1. Cuidado, frágil: atenção ao suicídio de
crianças e adolescentes
Luciana França Cescon
Psicóloga – CRP 98202
2. - Psicóloga (UNIP 2009)
- Saúde Mental da
Prefeitura de Santos desde
2012
- Especialização em Saúde
Pública em 2013
- Mestrado Profissional de
2013 a 2015
3. Suicídio: ato iniciado e executado por uma pessoa que tem a
noção (ou forte expectativa) de que dele pode resultar a
morte.
Ideação suicida
Plano suicida
Ato suicida - fatal (suicídio) ou não (tentativa de suicídio).
Tema muito
complexo, com
significados
diversos e que
sempre esteve
envolvido por tabus
= pacto de silêncio.
4. • A cada 40 segundos, há um suicídio no mundo (OMS).
• O suicídio está entre as dez causas mais comuns de morte na
população mundial, em todas as faixas etárias.
• Está entre as três principais causas de
morte (indivíduos de 15 a 44 anos); é a
segunda principal causa de morte entre
indivíduos de 10 a 24 anos.
• Idosos e adolescentes: os casos estão
aumentando.
• OMS: 90% dos casos de suicídio poderiam
ser evitados se houvesse uma rede
adequada de atendimento.
5. Dados do Brasil
67ª posição na classificação mundial em ocorrências, mas
em números absolutos encontra-se entre os dez países com
mais suicídios.
Cerca de vinte e cinco suicídios/dia.
Números subestimados: alguns suicídios são registrados
como acidentes ou morte de causa indeterminada.
Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas (familiares,
amigos) são afetadas social, emocional e economicamente –
“sobreviventes”
= importante problema de saúde pública.
7. Serviço de Saúde Mental (Santos)
Triagem agendada
= Consulta com psiquiatra
= Medicação.
Maio a dezembro de 2012: 304 casos novos
50 com ideação suicida ou tentativa de suicídio.
Janeiro a dezembro de 2013: 524 casos novos
65 com ideação suicida ou tentativa de suicídio.
Destes 115 casos, 47 com tentativa de suicídio anterior.
8. Principal conduta: avaliação psiquiátrica e prescrição de
medicamentos.
Faltava oferecer mais escuta;
(C.V.V.)
Mais do que diagnosticar, compreender a história de vida
daquelas pessoas;
Oferecer psicoterapia e apoio.
9. Diferentes fases da vida ...
Assim como o sofrimento, o suicídio
acontece também na infância e na
adolescência.
10. O suicídio infantil é subnotificado.
Estimam-se 300 tentativas para cada suicídio infantil.
Mapa da Violência (Ministério da Saúde): de 2002 a 2012 houve um crescimento
de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10
e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%.
“Crianças mais novas e pré-adolescentes tem uma impulsividade e não têm a
capacidade de avaliar que a morte é para sempre.”
http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes-
cresceu-40-no-brasil.html
11. 10% das TS de crianças e de adolescentes =
crianças menores de 12 anos. Quanto menor é a
criança, maior o problema da intencionalidade da
conduta suicida.
Significado variável: evitamento ou fuga de uma
situação desagradável, às vezes, incoerente aos
olhos do adulto (má nota, reprimenda banal);
apelo, quando a criança busca atrair para si uma
atenção ou um afeto que ela julga ter perdido
(encontra-se um grande número de antecedentes
de colocações familiares, de abandono, de
rupturas múltiplas); desejo de punição para
alguma culpa.
Mais próprio da criança parece ser o desejo de
união mágica, além da morte, com a pessoa que a
criança recém perdeu ou pensa ter perdido. Com
frequência, houve o falecimento de um dos pais
ou de um irmão, uma hospitalização por doença,
ou uma partida.
Tentativas de Suicídio (T.S.) na Criança
12. A ideação suicida é comum na idade escolar e na
adolescência; as tentativas, porém, são raras em
crianças pequenas. Tentativas de suicídio
consumado aumentam com a idade, tornando-se
comuns durante a adolescência.
