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
ralmente, até a concentração de 125 mEq/l, não há
sintomas. Eles são inespecíficos, e podem ocorrer em
inúmeras condições clínicas. Os sintomas que podem
ser vistos na hipo ou hipernatremia, são, primariamen-
te, neurológicos e relacionados à gravidade e, particu-
larmente, à rapidez na mudança da concentração plas-
mática de sódio (horas). A queda na osmolalidade plas-
mática cria um gradiente que favorece a entrada de
água para dentro das células, levando ao edema cere-
bral. Vários sintomas e sinais podem estar relaciona-
dos à hiponatremia.
Sintomas: letargia, apatia, desorientação,
cãimbras musculares, anorexia, náuseas e agitação.
Sinais: sensório anormal, reflexos profundos
deprimidos, respiração de Cheyne Stokes, hipoter-
mia, reflexos patológicos, paralisia pseudobulbar e con-
vulsões.
Classificação
Pseudo-hiponatremia: a causa de hiponatre-
mia é a elevada concentração de grandes moléculas
de lípides (triglicérides e colesterol) e as paraprotei-
nemias (mieloma múltiplo), que, ao deslocarem parte
da água extracelular, reduzem, significantemente, a
fração plasmática de sódio. A importância clínica da
pseudo-hiponatremia e o seu tratamento são os mes-
mos da causa básica.
Hiponatremia hipertônica: é devida à presen-
ça, no soro, de solutos osmoticamente ativos, como
manitol e glicose. É comum na cetoacidose diabética,
na desobstrução do trato urinário, quando há diurese
osmótica pela uréia, e em outras condições clínicas. O
tratamento dessa condição é o mesmo da causa básica.
Hiponatremia hipotônica: na ausência de
pseudo-hiponatremia ou da presença de outros solutos
osmoticamente ativos, a hiponatremia evolui com hi-
potonicidade. É importante a avaliação do volume ex-
tracelular, pois, estando aumentado, normal ou dimi-
nuído, poderemos ter hiponatremia com sódio corpo-
ral total alto, normal ou baixo, respectivamente. Sen-
do assim, usaremos a classificação que vem a seguir:
1) Expansão do volume extracelular: resulta da
diminuição da excreção renal de água, com conse-
qüente expansão da água corporal total, maior do
que o sódio corporal total, e a diminuição do sódio
sérico. Freqüentemente, esses pacientes são ede-
matosos, o que ocorre nas seguintes situações clíni-
cas: insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndro-
me nefrótica e insuficiência renal. Em tais condi-
ções, o tratamento da hiponatremia consiste na cor-
reção do distúrbio subjacente e na restrição hídrica,
freqüentemente em associação com diuréticos.
2) Volume extracelular normal: a hiponatremia,
associada com euvolemia, inclui situações clínicas
que descreveremos a seguir
a) Hipotiroidismo: a ocorrência de hiponatremia em
hipotiroidismo, geralmente, sugere doença gra-
ve, incluindo coma mixedematoso. O tratamen-
to consiste na reposição hormonal e na restri-
ção hídrica.
b) Deficiência de corticosteróide: as deficiências de
glicocorticóidee/oumineralocorticóidepodemle-
var à hiponatremia, devido as suas ações no me-
tabolismo de sódio e da água. Deve-se pesquisá-
las, quando a causa de hiponatremia não é evi-
dente, em pacientes euvolêmicos. O tratamento
consiste na reposição hormonal e restrição hí-
drica.
c) Estresse emocional, dor e drogas: dor aguda ou
estresse emocional grave, como na psicose, as-
sociada com ingestão contínua, podem levar a
hiponatremia grave. Há drogas que estimulam a
liberação do HAD, provocando hiponatremia. O
tratamento consiste na correção da causa bási-
ca ou suspensão da droga, se ela for a causa,
associada à restrição hídrica. As drogas que es-
timulam a liberação de hormônio antidiurético ou
que aumentam sua ação incluem: inibidores das
prostaglandinas, nicotina, clorpropamida, tolbu-
tamida, clofibrato, ciclofosfamida, morfina, bar-
bitúricos, vincristina, carbamazepina (tegretol),
acetaminoafen, fluoxetina e sertralina. Pacien-
tes acima de 65 anos são mais susceptíveis.
d) Síndrome da secreção inapropriada do HAD
(SIHAD): após a exclusão dos diagnósticos aci-
ma, em pacientes hiponatrêmicos, euvolêmicos,
tal diagnóstico deve se considerado. A retenção
de água e a expansão de volume, nessa síndro-
me, leva a um achado freqüente, que é oposto
àquelas situações em que há hipovolemia: a
hipouricemia (concentração plasmática de áci-
do úrico < 4 mg/dl). As causas principais estão
listadas a seguir.
• Carcinomas: pulmão, duodeno, pâncreas
• Distúrbios Pulmonares: pneumonia viral,
pneumonia bacteriana, abscesso pulmonar, tuberculo-
se, aspergilose
• Distúrbios do sistema nervoso central (SNC):
encefalite viral ou bacteriana, meningite viral, bacte-
327
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
riana ou tuberculosa, psicose aguda, acidente vascu-
lar cerebral (isquêmico ou hemorrágico), tumor cere-
bral, abscesso cerebral, hematoma ou hemorragia
subdural ou subaracnóide, Síndrome de Guillain-Barré,
traumatismo craniano, outras causas, como pós-ope-
ratórios, dor, náusea intensa e síndrome de imunodefi-
ciência adquirida.
OBS: todas as alterações no balanço hidroeletrolítico, ob-
servadas na SIHAD, têm sido, também, observadas na su-
posta síndrome de perda de sal de origem cerebral. Essa sín-
drome é caracterizada por elevada concentração de sódio na
urina, causada pela alteração na reabsorção de sódio tubular
mediada pela liberação de um hormônio natriurético, talvez,
um peptídeo originado no sistema nervoso central, com con-
seqüente hiponatremia e perda de volume. Os níveis séricos
de ADH não são úteis na diferenciação entre as duas sín-
dromes. Os níveis séricos de ácido úrico, geralmente, estão
normais na síndrome de perda de sal, de origem cerebral. A
hipovolemia, traduzida por hipotensão ou desidratação, se-
ria a única manifestação clínica, que distinguiria essa sín-
drome da SIHAD. O tratamento é diferente para cada situa-
ção.
e) Ingestão diminuída de solutos: abuso de inges-
tão de cerveja ou de dietas com baixo teor de
proteínas e excesso de ingestão de água, levan-
do a diminuição do metabolismo protéico e bai-
xa produção de uréia. A baixa excreção de
solutos reduz a excreção máxima de água, em-
bora a capacidade de diluição do rim possa es-
tar preservada.
O tratamento da SIADH consiste na restrição
hídrica e no uso eventual de diuréticos de alça, com
reposição do sódio e do potássio perdidos na urina.
Nos casos que não respondem à restrição hídrica, pode-
se usar drogas que induzam diabetes insípido nefrogê-
nico, como a demeclociclina (600-1200 mg/ dia) e Car-
bonato de Lítio. Foram desenvolvidos, também, anta-
gonistas específicos do HAD, em animais, e que de-
verão estar disponíveis, no futuro, para uso clínico em
pacientes.
3) Contração do volume extracelular: existem inú-
meras condições clínicas em que a hiponatremia
evolui com contração do volume extracelular, po-
dendo ocorrer perda de sódio através da pele, tra-
to gastrointestinal ou rim.Aconcentração de sódio
urináriopodeestarbaixa(<20mEq/l),devidoàávida
reabsorção tubular de sódio pelo rim, nas perdas
extra-renais. Porém, quando a concentração uri-
nária de sódio estiver mais alta (> 20mEq/l), deve-
se considerar que o rim não está respondendo apro-
priadamente e/ou que essas perdas, provavelmen-
te, são as causas da hiponatremia. As causas mais
freqüentes são as relatadas a seguir.
a) Perdas gastrointestinais ou para o terceiro es-
paço: nos pacientes com hipovolemia, hiponatre-
mia e sódio urinário menor que 10mEq/1, deve-
mos considerar perdas gastrointestinais. São mais
facilmente diagnosticadas em pacientes com his-
tória de vômitos e/ou diarréia, porém, na ausên-
cia destes, devem ser consideradas: perdas para
o terceiro espaço, como nos casos de peritonite
e pancreatite, em que há perdas para a cavidade
abdominal; íleo ou colite pseudomembranosa, em
que há perdas para a luz intestinal; queimaduras,
em que há perdas pela pele; e traumatismos
musculares, em que há perdas para o músculo.
Uso abusivo de catárticos deve ser investigado,
mesmo sem história de perdas gastrointestinais.
A terapêutica consiste na hidratação com solu-
ção salina isotônica.
b) Perdas renais: sódio urinário maior que 20 mEq/1
• Uso de diuréticos: a queda da natremia, em
pacientes recebendo diuréticos, pode ser o primeiro
sinal indicador da necessidade de reajustar suas do-
ses. Freqüentemente, a depleção de volume não é evi-
dente ao exame clínico, e um dado importante é que
os pacientes hiponatrêmicos, em uso de diuréticos
tiazídicos ou de alça, apresentam alcalose metabólica
ou hipocalêmica, o que não ocorre, quando são utiliza-
dos diuréticos poupadores de potássio. A melhor ma-
neira de confirmar esse diagnóstico é a suspensão do
uso do diurético.
• Uso abusivo de diuréticos: é comum em mu-
lheres na pré-menopausa, que o fazem por razões es-
téticas e para perder peso, de maneira escondida.
Evoluem com alcalose metabólica, hipocalêmica. O
tratamento consiste na orientação quanto ao uso ex-
cessivo de diuréticos.
• Nefrite perdedora de sal: pacientes portado-
res de doença cística medular, nefrite intersticial crô-
nica, doença renal policística, obstrução parcial do trato
urinário e, raramente, glomerulonefrite crônica, podem
apresentar hiponatremia hipovolêmica, o que aconte-
ce, geralmente, em pacientes com insuficiência renal
moderada ou avançada, devido à perda da capacida-
de de concentração urinária. O tratamento consiste
na hidratação com salina isotônica.
328
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
• Doença de Addison: pacientes com tal pato-
logia apresentam menores níveis de aldosterona e, con-
seqüentemente, reabsorvem menos sódio e excretam
mais potássio pelos rins. As concentrações urinárias
de sódio são maiores do que 20mEq/1 e as de potássio
menores do que 20mEq/1, e podem ser uma pista para
esse diagnóstico. A terapêutica consiste na reposição
hormonal e hidratação com salina isotônica.
• Diurese osmótica e excreção de amônia: na
presença de concentração de sódio urinário maior do
que 20mEq/1, deve-se considerar, também, a diurese
osmótica, levando à depleção de água e eletrólitos.
Podem-se citar algumas situações em que isso ocorre
- Infusão crônica de manitol, sem reposição
eletrolítica.
- Desobstrução do trato urinário, com diurese
osmótica pela uréia.
- Diabetes não controlada, com glicosúria
importante, causando diurese osmótica e conseqüen-
te espoliação hidroeletrolítica.
- Cetonúria, em que a excreção de cetoáci-
dos pode levar à perda renal de água e eletrólitos, como
na cetoacidose diabética e alcoólica ou na inanição.
- Bicarbonatúria, em que a perda renal do
bicarbonato leva à perda de água e cátions, para man-
ter a eletroneutralidade. É mais freqüentemente en-
contrada na alcalose metabólica com bicarbonatúria,
comum nos pós-operatórios com sucção nasogástrica
ou vômitos.Aacidose tubular renal proximal pode, tam-
bém, levar a bicarbonatúria, com conseqüente hipo-
natremia.
4) Excesso de ingestão de água: existem algumas
situações em que existe hiponatremia com supres-
são da excreção de HAD: insuficiência renal avan-
çada e polidipsia primária. No primeiro caso, rim
excreta água livre pela incapacidade do néfron em
diluir a urina. A osmolalidade urinária pode se ele-
var para 200 a 250mOs/kg, pelo aumento da ex-
creção de solutos por néfron. No caso da polidip-
sia primária ,o sódio plasmático pode estar normal
ou discretamente rebaixado pelo excesso de inges-
tão de água, devido ao estímulo patológico da sede.
Podem ocorrer por lesões hipotalâmicas como,
sarcoidose, ou em pacientes com distúrbios psiquiá-
tricos. Ingestões acidentais de água, durante aulas
de natação, excesso de enemas ou soluções de ir-
rigação, utilizadas em cirurgias de próstata
transuretrais (RTU) podem, também, levar a qua-
dro de hiponatremia hipotônica.
Terapêutica
As causas mais comuns de hiponatremia gra-
ve, em adultos, são a terapia com tiazídicos, pós-ope-
ratórios, SIHAD, polidipsia em pacientes psiquiátri-
cos e prostatectomia por ressecção transuretral.
O tratamento pode variar desde restrição hídri-
ca até reposição de salina isotônica ou hipertônica.
Porém, em casos de hiponatremia sintomática, o que,
geralmente, pode ocorrer com sódio entre 120 mEq/1
e 125 mEq/l, deve-se fazer a reposição salina, inde-
pendente da causa, especialmente se a hiponatremia
ocorreu de maneira muito rápida.
Embora rara, a desmielinização osmótica é sé-
ria e pode ocorrer de um a vários dias após o trata-
mento mais agressivo de hiponatremia por qualquer
método, mesmo em resposta à restrição hídrica, como
tratamento único. A contração das células cerebrais
desencadeia a desmielinização dos neurônios da pon-
te e extrapontinos e causa disfunção neurológica, in-
cluindoquadriplegia,paralisiapseudobulbar,convulsões,
coma e até óbito. A desnutrição, hepatopatias e déficit
de potássio aumentam o risco dessa complicação.
O aumento da concentração de sódio não
deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas 24 h até atingir os
níveis entre 125 mEq/l a 130 mEq/l. Se a concen-
tração inicial estiver abaixo de 100 mEq/l, por exem-
plo, a correção poderá aumentar sua velocidade para
1 a 2 mEq/l por hora até atingir níveis satisfatórios ou
melhora da sintomatologia. A correção pode ser feita
pela fórmula:
Água corporal = calculada como fração do peso. O
índice para adultos e crianças é 0,6, para mulheres e idosos,
0,45 a 0,5.Afórmula estima o efeito de um litro de qualquer
solução infundida no sódio sérico
• Hiponatremia hipotônica sintomática
Pacientes que têm hiponatremia com urina con-
centrada, osmolalidade > 200 mOsm/kg de água,
euvolêmicos ou hipervolêmicos necessitam de infu-
são de salina hipertônica. A solução hipertônica deve
ser acompanhada de furosemide para evitar a expan-
são do volume extracelular. Como a diurese por furo-
semide equivale a solução salina a 0,45% (77 mEq/l),
ajuda na correção da hiponatremia, porém, deve-se
1corporalÁgua
séricoNa-infundidoNa
(mEq/l)séricosódionoMudança
+
=
329
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
evitar a infusão de água livre de solutos ao mesmo
tempo. Pacientes com urina diluída (osmolaridade <
200 mOsm/kg de água), sem sintomas graves, usual-
mente, só necessitam de restrição de água. Sintomas
mais graves, como convulsão e coma, podem indicar
a necessidade do uso de soluções hipertônicas.
• Hiponatremia hipotônica assintomática
O grande risco do tratamento, nesses casos,
ocorre durante a fase de correção, quando os pacien-
tes param de ingerir grandes quantidades de água ou
quando há correção repentina da dificuldade de ex-
creção de água, como aquelas provocadas por dro-
gas. Se há uma diurese excessiva, em alguns casos,
há necessidade da administração de líquidos hipotôni-
cos, para evitar que a correção se processe acima da
meta estipulada de 10 mEq/l/24 h, por exemplo. Por
outro lado, não há risco semelhante associado com a
hiponatremia assintomática, que acompanha os esta-
dos edematosos ou a persistência da SIHAD pela al-
teração na excreção de água. Na ICC grave, a mu-
dança das condições hemodinâmicas pode melhorar a
excreção de água livre. Nesses casos, o uso de furo-
semide e não o de tiazídico, reduz a concentração uri-
nária e aumenta a excreção de água livre. Na SIHAD,
deve-se utilizar diuréticos de alça, associados com so-
lução salina hipertônica o que vai aumentar a perda de
água.Aadministração de sódio, em solução hipertôni-
ca, não deve ser dada aos pacientes portadores de
estados edematosos.
Embora a restrição de água vá melhorar todas as
formas de hiponatremia, essa não é a melhor terapia
em todos os casos. A hiponatremia associada com a
perdadevolumeelíquidoextracelular,como,porexem-
plo, nas diarréias e perdas gastrointestinais, necessita
também de correção da perda de sódio concomitante.
Ahiponatremiaadquiridadentrodohospitalpode
ser prevenida, detectando-se situações que possam
diminuir a excreção de água; drogas; insuficiência de
órgãos, como insuficiência renal e cardíaca; pós-ope-
ratórios. Nesses casos, deve-se evitar a infusão de
líquidos hipotônicos, que excedam a capacidade de
excreção de água dos pacientes de risco.
1.2- Hipernatremia
Definição
A hipernatremia é definida, quando o sódio plas-
mático ultrapassa 145 mEq/I. A concentração sérica
de sódio e, conseqüentemente, a osmolalidade sérica
são controladas pela homeostase da água, a qual é me-
diada pela sede, pela vasopressina e pelos rins. Qual-
