Las mujeres en la lírica medieval galaico portuguesa
1.
2. AS M U L H E R E S NA L I R I C A
G A L E G O - P O R T U G U E S A
AS PISTRAQUES E O LAZER NA EPOCA MEDIEVAL:
A p r i n c i p a l ocupagao da n o b r e z a na Idade Media eram as g u e r r a s , /
pero com a chegada do invernó e s t a s i n t e r r o m p i a m - s e e os senhores -
tornavam aos seus c a s t e l o s , a s s i m , em épocas de paz, os nobres t i —
nham m u i t o tempo l i v r e . D u r a n t e os i n t e r v a l o s pacíficos a p r o v e i t a —
vam esse o c i o e adestravam-se p a r a o combate; também gostavam m u i t o
de p r a t i c a r a caga a cávalo ou com aves de rapiña , e a celebragáo/
de t o r n e i o s . Como podemos v e r , t u d o i s t o e s t a v a em conexao com a a r
t e de c a v a l g a r . Porém, na*o sempre podiam r e a l i z a r e s t a s a c t i v i d a d e s
porque a meteorología da i n v e r n i a nao o permitía, assim t i v e r a m que
b u s c a r o u t r a s c o i s a s que pudessem f a z e r d e n t r o dos s a l o e s dos caste_
l o s , e s p e c i a l m e n t e o x a d r e z e os j o g o s de c a r t a s e dados, que eram/
j o g o s de e s t r a t e g i a .
Neste tempo de o c i o , no ámbito dos r e i s e da n o b r e z a , é onde vao
a p a r e c e r os t r o v a d o r e s e os j o g r a i s .
TROVADORES, JOGRAIS, SEGREIS E SOLDADEIRAS:
Os t e x t o s que se conservam m a n i f e s t a m o a f a dos t r o v a d o r e s p o r -
d i s t i n g u i r e m - s e dos j o g r a i s já que, na Idade Media, as h i e r a r q u i a s
s o c i a i s eram i m p o r t a n t e s .
0 t r o v a d o r e r a um p o e t a e músico de condigao s o c i a l nobre que t i
nha conhecimentos de gramática, retórica e música enquanto que o jo
g r a l t i n h a urna o r i g e m p o p u l a r e d e d i c a v a - s e a i n t e r p r e t a r as compo-
sig^es doutros.
E x i s t e , também, o u t r a f i g u r a , o s a g r e l , que se c o n s i d e r o u , d u r a n
t e m u i t o tempo, como um g r a u i n d e p e n d e n t e e n t r e o t r o v a d o r e o j o —
g r a l . Os s e g r e i s também podiam comp8r c a n t i g a s assim que, a g o r a , os
e s t u d i o s o s consideram-nos j o g r a i s de c o r t e , sem que e s t o s i g n i f i q u e
urna p e r t e n g a a urna t e r g a categoría s o c i a l , i n t e r m e d i a e n t r e o n o b r e
t r o v a d o r e o p o p u l a r j o g r a l . Normalmente eram e s c u d e i r o s , o que
quer d i z e r que p e r t e n c i a m a b a i x a nobreza,além d i s s o d i z - s e que a —
ceptavam d i n h e i r o p e l a s suas i n t e r p r e t a g o e s .
E n t r e t a n t o s homens aparece a f i g u r a f e m i n i n a da " s o I d a d e i r a " . -
As " s o l d a d e i r a s " sao r e p r e s e n t a d a s ñas m i n i a t u r a s como c a n t a n t e s e/
b a i l a r i n a s , e mesmo tocavam algum i n s t r u m e n t o , porém, ñas c a n t i g a s /
de e s c a r n i o nao se menciona e s t e l a b o r c u l t u r a l das mulheres seriao/
que se f a z t x o ^ a délas p e l a o u t r a a c t i v i d a d e que se l h e s atribuí: a
prostituígao.
Temos que l e m b r a r que n a sociedade m e d i e v a l há um p r e d o m i n i o d e /
t u d o a q u i l o que é m a s c u l i n o e que p a r a as m u l h e r e s se reservam duas
p o s i b i l i d a d e s : a de s e r dama, o b j e c t o de coniposig'oes amorosas p o r -
p a r t e dum t r o v a d o r apaixonado, ou a de s e r urna mulher s i m p l e s , d e s -
q u a l i f i c a d a p e l o seu comportamento m o r a l e/ou s e x u a l .
. •. / • •.
3.
4. de Coríipostela ASTURIAS
GALICIA J;, ( CAS ™S , ^ ^ . . Í , J k
/LE0N1 •<^AL
Líenla
Coihibi.i
* Palma
LlStKU
L A RECONQUISTA
NOSÉCULOX A RECONQUISTA
EN 1147
2
0
c
AVARRA.
impar»./ ARAGÓN j
r* • jjci r"'
_/ CONDADOS
>w CATALÁNS REINO
Lienta DE ARAGÓN. PRINCIPADO
• Bíic- :. Zaragoza i DE CATALUÑA
C 0 Rf
O.
f
AON
Gl
• Valencia
Patín a
RM
EO
&C,A & R ™
-* MALLORCA
reía • J •jWcante
* Granada
A RECONQUISTA
EN 1085 A RECONQUISTA
NO SÉCULO XIV
5.
6. • ••/ •••
CANTIGAS DE AMIGO - CANTIGAS DE AMOR - C. DE ESCARNIO E MAlJuIZER
As c a n t i g a s estao agrupadas em t r e s grandes géneros:
- C a n t i g a s de amigo: sao cancoes ñas que urna moga se l a m e n t a p e l a -
a u s e n c i a do seu amado, ao que chama "amigo". A voz poética é f e m i n i
na. A t r i s t e z a que domina a moga pode d i z e r - l h a a urna amiga, irma',/
mae, ou a própria n a t u r e z a .
- C a n t i g a s de amor: n e s t a s c a n t i g a s um p r o t a g o n i s t a masculino é quem
se l a m e n t a p e l a f a l t a de atengao da sua namorada a quem chama "senhor'
A voz poética é m a s c u l i n a . 0 tema d e s t a s c a n t i g a s v a i s e r a d o r p e l o
amor nao c o r r e s p o n d i d o , a " c o i t a de amor", que chamavam os t r o v a d o -
r e s , e x p l i c a d o p e l o s e n t i m e n t o de veneragao que h a v i a para com as -
mulheres.
- C a n t i g a s de e s c a r n i o e m a l t i i z e r : a i n t e n g a o última destas c a n t i g a s
é p r o v o c a r a mofa ou o r i s o do a u d i t o r i o . A d i f e r e n g a e n t r e as can-
t i g a s de e s c a r n i o e as de maüjdizer é que no p r i m e i r o caso a mofa es
tá i m e r s a em p a l a v r a s que actuam como símbolos equívocos e no según
do caso f a z - s e urna sátira d i r e c t a .
Além d e s t e s géneros há o u t r o s dos que se conservam poucos e x e m —
píos m a n u s c r i t o s :
. P a s t o r e l a : é um diálogo e n t r e um c a v a l e i r o e urna p a s t o r a .
. P r a n t o : é um lamento p e l a perda de alguém.
• Tengab: é um diálogo e n t r e d o i s t r o v a d o r e s .
Todos e s t e s t i p o s de c a n t i g a s conformam a lírica p r o f a n a que se r e -
c o l h e em v a r i o s c a n c i o n e i r o s . E s t e s c a n c i o n e i r o s f o r a m e s c r i t o s p o r
amanuenses e chegaram até h o j e com os nomes s e g u i n t e s :
- C a n c i o n e i r o da Ajuda: conserva-se na B i b l i o t e c a do PalacÉReal da -
Ajuda,em L i s b o a . Está i n c o m p l e t o , carece dos nomes dos a u t o r e s , das
notag'o'es m u s i c a i s e as m i n i a t u r a s estSÍo sem t e r m i n a r .
