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Redatores:
JAMES I. PACKER, AM., D. PHIL.
Regent College
MERRILL C. TENNEY, A.M., Ph.D.
Wheaton Graduate School
WILLIAM WHITE, JR. Th.M., Ph.D.
Traduzido por
Luiz Aparecido Caruso
Editora Vida
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Categoria: Comentários Bíblicos
Traduzido do original em inglês:
Daily Life in Bible Times
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Copyright ® 1980 by Editora Vida
1.a impressão, 1982
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Todos os direitos reservados na língua portuguesa por
Editora Vida, Miami, Florida 33167― E.U.A
As citações bíblicas são extraídas da Versão de Almeida,
Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil,
salvo onde outra fonte for indicada.
ERC ― Versão de Almeida, Edição Revista e Corrigida
ÍNDICE
Introdução.............................................................................................................................................5
1. Relacionamentos da família.............................................................................................................6
2. Mulheres e condições da mulher....................................................................................................16
3. Casamento e divórcio.....................................................................................................................28
4. Nascimento e primeira infância......................................................................................................38
5. Infância e adolescência...................................................................................................................49
6. Enfermidades e cura.......................................................................................................................58
7. Alimento e hábitos alimentares......................................................................................................65
8. Vestuário e cosméticos....................................................................................................................77
9. Arquitetura e mobiliário.................................................................................................................90
10. Música..........................................................................................................................................97
11. Rituais de culto...........................................................................................................................103
Reconhecimentos..............................................................................................................................120
INTRODUÇÃO
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos apresenta os resultados da mais recente pesquisa bíblica
arqueológica relacionada com a vida e praticai do dia-a-dia do povo da Bíblia. As leis, os costumes
e os hábitos dos tempos bíblicos são muito diferentes dos de nosso tempo; e quando pudermos
entender essas diferenças, tiremos um quadro muito mais claro de muitos dos acontecimentos
registrados na Bíblia.
A vida da família descrita nas Escrituras difere muito da nossa. Mulheres e crianças
ocupavam na sociedade posições diferentes do que ocupam em nossa época. Além do mais, nos
tempos bíblicos as mulheres de Israel possuíam um status muito mais favorável do que o desfrutado
pelas mulheres das culturas circunvizinhas. O alto conceito em que os hebreus tinham o casamento
era ímpar naquele tempo, muito embora houvesse constante tensão entre os ideais de Israel e as
práticas corruptas dos povos entre os quais eles viviam. Os filhos eram bem-vindos ao seio da
família, e em muitos casos o amor que a família bíblica votava aos filhos está refletido nas
Escrituras. Outro elemento da vida familiar bem diferente do nosso é o alto grau de respeito
dispensado às pessoas idosas.
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos abrange muito mais do que a vida em família.
Enfermidade e cura, alimento e hábitos alimentares, vestuário e adorno também são examinados de
um modo que ajude o leitor da Bíblia a retratar as práticas da era bíblica.
Comparada com a dos romanos e a dos gregos, a arquitetura hebraica era simples. Nos
primeiros tempos as pessoas viviam em tendas grandes, e somente quando Israel se fixou na terra é
que se construíram casas e se fizeram óbvias as diferenças entre os abastados e os pobres. A música
de Israel era simples também, embora, afinal, se introduzissem instrumentos procedentes dos povos
que rodeavam a nação. Além disso, atribui-se a Davi a invenção de diversos instrumentos musicais.
Muitos desses instrumentos eram usados no culto.
O culto de Israel era marcado por temor e ações de graça, esperança e gratidão. Ainda que
esse culto nem sempre tenha sido fiel, Israel experimentou as bênçãos das promessas de Deus. Foi
esta esperança trouxe alegria tão exuberante às suas celebrações.
Vida cotidiana nos Tempos Bíblicos é um guia das leis, costumes e princípios morais do
período bíblico. O estudante da Bíblia é incentivado a ler o livro e a descobrir o significado desses
fatores na vida de Israel, bem como o seu significado para os nossos dias.
1. RELACIONAMENTOS DA FAMÍLIA
Dois fatos se destacam no que a Bíblia diz acerca da família e seus relacionamentos.
Primeiro, os papéis dos membros da família permaneceram quase os mesmos durante o período
bíblico. A mudança de cultura e de leis não afetou em grande medida os costumes familiares. É
verdade que os povos que viveram nos primeiros tempos do período do Antigo Testamento eram
seminômades ― freqüentemente se mudavam de uma região para outra ― de modo que seus
hábitos diferiam, de certa forma, daqueles dos povos de residência fixa. A lei mosaica aboliu
algumas da práticas nômades, tais como o casamento de um homem com sua irmã. Todavia,
permaneceu a maior parte do estilo de vida familiar original, mesmo na era neotestamentária.
Segundo, a vida da família nos tempos bíblicos refletia uma cultura muito diferente da
nossa. É preciso que reconheçamos esta diferença quando nos voltamos para as Escrituras em busca
de diretriz na criação de nossas famílias. Devemos buscar os princípios bíblicos em vez de copiar
diretamente os estilos de vida específicos que a Bíblia retrata. Esses estilos de vida foram projetados
para pequenas comunidades agrícolas, e em muitos casos não eram do agrado de Deus. Por
exemplo: a cultura daquela época permitia a um homem ter mais de uma esposa, e alguns homens
de Deus as tiveram; não obstante, em parte alguma a Bíblia declara que Deus aprovou esta prática.