quer desequilíbrio, no balanço de água, manifesta-se
como uma anormalidade da concentração sérica de
sódio: hipernatremia ou hiponatremia. É menos fre-
qüente do que a hiponatremia, e mais comum em paci-
entes muito jovens, muito velhos, e doentes, que não
têm condição de ingerir líquido em resposta ao aumento
de osmolalidade, o que provoca sede, devido a sua in-
capacidade física. Como o sódio funciona como soluto
impermeável, do ponto de vista funcional, ele contribui
para a tonicidade, e induz o movimento de água atra-
vés das membranas celulares. A hipernatremia, inva-
aimertanrepiheopiharapoãçisoperarapsadazilituresoãredopeuqseõçuloS-IalebaT
adidnufniresaoãçuloS )l/qEm(aNededaditnauQ )%(ralulecartxeodiuqíl/poãçiubirtsiD
%5aanilaS 558 *001
%3aanilaS 315 *001
%9,0aanilaS 451 001
otatcalregniRedoãçuloS 031 79
%54,0aanilaS 77 37
%5aesocilgme%2,0aanilaS 43 55
%5aesocilG 0 04
otnemitrapmocodaugáedesomsoropoãçomermezudniseõçulossasse,ralulecartxeotnemitrapmoconlatotoãçiubirtsidedmélA*
ralulecartni
330
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
riavelmente, evoluicomhiperosmolalidadehipertônicae
sempre provoca desidratação celular. A hipernatre-
mia ocorre com freqüência em pacientes hospitaliza-
dos, como uma condição ligada a fatores iatrogênicos,
e algumas das complicações mais sérias ocorrem não
da própria alteração, mas de tratamento inadequado.
Quadro clínico
A hipernatremia pode ser sintomática e levar
a sinais e sintomas clínicos.
Disfunção do SNC: É conseqüente à desidra-
tação celular, com contração das células cerebrais, o
que pode levar à laceração, hemorragia subaracnóide
e subcortical, e trombose dos seios venosos. As pri-
meiras manifestações da hipernatremia são: agitação,
letargia e irritação. Esses sintomas podem ser seguidos
de espasmos musculares, hiperreflexia, tremores, ata-
xia. Ahipernatremia aguda é mais grave do que a crô-
nica, e a evolução mais benigna, nos casos crônicos,
deve-se à formação de osmóis ideogênicos, osmotica-
mente ativos para restauração de água intracelular. A
gravidade dos sintomas cabíveis depende da idade, e é
maior em pacientes muito jovens ou muito velhos.
Classificação
Perda de água
1) Perdas insensíveis: pela pele e pela respiração.
2) Diabetes insipidus: após trauma, provocado por
tumores,cistos,histiocitose,tuberculose,sarcoidose,
idiopático, provocado por aneurismas, meningite,
encefalite, síndrome de Guillain-Barré, e transitó-
rio, provocado por ingestão de etanol.
3) Diabetes insipidus nefrogênico
• Doença renal (doença cística medular, por exem-
plo)
• Hipercalcemia ou hipocalemia.
• Drogas: lítio, demeclociclina, foscarnet, metoxi-
flurano, anfotericina B.
Perda de líquidos hipotônicos
1) Causas renais: diuréticos de alça, diurese osmótica
(glicose, uréia, manitol), diurese pós desobstrução,
fase diurética da necrose tubular aguda.
2) Causas gastrointestinais: vômitos, drenagem na-
sogástrica, fístulas enterocutâneas, diarréia, uso de
agentes catárticos, como, por exemplo, a lactulose
3) Causas cutâneas: queimaduras, sudorese excessiva
Ganho de sódio hipertônico
Infusão de bicarbonato de sódio, ingestão de
cloreto de sódio, ingestão da água do mar, enemas de
salina hipertônica, infusão de soluções hipertônicas de
sódio, diálise hipertônica, hiperaldosteronismo primá-
rio e síndrome de Cushing (reabsorção intensa de sódio
pelos túbulos).
Terapêutica
O tratamento se inicia com o diagnóstico da
causa do processo e corrigindo a hipertonicidade. O
tratamento das causas pode, por exemplo, controlar a
perda de líquidos gastrointestinais, controlar o aumen-
to de temperatura, hiperglicemia, corrigir a poliúria pelo
lítio, etc. Nos pacientes com hipernatremia, que se
desenvolve após algumas horas, a correção rápida
melhora o prognóstico, sem risco de provocar edema
cerebral. Nesses pacientes, a redução de 1 mEqL/l/h
é adequada. Uma correção mais prudente torna-se
necessária nos pacientes com hipernatremia de longa
duração ou de duração desconhecida, devido ao fato
que a dissipação do acúmulo dos solutos cerebrais pode
levar vários dias. Nesses casos, deve-se reduzir a di-
minuição da concentração de sódio sérico a 0,5 mEq/
h o que evita o aparecimento de edema e convulsões.
Recomenda-se que a queda do sódio plasmático não
exceda a 10 mEq/l nas 24 h. O objetivo do tratamento
é levar os níveis do sódio sérico a 145 mEq/l.
A fórmula a ser utilizada é a mesma utilizada
para correção da hiponatremia, como visto anterior-
mente.
Água corporal = calculada como fração do peso. O
índice, para adultos e crianças, é 0,6, para mulheres e ido-
sos, 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de
qualquer solução infundida no sódio sérico
A via preferencial para correção, quando pos-
sível, é a oral através de sondas nasogástricas ou
enterais. Se não for possível, administrar, por via en-
dovenosa, soluções hipotônicas, como glicose a 5%,
salina a 0,2% (diluir o sódio em solução glicosada a
5%) e salina a 0,45%. Quanto mais hipotônico o líqui-
do de infusão, mais lenta deve ser a administração.
1corporalÁgua
séricoNa-infundidoNa
(mEq/l)séricosódionoMudança
+
=
331
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
A não ser em casos de comprometimento he-
modinâmico, a solução salina a 0,9% não é adequada
para o manuseio da hipernatremia. Como exemplo, um
paciente que tem concentração de sódio de 162 mEq/
l, pesando 70 kg, ao receber um litro de salina a 0,9%,
diminuirá em somente 0,2 mEq/l a concentração sérica
de sódio, não alterando substancialmente essa concen-
tração. Além disso, se persistirem as perdas de líqui-
dos hipotônicos, a natremia poderá aumentar ao invés
de diminuir.A única indicação de salina a um paciente
com hipernatremia é quando houver perda de volume
extracelular suficiente para provocar alterações hemo-
dinâmicas. Mesmo nesses casos, assim que as condi-
ções hemodinâmicas se estabilizarem, deve-se admi-
nistrar soluções hipotônicas, como salina a 0,2% e
0,45%, para corrigir a hipernatremia.
Nos casos em que há hipernatremia por ganho
de soluções hipertônicas de sódio, a administração de
furosemide somente agravará a hipernatremia, já que
a diurese induzida equivale a, aproximadamente, solu-
ção salina a 0,45%. A administração concomitante de
diurético e solução com água livre será mais adequa-
da. Há necessidade de monitoração contínua, pois há
risco de retenção de volume extracelular nesses ca-
sos. A hipernatremia, na vigência de insuficiência re-
nal e sobrecarga de volume, é um capítulo a parte,
mas, geralmente, a diálise pode ser necessária.
2– DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO PO-
TÁSSIO
Dentre os distúrbios encontrados na prática clí-
nica, os relacionados ao potássio são muito freqüentes
e, muitas vezes, constituem-se em emergência clínica.
Procuramos dar uma rápida noção da distribuição do
potássio corporal, das possíveis etiologias dos distúrbi-
os relacionados ao potássio e seu enfoque terapêutico.
2.1- Distribuição do potássio
O potássio é um íon predominantemente intra-
celular. O conteúdo corporal de potássio é de cerca
de 50mEq/kg ou seja, cerca de 3.500 mEq para um
adulto de aproximadamente 70 kg. A concentração
intracelular de potássio varia de 140 a 150mEq/1, sen-
do o tecido muscular o maior depósito de potássio.
Apenas 2% do potássio corporal total encontra-se no
espaço extracelular, variando sua concentração de
3,5 a 5,0 mEq/1. Devido à grande diferença entre as
concentrações intra e extracelular de potássio, os fa-
tores que controlam sua distribuição transcelular são
críticos para a manutenção de níveis séricos normais.
Os principais fatores são:
A– pH: a acidose provoca a saída de potássio do
intra para o extracelular, aumentando sua concen-
tração sérica . Isto ocorre porque, quando exces-
so de íons H+
são adicionados ao plasma, a maior
parte é tamponada no compartimento intracelular,
e, para que esses íons entrem para dentro das cé-
lulas, eles são trocados por íons Na+
, através do
trocador Na+
-H+
, o que diminui a concentração
de Na+ intracelular, e, conseqüentemente, sua dis-
ponibilidade para ser trocado pelo K+ através da
bomba Na+
-K+
ATPase. Dessa maneira, menor
quantidade de K+
entra nas células. O fenômeno
oposto ocorre na alcalose. Alterações do bicarbo-
nato sérico, mesmo sem alterações do pH, levam
a alterações da distribuição transcelular. De for-
ma prática, para cada 0,1U de alteração do pH
sanguíneo haverá uma alteração concomitante do
potássio sérico de 0,6 mEq/1.
B – Insulina: exerce um papel importante na manu-
tenção da distribuição sérica normal,/ do potássio.
Indivíduos com baixa secreção basal de insulina
(ex: diabéticos do tipo 1 ) possuem menor tolerân-
aimertanrepiharapoãçisoperarapsadazilituresoãredopeuqseõçuloS-IIalebaT
adidnufniresaoãçuloS )l/qEmaNededaditnauQ )%(ralulecartxeodiuqíl/poãçiubirtsiD
%9,0aanilaS 451 001
otatcalregniRedoãçuloS 031 79
%54,0aanilaS 77 37
%5aesocilgme%2,0aanilaS 43 55
%5aesocilG 0 04
332
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
cia à infusão de potássio, por apresentarem meca-
nismos de defesa debilitados frente a situações de
hiperpotassemia). A insulina exerce seu efeito pro-
tetor na hiperpotassemia através do aumento da
captação de potássio pelas célu-
las hepáticas e musculares. Seu
efeito ocorre através da estimula-
ção do trocador Na+
-H+
, com en-
trada de Na+
e saída de H+
. Des-
sa maneira, ocorre um aumento da
extrusão de Na intracelular atra-
vés da bomba Na+
-K+
ATPase,
com conseqüente entrada de K+
para dentro das células.
C– Aldosterona: o principal efeito
da aldosterona ocorre através da
modificação da excreção renal de
potássio. Sua ação ocorre no duc-
to coletor, abrindo canais de Na+
, o
que aumenta a reabsorção desse
cátion, com conseqüente secreção
de K+. É provável que a aldoste-
rona também atue, promovendo a
captação celular de potássio, en-
tretanto tal dado ainda não se en-
contra estabelecido no homem.
D– Agentes βββββ2
-Adrenérgicos: atu-
am diretamente na bomba Na+
-K+
ATPase estimulando-a, com conseqüente entrada
de K+ e saída de Na+. Esse efeito é mediado pelos
receptores ß2
-adrenérgicos e é mais evidente com
o uso de adrenalina.
Além dos fatores mencionados, que controlam
a distribuição transcelular do potássio, têm papel rele-
vante as alterações da reserva corporal total, seja por
depleção (aumento das perdas ou redução da ingesta)
ou retenção de potássio (sobrecarga de potássio ou
diminuição das perdas renais.
2.2. Hiperpotassemia
Definição
Concentração plasmática do íon potássio aci-
ma de 5,0 mEq/1. Deve-se excluir a pseudo-hiperpo-
tassemia, que ocorre nas seguintes situações:
• Leucocitose: acima de 100.000/mm3
• Plaquetose: acima de 1.000.000/mm3
• Hemólise
Etiologia
Na Tabela III, as causas possíveis de hiperpo-
tassemia
• Diagnóstico/Manifestações Clínicas
O diagnóstico é feito, quando encontramos con-
centração sérica acima de 5mEq/l. Do ponto de vista
clínico, a hiperpotassemia pode manifestar-se desde a
ausência de qualquer sintoma até parada cardíaca. As
células excitáveis são as mais sensíveis aos altos va-
lores de potássio, entre elas as células miocárdicas e
as neuromusculares, o que se traduz em fraqueza,
arreflexia, paralisia muscular (inclusive respiratória),
parestesias e alterações cardíacas, conforme delinea-
do na Figura 1.
Do ponto de vista prático, cabe ainda ressaltar:
a) hipocalcemia, hiponatremia e acidose metabólica
intensificam a hiperpotassemia;
b) acidose metabólica produz uma hiperpotassemia
“menos tolerável e mais grave” do que a acidose
respiratória;
c) a hiperpotassemia vista na insuficiência renal crô-
nica é mais tolerada que a da insuficiência renal
aguda, o que se deve à adaptação dos mecanis-
mos de defesa extra-renais;
aimessatoprepihedsievíssopsasuaC-IIIalebaT
oãçiubirtsiderroP oissátopedoãçneterroP
airótaripseruoacilóbatemesodicA
serodaeuqolb-ß
)1opitodsetebaiD(aimenilusniopiH
aninigraedoãsufnI
acilátigidoãçacixotnI
anilocliniccuS
laneraicnêicifusnI
anegóxeoissátopedagraC
anegódneoissátopedagraC
otnemagamsE-
esilómeH-
omsilobatacrepiH-
oissátopedserodapuopsocitéruiD
anotcalonoripsE-
adirolimA,oneretnairT-
omsinoretsodlaopiH
omsilositrocopiH
sianerseralubutsaçneoD
aimotsonujejoreterU
333
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
d) deve ser sempre indagado, na história clínica, o
uso de medicamentos, principalmente digitálicos;
e) quando a causa da hiperpotassemia for devida à
carga de potássio aumentada (síndrome do esma-
gamento, hipercatabolismo ou hemólise maciça),
associada a um déficit de excreção (insuficiência
renal), poderá haver rápida elevação dos níveis de
potássio, com riscos de parada cardiorrespiratória,
nestas condições em que o tratamento dialítico deve
ser considerado.
Tratamento clínico
Há três maneiras de se abordar a hiperpotas-
semia: antagonismo direto aos efeitos do potássio so-
bre a membrana, redistribuição do potássio do extra
para o intracelular, e aumento da excreção do potás-
sio.
1) Antagonismo direto sobre os efeitos do po-
tássio na membrana celular: é o efeito observa-
do durante a infusão endovenosa em bolus de
gluconato de cálcio. Cloreto de cálcio também pode
ser usado. O cálcio é a droga de escolha, quando
existem alterações eletrocardiográficas ou na pa-
rada cardíaca por hiperpotassemia.Adose utilizada
é de 10 ml EV de gluconato de cálcio 10% em infu-
são lenta em 2 a 3 min, que pode ser repetida após
5 min, se as alterações eletrocardiográficas persis-
tirem. A ação é imediata (1-3 min) e a duração do
efeito é de até l h. Nos pacientes digitalizados, deve-
se infundir o cálcio com extremo cuidado, e a dose
descrita deve ser diluída em 100ml de SG 5% e
infundida em 20 a 30min, levando-se em conta que
o cálcio pode induzir toxicidade digitálica. Deve-se
ressaltar que o cálcio não diminui a concentração
sérica de potássio, apenas antagoniza sua ação “tó-
xica” sobre o miocárdio.
2) Redistribuição do potássio: há três maneiras
para se atingir tal objetivo: bicarbonato de sódio,
solução polarizante (insulina + glicose) e agentes
ß2-adrenérgicos.
a) Bicarbonato de sódio: quando há acidose, deve-
mos calcular o déficit de bicarbonato através de
seuvolumededistribuição(FórmuladeAsh:Peso
x BE x 0.3). É indicada a correção de metade
do déficit, e a infusão deve ser feita via EV em
15 a 20 min. Quando não há acidose, doses meno-
res de bicarbonato de sódio (cerca de 50 mEq)
podem ser infundidas em aproximadamente 5
min, e podem ser repetidas após 30 min. São
contra-indicações ao uso do bicarbonato: edema
pulmonar, devido à expansão de volume; e hipo-
calcemia, devido ao aumento da ligação do cál-
cio à albumina, quando ocorre aumento de pH, o
que pode precipitar convulsões e tetania. O iní-
cio da ação ocorre em 5 a 10 min e a duração do
efeito é de aproximadamente 2 h.
Figura 1 - Alterações eletrocardiográficas na hiperpotassemia.
334
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
b) Solução polarizante: a infusão de insulina aumenta
a captação do potássio pelas células muscula-
res através de mecanismo descrito anteriormen-
te. Para evitar hipoglicemia, deve-se usar 1 UI
de insulina regular para 4-5g de glicose. Habitu-
almente, prepara-se solução com 100ml de gli-
cose 50% + 10 UI de insulina regular, que deve
ser administrada em infusão EV em 5-10 min.
Pacientes com hiperglicemia intensa devem ser
medicados apenas com insulina. O início da ação
ocorre em 30 min, com o pico em 60 min e o
efeito se prolonga por 4 a 6 h.
c) Agentes ß2
-adrenérgicos: seu uso aumenta a
captação celular de K+
através de mecanismo
descrito anteriormente. Podem ser usados por
via inalatória (10 a 20mg de albuterol diluídos
em 5 ml de SF 0,9%), ou por infusão EV (0,5mg
de albuterol diluído em 100 ml SG5%). O pico
de ação ocorre em 30 min, em infusão endove-
nosa, e em 90 min por via inalatória. Deve-se
evitar o uso desdas drogas para o tratamento da
hiperpotassemia devido a seu potencial arritmo-
gênico.
3) Eliminação do potássio: há três maneiras para
se atingir tal objetivo: resinas de troca iônica,
diuréticos de alça, e procedimentos dialíticos.
a) Resinas de troca iônica: adsorvem K+
no tubo
digestivo, trocando-o por Ca++
ou Na+
. Em nos-
so meio, a resina mais usada é o poliestirenos-
sulfonato de cálcio (SorcalR
) que troca K+
por
Ca++
, sendo o primeiro eliminado nas fezes. Seu
efeito se inicia após 1-2 h, com duração de até 6
