SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 10
Descargar para leer sin conexión
FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP
2 3
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
CLINICAL EVALUATION OF THE ATRAUMATIC RESTORATIVE TREATMENT (ART) IN
SETTLED CHILDREN FROM THE LANDLESS MOVEMENT
AVALIAÇÃO CLÍNICA DO TRATAMENTO
RESTAURADOR ATRAUMÁTICO (ART)
EM CRIANÇAS ASSENTADAS DO
MOVIMENTO SEM-TERRA
OSVALDO BENONI CUNHA NUNES
PAULO HUMAITÁ DE ABREU
NANCY ALFIERI NUNES
LILIAN PAOLA KJAER DA FONSECA MOURA REIS
RICARDO TADEU MOURA REIS
ARIOVALDO ROBERTO JÚNIOR
RESUMO
O tratamento restaurador atraumático surgiu como um meio de
minimizar a progressão cariosa e tem sido utilizado em diversos
países, entre eles o Brasil. Este trabalho se propõe a avaliar os
resultados da utilização deste tipo de tratamento em um grupo
carente e marginalizado quanto ao atendimento médico-odon-
tológico,ou seja,crianças integrantes do grupo de assentados do
Movimento Sem-Terra,da região de Promissão/SP.Foram sele-
cionados 50 pacientes com idade entre 7 e 15 anos, de ambos
os sexos, portadores de lesões cariosas tipo Classe I, detectadas
a partir de exame clínico. As crianças receberam instruções e
palestras de higiene oral, realizando-se 52 restaurações com o
ionômero de vidro Vitro Molar, com a técnica de Tratamento
Restaurador Atraumático (ART). Depois de três meses foram
reavaliados 44 pacientes e 46 das restaurações, quantificadas
por escores:29 delas (63,04%) obtiveram escores aceitáveis e 17
(36,95%),não aceitáveis.Os dados demonstraram que o ART,
em associação com o ionômero de vidro,é útil para atendimentos
sociais e para pacientes carentes.
UNITERMOS: IONÔMERO DEVIDRO – ART.
SUMMARY
The Atraumatic Restorative Treatment appeared as a means
of minimizing the dental caries progression and it has been
used in several countries, among them, Brazil. This work
intends to evaluate the results of this treatment in a group of
poor and marginalized people lacking medical and odonto-
logical care, that is, children from the settled people from the
Landless Movement, in Promissão, SP. Fifty boys and girls
were selected, with ages ranging from 7 and 15 years.They
had Class I caries,detected through clinical examination.The
children received instructions and lectures on oral hygiene
and 52 restorations were accomplished with the glass iono-
mer, through the technique of Atraumatic Restorative Treat-
ment (ART).After 3 months,44 patients and 46 restorations
were re-evaluated and quantified by scores: 29 (63,04%) of
them reached acceptable scores and 17 (36,95%) were not
acceptable.The data showed that this technique (ART), in
association with the glass ionomer, is useful for social services
and for wanting patients.
KEYWORDS: GLASS IONOMER – ART.
Professor doutor de Dentística da
Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
Professor doutor de Materiais Dentários da
Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
Professora doutora de Estomatologia da
Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
Acadêmica da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba
2 4
INTRODUÇÃO
Em 1971,Wilson e Kent24
foram os pri-
meiros a relatar sobre o cimento de ionômero
de vidro, referindo-se a ele como um novo
material translúcido, o que representava uma
evolução do cimento de silicato. A reação de
presa é essencialmente do tipo ácido-básica e
resulta em um sal hidratado. O cimento de
ionômero de vidro tem propriedades impor-
tantes, como adesividade do esmalte à den-
tina, por meio dos ions cálcio e fosfato com
os grupos carboxílicos; liberação de flúor,4
agindo no processo de remineralização e con-
trole da cárie dentária; biocompatibilidade11
em cavidades rasas e médias, necessitando,
porém, em cavidades profundas, da colocação
de uma camada de hidróxido de cálcio; e coe-
ficiente de expansão térmica linear14
seme-
lhante ao da estrutura dentária.
A cárie dentária15
é uma doença que
afeta a população de vários países. Essa
doença tem apresentado um declínio nos
países desenvolvidos, nas últimas décadas.
Contudo, mesmo em países altamente indus-
trializados, como o Japão e a Coréia, os índi-
ces da doença ainda são muitos elevados.
Apesar da existência de vários métodos efeti-
vos para prevenção da cárie, ela ainda preva-
lece não só em países em desenvolvimento,
mas também em diversos países industrializa-
dos, pois uma parcela da população não tem
acesso a esses métodos, não possui condições
financeiras para custeá-los ou simplesmente
não tem conhecimento dos mesmos.
Em 1995, um trabalho19
epidemioló-
gico foi implementado na cidade de Bauru,
visando avaliar a saúde bucal dos habitantes
e colhendo informações sobre as condições
bucais e os tratamentos odontológicos neces-
sários, usando os critérios propostos pela
Organização Mundial de Saúde (OMS).
O levantamento foi realizado em 6.598
indivíduos de 1.839 famílias, em seus pró-
prios domicílios. Os resultados desse estudo
demonstraram uma carência em relação às
metas da OMS para o ano 2000, que eram:
a necessidade de aumentar o número de
crianças sem cárie (na faixa de cinco a seis
anos de idade) de 38% para 50 % e aumen-
tar o número de pessoas com dentição per-
manente completa aos 18 anos de idade de
51% para 85%. Ao mesmo tempo, era pre-
ciso diminuir o índice CPOD de 4,8 para 3
nas crianças de12 anos de idade.
Com o intuito de melhorar essa situ-
ação, comum não só no Brasil mas também
em outros países em desenvolvimento ou
não industrializados, Craig et al.,3
em 1981,
introduziram um programa de tratamento
mínimo em escolares no País de Gales,
visando a redução na progressão de cáries
em molares decíduos. Foi empregado trata-
mento com AgF, seguido de aplicação de
SnF_ e somente 35% das lesões exigiram
qualquer outro tratamento em um período
controle de 24 meses.
Em meados da década de 80, Frencken
et al.8
introduziram uma técnica restaura-
dora alternativa conhecida comoTratamento
Restaurador Atraumático (ART). A técnica
baseia-se simplesmente na remoção de tecido
cariado por meio da utilização de instrumen-
tos manuais e a restauração da cavidade com
ionômero de vidro quimicamente ativado.
Ela foi pioneiramente empregada como parte
de um programa de saúde bucal comunitário
realizado naTanzânia. Devido ao sucesso clí-
nico na década de 90, os mesmos autores9
passaram a desenvolver projetos coletivos
para melhoria da saúde bucal com o uso da
técnica ART em outros países subdesenvol-
vidos, entre eles Zimbabwe e Tailândia. O
índice de sucesso de restaurações Classe I
em dentes permanentes de escolares do Zim-
babwe foi de 89,2%, enquanto o de falhas
foi de 10,3%, em dois anos. Na Tailândia,
os resultados foram igualmente satisfatórios:
93%, 83% e 71% em avaliações em um, dois
e três anos, respectivamente. Os índices não
foram aceitáveis em cavidades compostas em
dentes decíduos, com 55% de falhas em um
ano (Frencken et al.7
1994).
Uma das limitações da técnica restau-
radora atraumática diz respeito ao material
restaurador. Os cimentos de ionômero de
vidro restauradores convencionais apresen-
tam problemas de solubilidade e degradação
devido aos fenômenos de sinérese e embe-
bição,além de propriedades mecânicas desfa-
voráveis,como baixa resistência coesiva e des-
gaste. Devido a essas deficiências, o uso em
cavidades de Classe II freqüentemente acar-
reta perda parcial ou total das restaurações.
Comodesenvolvimentodecimentosionoméri-
cos reforçados com componentes resinosos,
houve uma considerável melhoria das pro-
priedades mecânicas e adesivas desses mate-
riais. Estudos laboratoriais demonstraram
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP
2 5
em dentes decíduos foram julgadas próspe-
ras. A taxa de sucesso do ART na dentição
permanente (principalmente em cavidades
estreitas) foi de 93%, enquanto a de retenção
para selantes foi de 78%.As crianças estavam
contentes por terem recebido tratamento
com essa técnica e mostraram pouco medo.
A técnica de ART é um procedimento de
tratamento de cáries promissor para uso em
áreas rurais e suburbanas em países pouco
industrializados.
Frencken et al.8
avaliaram, em 1996, um
programa odontológico em escolas secun-
dárias com o tratamento restaurador atrau-
mático (ART). Ionômero de vidro era usado
como material para selante, que era colocado
com a técnica de pressão digital. Resultados
após um ano revelaram uma porcentagem de
sobrevivência das restaurações de uma face
de 93,4%, sendo os percentuais de retenção
completa e parcial dos selantes de 60,3% e de
13,4%, respectivamente. Nenhuma cárie foi
observada em dentes restaurados. Na etapa
inicial do programa 0,8% das superfícies
tinham começo de lesões de esmalte que, em
um ano, progrediram em lesões ativas dentin-
árias. As porcentagens de retenção de selante
e de sobrevivência de restaurações de ART
foram influenciadas por efeito do operador.
A maioria das restaurações foi realizada sem
anestesia local. O tempo de tratamento médio
para restaurações de uma face foi de 22,1
min (a média por operador foi de 19,8-23,6
min) e, para colocação do selante, de 9,4
min (média por operador de 8,2-10,8 min).
Foi observada sensibilidade pós-operatória
em 6% dos dentes restaurados. A satisfação
dos estudantes atingiu 95%. Concluiu-se
que o ART pode ser a modalidade de trata-
mento para restaurações inviáveis em muitas
populações que se agrupam globalmente.
No mesmo ano, Frencken et al.9
obser-
varam que, apesar dos esforços em longo
prazo para usar equipamento dental apro-
priado para tratar cáries em países menos
desenvolvidos economicamente, o procedi-
mento predominante ainda era a extração.
As razões para o fracasso em evitar avulsões
são determinadas nesse estudo. Apoiado em
resultados de pesquisas realizadas no Pri-
meiro Mundo, foi apresentado um módulo
de tratamento (ART) em 15 etapas para
cáries dentais. A técnica foi baseada na
remoção do tecido descalcificado com ins-
adesividade, tanto em esmalte como em den-
tina (Sá et al.22
1997), e resistência flexural
(Mendonça et al.10
1997) maiores do que as
apresentadas pelo cimento convencional.
Nunes et al.16
(2000) realizaram o mesmo
experimento em escolas estaduais da cidade
de Bauru/SP, com crianças de sete a 12 anos,
demonstrando efetividade quanto à metodo-
logia aplicada num período de seis meses.
As avaliações clínica e fotográfica revelaram
que 71,8% das restaurações eram aceitáveis
e que o cimento ionomérico Ketac–Molar
contribuiu, com suas propriedades, para tal
sucesso.
O presente trabalho teve por objetivo
avaliar e controlar lesões cariosas tratadas
com a técnica restauradora atraumática
(ART) em cavidades simples (Classe I)
de dentes posteriores permanentes, cujas
restaurações foram realizadas utilizando-se
um cimento de ionômero de vidro, visando
apreciar o comportamento do material e o
beneficio produzido ao grupo alvo da pes-
quisa, visto que a técnica foi indicada inicial-
mente para populações de regiões extrema-
mente carentes onde a única alternativa de
tratamento de dentes cariados era a extração.
Atualmente, também tem indicação para
atendimentos sociais, em que se enquadram
os pacientes do Movimento Sem-Terra.
REVISÃO DE LITERATURA
Frencken et al.,7
em 1994, observaram
que a extração é o tratamento dentário mais
usado em pessoas em áreas rurais, suburba-
nas e em países menos industrializados. Para
melhorar essa situação, uma técnica de trata-
mento alternativo foi desenvolvida e funda-
mentada só na escavação de lesões cariosas,
usando cimento de ionômero de vidro como
material de preenchimento ou selante. Essa
técnica, conhecida como tratamento res-
taurador atraumático (ART), segue o princí-
pio de intervenção mínima, não requerendo
equipamento elétrico. Ela demonstrou lon-
gevidade de restaurações e selantes na zona
rural da Tailândia. Estudos paralelos foram
feitos em duas aldeias. Numa, usou-se a
técnica de ART; na outra, as restaurações
foram preenchidas com amálgama em uni-
dades dentais móveis, mantendo-se uma ter-
ceira como grupo controle. Depois de um
ano, 79% do preenchimento de ART em
superfície estreita e 55% em superfície ampla
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba
2 6
trumentos manuais, restaurando-se a cavi-
dade com material de preenchimento ade-
sivo. As vantagens e limitações da técnica e
seu uso foram discutidas, bem como o pro-
grama de saúde oral em escolares no Zimba-
bwe. O trabalho concluiu que a ART pode
ser muito usada na maior parte da população
mundial de hoje.
Phantumvanit et al.18
compararam, em
1996,oTratamento RestauradorAtraumático
(ART) e a técnica de amálgama convencional
no tratamento de cáries dentais. O relatório
foi limitado aos resultados das restaurações
de uma face na dentição permanente num
período de três anos. Experiência de campo