- C a n c i o n e i r o da B i b l i o t e c a N a c i o n a l ou C. Colocci-Brancuti:é chama
do assim p o r s e r o seu c o m p i l a d o r o h u m a n i s t a Angelo C o l o c c i e p o r /
a p a r e c e r , ao remate de século XIX, na B i b l i o t e c a de Paolo B r a n c u t i ,
Conde de C a g l i . Em 1.924 f o i a d q u i r i d o p e l o governo portugués e des
t i n a d o a B i b l i o t e c a N a c i o n a l de L i s b o a .
- C a n c i o n e i r o da V a t i c a n a : f o i copiado em I t a l i a p o r mediagáo de Co
l o c c i e d e s c o b e r t o em 1.840. Está guardado na B i b l i o t e c a Apostólica
Vaticana.
- C a n c i o n e i r o de B e r k e l e y : é urna c o p i a do da V a t i c a n a , f e i t a e n t r e /
1.592 e 1.612 e que desde I . 9 8 3 está conservada na B i b l i o t e c a Ban-
c r o f t da U n i v e r s i d a d e B e r k e l e y de C a l i f o r n i a .
- Távola Colocciana:é um índice de t r o v a d o r e s g a l e g o - p o r t u g u e s e s —
e f e c t u a d o p o r Angelo C o l o c c i que, provavelmente, d e r i v a do C a n c i o —
n e i r o da B i b l i o t e c a N a c i o n a l .
- Pergaminho V i n d e l : e s c r i t o c o n t r a o f i n a l do século X I I I . Contem/
o t e x t o e a música de s e i s das s e t e c a n t i g a s de amigo de M a r t i m Co-
dax. Chama-se assim p e l o nome do l i v r e i r o e antiquário madrileño que
o d e s c o b r i u em 1.914 fazendo de encademaga'o a "De O f f i c c i s " de C i -
c e r o . Hoje conserva-se na B i b l i o t e c a P i e r p o n t Morgam de Nova I o r q u e
e é acessível para os e s t u d i o s o s .
- Pergaminho S h a r r e r : f o i d e s c o b e r t o em J u l h o de 1.990 p e l o n o r t e - a -
mericano Harvey L. S h a r r e r que e s t a v a a i n v e s t i g a r no A r q u i v o Nació
n a l da T o r r e do Tombo ( L i s b o a ) , s e r v i a de capa a um volume n o t a r i a l
.../.«»
7.
8.
9. — óV^cz-es/ra dos B/7c/ax>s c/o /Qpoc&lipsc- —
PóKT ¡Co 2>fí G ¿L R ¡ f í
tfponso r&de&cJo ele- músicos , s.n-><sr>u&ns&S <=. ez^rrfo^s
— 2 íu minur-^ c/o Códice- <£
=> GLs-ceWaV cJ&s C^n/yj^x <=¿c^ Sk^fe fe
10. / 3
r e n a s c e n t i s t a . Data-se p e l o f i n a l do século X I I I e p r i n c i p i o s do —
XIV e contem s e t e c a n t i g a s de amor do R e i D. D i n i s , acompanhadas —
das c o r r e s p o n d e n t e s notag'o'es m u s i c a i s . E s t a é a mais a n t i g a versáo/
c o n h e c i d a da p o e s i a deste r e i e o único exemplo que possuimos de —
c a n t i g a s de amor musicadas.
- Os 5 L a i s da Bretanhat sao t r e s f o l h a s de p a p e l com canches que -
s&o v e r s e e s d o u t r o s poemas de o r i g e m b r e t f l a . Foram r e d i g i d o s no sé-
c u l o XVI e e s t a o guardados na B i b l i o t e c a Apostólica V a t i c a n a .
LÍRICA RELIGIOSA
A lírica r e l i g i o s a tem como p r i n c i p a l exponente o R e i Afonso X -
a u t o r das "Cantigas de Santa M a r i a " . E s t a s c a n t i g a s tém como c e n t r o
a Virgem M a r i a p o r i s s o se fala,também, de c a n t i g a s m a r i a n a s . Estao
r e c o l h i d a s em q u a t r o m a n u s c r i t o s :
- 2 Códices da E s c o r i a l : conservados na B i b l i o t e c a do M o s t e i r o .
- Códice de Toledo: h o j e c u s t o d i a d o na B i b l i o t e c a N a c i o n a l de M a d r i d .
- M a n u s c r i t o da B i b l i o t e c a N a c i o n a l de F l o r e n c a .
A r i q u e z a das i l u m i n u r a s dos códices conservados dá-lhes um v a l o r
documental e x c e p c i o n a l para conhecer a s p e c t o s da v i d a q u o t i d i a n a . •
AS DENOMINALES DAS MULHERES NA LIRICA MEDIEVAL:
A representáoslo f e m i n i n a que p r o p o r c i o n a a lírica m e d i e v a l s u r —
preende pelo seu protagonismo e p e l a s v a r i a d a s e r i c a s p e r s p e c t i v a s
que se contemplam, assim podem-se f a z e r v a r i o s grupos:
1.- DENOMINACOES GENÉRICAS:
1.1, "Molher": é o vocábulo f e m i n i n o mais genérico de t o d a s as d e —
signac&'es que se documentara, nos c a n c i o n e i r o s e aparece t a n t o ñas —
c a n t i g a s de amigo, de amor como de e s c a r n i o , mas com d i f e r e n t e s v a -
l o r e s . Ñas c a n t i g a s de amor e de amigo nao há nenhuma r e f e r e n c i a do
estado c i v i l da "molher". Ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o a p a l a v r a "molhe
r e s " costuma e s t a r a p l i c a d a as " s o l d a d e i r a s " com o s e n t i d o de mulhe
r e s de má r e p u t a c & o .
Exemplo:Goncalo Anes do V i n h a l , t r o v a d o r portugués, c. amigo:
Nunca molher t a l c o i t a ouv'a s o f r e r
Com'eu, quando me nembra o gram p r a z e r
Que l h ' e u f i z , u m i a c i n t a v£o a c i n g e r .
1.2. "Dona": a p a l a v r a "dona" tem que v e r com o n i v e l s o c i a l e é —
p o r i s s o que o seu uso se c e n t r a no género aristocrático das c a n t i -
gas de amor. Assim, os t r a g o s que d e f i n e m "dona" sao de t i p o s o c i a l ,
t r a t a - s e duma dama, mas também pode a l u d i r a urna mulher casada. Ñor
malmente "dona" i d e n t i f i c a - s e coa dama que ocupa o coracao do poeta,
porém, ñas c a n t i g a s de amigo, "dona" aparece quase sempre em p l u r a l
como um coro f e m i n i n o que e n v o l v e o namorado ouvindo-o, ou t e n t a n d o
o b t e r os seus f a v o r e s , o u t r a s vezes é como urna f o r g a f e m i n i n a a n t a -
g o n i s t a . A "dona" que se i n v o c a ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o é s a t i r i z a
da duramente e pode p e r t e n c e r a d i v e r s a s categorías s o c i a i s (abade-
ssas ou n o b r e s ) ou bem podem i n t e g r a r - s e no grupo das " s o l d a d e i r a s "
ou " p r o s t i t u t a s " .
• ••/ • ••
11. / 4
Exemplo:D. Fernam García Esgaravunha, t r o v a d o r portugués, c. amor:
A m e l h o r dona que eu nunca v i ,
Per boa f e , nem que oí d i z e r ,
E a que Deus f e z m e l h o r p a r e c e r , ...
1 . 3 . "Senhor": é a denominagao mais f r e q u e n t e dos c a n c i o n e i r o s . Na/
poesía lírica a "dama" muda em "senhor" imaginando o amor como um -
s e r v i g o f e u d a l . Designa a dama o b j e c t o e o b j e c t i v o dos amores do —
t r o v a d o r , a que se comprace em c a n t a r e s e r v i r como o v a s s a l o s e r —
v i a ao seu senhor. Ñas c a n t i g a s de amigo t r a n s m i t e - s e a imagem duma
mulher i n o c e n t e , i n g e n u a , que c o n t r a s t a com a dona d i s t a n t e e nobre
das c a n t i g a s de amor. Além d i s s o pode a p a r e c e r urna segunda f i g u r a -
f e m i n i n a , e que p o d e r i a s e r a mae a que a f i l h a se dirigirá com o -
t r a t a m e n t o de "senhor" que representaría a a u t o r i d a d e materna.