h. É apresentada na forma de pó para uso oral,
diluído em água. A prescrição habitual é de 15-
30 g VO a cada 6 ou 8 h. Pacientes que não
possam usar a medicação por via oral podem
ser tratados por enema de retenção. O efeito
colateral mais freqüente é a constipação intesti-
nal, que deve ser tratada com catárticos (Manitol
ou Sorbitol).
b) Diuréticos de alça: o uso de diuréticos de alça
(furosemida: 40 a 80 mg EV ou bumetanida: 1 a
2mg EV) aumenta a excreção renal de potás-
sio. Pacientes com insuficiência renal modera-
da a grave (clearance de creatinina entre 10-
50 ml/min), podem ser medicados com essas
drogas, entretanto a resposta não é tão boa quan-
to em pacientes com função renal normal. Paci-
entes com insuficiência renal terminal não apre-
sentam resposta satisfatória. Em casos de hi-
perpotassemia grave devem ser usados desde o
início, apesar do efeito ser lento, pois nestes ca-
sos, pequenas perdas de K+
podem provocar
quedas consideráveis nos níveis plasmáticos. Por
exemplo, para reduzir o potássio sérico de 7 para
6 mEq/l, é necessário excretar muito menos K+
do que para reduzi-lo de 6 para 5 mEq/l.
c) Mineralocorticóides: provocam aumento da
secreção tubular de K+
, e da reabsorção de Na+
,
o que limita seu uso. A droga mais usada é a
fludrocortisona (FlorinefR
) na dose de 0,1mg/dia,
podendo chegar a 0,2mg/dia em casos excepcio-
nais.
d) Diálise: é muito efetiva em retirar o potássio,
principalmente a hemodiálise, e pode normalizar
os níveis de K+ em 15 a 30 min. Está indicada
na insuficiência renal (aguda ou crônica). A prin-
cipal desvantagem do tratamento dialítico é o
tempo necessário para se preparar o material e
para se conseguir o acesso (peritoneal ou atra-
vés da punção venosa, para implante de cateter
de duplo lúmen). Antes de preparar a diálise,
deve-se utilizar as medidas terapêuticas apre-
sentadas acima.
2.3- Hipopotassemia
Os termos hipocalemia ou hipopotassemia são
utilizados quando a concentração do potássio no soro
é inferior a 3,5 mEq/l, não distinguem o déficit total de
potássio no organismo das alterações de distribuição
do mesmo. Contudo, a hipopotassemia avaliada em
conjunto com dados clínicos e laboratoriais oferece
orientação quanto a etiologia, o prognóstico e a tera-
pêutica não só do próprio distúrbio, como, também, de
outros problemas que o paciente apresenta. Perdas
de 200 a 400 mEq são necessárias para promover a
queda do K+
sérico de 4,0 para 3,0 mEq/l, e perdas
subseqüentes de 200 a 400 mEq são necessárias para
levar a potassemia a níveis abaixo de 2,0 mEq/l.
A hipopotassemia ocorre em conseqüência de:
fatores que influenciam a distribuição transcelular do
potássio; depleção do potássio corporal total; ou uma
combinação desses fenômenos. A causa mais comum
da distribuição transcelular é a alcalose, seja ela respi-
ratória ou metabólica, embora ocorra, também, com a
administração exógena de glicose, insulina ou betaa-
gonistas. Os verdadeiros déficits de potássio resultam
de perdas gastrointestinais ou renais, raramente de per-
335
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
das pelo suor. Pode-se prever o desenvolvimento de
hipopotassemia na presença de perdas através de se-
creções do trato gastrointestinal.As causas renais mais
comuns incluem terapêutica com diuréticos ou esta-
dos de secreção excessiva de mineralocorticóide.
Sinais sintomas
Como o potássio é o cátion mais abundante no
intracelular, é de se esperar que a hipopotassemia pro-
duza distúrbios em múltiplos órgãos e sistemas Os prin-
cipais sintomas decorrem de aberrações na polariza-
ção das membranas que afetam a função dos tecidos
neural e muscular. Os sinais e sintomas não apare-
cem habitualmente, até que a deficiência seja signifi-
cativa.
Cardíacos
Alterações de condução cardíaca constituem
as anormalidades mais importantes. A alteração do
ECG, visualizada, é o achatamento das ondas “T” e
desenvolvimento de ondas “U” proeminentes, que
podem dar a impressão de um intervalo QT prolonga-
do. Predispõem a batimentos ectópicos atriais e ven-
triculares e o aspecto mais crítico é o aumento da sen-
sibilidadeaodigital,levandoaarritmias,potencialmente
fatais, da intoxicação digitálica.Ahipopotassemia re-
duz a eliminação da digoxina, aumentando seu nível
sérico e aumentando a ligação da droga ao coração.
Hemodinâmicos
Foi constatado que a depleção de potássio au-
menta a pressão arterial em voluntários humanos; por
outro lado, a sobrecarga de potássio diminui a pressão
arterial devido à natriurese.
Neuromusculares
Nos indivíduos com função cardiovascular nor-
mal, os sintomas de depleção de potássio não costu-
mam ser evidentes, até que o déficit ultrapasse 5%
das reservas corporais totais (200 mEq), com níveis
séricos de potássio inferiores a 3,0 mEq/l. As disfun-
ções do trato gastrointestinal com hipopotassemia
manifestam-se sob a forma de constipação ou íleo
paralítico. Nos músculos estriados, pode-se notar desde
leve fraqueza até a paralisia franca, com paralisia res-
piratória, ameaçando a vida do indivíduo, o que pode
ocorrer, quando concentrações séricas de potássio são
inferiores a 2,0 mEq/l. Ocorre, também, predisposi-
ção à rabdomiólise e à mioglobinúria, as quais podem
levar à necrose tubular aguda.
Renais
A hipopotassemia grave pode resultar em de-
clínio funcional do fluxo sanguíneo renal e da taxa de
filtração glomerular, que costuma ser reversível com a
reposiçãodopotássio.Outracomplicaçãogravedahipo-
potassemiaé a mioglobinúria, que pode induzir à insufi-
ciência renal aguda. O defeito mais comum é a inca-
pacidade de concentrar a urina ao máximo, ocorrendo
poliúria. Ocorre, também, uma produção aumentada
de amônia, o que explica porque pacientes hepatopa-
tas, com cirrose, evoluem para coma hepático. Hipo-
potassemia também potencializa insuficiência renal
aguda nefrotóxica (aminoglicosídeos, anfotericina B).
Endócrinas
Quando há hipopotassemia grave, a liberação
da insulina pelo pâncreas é inibida, o que provoca uma
tolerância anormal aos carboidratos nos pacientes
hipopotassêmicos. Isso complica o tratamento do pa-
ciente diabético e, em certas situações, estabelece-se
um falso diagnóstico de diabetes mellitus.
Diagnóstico diferencial
Pode ser útil, no diagnóstico diferencial, o qua-
dro clínico, parâmetros laboratoriais, como valores
gasométricos, determinações urinárias do potássio e
cloreto, e, em alguns casos, a avaliação do sistema
renina–angiotensina–aldosterona, assim como a pre-
sença ou ausência de hipertensão arterial.
Pseudo-hipopotassemia
As amostras de sangue com alta contagem de
leucócitos (> 105
/ml), conservadas à temperatura
ambiente, sofrem uma redução na concentração de
potássio, devido a sua captação pelos leucócitos, que
pode ser evitada, se houver separação imediata do soro
ou do plasma, ou armazenamento do sangue a 4º C.
Hipopotassemia secundária a redistribuição
A questão que se impõe conhecer é se a alte-
ração é na distribuição ou um verdadeiro déficit. As
causas de redistribuição são as seguintes:
a) Alcalose: é a causa mais comum da redistribuição
do íon. Está associada a grandes déficits, em torno
de 200-500 mEq do íon, na alcalose metabólica,
enquanto a alcalose respiratória induz pouco ou
nenhum déficit.
b) Excesso de insulina: a elevação da insulina sérica
estimula a captação do potássio pelas células mus-
culares e hepáticas.
336
Vieira Neto OM & Moysés Neto M
c) Agonistas ß2
-adrenérgicos: durante o uso desses
agentes ou no estresse, em que ocorre liberação
de catecolaminas, que é fenômeno agudo e transi-
tório, pode ocorrer hipopotassemia, com duração
de 60 a 90 min. Em pacientes susceptíveis, pode
ocorrer predisposição a arritmias.
d) Paralisia periódica hipocalêmica: distúrbio raro com
transmissão autossômica dominante. Caracteriza-
se por ataques recorrentes de paralisia flácida em
tronco e membros, com duração de 6 a 24 h. Os pa-
cientes com tireotoxicose parecem ser propen-
sos ao desenvolvimento dessa síndrome reversível.
e) Intoxicação por bário: a ingestão de sais de bário,
solúveis em ácido, pode causar paralisia flácida
hipocalêmica, por impedir o fluxo normal de potás-
sio para fora das células,causando fraqueza mus-
cular. Essa paralisia é caracterizada por vômitos,
diarréia e precipitação de sais de bário (radiopaco)
nos rins.
f) Intoxicação por tolueno: causada pela inalação de
cola e tintas em aerossóis. A hipopotassemia ocorre
pela acidose tubular renal distal e pela redistribui-
ção inadequada.
Depleção de Potássio
a) Perdas extra-renais: as causas mais comuns con-
sistem na perda pelo trato gastrointestinal inferior,
tais como diarréia de grande volume, drenagem co-
piosa de uma fístula, presença de adenoma viloso e
abuso crônico de laxativos. A ingestão inadequada
de potássio, isolada, representa causa pouco habi-
tual de hipopotassemia, mas pode ser encontrada
na anorexia nervosa e no idoso com dieta restrita
de chá e torradas. A excreção urinária de potássio,
nessas duas situações, deve ser inferior a 20mEq/
dia, mas a concentração urinária de potássio pode
fornecer um valor falso devido à poliúria. Pode-se
utilizar a fração de excreção de potássio, fornecen-
do valores abaixo de 6% ou ainda a relação K
(mEq)/ Creatinina (g) menor do que 20, para uma
avaliação rápida. Para uma boa avaliação, o paci-
ente necessita estar euvolêmico e excretando mais
de 100 mEq de sódio por dia, pois a queda da taxa
de filtração glomerular e o aumento da reabsorção
proximal de sódio e água, em pacientes hipovolêmi-
cos, reduzem a caliurese.
b) Perdas renais: excreção de mais de 20mEq/dia de
potássio, acompanhada de hipopotassemia. A abor-
dagem é feita, subdividindo os distúrbios em síndro-
mes hipertensivas e normotensivas.
1) Síndromes hipertensivas
• Síndromes de hiperreninemia: hipertensão re-
novascular, hipertensão maligna ou acelerada,
tumores produtores de renina (hemangioperici-
tomas pequenos, tumor de Wilms, adenocarni-
noma renal). Dados clínicos laboratoriais e an-
giográficos estabelecem o diagnóstico.
• Síndromes de hiporreninemia: essas síndromes
ocorrem pela secreção autônoma de aldostero-
na (adenomas), ou na hiperplasia da supra-re-
nal. As síndromes podem, também, manifestar-
se devido a outros mineralocorticóides exógenos,
comooalcaçuz,quecontémoácidoglicirrizínico,
que sensibiliza os rins aos efeitos deles, ou por es-
teróides endógenos, como na Síndrome de
Cushing, na produção ectópica de hormônio adre-
nocorticotrópico, e, ainda, na secreção de deoxi-
corticosterona ou de corticosterona, nas síndro-
mes de hiperplasia supra-renal congênita. Outros
distúrbios relacionados com a produção endóge-
nademineralocorticóidespodem,também,levara
hiporreninemia (ex: Síndrome de Liddle, que é
uma patologia conseqüente à expressão aumen-
tada dos canais de sódio amiloridessensíveis).
2)Distúrbios normotensivos
• Síndromes com hipobicarbonatemia: a acidose
tubular renal distal e proximal, a cetoacidose di-
abética, a terapêutica com acetazolamida, e a
ureterossigmoidostomia são patologias nas quais
ocorre perda renal do potássio, associada, tam-
bém, com baixas concentrações séricas de bi-
carbonato.Aacidose tubular renal proximal apre-
senta acidose hiperclorêmica, urina ácida e per-
da de outras substâncias, como ácido úrico, fos-
fato, glicose, aminoácidos, enquanto, na acidose
tubular distal, há acidose hiperclorêmica, inca-
pacidade de acidificar a urina e cálculos.
• Síndromes com hiperbicarbonatemia: essas sín-
dromes são estudadas de acordo com a excre-
ção urinária de cloreto. A hiperbicarbonatemia
e a excreção urinária aumentada de cloreto
(10mEq/dia) estão associados à exposição ex-
cessiva a diuréticos espoliadores de K+
, síndro-
me de Bartter, síndrome de Gitelman e hipomag-
nesemia.Aexposição a diuréticos leva à caliurese
sem alcalose, contudo, a excreção urinária de
cloreto é alta, apesar da contração de volume,
que estimularia a conservação de cloreto de
sódio. As síndromes de Bartter e de Gitelman
337
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico
são patologias raras, caracterizadas por normo-
tensão, hiperaldosteronismo hiper-reninêmico,
resistência a agentes pressores e alcalose hipo-
calêmica, que resultam de defeito no cotrans-
portador Na+
/K+
/2 Cl-,
na alça de Henle e no
cotransportador Na+
/Cl-
no túbulo distal, respec-
tivamente. A hipomagnesemia causa perda re-
nal de potássio e de cloreto, que resiste à tera-
pêutica até haver reposição das reservas corpo-
rais de magnésio. Além disso, a hipomagnese-
mia leva à diminuição da secreção de PTH, o
que gera hipocalcemia. Por isso, a concomitância
de hipocalcemia sugere a pesquisa dos níveis
séricos de magnésio.
Tratamento
O tratamento é voltado para correção do défi-
cit de potássio e da doença de base. Se a concentra-
ção sérica cair abaixo de 3,0 mEq/l ou se aparecerem
os sintomas, a terapêutica é recomendada. Aos paci-
entes em uso de glicosídeos cardíacos ou pacientes
idosos, sem cardiopatia manifesta, recomenda-se man-
ter a normopotassemia. Em pacientes que fazem uso
de diuréticos para tratamento de edema (ICC, síndro-
me nefrótica e hepatopatias) é aconselhável a suple-
mentação oral, ou o uso de diuréticos poupadores de
potássio (espironolactoma, amilorida ou triantereno).
As preparações orais de cloreto de potássio podem
causar irritação gástrica e os comprimidos entéricos
podem produzir ulcerações no intestino delgado.
A via de administração pode ser tanto oral quan-
to parenteral. Quando houver comprometimento da
função gastrointestinal, nível sérico de K+
abaixo de
3,0 mEq/l, ou sinais e sintomas, a terapia parenteral
deve ser preferida. A preparação mais usada é KCl
19,1%, na qual, cada ml possui 2,5 mEq. A administra-
ção endovenosa deve ser preparada em uma solução
de soro fisiológico 0,9%, com concentração final de
40 a 60 mEq/l e infundida em 6 h, se for usada veia
periférica, pois concentrações maiores causam irrita-
ção e esclerose da veia. Soluções mais concentradas
devem ser infundidas em veia central, e a velocidade
de infusão não deve exceder 20 mEq/h, com dose diá-
ria máxima de 200 mEq. Em casos extremos, com hi-
popotassemia grave e risco iminente de parada cardía-
ca, podem ser infundidos até 100 mEq/h, com monito-
rização eletrocardiográfica. É descrita, também, infu-
são endovenosa, em 1 a 2 min de quantidades de KCl,
suficientes para elevar a potassemia até o nível dese-
jado, em casos gravíssimos. Por exemplo, em pacien-
te adulto de 70 Kg, com K+
=1,0mEq/l, levando-se em
conta que possui volemia em torno de 5000ml e volu-
me plasmático de 3000ml, se o desejado é elevar a
potassemia para 3,0 mEq/l, infunde-se 6,0 mEq de KCl
em 1 a 2 min, com monitorização eletrocardiográfica.
VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Fluid and electrolyte disorders. Medicina, Ribeirão Preto 36:
325-337, apr./dec. 2003.
ABSTRACT - Sodium and potassium are the main extracellular and intracellular space
electrolytes respectively. The disorders related to these electrolytes are frequent and may be
caused by several clinical conditions. The physiopathology and severity of the changes determine
the treatment to be instituted.
UNITERMS - Sodium. Potassium. Hyponatremia. Hypernatremia. Hypokalemia. Hyperkalemia.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 - ADROGUÉ HJ & MADIAS NE. Hypernatremia. New Engl J
Med 342: 1493-1499, 2000.
2 - ADROGUÉ HJ & MADIAS NE. Hyponatremia. New Engl J Med
342: 1581-1589, 2000.
3 - MAEASAKA JK. An expanded view of SIAHD, hyponatremia
and hypouricemia. Clin Nephrol 46:79-83, 1996.
4 - MAEASAKA JK; GUPTA S & FISHBANE S. Cerebral salt-
wasting syndrome: does it exist? Nephron 82: 100-109, 1999.
5 - HARRIGAN MR. Cerebral salt wasting syndrome. Critical
care clinics 17:125-138, 2001.
6 - NARINS RG; HEIFTS M & TANNEU RL. Paciente com hipocale-
mia e hipercalemia. In: SCHRIER RW. Manual de Nefrologia,
diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Medsi, Rio de Janeiro, p.
51-75, 1993.
7 - BREZIS M; ROSEN S & EPSTEIN FH. Acute renal failure. In:
BRENNER BM & RECTOR Jr FC. The kidney. 4ª ed. Philadel-
phia, W.B. Saunders, chap.24, p. 993-1061, 1991.
8 - HALPERIN ML & KAMEL KS. Potassium. Lancet 352: 135-140,
1998.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)
Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)
Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)Davyson Sampaio
 