foi realizada em aldeias rurais no nordeste da
Tailândia. As cáries dentais de 144 pessoas
foram tratadas pela técnica de ART, totali-
zando 241 restaurações. Em uma segunda
aldeia, foram realizadas 205 restaurações
de amálgama convencional em 138 pessoas
usando equipamento dental móvel. ART e
restaurações de amálgama foram executadas
por um dentista e duas enfermeiras dentais.A
avaliação clínica foi realizada após um, dois e
três anos. A longevidade das restaurações foi
determinada computando a taxa de sobrevi-
vência cumulativa calculada de acordo com
a tabela método de vida. A taxa de sobrevi-
vência das restaurações de ART (93%, 83%,
71% após um, dois e três anos, respecti-
vamente) foi semelhante à das restaurações
de amálgama (98%, 94%, 85%, respectiva-
mente), mas com diferenças estatísticas sig-
nificativas. Essa diferença foi observada nas
restaurações de ART em crianças e adultos
realizadas pelo dentista e enfermeiras den-
tais.Taxas de sobrevivência mais baixas foram
detectadas na superfície oclusal, quando com-
paradas com as restaurações de outras faces.
ART foi uma alternativa para a realização de
restaurações de cáries dentais, especialmente
em lesões de uma face na dentição perma-
nente, podendo fazer o controle de cáries den-
tais em todas as pessoas, independentemente
de suas condições econômicas, devido à sua
simplicidade e intervenção mínima.
Em 1999, Mjür e Gordan12
realizaram
um estudo da análise crítica dos resultados
obtidos com a técnica do Tratamento Res-
taurador Atraumático (ART) em fóssulas e
fissuras com um ionômero de vidro restau-
rador. Os resultados abrangem retenção, efe-
tividade de custo, sensibilidade operatória e
efeito de pessoal com conhecimentos edu-
cacionais diferentes envolvidos nesse trata-
mento operatório alternativo. Estudos com-
parativos com dentes permanentes e decíduos
restaurados com amálgama e selante de ionô-
mero de vidro também foram utilizados. Cri-
térios clínicos foram especialmente defini-
dos para avaliar os resultados, sendo publica-
dos dados de três anos, embora prazos mais
longos sejam requeridos. A técnica também
poderia ser aplicada em pacientes com alto
risco, com cáries rampantes, antes do benefi-
cio máximo do tratamento ser averiguado.
Nagem Filho e Domingues13
estudaram,
em 2000, o ionômero de vidro quanto à sua
proteção de superfície, dada sua utilização
como material bastante crítico. A indicação
da proporção pó-líquido feita pelo fabri-
cante deve ser rigorosamente obedecida e
a manipulação, a inserção e a proteção do
material precisam ser realizadas de maneira
apropriada. O experimento baseou-se nesses
dados para avaliar três diferentes protetores
de superfície em restaurações de cimento de
ionômero de vidro: Finishing Gloss (Vitre-
mer), Fortify e esmalte para unha Colo-
rama.Os cimentos ionoméricos usados foram
Vidrion R, Chelon Fil e Vitremer. Os resul-
tados indicaram que as melhores proteções
foram obtidas quando se usou a resina fluida
Finishing Gloss e o esmalte para unha Colo-
rama, não havendo diferença significativa
entre eles. Já o Fortify não demonstrou ser
o produto de primeira escolha para proteção
superficial.
Baia et al.1
avaliaram, no mesmo ano, a
técnica alternativa de tratamento para con-
trole da cárie dentária (ART) quanto ao grau
de aceitação pelos pacientes e às alterações
na microbiota oral pós-tratamento. O pro-
grama educativo-preventivo foi realizado em
conjunto com o tratamento curativo em 30
crianças de ambos os sexos, com idades de
quatro a sete anos, em dentes decíduos e per-
manentes, com material restaurador próprio
para esse fim. Antes e depois do tratamento,
foram realizadas coletas salivares para poste-
rior análise laboratorial a fim de detectar as
modificações quantitativas na microbiota oral
após o tratamento. A técnica obteve 98% de
aceitação por parte das crianças em função
da ausência de anestesia, da simplicidade e da
rapidez. O estudo concluiu que a promoção
da educação oral sem a possibilidade de tratar
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP
2 7
os problemas presentes na comunidade com-
promete os efeitos dessa educação. Portanto,
todo programa de saúde oral deve ser preven-
tivo, educativo e curativo.
Rodrigues et al.21
avaliaram in vitro,
ainda em 2000, a liberação de flúor de
alguns materiais odontológicos: Chelon Fil
(CF); Vitremer (V); Vitremer para cimen-
tação (VC); Dyract (D); e Enforce (E). A
análise de flúor foi realizada utilizando-se um
eletrodo específico (Orion 9.609) após um,
dois, três, quatro, cinco, seis, sete, 14, 21 e 28
dias. No 30.º dia, houve aplicação de flúor
com gel de NaF 2% por quatro minutos, e
novas análises de liberação de flúor foram
feitas após um, dois e três dias, a fim de
se avaliar a capacidade de recarregamento.
Os dados foram submetidos a análise estatís-
tica (ANOVA). Observou-se que o CF libe-
rou significativamente mais flúor do que os
outros materiais. O VC liberou ligeiramente
mais flúor queV. Os materiais D e E liberaram
significativamente menos que os outros. Após
a aplicação do gel fluoretado, todos voltaram
a liberar mais flúor, principalmente no pri-
meiro dia, de maneira semelhante ao período
inicial, exceto para o material V, que liberou
mais do queVC após o recarregamento.
PEDRINI et al.,17
em 2001, avaliaram
a cárie secundária como um problema de
saúde pública e socioeconômico no mundo.
A restauração de dentes assim compro-
metidos pode criar condições favoráveis à
proliferação microbiana na superfície do
material restaurador ou na interface dente/
restauração, com ambiente propício para o
estabelecimento de cárie secundária. O obje-
tivo deste estudo foi avaliar a capacidade de
retenção de placa bacteriana em cimentos de
ionômero de vidro convencionais (Chelon-
Fil e Vidrion R) e modificados por resina
(Vitremer e Fuji II LC) e de resina com-
posta híbrida (Z100), utilizada como con-
trole. Nos testes de retenção de microrganis-
mos, in situ, 12 voluntários utilizaram, por
7 dias, placa de Hawley contendo corpos-
de-prova de todos os materiais. A seguir,
os corpos-de-prova foram transferidos para
tubos contendo 2,0 ml de Ringer-PRAS e
os microrganismos presentes em sua super-
fície foram cultivados em placa com ágar-
sangue e ágar Mitis Salivarius Bacitracina, os
quais foram incubados, a 37ºC, em anaero-
biose (90% N_, 10% CO_), por 10 e 2 dias,
respectivamente. Os ionômeros modificados
por resina apresentaram menor número de
estreptococos do grupo mutans do que a
resina e os cimentos ionoméricos convencio-
nais, enquanto os ionômeros de vidro con-
vencionais apresentaram menor número de
estreptococos do grupo mutans que a resina,
não tendo sido essa diferença estatistica-
mente significativa.
Cefaly,2
em 2001, comparou a resistên-
cia a tração diametral e a sorção de água de
cimentos de ionômero de vidro modificados
por resina Fuji Plus (FP), Vitremer Luting
Cement (V) e ProTec Cem (PC) com as de
ionômeros de alta viscosidade indicados para
o tratamento restaurador atraumático Fuji
IX (FIX) e Ketac Molar (KM). O Ketac Fil
(KF) e o Ketac Cem (KC) foram usados
como controle. Os ionômeros modificados
por resina também foram testados em maior
proporção pó-líquido, a fim de se obter con-
sistência restauradora (FPr, Vr e PCr), em
corpos de prova, nos períodos de uma hora,
um dia e uma semana.As médias da resistên-
cia, em MPa, em um dia foram: 11,54 para
FIX; 11,63 para KM; 9,79 para KF; 15,48
para FP; 21,43 para FPr; 19,39 para PC;
20,96 para PCr; 12,22 para V; 18,33 para
Vr e 3,82 para KC. A sorção de água em
cinco espécimes e após sete dias foi deter-
minada pela seguinte fórmula: Mi-M2/v. As
médias da sorção de água, em µg/mm_,
foram: 137,66 para FIX; 100,97 para KM;
120,34 para KF; 257,99 para FP; 183,33
para FPr; 140,58 para PC; 126,12 para PCr;
248,54 para V; 171,71 para Vr e 170,28 para
KC. O Km e FIX apresentaram resistência a
tração significativamente menor que os ionô-
meros modificados na consistência restau-
radora. Exceto pelo PCr, os cimentos de
ionômero de vidro modificados por resina
na consistência restauradora apresentaram
maior sorção de água do que os de alta vis-
cosidade e o convencional.
Ramos et al.,20
em 2001, avaliaram a tra-
jetória de utilização da técnica doTRA (Tra-
tamento Restaurador Atraumático) como
alternativa para a saúde pública, com o
intuito de solucionar problemas causados
pela cárie dentária. A técnica revelou ter
sucesso em populações sem acesso à odonto-
logia convencional.
Figueiredo et al.,6
em 2001, analisaram
o contexto das restaurações atraumáticas que
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba
2 8
foram definidas por Frencken et al.7
com o
ionômero de vidro, que apresenta um bom
selamento da cavidade e adere ao esmalte
e a dentina. Mostra, ainda, biocompatibili-
dade com a polpa e dentina. As bases cien-
tíficas para a realização desse tipo de restau-
ração partiram dos trabalhos sobre capea-
mento pulpar indireto de Aponte, em 1966,
de Sheiham e McDonald, em 1994, que, por
sua vez, usaram os conhecimentos relatados
por Hojo e outros, que estudaram o pH e o
perfil ácido das lesões sob as restaurações e
descobriram que ele era semelhante ao das
lesões crônicas. A técnica utiliza o conheci-
mento há muito observado e praticado por
cirurgiões-dentistas do mundo inteiro, por
meio do capeamento pulpar indireto (Fisher,
1972, e King, 1965). Com o advento desses
novos materiais restauradores, surgiram pos-
sibilidades de uso de tecnologia avançada e,
ao mesmo tempo, apropriada (Nadanovsky,
1997). As limitações do uso das restaurações
atraumáticas devem-se,basicamente,ao maior
desgaste superficial e à menor dureza do mate-
rial restaurador quando comparado aos mate-
riais convencionais, como o amálgama e as
resinas compostas.
Poder-se-ia extrapolar,a partir dos resul-
tados que vêm sendo obtidos em muitos
estudos, que o uso da broca e da anestesia
estaria com os dias contados, desde que a
indústria de materiais odontológicos resol-
vesse os dois problemas que têm restringido
o uso desse tipo de restauração. A partir daí,
teríamos aberta a possibilidade de emprego
em muito maior escala dessas restaurações
que, além de serem menos dolorosas e menos
traumáticas, preservam uma maior quanti-
dade de tecido dentário. Essa preservação
verifica-se devido ao maior controle do ope-
rador quando da remoção da dentina cariada.
Nada de tecido dentário são é removido com
o instrumento manual, o que muitas vezes
acontece quando o operador está fazendo
uso de instrumentos rotatórios (Elderton,
1983). Essa vantagem tem, entretanto, uma
desvantagem, quando da abertura das cavi-
dades onde há cárie oculta, isto é, onde a
camada superficial de esmalte está somente
com uma pequena abertura e não permite
a passagem do instrumento manual. A reco-
mendação de Frencken et al.,7
nesses casos,
é que devem ser utilizados recortadores de
bordo ou machados para romper a camada
de esmalte socavado e permitir o acesso à
dentina cariada subjacente. Mas isso tem
sido uma restrição ao uso da técnica, pois é
um procedimento cansativo e traumatizante
para o operador.
PROPOSIÇÃO
O presente trabalho tem por objetivos
avaliar e controlar lesões cariosas tratadas pela
Técnica Restauradora Atraumática (ART)
em cavidades simples, Classe I, em dentes
posteriores permanentes, restauradas com
um cimento de ionômero de vidro, obser-
vando a efetividade clínica do procedimento
e do material restaurador e o beneficio pro-
duzido em crianças do Movimento Sem-
Terra, após três meses.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho de pesquisa proposto obede-
ceu aos critérios estabelecidos na Política de
Extensão da Universidade Metodista de Pira-
cicaba, no Manual dos Direitos Humanos
– 50 Anos, ambos publicados pela UNIMEP,
referentes aos padrões éticos, e também na
Resolução 196, de 10 de outubro de 1996,
do Conselho Nacional de Saúde.
Para realização do trabalho,inicialmente,
contatou-se o Serviço Social responsável pelo
atendimento dos pacientes das Agrovilas de
Promissão e a Secretária de Saúde de Pro-
missão, que escolheram as crianças partici-
pantes no projeto por meio de contato com
seus familiares. Obtida a aprovação, os pais
e responsáveis assistiram uma palestra feita
pelo pesquisador responsável, que esclareceu
toda a metodologia e os benefícios produzi-
dos e coletou a autorização dos pais para rea-
lizar o atendimento das crianças na escola da
Agrovila. Foi estabelecido um contato com
a diretoria da escola para esse atendimento,
por meio da assistente social.
Foram selecionados 50 pacientes, com
idade entre sete e 15 anos, de ambos os
sexos, moradores em Agrovilas do Movi-
mento Sem-Terra na região de Promissão/SP,
portadores de lesões cariosas de Classe I,
detectadas a partir de um exame clínico. Os
pacientes foram atendidos quinzenalmente
