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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

                     CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

    DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO




                   LEANDRO RODRIGUES SANTOS




                  JORNALISMO EM 140 CARACTERES:
O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo
                           jornalístico no ciberespaço




                                 São Luís
                                  2011
LEANDRO RODRIGUES SANTOS




                  JORNALISMO EM 140 CARACTERES:
O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo
                           jornalístico no ciberespaço




                                      Monografia apresentada ao Curso de Comunicação
                                      Social, habilitação Jornalismo, da Universidade
                                      Federal do Maranhão para a obtenção do grau de
                                      Bacharel em Jornalismo.



                                      Orientadora: Prof. Ms Larissa Leda Fonseca Rocha




                                 São Luís
                                   2011
Santos, Leandro Rodrigues

      Jornalismo em 140 caracteres: O Twitter do Portal Imirante.com como
uma ferramenta de produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço
/Leandro Rodrigues Santos. – São Luís, 2011.

   88f.

   Orientador: Prof. Ms. Larissa Leda F. Rocha.

   Monografia (Graduação) _ Universidade Federal do Maranhão, Curso de
Comunicação Social, 2011.

   1. Twitter. 2. Jornalismo. 3. Ciberespaço. I.Título.

                                             CDU 070:004.738.5
LEANDRO RODRIGUES SANTOS




                    JORNALISMO EM 140 CARACTERES:
  O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo
                             jornalístico no ciberespaço




                                          Monografia apresentada ao Curso de Comunicação
                                          Social, habilitação Jornalismo, da Universidade
                                          Federal do Maranhão, como requisito para a
                                          obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.



                                          Orientadora: Prof. Msc Larissa Leda Fonseca Rocha




Aprovada em ____/____/_____




                           BANCA EXAMINADORA



             _____________________________________________
                 Prof. Msc Larissa Leda Fonseca Rocha (Orientadora)
                    Departamento de Comunicação Social - UFMA


                _________________________________________



                _________________________________________
À Deus, fonte de toda a vida e inteligência na Terra.

À minha mãe, que sempre esteve ao meu lado desde o
                   primeiro momento da minha vida.
AGRADECIMENTOS

       Depois de um longo caminho percorrido, depois de inúmeros trabalhos
realizados e incontáveis noites de sono perdidas, passados 4 anos, chega-se ao final do
curso e com a certeza de que todo isso valeu muito a pena. E chegando ao final dessa
trajetória, o prêmio maior que um aluno pode conseguir é ter ser esforço, perseverança e
fé refletidos em uma monografia feita com tanta dedicação e esmero.

       No entanto, era impossível eu chegar até onde cheguei sem contar com ajudas
diretas e indiretas. Como já diria o bom e velho ditado: uma andorinha só não faz verão.
Por isso, muito eu tenho a agradecer à aqueles que contribuíram de alguma forma com
este trabalho.

       Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, fonte de toda forma inteligente na
Terra e meu grande sustento em todos os momentos da vida. Sem Ele presente na minha
vida, eu não seria absolutamente nada.

       À minha amada e guerreira mãe Rosenite Rodrigues, que sempre soube mostra-
me os caminhos certos a seguir na minha vida, me proporcionando educação de
qualidade apoio nos momentos difíceis e por todos os sacrifícios para que eu pudesse
concluir esta etapa da minha vida.

       À minha prima Luciana Domingues, que sempre este presente ao meu lado ao
longo desses 22 anos de minha vida me apoiando e incentivando e por quem eu tenho
tanto carinho, respeito e admiração.

       À minha professora e orientadora Larissa Leda, pela paciência que teve comigo
e por ter me ajudado a aprofundar cada vez mais este trabalho. Sem ela, com toda a
certeza, eu não teria conseguido realizar essa monografia.

       À jornalista Roberta Gomes que me passou todas as informações sobre o
Twitter do Portal Imirante.com. Agradeço muito a sua colaboração. Sua ajuda foi de
extrema importância para a conclusão deste trabalho.

       Aos professores Francisco Gonçalves, Geder Luis Parzianello, Esther
Marques, Paulo Pellegrini, Eveline Cunha, Soares Júnior e Jamil Marques pelas
maravilhosas aulas que serviram como base para este estudo.
À Poliana Ribeiro, a quem eu devo minha eterna gratidão por ter me ajudado
com a revisão deste trabalho e por ter me preparado para o mercado de trabalho, me
ensinando lições valiosas que eu vou levar para o resto da minha vida.

       Às locutoras da Rádio Universidade Fm Gisa Franco, Maira Nogueira e Val
Monteiro por terem me ajudando em minha trajetória na 106,9, me dando importantes
aulas sobre locução.

       Aos meus grandes amigos e companheiros de Radio Universidade: Amy Loren,
Andrea Barros, Anna Paula, Anna Tygrezza, Cristiany Pires, Emilly Castelo
Branco, Frank Dyone, Henrique Gomes, Liliane Cutrim, Marcos Belfort, Pollyana
Escalante, Rayssa Oliveira e Verislene Alves.

       Eu não chegaria até aqui se eu não contasse com as amizades de Elizabeth
Bezerra, Pedro Aragão e, principalmente, Wyllyane Rayana, que foi quem me ajudou
também na normatização e revisão desse trabalho. A amizade de vocês é muito
importante para mim.

       E é claro que eu não poderia esquecer os meus grandes e eternos amigos do 3º
anos do Ensino Médio que me proporcionaram infinitas horas de alegria e que até hoje
ainda me proporcionam essas felicidades: Charles Romualdo, Isis Barros, Thalles
França, Carina Camara, Ludymilla Soeiro, Samara Costa e Grazyelle Carneiro.
Adoro Vocês.

       A todos vocês, meu MUITO OBRIGADO.
“A tecnologia que inunda o mundo de hoje, e a ciência
que a serviu, não o invadem apenas na parte exterior
do homem, mas ainda os seus domínios interiores.
Assim o que daí foi expulso não deixou apenas o vazio
do que o preenchia, mas substituiu-o pelo que
marcasse a sua presença. O mais assinalável dessa
presença é, por exemplo, um computador. Mas será a
obra transaccionável por um parafuso?”

                            Vergílio António Ferreira
RESUMO

       Este trabalho objetiva analisar de forma pormenorizada o Twitter como um
suporte para a produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço, tomando como base
principalmente o Twitter do Portal Imirante.com (@imirante). Tendo em vista as
características e especificidades dessa ferramenta, além das particularidades do
webjornalismo, o trabalho faz uma abordagem a respeito das rotinas de produção
jornalística no Twitter, analisando principalmente as notícias postadas na ferramenta, a
frequência que ocorrem essas postagens e de que forma elas ocorrem, de acordo com os
tweets publicizados. Para isso, foi necessário o trabalho com alguns conceitos como o
de Mídias Sociais, Interação Mediada por Computador e Ciberespaço. Nossos objetivos
alcançam a análise da forma como dá-se a influencia do Twitter na produção jornalística
da Internet.

       Palavras-chave: Twitter, Jornalismo, Ciberespaço
ABSTRACT

       This study aims to analyze in detail the Twitter as a support for the production of
the journalistic content in the cyberspace, using as ground the Twitter of Portal
Imirante.com (@imirante). In view of the characteristic and specificities of this
appliance, beyond the particularities of web journalism, this study does an approach
about the routines of journalistic production on Twitter, considering especially the news
that are posted in the appliance, how these posts occur and how often they occur,
according to the tweets that are publicized. To this end, some concepts were worked out
during this study as Social Media, Computer-Mediated Interaction and Cyberspace. Our
goals reach the analysis of how the Twitter influences the journalistic production on the
Internet.

       Key-words: Twitter, Journalism, Cyberspace
LISTADE FIGURAS

FIGURA 1: Modelo tradicional da Pirâmide Invertida ....................................                 47
FIGURA 2: Modelo da Pirâmide Deitada ...........................................................        48
FIGURA 3: Primeira versão do Twitter no ano de 2006 ....................................                58
FIGURA 4: Postagens do Twitter marcadas como favoritas ..............................                   61
FIGURA 5: Primeira mudança do Twitter ..........................................................        63
FIGURA 6: Segunda página inicial do Twitter ...................................................         64
FIGURA 7: Página atual do Twitter ...................................................................   64
FIGURA              8:       Página           atual      do        Twitter          do        Portal    65
Imirante.com ..............................
FIGURA 9: Gráfico que mostra crescimento do Twitter ....................................                66
FIGURA 10: Página do Twitter mostrando manchete com link .........................                      72

FIGURA 11: Página do Portal Imirante.com referente à postagem do Twitter ..                             73
FIGURA 12: Postagem do Twitter direcionando para o Portal Na Mira ............                          74

FIGURA 13: Página do “Na Mira” referente à postagem do Twitter .................                        74

FIGURA 14: Exemplo de postagem mais informal ............................................               75

FIGURA 15: Atualização do Twitter com várias postagens de uma só vez ........                           77
FIGURA 16: Participação na produção de conteúdo pelo Twitter .....................                      78




                                                  SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................                           14
2 NOVAS TECNOLOGIAS E MÍDIAS SOCIAIS .....................................                                             18
2.1 Novas tecnologias e alteração na sociabilidade ..........................................                          18
2.2 As Comunidades Virtuais ou Redes Sociais ...............................................                           24
2.3 Alterações nos processos de produção e transmissão das informações ...                                             26
2.4 As Mídias Sociais ..........................................................................................       30
2.4.1 Participação do público na produção de conteúdo no ciberespaço ..........                                        30
2.4.2 Formação das Mídias Sociais ....................................................................                 34
3 JORNALISMO NA INTERNET ..................................................................                            37
3.1 As fases do jornalismo na internet ..............................................................                  39
3.1.1 Um pouco da história da internet ..............................................................                  39
3.1.2 Fase Transpositiva ......................................................................................        43
3.1.3 Fase Metafórica ..........................................................................................       44
3.1.3 Fase Multimidiática ...................................................................................          44
3.2 Características do jornalismo na internet .................................................                        45
3.2.1 Hipertextualidade .......................................................................................        46
3.2.2 Interatividade .............................................................................................     48
3.2.3 Multimidialidade ........................................................................................        50
3.2.4 Personalização ...........................................................................................       51
3.2.5 Memória ......................................................................................................   52
3.2.6 Atualização Contínua .................................................................................           53
4 O TWITTER ....................................................................................................       55
4.1 O serviço de microblogging .........................................................................               55
4.2 História do Twitter .......................................................................................        57
4.3 Funcionamento do Twitter ..........................................................................                59
4.4 Números do Twitter .....................................................................................           65
5 O TWITTER COMO UMA FERRAMENTA DE PRODUÇÃO
JORNALÍSTICA NO CIBERESPAÇO                                                                                            67
5.1 Estudo de caso: O Twitter do Portal Imirante.com (@imirante) ............                                          71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................                      80
REFERÊNCIAS .................................................................................................        83
APÊNDICE .........................................................................................................   87




1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

          Com o crescente avanço e a popularização da Internet é possível observar, a
cada dia, o surgimento de Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTCI),
tecnologias essas que dinamizam o processo de troca de conteúdos dentro do
ciberespaço.
É interessante observar que não são apenas as produções realizadas dentro do
ciberespaço que ganham uma nova configuração graças ao surgimento dessas novas
tecnologias. A sociedade também é fortemente influenciada por essas novas
“tendências” que modificam a relação que as pessoas mantêm com o conteúdo que é
disponibilizado ciberespaço.

       Recuero (2009a) também discute sobre as influencias que a Internet e as novas
tecnologias digitais causam na vida das pessoas. Segundo a autora, tais tecnologias
digitais que surgem diariamente são responsáveis por provocar mudanças consideráveis
na sociedade em geral, mudanças essas que se desenvolvem de forma bastante rápida.

       Por conta dessa velocidade com que ocorre essas mudanças, a natureza, os
motivos e os possíveis desdobramentos do impacto das novas tecnologias na sociedade
são processos extremamente complexos. Diante desse quadro, Recuero considera que é
impossível resistir à tentação de um determinismo tecnológico no qual a tecnologia é
que define o modo de organização de uma sociedade, onde as transformações sociais
estão diretamente ligadas às transformações tecnológicas da qual a sociedade se
apropria para se desenvolver e se manter.

       É nesse contexto de mudanças que surge então a chamada Sociedade da
Informação, onde o contínuo desenvolvimento das Novas Tecnologias de Comunicação
e Informação refletiu principalmente sob os modos de ser, agir, se relacionar e existir
dos indivíduos dessa sociedade, propondo dessa forma novos modelos de comunicação
e novos parâmetros de sociabilidade.

       Nessa perspectiva, pode-se observar que também há uma alteração nos processos
de produção e difusão das informações no ciberespaço. As informações agora passaram
a ser produzidas em uma velocidade nunca vista anteriormente e difundidas em uma
velocidade maior ainda.

       As consequências dessa mudança também podem ser facilmente percebidas na
produção jornalística. Para Crucianelli (2010) o impacto dessas novas ferramentas nas
produções dos conteúdos jornalísticos no ciberespaço tem sido muito evidente, pois elas
têm propiciado a abertura de novos leques de atuação para o profissional dessa área.

       Segundo a autora, as novas tecnologias, além de estar causando o surgimento de
novos espaços para a prática jornalística, têm influenciado diretamente o modo de
produção da notícia no ciberespaço. A grande quantidade de softwares, aplicativos e
recursos que a cada dia são disponibilizados leva também a uma mudança de
comportamento do próprio jornalista que trabalha com essas novas ferramentas, pois é
de extrema importância que este profissional conheça todas as funcionalidades que as
Novas Tecnologias de Comunicação e Informação para que este as use de forma
eficiente no momento da produção e difusão do conteúdo jornalístico no ciberespaço.

       O Twitter é um exemplo de uma dessas novas tecnologias que rapidamente
tornou-se bastante popular entre os mais diversos segmentos da sociedade, como
veremos no decorrer deste trabalho. Criado por Evan Willians, Biz Stone e Jack Dorsey,
o serviço é prático e ágil e permitiu, ao longo dos quatro anos de existência, diferentes
apropriações. Quando o Twitter foi criado, por exemplo, utilizava como slogan a
pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?) que estava diretamente
relacionado com conteúdo que os usuários postavam. Agora com o slogan “What´s
happening? (O que está acontecendo?) o Twitter passou a ter um caráter mais
informacional, sendo utilizado pelas empresas jornalísticas para este fim.

       A partir de então, o Twitter vem se consolidando como uma grande ferramenta
para o uso jornalístico, sendo cada vez mais usado pelos profissionais da área que
desejam transmitir o conteúdo jornalístico dentro do ciberespaço de forma mais
dinâmica em virtude da própria funcionalidade da ferramenta e dos recursos que ela
disponibiliza.

       A rotina de produção do conteúdo jornalístico no Twitter deve levar em
consideração não apenas as características do webjornalismo, mas também as
especificidades da ferramenta. O principal objetivo deste trabalho é justamente analisar
de que forma dá-se a produção jornalística nesse serviço. Para tal fim, é de extrema
importância que antes sejam feitas algumas considerações iniciais que foram divididas
nos capítulos desse trabalho.

       No capítulo 1, faz-se uma abordagem a respeito do surgimento das Novas
Tecnologias de Comunicação e Informação, o impacto destes dispositivos na sociedade
e o reflexo desse impacto nos modos de pensar, agir e de se relacionar dos indivíduos. A
chamada Sociedade em Rede e o modo de organização desta sociedade, tomando como
base as concepções de Castells (2003), também serão discutidos durante o referido
capitulo.
Baseados nos conceitos de Alex Primo (2007) à respeito da interação mediada
por computador, nessa primeira parte do trabalho busca-se também analisar de que
forma dá-se essa interação e em quais aspectos ela se distingue das formas de interação
convencionais. Como uma das consequências das novas formas de interação causadas
pelo impacto das novas tecnologias observa-se o surgimento das chamadas
Comunidades Virtuais que, baseados nas ideias de Raquel Recuero (2009), também
serão estudados nessa primeira parte. Tudo isso, dentro das ideias sobre o ciberespaço,
defendidas por Margaret Wertheim (2001).

       Ainda neste capítulo, pretende-se fazer uma incursão a respeito das Mídias
Sociais e das Redes Sociais debruçando-se principalmente sobre as principais distinções
e semelhanças entre elas e também de que forma o Twitter pode ser enquadrado em uma
dessas duas categorias.

       Já o capítulo 2 debruça-se sobre as características e especificidades do
Jornalismo na Internet. Tendo como suporte o pensamento de autores como Marcos
Palácios (2003), Elias Machado (2006), Luciana Mielniczuk (2001) e J.B.Pinho (2003),
primeiramente será feita uma análise sobre a evolução do webjornalismo ao longo do
tempo, passando pelas fases transpositiva, metafórica até chega na fase multimidiática
que é aquela em que o webjornalismo se encontra atualmente, não deixando de
mencionar também os recursos que caracterizavam cada fase descrita acima.

       Ainda nesse capítulo será feita uma abordagem detalhada sobre as principais
características   do      webjornalismo   nessa   terceira   fase   (hipertextualidade,
multimidialidade, interatividade, personalização, atualização e memória) e como tais
características influenciam na rotina de produção do jornalismo no ambiente virtual.
Pretende-se também debruçar-se sobre o modo como as características do
webjornalismo manifestam-se no Twitter.

       O capítulo 3 dedica-se a esmiuçar de forma profunda o funcionamento do
Twitter. Primeiramente faz-se um resgate histórico sobre a ferramenta, descrevendo o
cenário no qual nasceu. Discute-se nesse capítulo também as funcionalidades da
ferramenta, debruçando-se sobre sua evolução ao longo do tempo e os novos recursos
que foram sendo disponibilizado acompanhando cada mudança.
Já o 4 e último capítulo do trabalho analisa esmiuçadamente de que forma dá-se
a produção jornalística voltada para o Twitter. Tomando como objeto de estudo o
Twitter do Portal Imirante.com (@imirante) nesse capítulo será abordado as rotinas de
produção jornalísticas nesse suporte, analisando também de que maneira o processo
comunicacional e o conteúdo jornalístico têm sofrido mudanças por contas dos recursos
da ferramenta.

       Utilizando principalmente as idéias de pesquisadoras como Gabriela Zago
(2008) e Magaly Prado (2010) pretende-se discorrer sobre a forma como a notícia é
produzida no Twitter do Portal Imirante.com. Para isso, foram analisados vários tweets
publicizados pela ferramenta ao longo dos meses de Maio e Junho com o objetivo de
entender principalmente como acontece a produção desses tweets, quem realiza a
postagem deles e com que frequência ocorrem essas postagens.




2 NOVAS TECNOLOGIAS E MÍDIAS SOCIAIS

2.1 Novas tecnologias e alteração na sociabilidade

    Com o crescente avanço da Internet, a cada dia é possível observar o surgimento
das chamadas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação que contribuem
diretamente para a dinamização dos processos de produção e de transmissão de
conteúdos dentro do ciberespaço1. O advento da comunicação mediada pelo computador
tem permitido que haja uma potencialização da capacidade de interação entre os
indivíduos, ocasionando com isso o surgimento de novos padrões de sociabilidade. A
necessidade da interação e da sociabilidade é uma característica inerente a todo e
qualquer ser humano. Dentro do ciberespaço, essa característica potencializa-se ainda
mais.

     As condições para o estabelecimento do cenário como vemos hoje começa a se
desenvolver a partir do século XV, com a invenção da imprensa por Gutemberg, e mais
adiante nos séculos XIX e XX, com a consolidação dos meios de comunicação
eletrônicos como o rádio e a televisão. Com o desenvolvimento técnico de cada suporte,
a informação passou a ser processada e transmitida de maneira mais rápida graças aos
recursos que foram sendo gradativamente incrementados, contribuindo para a
aproximação dos indivíduos de diferentes lugares físicos e o estreitamento dos laços
sociais que se formam.

     O impacto dos novos dispositivos comunicacionais na sociedade refletiu
principalmente nos modos de ser, agir e de se relacionar dos indivíduos, propondo,
consequentemente, novas formas de interação social que nesse caso passam a ser
chamadas de interação mediada. Tal impacto traduziu-se principalmente no fato de que
os indivíduos começaram a utilizar esses novos dispositivos para produzir, transmitir e
adquirir as informações, ao invés das fontes tradicionais que eram os indivíduos com
quem se relacionavam no dia-a-dia. Nessa perspectiva, a noção de interatividade assume
novos contornos, à luz desta interação mediada pelas novas ferramentas de comunicação
e informação. (THOMPSON apud MARCELO, 2001. p.41).

     O desenvolvimento dos dispositivos comunicacionais propõe novas formas e
modelos de interação. Nessa perspectiva, Primo (2007) chama atenção para o fato de
que nesse processo, a interação passa então a dissociar-se do ambiente físico para
estender-se no espaço virtual, proporcionando, dessa forma, uma ação à distância.