A "senhor" das c a n t i g a s de e s c a r n i o ná'o r e p r e s e n t a a i n o c e n t e e/
p e r f e i t a c r i a t u r a da poesía amorosa, nem se r e s e r v a p a r a um t i p o de
t e r m i n a d o f e m i n i n o , seríao que se abre a um v a r i a d o e s p e c t r o de m u —
l h e r e s que compreende de " s o l d a d e i r a s " a "abadessas" e de "amantes"
a "esposas".
Exemplo:Rui Queimado, t r o v a d o r portugués,c. amor:
Senhor, que Deus mui m e l h o r p a r e c e r
Pez de quantas o u t r a s donas eu v i ,
Ora soubessedes q u a n t ' e u t e m i ...
1.4. "Amiga": a g l u t i n a d o i s v a l o r e s bem d i f e r e n t e s : d e s i g n a a c o n f i
dente, e/ou a namorada; também exerce o u t r o s papéis como: a l i a d a do
amigo, c o n s e l h e i r a , acompanhante... Algumas vezes aparecem v a r i a s -
confidentes.
Exemplo:D. D i n i s , r e i e t r o v a d o r portugués, c. amigo:
Amiga, muit'á gram sazom
Que se f o i d ' a q u i com e l - R e i
Meu amigo, mais j a c u i d e i ...
2.- DENOMINALES REFERIDAS A IDADE:
2.1.TERMOS REFERIDOS A MOGIDADE: aparecem, s o b r e t u d o , ñas c a n t i g a s /
de amigo. Normalmente, a idade á que se r e f i r e m e s t e s termos l e v a -
implícito o estado c i v i l da m u l h e r :
2.1.1. " P a s t o r " : urna das características que d e f i n e m a p a s t o r e l a co_
mo género é a menguo da " p a s t o r " . Este género para a l g u n s e s t u d i o s o s
é um híbrido da c a n t i g a de amor e da c a n t i g a de amigo, e, para o u t r o s ,
é urna v a r i e d a d e g a l e g o - p o r t u g u e s a do género p r o v e n g a l . Os poucos a-
nos da mulher f i c a m marcados p o r nomes como: "a p a s t o r i n n a " , "molher
c i n n a t a o p a s t o r " ou "dona que e r a mui meninna e mui fermosa". A l g u
ma vez é sinónimo de f i l h a s .
Exemplo:D.Dinis, r e i e t r o v a d o r portugués, p a s t o r e l a :
lía p a s t o r bem t a l h a d a
c u i d a v a em seu amigo,
e e s t a v a , bem vos d i g o , ...
2.1.2. "Moga":nos c a n c i o n e i r o s e s t a p a l a v r a d e s i g n a urna mulher nova,
¡— ,j
urna r a p a r i g a e, algumas vezes, a p r e s e n t a — s e na mesma composigao com
sinónimos como: " p a s t o r " ou "meninna". Normalmente o estado c i v i l -
está implícito na mocidade expressada e nunca se f a z r e f e r e n c i a e s -
•../•«•
12.
13. •••/ •• •
pecífica ao c e l i b a t o .
E x e m p l o : L o u r e n g o , j o g r a l portugués ou g a l e g o , pastorela:
T r e s mocas cantavam d'amor,
Mui f r e m o s i n h a s p a s t o r e s ,
Mui c o i t a d a s dos amores, ...
2.1.3. "Meninna": o v a l o r é o de m u l h e r de pouca i d a d e , t r a b a l h a n d o
como sinónimo de " p a s t o r i n n a " ou " m o l h e r c i n n a t a o p a s t o r " .
Exemplo:Lourengo, j o g r a l portugués ou g a l e g o ,
A moga bem p a r e g i a
e em sa voz m a s e l i n n a
c a n t o u e d i s s ' a meninna.
2.1.4. "Manceba": tem p r i n c i p a l m e n t e duas acepgoes: mulher nova e -
criada.
Exemplo:Gil Peres Conde, t r o v a d o r portugués,c. e s c a r n i o e mal d i z e i
Paria-m'eu o que nos v o s f a z e d e s :
L e i x a r v e l h a s f e a s , e as fremosas
E mancebas fihá-las p o r esposas.
2.1.5. "Pequeña e pequeninna": usa-se com um s e n t i d o c a r i n h o s o e —
d i z - s e que a sua origem é d e v i d a a c r i a g a o e x p r e s s i v a dos f a l a n t e s .
Exemplo: Pero de Veer, c. amigo:
"Pequeña e d ' e l namorada ...
Exemplo: C a n t i g a s de Santa M a r i a :
E no corpo de sa madre,
u jouve des pequeninna.
2.1.6. "Rapariga e Ninna": " r a p a r i g a " t a l v e z t e n h a um s e n t i d o depre
c i a t i v o d e r i v a d o da forma m a s c u l i n a " r a p a r i g o " que na Idade Media -
e s t a v a r e l a c i o n a d a com a r a p a c i d a d e dos c r i a d o s . "Ninna" é a d e s c r i
gao duma "dona" a n t e s de c a s a r . Está em conexíao com o sinónimo de -
"meninna". Aaparece na lírica r e l i g i o s a .
Exemplo: G u a r i r na"o me podes
r a p a r i g a sandia ...
E s t a dona, p e r q u a n t ' e u déla oy d i z e r ,
a p o s t a e n i n n a f o i , e de bom p a r e c e r .
2.2. TERMOS REFERIDOS A VELHICE: na lírica p r o f a n a nao há termos es
p e c i f i c a t i v o s da madureza da dona, passa-se da e t a p a da mocidade a/
da v e l h i c e sem r e f e r e n c i a aos anos i n t e r m e d i o s :
2.2.1. "Velha": as mulheres v e l h a s das c a n t i g a s a g l u t i n a r a - s e , quase
t o d a s , a r r e d o r do grupo das " s o l d a d e i r a s " , algumas vezes c r i a d a s ou
b r u x a s . No caso das " s o l d a d e i r a s " e s t a s sao mui c r i t i c a d a s p e l a v i -
da a l e g r e que levavam, a p e r d a da sua b e l e z a é urna t r a g e d i a que o s /
t r o v a d o r e s l h e s lembram i n c e s s a n t e m e n t e . A p a l a v r a " v e l h a " c o m p o r —
t a - s e como urna designagao f o r t e m e n t e p e y o r a t i v a , como un i n s u l t o , um
antónimo de "amor". Mas há que i n t e r p r e t a r e s t a s aluso'es como um —
jogo l i t e r a r i o porque há que t e r em c o n t a que os t r o v a d o r e s , j o g r a i s
e " s o l d a d e i r a s " v i v i a m mui u n i d o s no mundo c o r t e s a o .
Exemplo:Pero García Burgalés, t r o v a d o r c a s t e l h a n o , c. e s c a r n i o :
Em que as mete, na e s t r a b a r i a .
P o i s l h e morrem, a v e l h a s a n d i a
Per p i s s a s b e r r a , em térra d e i t a d a .
# ••/ • ••
14. / 6
3.- DENOMINAC£)ES ALUSIVAS ÁS RELACOES DE PARENTESCO;
3.1. "Madre"; é tuna das f o r m a s mais habituáis dos c a n c i o n e i r o s , de-
p o i s de "molher", "dona", "senhor" e "amiga". Apesar da frequéncia/
de a p a r i c t f e s , "madre" comporta-se sempre como personagem s e c u n d a r i o
na t r a m a da c a n t i g a , o protagonismo queda r e s e r v a d o a amante, da —
que se d i s t i n g u e por t e r mais i d a d e e, p o r t a n t o , um m a i o r g r a u de -
s a b e d o r i a . Também pode d i z e r - s e que a sua presenga é d e v i d a a reía-
gao que mantem com a f i l h a .
A mae é quem d e t e n t a a a u t o r i d a d e no s e i o da f a m i l i a , a f i g u r a -
do p a i está, p r a t i c a m e n t e , a u s e n t e . A mae, a v i s t a dos amores da f i
l h a , actúa como c o n f i d e n t e dos amores e das penas, adoptando urna a
t i t u d e p o s i t i v a ; o u t r a s v e z e s a d o p t a urna a t i t u d e n e g a t i v a p r o i b i n d o
essas r e l a g o e s com o amigo e i n t e r p o n d o t o d o t i p o de obstáculos.
