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ANÁLISE PRÉ-ICONOGRÁFICA
Nessa obra de Ticiano, datada de 1958 e feita de óleo sobre tela,
observa-se o uso de cores fortes e contrastantes, além da nudez aparente e o
conteúdo pagão presente na obra. A bebida tem destaque especial por
aparecer inúmeras vezes e parece ser vinho, sugestionado também pela
presença de uma parreira.
As pessoas representadas parecem festejar, uma vez que algumas
dançam, outras conversam, bebem e se movimentam pela cena. A
sensualidade também é evidente, principalmente pela figura feminina
encontrada no canto inferior direito da tela. Também se nota uma espécie de
partitura próxima a dama de vestido vermelho e de um tipo de instrumento
musical parecido com uma flauta, que sugere a presença de música no local. A
imagem de uma criança, um menino com a cabeça adornada de flores, se
destaca entre os adultos.
Há elementos mais discretos na imagem, como um ancião adormecido
na lateral direita e um homem manuseando um vaso e acompanhado por um
cachorro, encontrado no meio da tela em plano distante. Longe está também
um navio que passa no mar representado na cena. Também pode-se ver uma
ave, que parece ser um pavão fêmea, pousada em cima de uma árvore.
ANÁLISE ICONOGRÁFICA
A suposição levantada é que a obra refere-se a alguma festividade
promovida por Dionísio, deus da mitologia grega, padrinho das festas e do
vinho. Tal teoria fundamenta-se na presença da parreira, uma vez que a uva é
o símbolo do deus e, além disso, o menino poderia representá-lo porque este já
foi retratado como um menino em outras obras. E, obviamente, a festa parece
ser regada por muito vinho, confirmando ainda mais que se trata de um feito de
Dionísio - ou Baco na versão romana.
Sobre o possível pavão pousado na árvore, o animal faz parte da
simbologia da deusa Hera, deusa do matrimônio e da fidelidade, por isso
deduz-se que ele representa o julgamento da deusa diante da cena de
libertinagem que acontece embaixo da ave. A própria altura e distância dela da
cena passa tal impressão de superioridade.
Também induziu-se que a figura deitada na parte da frente da tela, a
moça nua, poderia ser Afrodite, deusa do amor e da sensualidade, exatamente
por expressar isso em sua pose chamativa. Outra teoria é que uma das moças
fosse Ariadne, uma vez que, pela mitologia, os dois personagens teriam sido
um par romântico, além dos dois terem sido representados em muitas outras
obras.
ANÁLISE ICONOLOGICA
De acordo com as pesquisas, a pintura possui um tema mitológico,
corretamente suposto na análise iconográfica, e bacanal, que representa a
festa de Baco (Dionísio), está prestes a chegar com sua esposa Ariadne em
uma embarcação que pode ser vista em segundo plano no quadro. A
suposição sobre o casal é confirmada, porém errou-se com relação a quem
eles realmente eram. Na obra pode-se observar uma festa do vinho que se
passa na ilha de Andros, por isso o nome do quadro. A inspiração literária da
pintura são as obras de Filostrato e Catulo que são poemas narrativos gregos.
O tema e a composição desta obra remete ao Festival dos Deuses, de
Giovanni Bellini, pintor quatrocentista italiano. Ticiano dinamiza a cena com
movimentos vivos e a linha ascendente diagonal, que vem da parte inferior à
esquerda, vai subindo até alcançar a figura de um ancião que dorme de
embriaguez à direita superior.
Todo o quadro mostra a alegria sensual que o vinho causa, incluindo a
nudez, como na parte inferior direita, aparece Vênus, exemplo da cuidadosa
composição por parte do autor. Neste caso, a hipótese também foi correta.
A mulher deitada que ocupa o primeiro plano do centro da tela dizem ser
a amante de Ticiano, por quem o pintor estava se relacionando na época que
dizem ser filha de Palma Il Vecchio, outro pintor da época.
Na direita, um homem velho caiu exausto e nu, em uma posição
desconfortável que é um reflexo da moralização que se refere às
consequências dos excessos, vinculada diretamente ao tema bíblico da
“embriaguez de Noé”. Seu afastamento em relação aos jovens revela como
essas atividades libidinosas devem dar lugar aos jovens, já abordada por
Ticiano nas “três idades do homem”.
Na cena há um menino segurando a coroa de Heras, especialmente
sagrado a Dionísio, enquanto há outra planta sagrada, a videira, é visível na
parte superior, subindo entre os galhos das árvores, outro fato corretamente
observado na analise anterior.
A presença do querubim na obra ao longo de uma diagonal recria o tema
das três idades do amor, junto com os dançarinos. A profunda ligação entre a
música e os prazeres dionisíacos é evidenciado pelas partituras no chão, no
centro da pintura.