1
  O termo “Ciberespaço foi citado pela primeira vez em 1984 pelo escritor norte americano Wiliam
Gibson no livro de ficção científica Neuromante e depois aplicado em larga escala pelos criadores e
usuários das redes digitais. Para Pierre Lévy (1999, p. 92) o ciberespaço pode ser definido como sendo
um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial das memórias dos computadores. Em outras
palavras, pode-se dizer que o ciberespaço constitui-se como uma virtualização da realidade, onde as
interações sociais são ainda mais intensificadas.
Como consequência, surge então o que o autor conceitua como Interação Mediada,
em que as formas de comunicação entre os indivíduos dão-se por intermédio de algum
suporte técnico. Segundo Primo:

                       Nas interações mediadas, como em cartas, ou em conversas telefônicas, o
                       diálogo ocorre, mas remotamente no espaço e/ou tempo. Por serem mediadas
                       por um meio técnico, decorre um estreitamento das deixas simbólicas
                       possíveis. Por exemplo, as deixas simbólicas associadas à presença física não
                       estão presentes via carta ou telefone, ficando acentuadas as diferenças
                       particulares da escrita e da voz. (PRIMO, 2007, p. 20).

       Nessa perspectiva, o autor estabelece duas formas de interação: a interação
reativa e a interação mútua. A interação reativa está diretamente relacionada com a
previsibilidade e com a automatização das trocas, onde cada clique na tela do
computador, por exemplo, corresponde a uma função previamente estabelecida. Neste
caso, a interação reativa tem seu funcionamento baseado na relação de um certo
estímulo e de uma determinada resposta. Supõe-se que nessa forma de interação, um
mesmo estímulo acarretará a mesma resposta cada vez que se repetir a interação.

       Já na interação mútua, o desenvolvimento dos processos interativos é negociado
entre os próprios usuários, onde é estabelecido um diálogo dentro do ambiente virtual.
Essa forma de interação é caracterizada por relações interdependentes e processos de
negociação, em que cada usuário participa diretamente da construção do diálogo,
afetando-se mutuamente.

       Ainda para o autor, a interação mútua constitui-se através de ações
interdependentes, ou seja, cada usuário influencia o comportamento do outro, e também
tem seu comportamento influenciado. Isso também ocorre entre os interagentes e seu
ambiente. Dessa maneira, a cada evento comunicativo, a relação se transforma.

       Além da interação mediada, Primo cita também a interação do tipo quase
mediada também como um tipo de processo interativo. Como esse tipo de interação
apresenta um caráter monológico, ou seja, o fluxo de comunicação dá-se em sentido
único, dos produtores para um número indefinido de receptores potenciais, não existe
uma reciprocidade da mesma forma que é possível ser observada nas interações reativa
e mútua. No entanto, o autor considera que ainda sim a interação quase mediada deve
ser considerada um processo interativo, pois há uma troca de informações.
Apesar de serem complexas as relações que são estabelecidas entre os usuários
por meio desses tipos de interações, Primo considera que um estudo mais aprofundado a
respeito dos reais impactos da interação mediada com computador sob a sociabilidade
dos indivíduos deve levar em consideração uma série de outros aspectos.

                       Ao estudar-se interação mediada por computador em contextos que vão além
                       da mera transmissão de informações (como na educação à distância), tais
                       discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a interação a aspectos
                       meramente tecnológicos, em qualquer situação interativa, é desprezar a
                       complexidade do processo de interação mediada. É preciso que se estude não
                       apenas a interação mediada por computador, mas a interação através da
                       máquina. (PRIMO, 2007, p. 30-31)

       O fato é que com o crescente avanço dessas tecnologias, o que se pode observar
é que cada dia novos paradigmas são criados, outros são modificados e outros deixam
de existir completamente. A constante evolução dos sistemas digitais, por exemplo, vem
causando profundas mudanças no modo como os indivíduos se relacionam. Nessa
perspectiva, Ethevaldo Siqueira (apud PRADO, 2010. p.35) traçou um panorama das
principais alterações pelas quais a sociedade tem passado nos últimos tempos,
enumerando 13 mudanças de paradigmas desde o final do século XX e neste início de
século XXI.

        Tais mudanças concentram-se no âmbito: do analógico ao digital; do espaço
físico ao virtual, na medida em que os processos de interação social deixaram ser face a
face e passaram a se concentrar também no ciberespaço; do átomo a bits; dos serviços
físicos aos móveis, na medida em que o Twitter, por exemplo, deixou de ser acessado
apenas nos computadores e notebooks convencionais e passou a fazer parte também de
plataformas móveis como celulares, iPhones, iPads e BlackBerries; dos procedimentos
coletivos aos pessoais, na medida em que há uma certa “individualização” dentro da
rede; da banda estreita à banda larga; dos equipamentos dedicados à multifuncionais; da
baixa a alta velocidade de transmissão; da comunidade por fio à sem fio; do monopólio
estatal ao privado; do protocolo fechado ao aberto; dos processos unidirecionais aos
interativos; e por fim da comunicação de círculos a comunicação de pacotes.

       Como pode ser observado, as novas tecnologias de comunicação e informação
deram uma nova configuração e dinâmica para os processos de interação social. A
sociedade passou a ser fortemente influenciada por essas tecnologias, ao passo em que
tais tecnologias surgem devido às necessidades da própria sociedade que foram
surgindo com o passar do tempo.
Esta ideia é compartilhada por Pierre Lévy (1999). De acordo com o autor, as
relações que agora se estabelecem nessa nova sociedade são criadas principalmente
entre os atores sociais que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes
formas essas tecnologias emergentes em benefício próprio.

        Por outro lado observa-se que o impacto dessas novas ferramentas na sociedade
também pode conduzir a um efeito completamente contrário ao citado acima,
culminando em um processo de isolamento social dentro da própria rede. Nestes casos o
individuo pode abandonar as interações sociais face a face da vida real para voltar-se
única e exclusivamente para as relações mediadas por computador, caracterizando o que
Castells (2003) chama de individualismo em rede.

        Para Castells, esse individualismo em rede está intimamente relacionado com
um padrão social e não com o acúmulo de pessoas isoladas. Nessa perspectiva, o autor
entende que o desenvolvimento tecnológico pode aumentar as possibilidades do
individualismo em rede e se tornar a forma dominante de sociabilidade.

                          O papel mais importante da Internet na estruturação das relações sociais é sua
                          contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseada no
                          individualismo... Cada vez mais, as pessoas estão organizadas não
                          simplesmente em redes sociais, mas em redes sociais mediadas por
                          computador. Assim, não é a Internet que cria um padrão de individualismo
                          em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material
                          apropriado para a difusão do individualismo em rede como forma dominante
                          de sociabilidade. (CASTELLS, 2003, p.109).

        De um modo ou de outro, novas relações emergiram na sociedade a partir do
contínuo desenvolvimento dessas tecnologias2. O reflexo de tudo isso pode ser
claramente observado nas interações sociais que se estabelecem a partir de agora,
grande parte delas por mediações de aparatos tecnológicos. Nesta nova sociedade, o
conceito de distância dentro do ciberespaço, por exemplo, foi totalmente repensado.

        A reformulação do conceito de distância dá-se principalmente em virtude da
própria natureza do ciberespaço. Para Margareth Wertheim (2001) o ciberespaço cresce
de maneira exponencial, pois a cada dia surge um novo site, que tem a possibilidade de
ligar-se com milhões de outros já existentes formando, dessa maneira uma grande rede


2
 A pesar da importância da discussão, o trabalho não se propõe especificamente a debruçar-se sobre os
impactos das novas tecnologias na formas de interação social. Mais informações sobre esse assunto
podem ser encontradas no livro “A Galáxia da Internet”, de Manuel Castells e também nos artigos
disponíveis nos links: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1533-1.pdf> e
<http://www.bocc.uff.br/pag/marcelo-ana-sofia-Internet-sociabilidade.pdf.>
sem limitações de espaço físico. Vale ressaltar que, dentro do ambiente virtual, as
limitações físicas são inexistentes.

                               A afirmação de que o ciberespaço não é feito de partículas e forças físicas
                               pode ser óbvia, mas é também revolucionária. Por não estar ontologicamente
                               enraizado nesses fenômenos o ciberespaço não está sujeito às leis da física e,
                               portanto, não está preso pelas limitações dessas leis. Em particular, esse novo
                               espaço não está contido em nenhum complexo hiperespacial dos físicos. Seja
                               qual for o número de dimensões que os físicos acrescentem às suas equações,
                               o ciberespaço continuará “fora” de todas elas. Com o ciberespaço,
                               descobrimos um “lugar” além do hiperespaço. (WERTHEIM, 2001, p. 167)

           Essa mesma ideia do crescimento exponencial do ciberespaço também é
discutida por Sataella (apud PRADO p. 182) ao afirmar que esse crescimento dá-se
também graças as comunicações interativas que se estabelecem entre os próprios
usuários da rede (interação dialógica) e também entre os usuários e os computadores
(interação reativa)

           Ironicamente, Wertheim considera ainda o fato de que o ciberespaço, apesar de
ser um subproduto da tecnologia física, desenvolvido a partir dos chips de
computadores e outras tecnologias derivadas desses produtos, “não está tampouco
confinado à concepção puramente fisicalista do real”. (WERTHEIM, 2001, p.167).

           Apesar do ciberespaço não ser dotado de propriedades físicas, isso não
implicaria dizer, segundo a autora, que esse espaço na Internet não seja um lugar real,
uma vez que é dentro do ciberespaço que ocorrem alguns processos de interação social,
que influenciam diretamente o comportamento dos indivíduos fora do ambiente virtual.

                               Nesse sentido, podemos ver o ciberespaço como uma espécie de res cogitans3
                               eletrônica, um novo espaço para o exercício de um daqueles aspectos da
                               humanidade que não encontrava morada na imagem puramente fisicalista do
                               mundo. Em suma, num determinado sentido, o ciberespaço se tornou um
                               novo domínio para a mente. Em particular, tornou-se um novo domínio para
                               a imaginação; e até, como muitos ciberentusiastas afirmam agora, um novo
                               domínio para o “eu”. (WERTHEIM, 2001, p. 170)

           Nessa perspectiva, o ciberespaço possibilita que pessoas possam criar,
coletivamente ou individualmente, um mundo de experiências diferentes daquelas
observadas fora do ambiente virtual. Wertheim considera que nesse mundo, o indivíduo
pode não apenas expressar seus próprios desejos, como também pode compartilhar de
outras experiências de indivíduos interligados na rede.



3
    Para Reneé Descartes, res cogitans significa “coisa pensante”, ou “sujeito pensante”.
O fato é que o ciberespaço está mudando drasticamente as relações sociais que
se estabelecem a partir de agora. As interações feitas através do computador estão
condicionando o surgimento de grupos sociais na Internet com características
comunitárias. Tais grupos seriam capazes de estabelecer novos padrões de sociabilidade
e ainda criar fortes laços sociais, justamente por causa da “proximidade” que o
computador disponibiliza para os usuários.

       Como consequência de todo esse processo, observa-se a ascensão de novos
padrões de interação social, padrões esses que passaram a ser mediados principalmente
pelo computador. Graças às novas ferramentas de comunicação emergentes do
ciberespaço, a sociedade está experimentando mudanças nos seus mais diversos
segmentos. Recuero (2009a) discute sobre o papel transformador que as novas
tecnologias exercem sob a sociedade. Segundo ela:

                         As tecnologias digitais ocupam um papel central nas profundas mudanças
                         experimentais em todos os aspectos da vida social. A natureza, motivos,
                         prováveis e possíveis desdobramentos dessas alterações por sua vez, são
                         extremamente complexos, e a velocidade dos processos tem sido estonteante.
                         Diante de um tal quadro, é impossível resistir à tentação do determinismo
                         tecnológico, que traduz em respostas encantadoramente simples a máxima de
                         que a tecnologia define a sociedade. (RECUEROa, 2009, p.12)




2.2 As Comunidades Virtuais ou Redes Sociais

       Como consequência dos novos padrões, podemos observar o surgimento das
chamadas Comunidades Virtuais ou Redes Sociais. Tais comunidades podem ser
definidas como um grupo de pessoas que possuem algum nível de relação ou interesse
mútuo e estabelecem laços sociais por meio da mediação do computador. Essa definição
acabou ganhando um novo significado dentro do ciberespaço, o que já foi chamado de
relationship sites (sites de relacionamento) e hoje são conhecidos como Redes Sociais.

       Rheingold também faz uma definição do que seriam essas Comunidades
Virtuais. Segundo ele:

                         As Comunidades Virtuais são agregadores sociais que surgem da rede,
                         quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões
                         públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos,
                         para formar redes de relações sociais no ciberespaço. (RHEINGOLD,
                         apud RECUERO, 2009a, p. 137)
Nessa perspectiva, os principais elementos que formam as comunidades virtuais,
segundo o autor, seriam as discussões públicas, as pessoas que se encontram e
reencontram através da Internet, o tempo e o sentimento. “Esses elementos, combinados
através do ciberespaço, poderiam ser formadores de relações sociais, constituindo-se em
comunidades” (RECUERO, 2009a, p. 137).

        A formação das comunidades virtuais está diretamente relacionada também com
a capacidade de interconexão de redes sociais de todos os tipos, que contribuíram dessa
maneira para a reinvenção dos processos interativos da sociedade. (CASTELLS, 2003).

        Ainda para Manuel Castells (2003, p.107), a grande transformação da
sociabilidade nas sociedades complexas ocorreu justamente devido a substituição de
comunidades espaciais, isto é, baseadas em um espaço geográfico, por redes como
formas fundamentais de sociabilidade.

        A própria dinâmica vivida pela sociedade atualmente também favorece a
formação das comunidades virtuais. Com o contínuo avanço das ferramentas de
comunicação, as pessoas estariam buscando novas possibilidades de interação umas
com as outras e formando tais comunidades, uma vez que, por conta da velocidade com
que se processam todas as informações do dia a dia, os indivíduos já não conseguem
mais encontrar espaços para estabeleceram, face a face, qualquer tipo de interação. Por
isso, a necessidade de buscar novas formas de sociabilidade dentro do ciberespaço.
Como exemplos de comunidades virtuais podemos citar o Orkut4, Facebook5 e o
MySpace6, por exemplo.

                            A falta de tempo, o medo e mesmo o declínio dos terceiros lugares7 podem
                            ser conectados ao isolamento das pessoas, ao atomismo e a efemeridade das
                            relações sociais. No entanto o aumento do uso de ferramentas de
                            comunicação mediadas por computador poderia representar, justamente, um
4
 O Orkut foi criado no dia 24 de Janeiro de 2004 pelo engenheiro turco Orkut Büyükkökten. Trata-se de
uma rede social gerenciada pelo Google que tem o objetivo de aglutinar pessoas e com isso estabelecer
uma rede de relacionamentos.
5
 O Facebook é uma rede social criada em 2006 e, assim como o Orkut que tem o objetivo reunir pessoas
para que elas possam manter uma interação no ciberespaço. Hoje o Facebook possui mais de 400 milhões
de usuários ativos no mundo.
6
  Criado em 2003, o MySpace também é uma rede social que possui foco no compartilhamento de
conteúdos como fotos, vídeos e outros arquivos multimídia.
7
 De acordo com a idéia de Oldenburg (apud RECUERO, p.136) existem três lugares que são de grande
importância para o indivíduo: O lar, que consiste no primeiro lugar, onde está a família; o trabalho que
consiste no segundo lugar; e os parques e espaços de lazer, que representam o terceiro lugar, aqueles onde
os indivíduos vão para construir laços sociais.
esforço no sentido contrário, em direção ao social [...] Através do advento da
                          comunicação mediada por computador e sua influência na sociedade e na
                          vida cotidiana, as pessoas estariam buscando novas formas de conectar-se,
                          estabelecer relações e formar comunidades já que, por conta da violência e do
                          ritmo da vida, não conseguem encontrar espaços de interação social.
                          (RECUERO, 2009a, p. 136)

       É interessante destacar que as comunidades virtuais na maioria das vezes
formam-se em torno de assuntos comuns entre os próprios integrantes desta rede,
independendo de fronteiras ou demarcações territoriais físicas, seguindo sempre um
padrão. Segundo Recuero (2009a, p.142), “esses padrões seriam referentes ao modo de
relação entre os atores da rede e auxiliam o cientista a encontrar quem pertence e quem
não pertence a um determinado grupo”.

       Algumas dessas comunidades virtuais tiveram sua origem a partir do encontro
virtual de pessoas com interesses próximos; outras surgiram de comunidades offline, ou
seja, desconectadas que passaram a utilizar a rede para expandir e otimizar suas ações.

       Nas comunidades virtuais pressupõe-se uma relação entre os seus membros
integrantes. Nesses espaços, os indivíduos estabelecem interações uns com os outros,
independentemente do lugar onde essas pessoas se encontram, uma vez que os aparatos
tecnológicos utilizados nessa interação possibilitam que haja essa aproximação entre as
pessoas, anulando completamente a distância que existe entre esses usuários. Vale
destacar também que as trocas de informações entre esses usuários são feitas a uma
velocidade estonteante.

       Uma     das   principais       características     das     comunidades        virtuais    é    a
desterritorialização, ou seja, a inexistência de um espaço físico para o estabelecimento
das relações sócias entre os usuários. Nessa perspectiva, Recuero discute:

                          Assim, o território da comunidade pode estar associado a algum espaço
                          institucionalizado no próprio espaço virtual ou mesmo restrito a um elemento
                          de identificação. Um canal de chat, por exemplo, pode constituir um espaço
                          onde as interações são mantidas. O mesmo pode acontecer com um conjunto
                          de weblogs. A compreensão de um espaço onde as interações podem ser
                          travadas é, assim, fundamental para que os atores saibam onde interagir.
                          (RECUERO, 2009a, p. 144)

       Muitas comunidades virtuais também podem estender sua existência para fora da
rede. Isso garante que os vínculos e os interesses do grupo que se formaram dentro do
ciberespaço sejam propagados para além do ambiente virtual, o que faz com que seja
aprimorado o trabalho desenvolvido e, consequentemente, as conquistas dessas
comunidades.
2.3 Alterações nos processos de produção e transmissão das informações

        O impacto de novas tecnologias em nossa sociedade não é assunto novo. As
mudanças que ela tem provocado nos diversos segmentos da sociedade são as mais
significativas possíveis. Diante dessas transformações, o que se percebe é que está
havendo uma reorganização da sociedade em torno do produto que é fortemente
influenciado pelo contínuo desenvolvimento das novas tecnologias, que é a informação.
Nessa perspectiva, a sociedade passou a produzir, consumir e transmitir a informação
em uma velocidade nunca vista até agora em nenhum outro momento da história.

        Dentro das próprias comunidades virtuais já é possível observar uma nova
dinâmica no processo de produção e transmissão das informações. Para Castells (2003)
tais comunidades possibilitam o surgimento de uma comunicação livre e horizontal, sem
nenhuma forma de censura ou dominação pelos grandes conglomerados midiáticos

        A partir dessas alterações, é possível observar claramente o surgimento da
chamada Sociedade da Informação, como passou a ser denominadas por vários autores.
Esta pode ser mais bem compreendida a partir de um contexto de mudanças profundas,
no qual o contínuo desenvolvimento tecnológico reconfigurou drasticamente o modo de
ser, agir, se relacionar e existir dos indivíduos e, principalmente, propôs novos modelos
de comunicação.

                           Ao longo do tempo, a informação deixou ser um processo local para se
                           apresentar em âmbito global. Reconfigurou o tempo e o espaço, acelerando
                           as práticas e encurtando as distâncias. Tornou possível um novo tipo de
                           sociabilidade, na qual a presença física já não é essencial para que haja uma
                           relação, sendo possível interagir com quem quiser, a hora que quiser e ser
                           participativo dentro da sociedade por meio de um espaço virtual. (MORAES;
                           KOHN. 2007, p. 4)

        Nesta nova sociedade, os paradigmas e conceitos que antes eram utilizados para
definir a comunicação de massa sofreram modificações com o advento dessas novas
tecnologias com o intuito de atender as crescentes demandas desta sociedade cada vez
mais ávida por informações em tempo real8.

        É interessante observar que a introdução das novas tecnologias no cotidiano das
pessoas abriu um mundo novo de oportunidades, principalmente no que diz respeito à
produção e difusão de conteúdo. Dentro dessas oportunidades pode-se destacar a

8
  Informação em tempo real, neste caso, refere-se à velocidade com que as informações são processadas e
transmitidas para o público em geral.
“possibilidade de acessar informações à distância, navegar na informação sem limitação
de espaço ou tempo, combinar informações reconstruindo o conteúdo, acesso imediato a
conteúdos com custos quase inexistentes ao veículo utilizado”. (LIMA, 2000. p.43).