Como as crianças compreendem a morte:
Dos 6 aos 7 anos: predomínio do pensamento
mágico. Nesta fase, a ideia de morte é limitada e não
envolve uma emoção em especial.
O pensamento mágico vai sendo substituído pelo
raciocínio lógico e a morte para de ser vista como
processo reversível e torna-se uma ideia de
processo de deterioração do corpo irreversível; sem
preocupação, porém com o que virá após a morte.
(Candiani; Conti)
13. De 11 a 12 anos, passagem do
pensamento concreto para o pensamento
abstrato e surge a preocupação com a
vida após a morte.
O jovem entra no mundo através de
profundas alterações no seu corpo,
deixando para trás a infância e e é
lançado num contexto desconhecido de
novas relações. Pode ser invadido por
forte angústia, confusão e sentimento de
que ninguém o entende, que está só e que
é incapaz de decidir corretamente seu
futuro.
Isso ocorre, principalmente, se o jovem
estiver num grupo familiar também em
crise, por separação dos pais, violência
doméstica (ou outras), alcoolismo ou
doença mental de um dos pais, doença
física ou morte. (Candiani)
14. O jovem que considera o suicídio como a solução para seus problemas
deve ser observado de perto, principalmente se estiver se sentindo só e
desesperado, sofrendo a pressão de estressores ambientais e
insinuando que é um fardo para os demais.
15. "Resumidamente, adolescentes meninos cometem suicídio mais
freqüentemente que meninas.
Todavia, a taxa de tentativas de suicídio é duas a três vezes maior entre
meninas. Elas têm mais depressão que os meninos, porém acham mais fácil
conversar sobre seus problemas e procurar ajuda, isso provavelmente ajuda a
prevenir atos fatais.
Os meninos frequentemente são mais agressivos e impulsivos, e não é raro
agirem sob o efeito de álcool e drogas ilícitas, o que provavelmente contribui
para atos fatais.”
(Manual de prevenção ao suicídio para professores e educadores)
16. FATORES DE RISCO
90% dos jovens apresentam algum transtorno mental no momento do
suicídio (50% já presente há pelo menos 2 anos).
Comportamentos de risco: envolvimento em esportes radicais sem
técnica e equipamentos adequados, dirigir embriagado, uso abusivo
de drogas ilícitas, atividade sexual promíscua, brigas constantes e
envolvimento com gangues.
Comportamentos impulsivos e a agressividade.
Baixa energia decorrente de estados depressivos leva à desesperança
e ao menor potencial para geração de soluções alternativas para
situações problemáticas interpessoais e menos flexibilidade para
enfrentar situações problemáticas.
Outro problema é considerar eventos negativos como de sua
responsabilidade.
17. (2009) Uma pesquisa realizada em oito Estados pela Childhood Brasil - ONG que trabalha
contra a violência sexual em crianças e adolescentes - fez um levantamento dos fatores de
risco e vulnerabilidade em vítimas de exploração sexual. Constatou-se alto nível de
intenção de suicídio nas crianças e adolescentes que sofreram exploração sexual.
http://cidadeverde.com/noticias/46002/pesquisa-cerca-de-60-das-vitimas-de-abuso-sexual-
tentaram-o-suicidio
18. Violência sexual: consequências em curto e
longo prazo.
60 a 80% das vítimas de violência sexual -
distúrbios em curto prazo (2 primeiros anos após
o abuso). Entre esses efeitos encontram-se
alterações nas esferas física, psicológica e
social, tais como: distúrbios do sono (17 a 20%),
medo (40 a 80%) e dificuldades escolares.
A longo prazo: fobias, pânico, personalidade
anti-social, depressão com ideias de suicídio,
tentativa ou suicídio levado a cabo, isolamento,
sentimentos de estigmatização, ansiedade,
dificuldades alimentares, tensão, dificuldades de
relacionamento com pessoas do sexo do
agressor, distúrbios sexuais, drogadição e
alcoolismo, além de reedição da violência.
(Romero)
19. (Cassorla): características presentes nestas crianças e adolescentes: “a
tristeza e a insegurança, provenientes de uma sensação de desamparo e
desesperança”.