na escola da Agrovila, respeitando-se as férias
e o recesso escolar dos acadêmicos. O cri-
tério para inclusão no trabalho foi a presença
de uma ou mais cavidades oclusais envol-
vendo dentina e abertas o suficiente para
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP
2 9
a introdução de um escavador de dentina
pequeno. Os critérios de exclusão foram expo-
sição pulpar, presença de dor e história de fís-
tula. Durante a seleção, foi preenchida pela
bolsista uma ficha com os dados pessoais do
paciente, anamnese e história dentária.
As crianças envolvidas na pesquisa rece-
beram instruções e palestras de higiene bucal
e técnica de escovação.
Para a realização da técnica, os pacien-
tes foram posicionados sobre uma mesa,
com um encosto acolchoado para a cabeça
preso na sua extremidade, o que proporcio-
nou conforto e posicionamento adequado
do paciente em relação ao operador. Não
foram empregados equipamentos odontoló-
gicos convencionais, como mocho, cadeira
odontológica, compressor ou instrumentos
rotatórios. A escavação da dentina cariada
foi realizada pela bolsista, enquanto outro
acadêmico voluntário manipulou o cimento
ionoméricoVitro Molar (DFL,Rio de Janeiro,
Brasil). A bolsista realizou a restauração.
O isolamento do campo operatório foi
obtido com a colocação de rolos de algodão
somente na região a ser tratada, evitando
que a umidade comprometesse o trabalho
executado. A superfície de cada dente foi
limpa com bolinhas de algodão molhadas em
água, identificando-se o tamanho da cavi-
dade. Nos casos de lesões pequenas, a aber-
tura da cavidade foi ampliada com o uso de
um machado para esmalte, em movimentos
rotatórios, substituindo o emprego de uma
broca. A remoção do tecido cariado foi rea-
lizada com colheres de dentina, primeira-
mente na junção amelodentinária e, depois,
no assoalho da cavidade. Todo esmalte
sem suporte dentinário foi removido com
o machado para esmalte, pressionando-o
contra as paredes debilitadas do preparo. A
cavidade foi, então, lavada com uma boli-
nha de algodão molhada em água morna.
Um cimento de hidróxido de cálcio reco-
briu o fundo de cavidades muito profundas,
quando necessário. As fissuras da superfície
oclusal foram limpas com o auxílio de sonda
e bolinha de algodão e seladas com o mate-
rial restaurador. Com uma bolinha de algo-
dão saturada com o condicionador de den-
tina (Durelon-Liquido, ESPE, Germany),
realizou-se o condicionamento da cavidade
e da superfície oclusal na dentina e esmalte
por dez a 15 segundos, sendo as superfícies
lavadas várias vezes com algodão molhado.A
manipulação do material restaurador seguiu
as recomendações do fabricante. O cimento
Vitro Molar (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) foi
utilizado para cavidades de Classe I, sendo
inserido na cavidade com ligeiro excesso
e condensado nos ângulos internos com a
parte convexa de um escavador de dentina.
As fissuras também foram preenchidas após
condicionamento. Depois da inserção, o ope-
rador aplicou vaselina sobre o dedo da luva
e, com ele, exerceu uma leve pressão digital
sobre o material durante alguns segundos,
para remoção dos excessos e obtenção de
uma restauração com superfície mais lisa.
Com o auxílio de papel articular, a oclusão
foi checada e, quando necessário, desgas-
tou-se a restauração com esculpidores. Em
seguida, para proteção da restauração, foram
aplicadas duas camadas de esmalte para
unhas incolor (Colorama, São Paulo, Brasil),
sendo o paciente instruído a não comer por,
no mínimo, uma hora.
A avaliação clínica das restaurações
deu-se após o período de três meses por dois
avaliadores que não a bolsista e seu auxiliar.
Os critérios utilizados foram a retenção do
material na cavidade e a presença de cárie
secundária. Os escores da avaliação foram os
seguintes (Phantumvanit et al.,18
1996):
• 0 = presente, sem defeito.
• 1 = presente, pequenos defeitos na
margem e/ou desgaste da superfície de
menos de 0,5 mm de profundidade, não
necessita reparo.
• 2=presente,pequenosdefeitosnamargem
e/ou desgaste da superfície de 0,5 a 1 mm
de profundidade, necessita reparo.
• 3=presente,defeitosgrosseirosnamargem
e/ou desgaste da superfície de 1 mm ou
mais de profundidade, necessita reparo.
• 4 = ausente,restauração (quase) comple-
tamente perdida, necessita tratamento.
• 5 = ausente, outro tratamento foi reali-
zado por qualquer razão.
• 6 = dente ausente devido a qualquer razão.
• 7 = impossível diagnosticar.
Os escores 0 e 1 foram considerados acei-
táveis, enquanto os escores 2, 3 e 4 foram con-
siderados não aceitáveis, desde que as razões
para tratamento do dente ou a ausência do
mesmo fossem desconhecidas. A presença de
cárie foi igualmente determinada na avaliação
de três meses e definida como: 1. fratura em
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba
3 0
esmalte ou cavidade no dente; e 2. dentina na
cavidade com consistência amolecida e escura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram realizadas em 50 pacientes 52
restaurações com cimento de ionômero de
vidro Vitro Molar em molares superiores
e inferiores permanentes. Após três meses,
os pacientes foram avaliados comparativa-
mente, por meio de exame clinico feito por
dois avaliadores diferentes dos operadores
e usando-se escores que vão desde a res-
tauração presente e sem defeitos à restau-
ração (quase) completamente perdida. Ava-
liou-se 44 pacientes e 46 restaurações com
o cimento de ionômero de vidro. Delas, 29
(63,04%) foram consideradas aceitáveis e 17
(36,95%). não aceitáveis.
A técnica de restauração atraumática foi
indicada, inicialmente, para populações de
regiões extremamente carentes, onde a única
alternativa de tratamento de dentes cariados
era a extração. Atualmente, ela também está
indicada para atendimentos sociais.
A técnica ART é bastante simples,7
devendo o paciente ser posicionado sobre
uma mesa em posição supina, sendo a mesa
e cabeçote recobertos por um colchonete,
visando maior conforto ao paciente. Não
se utiliza anestesia, pois deve ser removida
apenas a dentina totalmente desorganizada. O
isolamento do campo operatório é feito com
isolamento relativo, usando-se rolos de algo-
dão, que devem ser trocados constantemente
para não haver contaminação da cavidade.
A manipulação do cimento ionomérico
é um passo importante da técnica. A pro-
porção pó/líquido deve ser rigorosamente
observada, bem como o tempo de manipu-
lação, seguindo as instruções do fabricante.
O material restaurador deve ser com-
primido com uma pressão digital sobre a
superfície a ser restaurada por dois minutos.
Essa pressão vai adaptar o material restaura-
dor às paredes cavitárias e à superfície oclu-
sal. Removem-se os excessos do ionômero de
vidro e protege-se a superfície da restauração
com verniz cavitário.
O uso do ionômero de vidro,15
que adere
quimicamente à estrutura dentária e libera
flúor para o meio bucal, remineraliza a dentina
e o esmalte, prevenindo a recidiva de cárie.
Apenas os casos em que os contatos
oclusais cêntricos estiverem suportados pela
estrutura dentária devem ser restaurados
unicamente com ionômero de vidro.5
Nas
situações em que houver contato oclusal
direto sobre o material restaurador,o cimento
ionomérico deve ser preferencialmente utili-
zado como material de forramento, em espe-
cial nas cavidades com esmalte socavado e
associado a uma restauração de amálgama
ou resina composta.
Os cimentos de ionômero de vidro indi-
cados para restaurações de cavidades tipo
Classe I conservativas são os cimentos de
ionômero de vidro restauradores indicados
para a técnica ART, os reforçados por prata3
e os modificados por resina,10
pelo fato de
esses materiais apresentarem maior resistên-
cia frente aos esforços mastigatórios.
A técnica ART pode fazer o controle
da cárie dental, estando disponível a toda a
população, independente de seu nível socio-
econômico.
CONCLUSÕES
Das 46 restaurações de ionômero de
vidro, após três meses de avaliação clínica,
tiveram escore 0: 21; escore 1: 8; escore 2: 4;
escore 3: 6; e escore 4: 7.
Os escores 0 e 1 foram considerados
como restaurações aceitáveis, com 29
restaurações nesta categoria. Os escores 2, 3
e 4 foram considerados como restaurações
não aceitáveis, perfazendo um total de 17
restaurações deficientes.
As restaurações de ionômero de vidro
tipo Classe I, após três meses, demonstraram
aceitabilidade em 63,04%, quase o dobro
das restaurações não aceitáveis, que atingiram
36,95%.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Baía KLR, Salgueiro MCC. Promoção de saúde bucal
através de um programa educativo-preventivo-curativo uti-
lizando a Técnica Restauradora Atraumática (ART). Rev
ABO Nac 2000 abr/mai; 8 (2):98-107.
2. Cefaly DFG. Resistência a tração diametral e sorção de
água de cimentos de ionômero de vidro utilizados no ART.
[Dissertação de mestrado] Bauru (SP): Universidade de
São Paulo; 2001.
3. Craig GG, Powell KR, Cooper MH. Caries progression in
primary molars: 24 months from a minimal treatment pro-
grame. Comunity Dent Oral Epidemiol 1981; 9:260-5.
4. Cury JA. Uso do flúor. In: Baratieri LN. Dentística. 2. ª ed.
Rio de Janeiro: Quintessence; 1992. cap. 2. p. 43-67.
5. De Gee A.J, Van Duinen RNB, Werner A, Davidson
LL. Early and long-term wear of convencional and
resin-modified glass ionomers. J Dent Res 1996; 75
(8):1.613-9.
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP
3 1
6. Figueiredo MC, Slavutzky SMB, Sampaio MS, Maltz M,
Sperb JB, Caufield PW, et al. Tratamento restaurador
atraumático no Brasil [citado em 26 de novembro de
2001]. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/
artigos.asp?id=291.
7. Frencken JE,SongpaisanY,Phantumvanit P,PilotT.Atrau-
maic restorative treatment (ART) technique: evaluation
after one year. Int Dent J 1994; 44:460-4.
8. Frencken JE, Pilot T, Songpaisan Y, Phantumvanit P.
Atraumatic restorative treatment (ART): rationale, tech-
nique and developement. J Publ Health Dent 1996; 56
(3):135-40 [Special issue].
9. Frencken JE, Makoni F, Sithole WD. Atraumatic restora-
tive treatment and glass-ionomer sealants in a school oral
health programme in Zimbabwe: evaluation after 1 year.
Caries Res 1996; 30 (6):428-33.
10. Mendonça JS, Gomes JEF, Franca MTC, Lauris JRP,
Navarro MFL. Diametral tensile strenght of convencional
and resin-modified glass ionomer luting cements. J Dent
Res 1997; 76:318 [Special issue/Abstract 2.240].
11. Mount GJ. Atlas de cimentos de ionômeros de vidro,
Bauru: Universidade de São Paulo.1991.
12. Mjür IA, Gordan VV. A review of atraumatic restorative
treatment (ART). Int Dent J 1999 jun; 49 (3):127-31.
13. Nagem Filho H, Domingues LA. Ionômero de vidro: agentes
protetores de superfície. EDUSC; Boletim Cultural 2000.
14. Navarro MFL. O que é preciso saber a respeito de ionô-
mero de vidro? Inovações,-vantagens e desvantagens. In:
Feller C, Bottino MA [editores]. Atualização na clínica
odontológica. São Paulo: Artes Médicas; 1994.
15. Navarro MFL, Pascotto RC. Cimentos de ionômero de
vidro – aplicações clínicas em odontologia. São Paulo:
Artes Médicas, série EAP-APCD; 1998.
16. Nunes OBC, Cefaly DFG, Oliveira AH, Tapety CMC,
Navarro MFL. Six-month evaluation of art technique
using ketac molar Annual Meeting of the Argentine Divi-
sion of the IADR, 31. J Dent Res 2000 mai; 79 (5):1.038.
17. Pedrini D, Gaetti Jardim Jr E, Vasconcelos AC. Retenção
de microrganismos bucais em cimentos de ionômero de
vidro convencionais e modificados por resina. Pesq Odon-
tol Bras 2001 jul/set; 15 (3):196-200.
18. Phatumvanit P, SongpaisanY, PilotT, Frencken, JE.Atrau-
matic restorative treatment (ART): a three years commu-
nity. Field trial inThailand – Survival of one surface resto-
rations in the permanent dentition. J Public Health Dent
1996; 56 (3):141-5 [Special issue].
19. Poletto LTA. Dental caries prevalence in Brazil. J Dent Res
1995; 74:495 [Special issue/Abstract 760].
20. Ramos MEB, Santos MAV, Carvalho FRP, Piro S, Medei-
ros UV. TRA: uma história de sucesso. Rev Bras Odontol
2001 jan/fev; 58 (1):13-5.
21. Rodrigues CRMD, Myaki SI, Matson MR, SarmientoVR.
Liberação de flúor de alguns materiais odontológicos antes
e após tratamento com gel fluoretado. Rev Inst Ciênc
Saúde 2000 jul/dez; 18 (2):129-33.
22. Sá FC, Pascotto RC, Pieroli DA, Navarro MFL. Shear
bond strenght of the glass ionomer cements to enamel and
dentin. J Dent Res 1997; 76:314 [Special issue/Abstract
2.407].
23. Sabage RCO, Gomes JEF,Vieira ALF, Lauris JRP, Navarro
MFL. Effect of time on the diametral tensile strenght of
silver-reinforced glass ionomer materials. J Dent Res 1997;
76:319 [Special issue/Abstract 2.444].
24. Wilson AD, Kent BE. The glass ionomer cement, a new
translucent dental filling material. J Appl Chem Biotech-
mol 1971; 21:313.
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba
3 2