       Outra conseqüência do desenvolvimento dessas novas tecnologias de
comunicação e informação está diretamente relacionada com a alteração das percepções
de tempo e espaço. Hoje com a gama de aparatos tecnológicos que podem ser
facilmente acessados pelo homem, os processos de produção e circulação das
informações passaram a acontecer em uma velocidade nunca vista anteriormente
alterando, dessa forma, os paradigmas que antes eram utilizados para definir as noções
de tempo. Em conseqüência desse fenômeno temos a possibilidade real de conexão
entre os indivíduos de diferentes partes do mundo por meio da informação.

       Dentro do ciberespaço, as noções de tempo e espaço ganham uma nova
configuração, uma vez que várias coisas acontecem no mesmo período e em um curto
espaço de tempo. No ambiente virtual, devido à velocidade com que as informações são
processadas e transmitidas, existe uma conexão maior entre os produtores da
informação e o público para quem essa informação é destinada e, consequentemente,
um maior feedback desse público, o que leva a uma ilusão de proximidade entre eles.

       Essa velocidade com que as informações são processadas também possui
consequências diretas nas noções de tempo. No ciberespaço as informações são
processadas em uma velocidade muito superior em relação a dos processos
convencionais da vida real e por essa razão realiza-se mais coisas de maneira bem mais
rápida dentro do ambiente virtual. Ao enviar um e-mail, por exemplo, um usuário gasta
muito menos tempo do que enviando uma carta para um destinatário.

       A partir dessas alterações de espaço e tempo causadas pelo contínuo avanço dos
novos dispositivos de comunicação podemos nos aproximar do que McLuhan (apud
LIMA, 2000) conceituou de Aldeia Global. Com a grande massificação das tecnologias
comunicacionais, temos a possibilidade de estender as nossas relações em escala global,
permitindo o estabelecimento de interações com indivíduos localizados em espaços
geográficos distintos.

                         O planeta contrai-se numa única comunidade, global, cujos elementos
                         comunicam entre si, à distância, através da mediação eletrônica [...] Esta
                         nova comunidade emergente não se caracteriza pela passividade. Os
                         membros desta nova comunidade partilham uma experiência única: podem
trocar entre si pontos de vista multissensoriais, como se, de fato, vivessem na
                       mesma aldeia. Os media da Era Eletrônica assumem a árdua tarefa de
                       conduzir o Homem a representar o papel de protagonista no “teatro global”
                       em que vive... (MARCELO, 2001, p. 72)

       Ainda segundo McLuhan (apud. MARCELO, 2001, p. 70), a comunicação atual
caracteriza-se, na sua essência, por recorrer a uma escala global. A ligação às redes
telemáticas   permite-nos    estar     on-line.     O    planeta      torna-se     “transparente”,
proporcionando-nos “ver” muito além do que os nossos olhos alcançam, o que constitui
uma experiência exorbitante da realidade.

       O fato é que estamos vivenciando a consolidação de uma sociedade no qual os
processos de produção e transmissão das informações deixaram de acontecer de forma
linear e unidirecional para se tornarem processos mais interativos e complexos no qual
as novas ferramentas disponíveis no ciberespaço assumiram um papel de extrema
importância nesta nova configuração da sociedade.

       A combinação entre hardwares compactos e de alta velocidade com softwares
cada vez mais fáceis de serem operados foi um dos fatores que permitiu esta nova
dinâmica da sociedade, além de possibilitar ao indivíduo uma conectividade com o
mundo e, principalmente, uma relação mais interativa com a informação eletrônica que
é colocada em sua disposição, fato este jamais conseguido com outro tipo de tecnologia
criada pelo homem até então.

                       O universo comunicacional desta nova Era, que resulta da interação mediada
                       pelo computador, abandona aparentemente a interação direta entre os
                       sujeitos, para dar lugar a um outro universo comunicacional, onde a interação
                       entre os sujeitos é mediada e em que a informação circula a uma velocidade
                       vertiginosa por redes cada vez mais complexas, que ligam o Homem a um
                       mundo. (MARCELO, 2001, p 51)

       A partir desta nova configuração, qualquer tipo de conteúdo pode ser facilmente
obtido e transmitido de forma quase que instantânea para qualquer lugar do mundo. A
distância de um lugar para outro, por exemplo, passou a ser algo quase que desprezível
diante da possibilidade de conexão entre vários pontos dentro do ambiente virtual.

       Mediante essa nova dinâmica de produção das informações dentro do universo
de possibilidades que o ambiente virtual disponibiliza, um dos grandes problemas que
surge com esta questão já não é mais a falta de informação, mas sim a seleção adequada
ou a filtragem daquela informação que realmente nos pode ser útil. (LIMA, 2000, p.02).
Em decorrência deste fato, a cada dia surgem novas ferramentas que ajudam o
internauta a filtrar essa verdadeira “avalanche” de informações e conteúdos que existem
dentro do ciberespaço. No Twitter9, por exemplo, através da opção Follow (em
português, seguir), o usuário tem a possibilidade de escolher qual perfil deseja seguir e
com isso selecionar as informações que deseja receber.

        Vale destacar que não é apenas o Twitter que apresenta uma ferramenta para
filtra as informações. Os mecanismos com marcadores de RSS10 também ajudam muito
na seleção do que o internauta deve consumir, funcionando, dessa maneira como uma
forma interessante de filtrar apenas informações de fato interessantes para o usuário.

        É importante levar em consideração também que as redes sociais hoje se
tornaram importantes ferramentas para selecionar a avalanche de conteúdo que provem
do ciberespaço.

                          Redes Sociais, Comunidades Virtuais e Fóruns de Discussão também se
                          tornaram ambientes favoráveis para se chegar a determinados assuntos
                          atraentes, pois muitas vezes as pessoas procuram saber algo que não estão
                          conseguindo achar com facilidade na mídia ou não conseguem encontrar em
                          nenhum buscador. O que fazem? Vão diretor perguntar aos grupos formados
                          na rede e nas comunidades relacionadas com os temas procurados. (PRADO,
                          2010, p.53)

        Nessa mesma perspectiva, Recuero (2009a) defende a idéia de que as redes
sociais podem ser usadas como ferramentas que auxiliam os atores sociais na função de
gatekeepers, selecionando as informações mais importantes e publicando para outros
usuários. Ainda segundo a autora o papel da rede social pode ir mais longe: além de
filtrar, uma rede social pode qualificar, complementar e repercutir um determinado
assunto. Uma informação que é passada adiante no Twitter, por exemplo, raramente é
feita é sem algum tipo de qualificação, um julgamento de valor ou uma observação
daquele que a passa. O próprio “retweet” é um instrumento que qualifica uma
informação, lida e considerada relevante pela rede.

2.4 As Mídias Sociais


9
  O Twitter é uma mídia social criada em 2006 pelo empresário e desenvolvedor de softwares Jack
Dorsey que permite os usuários enviarem e receberem pequenos textos (tweets) de no máximo 140
caracteres.
10
   A sigla RSS tem mais de um significado. Alguns a chamam de RDF Site Summary, outros a
denominam Really Simple Syndication. Há ainda os que a definem como Rich Site Summary. O fato é
que com este mecanismo, o internauta tem a possibilidade de reunir, em um único ambiente, conteúdos
produzidos por diversas fontes, sem a necessidade de acessar cada um dos sites responsáveis por eles.
2.4.1 Participação do público na produção de conteúdo no ciberespaço

         Como se sabe, o advento das novas ferramentas de comunicação possibilitou
uma nova dinâmica na produção das informações, principalmente no ambiente virtual.
Com essas novas ferramentas, os conteúdos passaram a ser produzidos em uma
velocidade nunca vista anteriormente e serem transmitidos em uma velocidade maior
ainda.

         Desde que a Web 2.011 se instalou, serviços colaborativos de informação
também se estabeleceram, o que resultou no surgimento de novos espaços para a
produção e a publicação de conteúdos. Nesta perspectiva, o internauta deixou de receber
passivamente toda esta gama de conteúdos que provem do ambiente virtual. Tendo à sua
disposição uma infinidade de recursos, o internauta passou agora a produzir também
seus próprios conteúdos no ciberespaço, aumentando dessa maneira os processos de
interação com outras pessoas dentro das comunidades virtuais, por exemplo. Neste novo
universo, cada usuário da Internet torna-se um produtor de informações em potencial,
contribuindo diretamente para uma descentralização dos processos de produção e
divulgação das informações.

         Prado (2010) ainda chama atenção para o fato de que, com o barateamento dos
custos da produção e a não necessidade de concessões governamentais dentro do
ciberespaço, o usuário tem à sua disposição uma gama de ferramentas que ensinam,
passo a passo, como produzir e distribuir livremente o conteúdo, seja este através de
textos, áudios vídeos, gráficos ou qualquer outro recurso multimídia.

                           No ciberespaço, então, cada sujeito é efetivamente um potencial produtor de
                           informação: serviços colaborativos de informação, comunidades, blogueiros
                           ou microblogueiros jornalistas - que vivem o fato e relatam em suas páginas
                           pessoais. E, se a velocidade da informação também é um dos resultados da
                           Internet, no caso do Twitter, é possível acompanhar eventos em tempo real.
                           (LEMOS, 2008, p. 02)

         Alguns sites como o Wikipédia12, por exemplo, já oferecem uma opção para que
os internautas possam modificar o conteúdo dos artigos apresentados pelo site e até
11
  Web 2.0 é um termo criado em 2004 pela empresa americana O'Reilly Media para designar uma
segunda geração de comunidades e serviços na web, centrada nos mecanismos de busca como Google,
nos sites de colaboração do internauta, como a Wikipédia e o YouTube, e nos sites de relacionamento
como o Facebook e Orkut.
         12
            Criada em 15 de janeiro de 2000, a Wikipédia é uma enciclopédia virtual livre, onde pessoas
de todo o mundo podem acessar e modificar os artigos que ela disponibiliza para consulta, desde que
sejam preservados os direitos de cópia e modificações. Atualmente ela conta com mais de 17,6 milhões
de artigos cadastrados.
mesmo escrever novas publicações, fato este que evidencia esta participação maciça do
público na produção de informações, ou seja, o usuário passa a ser co-autor do conteúdo
desses sites.

           Outro exemplo da participação do público na produção de conteúdos para a
Internet pode ser observado no site sul-coreano Oh My News13, criado em fevereiro de
2000 pelo jornalista Oh Yeon Ho e que tem como proposta o lema “Every citizen is a
reporter” (Todo cidadão é um repórter). Através deste site, cidadãos comuns podem
enviar reportagens e outras publicações e uma equipe de jornalista do próprio site faz o
trabalho de edição dessas reportagens. Em 2004 o site ganhou uma versão internacional
e hoje já conta com aproximadamente 40 mil repórteres-cidadãos que diariamente
fornecem uma grande quantidade de publicações de todas as partes do mundo.

           Os blogs também representam hoje uma importante ferramenta de participação
do público na produção de conteúdo para a Internet. Com os blogs, o internauta dispõe
da liberdade de fazer postagens sobre diversos assuntos que na grande maioria das vezes
não são pautados pela mídia tradicional, o que acaba contribuindo dessa maneira para o
processo de democratização da comunicação.

           Outros exemplos da produção de conteúdos pelos internautas podem ser
observados em vários outros sites de notícias que também já oferecem opções para que
o público possa contribuir com algum tipo de conteúdo, seja através de imagens, vídeos,
textos ou áudio, por exemplo. No portal Imirante.com14 pode-se observar o “Vc no
Imirante”; o portal G115 tem o “Vc no G1”; no portal O Globo16, o público pode
participar através do espaço “Eu repórter”; e no portal Terra17 tem o “VC Repórter”.

           É interessante observar que esta participação do público na produção de
conteúdos não é um fenômeno recente. No período da ditadura militar no país, por
exemplo, muitas pessoas publicavam seus textos em fanzines e jornais alternativos ou
então colocavam no ar rádios livres, comumente chamadas de piratas, para expor suas
opiniões e defender um determinado ponto de vista. No entanto, no processo de
13
     <http://www.ohmynews.com>
14
     <http://www.imirante.com>
15
     <http://www.g1.com>
16
     <http://oglobo.globo.com>
17
     <http://www.terra.com.br>
produção de conteúdo nesse período não havia um feedback sistemático ou em volume
significativo daqueles que eram os destinatários da informação, o que era dificultado
pela ausência de aparatos técnicos que facilitassem esse retorno do emissor ao receptor,
refletindo na qualidade do conteúdo que era produzido.

          O fato é que as tecnologias digitais têm servido como motivador para uma maior
interferência do público receptor no processo de produção das notícias. Além disso, a
participação do público na produção de informações vem contribuindo diretamente para
a quebra do monopólio da grande mídia e a democratização da comunicação,
culminando dessa maneira, na ascensão do chamado jornalismo participativo18,
principalmente na Internet.

                          Outro fator que motiva o desenvolvimento do webjornalismo participativo é a
                          vulgarização de máquinas de fotografia digital e celulares que podem captar
                          fotos ou vídeos e enviar mensagens multimídia. Essas tecnologias de
                          comunicação móvel facilitam o registro e divulgação de fatos no momento
                          em que eles ocorrem. As empresas jornalísticas passaram a contar com a
                          pulverização de fontes de imagens e informações, mesmo onde não haja
                          qualquer jornalista ou repórter-fotográfico. (PRIMO E TRASEL, 2006 p. 04)

          Deve-se levar em consideração também que a participação do público na
produção das informações também se deu por causa de um descontentamento por parte
do indivíduo em relação à mídia como ela se apresenta atualmente. Muitas vezes, por
causa da parcialidade com que a mídia trata alguns assuntos de interesse público, os
leitores acabam produzindo, eles próprios, a informação que os interessa e com isso quebram o
monopólio da imprensa tradicional que, muitas vezes, pauta um determinado assunto
apenas por interesse próprio e não por interesse público.

          As Novas Tecnologias de Comunicação e Informação permitiram que houvesse
uma espécie de inversão do poder nas relações de comunicação contemporânea. O que
antes era domínio dos grandes grupos de mídia e das corporações, hoje também é de
posse dos usuários de Internet, contribuindo diretamente para a formação de uma mídia
mais independente e democrática.

          Para Caparelli (apud PRIMO e TRASE, 2006, p.06), “a imprensa alternativa
surge toda vez que o bloqueio da informação por parte do poder obrigou a numerosos
grupos formarem seus próprios canais de expressão”. Nesta perspectiva, com o contínuo

     18
       O Jornalismo Participativo pode ser definido como aquele produzido por qualquer integrante de
uma sociedade que tenha acesso a informações de interesse público e decida publicá-las, sem
necessariamente ter alguma formação técnica em jornalismo. (Gillmor apud PRIMO e TRASE, 2006).
avanço das ferramentas digitais, a cada dia abre-se o espaço para que as produções
independentes ganhem ainda mais evidência. Além disso, o internauta, devido ao
conhecimento mais aprofundado que possui sobre o ciberespaço, tem uma facilidade
maior para buscar fontes primárias de informações, podendo servir como mediação para
o jornalista profissional.

        Dentro do ciberespaço, graças aos vários softwares gratuitos disponíveis na rede,
o internauta tem a possibilidade de produzir livremente uma infinidade de conteúdos
que antes eram produzidos apenas pela mídia tradicional, o que acaba contribuindo
diretamente para a formação deste jornalismo participativo. Nesse sentido, as
informações são produzidas por todos e para todos.

                            Outro projeto de webjornalismo participativo é o Wikinews19 baseado no
                            modelo Wiki, em que todo interagente pode publicar textos ou editar as
                            contribuições dos outros, usando para isso apenas um browser comum. Ou
                            seja, no Wikinews qualquer pessoa pode publicar notícias e editar aquelas
                            publicadas por outros colaboradores. O internauta que identifica um erro ou
                            acredita ter alguma informação a mais pode modificar o texto original da
                            notícia, fazendo correções ou acréscimos. (PRIMO E TRASEL, 2006 p. 13)

        Além disso, devido ao espaço na Web ser ilimitado, muito diferente dos veículos
de massa tradicionais que possuem várias limitações técnicas, o internauta tem a
possibilidade de buscar uma série de outras fontes dentro do ciberespaço que possam
ajudá-lo a reunir uma série de outras informações para uma determinada matéria.

2.4.2 Formação das Mídias Sociais

        Como o ciberespaço é um local infinito em virtude das contínuas e ilimitadas
interações que podem ser feitas dentro dele, abre-se espaço para as produções
independentes, que antes não tinham espaço para a divulgação na mídia tradicional,
fazendo com que cada vez mais os usuários produzam algum tipo de conteúdo.

        Como consequência desta participação cada vez mais acirrada do público na
produção das informações, pode-se observar o surgimento das chamadas Mídias
Sociais, também chamadas de New Media (Novas Mídias). Vale destacar que o
surgimento recente das mídias sociais também tem criado novas formas de mobilização
e organização, que alteram a dinâmica de interação entre os atores da sociedade.
19
  A página do Wikinews oferece o botão Edit (editar), onde o internauta tem a possibilidade de modificar
o texto da notícia ou página em questão, acrescentando também links e outros recursos multimídia através
de formulários de fácil utilização. Ao clicar em Save (salvar), a nova versão é publicada e a antiga entra
em um histórico que registra as versões anteriores. Através deste recurso pode-se reverter a notícia para
uma versão antiga em caso de vandalismo ou erros.
As Mídias Sociais podem ser definidas como ferramentas, baseadas nos
fundamentos tecnológicos da Web 2.0, que possibilitam a interação social a partir do
compartilhamento ou da criação de informações nos mais diversos formatos. O nome se
dá porque tais ferramentas são sociais, ou seja, são abertas a todas as pessoas para
interação e inserção de informações e conteúdos; e são mídias, pois não deixam de ser
um meio de transmissão de informações.

                          As mídias sociais permitem, além da comunicação e publicação propriamente
                          ditas, uma efetividade nunca antes vista em termos de transmissão de
                          conceitos, iniciativas de mobilização, estruturação de redes colaborativas e
                          diversas formas de ação social coordenada, dando aos seus usuários um
                          inaudito poder de barganha frente aos tradicionais detentores do poder nos
                          campos sociais da comunicação e da política. (RABELO, 2010, p. 03)

        É importante fazer uma ressalva para a distinção entre as Mídias Sociais e as
Redes Sociais. Como foi exposto anteriormente, as Redes Sociais caracterizam-se pela
aglutinação de pessoas dentro de um espaço virtual previamente determinado, onde os
indivíduos dessa rede se relacionam com um ou mais indivíduos, formando verdadeiras
comunidades dentro do ciberespaço. As redes sociais na Internet são constituídas por
elementos “que servem de base para que a rede seja percebida e as informações a
respeito dela sejam apreendidas” (RECUERO, 2009a, p.25). Dessa forma, para a autora,
os elementos que compõem as redes sociais na Internet são atores e conexões.

        Nesse caso, o principal objetivo das Redes Sociais é formar grupos de
indivíduos, com interesses em comum, que possam manter algum tipo de relação dentro
do ambiente virtual. Como exemplos de Redes Sociais pode-se citar o Orkut, Facebook,
MySpace, LinkedIn20e Formspring21.

        Já por outro lado, as Mídias Sociais possuem o foco na divulgação de
informações na Internet. Para André Telles, “as Mídias Sociais são sites na Internet
construídos para permitir a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e o
compartilhamento de informações em diversos formatos”. (TELLES, 2010, p. 10).
Exatamente como um blog, que ao mesmo tempo dissemina conteúdo e abre espaço
para os leitores interagirem, estas mídias seriam ferramentas que tem como objetivo o


20
  O LinkedIn é uma rede social lançada em maio de 2003 que tem o objetivo de formar relacionamentos
voltado para o ambiente empresarial.
21
  O Formspring foi lançado em Novembro de 2009 e permite que usuários enviem perguntas para outros
usuários. Todas as perguntas enviadas são guardadas na caixa de entrada e quem recebeu as perguntas
decide se responde ou não a elas e as publica em seu perfil.
compartilhamento de conteúdo, sendo que as relações que podem se formar ficam em
segundo plano.

       Apesar dessa distinção entre as mídias e as redes sociais, muitas vezes esses dois
conceitos se confundem justamente por causa da forma como cada indivíduo utiliza
essas ferramentas, ou seja, a definição entre Rede Social e Mídia Social vai depender
única e exclusivamente dos objetivos do internauta. O Twitter, por exemplo, pode ser
usado como mídia social, tendo como objetivo apenas difundir conteúdo, ao mesmo
tempo em que o microblog pode ser usado como rede social, apenas para seguir amigos
e conversar entre eles.
3 JORNALISMO NA INTERNET

        É difícil negar que o desenvolvimento das Novas Tecnologias de Comunicação e
Informação trouxe consigo profundas mudanças em diversos segmentos da sociedade.
Nessa perspectiva instala-se um novo contexto e pode-se afirmar com segurança que a
sociedade, da forma em que está organizada atualmente, é fruto do contínuo
desenvolvimento dessas ferramentas.