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSico
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSicoDistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSico
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSicoRodrigo Biondi
 
Equilibrio hidroeletrolitico
Equilibrio hidroeletroliticoEquilibrio hidroeletrolitico
Equilibrio hidroeletroliticoalexandrefigdo
 
Disturbio Acido Basico Andre Kayano
Disturbio Acido Basico Andre KayanoDisturbio Acido Basico Andre Kayano
Disturbio Acido Basico Andre Kayanogalegoo
 
Distúrbios hidroeletrolíticos
Distúrbios hidroeletrolíticosDistúrbios hidroeletrolíticos
Distúrbios hidroeletrolíticosresenfe2013
 
Acidose e alcalose metabolica slide share
Acidose e alcalose metabolica slide shareAcidose e alcalose metabolica slide share
Acidose e alcalose metabolica slide shareIrisleys
 
Distrbios hidro eletrolticos
Distrbios hidro eletrolticosDistrbios hidro eletrolticos
Distrbios hidro eletrolticosAna Nataly
 
Artigo distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básico
Artigo   distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básicoArtigo   distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básico
Artigo distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básicoDanielly Oliveira
 
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...douglas silva
 
Nefrologia Principais Patologias Causadoras de IRA e IRC
Nefrologia   Principais Patologias Causadoras de IRA e IRCNefrologia   Principais Patologias Causadoras de IRA e IRC
Nefrologia Principais Patologias Causadoras de IRA e IRCHamilton Nobrega
 
Rins - Apresentação
Rins - ApresentaçãoRins - Apresentação
Rins - ApresentaçãoCíntia Costa
 

La actualidad más candente (20)

Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)
Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)
Distúrbio hidroeletrolítico (Davyson Sampaio Braga)
 
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSico
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSicoDistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSico
DistúRbio HidroeletrolíTico E áCido BáSico
 
Hiponatremia
Hiponatremia Hiponatremia
Hiponatremia
 
Equilibrio hidroeletrolitico
Equilibrio hidroeletroliticoEquilibrio hidroeletrolitico
Equilibrio hidroeletrolitico
 
Disturbio Acido Basico Andre Kayano
Disturbio Acido Basico Andre KayanoDisturbio Acido Basico Andre Kayano
Disturbio Acido Basico Andre Kayano
 
íOns alunos
íOns   alunosíOns   alunos
íOns alunos
 
Apresentação
ApresentaçãoApresentação
Apresentação
 
Hiponatremia
HiponatremiaHiponatremia
Hiponatremia
 
Eletrólitos Urinários
Eletrólitos UrináriosEletrólitos Urinários
Eletrólitos Urinários
 
Hiponatremia
HiponatremiaHiponatremia
Hiponatremia
 
Distúrbios hidroeletrolíticos
Distúrbios hidroeletrolíticosDistúrbios hidroeletrolíticos
Distúrbios hidroeletrolíticos
 
Acidose e alcalose metabolica slide share
Acidose e alcalose metabolica slide shareAcidose e alcalose metabolica slide share
Acidose e alcalose metabolica slide share
 
Distrbios hidro eletrolticos
Distrbios hidro eletrolticosDistrbios hidro eletrolticos
Distrbios hidro eletrolticos
 
Artigo distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básico
Artigo   distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básicoArtigo   distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básico
Artigo distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido-básico
 
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...
Condutas médicas no paciente com distúrbios eletrolíticos agudos.curso de con...
 