Más contenido relacionado

Destacado

Día de los muertos
Día de los muertosDía de los muertos
Día de los muertosap10349
 
Presentación matrimonios 2015
Presentación matrimonios 2015Presentación matrimonios 2015
Presentación matrimonios 2015oscarpley2012
 
Job Profiles In Gaming Industry
Job Profiles In Gaming IndustryJob Profiles In Gaming Industry
Job Profiles In Gaming IndustryAnimation Kolkata
 
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPU
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPUEnhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPU
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPUMahesh Khadatare
 
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologico
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologicoQue es el mantenimiento de un artefacto tecnologico
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologicoMarleny Gutierrez Pedroza
 
Apresentação maven
Apresentação mavenApresentação maven
Apresentação mavenAndré Justi
 

Destacado (10)

Día de los muertos
Día de los muertosDía de los muertos
Día de los muertos
 
Presentación matrimonios 2015
Presentación matrimonios 2015Presentación matrimonios 2015
Presentación matrimonios 2015
 
Estudio de casos
Estudio de casosEstudio de casos
Estudio de casos
 
El cuento del gusano
El cuento del gusanoEl cuento del gusano
El cuento del gusano
 
Job Profiles In Gaming Industry
Job Profiles In Gaming IndustryJob Profiles In Gaming Industry
Job Profiles In Gaming Industry
 
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPU
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPUEnhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPU
Enhanced Human Computer Interaction using hand gesture analysis on GPU
 
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologico
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologicoQue es el mantenimiento de un artefacto tecnologico
Que es el mantenimiento de un artefacto tecnologico
 
Modelos de Instrucción
Modelos de InstrucciónModelos de Instrucción
Modelos de Instrucción
 
Apresentação maven
Apresentação mavenApresentação maven
Apresentação maven
 
graphing experimental result
graphing experimental resultgraphing experimental result
graphing experimental result
 

Similar a 22 diferente do outro, avaliação clínica do tratamento restaurador atraumático (art) em criaças assentadas do movimento sem terra

Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeAdequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeLucas Stolfo Maculan
 
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeAdequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeLucas Stolfo Maculan
 
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduos
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduosTratamento restaurador atraumatico em dentes deciduos
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduosprofwilberthlincoln1
 
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruth
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruthFissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruth
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruthJP ABNT
 
Clareamento interno uma alternativa para discromia de
Clareamento interno uma alternativa para discromia deClareamento interno uma alternativa para discromia de
Clareamento interno uma alternativa para discromia deJoyce Fagundes
 
Apresentação oral josb ppgb
Apresentação oral josb   ppgbApresentação oral josb   ppgb
Apresentação oral josb ppgbLeonardo Carvalho
 
Remodelação cosmética com resina composta
Remodelação cosmética com resina compostaRemodelação cosmética com resina composta
Remodelação cosmética com resina compostaEduardo Souza-Junior
 
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...Escovas TePe, Produtos higiene bucal
 
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMER
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMERASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMER
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMERMárcio Borges
 
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.Escovas TePe, Produtos higiene bucal
 
Allan artigo 2013 clipeodonto
Allan artigo 2013 clipeodontoAllan artigo 2013 clipeodonto
Allan artigo 2013 clipeodontoAllan Ulisses
 
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptx
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptxOdontologia Para Bebês odontopediatria.pptx
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptxDoanyMoura1
 
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptx
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptxIntrodução à Odontologia Pediátrica.pptx
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptxDoanyMoura1
 

Similar a 22 diferente do outro, avaliação clínica do tratamento restaurador atraumático (art) em criaças assentadas do movimento sem terra (20)

Capeamento pulpar dentes deciduos
Capeamento pulpar dentes deciduosCapeamento pulpar dentes deciduos
Capeamento pulpar dentes deciduos
 
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeAdequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
 
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saudeAdequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
Adequacao do-meio-bucal-e-promocao-de-saude
 
Tra
TraTra
Tra
 
Indicações de odontopediatras
Indicações de odontopediatrasIndicações de odontopediatras
Indicações de odontopediatras
 
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduos
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduosTratamento restaurador atraumatico em dentes deciduos
Tratamento restaurador atraumatico em dentes deciduos
 
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruth
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruthFissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruth
Fissuras labiais estudo bibliográfico_resumo_expandido_25_02_2015_odonto_ruth
 
Clareamento interno uma alternativa para discromia de
Clareamento interno uma alternativa para discromia deClareamento interno uma alternativa para discromia de
Clareamento interno uma alternativa para discromia de
 
federal reserve
federal reservefederal reserve
federal reserve
 
87 318-1-pb
87 318-1-pb87 318-1-pb
87 318-1-pb
 
Apresentação oral josb ppgb
Apresentação oral josb   ppgbApresentação oral josb   ppgb
Apresentação oral josb ppgb
 
Remodelação cosmética com resina composta
Remodelação cosmética com resina compostaRemodelação cosmética com resina composta
Remodelação cosmética com resina composta
 
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...
A importância do controle mecânico do biofilme dentário para a rotina clínica...
 
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMER
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMERASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMER
ASPECTOS ODONTOLÓGICOS NOS IDOSOS PORTADORES DE ALZHEIMER
 
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.
Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica.
 
Allan artigo 2013 clipeodonto
Allan artigo 2013 clipeodontoAllan artigo 2013 clipeodonto
Allan artigo 2013 clipeodonto
 
Tratamento de suporte periodontal
Tratamento de suporte periodontalTratamento de suporte periodontal
Tratamento de suporte periodontal
 
Trabalho8
Trabalho8Trabalho8
Trabalho8
 
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptx
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptxOdontologia Para Bebês odontopediatria.pptx
Odontologia Para Bebês odontopediatria.pptx
 
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptx
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptxIntrodução à Odontologia Pediátrica.pptx
Introdução à Odontologia Pediátrica.pptx
 

22 diferente do outro, avaliação clínica do tratamento restaurador atraumático (art) em criaças assentadas do movimento sem terra