                           As tecnologias de comunicação periodicamente resultam em significativas
                           transformações na sociedade e causam grandes mudanças de hábitos e
                           comportamentos. Cada um no seu tempo, o telégrafo, o telefone e o aparelho
                           de fac-símile deixaram suas marcas no comércio, na vida profissional e no
                           nosso cotidiano. Agora chegou a vez da Internet, oferecendo amplos recursos
                           técnicos e um novo suporte para as mais diversas atividades. (PINHO, 2003,
                           p. 57.)

        Os meios de comunicação também foram fortemente influenciados pelo
desenvolvimento dessas novas tecnologias. Com a chegada da Internet, por exemplo, foi
possível observar uma mudança dos meios tradicionais para este novo suporte. No
rádio, a primeira emissora que passou a disponibilizar seu conteúdo apenas na Internet
foi a Rádio Totem no ano de 199822; nos jornais impressos, a mudança de suporte para o
ambiente virtual pode ser observada inicialmente na fase transpositiva do jornalismo23; e
com relação à TV, hoje também já é possível acompanhar a programação de algumas
emissoras através da Internet.

        A partir desse momento, as informações passaram a ser produzidas, transmitidas
e consumidas a uma velocidade nunca vista anteriormente, fato este que também alterou
drasticamente o modo de fazer e pensar o jornalismo utilizando como suporte a Internet.
22
  Um ano antes, em 1997, já foi possível observar uma experiência de radiojornalimo na Internet, quando as
emissoras Jovem Pan Am, Bandeirantes, CBN e a Rádio Eldourado AM começaram a disponibilizar o
conteúdo no ambiente virtual.
23
  A fase transpositiva do jornalismo será melhor analisada mais adiante quando serão abordadas as fases do
jornalismo na Internet.
As novas tecnologias alteraram os modos convencionais de compreensão do tempo e do
espaço24, noções essenciais para o exercício e consumo do jornalismo. Se tais noções
mudam – e junto com elas a compreensão da sociabilidade e do homem
contemporâneos – muda junto o conceito sobre o jornalismo.

           Para Alves (2006), o contínuo desenvolvimento das novas tecnologias de
comunicação disponíveis no ciberespaço contribuiu diretamente para a alteração dos
paradigmas que antes eram utilizados para definir os processos comunicacionais,
contribuindo dessa forma para a alteração também das rotinas de produção jornalística.

                              A Internet, no entanto, não é apenas um novo meio, como foram o rádio e a
                              TV, cada um acrescentando um canal sensorial à comunicação existente: o
                              sentido da audição, no caso do rádio, e o da visão, no caso da TV. A web
                              representa uma mudança de paradigma comunicacional muito mais ampla
                              que a adição de um sentido. Ela oferece um alcance global, rompendo
                              barreiras de tempo e espaço como não tínhamos visto antes. A indexação do
                              meio digital permite a acumulação de conteúdo, rompendo os paradigmas
                              comunicacionais que o jornalismo tinha criado. (ALVES, 2006, p. 95)

           Além do surgimento dessas novas ferramentas de comunicação e informação,
pode-se dizer que o acesso facilitado à Internet, a produção móvel de conteúdo e a
participação do público também estão influenciando diretamente a maneira de fazer
jornalismo nos dias atuais. Tais influências se deram principalmente nos processos de
apuração, produção, publicação e circulação da informação no ciberespaço.

           Para Pavik e Ross (apud DEUZE, 2006, p.19), o impacto dessas novas
ferramentas de comunicação no jornalismo torna-se melhor compreendido quando são
analisados quatro aspectos fundamentais dessa influência: o impacto nas produções das
notícias nesse suporte, na dinâmica de funcionamento das redações, no modo de
trabalho dos jornalistas e nas relações que se estabelecem entre os jornalistas e o
público.

           Apesar desta influência ser bem mais evidente nos dias atuais, Deuze (2006)
considera ainda que a atividade jornalística sempre foi dependente dessas novas
ferramentas. Segundo ele:

                              O jornalismo tem sido sempre dependente da tecnologia. De modo a alcançar
                              estatuto público e chegar à audiência de ‘massas’, a profissão conta com a
                              tecnologia para a recolha, edição, produção e disseminação da informação.
                              Desde o aparecimento dos primeiros jornais na Europa, durante o século
                              XVII, a tecnologia tem permitido que o jornalismo se organize em torno de


24
     As novas noções de tempo e espaço foram trabalhadas no primeiro capítulo deste trabalho.
uma premissa básica: a transmissão rápida e perceptível de informação.
                       (DEUZE, 2006, p.17)

       A utilização da Internet pelo jornalismo, segundo Deuze, deu-se principalmente
em meados dos anos 90, momento este em que a presença da Internet ficava cada vez
mais evidente entre as redações dos jornais tornando-se, consequentemente, uma
plataforma para a divulgação de conteúdos.

       Graças a essas novas ferramentas de comunicação, o jornalismo está
experimentando mudanças que alteram completamente as rotinas de produção
jornalística dentro do ciberespaço. Tendo como suporte a Internet, a notícia passa agora
a ser apresentada em um novo formato que leva em consideração todas as características
e especificidades do ambiente virtual.

       É interessante observar que essas novas ferramentas, além de abrirem um novo
espaço para a produção jornalística, estão fazendo com que os profissionais que atuam
nessa área se adaptem a esta nova realidade do fazer jornalístico. Nessa perspectiva, é
de extrema importância que os profissionais que trabalham nessa área tenham um amplo
conhecimento dessas novas tecnologias para tirar o proveito de todas as potencialidades
que o ambiente virtual proporciona para a produção jornalística.

                       O jornalista online tem que fazer escolhas relativamente ao(s) formato(s)
                       adequado(s) para contar uma determinada história (multimídia), tem que
                       pesar as melhores opções para o público responder, interagir, ou até
                       configurar certas histórias (interatividade) e pensar em maneiras de ligar o
                       artigo a outros artigos, arquivos, recursos, etc., através de hiperligações
                       (hipertexto).(DEUZE, 2006, p.18)

       Para Mielniczuk (2004), o momento pelo qual passa o webjornalismo na
atualidade promove rupturas no modelo de jornalismo para Internet e investe
gradualmente no uso de tecnologias para a web. Nessa perspectiva, os vários softwares
de publicação, como o Twitter, por exemplo, integraram-se de vez nas rotinas de
produção jornalística para a web, permitindo que fosse explorado todas as
potencialidades que esse meio disponibiliza.

3.1 As fases do jornalismo na Internet

3.1.1 Um pouco da história da Internet

       Para entender como a produção jornalística vem se desenvolvendo ao longo do
tempo utilizando como suporte a Internet, é importante analisar primeiramente como
ocorreu o processo de desenvolvimento da Internet, desde a sua concepção até que ela
apresente as especificidades que possui nos dias atuais.

         Para Castells (apud PRADO, 2010, p. 09), “a criação e o desenvolvimento da
Internet nas três últimas décadas do século XX forma consequência de uma fusão
singular de estratégia, militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnológica e
inovação contracultural”.

         O princípio de uma conexão entre computadores pode ser observado no ano de
1969 quando a Advanced Reserch Projects Agency (ARPA – Agência de Pesquisa e
Projetos Avançados), um órgão criado em 1958 pelo Departamento de Defesa Norte
Americano, desenvolveu o Arpanet, uma rede de computadores que servia para garantir
a comunicação emergencial entre universidade e institutos de pesquisa a serviço do
exército, caso os Estados Unidos sofressem algum tipo de ataque.

         A primeira mensagem a ser enviada por esse novo sistema de comunicação
ocorreu às 22h30min do dia 29 de outubro de 1969 em um laboratório na Califórnia. A
mensagem enviada foi a palavra “lo”, que na verdade era para ser “login”, mas no
momento do envio da mensagem a conexão caiu e demorou mais de uma hora para ser
restabelecida novamente. Depois de aproximadamente um mês foi estabelecida a
primeira conexão estável entre quatro computadores.

         O público tomou conhecimento desse novo sistema no ano de 1972, durante a
realização da I Conferência sobre Comunicações Computacionais, na cidade de
Washington, no qual a Arpanet foi capaz de conectar 40 máquinas e o Terminal
Interface Processor (TIP). O tráfico de informações utilizando a Arpanet cresceu
rapidamente. Entre os usuários desse novo sistema estavam principalmente
pesquisadores universitários com trabalhos na área de segurança e defesa, foco principal
da Arpanet.

         A Arpanet rapidamente expandiu-se para além das fronteiras norte-americanas.
A Inglaterra e a Noruega, por exemplo, foram os dois primeiros países a estabelecerem
uma conexão internacional através da University College de Londres e da Royal Radar
Establishment. Em 1990, o Brasil passou a fazer parte da rede mundial de computadores
juntamente com Argentina, Áustria, Bélgica, Chile, Grécia, Irlanda, Coréia, Espanha e
Suíça.
O cenário do final dos anos 80 era este: muitos computadores conectados,
                           mas principalmente computadores acadêmicos instalados em laboratórios e
                           centros de pesquisa. A Internet não tinha a cara amigável que todos
                           conhecem hoje. Era uma interface simples e muito parecida com os menus
                           dos BBS25. Mas, enquanto o número de universidades e investimentos
                           aumentava em progressão geométrica, tanto na capacidade de hardwares
                           como dos softwares usados nas grandes redes de computadores, outro núcleo
                           de pesquisa, até bem modesto, criava silenciosamente a World Wide Web
                           (Rede de Abrangência Mundial), baseada em hipertexto e sistemas de
                           recursos para a Internet. (FERRARI, 2003, p.16)

        Paralelamente ao desenvolvimento da Arpanet, tem-se também o surgimento de
uma primeira experiência que mais adiante viria a se tornar o e-mail da forma como
conhecemos atualmente. Essa primeira experiência foi desenvolvida pelo engenheiro
Ray Tomlinson, idealizador de um software chamado SNDMSG (Send Message) que
permitia que qualquer pessoa que estivesse conectada com a Arpanet pudesse trocar
mensagens. O grande marco nesta nova criação foi a utilização do sinal “@” 26 (arroba),
sendo possível identificar quem estava enviando as mensagens.

        Em 1991 a Internet27 experimentou um verdadeiro boom logo após a criação da
World Wide Web28 (WWW) pelo programador inglês Tim Bernes – Lee, que trabalhava
no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN – Conseil Européene pour la
Recherche Nucléaire), localizado em Genebra, na Suíça. A World Wide Web constitui-
se como um modo de organização das informações e dos arquivos dentro do
ciberespaço que utiliza o Hypertext Markup Language (HTML) como a linguagem
padrão para o desenvolvimento de pagina na Internet, o Hypertext Transport Protocol
(HTTP), que é o protocolo de transmissão de dados entre os servidores e o Uniform
Resource Locator (URL), um sistema de endereçamento próprio que permite identificar
e acessar um serviço na Web.



25
  Bulletin Board Systems – Sistema de Boletim Eletrônico. É um software que permitia que usuários se
conectassem usando um programa de terminal e uma linha telefônica. A interface desse programa era
bastante rudimentar, sem gráficos ou imagens, apenas texto e todas as atividades eram desenvolvidas
usando apenas o teclado.
26
  Em inglês, a arroba é lida como “at”, significando “em”. Dessa maneira é possível identificar que o
usuário está localizado em um determinado domínio.
27
  A expressão Internet surgiu a partir da expressão inglesa INTERacion or INTERconnection between
computer NETworks, ou seja, Interação ou Interconexão entre Redes de Computadores.
28
  Muitas pessoas confundem a Web com a própria Internet. No entanto, a Internet teve a sua origem na
década de 1960 com o desenvolvimento da Apranet e a Web refere-se a apenas um dos serviços
oferecidos pela Internet. Deve-se levar-se em consideração também que a Web refere-se à parte gráfica da
Internet, em que é possibilitada a interação.
A popularização da Internet teve início a partir do ano de 1993, quando o
estudante de computação norte-americano Marc Andreessen desenvolveu a versão 1.0
do navegador Mosaic. O programa inovou por ser totalmente gráfico, o que tornava a
navegação pela Internet mais leve.

        A partir de então, a Internet cresceu vertiginosamente como uma rede global de
computadores. Os números que representam esse crescimento são extremamente
significativos. Em 2009, por exemplo, eram mais de 1.73 bilhões de usuários
espalhados ao redor de todo o mundo; aproximadamente 247 bilhões de e-mail foram
trocados todos os dias; eram 234 milhões de sites registrados até Dezembro de 2009. Os
números fazem parte de um relatório divulgado pelo Pingdon, um site de
monitoramento de conteúdos digitais. Atualmente, é justo afirmar que esses números
referentes ao crescimento da Internet no mundo cresceram de forma exponencial.

        Com esse desenvolvimento, ela foi capaz de modificar drasticamente os padrões
de comportamento da sociedade. Com a atividade jornalística aconteceu a mesma coisa:
pelo fato do jornalismo ser uma atividade bastante dinâmica, ele facilmente é
influenciado pelo desenvolvimento de novas tecnologias que atingem os meios de
comunicação e, consequentemente, a produção jornalística.

        O desenvolvimento do jornalismo na Internet29 deu-se mais precisamente no
final da década de 1990, período este em que a Internet experimentou um verdadeiro
boom e começou a adentrar também no ambiente das redações, obrigando, dessa
maneira, que houvesse uma readaptação das práticas jornalísticas dentro do ambiente
das redações. “No início, sob o olhar de desconfiança de muitos jornalistas... as
empresas fora, entrando na web vagarosamente. Era preciso experimentar, testar o
retorno e ver se realmente o sistema digital funcionava” (PRADO, 2010, p.31)

        Nesta perspectiva, a produção jornalística no ciberespaço foi se modificando
gradativamente conforme, a Internet foi sendo introduzida nas redações. Com isso,
pode-se observar o surgimento de 3 fases distintas do jornalismo na Internet: Fase
Transpositiva, Metafórica e Multimidiática.

3.1.2 Fase Transpositiva


29
  A partir desse desenvolvimento surge então o conceito de web 1.0, a primeira geração da Internet
comercial, na qual os sites que faziam parte desta geração não possuíam recursos interativos.
Na Fase Transpositiva, ou primeira geração do jornalismo na Internet observava-se uma
adequação com relação a forma de se publicar e acessar o conteúdo pelo meio digital.
Nesta fase havia apenas uma transposição, ou seja, uma mudança de suporte, no qual os
textos que eram escritos nos jornais impressos eram transcritos para o modelo digital, sem
qualquer tipo de alteração no conteúdo.

       Na maioria das vezes, profissionais na área de design e computação eram os
responsáveis por realizar esta transposição, pois apenas eles possuíam o conhecimento
dos códigos necessários para realizar as postagens das matérias. Nesse período as
redações dos jornais não possuíam uma equipe exclusiva de jornalistas que
trabalhassem com o conteúdo digital sendo que Internet ainda era vista com
desconfiança pelos profissionais mais experientes da época.

       Nessa geração as rotinas de produção jornalística para a Web eram totalmente
ligadas com as rotinas do jornalismo impresso uma vez que material era atualizado a
cada 24 horas, de acordo com o fechamento da edição impressa do jornal. A
disponibilização do material jornalístico no ambiente virtual dava-se apenas para
preencher certo espaço, ignorando todas as potencialidades que esse novo ambiente
proporciona.

       Nos Estados Unidos, os primeiros jornais a disponibilizarem o conteúdo no
ambiente virtual foram o The Nando Times, em 1994, e o The San Jose Mercury
Center, em 1995. No Brasil, no ano de 1995, o jornal “Folha de São Paulo” coloca na
Internet sua primeira página. Pouco tempo depois foi a vez dos periódicos “O Globo” e
“Jornal do Brasil” disponibilizarem suas versões no ciberespaço. Nesse mesmo período
a Revista Veja também começava a criar sua versão online, que era atualizada com a
mesma periodicidade do veículo impresso.

       É interessante observar que os primeiros jornais a disponibilizaram suas páginas
na Internet estavam vinculados aos grandes conglomerados midiáticos que já
começavam a investir, mesmo que timidamente, nessa nova tendência, o que levaria
futuramente à formação dos primeiros portais de notícia.

                       Empresas tradicionais como as Organizações Globo, o grupo Estado
                       (detentor do jornal O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde) e a Editora Abril
                       se mantêm como os maiores conglomerados de mídia do país, tanto em
                       audiência quanto em receita de publicidade. Foram eles que deram os
                       primeiros passos na Internet brasileira, seguidos pelo boom mercadológico de
                       1999 e 2000... (FERRARI, 2006, p.27)
3.1.3 Fase Metafórica

       Na década de 2000 inicia-se a segunda geração do jornalismo online, época em
que surge o portal de notícias IG e o jornal Último Segundo. Foi nessa época que
surgiram também os primeiros blogs e fotologs, que contribuíram para uma maior
dinamização da produção de conteúdos na Internet.

        Nessa fase alguns recursos disponíveis no ciberespaço começaram a ser usados
para dar um maior dinamismo na produção das notícias para este suporte,
principalmente no que diz respeito à utilização do hipertexto e às várias outras
possibilidades que este recurso disponibiliza como, por exemplo, as listas das últimas
notícias e matérias relacionadas.

       Nesta geração foi iniciada, ainda que timidamente, a produção do conteúdo
exclusivamente para o meio digital. Os primeiros recursos interativos começaram a
aparecer como, por exemplo, o uso de e-mail e fórum de debates. Um layout dos jornais
próprio para o ciberespaço também começou a ser pensado nessa fase.

       Para Luciana Mielniczuk, foi nessa fase que o webjornalismo começou a tomar
as características e especificidades que ele apresenta atualmente. Segundo ela:

                        O cenário começa a modificar-se com o surgimento de iniciativas tanto
                        empresariais quanto editoriais destinadas exclusivamente para a Internet. São
                        sites jornalísticos que extrapolam a idéia de uma simples versão para a Web
                        de um jornal impresso e passam a explorar de forma melhor as
                        potencialidades oferecidas pela rede. Tem-se, então, o webjornalismo.
                        (MIELNICZUK, 2001, p. 02)

3.1.3 Fase Multimidiática

       Na terceira e atual fase do jornalismo na Internet consolida-se a produção de
conteúdos exclusivamente para o ambiente virtual. Nesta terceira fase, as publicações
online passam a juntar definitivamente a hipermídia com a produção das notícias,
aprofundando, dessa forma, a hipertextualidade e outros recursos multimidiáticos como
a integração de áudios, imagens ou então vídeos às notícias. Para Plavlik (apud
Mielniczuk, 2001, p.07) o aspecto mais importante desta fase são as narrativas
hipermidiáticas que possibilitam que o leitor navegue através das informações em
multimídia.
Nessa fase, a produção jornalística beneficia-se de todas as potencialidades que
o      ambiente     virtual     disponibiliza      como       interatividade,      multimidialidade,
hipertextualidade, atualização contínua, acesso a bancos de dados (memória) e a
personalização, potencialidades essas que serão analisadas mais rigorosamente ainda
neste capítulo.

         Babosa (2008) vai mais além ao afirmar que, devido às crescentes inovações
tecnológicas, o webjornalismo já se encontra em um quarto estágio de desenvolvimento
onde os conteúdos advindos desse novo modelo são estruturados principalmente em
banco de dados. Nessa perspectiva, o conteúdo jornalismo que advêm desse novo
modelo surge devido uma maior aproximação entre os campos da comunicação e
informática.

                            A identificação de uma quarta geração para o desenvolvimento, edição,
                            formato de produtos, criação de conteúdos, construção de narrativas
                            jornalísticas hipermídia, experimentação com novos gêneros jornalísticos,
                            assim como novos modos para a apresentação e visualização das
                            informações, no ciberjornalismo, leva em conta diversos fatores, tanto os de
                            cariz infra-estrutural e tecnológicos como aqueles mais diretamente
                            relacionados à atividade jornalística nas redes. (LARRONDO; BARBOSA;
                            MIELNICZUK. 2008. p.02)

3.2 Características do jornalismo na Internet

         Com o advento da Internet e a influência desta nos meios de comunicação de
massa, é perfeitamente razoável deduzir que novas rotinas de produção jornalística
apareçam no ciberespaço. O modo de pensar e fazer o jornalismo nesse novo suporte
deve levar em consideração todas as potencialidades que este novo meio disponibiliza e
a mudança de linguagem que exige.

         Cada suporte, seja o rádio, a televisão ou o impresso, por exemplo, tem a sua
especificidade e isso se reflete na produção jornalística deste meio. Dentro do ambiente
virtual, o jornalismo passa a apresentar características específicas que permitem uma
análise em estudo mais detalhado de como são desenvolvidas as rotinas de produção
nesse novo suporte.

         De acordo com Marcos Palácios, as principais características apresentadas por
este    novo      suporte     são:   Hipertextualidade,       Interatividade,     Multimidialidade,
Personalização, Memória e Atualização Contínua. É importante levar em consideração
que tais características influenciam diretamente os processos de produção, transmissão e
recepção do conteúdo jornalístico no ciberespaço.