Um modo de eles lidarem com estes sentimentos é sendo agressivos e
rebeldes, fazendo com que seus pais os rejeitem. Outro, é retraindo-se e
isolando-se, fazendo com que passem despercebidos.
Plunkett et. al. (2001): cinco variáveis que contribuem para tentativas de
suicídio e suicídio consumado em casos de abuso: A idade em que
começou o abuso; a idade em que ocorreu intervenção profissional;
história em que o perpetrador era conhecido da criança; história em que
o abuso aconteceu uma só vez; e história em que a violência foi cometida
pela pessoa jovem.
(Hildebrand, Zart e Leite. “A tentativa de suicídio na percepção de adolescentes: um estudo descritivo”)
20. “Quando o perpetrador da violência é
pessoa conhecida da criança ou
adolescente, aquela que deveria zelar por
seu bem-estar e suprir suas
necessidades, o risco de haver tentativas
de acabar com o sofrimento ou
conseguir tal feito, através do suicídio,
também é maior. Tal risco aumenta ainda
mais quando outro adulto que seja
referência para a criança e não cometeu
nenhum ato abusivo acaba
compactuando de algum modo com a
situação, tornando-se não protetora.
Quando o abuso acontece com
adolescentes, o risco de suicídio é maior
do que em crianças, pois estão em pleno
desenvolvimento de sua sexualidade e já
conseguem entender o significado do
ato, intensificando as consequências
negativas da violência.”
Kehdi: “Tentativa de Suicídio
associada à Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes”
21. "Os adolescentes não almejam a morte, o que desejam na verdade é livrar-se do
sofrimento, tendem a buscar incansavelmente uma vida nova, sem frustrações e
confrontos, a fim de encerrar o desgosto de uma existência que lhe parece
desprovida de sentido.
A tentativa de suicídio mostra-se como um momento de pedido de ajuda, em
situação de extremo desespero."
"A rede de apoio desempenha um papel preponderante na inclusão social de
pessoas que tentaram o suicídio e se constitui em instrumento de proteção.
Nela o adolescente pode encontrar ajuda por meio da discussão de problemas
inerentes a sua realidade individual.
Bom relacionamento com familiares, apoio familiar, relações sociais
satisfatórias, confiança em si mesmo, capacidade de procurar ajuda,
manutenção da integração social e bom relacionamento com colegas,
professores e amigos se constituem em fatores de proteção contra o
comportamento suicida.”
Hildebrandt LM, Zart F, Leite MT. A tentativa de suicídio na percepção de adolescentes: um
estudo descritivo. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2011 abr/jun;13(2):219-26.
22. PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: Manual para Professores e Educadores
Quando possível, a melhor abordagem para a prevenção do suicídio na escola é a
elaboração de um trabalho em grupo que inclui professores,
médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais da própria escola,
trabalhando em conjunto com agentes da comunidade.
Identificação de risco: mudança súbita como: falta de interesse nas atividades
habituais; declínio geral nas notas; diminuição no esforço/interesse; má conduta
na sala de aula; faltas não explicadas e/ou repetidas, consumo excessivo de
cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso de drogas ...
Estratégias: Fortalecer a auto-estima: os adolescentes precisam estabelecer uma
independência definitiva da família e colegas; capacidade de se relacionar com o
sexo oposto; se preparar para uma ocupação que lhe sustente; e estabelecer uma
filosofia de vida significativa e praticável.
Promover a expressão emocional
Prevenir a violência escolar
Encaminhar para os profissionais
• Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental e atenção básica
23. CASOS DE TENTATIVAS DE SUICÍDIO
COM GRANDE RISCO DE NOVA TENTATIVA
Ainda com ideação suicida
Sexo masculino
Idade Superior a 16 nos
Falta de suporte familiar
Humor deprimido ou estado misto
Ansiedade Extrema
Uso concomitante de álcool e drogas
Agitação Psicomotora
Episódios de Violência direcionada a outras pessoas
Presença de sintomas psicóticos (alucinações e delírios)
24. QUESTÕES QUE AJUDAM A
AVALIAR A INTENÇÃO SUICIDA
EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Você já se sentiu tão chateado
alguma vez, que desejou
morrer?