Exemplo:Martim Codax, j o g r a l g a l e g o , c. amigo:
Mandad'ei comigo
Ca vem meu amigo.
E i r e i , madr', a V i g o .
3 . 2 . " F i l h a " ; n a t r a m a do c a n t a r " f i l h a " i n s c r e v e - s e na ampia s e r i e /
de vocábulos que designam a p r o t a g o n i s t a da cangao de mulher. A de-
signagao " f i l h a " usa-se sempre em r e l a g a o com a p r o g e n i t o r a mas nun
ca se comporta como um personagem s e c u n d a r i o .
Exemplo: Pero da P o n t e , s e g r e l g a l e g o , c. amigo:
F i l h a , dou-vos p o r c o n s e l h o
Que, t a n t o que v o s e l v e j a ,
Que t o d a rem l h i f a g a d e s
Que vosso pagado se j a .
3 . 3 . "Irmela": e s t a denominagao d e s i g n a a acompanhante da namorada ou
a c o n f i d e n t e , o mais comum é o p a p e l de acompanhante com o que irmíaa
s e r i a urna v a r i a n t e léxica da denominagao mais o r d i n a r i a "amiga".
Exemplo:D. Vasco G i l de Soverosa, t r o v a d o r portugués,c. amigo:
I r m a a , o meu amigo, que m i q u e r bem de coragom
E que é c o i t a d o p o r m i , se N o s t r o Senhor v o s perdom,
T r e i d e - l o v e e r comigo, ...
3.4. "Esposa": o uso de esposa é m u i r e s t r i n g i d o , normalmente o seu
l u g a r na l i t e r a t u r a está ocupado p e l o termo mais f r e q u e n t e de "molher'
Exemplo: Lopo L i a s ( o u Liáns), t r o v a d o r g a l e g o , c. .escarnio:
E da s e l a que l h ' e u v i r e n g e l h o s a
Que j a lh'ogano r e n g e u a n t ' e l - R e i
Ao Zevrom, e p o i s a n t e sa esposa.
3 . 5 . "Neta": aparece numa c a n t i g a de M a r t i m Soares p a r a r e f e r i r - s e /
ao r a p t o impune duma " d o n z e l a " p e r t e n c e n t e a f a m i l i a dos Sousa, urna
das mais conhecidas da época.
Exemplo:Martim Soares, t r o v a d o r portugués, c. e s c a r n i o :
Netas de Conde, v i u v a s nem d o n z e l a ,
Essa per rem nfma q u e r ' e u l e i x a r
3 . 6 . " S o b r i n h a " : aparece, e x c l u s i v a m e n t e , numa composigao do t r o v a -
dor portugués Fernam F e m a n d e s Oogominho e nao se c o n s e g u i u v e r i f i -
car a i d e n t i d a d e dessa pessoa.
Exemplo:Fernam Fernandes Oogominho, t r o v a d o r portugués:
A m i a s o b r i n h a mi t o l h e u
o sen, p o r que ando sandeu.
•• •/ •• •
15. 6-fi
oá a^ A <u«y> j¡. ftnmM ^ é
^u^feí MU AHAÁ j(U I* HUMA jrtmeí*-
//a eí Xp6
t e^f^M
> 'A y bu* anÚHÍUUWr
s f
¿A 0 . *m*a»mt faifas
JLV A • e-orna (jytww
nú** í¿nvm en uvW ftnttwwA hunfo
¡ ¿Me* UVM fAfU¡ a, °
MytffflWÁ* Martín Codax
krí •
ve'
18. 7
3 . 7 . " T i a " : tem d o i s s i g n i f i c a d o s : o que corresponde a i r m a do p a i /
ou daraHíe,e a a c e p t o p o p u l a r de t i a como mulher q u a l q u e r e com -
conotacoes de t i p o p e y o r a t i v o .
Exemplo: Afonso X, t r o v a d o r c a s t e l h a n o .
Falavam duas irmanas
estando a n t e sa t i a .
3 . 8 . "Coirraaa": com s i g n i f i c a d o de p r i m a , hoye p e r v i v e era g a l e g o —
So'b a forma curmá.
Exemplo:Fernam P a i s de Talamancos, t r o v a d o r g a l e g o , c. e s c a r n i o :
Quand'eu p a s s e i p o r Dormaa
P r e g u n t e i p o r m i a cpirraba
3 . 9 . " P a r e n t a " : tem d o i s s e n t i d o s : pessoa que p e r t e n c e a mesma famí
l i a e, também, mulher com r e s p e i t o ao m a r i d o , acepco'es que se c o n —
servam hoye. Ñas c a n t i g a s é mais f r e q u e n t e a p r i m e i r a .
Exeraplo:Pai Soares de Taveirós, t r o v a d o r g a l e g o , c. amor:
Eu s#o tara, muit'amador
De meu l i n h a g e m , que nom s e i
A l no inundo q u e r e r m e l h o r
D'Ha m i a p a r e n t a que e i ; . . .
4.- DENOMINALES RELACIONADAS COM 0 ESTADO C I V I L :
4.1. MATRIMONIO: na sociedade m e d i e v a l o m a t r i m o n i o , como i n s t i t u i -
gao, yoga um p a p e l f u n d a m e n t a l na formagao s o c i a l e como base das -
relago'es de p a r e n t e s c o da sociedade i n t e i r a , além d i s s o , n e s t a épo-
ca a d q u i r e e s p e c i a l r e l e v o ocupando urna posigao de p r e s t i g i o . D e n —
t r o da sociedade m e d i e v a l nao h a v i a s i t i o para a mulher s o l t e i r a , a
dona d e v i a e s c o l h e r e n t r e c a s a r ou e n t r a r num convento, porém e s t a s
opgf>es obrigavam a p o s s u i r um d o t e e, quando nao se d i s p u n h a de r i -
queza, a mulher t i n h a de d e d i c a r - s e ao s e r v i g o numa casa ou á p r o s -
tituigáo. A mulher casada e s t a v a ao s e r v i g o do seu marido em t u d o e
para tudo:
4.1.1. "Donzela": d e f i n e a i d a d e da m u l h e r , urna r a p a r i g a , que é urna
moga s o l t e i r a e, n a l g u n s casos, p e r t e n c e n t e a nobreza; também pode/
r e f e r i r - s e a urna, mulher v i r t u o s a ou a urna mulher v i r g e m . Normalmen-
t e está em c o n t r a p o s i g a o com a p a l a v r a "dona" ( r e f e r i d a a mulher -
casada).
Exemplo:Fernam Rodrigues de C a l h e i r o s , t r o v a d o r portugués, e s c :
Dua d o n z e l a ensanhada
Soo eu m a r a v i l h a d o ...
Ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o a " d o n z e l a " será f o r t e m e n t e c r i t i c a d a -
em quanto a sua v i r t u d e e a sua d e s c r i g a o física (que d e v e r i a supor
-se f o r m o s a ) .
4.1.2. " S o l t e i r a e Casada": os d o i s termos tém características c o —
muns: s&o de e x i g u o uso nos c a n c i o n e i r o s . Quando se quer d e s i g n a r o
c o n c e i t o de " s o l t e i r a " usa-se " d o n z e l a " .
Exemplo:Afonso Anes do Cotom, t r o v a d o r galego:
E a dona que m'assi f a z andar
casad'é, ou v i u v ' o u s o l t e i r a ...
4.1.3. "Barragaa": quer d i z e r amante, a mulher que mantera relago'es/
com um homem se ya clérigo, s o l t e i r o ou casado. A " b a r r a g a a " e r a urna
mulher mantida pelo homem e com d e v e r e s e d i r e i t o s c i v i s p a r e c i d o s /
• • •/ • • •
19. aos da esposa. É um termo b a s t a n t e r a r o nos c a n c i o n e i r o s apesar d e /
r e p r e s e n t a r urna forma de v i d a u s u a l p a r a as mulheres na época medie
v a l , como urna forma sucedánea de m a t r i m o n i o .