                        Essas seis características refletem as potencialidades oferecidas pela Internet ao
                        jornalismo desenvolvido para a Web. Deixe-se claro, preliminarmente, que tais
                        possibilidades abertas pelas Novas Tecnologias de Comunicação (NTC) não se
                        traduzem, necessariamente, em aspectos efetivamente explorados pelos sites
                        jornalísticos, quer por razões técnicas, de conveniência, adequação à natureza do
                        produto oferecido ou ainda por questões de aceitação do mercado consumidor..
                        (PALÁCIOS, 2003, p. 03)

       Apesar dessa nova dinâmica que o ambiente virtual possibilita para o jornalismo,
Prado (2010) chama atenção para o fato de que, seja no ciberespaço ou então em
qualquer outro suporte, a atividade jornalística sempre vai apresentar o mesmo esquema
de produção na notícia, seja com o planejamento da reportagem, a pesquisa do tema, a
procura das fontes e personagens e na apuração das informações obtidas.

3.2.1 Hipertextualidade

       Trata-se da principal característica da produção jornalística no ciberespaço.
Refere-se a um padrão de organização das informações dentro do ambiente virtual onde
o internauta tem a possibilidade de obter uma gama de informações disponíveis na
página do veículo em que ele está lendo a notícia ou então em qualquer outro site.

       Tal possibilidade de navegação entre as páginas dentro do ambiente virtual só é
possível graças ao hipertexto que faz a conexão dos vários materiais disponíveis no
ciberespaço através dos links, contribuindo para que o internauta tenha uma informação
mais detalhada sobre um determinado assunto. Para Lemos (2008) na construção de
hipertextos, é de responsabilidade do jornalista construir segmentos textuais que tenham
um sentido completo e que permitam a construção de relações de sentido, mesmo se
acessados em uma ordem diferente. Ainda para o autor, a produção de hipertextos
prevê, na definição dos links, diferentes leitores e intenções de leitura e diversos efeitos
de sentido.

                        O Hipertexto utilizado no ambiente das redes telemáticas vai permitir a em
                        uma mesma tela a coexistência de textos, sons e imagens, tendo como
                        elemento inovador a possibilidade de interconexão quase instantânea através
                        de links, não só entre partes de um mesmo texto, mas entre textos fisicamente
                        dispersos, localizados em diferentes suportes e arquivos integrantes de uma
                        teia de informação constituída pela Web. (MIELNICZUK; PALÁCIOS. 2001
                        p.01)
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Jornalismo e Twitter: análise da produção de notícias no @imirante