  • 1. FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP 2 3 Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003 CLINICAL EVALUATION OF THE ATRAUMATIC RESTORATIVE TREATMENT (ART) IN SETTLED CHILDREN FROM THE LANDLESS MOVEMENT AVALIAÇÃO CLÍNICA DO TRATAMENTO RESTAURADOR ATRAUMÁTICO (ART) EM CRIANÇAS ASSENTADAS DO MOVIMENTO SEM-TERRA OSVALDO BENONI CUNHA NUNES PAULO HUMAITÁ DE ABREU NANCY ALFIERI NUNES LILIAN PAOLA KJAER DA FONSECA MOURA REIS RICARDO TADEU MOURA REIS ARIOVALDO ROBERTO JÚNIOR RESUMO O tratamento restaurador atraumático surgiu como um meio de minimizar a progressão cariosa e tem sido utilizado em diversos países, entre eles o Brasil. Este trabalho se propõe a avaliar os resultados da utilização deste tipo de tratamento em um grupo carente e marginalizado quanto ao atendimento médico-odon- tológico,ou seja,crianças integrantes do grupo de assentados do Movimento Sem-Terra,da região de Promissão/SP.Foram sele- cionados 50 pacientes com idade entre 7 e 15 anos, de ambos os sexos, portadores de lesões cariosas tipo Classe I, detectadas a partir de exame clínico. As crianças receberam instruções e palestras de higiene oral, realizando-se 52 restaurações com o ionômero de vidro Vitro Molar, com a técnica de Tratamento Restaurador Atraumático (ART). Depois de três meses foram reavaliados 44 pacientes e 46 das restaurações, quantificadas por escores:29 delas (63,04%) obtiveram escores aceitáveis e 17 (36,95%),não aceitáveis.Os dados demonstraram que o ART, em associação com o ionômero de vidro,é útil para atendimentos sociais e para pacientes carentes. UNITERMOS: IONÔMERO DEVIDRO – ART. SUMMARY The Atraumatic Restorative Treatment appeared as a means of minimizing the dental caries progression and it has been used in several countries, among them, Brazil. This work intends to evaluate the results of this treatment in a group of poor and marginalized people lacking medical and odonto- logical care, that is, children from the settled people from the Landless Movement, in Promissão, SP. Fifty boys and girls were selected, with ages ranging from 7 and 15 years.They had Class I caries,detected through clinical examination.The children received instructions and lectures on oral hygiene and 52 restorations were accomplished with the glass iono- mer, through the technique of Atraumatic Restorative Treat- ment (ART).After 3 months,44 patients and 46 restorations were re-evaluated and quantified by scores: 29 (63,04%) of them reached acceptable scores and 17 (36,95%) were not acceptable.The data showed that this technique (ART), in association with the glass ionomer, is useful for social services and for wanting patients. KEYWORDS: GLASS IONOMER – ART. Professor doutor de Dentística da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP Professor doutor de Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP Professora doutora de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP Acadêmica da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Lins/UNIMEP
  • 2. UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba 2 4 INTRODUÇÃO Em 1971,Wilson e Kent24 foram os pri- meiros a relatar sobre o cimento de ionômero de vidro, referindo-se a ele como um novo material translúcido, o que representava uma evolução do cimento de silicato. A reação de presa é essencialmente do tipo ácido-básica e resulta em um sal hidratado. O cimento de ionômero de vidro tem propriedades impor- tantes, como adesividade do esmalte à den- tina, por meio dos ions cálcio e fosfato com os grupos carboxílicos; liberação de flúor,4 agindo no processo de remineralização e con- trole da cárie dentária; biocompatibilidade11 em cavidades rasas e médias, necessitando, porém, em cavidades profundas, da colocação de uma camada de hidróxido de cálcio; e coe- ficiente de expansão térmica linear14 seme- lhante ao da estrutura dentária. A cárie dentária15 é uma doença que afeta a população de vários países. Essa doença tem apresentado um declínio nos países desenvolvidos, nas últimas décadas. Contudo, mesmo em países altamente indus- trializados, como o Japão e a Coréia, os índi- ces da doença ainda são muitos elevados. Apesar da existência de vários métodos efeti- vos para prevenção da cárie, ela ainda preva- lece não só em países em desenvolvimento, mas também em diversos países industrializa- dos, pois uma parcela da população não tem acesso a esses métodos, não possui condições financeiras para custeá-los ou simplesmente não tem conhecimento dos mesmos. Em 1995, um trabalho19 epidemioló- gico foi implementado na cidade de Bauru, visando avaliar a saúde bucal dos habitantes e colhendo informações sobre as condições bucais e os tratamentos odontológicos neces- sários, usando os critérios propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O levantamento foi realizado em 6.598 indivíduos de 1.839 famílias, em seus pró- prios domicílios. Os resultados desse estudo demonstraram uma carência em relação às metas da OMS para o ano 2000, que eram: a necessidade de aumentar o número de crianças sem cárie (na faixa de cinco a seis anos de idade) de 38% para 50 % e aumen- tar o número de pessoas com dentição per- manente completa aos 18 anos de idade de 51% para 85%. Ao mesmo tempo, era pre- ciso diminuir o índice CPOD de 4,8 para 3 nas crianças de12 anos de idade. Com o intuito de melhorar essa situ- ação, comum não só no Brasil mas também em outros países em desenvolvimento ou não industrializados, Craig et al.,3 em 1981, introduziram um programa de tratamento mínimo em escolares no País de Gales, visando a redução na progressão de cáries em molares decíduos. Foi empregado trata- mento com AgF, seguido de aplicação de SnF_ e somente 35% das lesões exigiram qualquer outro tratamento em um período controle de 24 meses. Em meados da década de 80, Frencken et al.8 introduziram uma técnica restaura- dora alternativa conhecida comoTratamento Restaurador Atraumático (ART). A técnica baseia-se simplesmente na remoção de tecido cariado por meio da utilização de instrumen- tos manuais e a restauração da cavidade com ionômero de vidro quimicamente ativado. Ela foi pioneiramente empregada como parte de um programa de saúde bucal comunitário realizado naTanzânia. Devido ao sucesso clí- nico na década de 90, os mesmos autores9 passaram a desenvolver projetos coletivos para melhoria da saúde bucal com o uso da técnica ART em outros países subdesenvol- vidos, entre eles Zimbabwe e Tailândia. O índice de sucesso de restaurações Classe I em dentes permanentes de escolares do Zim- babwe foi de 89,2%, enquanto o de falhas foi de 10,3%, em dois anos. Na Tailândia, os resultados foram igualmente satisfatórios: 93%, 83% e 71% em avaliações em um, dois e três anos, respectivamente. Os índices não foram aceitáveis em cavidades compostas em dentes decíduos, com 55% de falhas em um ano (Frencken et al.7 1994). Uma das limitações da técnica restau- radora atraumática diz respeito ao material restaurador. Os cimentos de ionômero de vidro restauradores convencionais apresen- tam problemas de solubilidade e degradação devido aos fenômenos de sinérese e embe- bição,além de propriedades mecânicas desfa- voráveis,como baixa resistência coesiva e des- gaste. Devido a essas deficiências, o uso em cavidades de Classe II freqüentemente acar- reta perda parcial ou total das restaurações. Comodesenvolvimentodecimentosionoméri- cos reforçados com componentes resinosos, houve uma considerável melhoria das pro- priedades mecânicas e adesivas desses mate- riais. Estudos laboratoriais demonstraram Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 3. FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP 2 5 em dentes decíduos foram julgadas próspe- ras. A taxa de sucesso do ART na dentição permanente (principalmente em cavidades estreitas) foi de 93%, enquanto a de retenção para selantes foi de 78%.As crianças estavam contentes por terem recebido tratamento com essa técnica e mostraram pouco medo. A técnica de ART é um procedimento de tratamento de cáries promissor para uso em áreas rurais e suburbanas em países pouco industrializados. Frencken et al.8 avaliaram, em 1996, um programa odontológico em escolas secun- dárias com o tratamento restaurador atrau- mático (ART). Ionômero de vidro era usado como material para selante, que era colocado com a técnica de pressão digital. Resultados após um ano revelaram uma porcentagem de sobrevivência das restaurações de uma face de 93,4%, sendo os percentuais de retenção completa e parcial dos selantes de 60,3% e de 13,4%, respectivamente. Nenhuma cárie foi observada em dentes restaurados. Na etapa inicial do programa 0,8% das superfícies tinham começo de lesões de esmalte que, em um ano, progrediram em lesões ativas dentin- árias. As porcentagens de retenção de selante e de sobrevivência de restaurações de ART foram influenciadas por efeito do operador. A maioria das restaurações foi realizada sem anestesia local. O tempo de tratamento médio para restaurações de uma face foi de 22,1 min (a média por operador foi de 19,8-23,6 min) e, para colocação do selante, de 9,4 min (média por operador de 8,2-10,8 min). Foi observada sensibilidade pós-operatória em 6% dos dentes restaurados. A satisfação dos estudantes atingiu 95%. Concluiu-se que o ART pode ser a modalidade de trata- mento para restaurações inviáveis em muitas populações que se agrupam globalmente. No mesmo ano, Frencken et al.9 obser- varam que, apesar dos esforços em longo prazo para usar equipamento dental apro- priado para tratar cáries em países menos desenvolvidos economicamente, o procedi- mento predominante ainda era a extração. As razões para o fracasso em evitar avulsões são determinadas nesse estudo. Apoiado em resultados de pesquisas realizadas no Pri- meiro Mundo, foi apresentado um módulo de tratamento (ART) em 15 etapas para cáries dentais. A técnica foi baseada na remoção do tecido descalcificado com ins- adesividade, tanto em esmalte como em den- tina (Sá et al.22 1997), e resistência flexural (Mendonça et al.10 1997) maiores do que as apresentadas pelo cimento convencional. Nunes et al.16 (2000) realizaram o mesmo experimento em escolas estaduais da cidade de Bauru/SP, com crianças de sete a 12 anos, demonstrando efetividade quanto à metodo- logia aplicada num período de seis meses. As avaliações clínica e fotográfica revelaram que 71,8% das restaurações eram aceitáveis e que o cimento ionomérico Ketac–Molar contribuiu, com suas propriedades, para tal sucesso. O presente trabalho teve por objetivo avaliar e controlar lesões cariosas tratadas com a técnica restauradora atraumática (ART) em cavidades simples (Classe I) de dentes posteriores permanentes, cujas restaurações foram realizadas utilizando-se um cimento de ionômero de vidro, visando apreciar o comportamento do material e o beneficio produzido ao grupo alvo da pes- quisa, visto que a técnica foi indicada inicial- mente para populações de regiões extrema- mente carentes onde a única alternativa de tratamento de dentes cariados era a extração. Atualmente, também tem indicação para atendimentos sociais, em que se enquadram os pacientes do Movimento Sem-Terra. REVISÃO DE LITERATURA Frencken et al.,7 em 1994, observaram que a extração é o tratamento dentário mais usado em pessoas em áreas rurais, suburba- nas e em países menos industrializados. Para melhorar essa situação, uma técnica de trata- mento alternativo foi desenvolvida e funda- mentada só na escavação de lesões cariosas, usando cimento de ionômero de vidro como material de preenchimento ou selante. Essa técnica, conhecida como tratamento res- taurador atraumático (ART), segue o princí- pio de intervenção mínima, não requerendo equipamento elétrico. Ela demonstrou lon- gevidade de restaurações e selantes na zona rural da Tailândia. Estudos paralelos foram feitos em duas aldeias. Numa, usou-se a técnica de ART; na outra, as restaurações foram preenchidas com amálgama em uni- dades dentais móveis, mantendo-se uma ter- ceira como grupo controle. Depois de um ano, 79% do preenchimento de ART em superfície estreita e 55% em superfície ampla Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 4. UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba 2 6 trumentos manuais, restaurando-se a cavi- dade com material de preenchimento ade- sivo. As vantagens e limitações da técnica e seu uso foram discutidas, bem como o pro- grama de saúde oral em escolares no Zimba- bwe. O trabalho concluiu que a ART pode ser muito usada na maior parte da população mundial de hoje. Phantumvanit et al.18 compararam, em 1996,oTratamento RestauradorAtraumático (ART) e a técnica de amálgama convencional no tratamento de cáries dentais. O relatório foi limitado aos resultados das restaurações de uma face na dentição permanente num período de três anos. Experiência de campo foi realizada em aldeias rurais no nordeste