Alguma vez você fez algo que
sabia ser perigoso o bastante
para você se machucar ou até
mesmo morrer?
Alguma vez você tentou se
machucar?
Você, às vezes, pensa em se
matar?
Alguma vez você já tentou se
matar?
(Conti)
25. RECOMENDAÇÕES AO SE AVALIAR CRIANÇAS E
ADOLESCENTES QUE TENTARAM SUICÍDIO
(Conti; Candiani)
Todas as ameaças de suicídio devem ser consideradas, mesmo quando possam
parecer falsas ou manipulativas.
Ajudar a avaliar a situação, permitindo que ele descubra novas soluções para
seu sofrimento, explorar tais soluções e orientar em direção a uma ação concreta.
Procurar compreender as razões pela qual a criança ou adolescente optou pelo
suicídio como forma de lidar com seu sofrimento, não minimizando seus
problemas e sofrimento.
Transmitir esperança sem dar falsas garantias e não fazer promessas que não
possam ser cumpridas.
Romper o isolamento em que vive o jovem e abordá-lo diretamente.
Expressar disponibilidade de escutá-lo sem julgamento, evitar insultos,
culpabilização ou repreensões morais.
Reconhecer a legitimidade do problema e tratá-lo com respeito e cuidado.
26. Avaliar a urgência do caso, verificar se as ideias de suicídio são frequentes e
se o jovem apresenta meios para executá-lo.
Não deixá-lo sozinho até que as providências sejam tomadas.
Desmentir o mito de que os adultos não podem mais ajudá-lo.
Envolver a família.
(Conti)
Nos casos de violência sexual: Quanto mais tempo durar a relação de abuso,
maior será a possibilidade de danos para a criança ou adolescente.
Da mesma maneira, se houver
demora na intervenção
profissional ou esta não ocorrer
de modo eficaz, as
consequências negativas serão
muito mais difíceis de ser
amenizadas ou revertidas.
(Kehdi)
27. Importante lembrar também:
Transgeracionalidade: a violência é um padrão familiar aprendido,
passado de geração para geração e mantida em segredo. Por isso,
quando o profissional trabalha com violência sexual intrafamiliar, torna-
se importante conhecer a história familiar de pelo menos três gerações.
Se houve abuso sexual em uma geração este poderá se repetir na
próxima geração ou estar sendo um comportamento aprendido a
algumas gerações.
Esta ligação também ocorre
com o suicídio, pois se há
casos na família, este poderá
se repetir através da
imitação.
(Kehdi)
28. Referências
A tentativa de suicídio na percepção de adolescentes: um estudo descritivo. Hildebrandt LM,
Zart F, Leite MT. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2011 abr/jun;13(2):219-26.
Crianças vítimas de abuso sexual: aspectos psicológicos da dinâmica familiar. Karen Richter
Pereira dos Santos Romero
Manual de Psicopatologia da Infância de Ajuriaguerra. Marcelli.
Prevenção do suicídio: Manual para Professores e Educadores.
http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_educ_port.pdf
Suicídio infantil. Josie Conti. Disponível em: http://www.contioutra.com/suicidio-infantil
Suicídio na infância e na adolescência. Márcio Candiani.
http://marciocandiani.site.med.br/index.asp?PageName=Suic-EDdio
Tentativa de Suicídio associada à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Roberta
Gonçalves Pereira Kehdi.
http://cidadeverde.com/noticias/46002/pesquisa-cerca-de-60-das-vitimas-de-abuso-sexual-
tentaram-o-suicidio
http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-
adolescentes-cresceu-40-no-brasil.html
29. “Não somos responsáveis
pela vida e pela morte uns
dos outros, a vida e a morte
de cada homem é dele
próprio. Somos, porém,
responsáveis por nossos
envolvimentos”.
HILLMAN, James. Suicídio e Alma.