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO LEANDRO RODRIGUES SANTOS JORNALISMO EM 140 CARACTERES: O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço São Luís 2011
  • 2. LEANDRO RODRIGUES SANTOS JORNALISMO EM 140 CARACTERES: O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Federal do Maranhão para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo. Orientadora: Prof. Ms Larissa Leda Fonseca Rocha São Luís 2011
  • 3. Santos, Leandro Rodrigues Jornalismo em 140 caracteres: O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço /Leandro Rodrigues Santos. – São Luís, 2011. 88f. Orientador: Prof. Ms. Larissa Leda F. Rocha. Monografia (Graduação) _ Universidade Federal do Maranhão, Curso de Comunicação Social, 2011. 1. Twitter. 2. Jornalismo. 3. Ciberespaço. I.Título. CDU 070:004.738.5
  • 4. LEANDRO RODRIGUES SANTOS JORNALISMO EM 140 CARACTERES: O Twitter do Portal Imirante.com como uma ferramenta de produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Federal do Maranhão, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo. Orientadora: Prof. Msc Larissa Leda Fonseca Rocha Aprovada em ____/____/_____ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Msc Larissa Leda Fonseca Rocha (Orientadora) Departamento de Comunicação Social - UFMA _________________________________________ _________________________________________
  • 5. À Deus, fonte de toda a vida e inteligência na Terra. À minha mãe, que sempre esteve ao meu lado desde o primeiro momento da minha vida.
  • 6. AGRADECIMENTOS Depois de um longo caminho percorrido, depois de inúmeros trabalhos realizados e incontáveis noites de sono perdidas, passados 4 anos, chega-se ao final do curso e com a certeza de que todo isso valeu muito a pena. E chegando ao final dessa trajetória, o prêmio maior que um aluno pode conseguir é ter ser esforço, perseverança e fé refletidos em uma monografia feita com tanta dedicação e esmero. No entanto, era impossível eu chegar até onde cheguei sem contar com ajudas diretas e indiretas. Como já diria o bom e velho ditado: uma andorinha só não faz verão. Por isso, muito eu tenho a agradecer à aqueles que contribuíram de alguma forma com este trabalho. Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, fonte de toda forma inteligente na Terra e meu grande sustento em todos os momentos da vida. Sem Ele presente na minha vida, eu não seria absolutamente nada. À minha amada e guerreira mãe Rosenite Rodrigues, que sempre soube mostra- me os caminhos certos a seguir na minha vida, me proporcionando educação de qualidade apoio nos momentos difíceis e por todos os sacrifícios para que eu pudesse concluir esta etapa da minha vida. À minha prima Luciana Domingues, que sempre este presente ao meu lado ao longo desses 22 anos de minha vida me apoiando e incentivando e por quem eu tenho tanto carinho, respeito e admiração. À minha professora e orientadora Larissa Leda, pela paciência que teve comigo e por ter me ajudado a aprofundar cada vez mais este trabalho. Sem ela, com toda a certeza, eu não teria conseguido realizar essa monografia. À jornalista Roberta Gomes que me passou todas as informações sobre o Twitter do Portal Imirante.com. Agradeço muito a sua colaboração. Sua ajuda foi de extrema importância para a conclusão deste trabalho. Aos professores Francisco Gonçalves, Geder Luis Parzianello, Esther Marques, Paulo Pellegrini, Eveline Cunha, Soares Júnior e Jamil Marques pelas maravilhosas aulas que serviram como base para este estudo.
  • 7. À Poliana Ribeiro, a quem eu devo minha eterna gratidão por ter me ajudado com a revisão deste trabalho e por ter me preparado para o mercado de trabalho, me ensinando lições valiosas que eu vou levar para o resto da minha vida. Às locutoras da Rádio Universidade Fm Gisa Franco, Maira Nogueira e Val Monteiro por terem me ajudando em minha trajetória na 106,9, me dando importantes aulas sobre locução. Aos meus grandes amigos e companheiros de Radio Universidade: Amy Loren, Andrea Barros, Anna Paula, Anna Tygrezza, Cristiany Pires, Emilly Castelo Branco, Frank Dyone, Henrique Gomes, Liliane Cutrim, Marcos Belfort, Pollyana Escalante, Rayssa Oliveira e Verislene Alves. Eu não chegaria até aqui se eu não contasse com as amizades de Elizabeth Bezerra, Pedro Aragão e, principalmente, Wyllyane Rayana, que foi quem me ajudou também na normatização e revisão desse trabalho. A amizade de vocês é muito importante para mim. E é claro que eu não poderia esquecer os meus grandes e eternos amigos do 3º anos do Ensino Médio que me proporcionaram infinitas horas de alegria e que até hoje ainda me proporcionam essas felicidades: Charles Romualdo, Isis Barros, Thalles França, Carina Camara, Ludymilla Soeiro, Samara Costa e Grazyelle Carneiro. Adoro Vocês. A todos vocês, meu MUITO OBRIGADO.
  • 8. “A tecnologia que inunda o mundo de hoje, e a ciência que a serviu, não o invadem apenas na parte exterior do homem, mas ainda os seus domínios interiores. Assim o que daí foi expulso não deixou apenas o vazio do que o preenchia, mas substituiu-o pelo que marcasse a sua presença. O mais assinalável dessa presença é, por exemplo, um computador. Mas será a obra transaccionável por um parafuso?” Vergílio António Ferreira
  • 9. RESUMO Este trabalho objetiva analisar de forma pormenorizada o Twitter como um suporte para a produção do conteúdo jornalístico no ciberespaço, tomando como base principalmente o Twitter do Portal Imirante.com (@imirante). Tendo em vista as características e especificidades dessa ferramenta, além das particularidades do webjornalismo, o trabalho faz uma abordagem a respeito das rotinas de produção jornalística no Twitter, analisando principalmente as notícias postadas na ferramenta, a frequência que ocorrem essas postagens e de que forma elas ocorrem, de acordo com os tweets publicizados. Para isso, foi necessário o trabalho com alguns conceitos como o de Mídias Sociais, Interação Mediada por Computador e Ciberespaço. Nossos objetivos alcançam a análise da forma como dá-se a influencia do Twitter na produção jornalística da Internet. Palavras-chave: Twitter, Jornalismo, Ciberespaço
  • 10. ABSTRACT This study aims to analyze in detail the Twitter as a support for the production of the journalistic content in the cyberspace, using as ground the Twitter of Portal Imirante.com (@imirante). In view of the characteristic and specificities of this appliance, beyond the particularities of web journalism, this study does an approach about the routines of journalistic production on Twitter, considering especially the news that are posted in the appliance, how these posts occur and how often they occur, according to the tweets that are publicized. To this end, some concepts were worked out during this study as Social Media, Computer-Mediated Interaction and Cyberspace. Our goals reach the analysis of how the Twitter influences the journalistic production on the Internet. Key-words: Twitter, Journalism, Cyberspace
  • 11. LISTADE FIGURAS FIGURA 1: Modelo tradicional da Pirâmide Invertida .................................... 47 FIGURA 2: Modelo da Pirâmide Deitada ........................................................... 48 FIGURA 3: Primeira versão do Twitter no ano de 2006 .................................... 58 FIGURA 4: Postagens do Twitter marcadas como favoritas .............................. 61 FIGURA 5: Primeira mudança do Twitter .......................................................... 63 FIGURA 6: Segunda página inicial do Twitter ................................................... 64 FIGURA 7: Página atual do Twitter ................................................................... 64 FIGURA 8: Página atual do Twitter do Portal 65 Imirante.com .............................. FIGURA 9: Gráfico que mostra crescimento do Twitter .................................... 66 FIGURA 10: Página do Twitter mostrando manchete com link ......................... 72 FIGURA 11: Página do Portal Imirante.com referente à postagem do Twitter .. 73 FIGURA 12: Postagem do Twitter direcionando para o Portal Na Mira ............ 74 FIGURA 13: Página do “Na Mira” referente à postagem do Twitter ................. 74 FIGURA 14: Exemplo de postagem mais informal ............................................ 75 FIGURA 15: Atualização do Twitter com várias postagens de uma só vez ........ 77 FIGURA 16: Participação na produção de conteúdo pelo Twitter ..................... 78 SUMÁRIO
  • 12. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................... 14 2 NOVAS TECNOLOGIAS E MÍDIAS SOCIAIS ..................................... 18 2.1 Novas tecnologias e alteração na sociabilidade .......................................... 18 2.2 As Comunidades Virtuais ou Redes Sociais ............................................... 24 2.3 Alterações nos processos de produção e transmissão das informações ... 26 2.4 As Mídias Sociais .......................................................................................... 30 2.4.1 Participação do público na produção de conteúdo no ciberespaço .......... 30 2.4.2 Formação das Mídias Sociais .................................................................... 34 3 JORNALISMO NA INTERNET .................................................................. 37 3.1 As fases do jornalismo na internet .............................................................. 39 3.1.1 Um pouco da história da internet .............................................................. 39 3.1.2 Fase Transpositiva ...................................................................................... 43 3.1.3 Fase Metafórica .......................................................................................... 44 3.1.3 Fase Multimidiática ................................................................................... 44 3.2 Características do jornalismo na internet ................................................. 45 3.2.1 Hipertextualidade ....................................................................................... 46 3.2.2 Interatividade ............................................................................................. 48 3.2.3 Multimidialidade ........................................................................................ 50 3.2.4 Personalização ........................................................................................... 51 3.2.5 Memória ...................................................................................................... 52 3.2.6 Atualização Contínua ................................................................................. 53 4 O TWITTER .................................................................................................... 55 4.1 O serviço de microblogging ......................................................................... 55 4.2 História do Twitter ....................................................................................... 57 4.3 Funcionamento do Twitter .......................................................................... 59 4.4 Números do Twitter ..................................................................................... 65 5 O TWITTER COMO UMA FERRAMENTA DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA NO CIBERESPAÇO 67 5.1 Estudo de caso: O Twitter do Portal Imirante.com (@imirante) ............ 71 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 80
  • 13. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 83 APÊNDICE ......................................................................................................... 87 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Com o crescente avanço e a popularização da Internet é possível observar, a cada dia, o surgimento de Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTCI), tecnologias essas que dinamizam o processo de troca de conteúdos dentro do ciberespaço.
  • 14. É interessante observar que não são apenas as produções realizadas dentro do ciberespaço que ganham uma nova configuração graças ao surgimento dessas novas tecnologias. A sociedade também é fortemente influenciada por essas novas “tendências” que modificam a relação que as pessoas mantêm com o conteúdo que é disponibilizado ciberespaço. Recuero (2009a) também discute sobre as influencias que a Internet e as novas tecnologias digitais causam na vida das pessoas. Segundo a autora, tais tecnologias digitais que surgem diariamente são responsáveis por provocar mudanças consideráveis na sociedade em geral, mudanças essas que se desenvolvem de forma bastante rápida. Por conta dessa velocidade com que ocorre essas mudanças, a natureza, os motivos e os possíveis desdobramentos do impacto das novas tecnologias na sociedade são processos extremamente complexos. Diante desse quadro, Recuero considera que é impossível resistir à tentação de um determinismo tecnológico no qual a tecnologia é que define o modo de organização de uma sociedade, onde as transformações sociais estão diretamente ligadas às transformações tecnológicas da qual a sociedade se apropria para se desenvolver e se manter. É nesse contexto de mudanças que surge então a chamada Sociedade da Informação, onde o contínuo desenvolvimento das Novas Tecnologias de Comunicação e Informação refletiu principalmente sob os modos de ser, agir, se relacionar e existir dos indivíduos dessa sociedade, propondo dessa forma novos modelos de comunicação e novos parâmetros de sociabilidade. Nessa perspectiva, pode-se observar que também há uma alteração nos processos de produção e difusão das informações no ciberespaço. As informações agora passaram a ser produzidas em uma velocidade nunca vista anteriormente e difundidas em uma velocidade maior ainda. As consequências dessa mudança também podem ser facilmente percebidas na produção jornalística. Para Crucianelli (2010) o impacto dessas novas ferramentas nas produções dos conteúdos jornalísticos no ciberespaço tem sido muito evidente, pois elas têm propiciado a abertura de novos leques de atuação para o profissional dessa área. Segundo a autora, as novas tecnologias, além de estar causando o surgimento de novos espaços para a prática jornalística, têm influenciado diretamente o modo de
  • 15. produção da notícia no ciberespaço. A grande quantidade de softwares, aplicativos e recursos que a cada dia são disponibilizados leva também a uma mudança de comportamento do próprio jornalista que trabalha com essas novas ferramentas, pois é de extrema importância que este profissional conheça todas as funcionalidades que as Novas Tecnologias de Comunicação e Informação para que este as use de forma eficiente no momento da produção e difusão do conteúdo jornalístico no ciberespaço. O Twitter é um exemplo de uma dessas novas tecnologias que rapidamente tornou-se bastante popular entre os mais diversos segmentos da sociedade, como veremos no decorrer deste trabalho. Criado por Evan Willians, Biz Stone e Jack Dorsey, o serviço é prático e ágil e permitiu, ao longo dos quatro anos de existência, diferentes apropriações. Quando o Twitter foi criado, por exemplo, utilizava como slogan a pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?) que estava diretamente relacionado com conteúdo que os usuários postavam. Agora com o slogan “What´s happening? (O que está acontecendo?) o Twitter passou a ter um caráter mais informacional, sendo utilizado pelas empresas jornalísticas para este fim. A partir de então, o Twitter vem se consolidando como uma grande ferramenta para o uso jornalístico, sendo cada vez mais usado pelos profissionais da área que desejam transmitir o conteúdo jornalístico dentro do ciberespaço de forma mais dinâmica em virtude da própria funcionalidade da ferramenta e dos recursos que ela disponibiliza. A rotina de produção do conteúdo jornalístico no Twitter deve levar em consideração não apenas as características do webjornalismo, mas também as especificidades da ferramenta. O principal objetivo deste trabalho é justamente analisar de que forma dá-se a produção jornalística nesse serviço. Para tal fim, é de extrema importância que antes sejam feitas algumas considerações iniciais que foram divididas nos capítulos desse trabalho. No capítulo 1, faz-se uma abordagem a respeito do surgimento das Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, o impacto destes dispositivos na sociedade e o reflexo desse impacto nos modos de pensar, agir e de se relacionar dos indivíduos. A chamada Sociedade em Rede e o modo de organização desta sociedade, tomando como base as concepções de Castells (2003), também serão discutidos durante o referido capitulo.
  • 16. Baseados nos conceitos de Alex Primo (2007) à respeito da interação mediada por computador, nessa primeira parte do trabalho busca-se também analisar de que forma dá-se essa interação e em quais aspectos ela se distingue das formas de interação convencionais. Como uma das consequências das novas formas de interação causadas pelo impacto das novas tecnologias observa-se o surgimento das chamadas Comunidades Virtuais que, baseados nas ideias de Raquel Recuero (2009), também serão estudados nessa primeira parte. Tudo isso, dentro das ideias sobre o ciberespaço, defendidas por Margaret Wertheim (2001). Ainda neste capítulo, pretende-se fazer uma incursão a respeito das Mídias Sociais e das Redes Sociais debruçando-se principalmente sobre as principais distinções e semelhanças entre elas e também de que forma o Twitter pode ser enquadrado em uma dessas duas categorias. Já o capítulo 2 debruça-se sobre as características e especificidades do Jornalismo na Internet. Tendo como suporte o pensamento de autores como Marcos Palácios (2003), Elias Machado (2006), Luciana Mielniczuk (2001) e J.B.Pinho (2003), primeiramente será feita uma análise sobre a evolução do webjornalismo ao longo do tempo, passando pelas fases transpositiva, metafórica até chega na fase multimidiática que é aquela em que o webjornalismo se encontra atualmente, não deixando de mencionar também os recursos que caracterizavam cada fase descrita acima. Ainda nesse capítulo será feita uma abordagem detalhada sobre as principais características do webjornalismo nessa terceira fase (hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, personalização, atualização e memória) e como tais características influenciam na rotina de produção do jornalismo no ambiente virtual. Pretende-se também debruçar-se sobre o modo como as características do webjornalismo manifestam-se no Twitter. O capítulo 3 dedica-se a esmiuçar de forma profunda o funcionamento do Twitter. Primeiramente faz-se um resgate histórico sobre a ferramenta, descrevendo o cenário no qual nasceu. Discute-se nesse capítulo também as funcionalidades da ferramenta, debruçando-se sobre sua evolução ao longo do tempo e os novos recursos que foram sendo disponibilizado acompanhando cada mudança.
  • 17. Já o 4 e último capítulo do trabalho analisa esmiuçadamente de que forma dá-se a produção jornalística voltada para o Twitter. Tomando como objeto de estudo o Twitter do Portal Imirante.com (@imirante) nesse capítulo será abordado as rotinas de produção jornalísticas nesse suporte, analisando também de que maneira o processo comunicacional e o conteúdo jornalístico têm sofrido mudanças por contas dos recursos da ferramenta. Utilizando principalmente as idéias de pesquisadoras como Gabriela Zago (2008) e Magaly Prado (2010) pretende-se discorrer sobre a forma como a notícia é produzida no Twitter do Portal Imirante.com. Para isso, foram analisados vários tweets publicizados pela ferramenta ao longo dos meses de Maio e Junho com o objetivo de entender principalmente como acontece a produção desses tweets, quem realiza a postagem deles e com que frequência ocorrem essas postagens. 2 NOVAS TECNOLOGIAS E MÍDIAS SOCIAIS 2.1 Novas tecnologias e alteração na sociabilidade Com o crescente avanço da Internet, a cada dia é possível observar o surgimento das chamadas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação que contribuem diretamente para a dinamização dos processos de produção e de transmissão de
  • 18. conteúdos dentro do ciberespaço1. O advento da comunicação mediada pelo computador tem permitido que haja uma potencialização da capacidade de interação entre os indivíduos, ocasionando com isso o surgimento de novos padrões de sociabilidade. A necessidade da interação e da sociabilidade é uma característica inerente a todo e qualquer ser humano. Dentro do ciberespaço, essa característica potencializa-se ainda mais. As condições para o estabelecimento do cenário como vemos hoje começa a se desenvolver a partir do século XV, com a invenção da imprensa por Gutemberg, e mais adiante nos séculos XIX e XX, com a consolidação dos meios de comunicação eletrônicos como o rádio e a televisão. Com o desenvolvimento técnico de cada suporte, a informação passou a ser processada e transmitida de maneira mais rápida graças aos recursos que foram sendo gradativamente incrementados, contribuindo para a aproximação dos indivíduos de diferentes lugares físicos e o estreitamento dos laços sociais que se formam. O impacto dos novos dispositivos comunicacionais na sociedade refletiu principalmente nos modos de ser, agir e de se relacionar dos indivíduos, propondo, consequentemente, novas formas de interação social que nesse caso passam a ser chamadas de interação mediada. Tal impacto traduziu-se principalmente no fato de que os indivíduos começaram a utilizar esses novos dispositivos para produzir, transmitir e adquirir as informações, ao invés das fontes tradicionais que eram os indivíduos com quem se relacionavam no dia-a-dia. Nessa perspectiva, a noção de interatividade assume novos contornos, à luz desta interação mediada pelas novas ferramentas de comunicação e informação. (THOMPSON apud MARCELO, 2001. p.41). O desenvolvimento dos dispositivos comunicacionais propõe novas formas e modelos de interação. Nessa perspectiva, Primo (2007) chama atenção para o fato de que nesse processo, a interação passa então a dissociar-se do ambiente físico para estender-se no espaço virtual, proporcionando, dessa forma, uma ação à distância. 1 O termo “Ciberespaço foi citado pela primeira vez em 1984 pelo escritor norte americano Wiliam Gibson no livro de ficção científica Neuromante e depois aplicado em larga escala pelos criadores e usuários das redes digitais. Para Pierre Lévy (1999, p. 92) o ciberespaço pode ser definido como sendo um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial das memórias dos computadores. Em outras palavras, pode-se dizer que o ciberespaço constitui-se como uma virtualização da realidade, onde as interações sociais são ainda mais intensificadas.
  • 19. Como consequência, surge então o que o autor conceitua como Interação Mediada, em que as formas de comunicação entre os indivíduos dão-se por intermédio de algum suporte técnico. Segundo Primo: Nas interações mediadas, como em cartas, ou em conversas telefônicas, o diálogo ocorre, mas remotamente no espaço e/ou tempo. Por serem mediadas por um meio técnico, decorre um estreitamento das deixas simbólicas possíveis. Por exemplo, as deixas simbólicas associadas à presença física não estão presentes via carta ou telefone, ficando acentuadas as diferenças particulares da escrita e da voz. (PRIMO, 2007, p. 20). Nessa perspectiva, o autor estabelece duas formas de interação: a interação reativa e a interação mútua. A interação reativa está diretamente relacionada com a previsibilidade e com a automatização das trocas, onde cada clique na tela do computador, por exemplo, corresponde a uma função previamente estabelecida. Neste caso, a interação reativa tem seu funcionamento baseado na relação de um certo estímulo e de uma determinada resposta. Supõe-se que nessa forma de interação, um mesmo estímulo acarretará a mesma resposta cada vez que se repetir a interação. Já na interação mútua, o desenvolvimento dos processos interativos é negociado entre os próprios usuários, onde é estabelecido um diálogo dentro do ambiente virtual. Essa forma de interação é caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação, em que cada usuário participa diretamente da construção do diálogo, afetando-se mutuamente. Ainda para o autor, a interação mútua constitui-se através de ações interdependentes, ou seja, cada usuário influencia o comportamento do outro, e também tem seu comportamento influenciado. Isso também ocorre entre os interagentes e seu ambiente. Dessa maneira, a cada evento comunicativo, a relação se transforma. Além da interação mediada, Primo cita também a interação do tipo quase mediada também como um tipo de processo interativo. Como esse tipo de interação apresenta um caráter monológico, ou seja, o fluxo de comunicação dá-se em sentido único, dos produtores para um número indefinido de receptores potenciais, não existe uma reciprocidade da mesma forma que é possível ser observada nas interações reativa e mútua. No entanto, o autor considera que ainda sim a interação quase mediada deve ser considerada um processo interativo, pois há uma troca de informações.
  • 20. Apesar de serem complexas as relações que são estabelecidas entre os usuários por meio desses tipos de interações, Primo considera que um estudo mais aprofundado a respeito dos reais impactos da interação mediada com computador sob a sociabilidade dos indivíduos deve levar em consideração uma série de outros aspectos. Ao estudar-se interação mediada por computador em contextos que vão além da mera transmissão de informações (como na educação à distância), tais discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a interação a aspectos meramente tecnológicos, em qualquer situação interativa, é desprezar a complexidade do processo de interação mediada. É preciso que se estude não apenas a interação mediada por computador, mas a interação através da máquina. (PRIMO, 2007, p. 30-31) O fato é que com o crescente avanço dessas tecnologias, o que se pode observar é que cada dia novos paradigmas são criados, outros são modificados e outros deixam de existir completamente. A constante evolução dos sistemas digitais, por exemplo, vem causando profundas mudanças no modo como os indivíduos se relacionam. Nessa perspectiva, Ethevaldo Siqueira (apud PRADO, 2010. p.35) traçou um panorama das principais alterações pelas quais a sociedade tem passado nos últimos tempos, enumerando 13 mudanças de paradigmas desde o final do século XX e neste início de século XXI. Tais mudanças concentram-se no âmbito: do analógico ao digital; do espaço físico ao virtual, na medida em que os processos de interação social deixaram ser face a face e passaram a se concentrar também no ciberespaço; do átomo a bits; dos serviços físicos aos móveis, na medida em que o Twitter, por exemplo, deixou de ser acessado apenas nos computadores e notebooks convencionais e passou a fazer parte também de plataformas móveis como celulares, iPhones, iPads e BlackBerries; dos procedimentos coletivos aos pessoais, na medida em que há uma certa “individualização” dentro da rede; da banda estreita à banda larga; dos equipamentos dedicados à multifuncionais; da baixa a alta velocidade de transmissão; da comunidade por fio à sem fio; do monopólio estatal ao privado; do protocolo fechado ao aberto; dos processos unidirecionais aos interativos; e por fim da comunicação de círculos a comunicação de pacotes. Como pode ser observado, as novas tecnologias de comunicação e informação deram uma nova configuração e dinâmica para os processos de interação social. A sociedade passou a ser fortemente influenciada por essas tecnologias, ao passo em que tais tecnologias surgem devido às necessidades da própria sociedade que foram surgindo com o passar do tempo.
  • 21. Esta ideia é compartilhada por Pierre Lévy (1999). De acordo com o autor, as relações que agora se estabelecem nessa nova sociedade são criadas principalmente entre os atores sociais que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas essas tecnologias emergentes em benefício próprio. Por outro lado observa-se que o impacto dessas novas ferramentas na sociedade também pode conduzir a um efeito completamente contrário ao citado acima, culminando em um processo de isolamento social dentro da própria rede. Nestes casos o individuo pode abandonar as interações sociais face a face da vida real para voltar-se única e exclusivamente para as relações mediadas por computador, caracterizando o que Castells (2003) chama de individualismo em rede. Para Castells, esse individualismo em rede está intimamente relacionado com um padrão social e não com o acúmulo de pessoas isoladas. Nessa perspectiva, o autor entende que o desenvolvimento tecnológico pode aumentar as possibilidades do individualismo em rede e se tornar a forma dominante de sociabilidade. O papel mais importante da Internet na estruturação das relações sociais é sua contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseada no individualismo... Cada vez mais, as pessoas estão organizadas não simplesmente em redes sociais, mas em redes sociais mediadas por computador. Assim, não é a Internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como forma dominante de sociabilidade. (CASTELLS, 2003, p.109). De um modo ou de outro, novas relações emergiram na sociedade a partir do contínuo desenvolvimento dessas tecnologias2. O reflexo de tudo isso pode ser claramente observado nas interações sociais que se estabelecem a partir de agora, grande parte delas por mediações de aparatos tecnológicos. Nesta nova sociedade, o conceito de distância dentro do ciberespaço, por exemplo, foi totalmente repensado. A reformulação do conceito de distância dá-se principalmente em virtude da própria natureza do ciberespaço. Para Margareth Wertheim (2001) o ciberespaço cresce de maneira exponencial, pois a cada dia surge um novo site, que tem a possibilidade de ligar-se com milhões de outros já existentes formando, dessa maneira uma grande rede 2 A pesar da importância da discussão, o trabalho não se propõe especificamente a debruçar-se sobre os impactos das novas tecnologias na formas de interação social. Mais informações sobre esse assunto podem ser encontradas no livro “A Galáxia da Internet”, de Manuel Castells e também nos artigos disponíveis nos links: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1533-1.pdf> e <http://www.bocc.uff.br/pag/marcelo-ana-sofia-Internet-sociabilidade.pdf.>