Exemplo:Pero García B u r g a l e s , t r o v a d o r c a s t e l h a n o :
E pero a v i a um f i l h o barvado
de b a r r a g a a , non'Suvi a c o l h e r . . . .
4.1.4. " V i u v a " : usa-se nos c a n c i o n e i r o s em r e l a c a o com o u t r o s t e r —
mos. " V i u v a " é a mulher a quem l h e morreu o m a r i d o . É o único e s t a -
do c i v i l f e m i n i n o em que a mulher pode e x e r c e r o seu poder p e s s o a l /
t r a s passar p e l a dependencia do p a i a do m a r i d o , f i n a l m e n t e r e c u p e -
r a a sua p e s s o a l i d a d e l e g a l e pode tomar deciso'es independentes pe-
l a p r i m e i r a v e z . Na Idade Media m u i t a s m u l h e r e s v i v e r a m a v i u v e z c£
mo urna l i b e r a g a ^ .
Exemplo:Martim Soares, t r o v a d o r portugués, c. e s c a r n i o :
Netas de Conde, v i u v a s nem d o n z e l a , . . .
4.2. CONVENTO: nalguma o c a s i a o urna v i u v a r i c a p o d i a c r i a r um conven
t o ou, ao f i n a l da sua v i d a , e n t r a r nalgum com o que f o r a generosa.
0 convento e r a , também, r e f u g i o de f i l h a s ilegítimas. Assim, a o p —
gao do convento poucas vezes e r a p o r m o t i v o s r e l i g i o s o s , mas dava a
mulher urna formagao c u l t u r a l mais e l e v a d a . A v i d a nos conventos e r a
m u i t o l i b e r a l ; se temos em c o n t a que as mulheres estavam lá por mo-
t i v o s a l h e i o s a v i d a monástica, está c l a r o que t e n t a r i a m e v i t a r a -
d i s c i p l i n a . Assim r e c e b i a m amantes (em s e g r e d o ) , tocavam i n s t r u m e n -
tos, saíam ao e x t e r i o r . , Os a u t o r e s das c a n t i g a s n^o sao p r e c i s a —
mente i n d u l g e n t e s .
4.2.1. "Freirá, monja e t o u q u i n e g r a " : é urna mulher que p r o f e s s o u n u
ma ordem r e l i g i o s a ; s ^ o p a l a v r a s sinónimas.
Exemplo:Afonso Anes do Cotom, t r o v a d o r g a l e g o :
E a dona que m'assi f a z andar
casad'é, ou v i u v ' o u s o l t e i r a ,
ou t o u q u i n e g r a , ou monja ou freirá .
4.2.2. "Abadessa": tem um v a l o r de h i e r a r q u i a r e l i g i o s a mais que de
estado c i v i l , a "abadessa" é a s u p e r i o r a do c o n v e n t o . Ñas c a n t i g a s /
de e s c a r n i o sao atacadas de t a l m a n e i r a que parecem " s o l d a d e i r a s " .
Exemplo: Fernam P a i s de Talamancos, t r o v a d o r g a l e g o , c. e s c a r n i o :
Disserom: Nom é a q u i essa,
A l h u r buscade v o s essa;
Mais é a q u i a abadessa.
4.2.3. " P r i o r e s s a e P r i o l a " : s'ao v a r i a n t e s da mesma p a l a v r a . Normal
mente se r e g i s t a m j u n t o da denominac/ao "abadessa". E s t a mulher e r a /
a responsável da ordem i n t e r n a , a d i s c i p l i n a e a boa marcha e s p i r i -
t u a l das freirás.
Exemplo: Fernam de Esquió: Literatura religiosa:
Quatro c a r a l h o s f r a n c e s e s , Abadess'avernos t a l -
e dous aa p r i o r e s s a e priol'e tesoureira.
5.- DENOMINALES QUE MARCAM A CLASSE SOCIAL:
5.1. CLASSE SOCIAL ALTA: além das denominagoes c o n c r e t a s , para r e f e
r i r - s e a c l a s s e s o c i a l a l t a , o p o e t a u s a o u t r o s r e c u r s o s que também
a expressam: "mui boa dona", "mui boa senhora", "as mais a l t a s d o — 'as mais
•• •/ • • •
20. 9
ñas e m e l h o r e s " , " r i c a s donas", "donas mui bo&s":
5.1.1. "Emperadriz"; é o estado mais e l e v a d o , r e g i s t a - s e e x c l u s i v a -
mente no c a n c i o n e i r o mariano e tem como r e f e r e n t e a Virgem.
Exemplo:Emperadriz do ceo...
Madr'Emperadriz...
Dos ceos es E n p e r a d r i z . . .
Aparece urna vez r e f e r i d a a urna m u l h e r t e r r e a l :
a E m p e r a d r i z de Roma...
5 . 1 . 2 . "Rainha": na lírica p r o f a n a " r a i n h a " aparece em t r e s composi-
c8es, contudo, é ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a onde ocupa o p a p e l
mais i m p o r t a n t e com c o n t i n u o s a p e l a t i v o s á Virgem.
Exemplo: Pero da P o n t e , t r o v a d o r g a l e g o , p r a n t o :
A bo'a Rainha, que end'é f o r a ,
Dona B e a t r i x ! D i r e i - v o s eu qual'í
5 . 1 . 3 . " I n f a n t e ( I f a n t e ) " : segundo os e s t u d i o s o s " i f a n t e " usa-se nos
sáculos X, X I e X I I como f o r m a a m b i v a l e n t e , e o f e m i n i n o " i n f a n t a " /
é urna c r i a c a o p o s t e r i o r . A p a r t i r do século X I I I passa a r e s e r v a r - s e
para " f i l h o do r e i " , v a l o r documentado nos c a n c i o n e i r o s .
Exemplo: C a n t i g a s de Santa M a r i a :
Como Santa M a r i a r e s u c i t o u hua i n f a n t e ,
f i l i a dum r e i , e p o i s . . .
5 . 1 . 4 . " I n f a n g ^ a " : i n f a n g o m / i n f a n c o a d e s i g n a a um i n d i v i d u o p e r t e n —
cente a segunda c l a s s e da n o b r e z a , i n f e r i o r ao rico-homem, mas sup£
r i o r ao s i m p l e s c a v a l e i r o . " I n f a n g o a s " a p a r e c e , em ocasio'es, como /
sinónimo de " r i c a s donas".
Exemplo:Joam Soares Coelho, t r o v a d o r portugués:
que non t r o b e quen t r o b a r non d e v e r
por r i c a s donas nem p o r i n f a n c i a s . . .
5 . 1 . 5 . "Varffa": algumas vezes aparece u t i l i z a d o de forma irónica, -
nao d i r i g i d o a damas senao a " c o t e i f a s " e "cochoas". Porém, na líri
ca r e l i g i o s a é sinónimo de "monja".
Exemplo:Joam Soares Coelho, t r o v a d o r portugués:
E oí n o u t r o d i a em q u e i x a r
tías c o t e i f a s e o u t r a s cochosas,
e um m e i r i n h o l h i s d i s s e : -Vareas,...
5 . 1 . 6 . " F i l l a d a l g o / F i l l a d'algo/Dona d'algo/A d ' a l g o " : o i n d e f i n i d o
" a l g o " a d q u i r e o s e n t i d o de r i q u e z a e, em p r i n c i p i o , i n d i c a "dona -
r i c a , poderosa, n o b r e " e v a i e v o l u i n d o de " n o b r e " a " c l a s s e b a i x a -
da nobreza" ou simplesmente " i n d i v i d u o l i v r e " .
Exemplo: Estevam da Guarda, t r o v a d o r portugués, c. e s c a r n i o :
e l a , que a t a n bo'a é,
f i l h a d ' a l g o é ben assaz.
5 . 1 . 7 . "Padroa e avogada (Vogada)": nao tem o s i g n i f i c a d o de h o j e . -
Na lírica r e l i g i o s a usa-se com carácter l a u d a t o r i o e e l o g i o s o das -
v i r t u d e s da Virgem. "Padrea" tem um v a l o r mui semelhante ao de "avo
gada" com um l a b o r de d e f e n s o r a e i n t e r c e s s o r a p e r a n t e a j u s t i g a d i
vina.
