O documento descreve a simbologia Adinkra, um conjunto de ideogramas usados pelos povos acã na África Ocidental para transmitir aspectos de sua história e cultura. Conta a origem dos símbolos a partir do rei Nana Kifi Adinkra e como passaram a ser usados pelos asante após sua derrota. Também explica que os símbolos refletem valores universais e hoje são usados por movimentos negros e como tatuagens.
1. SIMBOLOGIA ADINKRA
(...) O conhecimento e o desenvolvimento permeiam a História da África, em sistemas
de escrita, avanços tecnológicos, estados políticos sistematizados, tradições epistemológicas1
.
Uma dessas tradições é o ADINKRA, conjunto ideográfico estampado em tecido,
esculpido em pesos de ouro, talhado em peças de madeira anunciadoras de soberania (...).
Adinkra significa adeus, e as pessoas da etnia acã usam o tecido estampado com os adinkra em
ocasiões fúnebres ou festivais de homenagem. São mais de oitenta símbolos, destacados pelo
conteúdo que trazem como ideogramas. Não só os desenhos do Adinkra são estética e
idiomaticamente tradicionais, como, mais importante, incorporam, preservam e transmitem
aspecto da história, filosofia, valores e normas socioculturais desses povos de Gana (...)
Segundo a tradição, a expressão nasceu por causa de um certo rei, chamado Nana Kifi
Adinkra, na atual costa do Marfim, o qual não só detinha o segredo da fabricação do tecido que
depois ganhou seu nome, como também o estampava com desenhos do trono de ouro, símbolo
maior do poder entre os acã, alegando ser seu verdadeiro dono.
Sucede que, um dia, Osi Bonsu, rei dos asante, sentindo-se ameaçado por esse potencial
usurpador, declarou-lhe guerra, no que foi bem-sucedido. Morto, como castigo, por sua
insolência, Adinkra teve a cabeça arrancada do corpo e levada como troféu. E Osei Bonsu – reza
a tradição – levou também as vestes do pretenso conquistador, bem como suas técnicas de
fabricação dos tecidos e sua estamparia. Á partir daí o nome do rei morto passou a significar
‘adeus’, ‘despedida’, estendendo-se ao tipo de tecido que usava e aos grafismos nele
estampados, dentre seus súditos. (...).
Segundo Kabengele Munanga2
, após a derrota de Adinkra, os asante dominaram a arte
dos deixada por ele e ampliaram o espaço onde este conjunto de ideogramas impunha sua
1 Epistemologia significa ciência, conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas
relacionados com a crença e o conhecimento, sua natureza e limitações. É uma palavra que vem do
grego.
A epistemologia estuda a origem, a estrutura,os métodos e a validade do conhecimento, e também é
conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência.
É uma das principais áreas da filosofia, compreende a possibilidade do conhecimento, ou seja, se é
possívelo ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno,e da origem do conhecimento.
A epistemologia também pode ser vista como a filosofia da ciência. A epistemologia trata da natureza, da
origem e validade do conhecimento, e estuda também o grau de certeza do conhecimento cientifico nas
suas diferentes áreas, com o objetivo principal de estimar a sua importância para o espírito humano.
A epistemologia surgiu com Platão, onde ele se opunha à crença ou opinião ao conhecimento. A crença é
um ponto de vista subjetivo e o conhecimento é crença verdadeira e justificada. A teoria de Platão diz que
conhecimento é o conjunto de todas as informações que descrevem e explicam o mundo natural e social
que nos rodeia.
A epistemologia provoca duas posições,uma empirista que diz que o conhecimento deve ser baseado na
experiência, ou seja, no que for apreendido durante a vida, e a posição racionalista, que prega que a fonte
do conhecimento se encontra na razão, e não na experiência. Fonte: www.significados.com . Acesso em
22/05/2015
2. presença. Antes disso, havia sido patrimônio dos mallan e dos dekyira povos da África
ocidental, que desenvolveram esse sistema de escrita em um passado remoto.
Kabengele afirma que, a importância desse fato é incomensurável quando observamos
que, o academicismo convencional nega à África sua historicidade e a classifica como pré-
histórica, com base na alegação que seus povos nunca desenvolveram a escrita. Além dos
hieróglifos egípcios, existem vários sistemas de escrita desenvolvidos por outros povos
africanos antes da invasão muçulmana, que introduziria a escrita árabe.
Hoje em dia, por conta dos significados que a escrita dos símbolos Adinkra transmite e
por refletir um sistema de valores humanos universal, como família, integridade, tolerância,
harmonia, unidade, determinação, entre outros, os encontramos em diversas situações. Grande
parte dos movimentos negros utilizam os símbolos Adinkra como logomarca, estampados em
peças do vestuário e ainda, pessoas os usam como tatuagens, com o objetivo de transmitir seus
significados e mostrar esta “arte” como parte integrante e importante da história da áfrica
deixando claro que sim, há um desenvolvimento de linguagem escrita, vinda dos povos
africanos.
Fontes:
Claro, Regina. Olhar a África: Fontes Visuais para Sala de Aula. 1.ed. – São Paulo: Hedra
Educação, 2012.
Munanga, Kabengele. A Matriz Africana no Mundo / Elisa Narkin Nascimento (org) – São
Paulo: Selo Negro, 2008.
Andreia Candido da Silva
São Paulo, 03 de Junho de 2015.
2 Kabengue Munanga. Graduado em Antropologia Cultural pela Université Officielle Du Congo à Lubumbashi
(1969) e Doutorado em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1977). Atualmente é
Professor Titular da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em
Antropologia das Populações Afro-Brasileiras, atuando principalmente nos seguintes temas: racismo, identidade,
identidade negra, África e Brasil.