Nefrologia Principais Patologias Causadoras de IRA e IRC
Nefrologia   Principais Patologias Causadoras de IRA e IRCNefrologia   Principais Patologias Causadoras de IRA e IRC
Nefrologia Principais Patologias Causadoras de IRA e IRC
 
Hipercalemia
HipercalemiaHipercalemia
Hipercalemia
 
Rins - Apresentação
Rins - ApresentaçãoRins - Apresentação
Rins - Apresentação
 
O rim
O rimO rim
O rim
 
Aula 5 - B
Aula 5 - BAula 5 - B
Aula 5 - B
 

Destacado

Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes
Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentesIntercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes
Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentesJuan Figueiredo
 
6. líquidos corporais e os rins
6. líquidos corporais e os rins6. líquidos corporais e os rins
6. líquidos corporais e os rinsLorrane1
 
Líquidos corporais- liquido sinovial
Líquidos corporais- liquido sinovialLíquidos corporais- liquido sinovial
Líquidos corporais- liquido sinovialFaculdade Guaraí
 
Caso clínico Febre Reumática
Caso clínico Febre ReumáticaCaso clínico Febre Reumática
Caso clínico Febre Reumáticaresenfe2013
 
Drogas vasoativas
Drogas vasoativasDrogas vasoativas
Drogas vasoativasresenfe2013
 
Aula De Drogas Vasoativas
Aula De Drogas VasoativasAula De Drogas Vasoativas
Aula De Drogas Vasoativasgalegoo
 
Equilibrio hidroelectrolitico
Equilibrio hidroelectrolitico Equilibrio hidroelectrolitico
Equilibrio hidroelectrolitico pricosta
 

Destacado (12)

Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes
Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentesIntercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes
Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes
 
6. líquidos corporais e os rins
6. líquidos corporais e os rins6. líquidos corporais e os rins
6. líquidos corporais e os rins
 
Sistema renal
Sistema renalSistema renal
Sistema renal
 
Líquidos corporais- liquido sinovial
Líquidos corporais- liquido sinovialLíquidos corporais- liquido sinovial
Líquidos corporais- liquido sinovial
 
Liquido Sinovial
Liquido Sinovial Liquido Sinovial
Liquido Sinovial
 
4 equilibrio acido base
4   equilibrio acido base4   equilibrio acido base
4 equilibrio acido base
 
Caso clínico Febre Reumática
Caso clínico Febre ReumáticaCaso clínico Febre Reumática
Caso clínico Febre Reumática
 
Complicações na gestação
Complicações na gestaçãoComplicações na gestação
Complicações na gestação
 
Drogas vasoativas
Drogas vasoativasDrogas vasoativas
Drogas vasoativas
 
Aula equilíbrio ácido base
Aula equilíbrio ácido baseAula equilíbrio ácido base
Aula equilíbrio ácido base
 
Aula De Drogas Vasoativas
Aula De Drogas VasoativasAula De Drogas Vasoativas
Aula De Drogas Vasoativas
 
Equilibrio hidroelectrolitico
Equilibrio hidroelectrolitico Equilibrio hidroelectrolitico
Equilibrio hidroelectrolitico
 

Similar a Disturbios do equilibrio hidroeletrolitico

Similar a Disturbios do equilibrio hidroeletrolitico (20)

DISNATREMIAS+CA+P.pptx
DISNATREMIAS+CA+P.pptxDISNATREMIAS+CA+P.pptx
DISNATREMIAS+CA+P.pptx
 
diabetes
diabetesdiabetes
diabetes
 
Pacientes Graves - 13.pdf
Pacientes Graves - 13.pdfPacientes Graves - 13.pdf
Pacientes Graves - 13.pdf
 
Anemia e sindrome nefrótica
Anemia e sindrome nefróticaAnemia e sindrome nefrótica
Anemia e sindrome nefrótica
 
Distúrbio
DistúrbioDistúrbio
Distúrbio
 
Etilismo Crônico
Etilismo CrônicoEtilismo Crônico
Etilismo Crônico
 
Anemias (1)
Anemias (1)Anemias (1)
Anemias (1)
 
DISTÚRBIO DE CÁLCIO
DISTÚRBIO DE CÁLCIODISTÚRBIO DE CÁLCIO
DISTÚRBIO DE CÁLCIO
 
Demencias potencialmente reversíveis.pptx
Demencias potencialmente reversíveis.pptxDemencias potencialmente reversíveis.pptx
Demencias potencialmente reversíveis.pptx
 
DistúRbios Do FóSforo
DistúRbios Do FóSforoDistúRbios Do FóSforo
DistúRbios Do FóSforo
 
Apresentação glomerulonefrite aguda
Apresentação glomerulonefrite agudaApresentação glomerulonefrite aguda
Apresentação glomerulonefrite aguda
 
Estudo de Caso - Hepatopata
Estudo de Caso - HepatopataEstudo de Caso - Hepatopata
Estudo de Caso - Hepatopata
 
Seminário (Insuficiência Renal Aguda e Crônica)
Seminário (Insuficiência Renal Aguda e Crônica) Seminário (Insuficiência Renal Aguda e Crônica)
Seminário (Insuficiência Renal Aguda e Crônica)
 
Projeto diretrizes hipotireoidismo 2005
Projeto diretrizes hipotireoidismo 2005Projeto diretrizes hipotireoidismo 2005
Projeto diretrizes hipotireoidismo 2005
 
Sindromes nefrotico nefritica
Sindromes nefrotico nefriticaSindromes nefrotico nefritica
Sindromes nefrotico nefritica
 
Insuficiência renal crônica
Insuficiência renal crônicaInsuficiência renal crônica
Insuficiência renal crônica
 
Challange of hyponatremia
Challange of hyponatremiaChallange of hyponatremia
Challange of hyponatremia
 
Challange of hyponatremia
Challange of hyponatremiaChallange of hyponatremia
Challange of hyponatremia
 
Ira irc pdf ok
Ira irc pdf okIra irc pdf ok
Ira irc pdf ok
 
fluidoterapia-2015.pdf
fluidoterapia-2015.pdffluidoterapia-2015.pdf
fluidoterapia-2015.pdf
 