•.•/•»•
21.
22. • • • J• • 10
Exemplo: na lírica r e l i g i o s a
Mais a nossa avogada, que t e n ben nossa razón,
r o g a p o r nos a seu P i l l o que nos...
5 . 2 . CLASSE SOCIAL BAIXA: os degraus mais b a i x o s da pirámide s o c i a l
estao h a b i t a d o s p o r um mundo f e m i n i n o mais p l u r a l e dele se ocupam,
s o b r e t u d o , as c a n t i g a s de e s c a r n i o . Normalmente se t r a t a de pessoas
que v i v e m dum o f i c i o .
5 . 2 . 1 . "Burgesa": usa-se com s e n t i d o de mulher que v i v e no burgo e/
é comerciante.
Exemplo:Fernam de Esquió, c. e s c a r n i o :
q u a t t r o c a r a l h o s de mesa,
que me deu ua b u r g e s a . . .
5 . 2 . 2 . "Alcaydessa": apenas aparece urna vez na lírica r e l i g i o s a e -
como r i u l h e r do " a l c a i d e " .
Exemplo: Como a a l c a y d e s s a caeu de cima da pena de Roenas
d'Alvarrazin...
5 . 2 . 3 . "Ospeda": aparece urna única vez na lírica r e l i g i o s a , como —
a anfitriona.
Exemplo:Corno uus romeus y a n a Rocamador e pousaron en u u b u r g o ,
e a ospeda f u r t o u - l h e s da f a r y a que t r a g i a n .
5 . 2 . 4 . " C o t e i f a ? segundo R o d r i g u e s Lapa e r a urna mulher burguesa d e /
menor c o n d i c a o , para o u t r o s e s t u d i o s o s tem um m a t i z d e p r e c i a t i v o
Exemplo:Joam Soares Coelho, t r o v a d o r portugués:
E oí n o u t r o d i a em q u e i x a r
uas c o t e i f a s e o u t r a s cocheas,...
5 . 2 . 5 . "Cochea": d e s i g n a um d e g r a u mais b a i x o que " c o t e i f a " . A o r i g e m
d e s t a p a l a v r a está em relaga'o com o a n i m a l "cocho". Aparece urna úni
ca vez na c a n t i g a de e s c a r n i o a n t e r i o r . ( V e r " c o t e i f a ' ' ) .
1
5 . 2 . 6 . C r i a d a s e S e r v e n t e s : o e s t a d o das c r i a d a s e r a t r a n s i t o r i o e/
e r a um medio de f u g a da m i s e r i a f a m i l i a r p a r a acumular d i n h e i r o que
garantiste u m 1:30111 m a t r i m o n i o , a s s i m , nao se pode c o n s i d e r a r e s t r i t a -
mente como um o f i c i o . Nao aparecem em m u i t a s c a n t i g a s apesar de se-
rem um t i p o s o c i a l mui comum.
" C o v i l h e i r a y : aparece ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o e os t r a g o s que a
d e f i n e m sao a maldade e a v e l h i c e .
Exemplo: Afonso Anes de Cotom , t r o v a d o r g a l e g o :
e se me g r a n m a l q u e r e d e s , c o v i l h e i r a
"Malada": normalmente está r e f e r i d a a c r i a d a duma "senhor".
Exemplo: García deJGilhade:
Ca nunca eu donas mandei t e c e r
nen l h i s t r o b e i nunca polas maladas.
"Manceba": pode r e f e r i r - s e a: moga, m u l h e r nova ou c r i a d a .
Exemplo:Gil Peres C o n d e , t r o v a d o r portugués, c. e s c a r n i o :
L e i x a r v e l h a s f e a s , e as fremosas
E mancebas filhá-las p o r esposas.
" S e r v e n t a " : d e r i v a de s e r v a , aparece urna vez ñas C a n t i g a s de San
t a M a r i a , também com os nomes de " s e r g e n t a " e " s e r v a " .
Exemplo:acharon end'hua menos,
que a s e r v e n t a f u r t a r
lhes fora
" C r i a d a " : Também r e f e r i d o á V i r g e m o seu s e n t i d o nao é c l a r o .
• ••/ •m •
23. • •• /•• •
11
Na I l d a d e Media c r i a d o s i g n i f i c a v a v a s s a l o educado na casa do senhor,
mas, ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a o que se acentúa é a f a c e humana -
da Virgem.
Exemplo: Com razom nossa Madr'é que nos c r i a
e sempre punna de mal nos g u a r d a r
e c r i o u Deus, que a c r i a d ' a v i a , ...
5.2.7. "Ama":no mundo das damas com c e r t a p o s i c a o s o c i a l , o t r a b a —
l h o como ama de c r i a t e v e m u i t a i m p o r t a n c i a , porém, há o u t r a s d e f i -
nigo'es que nao concordam com e s t a : rrfae nova de f a m i l i a burguesa, ou
urna vila? ou c r i a d a que amamantava os f i l h o s das f i d a l g a s e se d e d i -
cava a o u t r a s t a r e f a s domésticas.
Exemplo: Joam Soares Coelho, t r o v a d o r portugués, c. amor:
A t a l v e j ' e u a q u i ama chamada
Que, d e ' - l o d i a em que eu n a c i ,
Nunca tam d e s g u i s a d a cousa v i , ...
5.2.8. "0 mundo a r t e s a n a l (Tecedor, L e i t e i r a , T e n d e i r a ) " : e x p r i m e m -
ocupag8ies da época; aparecem ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o e Tecedor e -
L e i t e i r a sempre em r e l a c ^ o com "ama". Com a p a l a v r a " T e n d e i r a " dá-se
a e n t e n d e r que e s t a pessoa nao s 5 c o m e r c i a com p r o d u t o s mas também/
<
com o seu c o r p o .
Exemplo: D. Fernán García Esgaravunha, t r o v a d o r portugués, escárnic
E sabe m u i t o de bo'a l e i t e i r a .
Esto nom d i g u ' e u p o r bem que l h i q u e i r a ,
Mais por que e s t ' a s s i , a meu c u i d a r .
5.2.9. " S o I d a d e i r a " : a p r o s t i t u i c a o na Idade Media, c o n s i d e r a v a - s e /
um mal necessário porque d i m i n u i a o número de a d u l t e r i o s e c v i t a v a /
ou minguava as agressoes s e x u a i s . Os prostíbulos ñas c i d a d e s e s t a —
vam regulamentados p o r ordenangas m u n i c i p a i s que os s i t u a v a m e x t r a -
muros, a p a r t a d o s e bem c o n t r o l a d o s , ou bem em f e i r a s e mercados o u /
onde se j u n t a r a m um grupo de homens.Soldadeira é urna das denominag^es
mais conhecidas das c a n t i g a s de e s c a r n i o . A " s o l d a d e i r a " e r a um t i -
po de j o g r a l e s a , c a n t a n t e e b a i l a r i n a que vendiajo seu c a n t o , a s u a /
danga e, mesmo, o seu c o r p o . Ñas i l u m i n u r a s que i l u s t r a m a l g u n s c a n
c i o n e i r o s , sao r e p r e s e n t a d a s em companhia de j o g r a i s , tocando d i v e r
sos i n s t r u m e n t o s , cantando e dangando. Moravam na c o r t e , em casas -
r e a i s ou de n o b r e s , sempre próximas^as e s f e r a s de poder. A mais fam£
sa das " s o l d a d e i r a s " f o i a M a r i a B a l t e i r a da que se sabe que e r a de
f a m i l i a nobre e com p r o p r i e d a d e s em A Corunha. A o r i g e m da p a l a v r a /
" s o l d a d e i r a " d e r i v a de " s o l d a d a " ou " s a l a r i o m i l i t a r " , que, a sua -
vez, provem de "soldó" (moeda que r e c e b i a m os soldados como paga, e,
mais t a r d e , s a l a r i o ) .
Exemplo:Afonso X, o Sabio, t r o v a d o r c a s t e l h a n o , c. e s c a r n i o :
F u i eu poer a m&o n o u t r o d i -
A t i a s o l d a d e i r a no conom,
E d i s s e - m ' e l a : T o l h e d e - a , l a d r o m , ...