  • 22. sem limitações de espaço físico. Vale ressaltar que, dentro do ambiente virtual, as limitações físicas são inexistentes. A afirmação de que o ciberespaço não é feito de partículas e forças físicas pode ser óbvia, mas é também revolucionária. Por não estar ontologicamente enraizado nesses fenômenos o ciberespaço não está sujeito às leis da física e, portanto, não está preso pelas limitações dessas leis. Em particular, esse novo espaço não está contido em nenhum complexo hiperespacial dos físicos. Seja qual for o número de dimensões que os físicos acrescentem às suas equações, o ciberespaço continuará “fora” de todas elas. Com o ciberespaço, descobrimos um “lugar” além do hiperespaço. (WERTHEIM, 2001, p. 167) Essa mesma ideia do crescimento exponencial do ciberespaço também é discutida por Sataella (apud PRADO p. 182) ao afirmar que esse crescimento dá-se também graças as comunicações interativas que se estabelecem entre os próprios usuários da rede (interação dialógica) e também entre os usuários e os computadores (interação reativa) Ironicamente, Wertheim considera ainda o fato de que o ciberespaço, apesar de ser um subproduto da tecnologia física, desenvolvido a partir dos chips de computadores e outras tecnologias derivadas desses produtos, “não está tampouco confinado à concepção puramente fisicalista do real”. (WERTHEIM, 2001, p.167). Apesar do ciberespaço não ser dotado de propriedades físicas, isso não implicaria dizer, segundo a autora, que esse espaço na Internet não seja um lugar real, uma vez que é dentro do ciberespaço que ocorrem alguns processos de interação social, que influenciam diretamente o comportamento dos indivíduos fora do ambiente virtual. Nesse sentido, podemos ver o ciberespaço como uma espécie de res cogitans3 eletrônica, um novo espaço para o exercício de um daqueles aspectos da humanidade que não encontrava morada na imagem puramente fisicalista do mundo. Em suma, num determinado sentido, o ciberespaço se tornou um novo domínio para a mente. Em particular, tornou-se um novo domínio para a imaginação; e até, como muitos ciberentusiastas afirmam agora, um novo domínio para o “eu”. (WERTHEIM, 2001, p. 170) Nessa perspectiva, o ciberespaço possibilita que pessoas possam criar, coletivamente ou individualmente, um mundo de experiências diferentes daquelas observadas fora do ambiente virtual. Wertheim considera que nesse mundo, o indivíduo pode não apenas expressar seus próprios desejos, como também pode compartilhar de outras experiências de indivíduos interligados na rede. 3 Para Reneé Descartes, res cogitans significa “coisa pensante”, ou “sujeito pensante”.
  • 23. O fato é que o ciberespaço está mudando drasticamente as relações sociais que se estabelecem a partir de agora. As interações feitas através do computador estão condicionando o surgimento de grupos sociais na Internet com características comunitárias. Tais grupos seriam capazes de estabelecer novos padrões de sociabilidade e ainda criar fortes laços sociais, justamente por causa da “proximidade” que o computador disponibiliza para os usuários. Como consequência de todo esse processo, observa-se a ascensão de novos padrões de interação social, padrões esses que passaram a ser mediados principalmente pelo computador. Graças às novas ferramentas de comunicação emergentes do ciberespaço, a sociedade está experimentando mudanças nos seus mais diversos segmentos. Recuero (2009a) discute sobre o papel transformador que as novas tecnologias exercem sob a sociedade. Segundo ela: As tecnologias digitais ocupam um papel central nas profundas mudanças experimentais em todos os aspectos da vida social. A natureza, motivos, prováveis e possíveis desdobramentos dessas alterações por sua vez, são extremamente complexos, e a velocidade dos processos tem sido estonteante. Diante de um tal quadro, é impossível resistir à tentação do determinismo tecnológico, que traduz em respostas encantadoramente simples a máxima de que a tecnologia define a sociedade. (RECUEROa, 2009, p.12) 2.2 As Comunidades Virtuais ou Redes Sociais Como consequência dos novos padrões, podemos observar o surgimento das chamadas Comunidades Virtuais ou Redes Sociais. Tais comunidades podem ser definidas como um grupo de pessoas que possuem algum nível de relação ou interesse mútuo e estabelecem laços sociais por meio da mediação do computador. Essa definição acabou ganhando um novo significado dentro do ciberespaço, o que já foi chamado de relationship sites (sites de relacionamento) e hoje são conhecidos como Redes Sociais. Rheingold também faz uma definição do que seriam essas Comunidades Virtuais. Segundo ele: As Comunidades Virtuais são agregadores sociais que surgem da rede, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações sociais no ciberespaço. (RHEINGOLD, apud RECUERO, 2009a, p. 137)
  • 24. Nessa perspectiva, os principais elementos que formam as comunidades virtuais, segundo o autor, seriam as discussões públicas, as pessoas que se encontram e reencontram através da Internet, o tempo e o sentimento. “Esses elementos, combinados através do ciberespaço, poderiam ser formadores de relações sociais, constituindo-se em comunidades” (RECUERO, 2009a, p. 137). A formação das comunidades virtuais está diretamente relacionada também com a capacidade de interconexão de redes sociais de todos os tipos, que contribuíram dessa maneira para a reinvenção dos processos interativos da sociedade. (CASTELLS, 2003). Ainda para Manuel Castells (2003, p.107), a grande transformação da sociabilidade nas sociedades complexas ocorreu justamente devido a substituição de comunidades espaciais, isto é, baseadas em um espaço geográfico, por redes como formas fundamentais de sociabilidade. A própria dinâmica vivida pela sociedade atualmente também favorece a formação das comunidades virtuais. Com o contínuo avanço das ferramentas de comunicação, as pessoas estariam buscando novas possibilidades de interação umas com as outras e formando tais comunidades, uma vez que, por conta da velocidade com que se processam todas as informações do dia a dia, os indivíduos já não conseguem mais encontrar espaços para estabeleceram, face a face, qualquer tipo de interação. Por isso, a necessidade de buscar novas formas de sociabilidade dentro do ciberespaço. Como exemplos de comunidades virtuais podemos citar o Orkut4, Facebook5 e o MySpace6, por exemplo. A falta de tempo, o medo e mesmo o declínio dos terceiros lugares7 podem ser conectados ao isolamento das pessoas, ao atomismo e a efemeridade das relações sociais. No entanto o aumento do uso de ferramentas de comunicação mediadas por computador poderia representar, justamente, um 4 O Orkut foi criado no dia 24 de Janeiro de 2004 pelo engenheiro turco Orkut Büyükkökten. Trata-se de uma rede social gerenciada pelo Google que tem o objetivo de aglutinar pessoas e com isso estabelecer uma rede de relacionamentos. 5 O Facebook é uma rede social criada em 2006 e, assim como o Orkut que tem o objetivo reunir pessoas para que elas possam manter uma interação no ciberespaço. Hoje o Facebook possui mais de 400 milhões de usuários ativos no mundo. 6 Criado em 2003, o MySpace também é uma rede social que possui foco no compartilhamento de conteúdos como fotos, vídeos e outros arquivos multimídia. 7 De acordo com a idéia de Oldenburg (apud RECUERO, p.136) existem três lugares que são de grande importância para o indivíduo: O lar, que consiste no primeiro lugar, onde está a família; o trabalho que consiste no segundo lugar; e os parques e espaços de lazer, que representam o terceiro lugar, aqueles onde os indivíduos vão para construir laços sociais.
  • 25. esforço no sentido contrário, em direção ao social [...] Através do advento da comunicação mediada por computador e sua influência na sociedade e na vida cotidiana, as pessoas estariam buscando novas formas de conectar-se, estabelecer relações e formar comunidades já que, por conta da violência e do ritmo da vida, não conseguem encontrar espaços de interação social. (RECUERO, 2009a, p. 136) É interessante destacar que as comunidades virtuais na maioria das vezes formam-se em torno de assuntos comuns entre os próprios integrantes desta rede, independendo de fronteiras ou demarcações territoriais físicas, seguindo sempre um padrão. Segundo Recuero (2009a, p.142), “esses padrões seriam referentes ao modo de relação entre os atores da rede e auxiliam o cientista a encontrar quem pertence e quem não pertence a um determinado grupo”. Algumas dessas comunidades virtuais tiveram sua origem a partir do encontro virtual de pessoas com interesses próximos; outras surgiram de comunidades offline, ou seja, desconectadas que passaram a utilizar a rede para expandir e otimizar suas ações. Nas comunidades virtuais pressupõe-se uma relação entre os seus membros integrantes. Nesses espaços, os indivíduos estabelecem interações uns com os outros, independentemente do lugar onde essas pessoas se encontram, uma vez que os aparatos tecnológicos utilizados nessa interação possibilitam que haja essa aproximação entre as pessoas, anulando completamente a distância que existe entre esses usuários. Vale destacar também que as trocas de informações entre esses usuários são feitas a uma velocidade estonteante. Uma das principais características das comunidades virtuais é a desterritorialização, ou seja, a inexistência de um espaço físico para o estabelecimento das relações sócias entre os usuários. Nessa perspectiva, Recuero discute: Assim, o território da comunidade pode estar associado a algum espaço institucionalizado no próprio espaço virtual ou mesmo restrito a um elemento de identificação. Um canal de chat, por exemplo, pode constituir um espaço onde as interações são mantidas. O mesmo pode acontecer com um conjunto de weblogs. A compreensão de um espaço onde as interações podem ser travadas é, assim, fundamental para que os atores saibam onde interagir. (RECUERO, 2009a, p. 144) Muitas comunidades virtuais também podem estender sua existência para fora da rede. Isso garante que os vínculos e os interesses do grupo que se formaram dentro do ciberespaço sejam propagados para além do ambiente virtual, o que faz com que seja aprimorado o trabalho desenvolvido e, consequentemente, as conquistas dessas comunidades.
  • 26. 2.3 Alterações nos processos de produção e transmissão das informações O impacto de novas tecnologias em nossa sociedade não é assunto novo. As mudanças que ela tem provocado nos diversos segmentos da sociedade são as mais significativas possíveis. Diante dessas transformações, o que se percebe é que está havendo uma reorganização da sociedade em torno do produto que é fortemente influenciado pelo contínuo desenvolvimento das novas tecnologias, que é a informação. Nessa perspectiva, a sociedade passou a produzir, consumir e transmitir a informação em uma velocidade nunca vista até agora em nenhum outro momento da história. Dentro das próprias comunidades virtuais já é possível observar uma nova dinâmica no processo de produção e transmissão das informações. Para Castells (2003) tais comunidades possibilitam o surgimento de uma comunicação livre e horizontal, sem nenhuma forma de censura ou dominação pelos grandes conglomerados midiáticos A partir dessas alterações, é possível observar claramente o surgimento da chamada Sociedade da Informação, como passou a ser denominadas por vários autores. Esta pode ser mais bem compreendida a partir de um contexto de mudanças profundas, no qual o contínuo desenvolvimento tecnológico reconfigurou drasticamente o modo de ser, agir, se relacionar e existir dos indivíduos e, principalmente, propôs novos modelos de comunicação. Ao longo do tempo, a informação deixou ser um processo local para se apresentar em âmbito global. Reconfigurou o tempo e o espaço, acelerando as práticas e encurtando as distâncias. Tornou possível um novo tipo de sociabilidade, na qual a presença física já não é essencial para que haja uma relação, sendo possível interagir com quem quiser, a hora que quiser e ser participativo dentro da sociedade por meio de um espaço virtual. (MORAES; KOHN. 2007, p. 4) Nesta nova sociedade, os paradigmas e conceitos que antes eram utilizados para definir a comunicação de massa sofreram modificações com o advento dessas novas tecnologias com o intuito de atender as crescentes demandas desta sociedade cada vez mais ávida por informações em tempo real8. É interessante observar que a introdução das novas tecnologias no cotidiano das pessoas abriu um mundo novo de oportunidades, principalmente no que diz respeito à produção e difusão de conteúdo. Dentro dessas oportunidades pode-se destacar a 8 Informação em tempo real, neste caso, refere-se à velocidade com que as informações são processadas e transmitidas para o público em geral.
  • 27. “possibilidade de acessar informações à distância, navegar na informação sem limitação de espaço ou tempo, combinar informações reconstruindo o conteúdo, acesso imediato a conteúdos com custos quase inexistentes ao veículo utilizado”. (LIMA, 2000. p.43). Outra conseqüência do desenvolvimento dessas novas tecnologias de comunicação e informação está diretamente relacionada com a alteração das percepções de tempo e espaço. Hoje com a gama de aparatos tecnológicos que podem ser facilmente acessados pelo homem, os processos de produção e circulação das informações passaram a acontecer em uma velocidade nunca vista anteriormente alterando, dessa forma, os paradigmas que antes eram utilizados para definir as noções de tempo. Em conseqüência desse fenômeno temos a possibilidade real de conexão entre os indivíduos de diferentes partes do mundo por meio da informação. Dentro do ciberespaço, as noções de tempo e espaço ganham uma nova configuração, uma vez que várias coisas acontecem no mesmo período e em um curto espaço de tempo. No ambiente virtual, devido à velocidade com que as informações são processadas e transmitidas, existe uma conexão maior entre os produtores da informação e o público para quem essa informação é destinada e, consequentemente, um maior feedback desse público, o que leva a uma ilusão de proximidade entre eles. Essa velocidade com que as informações são processadas também possui consequências diretas nas noções de tempo. No ciberespaço as informações são processadas em uma velocidade muito superior em relação a dos processos convencionais da vida real e por essa razão realiza-se mais coisas de maneira bem mais rápida dentro do ambiente virtual. Ao enviar um e-mail, por exemplo, um usuário gasta muito menos tempo do que enviando uma carta para um destinatário. A partir dessas alterações de espaço e tempo causadas pelo contínuo avanço dos novos dispositivos de comunicação podemos nos aproximar do que McLuhan (apud LIMA, 2000) conceituou de Aldeia Global. Com a grande massificação das tecnologias comunicacionais, temos a possibilidade de estender as nossas relações em escala global, permitindo o estabelecimento de interações com indivíduos localizados em espaços geográficos distintos. O planeta contrai-se numa única comunidade, global, cujos elementos comunicam entre si, à distância, através da mediação eletrônica [...] Esta nova comunidade emergente não se caracteriza pela passividade. Os membros desta nova comunidade partilham uma experiência única: podem
  • 28. trocar entre si pontos de vista multissensoriais, como se, de fato, vivessem na mesma aldeia. Os media da Era Eletrônica assumem a árdua tarefa de conduzir o Homem a representar o papel de protagonista no “teatro global” em que vive... (MARCELO, 2001, p. 72) Ainda segundo McLuhan (apud. MARCELO, 2001, p. 70), a comunicação atual caracteriza-se, na sua essência, por recorrer a uma escala global. A ligação às redes telemáticas permite-nos estar on-line. O planeta torna-se “transparente”, proporcionando-nos “ver” muito além do que os nossos olhos alcançam, o que constitui uma experiência exorbitante da realidade. O fato é que estamos vivenciando a consolidação de uma sociedade no qual os processos de produção e transmissão das informações deixaram de acontecer de forma linear e unidirecional para se tornarem processos mais interativos e complexos no qual as novas ferramentas disponíveis no ciberespaço assumiram um papel de extrema importância nesta nova configuração da sociedade. A combinação entre hardwares compactos e de alta velocidade com softwares cada vez mais fáceis de serem operados foi um dos fatores que permitiu esta nova dinâmica da sociedade, além de possibilitar ao indivíduo uma conectividade com o mundo e, principalmente, uma relação mais interativa com a informação eletrônica que é colocada em sua disposição, fato este jamais conseguido com outro tipo de tecnologia criada pelo homem até então. O universo comunicacional desta nova Era, que resulta da interação mediada pelo computador, abandona aparentemente a interação direta entre os sujeitos, para dar lugar a um outro universo comunicacional, onde a interação entre os sujeitos é mediada e em que a informação circula a uma velocidade vertiginosa por redes cada vez mais complexas, que ligam o Homem a um mundo. (MARCELO, 2001, p 51) A partir desta nova configuração, qualquer tipo de conteúdo pode ser facilmente obtido e transmitido de forma quase que instantânea para qualquer lugar do mundo. A distância de um lugar para outro, por exemplo, passou a ser algo quase que desprezível diante da possibilidade de conexão entre vários pontos dentro do ambiente virtual. Mediante essa nova dinâmica de produção das informações dentro do universo de possibilidades que o ambiente virtual disponibiliza, um dos grandes problemas que surge com esta questão já não é mais a falta de informação, mas sim a seleção adequada ou a filtragem daquela informação que realmente nos pode ser útil. (LIMA, 2000, p.02).
  • 29. Em decorrência deste fato, a cada dia surgem novas ferramentas que ajudam o internauta a filtrar essa verdadeira “avalanche” de informações e conteúdos que existem dentro do ciberespaço. No Twitter9, por exemplo, através da opção Follow (em português, seguir), o usuário tem a possibilidade de escolher qual perfil deseja seguir e com isso selecionar as informações que deseja receber. Vale destacar que não é apenas o Twitter que apresenta uma ferramenta para filtra as informações. Os mecanismos com marcadores de RSS10 também ajudam muito na seleção do que o internauta deve consumir, funcionando, dessa maneira como uma forma interessante de filtrar apenas informações de fato interessantes para o usuário. É importante levar em consideração também que as redes sociais hoje se tornaram importantes ferramentas para selecionar a avalanche de conteúdo que provem do ciberespaço. Redes Sociais, Comunidades Virtuais e Fóruns de Discussão também se tornaram ambientes favoráveis para se chegar a determinados assuntos atraentes, pois muitas vezes as pessoas procuram saber algo que não estão conseguindo achar com facilidade na mídia ou não conseguem encontrar em nenhum buscador. O que fazem? Vão diretor perguntar aos grupos formados na rede e nas comunidades relacionadas com os temas procurados. (PRADO, 2010, p.53) Nessa mesma perspectiva, Recuero (2009a) defende a idéia de que as redes sociais podem ser usadas como ferramentas que auxiliam os atores sociais na função de gatekeepers, selecionando as informações mais importantes e publicando para outros usuários. Ainda segundo a autora o papel da rede social pode ir mais longe: além de filtrar, uma rede social pode qualificar, complementar e repercutir um determinado assunto. Uma informação que é passada adiante no Twitter, por exemplo, raramente é feita é sem algum tipo de qualificação, um julgamento de valor ou uma observação daquele que a passa. O próprio “retweet” é um instrumento que qualifica uma informação, lida e considerada relevante pela rede. 2.4 As Mídias Sociais 9 O Twitter é uma mídia social criada em 2006 pelo empresário e desenvolvedor de softwares Jack Dorsey que permite os usuários enviarem e receberem pequenos textos (tweets) de no máximo 140 caracteres. 10 A sigla RSS tem mais de um significado. Alguns a chamam de RDF Site Summary, outros a denominam Really Simple Syndication. Há ainda os que a definem como Rich Site Summary. O fato é que com este mecanismo, o internauta tem a possibilidade de reunir, em um único ambiente, conteúdos produzidos por diversas fontes, sem a necessidade de acessar cada um dos sites responsáveis por eles.
  • 30. 2.4.1 Participação do público na produção de conteúdo no ciberespaço Como se sabe, o advento das novas ferramentas de comunicação possibilitou uma nova dinâmica na produção das informações, principalmente no ambiente virtual. Com essas novas ferramentas, os conteúdos passaram a ser produzidos em uma velocidade nunca vista anteriormente e serem transmitidos em uma velocidade maior ainda. Desde que a Web 2.011 se instalou, serviços colaborativos de informação também se estabeleceram, o que resultou no surgimento de novos espaços para a produção e a publicação de conteúdos. Nesta perspectiva, o internauta deixou de receber passivamente toda esta gama de conteúdos que provem do ambiente virtual. Tendo à sua disposição uma infinidade de recursos, o internauta passou agora a produzir também seus próprios conteúdos no ciberespaço, aumentando dessa maneira os processos de interação com outras pessoas dentro das comunidades virtuais, por exemplo. Neste novo universo, cada usuário da Internet torna-se um produtor de informações em potencial, contribuindo diretamente para uma descentralização dos processos de produção e divulgação das informações. Prado (2010) ainda chama atenção para o fato de que, com o barateamento dos custos da produção e a não necessidade de concessões governamentais dentro do ciberespaço, o usuário tem à sua disposição uma gama de ferramentas que ensinam, passo a passo, como produzir e distribuir livremente o conteúdo, seja este através de textos, áudios vídeos, gráficos ou qualquer outro recurso multimídia. No ciberespaço, então, cada sujeito é efetivamente um potencial produtor de informação: serviços colaborativos de informação, comunidades, blogueiros ou microblogueiros jornalistas - que vivem o fato e relatam em suas páginas pessoais. E, se a velocidade da informação também é um dos resultados da Internet, no caso do Twitter, é possível acompanhar eventos em tempo real. (LEMOS, 2008, p. 02) Alguns sites como o Wikipédia12, por exemplo, já oferecem uma opção para que os internautas possam modificar o conteúdo dos artigos apresentados pelo site e até 11 Web 2.0 é um termo criado em 2004 pela empresa americana O'Reilly Media para designar uma segunda geração de comunidades e serviços na web, centrada nos mecanismos de busca como Google, nos sites de colaboração do internauta, como a Wikipédia e o YouTube, e nos sites de relacionamento como o Facebook e Orkut. 12 Criada em 15 de janeiro de 2000, a Wikipédia é uma enciclopédia virtual livre, onde pessoas de todo o mundo podem acessar e modificar os artigos que ela disponibiliza para consulta, desde que sejam preservados os direitos de cópia e modificações. Atualmente ela conta com mais de 17,6 milhões de artigos cadastrados.
  • 31. mesmo escrever novas publicações, fato este que evidencia esta participação maciça do público na produção de informações, ou seja, o usuário passa a ser co-autor do conteúdo desses sites. Outro exemplo da participação do público na produção de conteúdos para a Internet pode ser observado no site sul-coreano Oh My News13, criado em fevereiro de 2000 pelo jornalista Oh Yeon Ho e que tem como proposta o lema “Every citizen is a reporter” (Todo cidadão é um repórter). Através deste site, cidadãos comuns podem enviar reportagens e outras publicações e uma equipe de jornalista do próprio site faz o trabalho de edição dessas reportagens. Em 2004 o site ganhou uma versão internacional e hoje já conta com aproximadamente 40 mil repórteres-cidadãos que diariamente fornecem uma grande quantidade de publicações de todas as partes do mundo. Os blogs também representam hoje uma importante ferramenta de participação do público na produção de conteúdo para a Internet. Com os blogs, o internauta dispõe da liberdade de fazer postagens sobre diversos assuntos que na grande maioria das vezes não são pautados pela mídia tradicional, o que acaba contribuindo dessa maneira para o processo de democratização da comunicação. Outros exemplos da produção de conteúdos pelos internautas podem ser observados em vários outros sites de notícias que também já oferecem opções para que o público possa contribuir com algum tipo de conteúdo, seja através de imagens, vídeos, textos ou áudio, por exemplo. No portal Imirante.com14 pode-se observar o “Vc no Imirante”; o portal G115 tem o “Vc no G1”; no portal O Globo16, o público pode participar através do espaço “Eu repórter”; e no portal Terra17 tem o “VC Repórter”. É interessante observar que esta participação do público na produção de conteúdos não é um fenômeno recente. No período da ditadura militar no país, por exemplo, muitas pessoas publicavam seus textos em fanzines e jornais alternativos ou então colocavam no ar rádios livres, comumente chamadas de piratas, para expor suas opiniões e defender um determinado ponto de vista. No entanto, no processo de 13 <http://www.ohmynews.com> 14 <http://www.imirante.com> 15 <http://www.g1.com> 16 <http://oglobo.globo.com> 17 <http://www.terra.com.br>
  • 32. produção de conteúdo nesse período não havia um feedback sistemático ou em volume significativo daqueles que eram os destinatários da informação, o que era dificultado pela ausência de aparatos técnicos que facilitassem esse retorno do emissor ao receptor, refletindo na qualidade do conteúdo que era produzido. O fato é que as tecnologias digitais têm servido como motivador para uma maior interferência do público receptor no processo de produção das notícias. Além disso, a participação do público na produção de informações vem contribuindo diretamente para a quebra do monopólio da grande mídia e a democratização da comunicação, culminando dessa maneira, na ascensão do chamado jornalismo participativo18, principalmente na Internet. Outro fator que motiva o desenvolvimento do webjornalismo participativo é a vulgarização de máquinas de fotografia digital e celulares que podem captar fotos ou vídeos e enviar mensagens multimídia. Essas tecnologias de comunicação móvel facilitam o registro e divulgação de fatos no momento em que eles ocorrem. As empresas jornalísticas passaram a contar com a pulverização de fontes de imagens e informações, mesmo onde não haja qualquer jornalista ou repórter-fotográfico. (PRIMO E TRASEL, 2006 p. 04) Deve-se levar em consideração também que a participação do público na produção das informações também se deu por causa de um descontentamento por parte do indivíduo em relação à mídia como ela se apresenta atualmente. Muitas vezes, por causa da parcialidade com que a mídia trata alguns assuntos de interesse público, os leitores acabam produzindo, eles próprios, a informação que os interessa e com isso quebram o monopólio da imprensa tradicional que, muitas vezes, pauta um determinado assunto apenas por interesse próprio e não por interesse público. As Novas Tecnologias de Comunicação e Informação permitiram que houvesse uma espécie de inversão do poder nas relações de comunicação contemporânea. O que antes era domínio dos grandes grupos de mídia e das corporações, hoje também é de posse dos usuários de Internet, contribuindo diretamente para a formação de uma mídia mais independente e democrática. Para Caparelli (apud PRIMO e TRASE, 2006, p.06), “a imprensa alternativa surge toda vez que o bloqueio da informação por parte do poder obrigou a numerosos grupos formarem seus próprios canais de expressão”. Nesta perspectiva, com o contínuo 18 O Jornalismo Participativo pode ser definido como aquele produzido por qualquer integrante de uma sociedade que tenha acesso a informações de interesse público e decida publicá-las, sem necessariamente ter alguma formação técnica em jornalismo. (Gillmor apud PRIMO e TRASE, 2006).