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  • 1. ANÁLISE PRÉ-ICONOGRÁFICA Nessa obra de Ticiano, datada de 1958 e feita de óleo sobre tela, observa-se o uso de cores fortes e contrastantes, além da nudez aparente e o conteúdo pagão presente na obra. A bebida tem destaque especial por aparecer inúmeras vezes e parece ser vinho, sugestionado também pela presença de uma parreira. As pessoas representadas parecem festejar, uma vez que algumas dançam, outras conversam, bebem e se movimentam pela cena. A sensualidade também é evidente, principalmente pela figura feminina encontrada no canto inferior direito da tela. Também se nota uma espécie de partitura próxima a dama de vestido vermelho e de um tipo de instrumento musical parecido com uma flauta, que sugere a presença de música no local. A imagem de uma criança, um menino com a cabeça adornada de flores, se destaca entre os adultos. Há elementos mais discretos na imagem, como um ancião adormecido na lateral direita e um homem manuseando um vaso e acompanhado por um cachorro, encontrado no meio da tela em plano distante. Longe está também um navio que passa no mar representado na cena. Também pode-se ver uma ave, que parece ser um pavão fêmea, pousada em cima de uma árvore. ANÁLISE ICONOGRÁFICA A suposição levantada é que a obra refere-se a alguma festividade promovida por Dionísio, deus da mitologia grega, padrinho das festas e do vinho. Tal teoria fundamenta-se na presença da parreira, uma vez que a uva é o símbolo do deus e, além disso, o menino poderia representá-lo porque este já foi retratado como um menino em outras obras. E, obviamente, a festa parece ser regada por muito vinho, confirmando ainda mais que se trata de um feito de Dionísio - ou Baco na versão romana. Sobre o possível pavão pousado na árvore, o animal faz parte da simbologia da deusa Hera, deusa do matrimônio e da fidelidade, por isso deduz-se que ele representa o julgamento da deusa diante da cena de libertinagem que acontece embaixo da ave. A própria altura e distância dela da cena passa tal impressão de superioridade. Também induziu-se que a figura deitada na parte da frente da tela, a moça nua, poderia ser Afrodite, deusa do amor e da sensualidade, exatamente por expressar isso em sua pose chamativa. Outra teoria é que uma das moças fosse Ariadne, uma vez que, pela mitologia, os dois personagens teriam sido um par romântico, além dos dois terem sido representados em muitas outras obras.
  • 2. ANÁLISE ICONOLOGICA De acordo com as pesquisas, a pintura possui um tema mitológico, corretamente suposto na análise iconográfica, e bacanal, que representa a festa de Baco (Dionísio), está prestes a chegar com sua esposa Ariadne em uma embarcação que pode ser vista em segundo plano no quadro. A suposição sobre o casal é confirmada, porém errou-se com relação a quem eles realmente eram. Na obra pode-se observar uma festa do vinho que se passa na ilha de Andros, por isso o nome do quadro. A inspiração literária da pintura são as obras de Filostrato e Catulo que são poemas narrativos gregos. O tema e a composição desta obra remete ao Festival dos Deuses, de Giovanni Bellini, pintor quatrocentista italiano. Ticiano dinamiza a cena com movimentos vivos e a linha ascendente diagonal, que vem da parte inferior à esquerda, vai subindo até alcançar a figura de um ancião que dorme de embriaguez à direita superior. Todo o quadro mostra a alegria sensual que o vinho causa, incluindo a nudez, como na parte inferior direita, aparece Vênus, exemplo da cuidadosa composição por parte do autor. Neste caso, a hipótese também foi correta. A mulher deitada que ocupa o primeiro plano do centro da tela dizem ser a amante de Ticiano, por quem o pintor estava se relacionando na época que dizem ser filha de Palma Il Vecchio, outro pintor da época. Na direita, um homem velho caiu exausto e nu, em uma posição desconfortável que é um reflexo da moralização que se refere às consequências dos excessos, vinculada diretamente ao tema bíblico da “embriaguez de Noé”. Seu afastamento em relação aos jovens revela como essas atividades libidinosas devem dar lugar aos jovens, já abordada por Ticiano nas “três idades do homem”. Na cena há um menino segurando a coroa de Heras, especialmente sagrado a Dionísio, enquanto há outra planta sagrada, a videira, é visível na parte superior, subindo entre os galhos das árvores, outro fato corretamente observado na analise anterior. A presença do querubim na obra ao longo de uma diagonal recria o tema das três idades do amor, junto com os dançarinos. A profunda ligação entre a música e os prazeres dionisíacos é evidenciado pelas partituras no chão, no centro da pintura.