da Tailândia. As cáries dentais de 144 pessoas foram tratadas pela técnica de ART, totali- zando 241 restaurações. Em uma segunda aldeia, foram realizadas 205 restaurações de amálgama convencional em 138 pessoas usando equipamento dental móvel. ART e restaurações de amálgama foram executadas por um dentista e duas enfermeiras dentais.A avaliação clínica foi realizada após um, dois e três anos. A longevidade das restaurações foi determinada computando a taxa de sobrevi- vência cumulativa calculada de acordo com a tabela método de vida. A taxa de sobrevi- vência das restaurações de ART (93%, 83%, 71% após um, dois e três anos, respecti- vamente) foi semelhante à das restaurações de amálgama (98%, 94%, 85%, respectiva- mente), mas com diferenças estatísticas sig- nificativas. Essa diferença foi observada nas restaurações de ART em crianças e adultos realizadas pelo dentista e enfermeiras den- tais.Taxas de sobrevivência mais baixas foram detectadas na superfície oclusal, quando com- paradas com as restaurações de outras faces. ART foi uma alternativa para a realização de restaurações de cáries dentais, especialmente em lesões de uma face na dentição perma- nente, podendo fazer o controle de cáries den- tais em todas as pessoas, independentemente de suas condições econômicas, devido à sua simplicidade e intervenção mínima. Em 1999, Mjür e Gordan12 realizaram um estudo da análise crítica dos resultados obtidos com a técnica do Tratamento Res- taurador Atraumático (ART) em fóssulas e fissuras com um ionômero de vidro restau- rador. Os resultados abrangem retenção, efe- tividade de custo, sensibilidade operatória e efeito de pessoal com conhecimentos edu- cacionais diferentes envolvidos nesse trata- mento operatório alternativo. Estudos com- parativos com dentes permanentes e decíduos restaurados com amálgama e selante de ionô- mero de vidro também foram utilizados. Cri- térios clínicos foram especialmente defini- dos para avaliar os resultados, sendo publica- dos dados de três anos, embora prazos mais longos sejam requeridos. A técnica também poderia ser aplicada em pacientes com alto risco, com cáries rampantes, antes do benefi- cio máximo do tratamento ser averiguado. Nagem Filho e Domingues13 estudaram, em 2000, o ionômero de vidro quanto à sua proteção de superfície, dada sua utilização como material bastante crítico. A indicação da proporção pó-líquido feita pelo fabri- cante deve ser rigorosamente obedecida e a manipulação, a inserção e a proteção do material precisam ser realizadas de maneira apropriada. O experimento baseou-se nesses dados para avaliar três diferentes protetores de superfície em restaurações de cimento de ionômero de vidro: Finishing Gloss (Vitre- mer), Fortify e esmalte para unha Colo- rama.Os cimentos ionoméricos usados foram Vidrion R, Chelon Fil e Vitremer. Os resul- tados indicaram que as melhores proteções foram obtidas quando se usou a resina fluida Finishing Gloss e o esmalte para unha Colo- rama, não havendo diferença significativa entre eles. Já o Fortify não demonstrou ser o produto de primeira escolha para proteção superficial. Baia et al.1 avaliaram, no mesmo ano, a técnica alternativa de tratamento para con- trole da cárie dentária (ART) quanto ao grau de aceitação pelos pacientes e às alterações na microbiota oral pós-tratamento. O pro- grama educativo-preventivo foi realizado em conjunto com o tratamento curativo em 30 crianças de ambos os sexos, com idades de quatro a sete anos, em dentes decíduos e per- manentes, com material restaurador próprio para esse fim. Antes e depois do tratamento, foram realizadas coletas salivares para poste- rior análise laboratorial a fim de detectar as modificações quantitativas na microbiota oral após o tratamento. A técnica obteve 98% de aceitação por parte das crianças em função da ausência de anestesia, da simplicidade e da rapidez. O estudo concluiu que a promoção da educação oral sem a possibilidade de tratar Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 5. FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP 2 7 os problemas presentes na comunidade com- promete os efeitos dessa educação. Portanto, todo programa de saúde oral deve ser preven- tivo, educativo e curativo. Rodrigues et al.21 avaliaram in vitro, ainda em 2000, a liberação de flúor de alguns materiais odontológicos: Chelon Fil (CF); Vitremer (V); Vitremer para cimen- tação (VC); Dyract (D); e Enforce (E). A análise de flúor foi realizada utilizando-se um eletrodo específico (Orion 9.609) após um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, 14, 21 e 28 dias. No 30.º dia, houve aplicação de flúor com gel de NaF 2% por quatro minutos, e novas análises de liberação de flúor foram feitas após um, dois e três dias, a fim de se avaliar a capacidade de recarregamento. Os dados foram submetidos a análise estatís- tica (ANOVA). Observou-se que o CF libe- rou significativamente mais flúor do que os outros materiais. O VC liberou ligeiramente mais flúor queV. Os materiais D e E liberaram significativamente menos que os outros. Após a aplicação do gel fluoretado, todos voltaram a liberar mais flúor, principalmente no pri- meiro dia, de maneira semelhante ao período inicial, exceto para o material V, que liberou mais do queVC após o recarregamento. PEDRINI et al.,17 em 2001, avaliaram a cárie secundária como um problema de saúde pública e socioeconômico no mundo. A restauração de dentes assim compro- metidos pode criar condições favoráveis à proliferação microbiana na superfície do material restaurador ou na interface dente/ restauração, com ambiente propício para o estabelecimento de cárie secundária. O obje- tivo deste estudo foi avaliar a capacidade de retenção de placa bacteriana em cimentos de ionômero de vidro convencionais (Chelon- Fil e Vidrion R) e modificados por resina (Vitremer e Fuji II LC) e de resina com- posta híbrida (Z100), utilizada como con- trole. Nos testes de retenção de microrganis- mos, in situ, 12 voluntários utilizaram, por 7 dias, placa de Hawley contendo corpos- de-prova de todos os materiais. A seguir, os corpos-de-prova foram transferidos para tubos contendo 2,0 ml de Ringer-PRAS e os microrganismos presentes em sua super- fície foram cultivados em placa com ágar- sangue e ágar Mitis Salivarius Bacitracina, os quais foram incubados, a 37ºC, em anaero- biose (90% N_, 10% CO_), por 10 e 2 dias, respectivamente. Os ionômeros modificados por resina apresentaram menor número de estreptococos do grupo mutans do que a resina e os cimentos ionoméricos convencio- nais, enquanto os ionômeros de vidro con- vencionais apresentaram menor número de estreptococos do grupo mutans que a resina, não tendo sido essa diferença estatistica- mente significativa. Cefaly,2 em 2001, comparou a resistên- cia a tração diametral e a sorção de água de cimentos de ionômero de vidro modificados por resina Fuji Plus (FP), Vitremer Luting Cement (V) e ProTec Cem (PC) com as de ionômeros de alta viscosidade indicados para o tratamento restaurador atraumático Fuji IX (FIX) e Ketac Molar (KM). O Ketac Fil (KF) e o Ketac Cem (KC) foram usados como controle. Os ionômeros modificados por resina também foram testados em maior proporção pó-líquido, a fim de se obter con- sistência restauradora (FPr, Vr e PCr), em corpos de prova, nos períodos de uma hora, um dia e uma semana.As médias da resistên- cia, em MPa, em um dia foram: 11,54 para FIX; 11,63 para KM; 9,79 para KF; 15,48 para FP; 21,43 para FPr; 19,39 para PC; 20,96 para PCr; 12,22 para V; 18,33 para Vr e 3,82 para KC. A sorção de água em cinco espécimes e após sete dias foi deter- minada pela seguinte fórmula: Mi-M2/v. As médias da sorção de água, em µg/mm_, foram: 137,66 para FIX; 100,97 para KM; 120,34 para KF; 257,99 para FP; 183,33 para FPr; 140,58 para PC; 126,12 para PCr; 248,54 para V; 171,71 para Vr e 170,28 para KC. O Km e FIX apresentaram resistência a tração significativamente menor que os ionô- meros modificados na consistência restau- radora. Exceto pelo PCr, os cimentos de ionômero de vidro modificados por resina na consistência restauradora apresentaram maior sorção de água do que os de alta vis- cosidade e o convencional. Ramos et al.,20 em 2001, avaliaram a tra- jetória de utilização da técnica doTRA (Tra- tamento Restaurador Atraumático) como alternativa para a saúde pública, com o intuito de solucionar problemas causados pela cárie dentária. A técnica revelou ter sucesso em populações sem acesso à odonto- logia convencional. Figueiredo et al.,6 em 2001, analisaram o contexto das restaurações atraumáticas que Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 6. UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba 2 8 foram definidas por Frencken et al.7 com o ionômero de vidro, que apresenta um bom selamento da cavidade e adere ao esmalte e a dentina. Mostra, ainda, biocompatibili- dade com a polpa e dentina. As bases cien- tíficas para a realização desse tipo de restau- ração partiram dos trabalhos sobre capea- mento pulpar indireto de Aponte, em 1966, de Sheiham e McDonald, em 1994, que, por sua vez, usaram os conhecimentos relatados por Hojo e outros, que estudaram o pH e o perfil ácido das lesões sob as restaurações e descobriram que ele era semelhante ao das lesões crônicas. A técnica utiliza o conheci- mento há muito observado e praticado por cirurgiões-dentistas do mundo inteiro, por meio do capeamento pulpar indireto (Fisher, 1972, e King, 1965). Com o advento desses novos materiais restauradores, surgiram pos- sibilidades de uso de tecnologia avançada e, ao mesmo tempo, apropriada (Nadanovsky, 1997). As limitações do uso das restaurações atraumáticas devem-se,basicamente,ao maior desgaste superficial e à menor dureza do mate- rial restaurador quando comparado aos mate- riais convencionais, como o amálgama e as resinas compostas. Poder-se-ia extrapolar,a partir dos resul- tados que vêm sendo obtidos em muitos estudos, que o uso da broca e da anestesia estaria com os dias contados, desde que a indústria de materiais odontológicos resol- vesse os dois problemas que têm restringido o uso desse tipo de restauração. A partir daí, teríamos aberta a possibilidade de emprego em muito maior escala dessas restaurações que, além de serem menos dolorosas e menos traumáticas, preservam uma maior quanti- dade de tecido dentário. Essa preservação verifica-se devido ao maior controle do ope- rador quando da remoção da dentina cariada. Nada de tecido dentário são é removido com o instrumento manual, o que muitas vezes acontece quando o operador está fazendo uso de instrumentos rotatórios (Elderton, 1983). Essa vantagem tem, entretanto, uma desvantagem, quando da abertura das cavi- dades onde há cárie oculta, isto é, onde a camada superficial de esmalte está somente com uma pequena abertura e não permite a passagem do instrumento manual. A reco- mendação de Frencken et al.,7 nesses casos, é que devem ser utilizados recortadores de bordo ou machados para romper a camada de esmalte socavado e permitir o acesso à dentina cariada subjacente. Mas isso tem sido uma restrição ao uso da técnica, pois é um procedimento cansativo e traumatizante para o operador. PROPOSIÇÃO O presente trabalho tem por objetivos avaliar e controlar lesões cariosas tratadas pela Técnica Restauradora Atraumática (ART) em cavidades simples, Classe I, em dentes posteriores permanentes, restauradas com um cimento de ionômero de vidro, obser- vando a efetividade clínica do procedimento e do material restaurador e o beneficio pro- duzido em crianças do Movimento Sem- Terra, após três meses. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho de pesquisa proposto obede- ceu aos critérios estabelecidos na Política de Extensão da Universidade Metodista de Pira- cicaba, no Manual dos Direitos Humanos – 50 Anos, ambos publicados pela UNIMEP, referentes aos padrões éticos, e também na Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. Para realização do trabalho,inicialmente, contatou-se o Serviço Social responsável pelo atendimento dos pacientes das Agrovilas de Promissão e a Secretária de Saúde de Pro- missão, que escolheram as crianças partici- pantes no projeto por meio de contato com seus familiares. Obtida a aprovação, os pais e responsáveis assistiram uma palestra feita pelo pesquisador responsável, que esclareceu toda a metodologia e os benefícios produzi- dos e coletou a autorização dos pais para rea- lizar o atendimento das crianças na escola da Agrovila. Foi estabelecido um contato com a diretoria da escola para esse atendimento, por meio da assistente social. Foram selecionados 50 pacientes, com idade entre sete e 15 anos, de ambos os sexos, moradores em Agrovilas do Movi- mento Sem-Terra na região de Promissão/SP, portadores de lesões cariosas de Classe I, detectadas a partir de um exame clínico. Os pacientes foram atendidos quinzenalmente na escola da Agrovila, respeitando-se as férias e o recesso escolar dos acadêmicos. O cri- tério para inclusão no trabalho foi a presença de uma ou mais cavidades oclusais envol- vendo dentina e abertas o suficiente para Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 7. FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP 2 9 a introdução de um escavador de dentina pequeno. Os critérios de exclusão foram expo- sição pulpar, presença de dor e história de fís- tula. Durante a seleção, foi preenchida pela bolsista uma ficha com os dados pessoais do paciente, anamnese e história dentária. As crianças envolvidas na pesquisa rece- beram instruções e palestras de higiene bucal e técnica de escovação. Para a realização da técnica, os pacien- tes foram posicionados sobre uma mesa, com um encosto acolchoado para a cabeça preso na sua extremidade, o que proporcio- nou conforto e posicionamento adequado do paciente em relação ao operador. Não foram empregados equipamentos odontoló- gicos convencionais, como mocho, cadeira odontológica, compressor ou instrumentos rotatórios. A escavação da dentina cariada foi realizada pela bolsista, enquanto outro acadêmico voluntário manipulou o cimento ionoméricoVitro Molar (DFL,Rio de Janeiro, Brasil). A bolsista realizou a restauração. O isolamento do campo operatório foi obtido com a colocação de rolos de algodão somente na região a ser tratada, evitando que a umidade comprometesse o trabalho executado. A superfície de cada dente foi limpa com bolinhas de algodão molhadas em água, identificando-se o tamanho da cavi- dade. Nos casos de lesões pequenas, a aber- tura da cavidade foi ampliada com o uso de um machado para esmalte, em movimentos rotatórios, substituindo o emprego de uma broca. A remoção do tecido cariado foi rea- lizada com colheres de dentina, primeira- mente na junção amelodentinária e, depois, no assoalho da cavidade. Todo esmalte sem suporte dentinário foi removido com o machado para esmalte, pressionando-o contra as paredes debilitadas do preparo. A cavidade foi, então, lavada com uma boli- nha de algodão molhada em água morna. Um cimento de hidróxido de cálcio reco- briu o fundo de cavidades muito profundas, quando necessário. As fissuras da superfície oclusal foram limpas com o auxílio de sonda e bolinha de algodão e seladas com o mate- rial restaurador. Com uma bolinha de algo- dão saturada com o condicionador de den- tina (Durelon-Liquido, ESPE, Germany), realizou-se o condicionamento da cavidade e da superfície oclusal na dentina e esmalte por dez a 15 segundos, sendo as superfícies lavadas várias vezes com algodão molhado.A manipulação do material restaurador seguiu as recomendações do fabricante. O cimento Vitro Molar (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) foi utilizado para cavidades de Classe I, sendo inserido na cavidade com ligeiro excesso e condensado nos ângulos internos com a parte convexa de um escavador de dentina. As fissuras também foram preenchidas após condicionamento. Depois da inserção, o ope- rador aplicou vaselina sobre o dedo da luva e, com ele, exerceu uma leve pressão digital sobre o material durante alguns segundos, para remoção dos excessos e obtenção de uma restauração com superfície mais lisa. Com o auxílio de papel articular, a oclusão foi checada e, quando necessário, desgas- tou-se a restauração com esculpidores. Em seguida, para proteção da restauração, foram aplicadas duas camadas de esmalte para unhas incolor (Colorama, São Paulo, Brasil), sendo o paciente instruído a não comer por, no mínimo, uma hora. A avaliação clínica das restaurações deu-se após o período de três meses por dois avaliadores que não a bolsista e seu auxiliar. Os critérios utilizados foram a retenção do material na cavidade e a presença de cárie secundária. Os escores da avaliação foram os seguintes (Phantumvanit et al.,18 1996): • 0 = presente, sem defeito. • 1 = presente, pequenos defeitos na margem e/ou desgaste da superfície de menos de 0,5 mm de profundidade, não necessita reparo. • 2=presente,pequenosdefeitosnamargem e/ou desgaste da superfície de 0,5 a 1 mm de profundidade, necessita reparo. • 3=presente,defeitosgrosseirosnamargem e/ou desgaste da superfície de 1 mm ou mais de profundidade, necessita reparo. • 4 = ausente,restauração (quase) comple- tamente perdida, necessita tratamento. • 5 = ausente, outro tratamento foi reali- zado por qualquer razão. • 6 = dente ausente devido a qualquer razão. • 7 = impossível diagnosticar. Os escores 0 e 1 foram considerados acei- táveis, enquanto os escores 2, 3 e 4 foram con- siderados não aceitáveis, desde que as razões para tratamento do dente ou a ausência do mesmo fossem desconhecidas. A presença de cárie foi igualmente determinada na avaliação de três meses e definida como: 1. fratura em Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 8. UNIMEP•UniversidadeMetodistadePiracicaba 3 0 esmalte ou cavidade no dente; e 2. dentina na cavidade com consistência amolecida e escura. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas em 50 pacientes 52 restaurações com cimento de ionômero de vidro Vitro Molar em molares superiores e inferiores permanentes. Após três meses, os pacientes foram avaliados comparativa- mente, por meio de exame clinico feito por dois avaliadores diferentes dos operadores e usando-se escores que vão desde a res- tauração presente e sem defeitos à restau- ração (quase) completamente perdida. Ava- liou-se 44 pacientes e 46 restaurações com o cimento de ionômero de vidro. Delas, 29 (63,04%) foram consideradas aceitáveis e 17 (36,95%). não aceitáveis. A técnica de restauração atraumática foi indicada, inicialmente, para populações de regiões extremamente carentes, onde a única alternativa de tratamento de dentes cariados era a extração. Atualmente, ela também está indicada para atendimentos sociais. A técnica ART é bastante simples,7 devendo o paciente ser posicionado sobre uma mesa em posição supina, sendo a mesa e cabeçote recobertos por um colchonete, visando maior conforto ao paciente. Não se utiliza anestesia, pois deve ser removida apenas a dentina totalmente desorganizada. O isolamento do campo operatório é feito com isolamento relativo, usando-se rolos de algo- dão, que devem ser trocados constantemente para não haver contaminação da cavidade. A manipulação do cimento ionomérico é um passo importante da técnica. A pro- porção pó/líquido deve ser rigorosamente observada, bem como o tempo de manipu- lação, seguindo as instruções do fabricante. O material restaurador deve ser com- primido com uma pressão digital sobre a superfície a ser restaurada por dois minutos. Essa pressão vai adaptar o material restaura- dor às paredes cavitárias e à superfície oclu- sal. Removem-se os excessos do ionômero de vidro e protege-se a superfície da restauração com verniz cavitário. O uso do ionômero de vidro,15 que adere quimicamente à estrutura dentária e libera flúor para o meio bucal, remineraliza a dentina e o esmalte, prevenindo a recidiva de cárie. Apenas os casos em que os contatos oclusais cêntricos estiverem suportados pela estrutura dentária devem ser restaurados unicamente com ionômero de vidro.5 Nas situações em que houver contato oclusal direto sobre o material restaurador,o cimento ionomérico deve ser preferencialmente utili- zado como material de forramento, em espe- cial nas cavidades com esmalte socavado e associado a uma restauração de amálgama ou resina composta. Os cimentos de ionômero de vidro indi- cados para restaurações de cavidades tipo Classe I conservativas são os cimentos de ionômero de vidro restauradores indicados para a técnica ART, os reforçados por prata3 e os modificados por resina,10 pelo fato de esses materiais apresentarem maior resistên- cia frente aos esforços mastigatórios. A técnica ART pode fazer o controle da cárie dental, estando disponível a toda a população, independente de seu nível socio- econômico. CONCLUSÕES Das 46 restaurações de ionômero de vidro, após três meses de avaliação clínica, tiveram escore 0: 21; escore 1: 8; escore 2: 4; escore 3: 6; e escore 4: 7. Os escores 0 e 1 foram considerados como restaurações aceitáveis, com 29 restaurações nesta categoria. Os escores 2, 3 e 4 foram considerados como restaurações não aceitáveis, perfazendo um total de 17 restaurações deficientes. As restaurações de ionômero de vidro tipo Classe I, após três meses, demonstraram aceitabilidade em 63,04%, quase o dobro das restaurações não aceitáveis, que atingiram 36,95%. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Baía KLR, Salgueiro MCC. Promoção de saúde bucal através de um programa educativo-preventivo-curativo uti- lizando a Técnica Restauradora Atraumática (ART). Rev ABO Nac 2000 abr/mai; 8 (2):98-107. 2. Cefaly DFG. Resistência a tração diametral e sorção de água de cimentos de ionômero de vidro utilizados no ART. [Dissertação de mestrado] Bauru (SP): Universidade de São Paulo; 2001. 3. Craig GG, Powell KR, Cooper MH. Caries progression in primary molars: 24 months from a minimal treatment pro- grame. Comunity Dent Oral Epidemiol 1981; 9:260-5. 4. Cury JA. Uso do flúor. In: Baratieri LN. Dentística. 2. ª ed. Rio de Janeiro: Quintessence; 1992. cap. 2. p. 43-67. 5. De Gee A.J, Van Duinen RNB, Werner A, Davidson LL. Early and long-term wear of convencional and resin-modified glass ionomers. J Dent Res 1996; 75 (8):1.613-9. Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003
  • 9. FOL•FaculdadedeOdontologiadeLins/UNIMEP 3 1 6. Figueiredo MC, Slavutzky SMB, Sampaio MS, Maltz M, Sperb JB, Caufield PW, et al. Tratamento restaurador atraumático no Brasil [citado em 26 de novembro de 2001]. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/ artigos.asp?id=291. 7. Frencken JE,SongpaisanY,Phantumvanit P,PilotT.Atrau- maic restorative treatment (ART) technique: evaluation after one year. Int Dent J 1994; 44:460-4. 8. Frencken JE, Pilot T, Songpaisan Y, Phantumvanit P. Atraumatic restorative treatment (ART): rationale, tech- nique and developement. J Publ Health Dent 1996; 56 (3):135-40 [Special issue]. 9. Frencken JE, Makoni F, Sithole WD. Atraumatic restora- tive treatment and glass-ionomer sealants in a school oral health programme in Zimbabwe: evaluation after 1 year. Caries Res 1996; 30 (6):428-33. 10. Mendonça JS, Gomes JEF, Franca MTC, Lauris JRP, Navarro MFL. Diametral tensile strenght of convencional and resin-modified glass ionomer luting cements. J Dent Res 1997; 76:318 [Special issue/Abstract 2.240]. 11. Mount GJ. Atlas de cimentos de ionômeros de vidro, Bauru: Universidade de São Paulo.1991. 12. Mjür IA, Gordan VV. A review of atraumatic restorative treatment (ART). Int Dent J 1999 jun; 49 (3):127-31. 13. Nagem Filho H, Domingues LA. Ionômero de vidro: agentes protetores de superfície. EDUSC; Boletim Cultural 2000. 14. Navarro MFL. O que é preciso saber a respeito de ionô- mero de vidro? Inovações,-vantagens e desvantagens. In: Feller C, Bottino MA [editores]. Atualização na clínica odontológica. São Paulo: Artes Médicas; 1994. 15. Navarro MFL, Pascotto RC. Cimentos de ionômero de vidro – aplicações clínicas em odontologia. São Paulo: Artes Médicas, série EAP-APCD; 1998. 16. Nunes OBC, Cefaly DFG, Oliveira AH, Tapety CMC, Navarro MFL. Six-month evaluation of art technique using ketac molar Annual Meeting of the Argentine Divi- sion of the IADR, 31. J Dent Res 2000 mai; 79 (5):1.038. 17. Pedrini D, Gaetti Jardim Jr E, Vasconcelos AC. Retenção de microrganismos bucais em cimentos de ionômero de vidro convencionais e modificados por resina. Pesq Odon- tol Bras 2001 jul/set; 15 (3):196-200. 18. Phatumvanit P, SongpaisanY, PilotT, Frencken, JE.Atrau- matic restorative treatment (ART): a three years commu- nity. Field trial inThailand – Survival of one surface resto- rations in the permanent dentition. J Public Health Dent 1996; 56 (3):141-5 [Special issue]. 19. Poletto LTA. Dental caries prevalence in Brazil. J Dent Res 1995; 74:495 [Special issue/Abstract 760]. 20. Ramos MEB, Santos MAV, Carvalho FRP, Piro S, Medei- ros UV. TRA: uma história de sucesso. Rev Bras Odontol 2001 jan/fev; 58 (1):13-5. 21. Rodrigues CRMD, Myaki SI, Matson MR, SarmientoVR. Liberação de flúor de alguns materiais odontológicos antes e após tratamento com gel fluoretado. Rev Inst Ciênc Saúde 2000 jul/dez; 18 (2):129-33. 22. Sá FC, Pascotto RC, Pieroli DA, Navarro MFL. Shear bond strenght of the glass ionomer cements to enamel and dentin. J Dent Res 1997; 76:314 [Special issue/Abstract 2.407]. 23. Sabage RCO, Gomes JEF,Vieira ALF, Lauris JRP, Navarro MFL. Effect of time on the diametral tensile strenght of silver-reinforced glass ionomer materials. J Dent Res 1997; 76:319 [Special issue/Abstract 2.444]. 24. Wilson AD, Kent BE. The glass ionomer cement, a new translucent dental filling material. J Appl Chem Biotech- mol 1971; 21:313. Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 15 (1): 23-31, 2003