  • 33. avanço das ferramentas digitais, a cada dia abre-se o espaço para que as produções independentes ganhem ainda mais evidência. Além disso, o internauta, devido ao conhecimento mais aprofundado que possui sobre o ciberespaço, tem uma facilidade maior para buscar fontes primárias de informações, podendo servir como mediação para o jornalista profissional. Dentro do ciberespaço, graças aos vários softwares gratuitos disponíveis na rede, o internauta tem a possibilidade de produzir livremente uma infinidade de conteúdos que antes eram produzidos apenas pela mídia tradicional, o que acaba contribuindo diretamente para a formação deste jornalismo participativo. Nesse sentido, as informações são produzidas por todos e para todos. Outro projeto de webjornalismo participativo é o Wikinews19 baseado no modelo Wiki, em que todo interagente pode publicar textos ou editar as contribuições dos outros, usando para isso apenas um browser comum. Ou seja, no Wikinews qualquer pessoa pode publicar notícias e editar aquelas publicadas por outros colaboradores. O internauta que identifica um erro ou acredita ter alguma informação a mais pode modificar o texto original da notícia, fazendo correções ou acréscimos. (PRIMO E TRASEL, 2006 p. 13) Além disso, devido ao espaço na Web ser ilimitado, muito diferente dos veículos de massa tradicionais que possuem várias limitações técnicas, o internauta tem a possibilidade de buscar uma série de outras fontes dentro do ciberespaço que possam ajudá-lo a reunir uma série de outras informações para uma determinada matéria. 2.4.2 Formação das Mídias Sociais Como o ciberespaço é um local infinito em virtude das contínuas e ilimitadas interações que podem ser feitas dentro dele, abre-se espaço para as produções independentes, que antes não tinham espaço para a divulgação na mídia tradicional, fazendo com que cada vez mais os usuários produzam algum tipo de conteúdo. Como consequência desta participação cada vez mais acirrada do público na produção das informações, pode-se observar o surgimento das chamadas Mídias Sociais, também chamadas de New Media (Novas Mídias). Vale destacar que o surgimento recente das mídias sociais também tem criado novas formas de mobilização e organização, que alteram a dinâmica de interação entre os atores da sociedade. 19 A página do Wikinews oferece o botão Edit (editar), onde o internauta tem a possibilidade de modificar o texto da notícia ou página em questão, acrescentando também links e outros recursos multimídia através de formulários de fácil utilização. Ao clicar em Save (salvar), a nova versão é publicada e a antiga entra em um histórico que registra as versões anteriores. Através deste recurso pode-se reverter a notícia para uma versão antiga em caso de vandalismo ou erros.
  • 34. As Mídias Sociais podem ser definidas como ferramentas, baseadas nos fundamentos tecnológicos da Web 2.0, que possibilitam a interação social a partir do compartilhamento ou da criação de informações nos mais diversos formatos. O nome se dá porque tais ferramentas são sociais, ou seja, são abertas a todas as pessoas para interação e inserção de informações e conteúdos; e são mídias, pois não deixam de ser um meio de transmissão de informações. As mídias sociais permitem, além da comunicação e publicação propriamente ditas, uma efetividade nunca antes vista em termos de transmissão de conceitos, iniciativas de mobilização, estruturação de redes colaborativas e diversas formas de ação social coordenada, dando aos seus usuários um inaudito poder de barganha frente aos tradicionais detentores do poder nos campos sociais da comunicação e da política. (RABELO, 2010, p. 03) É importante fazer uma ressalva para a distinção entre as Mídias Sociais e as Redes Sociais. Como foi exposto anteriormente, as Redes Sociais caracterizam-se pela aglutinação de pessoas dentro de um espaço virtual previamente determinado, onde os indivíduos dessa rede se relacionam com um ou mais indivíduos, formando verdadeiras comunidades dentro do ciberespaço. As redes sociais na Internet são constituídas por elementos “que servem de base para que a rede seja percebida e as informações a respeito dela sejam apreendidas” (RECUERO, 2009a, p.25). Dessa forma, para a autora, os elementos que compõem as redes sociais na Internet são atores e conexões. Nesse caso, o principal objetivo das Redes Sociais é formar grupos de indivíduos, com interesses em comum, que possam manter algum tipo de relação dentro do ambiente virtual. Como exemplos de Redes Sociais pode-se citar o Orkut, Facebook, MySpace, LinkedIn20e Formspring21. Já por outro lado, as Mídias Sociais possuem o foco na divulgação de informações na Internet. Para André Telles, “as Mídias Sociais são sites na Internet construídos para permitir a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e o compartilhamento de informações em diversos formatos”. (TELLES, 2010, p. 10). Exatamente como um blog, que ao mesmo tempo dissemina conteúdo e abre espaço para os leitores interagirem, estas mídias seriam ferramentas que tem como objetivo o 20 O LinkedIn é uma rede social lançada em maio de 2003 que tem o objetivo de formar relacionamentos voltado para o ambiente empresarial. 21 O Formspring foi lançado em Novembro de 2009 e permite que usuários enviem perguntas para outros usuários. Todas as perguntas enviadas são guardadas na caixa de entrada e quem recebeu as perguntas decide se responde ou não a elas e as publica em seu perfil.
  • 35. compartilhamento de conteúdo, sendo que as relações que podem se formar ficam em segundo plano. Apesar dessa distinção entre as mídias e as redes sociais, muitas vezes esses dois conceitos se confundem justamente por causa da forma como cada indivíduo utiliza essas ferramentas, ou seja, a definição entre Rede Social e Mídia Social vai depender única e exclusivamente dos objetivos do internauta. O Twitter, por exemplo, pode ser usado como mídia social, tendo como objetivo apenas difundir conteúdo, ao mesmo tempo em que o microblog pode ser usado como rede social, apenas para seguir amigos e conversar entre eles.
  • 36. 3 JORNALISMO NA INTERNET É difícil negar que o desenvolvimento das Novas Tecnologias de Comunicação e Informação trouxe consigo profundas mudanças em diversos segmentos da sociedade. Nessa perspectiva instala-se um novo contexto e pode-se afirmar com segurança que a sociedade, da forma em que está organizada atualmente, é fruto do contínuo desenvolvimento dessas ferramentas. As tecnologias de comunicação periodicamente resultam em significativas transformações na sociedade e causam grandes mudanças de hábitos e comportamentos. Cada um no seu tempo, o telégrafo, o telefone e o aparelho de fac-símile deixaram suas marcas no comércio, na vida profissional e no nosso cotidiano. Agora chegou a vez da Internet, oferecendo amplos recursos técnicos e um novo suporte para as mais diversas atividades. (PINHO, 2003, p. 57.) Os meios de comunicação também foram fortemente influenciados pelo desenvolvimento dessas novas tecnologias. Com a chegada da Internet, por exemplo, foi possível observar uma mudança dos meios tradicionais para este novo suporte. No rádio, a primeira emissora que passou a disponibilizar seu conteúdo apenas na Internet foi a Rádio Totem no ano de 199822; nos jornais impressos, a mudança de suporte para o ambiente virtual pode ser observada inicialmente na fase transpositiva do jornalismo23; e com relação à TV, hoje também já é possível acompanhar a programação de algumas emissoras através da Internet. A partir desse momento, as informações passaram a ser produzidas, transmitidas e consumidas a uma velocidade nunca vista anteriormente, fato este que também alterou drasticamente o modo de fazer e pensar o jornalismo utilizando como suporte a Internet. 22 Um ano antes, em 1997, já foi possível observar uma experiência de radiojornalimo na Internet, quando as emissoras Jovem Pan Am, Bandeirantes, CBN e a Rádio Eldourado AM começaram a disponibilizar o conteúdo no ambiente virtual. 23 A fase transpositiva do jornalismo será melhor analisada mais adiante quando serão abordadas as fases do jornalismo na Internet.
  • 37. As novas tecnologias alteraram os modos convencionais de compreensão do tempo e do espaço24, noções essenciais para o exercício e consumo do jornalismo. Se tais noções mudam – e junto com elas a compreensão da sociabilidade e do homem contemporâneos – muda junto o conceito sobre o jornalismo. Para Alves (2006), o contínuo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação disponíveis no ciberespaço contribuiu diretamente para a alteração dos paradigmas que antes eram utilizados para definir os processos comunicacionais, contribuindo dessa forma para a alteração também das rotinas de produção jornalística. A Internet, no entanto, não é apenas um novo meio, como foram o rádio e a TV, cada um acrescentando um canal sensorial à comunicação existente: o sentido da audição, no caso do rádio, e o da visão, no caso da TV. A web representa uma mudança de paradigma comunicacional muito mais ampla que a adição de um sentido. Ela oferece um alcance global, rompendo barreiras de tempo e espaço como não tínhamos visto antes. A indexação do meio digital permite a acumulação de conteúdo, rompendo os paradigmas comunicacionais que o jornalismo tinha criado. (ALVES, 2006, p. 95) Além do surgimento dessas novas ferramentas de comunicação e informação, pode-se dizer que o acesso facilitado à Internet, a produção móvel de conteúdo e a participação do público também estão influenciando diretamente a maneira de fazer jornalismo nos dias atuais. Tais influências se deram principalmente nos processos de apuração, produção, publicação e circulação da informação no ciberespaço. Para Pavik e Ross (apud DEUZE, 2006, p.19), o impacto dessas novas ferramentas de comunicação no jornalismo torna-se melhor compreendido quando são analisados quatro aspectos fundamentais dessa influência: o impacto nas produções das notícias nesse suporte, na dinâmica de funcionamento das redações, no modo de trabalho dos jornalistas e nas relações que se estabelecem entre os jornalistas e o público. Apesar desta influência ser bem mais evidente nos dias atuais, Deuze (2006) considera ainda que a atividade jornalística sempre foi dependente dessas novas ferramentas. Segundo ele: O jornalismo tem sido sempre dependente da tecnologia. De modo a alcançar estatuto público e chegar à audiência de ‘massas’, a profissão conta com a tecnologia para a recolha, edição, produção e disseminação da informação. Desde o aparecimento dos primeiros jornais na Europa, durante o século XVII, a tecnologia tem permitido que o jornalismo se organize em torno de 24 As novas noções de tempo e espaço foram trabalhadas no primeiro capítulo deste trabalho.
  • 38. uma premissa básica: a transmissão rápida e perceptível de informação. (DEUZE, 2006, p.17) A utilização da Internet pelo jornalismo, segundo Deuze, deu-se principalmente em meados dos anos 90, momento este em que a presença da Internet ficava cada vez mais evidente entre as redações dos jornais tornando-se, consequentemente, uma plataforma para a divulgação de conteúdos. Graças a essas novas ferramentas de comunicação, o jornalismo está experimentando mudanças que alteram completamente as rotinas de produção jornalística dentro do ciberespaço. Tendo como suporte a Internet, a notícia passa agora a ser apresentada em um novo formato que leva em consideração todas as características e especificidades do ambiente virtual. É interessante observar que essas novas ferramentas, além de abrirem um novo espaço para a produção jornalística, estão fazendo com que os profissionais que atuam nessa área se adaptem a esta nova realidade do fazer jornalístico. Nessa perspectiva, é de extrema importância que os profissionais que trabalham nessa área tenham um amplo conhecimento dessas novas tecnologias para tirar o proveito de todas as potencialidades que o ambiente virtual proporciona para a produção jornalística. O jornalista online tem que fazer escolhas relativamente ao(s) formato(s) adequado(s) para contar uma determinada história (multimídia), tem que pesar as melhores opções para o público responder, interagir, ou até configurar certas histórias (interatividade) e pensar em maneiras de ligar o artigo a outros artigos, arquivos, recursos, etc., através de hiperligações (hipertexto).(DEUZE, 2006, p.18) Para Mielniczuk (2004), o momento pelo qual passa o webjornalismo na atualidade promove rupturas no modelo de jornalismo para Internet e investe gradualmente no uso de tecnologias para a web. Nessa perspectiva, os vários softwares de publicação, como o Twitter, por exemplo, integraram-se de vez nas rotinas de produção jornalística para a web, permitindo que fosse explorado todas as potencialidades que esse meio disponibiliza. 3.1 As fases do jornalismo na Internet 3.1.1 Um pouco da história da Internet Para entender como a produção jornalística vem se desenvolvendo ao longo do tempo utilizando como suporte a Internet, é importante analisar primeiramente como
  • 39. ocorreu o processo de desenvolvimento da Internet, desde a sua concepção até que ela apresente as especificidades que possui nos dias atuais. Para Castells (apud PRADO, 2010, p. 09), “a criação e o desenvolvimento da Internet nas três últimas décadas do século XX forma consequência de uma fusão singular de estratégia, militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnológica e inovação contracultural”. O princípio de uma conexão entre computadores pode ser observado no ano de 1969 quando a Advanced Reserch Projects Agency (ARPA – Agência de Pesquisa e Projetos Avançados), um órgão criado em 1958 pelo Departamento de Defesa Norte Americano, desenvolveu o Arpanet, uma rede de computadores que servia para garantir a comunicação emergencial entre universidade e institutos de pesquisa a serviço do exército, caso os Estados Unidos sofressem algum tipo de ataque. A primeira mensagem a ser enviada por esse novo sistema de comunicação ocorreu às 22h30min do dia 29 de outubro de 1969 em um laboratório na Califórnia. A mensagem enviada foi a palavra “lo”, que na verdade era para ser “login”, mas no momento do envio da mensagem a conexão caiu e demorou mais de uma hora para ser restabelecida novamente. Depois de aproximadamente um mês foi estabelecida a primeira conexão estável entre quatro computadores. O público tomou conhecimento desse novo sistema no ano de 1972, durante a realização da I Conferência sobre Comunicações Computacionais, na cidade de Washington, no qual a Arpanet foi capaz de conectar 40 máquinas e o Terminal Interface Processor (TIP). O tráfico de informações utilizando a Arpanet cresceu rapidamente. Entre os usuários desse novo sistema estavam principalmente pesquisadores universitários com trabalhos na área de segurança e defesa, foco principal da Arpanet. A Arpanet rapidamente expandiu-se para além das fronteiras norte-americanas. A Inglaterra e a Noruega, por exemplo, foram os dois primeiros países a estabelecerem uma conexão internacional através da University College de Londres e da Royal Radar Establishment. Em 1990, o Brasil passou a fazer parte da rede mundial de computadores juntamente com Argentina, Áustria, Bélgica, Chile, Grécia, Irlanda, Coréia, Espanha e Suíça.
  • 40. O cenário do final dos anos 80 era este: muitos computadores conectados, mas principalmente computadores acadêmicos instalados em laboratórios e centros de pesquisa. A Internet não tinha a cara amigável que todos conhecem hoje. Era uma interface simples e muito parecida com os menus dos BBS25. Mas, enquanto o número de universidades e investimentos aumentava em progressão geométrica, tanto na capacidade de hardwares como dos softwares usados nas grandes redes de computadores, outro núcleo de pesquisa, até bem modesto, criava silenciosamente a World Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), baseada em hipertexto e sistemas de recursos para a Internet. (FERRARI, 2003, p.16) Paralelamente ao desenvolvimento da Arpanet, tem-se também o surgimento de uma primeira experiência que mais adiante viria a se tornar o e-mail da forma como conhecemos atualmente. Essa primeira experiência foi desenvolvida pelo engenheiro Ray Tomlinson, idealizador de um software chamado SNDMSG (Send Message) que permitia que qualquer pessoa que estivesse conectada com a Arpanet pudesse trocar mensagens. O grande marco nesta nova criação foi a utilização do sinal “@” 26 (arroba), sendo possível identificar quem estava enviando as mensagens. Em 1991 a Internet27 experimentou um verdadeiro boom logo após a criação da World Wide Web28 (WWW) pelo programador inglês Tim Bernes – Lee, que trabalhava no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN – Conseil Européene pour la Recherche Nucléaire), localizado em Genebra, na Suíça. A World Wide Web constitui- se como um modo de organização das informações e dos arquivos dentro do ciberespaço que utiliza o Hypertext Markup Language (HTML) como a linguagem padrão para o desenvolvimento de pagina na Internet, o Hypertext Transport Protocol (HTTP), que é o protocolo de transmissão de dados entre os servidores e o Uniform Resource Locator (URL), um sistema de endereçamento próprio que permite identificar e acessar um serviço na Web. 25 Bulletin Board Systems – Sistema de Boletim Eletrônico. É um software que permitia que usuários se conectassem usando um programa de terminal e uma linha telefônica. A interface desse programa era bastante rudimentar, sem gráficos ou imagens, apenas texto e todas as atividades eram desenvolvidas usando apenas o teclado. 26 Em inglês, a arroba é lida como “at”, significando “em”. Dessa maneira é possível identificar que o usuário está localizado em um determinado domínio. 27 A expressão Internet surgiu a partir da expressão inglesa INTERacion or INTERconnection between computer NETworks, ou seja, Interação ou Interconexão entre Redes de Computadores. 28 Muitas pessoas confundem a Web com a própria Internet. No entanto, a Internet teve a sua origem na década de 1960 com o desenvolvimento da Apranet e a Web refere-se a apenas um dos serviços oferecidos pela Internet. Deve-se levar-se em consideração também que a Web refere-se à parte gráfica da Internet, em que é possibilitada a interação.
  • 41. A popularização da Internet teve início a partir do ano de 1993, quando o estudante de computação norte-americano Marc Andreessen desenvolveu a versão 1.0 do navegador Mosaic. O programa inovou por ser totalmente gráfico, o que tornava a navegação pela Internet mais leve. A partir de então, a Internet cresceu vertiginosamente como uma rede global de computadores. Os números que representam esse crescimento são extremamente significativos. Em 2009, por exemplo, eram mais de 1.73 bilhões de usuários espalhados ao redor de todo o mundo; aproximadamente 247 bilhões de e-mail foram trocados todos os dias; eram 234 milhões de sites registrados até Dezembro de 2009. Os números fazem parte de um relatório divulgado pelo Pingdon, um site de monitoramento de conteúdos digitais. Atualmente, é justo afirmar que esses números referentes ao crescimento da Internet no mundo cresceram de forma exponencial. Com esse desenvolvimento, ela foi capaz de modificar drasticamente os padrões de comportamento da sociedade. Com a atividade jornalística aconteceu a mesma coisa: pelo fato do jornalismo ser uma atividade bastante dinâmica, ele facilmente é influenciado pelo desenvolvimento de novas tecnologias que atingem os meios de comunicação e, consequentemente, a produção jornalística. O desenvolvimento do jornalismo na Internet29 deu-se mais precisamente no final da década de 1990, período este em que a Internet experimentou um verdadeiro boom e começou a adentrar também no ambiente das redações, obrigando, dessa maneira, que houvesse uma readaptação das práticas jornalísticas dentro do ambiente das redações. “No início, sob o olhar de desconfiança de muitos jornalistas... as empresas fora, entrando na web vagarosamente. Era preciso experimentar, testar o retorno e ver se realmente o sistema digital funcionava” (PRADO, 2010, p.31) Nesta perspectiva, a produção jornalística no ciberespaço foi se modificando gradativamente conforme, a Internet foi sendo introduzida nas redações. Com isso, pode-se observar o surgimento de 3 fases distintas do jornalismo na Internet: Fase Transpositiva, Metafórica e Multimidiática. 3.1.2 Fase Transpositiva 29 A partir desse desenvolvimento surge então o conceito de web 1.0, a primeira geração da Internet comercial, na qual os sites que faziam parte desta geração não possuíam recursos interativos.
  • 42. Na Fase Transpositiva, ou primeira geração do jornalismo na Internet observava-se uma adequação com relação a forma de se publicar e acessar o conteúdo pelo meio digital. Nesta fase havia apenas uma transposição, ou seja, uma mudança de suporte, no qual os textos que eram escritos nos jornais impressos eram transcritos para o modelo digital, sem qualquer tipo de alteração no conteúdo. Na maioria das vezes, profissionais na área de design e computação eram os responsáveis por realizar esta transposição, pois apenas eles possuíam o conhecimento dos códigos necessários para realizar as postagens das matérias. Nesse período as redações dos jornais não possuíam uma equipe exclusiva de jornalistas que trabalhassem com o conteúdo digital sendo que Internet ainda era vista com desconfiança pelos profissionais mais experientes da época. Nessa geração as rotinas de produção jornalística para a Web eram totalmente ligadas com as rotinas do jornalismo impresso uma vez que material era atualizado a cada 24 horas, de acordo com o fechamento da edição impressa do jornal. A disponibilização do material jornalístico no ambiente virtual dava-se apenas para preencher certo espaço, ignorando todas as potencialidades que esse novo ambiente proporciona. Nos Estados Unidos, os primeiros jornais a disponibilizarem o conteúdo no ambiente virtual foram o The Nando Times, em 1994, e o The San Jose Mercury Center, em 1995. No Brasil, no ano de 1995, o jornal “Folha de São Paulo” coloca na Internet sua primeira página. Pouco tempo depois foi a vez dos periódicos “O Globo” e “Jornal do Brasil” disponibilizarem suas versões no ciberespaço. Nesse mesmo período a Revista Veja também começava a criar sua versão online, que era atualizada com a mesma periodicidade do veículo impresso. É interessante observar que os primeiros jornais a disponibilizaram suas páginas na Internet estavam vinculados aos grandes conglomerados midiáticos que já começavam a investir, mesmo que timidamente, nessa nova tendência, o que levaria futuramente à formação dos primeiros portais de notícia. Empresas tradicionais como as Organizações Globo, o grupo Estado (detentor do jornal O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde) e a Editora Abril se mantêm como os maiores conglomerados de mídia do país, tanto em audiência quanto em receita de publicidade. Foram eles que deram os primeiros passos na Internet brasileira, seguidos pelo boom mercadológico de 1999 e 2000... (FERRARI, 2006, p.27)
  • 43. 3.1.3 Fase Metafórica Na década de 2000 inicia-se a segunda geração do jornalismo online, época em que surge o portal de notícias IG e o jornal Último Segundo. Foi nessa época que surgiram também os primeiros blogs e fotologs, que contribuíram para uma maior dinamização da produção de conteúdos na Internet. Nessa fase alguns recursos disponíveis no ciberespaço começaram a ser usados para dar um maior dinamismo na produção das notícias para este suporte, principalmente no que diz respeito à utilização do hipertexto e às várias outras possibilidades que este recurso disponibiliza como, por exemplo, as listas das últimas notícias e matérias relacionadas. Nesta geração foi iniciada, ainda que timidamente, a produção do conteúdo exclusivamente para o meio digital. Os primeiros recursos interativos começaram a aparecer como, por exemplo, o uso de e-mail e fórum de debates. Um layout dos jornais próprio para o ciberespaço também começou a ser pensado nessa fase. Para Luciana Mielniczuk, foi nessa fase que o webjornalismo começou a tomar as características e especificidades que ele apresenta atualmente. Segundo ela: O cenário começa a modificar-se com o surgimento de iniciativas tanto empresariais quanto editoriais destinadas exclusivamente para a Internet. São sites jornalísticos que extrapolam a idéia de uma simples versão para a Web de um jornal impresso e passam a explorar de forma melhor as potencialidades oferecidas pela rede. Tem-se, então, o webjornalismo. (MIELNICZUK, 2001, p. 02) 3.1.3 Fase Multimidiática Na terceira e atual fase do jornalismo na Internet consolida-se a produção de conteúdos exclusivamente para o ambiente virtual. Nesta terceira fase, as publicações online passam a juntar definitivamente a hipermídia com a produção das notícias, aprofundando, dessa forma, a hipertextualidade e outros recursos multimidiáticos como a integração de áudios, imagens ou então vídeos às notícias. Para Plavlik (apud Mielniczuk, 2001, p.07) o aspecto mais importante desta fase são as narrativas hipermidiáticas que possibilitam que o leitor navegue através das informações em multimídia.
  • 44. Nessa fase, a produção jornalística beneficia-se de todas as potencialidades que o ambiente virtual disponibiliza como interatividade, multimidialidade, hipertextualidade, atualização contínua, acesso a bancos de dados (memória) e a personalização, potencialidades essas que serão analisadas mais rigorosamente ainda neste capítulo. Babosa (2008) vai mais além ao afirmar que, devido às crescentes inovações tecnológicas, o webjornalismo já se encontra em um quarto estágio de desenvolvimento onde os conteúdos advindos desse novo modelo são estruturados principalmente em banco de dados. Nessa perspectiva, o conteúdo jornalismo que advêm desse novo modelo surge devido uma maior aproximação entre os campos da comunicação e informática. A identificação de uma quarta geração para o desenvolvimento, edição, formato de produtos, criação de conteúdos, construção de narrativas jornalísticas hipermídia, experimentação com novos gêneros jornalísticos, assim como novos modos para a apresentação e visualização das informações, no ciberjornalismo, leva em conta diversos fatores, tanto os de cariz infra-estrutural e tecnológicos como aqueles mais diretamente relacionados à atividade jornalística nas redes. (LARRONDO; BARBOSA; MIELNICZUK. 2008. p.02) 3.2 Características do jornalismo na Internet Com o advento da Internet e a influência desta nos meios de comunicação de massa, é perfeitamente razoável deduzir que novas rotinas de produção jornalística apareçam no ciberespaço. O modo de pensar e fazer o jornalismo nesse novo suporte deve levar em consideração todas as potencialidades que este novo meio disponibiliza e a mudança de linguagem que exige. Cada suporte, seja o rádio, a televisão ou o impresso, por exemplo, tem a sua especificidade e isso se reflete na produção jornalística deste meio. Dentro do ambiente virtual, o jornalismo passa a apresentar características específicas que permitem uma análise em estudo mais detalhado de como são desenvolvidas as rotinas de produção nesse novo suporte. De acordo com Marcos Palácios, as principais características apresentadas por este novo suporte são: Hipertextualidade, Interatividade, Multimidialidade, Personalização, Memória e Atualização Contínua. É importante levar em consideração
  • 45. que tais características influenciam diretamente os processos de produção, transmissão e recepção do conteúdo jornalístico no ciberespaço. Essas seis características refletem as potencialidades oferecidas pela Internet ao jornalismo desenvolvido para a Web. Deixe-se claro, preliminarmente, que tais possibilidades abertas pelas Novas Tecnologias de Comunicação (NTC) não se traduzem, necessariamente, em aspectos efetivamente explorados pelos sites jornalísticos, quer por razões técnicas, de conveniência, adequação à natureza do produto oferecido ou ainda por questões de aceitação do mercado consumidor.. (PALÁCIOS, 2003, p. 03) Apesar dessa nova dinâmica que o ambiente virtual possibilita para o jornalismo, Prado (2010) chama atenção para o fato de que, seja no ciberespaço ou então em qualquer outro suporte, a atividade jornalística sempre vai apresentar o mesmo esquema de produção na notícia, seja com o planejamento da reportagem, a pesquisa do tema, a procura das fontes e personagens e na apuração das informações obtidas. 3.2.1 Hipertextualidade Trata-se da principal característica da produção jornalística no ciberespaço. Refere-se a um padrão de organização das informações dentro do ambiente virtual onde o internauta tem a possibilidade de obter uma gama de informações disponíveis na página do veículo em que ele está lendo a notícia ou então em qualquer outro site. Tal possibilidade de navegação entre as páginas dentro do ambiente virtual só é possível graças ao hipertexto que faz a conexão dos vários materiais disponíveis no ciberespaço através dos links, contribuindo para que o internauta tenha uma informação mais detalhada sobre um determinado assunto. Para Lemos (2008) na construção de hipertextos, é de responsabilidade do jornalista construir segmentos textuais que tenham um sentido completo e que permitam a construção de relações de sentido, mesmo se acessados em uma ordem diferente. Ainda para o autor, a produção de hipertextos prevê, na definição dos links, diferentes leitores e intenções de leitura e diversos efeitos de sentido. O Hipertexto utilizado no ambiente das redes telemáticas vai permitir a em uma mesma tela a coexistência de textos, sons e imagens, tendo como elemento inovador a possibilidade de interconexão quase instantânea através de links, não só entre partes de um mesmo texto, mas entre textos fisicamente dispersos, localizados em diferentes suportes e arquivos integrantes de uma teia de informação constituída pela Web. (MIELNICZUK; PALÁCIOS. 2001 p.01)