Disturbios do equilibrio hidroeletrolitico

  • 1. DISTÚRBIOSDOEQUILÍBRIOHIDROELETROLÍTICO FLUID AND ELECTROLYTE DISORDERS Osvaldo Merege Vieira Neto1 & Miguel Moysés Neto2 1 Médico Assistente e Pós-graduando. 2 Doutor em Nefrologia e Médico Assistente. Divisão de Nefrologia. Departamento de Clínica Medica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP. CORRESPONDÊNCIA: Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Campus Universitário – CEP: 14048-900 Ribeirão Preto – SP VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico. Medicina, Ribeirão Preto 36: 325-337, abr./dez. 2003. RESUMO - O sódio e o potássio são os principais íons dos meios extra e intracelular, respec- tivamente. Os distúrbios relacionados a esses íons são freqüentes e podem ser causados por inúmeras condições clínicas. A fisiopatologia e a gravidade das alterações indicam o tratamento a ser instituído. UNITERMOS - Sódio. Potássio. Hiponatremia. Hipernatremia. Hipopotassemia. Hiperpotas- semia. 325 1- DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO SÓDIO O sódio é o íon mais importante do espaço ex- tracelular, e a manutenção do volume do líquido extra- celular depende do balanço de sódio. É mantido pelo organismo em níveis estreitos (Na = 136 a 145 mEq/1), sendo vários os mecanismos envolvidos no seu con- trole (osmorreceptores, barorreceptores, mecanismos extra-renais e sistema justaglomerular). Pode haver alterações no equilíbrio de sódio plasmático, aumen- tando ou diminuindo sua concentração, ocorrendo hi- pernatremia ou hiponatremia. Existe uma estreita relação entre a água e o sódio, de tal modo que os distúrbios desses dois elementos não devem ser tratados de maneira independente. 1.1- Hiponatremia Definição A hiponatremia é definida como a concentra- ção de sódio, no soro, inferior a 136 mEq/1. É asso- ciada com diferentes doenças, e quase sempre é re- sultado de retenção hídrica. Na maioria das vezes, esse problema é devido à secreção inapropriada do Hor- mônio Anti diurético (HAD), embora a excreção de água livre possa estar limitada em algumas situações, como a insuficiência renal crônica, independente, e do HAD. Enquanto a hipernatremia sempre denota hi- pertonicidade, a hiponatremia pode estar associada a tonicidades baixa, normal ou aumentada. A osmolali- dade efetiva ou tonicidade refere-se à contribuição da osmolalidade dos solutos, tais como sódio e glicose, que não podem se deslocar livremente através das membranas celulares, induzindo, portanto, deslocamen- tos transcelulares de água. A hiponatremia dilucional, a causa mais comum desse distúrbio, é provocada por retenção de água. Se a capacidade renal de excretar água é menor do que a ingestão, ocorre diluição dos solutos no organismo, provocando hiposmolalidade e hipotonicidade. Quadro clínico Na grande maioria das vezes, é assintomática, só ocorrendo sinais e sintomas nos casos graves. Ge- Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NEFROLÓGICAS 36: 325-337, abr./dez. 2003 Capítulo II
  • 2. 326 Vieira Neto OM & Moysés Neto M ralmente, até a concentração de 125 mEq/l, não há sintomas. Eles são inespecíficos, e podem ocorrer em inúmeras condições clínicas. Os sintomas que podem ser vistos na hipo ou hipernatremia, são, primariamen- te, neurológicos e relacionados à gravidade e, particu- larmente, à rapidez na mudança da concentração plas- mática de sódio (horas). A queda na osmolalidade plas- mática cria um gradiente que favorece a entrada de água para dentro das células, levando ao edema cere- bral. Vários sintomas e sinais podem estar relaciona- dos à hiponatremia. Sintomas: letargia, apatia, desorientação, cãimbras musculares, anorexia, náuseas e agitação. Sinais: sensório anormal, reflexos profundos deprimidos, respiração de Cheyne Stokes, hipoter- mia, reflexos patológicos, paralisia pseudobulbar e con- vulsões. Classificação Pseudo-hiponatremia: a causa de hiponatre- mia é a elevada concentração de grandes moléculas de lípides (triglicérides e colesterol) e as paraprotei- nemias (mieloma múltiplo), que, ao deslocarem parte da água extracelular, reduzem, significantemente, a fração plasmática de sódio. A importância clínica da pseudo-hiponatremia e o seu tratamento são os mes- mos da causa básica. Hiponatremia hipertônica: é devida à presen- ça, no soro, de solutos osmoticamente ativos, como manitol e glicose. É comum na cetoacidose diabética, na desobstrução do trato urinário, quando há diurese osmótica pela uréia, e em outras condições clínicas. O tratamento dessa condição é o mesmo da causa básica. Hiponatremia hipotônica: na ausência de pseudo-hiponatremia ou da presença de outros solutos osmoticamente ativos, a hiponatremia evolui com hi- potonicidade. É importante a avaliação do volume ex- tracelular, pois, estando aumentado, normal ou dimi- nuído, poderemos ter hiponatremia com sódio corpo- ral total alto, normal ou baixo, respectivamente. Sen- do assim, usaremos a classificação que vem a seguir: 1) Expansão do volume extracelular: resulta da diminuição da excreção renal de água, com conse- qüente expansão da água corporal total, maior do que o sódio corporal total, e a diminuição do sódio sérico. Freqüentemente, esses pacientes são ede- matosos, o que ocorre nas seguintes situações clíni- cas: insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndro- me nefrótica e insuficiência renal. Em tais condi- ções, o tratamento da hiponatremia consiste na cor- reção do distúrbio subjacente e na restrição hídrica, freqüentemente em associação com diuréticos. 2) Volume extracelular normal: a hiponatremia, associada com euvolemia, inclui situações clínicas que descreveremos a seguir a) Hipotiroidismo: a ocorrência de hiponatremia em hipotiroidismo, geralmente, sugere doença gra- ve, incluindo coma mixedematoso. O tratamen- to consiste na reposição hormonal e na restri- ção hídrica. b) Deficiência de corticosteróide: as deficiências de glicocorticóidee/oumineralocorticóidepodemle- var à hiponatremia, devido as suas ações no me- tabolismo de sódio e da água. Deve-se pesquisá- las, quando a causa de hiponatremia não é evi- dente, em pacientes euvolêmicos. O tratamento consiste na reposição hormonal e restrição hí- drica. c) Estresse emocional, dor e drogas: dor aguda ou estresse emocional grave, como na psicose, as- sociada com ingestão contínua, podem levar a hiponatremia grave. Há drogas que estimulam a liberação do HAD, provocando hiponatremia. O tratamento consiste na correção da causa bási- ca ou suspensão da droga, se ela for a causa, associada à restrição hídrica. As drogas que es- timulam a liberação de hormônio antidiurético ou que aumentam sua ação incluem: inibidores das prostaglandinas, nicotina, clorpropamida, tolbu- tamida, clofibrato, ciclofosfamida, morfina, bar- bitúricos, vincristina, carbamazepina (tegretol), acetaminoafen, fluoxetina e sertralina. Pacien- tes acima de 65 anos são mais susceptíveis. d) Síndrome da secreção inapropriada do HAD (SIHAD): após a exclusão dos diagnósticos aci- ma, em pacientes hiponatrêmicos, euvolêmicos, tal diagnóstico deve se considerado. A retenção de água e a expansão de volume, nessa síndro- me, leva a um achado freqüente, que é oposto àquelas situações em que há hipovolemia: a hipouricemia (concentração plasmática de áci- do úrico < 4 mg/dl). As causas principais estão listadas a seguir. • Carcinomas: pulmão, duodeno, pâncreas • Distúrbios Pulmonares: pneumonia viral, pneumonia bacteriana, abscesso pulmonar, tuberculo- se, aspergilose • Distúrbios do sistema nervoso central (SNC): encefalite viral ou bacteriana, meningite viral, bacte-
  • 3. 327 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico riana ou tuberculosa, psicose aguda, acidente vascu- lar cerebral (isquêmico ou hemorrágico), tumor cere- bral, abscesso cerebral, hematoma ou hemorragia subdural ou subaracnóide, Síndrome de Guillain-Barré, traumatismo craniano, outras causas, como pós-ope- ratórios, dor, náusea intensa e síndrome de imunodefi- ciência adquirida. OBS: todas as alterações no balanço hidroeletrolítico, ob- servadas na SIHAD, têm sido, também, observadas na su- posta síndrome de perda de sal de origem cerebral. Essa sín- drome é caracterizada por elevada concentração de sódio na urina, causada pela alteração na reabsorção de sódio tubular mediada pela liberação de um hormônio natriurético, talvez, um peptídeo originado no sistema nervoso central, com con- seqüente hiponatremia e perda de volume. Os níveis séricos de ADH não são úteis na diferenciação entre as duas sín- dromes. Os níveis séricos de ácido úrico, geralmente, estão normais na síndrome de perda de sal, de origem cerebral. A hipovolemia, traduzida por hipotensão ou desidratação, se- ria a única manifestação clínica, que distinguiria essa sín- drome da SIHAD. O tratamento é diferente para cada situa- ção. e) Ingestão diminuída de solutos: abuso de inges- tão de cerveja ou de dietas com baixo teor de proteínas e excesso de ingestão de água, levan- do a diminuição do metabolismo protéico e bai- xa produção de uréia. A baixa excreção de solutos reduz a excreção máxima de água, em- bora a capacidade de diluição do rim possa es- tar preservada. O tratamento da SIADH consiste na restrição hídrica e no uso eventual de diuréticos de alça, com reposição do sódio e do potássio perdidos na urina. Nos casos que não respondem à restrição hídrica, pode- se usar drogas que induzam diabetes insípido nefrogê- nico, como a demeclociclina (600-1200 mg/ dia) e Car- bonato de Lítio. Foram desenvolvidos, também, anta- gonistas específicos do HAD, em animais, e que de- verão estar disponíveis, no futuro, para uso clínico em pacientes. 3) Contração do volume extracelular: existem inú- meras condições clínicas em que a hiponatremia evolui com contração do volume extracelular, po- dendo ocorrer perda de sódio através da pele, tra- to gastrointestinal ou rim.Aconcentração de sódio urináriopodeestarbaixa(<20mEq/l),devidoàávida reabsorção tubular de sódio pelo rim, nas perdas extra-renais. Porém, quando a concentração uri- nária de sódio estiver mais alta (> 20mEq/l), deve- se considerar que o rim não está respondendo apro- priadamente e/ou que essas perdas, provavelmen- te, são as causas da hiponatremia. As causas mais freqüentes são as relatadas a seguir. a) Perdas gastrointestinais ou para o terceiro es- paço: nos pacientes com hipovolemia, hiponatre- mia e sódio urinário menor que 10mEq/1, deve- mos considerar perdas gastrointestinais. São mais facilmente diagnosticadas em pacientes com his- tória de vômitos e/ou diarréia, porém, na ausên- cia destes, devem ser consideradas: perdas para o terceiro espaço, como nos casos de peritonite e pancreatite, em que há perdas para a cavidade abdominal; íleo ou colite pseudomembranosa, em que há perdas para a luz intestinal; queimaduras, em que há perdas pela pele; e traumatismos musculares, em que há perdas para o músculo. Uso abusivo de catárticos deve ser investigado, mesmo sem história de perdas gastrointestinais. A terapêutica consiste na hidratação com solu- ção salina isotônica. b) Perdas renais: sódio urinário maior que 20 mEq/1 • Uso de diuréticos: a queda da natremia, em pacientes recebendo diuréticos, pode ser o primeiro sinal indicador da necessidade de reajustar suas do- ses. Freqüentemente, a depleção de volume não é evi- dente ao exame clínico, e um dado importante é que os pacientes hiponatrêmicos, em uso de diuréticos tiazídicos ou de alça, apresentam alcalose metabólica ou hipocalêmica, o que não ocorre, quando são utiliza- dos diuréticos poupadores de potássio. A melhor ma- neira de confirmar esse diagnóstico é a suspensão do uso do diurético. • Uso abusivo de diuréticos: é comum em mu- lheres na pré-menopausa, que o fazem por razões es- téticas e para perder peso, de maneira escondida. Evoluem com alcalose metabólica, hipocalêmica. O tratamento consiste na orientação quanto ao uso ex- cessivo de diuréticos. • Nefrite perdedora de sal: pacientes portado- res de doença cística medular, nefrite intersticial crô- nica, doença renal policística, obstrução parcial do trato urinário e, raramente, glomerulonefrite crônica, podem apresentar hiponatremia hipovolêmica, o que aconte- ce, geralmente, em pacientes com insuficiência renal moderada ou avançada, devido à perda da capacida- de de concentração urinária. O tratamento consiste na hidratação com salina isotônica.
  • 4. 328 Vieira Neto OM & Moysés Neto M • Doença de Addison: pacientes com tal pato- logia apresentam menores níveis de aldosterona e, con- seqüentemente, reabsorvem menos sódio e excretam mais potássio pelos rins. As concentrações urinárias de sódio são maiores do que 20mEq/1 e as de potássio menores do que 20mEq/1, e podem ser uma pista para esse diagnóstico. A terapêutica consiste na reposição hormonal e hidratação com salina isotônica. • Diurese osmótica e excreção de amônia: na presença de concentração de sódio urinário maior do que 20mEq/1, deve-se considerar, também, a diurese osmótica, levando à depleção de água e eletrólitos. Podem-se citar algumas situações em que isso ocorre - Infusão crônica de manitol, sem reposição eletrolítica. - Desobstrução do trato urinário, com diurese osmótica pela uréia. - Diabetes não controlada, com glicosúria importante, causando diurese osmótica e conseqüen- te espoliação hidroeletrolítica. - Cetonúria, em que a excreção de cetoáci- dos pode levar à perda renal de água e eletrólitos, como na cetoacidose diabética e alcoólica ou na inanição. - Bicarbonatúria, em que a perda renal do bicarbonato leva à perda de água e cátions, para man- ter a eletroneutralidade. É mais freqüentemente en- contrada na alcalose metabólica com bicarbonatúria, comum nos pós-operatórios com sucção nasogástrica ou vômitos.Aacidose tubular renal proximal pode, tam- bém, levar a bicarbonatúria, com conseqüente hipo- natremia. 4) Excesso de ingestão de água: existem algumas situações em que existe hiponatremia com supres- são da excreção de HAD: insuficiência renal avan- çada e polidipsia primária. No primeiro caso, rim excreta água livre pela incapacidade do néfron em diluir a urina. A osmolalidade urinária pode se ele- var para 200 a 250mOs/kg, pelo aumento da ex- creção de solutos por néfron. No caso da polidip- sia primária ,o sódio plasmático pode estar normal ou discretamente rebaixado pelo excesso de inges- tão de água, devido ao estímulo patológico da sede. Podem ocorrer por lesões hipotalâmicas como, sarcoidose, ou em pacientes com distúrbios psiquiá- tricos. Ingestões acidentais de água, durante aulas de natação, excesso de enemas ou soluções de ir- rigação, utilizadas em cirurgias de próstata transuretrais (RTU) podem, também, levar a qua- dro de hiponatremia hipotônica. Terapêutica As causas mais comuns de hiponatremia gra- ve, em adultos, são a terapia com tiazídicos, pós-ope- ratórios, SIHAD, polidipsia em pacientes psiquiátri- cos e prostatectomia por ressecção transuretral. O tratamento pode variar desde restrição hídri- ca até reposição de salina isotônica ou hipertônica. Porém, em casos de hiponatremia sintomática, o que, geralmente, pode ocorrer com sódio entre 120 mEq/1 e 125 mEq/l, deve-se fazer a reposição salina, inde- pendente da causa, especialmente se a hiponatremia ocorreu de maneira muito rápida. Embora rara, a desmielinização osmótica é sé- ria e pode ocorrer de um a vários dias após o trata- mento mais agressivo de hiponatremia por qualquer método, mesmo em resposta à restrição hídrica, como tratamento único. A contração das células cerebrais desencadeia a desmielinização dos neurônios da pon- te e extrapontinos e causa disfunção neurológica, in- cluindoquadriplegia,paralisiapseudobulbar,convulsões, coma e até óbito. A desnutrição, hepatopatias e déficit de potássio aumentam o risco dessa complicação. O aumento da concentração de sódio não deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas 24 h até atingir os níveis entre 125 mEq/l a 130 mEq/l. Se a concen- tração inicial estiver abaixo de 100 mEq/l, por exem- plo, a correção poderá aumentar sua velocidade para 1 a 2 mEq/l por hora até atingir níveis satisfatórios ou melhora da sintomatologia. A correção pode ser feita pela fórmula: Água corporal = calculada como fração do peso. O índice para adultos e crianças é 0,6, para mulheres e idosos, 0,45 a 0,5.Afórmula estima o efeito de um litro de qualquer solução infundida no sódio sérico • Hiponatremia hipotônica sintomática Pacientes que têm hiponatremia com urina con- centrada, osmolalidade > 200 mOsm/kg de água, euvolêmicos ou hipervolêmicos necessitam de infu- são de salina hipertônica. A solução hipertônica deve ser acompanhada de furosemide para evitar a expan- são do volume extracelular. Como a diurese por furo- semide equivale a solução salina a 0,45% (77 mEq/l), ajuda na correção da hiponatremia, porém, deve-se 1corporalÁgua séricoNa-infundidoNa (mEq/l)séricosódionoMudança + =