5.2.10. "Cruzada": d e r i v a de c r u z , e quer d i z e r "pessoa que toma p a r
t e na c r u z a d a .
Exemplo:Pero da Ponte, t r o v a d o r g a l e g o , c. e s c a r n i o :
M a r i a Peres, a nossa c r u z a d a ,
Quando veo da térra d ' u l t r a m a r
A s s i veo de pardom c a r r e g a d a ...
•• •/ • • •
24.
25. 12
5.2.11. "As pobres (Mésela, Lanzerada e C a t i v a ) " : os t r e s t e r m o s , -
além de a p r e s e n t a r a pobreza m a t e r i a l , também tém o sentido f i g u r a -
do de desgragada, i n f e l i z , (mésela—4 miserável).
Exemplos:Martim Soares, t r o v a d o r portugués, c. escarnio:
Nem l h e v a l r r a , se se chamar mésela,
Nem de c a r p i r m u i t o , nem de c h o r a r , ...
Juia'o B o l s e i r o , j o g r a l g a l e g o ( ? )
Nunca mui b#a dona v i t e c e r
mais v i t e c e r algtía l a z e r a d a .
Joam S a r c i a de G u i l h a d e , t r o v a d o r protugués:
Mal se guardou e perdeu q u a n t ' a v i a ,
ca non soub'a c a t i v a g u a r d a r . ...
5.2.12. "Moura": a p a l a v r a "moura" a p o n t a a urna d i v i s a o c o n f e s s i o -
n a l . Na época de Afonso X c o n v i v i a m em c o n c o r d i a c u l t u r a s , r e l i g i o e s
e povos d i f e r e n t e s , c o n t u d o , ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a as "mouras"
aparecem ocupando t a r e f a s de b a i x a condigno s o c i a l .
Exemplo: Afonso X o Sabio, t r o v a d o r c a s t e l h a n o :
Pod'el as mouras cada que l h i p r a z .
6.- DENO?¿INAC^ES RELACIONADAS COM A DE3CRICA0 FÍSICA:
6 . 1 . DE TIPO POSITIVO:
6.1.1. "Fremosa": é a p a l a v r a mais r e l a c i o n a d a com a b e l e z a e apare
ce em t o d o s os c a n c i o n e i r o s . Os a u t o r e s que mais c i t a m "fremosa" sao
os j o g r a i s . Está r e f e r i d a á ou as c o n f i d e n t e s ou a própria p r o t a g o -
n i s t a . Ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a aparece como q u a l i f i c a t i v o r e f e -
r i d o a Virgem, quase sempre.
Exemplo:Bernal de B o n a v a l , j o g r a l g a l e g o , c. amigo:
D i s s ' a fremosa em B o n a v a l a s s i :
A i Deus, u é meu amigo d ' a q u i , ...
6.1.2. " V e l i d a " : é própria da c a n t i g a de a m i f o e tem os mesmos t r a -
gos definitórios de " f r e m o s a " . Na composig'ao quase sempre v a i acom-
panhada d o u t r o s t e r m o s que costumam s e r sinónimos. A invocagao de -
" v e l i d a " pode f a z e r r e f e r e n c i a as c o n f i d e n t e s que tém urna p o s t u r a -
p a s s i v a na acgao.
Exemplo: Joam Z o r r o j o g r a l portugués, c. amigo:
Em L i x b o a sobre l o mar
Barcas novas mandei l a v r a r ,
A i mia senhora v e l i d a
6 . 1 . 3 . "Lougaa (Lougana)": mantem a l t e r n a n c i a com " v e l i d a " como par
de sinónimos em t e x t o s de a u t o - l o u v o r . A p a l a v r a "lougaa" tem ampio
uso como a d j e c t i v o .
Exemplo: Pero Meogo, j o g r a l g a l e g o , c. amigo:
Levou-ss'a l o u g a n a , l e v o u - s s ' a v e l i d a ,
V a i l a v a r cábelos na f o n t a n a f r i a ,
Leda dos amores, dos amores l e d a .
6.1.4. "Loada": r e f i r e - s e a e l o g i a d a o e l a sua b e l e z a .
Exemplo: Joam Z o r r o , j o g r a l portugués, c. amigo:
Bailemos a g o r a , por Deus, a i l o a d a s , ...
6 . 1 . 5 . "Talhada": normalmente é a n t e c e d i d a pelo a d v e r b i o bem ("bem/
t a l h a d a " ) . Parece s e r quo e s t a p a l a v r a é i n f l u x o da cangao f r a n c e s a .
26.
27. • • •/• • 13
Aparece, o u t r a vez, o a u t o - l o u v o r .
Exemplo: Joam Soares Coelho, t r o v a d o r Portugués, c. amor:
Ou p o r fremosa, ou p o r bem t a l h a d a .
Se p o r aquest'ama dev'a s e e r , ...
6 . 1 . 6 . "Corpo v e l i d o / C o r p o delgado/A do corpo v e l i d o / A do corpo l o u c a t
Formara, pares de denominagc'es pouco u s u a i s . Sao usadas, s o b r e t u d o p o r
M a r t i m Codax.
Exemplo: M a r t i m Codax, j o g r a l g a l e g o :
Eno sagrado, em V i g o , Em v i g o , eno sagrado
ba.ilava corpo v e l i d o : b a i l a v a corpo delgado:
amor e i ! amor e i !
6 . 1 . 7 . "Delgada": é usada como s u b s t a n t i v o em vez de a d j e c t i v o :
Exemplo: Fernandes T o r n e o l :
A q u i v e j ' e u , f i l h a , o voss'amigo
o por que vos b a r a l h a d e s migo,
delgada.
6 . 1 . 8 . " A do mui bo parecer/A do mui bo semelhar":é urna forma de -
e x p r e s s a r a b e l e z a com v e r b o s s u b s t a n t i v a d o s como " p a r e c e r " ou "se-
melhar" m o d i f i c a d o s p e l a a n t e p o s i c a o do a d j e c t i v o "bo". "Bo p a r e c e r "
é mais f r e q u e n t e que "bo semelhar".
Exemolo: Rui Queimado, t r o v a d o r portugués, c. amor:
E polo vosso mui bom p a r e c e r
M o r r e r a eu; mais acorde [jQ -m'entom
Que nunca v o s v e e r i a des i ,
Se morresse. E p o r e s t o nom m o r r i .
6 . 1 . 9 . "Bela": aparece ñas c a n t i g a s de e s c a r n i o formando p a r t e dum/
coro de personagens s e c u n d a r i o s que ajudam a c a r a c t e r i z a r ao p r o t a -
g o n i s t a da sátira. Conforme a l g u n s e s t u d i o s o s , e s t a p a l a v r a , pode -
ser um p r o v e n g a l i s m o . Ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a o seu uso é ampio
e c o n s t i t u i urna forma moderna, é usada como q u a l i f i c a t i v o .
Exemplo: C a n t i g a s de Santa M a r i a :
... monja, fremosa e b e l a . . .
6 . 1 . 1 0 . " P r e c i o s a ? : é e x c l u s i v a das C a n t i g a s de Santa M a r i a e sempre
toma de r e f e r e n t e a f i g u r a da Virgem:
Exemplo: C a n t i g a s de Santa M a r i a :
Virgem Madre g r o r i o s a ,
de Deus f i l h a e esposa,
s a n t a , n o b r e , p r e c i o s a , ...
6 . 2 . DE TIPO NEGATIVO:normalmente nfío se usam designago'es específi-
cas senSo q u a l i f i c a t i v o s s o l t o s ou a g l u t i n a d o s em descrigo'es porme-
n o r i z a d a s que fazem mengao de características n e g a t i v a s como " r o s -
t r o agudo", " v e n t r e i n c h a d o " . . . A i d e i a de f e a l d a d e vem e x p r i m i d a -
por a d j e c t i v o s como: " f e a " que acompanha a " d o n a / d o n z e l a / v e l h a " , —=
"mal t a l h a d a " , " p e i o r t a l h a d a " ; normalmente os q u a l i f i c a t i v o s c o m —
preendera t a n t o o p e r f i l físico como o m o r a l . Este t i p o de denomina-
goes só tem cabimento no género de e s c a r n i o . Ñas C a n t i g a s de Santa/
M a r i a os "mouros" sao chamados " g e n t e dessa f e a e barvuda".
