O documento discute a ideia de Bruno Latour de que a antropologia precisa se tornar "simétrica" para estudar tanto ciências ocidentais quanto "etnociências". Isso inclui tratar erros e acertos da mesma forma e estudar tanto produção humana quanto não-humana. Latour também argumenta que não há diferenças entre "coletivos" humanos e não-humanos, apenas diferenças de escala na capacidade de mobilização.
2. COMO ACABAR COM A ASSIMETRIA?
No capítulo “Relativismo”, Latour traz a ideia de que a antropologia poderia
descrever nosso mundo já que não mais se chocaria com as ciências e as
técnicas, devido à análise da Constituição e consequente conclusão de que
jamais fomos modernos. Porém, para isso, deveria haver uma modificação
no estado da antropologia atual, tornando-a simétrica, ou seja, tornando-se
comparativa para que possa ir e vir entre modernos e não-modernos. Outra
questão interessante proposta nesse capítulo é a não existência de culturas,
pois essa noção de cultura seria um “artefato criado por nosso afastamento
da natureza”. O que existiriam seriam naturezas-culturas (ou coletivos) que
constituiriam a única base para comparações.
3. “Como tornar simétrica a antropologia?
Tornando-a capaz de estudar as
ciências, ultrapassando a sociologia do
conhecimento e a epistemologia”. (Pág.
91)
Antropologia entre ciências X etnociências,
correspondem ao que o homem considera
impossível e possível de estudar.
4. O Falso é o que dá valor ao verdadeiro. Cientistas
diferentes devem ser explicados de acordo com os
mesmos princípios e causas. Simetria é isso, estudar
os fracassos e os acertos pelos mesmos pontos de
vista. Pesar os vencedores e os perdedores na
mesma balança. Exigir que o erro e a verdade
sejam tratados da mesma forma. Exemplo: Discos
voadores, buracos negros, parapsicologia, saber
dos psicólogos, etc da mesma forma.
5. Em outras palavras, só é científico aquilo
que rompe para sempre com as
ideologias.
Ex: A impossibilidade de estudar Darwin
e Diderot nos mesmos termos. (Rêve de
d’Alembert)
6. A assimetria gera uma
classificação entre ciências,
dividindo-as em: Ciências
sancionadas e ciências
proscritas. Resultado dos
etnólogos entra em conflito,
pois que coloca-se em
oposição etnociências e os
saberes, que são justamente a
mistura entre as ciências, porem
hoje ele considera que o
abismo é menor.
Ex: Pode-se hoje relacionar
temas como o sacrifício ao
deus Baal e explosão do ônibus
Challenger.
7. ENTÃO TEMOS:
Verdade = explicada pela
natureza
Erro ou mentira = explicado
pela sociedade
8. Nas culturas ocidentais há uma separação entre
natureza e sociedade/cultura, outros povos não, os
signos, as coisas, a natureza e a sociedade se fundem.
“Nos, ocidentais, somos completamente diferentes dos
outros, este é o grito de vitória e a longa queixa dos
modernos. [...]. Não importa o que façam, os
ocidentais carregam a história nos cascos de suas
caravelas e canhoneiras, nos cilindros de seus
telescópios e nos êmbolos de suas seringas de injeção”.
(Pág. 96)
9. Primeiro princípio da antropologia
A antropologia precisa mudar, explicar
com os mesmos termos as verdades e os
erros, estudar ao mesmo tempo a
produção de humanos e não humanos,
que é a simetria generalizada e não
distinguir os ocidentais dos outros
(posição intermediária entre os terrenos
tradicionais e os novos).
10. Antropologia Generalizada
Solução para esse problema, Michel Callon adequa a visão do antropólogo
num ponto médio, onde possa acompanhar ao mesmo tempo a atribuição
de propriedades não humanas e humanas. Resolver isso é resolver o
relativismo, dito por Latour como o obstáculo da antropologia
convencional.
Arquimedes e o jogo de polias mostrou a potência da técnica, a ciência
sendo exercida por outros meios que nada mais são do que a política, vista
de outra forma.
11. Do site:
http://metamorficus.blogspot.com.br/2007
/12/bruno-latour-uma-leitura-crtica-de.html
Entretanto, assevera Latour, essa constatação ainda não
permite dar conta do que diferencia o Ocidente das demais
“natureza-cultura” (ou “coletivos”) pois há uma inegável
diferença de amplitude de mobilização que é ao mesmo
tempo a consequência do modernismo e a causa de seu fim.
Ressaltando esse aspecto e chamando essa questão para o
campo de interesse da antropologia simétrica, Latour
pretende que esta possa também contribuir para elucidar o
processo de dominação de um coletivo sobre o outro (no
caso, o Ocidental sobre todos os demais).
12. Assim, para Latour, é a capacidade
de mobilização de recursos e de criar
novas necessidades e novos
“híbridos” que torna “notável” as
ciências e as técnicas ocidentais e
que culmina na imposição de seus
modelos a outros “coletivos”.
13. Foram os ocidentais que inventaram a ciência moderna, como
diz Latour, diferente da conquista e do comércio, da política e
da moral, atividades fundamentais para o mundo até então.
(Baudrillard, 2000): “...nunca na história conhecida, o homem
cercou-se de tal quantidade e diversidade de objetos,
constituindo, eles próprios, uma “natureza paralela” e auto-referencial”.
Essa característica, notada por vários autores, é
aqui retomada na análise de Bruno Latour para destacar a
singularidade do Ocidente.
14. “Trata-se de construir os próprios
coletivos em escalas cada vez
maiores. É verdade que há
diferenças de tamanho. Não há
diferenças de natureza – menos
ainda de cultura.” (p.107)
15. Diferença de Perspectivas:
Subsiste, para Latour, diferenças essenciais entre a interação
humano/humano e humano/não-humano? Isso porque os coletivos não
diferem essencialmente, mas apenas em sua capacidade (“tamanho”) de
mobilização; além disso, devemos recusar o estatuto privilegiado das
técnicas e ciências ocidentais.
O autor propõe, então, que se elimine a diferença ontológica entre
humanos e não-humanos, o que nos leva a supor que Latour também
aceitaria como verdadeira a formulação segundo a qual não há diferença
ontológica entre as interações humanos/humanos e as relações
humanos/não-humanos.
16. Bruno Latour argumenta que uma
pós-ambientalismo precisa aceitar
que a sociedade humana não
pode ser separada da natureza
não-humana.
Sendo isso correto, poderíamos
avançar, formulando uma
segunda indagação: um mundo
inteiramente “artificial”,
inteiramente construído pelos
homens, seria, do ponto de vista
da “cultura”, ontologicamente
indistinto de um mundo onde as
relações com seres não
construídos pelo homem é mais
intensa?