  • 5. 329 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico evitar a infusão de água livre de solutos ao mesmo tempo. Pacientes com urina diluída (osmolaridade < 200 mOsm/kg de água), sem sintomas graves, usual- mente, só necessitam de restrição de água. Sintomas mais graves, como convulsão e coma, podem indicar a necessidade do uso de soluções hipertônicas. • Hiponatremia hipotônica assintomática O grande risco do tratamento, nesses casos, ocorre durante a fase de correção, quando os pacien- tes param de ingerir grandes quantidades de água ou quando há correção repentina da dificuldade de ex- creção de água, como aquelas provocadas por dro- gas. Se há uma diurese excessiva, em alguns casos, há necessidade da administração de líquidos hipotôni- cos, para evitar que a correção se processe acima da meta estipulada de 10 mEq/l/24 h, por exemplo. Por outro lado, não há risco semelhante associado com a hiponatremia assintomática, que acompanha os esta- dos edematosos ou a persistência da SIHAD pela al- teração na excreção de água. Na ICC grave, a mu- dança das condições hemodinâmicas pode melhorar a excreção de água livre. Nesses casos, o uso de furo- semide e não o de tiazídico, reduz a concentração uri- nária e aumenta a excreção de água livre. Na SIHAD, deve-se utilizar diuréticos de alça, associados com so- lução salina hipertônica o que vai aumentar a perda de água.Aadministração de sódio, em solução hipertôni- ca, não deve ser dada aos pacientes portadores de estados edematosos. Embora a restrição de água vá melhorar todas as formas de hiponatremia, essa não é a melhor terapia em todos os casos. A hiponatremia associada com a perdadevolumeelíquidoextracelular,como,porexem- plo, nas diarréias e perdas gastrointestinais, necessita também de correção da perda de sódio concomitante. Ahiponatremiaadquiridadentrodohospitalpode ser prevenida, detectando-se situações que possam diminuir a excreção de água; drogas; insuficiência de órgãos, como insuficiência renal e cardíaca; pós-ope- ratórios. Nesses casos, deve-se evitar a infusão de líquidos hipotônicos, que excedam a capacidade de excreção de água dos pacientes de risco. 1.2- Hipernatremia Definição A hipernatremia é definida, quando o sódio plas- mático ultrapassa 145 mEq/I. A concentração sérica de sódio e, conseqüentemente, a osmolalidade sérica são controladas pela homeostase da água, a qual é me- diada pela sede, pela vasopressina e pelos rins. Qual- quer desequilíbrio, no balanço de água, manifesta-se como uma anormalidade da concentração sérica de sódio: hipernatremia ou hiponatremia. É menos fre- qüente do que a hiponatremia, e mais comum em paci- entes muito jovens, muito velhos, e doentes, que não têm condição de ingerir líquido em resposta ao aumento de osmolalidade, o que provoca sede, devido a sua in- capacidade física. Como o sódio funciona como soluto impermeável, do ponto de vista funcional, ele contribui para a tonicidade, e induz o movimento de água atra- vés das membranas celulares. A hipernatremia, inva- aimertanrepiheopiharapoãçisoperarapsadazilituresoãredopeuqseõçuloS-IalebaT adidnufniresaoãçuloS )l/qEm(aNededaditnauQ )%(ralulecartxeodiuqíl/poãçiubirtsiD %5aanilaS 558 *001 %3aanilaS 315 *001 %9,0aanilaS 451 001 otatcalregniRedoãçuloS 031 79 %54,0aanilaS 77 37 %5aesocilgme%2,0aanilaS 43 55 %5aesocilG 0 04 otnemitrapmocodaugáedesomsoropoãçomermezudniseõçulossasse,ralulecartxeotnemitrapmoconlatotoãçiubirtsidedmélA* ralulecartni
  • 6. 330 Vieira Neto OM & Moysés Neto M riavelmente, evoluicomhiperosmolalidadehipertônicae sempre provoca desidratação celular. A hipernatre- mia ocorre com freqüência em pacientes hospitaliza- dos, como uma condição ligada a fatores iatrogênicos, e algumas das complicações mais sérias ocorrem não da própria alteração, mas de tratamento inadequado. Quadro clínico A hipernatremia pode ser sintomática e levar a sinais e sintomas clínicos. Disfunção do SNC: É conseqüente à desidra- tação celular, com contração das células cerebrais, o que pode levar à laceração, hemorragia subaracnóide e subcortical, e trombose dos seios venosos. As pri- meiras manifestações da hipernatremia são: agitação, letargia e irritação. Esses sintomas podem ser seguidos de espasmos musculares, hiperreflexia, tremores, ata- xia. Ahipernatremia aguda é mais grave do que a crô- nica, e a evolução mais benigna, nos casos crônicos, deve-se à formação de osmóis ideogênicos, osmotica- mente ativos para restauração de água intracelular. A gravidade dos sintomas cabíveis depende da idade, e é maior em pacientes muito jovens ou muito velhos. Classificação Perda de água 1) Perdas insensíveis: pela pele e pela respiração. 2) Diabetes insipidus: após trauma, provocado por tumores,cistos,histiocitose,tuberculose,sarcoidose, idiopático, provocado por aneurismas, meningite, encefalite, síndrome de Guillain-Barré, e transitó- rio, provocado por ingestão de etanol. 3) Diabetes insipidus nefrogênico • Doença renal (doença cística medular, por exem- plo) • Hipercalcemia ou hipocalemia. • Drogas: lítio, demeclociclina, foscarnet, metoxi- flurano, anfotericina B. Perda de líquidos hipotônicos 1) Causas renais: diuréticos de alça, diurese osmótica (glicose, uréia, manitol), diurese pós desobstrução, fase diurética da necrose tubular aguda. 2) Causas gastrointestinais: vômitos, drenagem na- sogástrica, fístulas enterocutâneas, diarréia, uso de agentes catárticos, como, por exemplo, a lactulose 3) Causas cutâneas: queimaduras, sudorese excessiva Ganho de sódio hipertônico Infusão de bicarbonato de sódio, ingestão de cloreto de sódio, ingestão da água do mar, enemas de salina hipertônica, infusão de soluções hipertônicas de sódio, diálise hipertônica, hiperaldosteronismo primá- rio e síndrome de Cushing (reabsorção intensa de sódio pelos túbulos). Terapêutica O tratamento se inicia com o diagnóstico da causa do processo e corrigindo a hipertonicidade. O tratamento das causas pode, por exemplo, controlar a perda de líquidos gastrointestinais, controlar o aumen- to de temperatura, hiperglicemia, corrigir a poliúria pelo lítio, etc. Nos pacientes com hipernatremia, que se desenvolve após algumas horas, a correção rápida melhora o prognóstico, sem risco de provocar edema cerebral. Nesses pacientes, a redução de 1 mEqL/l/h é adequada. Uma correção mais prudente torna-se necessária nos pacientes com hipernatremia de longa duração ou de duração desconhecida, devido ao fato que a dissipação do acúmulo dos solutos cerebrais pode levar vários dias. Nesses casos, deve-se reduzir a di- minuição da concentração de sódio sérico a 0,5 mEq/ h o que evita o aparecimento de edema e convulsões. Recomenda-se que a queda do sódio plasmático não exceda a 10 mEq/l nas 24 h. O objetivo do tratamento é levar os níveis do sódio sérico a 145 mEq/l. A fórmula a ser utilizada é a mesma utilizada para correção da hiponatremia, como visto anterior- mente. Água corporal = calculada como fração do peso. O índice, para adultos e crianças, é 0,6, para mulheres e ido- sos, 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de qualquer solução infundida no sódio sérico A via preferencial para correção, quando pos- sível, é a oral através de sondas nasogástricas ou enterais. Se não for possível, administrar, por via en- dovenosa, soluções hipotônicas, como glicose a 5%, salina a 0,2% (diluir o sódio em solução glicosada a 5%) e salina a 0,45%. Quanto mais hipotônico o líqui- do de infusão, mais lenta deve ser a administração. 1corporalÁgua séricoNa-infundidoNa (mEq/l)séricosódionoMudança + =
  • 7. 331 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico A não ser em casos de comprometimento he- modinâmico, a solução salina a 0,9% não é adequada para o manuseio da hipernatremia. Como exemplo, um paciente que tem concentração de sódio de 162 mEq/ l, pesando 70 kg, ao receber um litro de salina a 0,9%, diminuirá em somente 0,2 mEq/l a concentração sérica de sódio, não alterando substancialmente essa concen- tração. Além disso, se persistirem as perdas de líqui- dos hipotônicos, a natremia poderá aumentar ao invés de diminuir.A única indicação de salina a um paciente com hipernatremia é quando houver perda de volume extracelular suficiente para provocar alterações hemo- dinâmicas. Mesmo nesses casos, assim que as condi- ções hemodinâmicas se estabilizarem, deve-se admi- nistrar soluções hipotônicas, como salina a 0,2% e 0,45%, para corrigir a hipernatremia. Nos casos em que há hipernatremia por ganho de soluções hipertônicas de sódio, a administração de furosemide somente agravará a hipernatremia, já que a diurese induzida equivale a, aproximadamente, solu- ção salina a 0,45%. A administração concomitante de diurético e solução com água livre será mais adequa- da. Há necessidade de monitoração contínua, pois há risco de retenção de volume extracelular nesses ca- sos. A hipernatremia, na vigência de insuficiência re- nal e sobrecarga de volume, é um capítulo a parte, mas, geralmente, a diálise pode ser necessária. 2– DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO PO- TÁSSIO Dentre os distúrbios encontrados na prática clí- nica, os relacionados ao potássio são muito freqüentes e, muitas vezes, constituem-se em emergência clínica. Procuramos dar uma rápida noção da distribuição do potássio corporal, das possíveis etiologias dos distúrbi- os relacionados ao potássio e seu enfoque terapêutico. 2.1- Distribuição do potássio O potássio é um íon predominantemente intra- celular. O conteúdo corporal de potássio é de cerca de 50mEq/kg ou seja, cerca de 3.500 mEq para um adulto de aproximadamente 70 kg. A concentração intracelular de potássio varia de 140 a 150mEq/1, sen- do o tecido muscular o maior depósito de potássio. Apenas 2% do potássio corporal total encontra-se no espaço extracelular, variando sua concentração de 3,5 a 5,0 mEq/1. Devido à grande diferença entre as concentrações intra e extracelular de potássio, os fa- tores que controlam sua distribuição transcelular são críticos para a manutenção de níveis séricos normais. Os principais fatores são: A– pH: a acidose provoca a saída de potássio do intra para o extracelular, aumentando sua concen- tração sérica . Isto ocorre porque, quando exces- so de íons H+ são adicionados ao plasma, a maior parte é tamponada no compartimento intracelular, e, para que esses íons entrem para dentro das cé- lulas, eles são trocados por íons Na+ , através do trocador Na+ -H+ , o que diminui a concentração de Na+ intracelular, e, conseqüentemente, sua dis- ponibilidade para ser trocado pelo K+ através da bomba Na+ -K+ ATPase. Dessa maneira, menor quantidade de K+ entra nas células. O fenômeno oposto ocorre na alcalose. Alterações do bicarbo- nato sérico, mesmo sem alterações do pH, levam a alterações da distribuição transcelular. De for- ma prática, para cada 0,1U de alteração do pH sanguíneo haverá uma alteração concomitante do potássio sérico de 0,6 mEq/1. B – Insulina: exerce um papel importante na manu- tenção da distribuição sérica normal,/ do potássio. Indivíduos com baixa secreção basal de insulina (ex: diabéticos do tipo 1 ) possuem menor tolerân- aimertanrepiharapoãçisoperarapsadazilituresoãredopeuqseõçuloS-IIalebaT adidnufniresaoãçuloS )l/qEmaNededaditnauQ )%(ralulecartxeodiuqíl/poãçiubirtsiD %9,0aanilaS 451 001 otatcalregniRedoãçuloS 031 79 %54,0aanilaS 77 37 %5aesocilgme%2,0aanilaS 43 55 %5aesocilG 0 04
  • 8. 332 Vieira Neto OM & Moysés Neto M cia à infusão de potássio, por apresentarem meca- nismos de defesa debilitados frente a situações de hiperpotassemia). A insulina exerce seu efeito pro- tetor na hiperpotassemia através do aumento da captação de potássio pelas célu- las hepáticas e musculares. Seu efeito ocorre através da estimula- ção do trocador Na+ -H+ , com en- trada de Na+ e saída de H+ . Des- sa maneira, ocorre um aumento da extrusão de Na intracelular atra- vés da bomba Na+ -K+ ATPase, com conseqüente entrada de K+ para dentro das células. C– Aldosterona: o principal efeito da aldosterona ocorre através da modificação da excreção renal de potássio. Sua ação ocorre no duc- to coletor, abrindo canais de Na+ , o que aumenta a reabsorção desse cátion, com conseqüente secreção de K+. É provável que a aldoste- rona também atue, promovendo a captação celular de potássio, en- tretanto tal dado ainda não se en- contra estabelecido no homem. D– Agentes βββββ2 -Adrenérgicos: atu- am diretamente na bomba Na+ -K+ ATPase estimulando-a, com conseqüente entrada de K+ e saída de Na+. Esse efeito é mediado pelos receptores ß2 -adrenérgicos e é mais evidente com o uso de adrenalina. Além dos fatores mencionados, que controlam a distribuição transcelular do potássio, têm papel rele- vante as alterações da reserva corporal total, seja por depleção (aumento das perdas ou redução da ingesta) ou retenção de potássio (sobrecarga de potássio ou diminuição das perdas renais. 2.2. Hiperpotassemia Definição Concentração plasmática do íon potássio aci- ma de 5,0 mEq/1. Deve-se excluir a pseudo-hiperpo- tassemia, que ocorre nas seguintes situações: • Leucocitose: acima de 100.000/mm3 • Plaquetose: acima de 1.000.000/mm3 • Hemólise Etiologia Na Tabela III, as causas possíveis de hiperpo- tassemia • Diagnóstico/Manifestações Clínicas O diagnóstico é feito, quando encontramos con- centração sérica acima de 5mEq/l. Do ponto de vista clínico, a hiperpotassemia pode manifestar-se desde a ausência de qualquer sintoma até parada cardíaca. As células excitáveis são as mais sensíveis aos altos va- lores de potássio, entre elas as células miocárdicas e as neuromusculares, o que se traduz em fraqueza, arreflexia, paralisia muscular (inclusive respiratória), parestesias e alterações cardíacas, conforme delinea- do na Figura 1. Do ponto de vista prático, cabe ainda ressaltar: a) hipocalcemia, hiponatremia e acidose metabólica intensificam a hiperpotassemia; b) acidose metabólica produz uma hiperpotassemia “menos tolerável e mais grave” do que a acidose respiratória; c) a hiperpotassemia vista na insuficiência renal crô- nica é mais tolerada que a da insuficiência renal aguda, o que se deve à adaptação dos mecanis- mos de defesa extra-renais; aimessatoprepihedsievíssopsasuaC-IIIalebaT oãçiubirtsiderroP oissátopedoãçneterroP airótaripseruoacilóbatemesodicA serodaeuqolb-ß )1opitodsetebaiD(aimenilusniopiH aninigraedoãsufnI acilátigidoãçacixotnI anilocliniccuS laneraicnêicifusnI anegóxeoissátopedagraC anegódneoissátopedagraC otnemagamsE- esilómeH- omsilobatacrepiH- oissátopedserodapuopsocitéruiD anotcalonoripsE- adirolimA,oneretnairT- omsinoretsodlaopiH omsilositrocopiH sianerseralubutsaçneoD aimotsonujejoreterU
  • 9. 333 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico d) deve ser sempre indagado, na história clínica, o uso de medicamentos, principalmente digitálicos; e) quando a causa da hiperpotassemia for devida à carga de potássio aumentada (síndrome do esma- gamento, hipercatabolismo ou hemólise maciça), associada a um déficit de excreção (insuficiência renal), poderá haver rápida elevação dos níveis de potássio, com riscos de parada cardiorrespiratória, nestas condições em que o tratamento dialítico deve ser considerado. Tratamento clínico Há três maneiras de se abordar a hiperpotas- semia: antagonismo direto aos efeitos do potássio so- bre a membrana, redistribuição do potássio do extra para o intracelular, e aumento da excreção do potás- sio. 1) Antagonismo direto sobre os efeitos do po- tássio na membrana celular: é o efeito observa- do durante a infusão endovenosa em bolus de gluconato de cálcio. Cloreto de cálcio também pode ser usado. O cálcio é a droga de escolha, quando existem alterações eletrocardiográficas ou na pa- rada cardíaca por hiperpotassemia.Adose utilizada é de 10 ml EV de gluconato de cálcio 10% em infu- são lenta em 2 a 3 min, que pode ser repetida após 5 min, se as alterações eletrocardiográficas persis- tirem. A ação é imediata (1-3 min) e a duração do efeito é de até l h. Nos pacientes digitalizados, deve- se infundir o cálcio com extremo cuidado, e a dose descrita deve ser diluída em 100ml de SG 5% e infundida em 20 a 30min, levando-se em conta que o cálcio pode induzir toxicidade digitálica. Deve-se ressaltar que o cálcio não diminui a concentração sérica de potássio, apenas antagoniza sua ação “tó- xica” sobre o miocárdio. 2) Redistribuição do potássio: há três maneiras para se atingir tal objetivo: bicarbonato de sódio, solução polarizante (insulina + glicose) e agentes ß2-adrenérgicos. a) Bicarbonato de sódio: quando há acidose, deve- mos calcular o déficit de bicarbonato através de seuvolumededistribuição(FórmuladeAsh:Peso x BE x 0.3). É indicada a correção de metade do déficit, e a infusão deve ser feita via EV em 15 a 20 min. Quando não há acidose, doses meno- res de bicarbonato de sódio (cerca de 50 mEq) podem ser infundidas em aproximadamente 5 min, e podem ser repetidas após 30 min. São contra-indicações ao uso do bicarbonato: edema pulmonar, devido à expansão de volume; e hipo- calcemia, devido ao aumento da ligação do cál- cio à albumina, quando ocorre aumento de pH, o que pode precipitar convulsões e tetania. O iní- cio da ação ocorre em 5 a 10 min e a duração do efeito é de aproximadamente 2 h. Figura 1 - Alterações eletrocardiográficas na hiperpotassemia.