Exemplo:Gil Peres Conde, t r o v a d o r portugués; c. e s c a r n i o :
L e i x a r v e l h a s f e a s , e as fremosas
E mancebas filhá-las p o r esposas.
28. 7. - DENOMINApOES RELACIONADAS COM O AMOR :
7»1»"Namorada": é um a d j e c t i v o de uso f r e q u e n t e .
Exemplo:Martim. Codax, j o g r a l g a l e g o , c. amigo:
A i deus, se sab'ora meu amigo
Com'eu s e n h e i r a e s t o u em V i g o .
E v o u namorada.
7.2. "Meu ben":é o termo que aparece mais vezes, sempre p r e c e d i d o -
do possessivo de 1§ oessoa.
Exemplo:Afonso Anes do Cotom, t r o v a d o r g a l e g o , c. amigo:
A i meu amig'e meu lum'e meu bem,
Vejo-vos o r a mui t r i s t ' e , p o r em, ...
7«3» " C o i t a do meu coragom": ríao se sabe mui bem se e s t a e x p r e s s a o /
está r e f e r i d a ao o b j e c t o f e m i n i n o da cancao ou se é urna exclamacao/
da d o r do ooeta. Os e s t u d i o s o s optam p e l a p r i m e i r a .
Exemplo:Afonso Anes do Cotom, t r o v a d o r g a l e g o , c. amigo:
Par Deus, a i c o i t a do meu coragom,
Mal e s t o u eu, se o v o s nom sabedes.
7.4. " G a r r i d a do amor/Jurada do amor": tem o s i g n i f i c a d o de "comple_
tamente namorada, l o u c a de amor". 0 i n t r o d u t o r deste par léxico f o i
o R e i - t r o v a d o r D. D i n i s .
Exemplo:D. D i n i s
Do que eu ben q u e r i a , Do que eu muit'amava,
chamar-m'ai g a r r i d a do amor. chamar-m'an jarada do amor.
8. -DENOMINALES RELACIONADAS COM A VIRTUDE:
Na Idade Media a p r i n c i p a l v i r t u d e da mulher e r a a várgindade; desde
o prisma dos m o r a l i s t a s e g e n t e s da I g r e j a , o sexo e s t a v a bem v i s t o
d e n t r o do m a t r i m o n i o e com o o b j e c t i v o de p r o c r i a r ; e para os j u r i s
t a s l a i c o s as r e l a g o e s s e x u a i s nao síao pecado d e n t r o do m a t r i m o n i o /
porque se impSe a e s t a b i l i d a d e do c a s a l como um bem s o c i a l d e n t r o -
da ordem p u b l i c a , p o r i s s o é t o l e r a d a a " b a r r a g a n i a " e a p r o s t i t u i -
gao, como um b e n e f i c i o para a s o c i e d a d e .
8 . 1 . ASPECTOS POSITIVOS DA VIRTUDE :
8.1.1. " V i r g o , D o n a - v i r g o , Virgem": p a r a a l g u n s e s t u d i o s o s " V i r g o e
D o n a - v i r g o " sao designagoes a r c a i c a s de "menina" ou "moga" e, se t e -
mos em c o n t a i s t o , p r i m a r i a mais a i d a d e que o s e n t i d o de v i r g i n d a -
de como v i r t u d e ; para o u t r o s o s i g n i f i c a d o é " v i r g e m , donzela, r a p a
r i g a " . De t o d a s formas as duas o p i n i S e s tém um v a l o r r e l a c i o n a d o com
a v i r g i n d a d e duma maneira mais ou menos d i l u i d a . A língua a c t u a l t£
mará e s t a acepgao como a p r i n c i p a l . Ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a apa
rece a p a l a v r a " v i r g e m " a p l i c a d a sempre a M a r i a e e n f a t i z a n d o a sua
pureza.
Exemplo:Airas Nunes, clérigo g a l e g o , p a s t o r e l a :
P e l a r i b e i r a do r i o
Cantando i a l a v i r g o
D'amor.
Joam Z o r r o , j o g r a l g a l e g o , c. amigo:
P e l a r i b e i r a do r i o
Cantando i a l a dona v i r g o
D'amor.
8.1.2. "Donzela": tem cá o s e n t i d o de mulher v i r t u o s a que se a f a s t a
29. da "moga s o l t e i r a " das d e n o m i n a r e s r e l a t i v a s ^ t o estado c i v i l . Tem/
ampia d i f u s a o ñas C a n t i g a s de Santa M a r i a , com a a c e p t o d o m i n a n t e /
de v i r g e m .
Exemplos: C a n t i g a s de Santa M a r i a
Madr'e d o n z e l a
P a r i u e f i c o u donzela...
8 . 2 . ASPECTOS NEGATIVOS DA VIRTUDE: no género de e s c a r n i o os i n s u l -
t o s d i r i g i d o s as mulheres o r i e n t a m - s e em t o r n o da sua conduta s e x u a l
na que s a l i e n t a o a p e l a t i v o " p u t a " .
8.2.1. "Puta"; tem urna o r i g e m e s c u r a e contem duas acepcoes:
1^ A p l i c a - s e a m u l h e r que r e a l i z a d e t e r m i n a d a s práticas pro_
f i s s i o n a i s e que r e p r e s e n t a m um grupo|social m a r g i n a l .
2i M u l h e r que t e v e reláceles s e x u a i s com v a r i o s homens.
Na m o r a l s e x u a l da época ríao e x i s t e para os homens urna p a l a v r a -
que se c o r r e s p o n d a com e s t a , p e l o que se f a z a deducán de que a se-
x u a l i d a d e "ilícita" e s t a v a l i m i t a d a ao ámbito f e m i n i n o .
Algumas vezes os a d j e c t i v o s que acompanham a " p u t a " a.judam a i n -
t e n s i f i c a r os e f e i t o s n e g a t i v o s nue o s u b s t a n t i v o provoca p o r s i —
mesmo: "a g r a n p u t a " , " a v e l h a p u t a " .
Exemplo:Martim Soares, t r o v a d o r portugués,c. e s c a r n i o :
Nom quer'eu p e r d e r e s t e f o d e s t a l h o
Nem e s t a s p u t a s , n e m { a q u j e s t ' e n t e n c a r ,
Nem q u e r ' i r p e r o u t r a s f r o n t e i r a s andar, ...
BIBLIOGRAFIA:
. Xograres do Mar de V i g o , Xosé Ramón Pena, Edicións Xerais,1.998.
. Tres poetas m e d i e v a i s da Ría de V i g o , H e n r i q u e Monteagudo, Luz —
Pozo Garza, Xesús Alonso Montero, E d i t o r i a l G a l a x i a , 1 . 9 9 8 .
. Os t r o b a d o r e s do Reino de G a l i z a , Mercedes Queixas Zas, A Nosa —
Terra, 1.998.
. As C a n t i g a s de E s c a r n i o , G i u l i a L a n c i a n i , Giuseppe T a v a n i , E d i
cións X e r a i s , 1 . 9 9 5 .
. A C a n t i g a de Amor, Viceng B e l t r a n , Edicións X e r a i s , 1 . 9 9 5 .
. As m u l l e r e s ñas c a n t i g a s m e d i e v a i s , E s t h e r C o r r a l Díaz, Seminario
de Estudos Galegos, Ediciós do C a s t r o , 1 . 9 9 6 .
. Lírica Galego-Portuguesa (Antología), Américo A. L i n d e z a Diogo,
E d i t o r a Angelus Novus, 1 . 9 9 8 .
. Hisforte, da. litera-tvra. ^aleja. ,T>e>1e>r¿s Vilaveerra , Cciii. .999 *
• A C*-»rfija cíe flmifr, Mercedes fbrej., P¿Lar L«r-en2* < S n a ¿ J » n , €¿3i4-Xewis-.l 9 9 8 .
Ca) Yj&Az. villar " F s r W