  • 10. 334 Vieira Neto OM & Moysés Neto M b) Solução polarizante: a infusão de insulina aumenta a captação do potássio pelas células muscula- res através de mecanismo descrito anteriormen- te. Para evitar hipoglicemia, deve-se usar 1 UI de insulina regular para 4-5g de glicose. Habitu- almente, prepara-se solução com 100ml de gli- cose 50% + 10 UI de insulina regular, que deve ser administrada em infusão EV em 5-10 min. Pacientes com hiperglicemia intensa devem ser medicados apenas com insulina. O início da ação ocorre em 30 min, com o pico em 60 min e o efeito se prolonga por 4 a 6 h. c) Agentes ß2 -adrenérgicos: seu uso aumenta a captação celular de K+ através de mecanismo descrito anteriormente. Podem ser usados por via inalatória (10 a 20mg de albuterol diluídos em 5 ml de SF 0,9%), ou por infusão EV (0,5mg de albuterol diluído em 100 ml SG5%). O pico de ação ocorre em 30 min, em infusão endove- nosa, e em 90 min por via inalatória. Deve-se evitar o uso desdas drogas para o tratamento da hiperpotassemia devido a seu potencial arritmo- gênico. 3) Eliminação do potássio: há três maneiras para se atingir tal objetivo: resinas de troca iônica, diuréticos de alça, e procedimentos dialíticos. a) Resinas de troca iônica: adsorvem K+ no tubo digestivo, trocando-o por Ca++ ou Na+ . Em nos- so meio, a resina mais usada é o poliestirenos- sulfonato de cálcio (SorcalR ) que troca K+ por Ca++ , sendo o primeiro eliminado nas fezes. Seu efeito se inicia após 1-2 h, com duração de até 6 h. É apresentada na forma de pó para uso oral, diluído em água. A prescrição habitual é de 15- 30 g VO a cada 6 ou 8 h. Pacientes que não possam usar a medicação por via oral podem ser tratados por enema de retenção. O efeito colateral mais freqüente é a constipação intesti- nal, que deve ser tratada com catárticos (Manitol ou Sorbitol). b) Diuréticos de alça: o uso de diuréticos de alça (furosemida: 40 a 80 mg EV ou bumetanida: 1 a 2mg EV) aumenta a excreção renal de potás- sio. Pacientes com insuficiência renal modera- da a grave (clearance de creatinina entre 10- 50 ml/min), podem ser medicados com essas drogas, entretanto a resposta não é tão boa quan- to em pacientes com função renal normal. Paci- entes com insuficiência renal terminal não apre- sentam resposta satisfatória. Em casos de hi- perpotassemia grave devem ser usados desde o início, apesar do efeito ser lento, pois nestes ca- sos, pequenas perdas de K+ podem provocar quedas consideráveis nos níveis plasmáticos. Por exemplo, para reduzir o potássio sérico de 7 para 6 mEq/l, é necessário excretar muito menos K+ do que para reduzi-lo de 6 para 5 mEq/l. c) Mineralocorticóides: provocam aumento da secreção tubular de K+ , e da reabsorção de Na+ , o que limita seu uso. A droga mais usada é a fludrocortisona (FlorinefR ) na dose de 0,1mg/dia, podendo chegar a 0,2mg/dia em casos excepcio- nais. d) Diálise: é muito efetiva em retirar o potássio, principalmente a hemodiálise, e pode normalizar os níveis de K+ em 15 a 30 min. Está indicada na insuficiência renal (aguda ou crônica). A prin- cipal desvantagem do tratamento dialítico é o tempo necessário para se preparar o material e para se conseguir o acesso (peritoneal ou atra- vés da punção venosa, para implante de cateter de duplo lúmen). Antes de preparar a diálise, deve-se utilizar as medidas terapêuticas apre- sentadas acima. 2.3- Hipopotassemia Os termos hipocalemia ou hipopotassemia são utilizados quando a concentração do potássio no soro é inferior a 3,5 mEq/l, não distinguem o déficit total de potássio no organismo das alterações de distribuição do mesmo. Contudo, a hipopotassemia avaliada em conjunto com dados clínicos e laboratoriais oferece orientação quanto a etiologia, o prognóstico e a tera- pêutica não só do próprio distúrbio, como, também, de outros problemas que o paciente apresenta. Perdas de 200 a 400 mEq são necessárias para promover a queda do K+ sérico de 4,0 para 3,0 mEq/l, e perdas subseqüentes de 200 a 400 mEq são necessárias para levar a potassemia a níveis abaixo de 2,0 mEq/l. A hipopotassemia ocorre em conseqüência de: fatores que influenciam a distribuição transcelular do potássio; depleção do potássio corporal total; ou uma combinação desses fenômenos. A causa mais comum da distribuição transcelular é a alcalose, seja ela respi- ratória ou metabólica, embora ocorra, também, com a administração exógena de glicose, insulina ou betaa- gonistas. Os verdadeiros déficits de potássio resultam de perdas gastrointestinais ou renais, raramente de per-
  • 11. 335 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico das pelo suor. Pode-se prever o desenvolvimento de hipopotassemia na presença de perdas através de se- creções do trato gastrointestinal.As causas renais mais comuns incluem terapêutica com diuréticos ou esta- dos de secreção excessiva de mineralocorticóide. Sinais sintomas Como o potássio é o cátion mais abundante no intracelular, é de se esperar que a hipopotassemia pro- duza distúrbios em múltiplos órgãos e sistemas Os prin- cipais sintomas decorrem de aberrações na polariza- ção das membranas que afetam a função dos tecidos neural e muscular. Os sinais e sintomas não apare- cem habitualmente, até que a deficiência seja signifi- cativa. Cardíacos Alterações de condução cardíaca constituem as anormalidades mais importantes. A alteração do ECG, visualizada, é o achatamento das ondas “T” e desenvolvimento de ondas “U” proeminentes, que podem dar a impressão de um intervalo QT prolonga- do. Predispõem a batimentos ectópicos atriais e ven- triculares e o aspecto mais crítico é o aumento da sen- sibilidadeaodigital,levandoaarritmias,potencialmente fatais, da intoxicação digitálica.Ahipopotassemia re- duz a eliminação da digoxina, aumentando seu nível sérico e aumentando a ligação da droga ao coração. Hemodinâmicos Foi constatado que a depleção de potássio au- menta a pressão arterial em voluntários humanos; por outro lado, a sobrecarga de potássio diminui a pressão arterial devido à natriurese. Neuromusculares Nos indivíduos com função cardiovascular nor- mal, os sintomas de depleção de potássio não costu- mam ser evidentes, até que o déficit ultrapasse 5% das reservas corporais totais (200 mEq), com níveis séricos de potássio inferiores a 3,0 mEq/l. As disfun- ções do trato gastrointestinal com hipopotassemia manifestam-se sob a forma de constipação ou íleo paralítico. Nos músculos estriados, pode-se notar desde leve fraqueza até a paralisia franca, com paralisia res- piratória, ameaçando a vida do indivíduo, o que pode ocorrer, quando concentrações séricas de potássio são inferiores a 2,0 mEq/l. Ocorre, também, predisposi- ção à rabdomiólise e à mioglobinúria, as quais podem levar à necrose tubular aguda. Renais A hipopotassemia grave pode resultar em de- clínio funcional do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, que costuma ser reversível com a reposiçãodopotássio.Outracomplicaçãogravedahipo- potassemiaé a mioglobinúria, que pode induzir à insufi- ciência renal aguda. O defeito mais comum é a inca- pacidade de concentrar a urina ao máximo, ocorrendo poliúria. Ocorre, também, uma produção aumentada de amônia, o que explica porque pacientes hepatopa- tas, com cirrose, evoluem para coma hepático. Hipo- potassemia também potencializa insuficiência renal aguda nefrotóxica (aminoglicosídeos, anfotericina B). Endócrinas Quando há hipopotassemia grave, a liberação da insulina pelo pâncreas é inibida, o que provoca uma tolerância anormal aos carboidratos nos pacientes hipopotassêmicos. Isso complica o tratamento do pa- ciente diabético e, em certas situações, estabelece-se um falso diagnóstico de diabetes mellitus. Diagnóstico diferencial Pode ser útil, no diagnóstico diferencial, o qua- dro clínico, parâmetros laboratoriais, como valores gasométricos, determinações urinárias do potássio e cloreto, e, em alguns casos, a avaliação do sistema renina–angiotensina–aldosterona, assim como a pre- sença ou ausência de hipertensão arterial. Pseudo-hipopotassemia As amostras de sangue com alta contagem de leucócitos (> 105 /ml), conservadas à temperatura ambiente, sofrem uma redução na concentração de potássio, devido a sua captação pelos leucócitos, que pode ser evitada, se houver separação imediata do soro ou do plasma, ou armazenamento do sangue a 4º C. Hipopotassemia secundária a redistribuição A questão que se impõe conhecer é se a alte- ração é na distribuição ou um verdadeiro déficit. As causas de redistribuição são as seguintes: a) Alcalose: é a causa mais comum da redistribuição do íon. Está associada a grandes déficits, em torno de 200-500 mEq do íon, na alcalose metabólica, enquanto a alcalose respiratória induz pouco ou nenhum déficit. b) Excesso de insulina: a elevação da insulina sérica estimula a captação do potássio pelas células mus- culares e hepáticas.
  • 12. 336 Vieira Neto OM & Moysés Neto M c) Agonistas ß2 -adrenérgicos: durante o uso desses agentes ou no estresse, em que ocorre liberação de catecolaminas, que é fenômeno agudo e transi- tório, pode ocorrer hipopotassemia, com duração de 60 a 90 min. Em pacientes susceptíveis, pode ocorrer predisposição a arritmias. d) Paralisia periódica hipocalêmica: distúrbio raro com transmissão autossômica dominante. Caracteriza- se por ataques recorrentes de paralisia flácida em tronco e membros, com duração de 6 a 24 h. Os pa- cientes com tireotoxicose parecem ser propen- sos ao desenvolvimento dessa síndrome reversível. e) Intoxicação por bário: a ingestão de sais de bário, solúveis em ácido, pode causar paralisia flácida hipocalêmica, por impedir o fluxo normal de potás- sio para fora das células,causando fraqueza mus- cular. Essa paralisia é caracterizada por vômitos, diarréia e precipitação de sais de bário (radiopaco) nos rins. f) Intoxicação por tolueno: causada pela inalação de cola e tintas em aerossóis. A hipopotassemia ocorre pela acidose tubular renal distal e pela redistribui- ção inadequada. Depleção de Potássio a) Perdas extra-renais: as causas mais comuns con- sistem na perda pelo trato gastrointestinal inferior, tais como diarréia de grande volume, drenagem co- piosa de uma fístula, presença de adenoma viloso e abuso crônico de laxativos. A ingestão inadequada de potássio, isolada, representa causa pouco habi- tual de hipopotassemia, mas pode ser encontrada na anorexia nervosa e no idoso com dieta restrita de chá e torradas. A excreção urinária de potássio, nessas duas situações, deve ser inferior a 20mEq/ dia, mas a concentração urinária de potássio pode fornecer um valor falso devido à poliúria. Pode-se utilizar a fração de excreção de potássio, fornecen- do valores abaixo de 6% ou ainda a relação K (mEq)/ Creatinina (g) menor do que 20, para uma avaliação rápida. Para uma boa avaliação, o paci- ente necessita estar euvolêmico e excretando mais de 100 mEq de sódio por dia, pois a queda da taxa de filtração glomerular e o aumento da reabsorção proximal de sódio e água, em pacientes hipovolêmi- cos, reduzem a caliurese. b) Perdas renais: excreção de mais de 20mEq/dia de potássio, acompanhada de hipopotassemia. A abor- dagem é feita, subdividindo os distúrbios em síndro- mes hipertensivas e normotensivas. 1) Síndromes hipertensivas • Síndromes de hiperreninemia: hipertensão re- novascular, hipertensão maligna ou acelerada, tumores produtores de renina (hemangioperici- tomas pequenos, tumor de Wilms, adenocarni- noma renal). Dados clínicos laboratoriais e an- giográficos estabelecem o diagnóstico. • Síndromes de hiporreninemia: essas síndromes ocorrem pela secreção autônoma de aldostero- na (adenomas), ou na hiperplasia da supra-re- nal. As síndromes podem, também, manifestar- se devido a outros mineralocorticóides exógenos, comooalcaçuz,quecontémoácidoglicirrizínico, que sensibiliza os rins aos efeitos deles, ou por es- teróides endógenos, como na Síndrome de Cushing, na produção ectópica de hormônio adre- nocorticotrópico, e, ainda, na secreção de deoxi- corticosterona ou de corticosterona, nas síndro- mes de hiperplasia supra-renal congênita. Outros distúrbios relacionados com a produção endóge- nademineralocorticóidespodem,também,levara hiporreninemia (ex: Síndrome de Liddle, que é uma patologia conseqüente à expressão aumen- tada dos canais de sódio amiloridessensíveis). 2)Distúrbios normotensivos • Síndromes com hipobicarbonatemia: a acidose tubular renal distal e proximal, a cetoacidose di- abética, a terapêutica com acetazolamida, e a ureterossigmoidostomia são patologias nas quais ocorre perda renal do potássio, associada, tam- bém, com baixas concentrações séricas de bi- carbonato.Aacidose tubular renal proximal apre- senta acidose hiperclorêmica, urina ácida e per- da de outras substâncias, como ácido úrico, fos- fato, glicose, aminoácidos, enquanto, na acidose tubular distal, há acidose hiperclorêmica, inca- pacidade de acidificar a urina e cálculos. • Síndromes com hiperbicarbonatemia: essas sín- dromes são estudadas de acordo com a excre- ção urinária de cloreto. A hiperbicarbonatemia e a excreção urinária aumentada de cloreto (10mEq/dia) estão associados à exposição ex- cessiva a diuréticos espoliadores de K+ , síndro- me de Bartter, síndrome de Gitelman e hipomag- nesemia.Aexposição a diuréticos leva à caliurese sem alcalose, contudo, a excreção urinária de cloreto é alta, apesar da contração de volume, que estimularia a conservação de cloreto de sódio. As síndromes de Bartter e de Gitelman
  • 13. 337 Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico são patologias raras, caracterizadas por normo- tensão, hiperaldosteronismo hiper-reninêmico, resistência a agentes pressores e alcalose hipo- calêmica, que resultam de defeito no cotrans- portador Na+ /K+ /2 Cl-, na alça de Henle e no cotransportador Na+ /Cl- no túbulo distal, respec- tivamente. A hipomagnesemia causa perda re- nal de potássio e de cloreto, que resiste à tera- pêutica até haver reposição das reservas corpo- rais de magnésio. Além disso, a hipomagnese- mia leva à diminuição da secreção de PTH, o que gera hipocalcemia. Por isso, a concomitância de hipocalcemia sugere a pesquisa dos níveis séricos de magnésio. Tratamento O tratamento é voltado para correção do défi- cit de potássio e da doença de base. Se a concentra- ção sérica cair abaixo de 3,0 mEq/l ou se aparecerem os sintomas, a terapêutica é recomendada. Aos paci- entes em uso de glicosídeos cardíacos ou pacientes idosos, sem cardiopatia manifesta, recomenda-se man- ter a normopotassemia. Em pacientes que fazem uso de diuréticos para tratamento de edema (ICC, síndro- me nefrótica e hepatopatias) é aconselhável a suple- mentação oral, ou o uso de diuréticos poupadores de potássio (espironolactoma, amilorida ou triantereno). As preparações orais de cloreto de potássio podem causar irritação gástrica e os comprimidos entéricos podem produzir ulcerações no intestino delgado. A via de administração pode ser tanto oral quan- to parenteral. Quando houver comprometimento da função gastrointestinal, nível sérico de K+ abaixo de 3,0 mEq/l, ou sinais e sintomas, a terapia parenteral deve ser preferida. A preparação mais usada é KCl 19,1%, na qual, cada ml possui 2,5 mEq. A administra- ção endovenosa deve ser preparada em uma solução de soro fisiológico 0,9%, com concentração final de 40 a 60 mEq/l e infundida em 6 h, se for usada veia periférica, pois concentrações maiores causam irrita- ção e esclerose da veia. Soluções mais concentradas devem ser infundidas em veia central, e a velocidade de infusão não deve exceder 20 mEq/h, com dose diá- ria máxima de 200 mEq. Em casos extremos, com hi- popotassemia grave e risco iminente de parada cardía- ca, podem ser infundidos até 100 mEq/h, com monito- rização eletrocardiográfica. É descrita, também, infu- são endovenosa, em 1 a 2 min de quantidades de KCl, suficientes para elevar a potassemia até o nível dese- jado, em casos gravíssimos. Por exemplo, em pacien- te adulto de 70 Kg, com K+ =1,0mEq/l, levando-se em conta que possui volemia em torno de 5000ml e volu- me plasmático de 3000ml, se o desejado é elevar a potassemia para 3,0 mEq/l, infunde-se 6,0 mEq de KCl em 1 a 2 min, com monitorização eletrocardiográfica. VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Fluid and electrolyte disorders. Medicina, Ribeirão Preto 36: 325-337, apr./dec. 2003. ABSTRACT - Sodium and potassium are the main extracellular and intracellular space electrolytes respectively. The disorders related to these electrolytes are frequent and may be caused by several clinical conditions. The physiopathology and severity of the changes determine the treatment to be instituted. UNITERMS - Sodium. Potassium. Hyponatremia. Hypernatremia. Hypokalemia. Hyperkalemia. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1 - ADROGUÉ HJ & MADIAS NE. Hypernatremia. New Engl J Med 342: 1493-1499, 2000. 2 - ADROGUÉ HJ & MADIAS NE. Hyponatremia. New Engl J Med 342: 1581-1589, 2000. 3 - MAEASAKA JK. An expanded view of SIAHD, hyponatremia and hypouricemia. Clin Nephrol 46:79-83, 1996. 4 - MAEASAKA JK; GUPTA S & FISHBANE S. Cerebral salt- wasting syndrome: does it exist? Nephron 82: 100-109, 1999. 5 - HARRIGAN MR. Cerebral salt wasting syndrome. Critical care clinics 17:125-138, 2001. 6 - NARINS RG; HEIFTS M & TANNEU RL. Paciente com hipocale- mia e hipercalemia. In: SCHRIER RW. Manual de Nefrologia, diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Medsi, Rio de Janeiro, p. 51-75, 1993. 7 - BREZIS M; ROSEN S & EPSTEIN FH. Acute renal failure. In: BRENNER BM & RECTOR Jr FC. The kidney. 4ª ed. Philadel- phia, W.B. Saunders, chap.24, p. 993-1061, 1991. 8 - HALPERIN ML & KAMEL KS. Potassium. Lancet 352: 135-140, 1998.