Classificamo-la como um costume cultural tolerado, mas não um costume receitado biblicamente.
Outro exemplo: Quando Abraão viveu no Egito com Sara, ele lhe recomendou dizer que era
sua irmã, temendo que os egípcios o matassem por causa da grande beleza de Sara. Ela era, de fato,
sua meia-irmã, um grau de parentesco que Deus mais tarde especificou como próximo demais para
casamento (cf. Gênesis 20:12; Levítico 18:9). Como resultado, Faraó levou Sara para sua casa e
Deus afligiu―lhe a família com pragas a fim de resgatá-la.
O ensino bíblico sobre a vida familiar inclui instruções para os filhos, para as mães e para os
pais. Veremos exemplos de famílias que observaram a vontade de Deus e foram grandemente
abençoadas; veremos também as que desobedeceram a Deus e colheram as conseqüências. Ao longo
do caminho notaremos como a vida da família mudou durante o curso da história de Israel.
A UNIDADE FAMILIAR
A família foi a primeira estrutura social que Deus criou. Ele formou a primeira família
juntando Adão e Eva como marido e esposa (Gênesis 2:18-24). O homem e a mulher tornaram-se o
núcleo de uma unidade familiar.
Por que Deus criou a estrutura da família? Gênesis 2:18 diz que Deus criou a mulher como
auxiliadora de Adão, o que indica que o homem e a mulher foram reunidos primeiramente para
companheirismo; a esposa devia ajudar o marido, e o marido devia cuidar da esposa. Então os dois
juntos deviam atender às necessidades dos filhos, fruto de seu relacionamento.
A. Marido. A palavra hebraica que traduzimos por marido significa, em parte, "dominar,
governar". Também pode ser traduzida como "senhor, amo". Como cabeça da família, o esposo era
responsável pelo seu bem-estar. Por exemplo, quando Abraão e Sara enganaram Faraó a respeito de
seu casamento, o governante inquiriu a Abraão em vez de Sara, que realmente havia mentido
(Gênesis 12:17-20). Isto não quer dizer que o marido hebreu era um tirano que gostava de mandar
na família. Pelo contrário, ele assumia amorosamente a responsabilidade pela família e buscava
atender às necessidades dos que estavam debaixo de sua autoridade.
Todo casal judeu unia-se com a idéia de ter filhos. Estavam especialmente ansiosos por ter
um filho varão. O homem orgulhava-se de verdade pela sorte de ser pai de um filho. Jeremias
observou: "...o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com
isso grandemente" (Jeremias 20:15).
O pai judeu assumia a liderança espiritual da família; ele funcionava como seu sacerdote (cf.
Gênesis 12:8; Jó 1:5). Esperava-se que ele conduzisse a família na observância dos vários ritos
religiosos, tais como a Páscoa (Êxodo 12:3).
Juntamente com a esposa, o pai devia ensinar "a criança no caminho em que deve andar..."
(Provérbios 22:6). O pai tinha, também, de transmitir aos filhos toda a lei escrita. Ele era
admoestado nestes termos: "tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão e te
serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas"
(Deuteronômio 6:7-9).
Casa do Antigo Testamento reconstruída. Interior reconstruído de uma casa típica dos tempos bíblicos mostra o fogão
(à esquerda do centro) e uma talha com a concha de tirar água (primeiro plano). Um tear horizontal pende de um poste
no lado esquerdo da área onde a família toma as refeições ― uma esteira circular posta com tigelas. Jarras de guardar
mantimento, cestas e tigelas estão nas prateleiras, nos bancos e no chão.
Na porta da cidade. As portas tas da cidade eram centros de conversações e de comércio. Muitas vezes as portas
recebiam o nome de acordo com os artigos aí negociados (p. ex., Porta das Ovelhas, Porta do Peixe)- Visto como os
anciãos muitas vezes faziam negócio junto à porta, "assentar-se à porta" significava atingir certa eminência social.
O pai tinha de infligir castigo físico quando necessário. Isto devia ser feito de tal modo que
não provocasse "vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor"
(Efésios 6:4).
Nos tempos bíblicos, o homem que não sustentasse adequadamente a família era culpado de
ofensa grave. O homem que falhava neste ponto era evitado e escarnecido pela sociedade (cf.
Provérbios 6:6-11; 19:7). Paulo escreveu: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e
especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (1 Timóteo
5:8).
Como esposo e pai, o homem defendia os direitos da família perante os juizes quando se
fizesse necessário (veja Deuteronômio 22:13-19). "O órfão e a viúva" não tinham um homem que
defendesse seus direitos, por isso com freqüência lhes era negada a justiça (cf. Deuteronômio
10:18).
O povo judeu era governado por várias tradições judaicas. O Talmude diz que o pai tinha
quatro responsabilidades para com o filho, além de ensinar-lhe a Lei. Ele devia circuncidar o filho
(cf. Gênesis 17:12-13), redimi-lo de Deus se ele fosse o primogênito (cf. Números 18:15-16),
achar-lhe uma esposa (cf. Gênesis 24:4), e ensinar-lhe uma profissão.
Um bom pai pensava nos filhos como seres humanos completos, e respeitava seus
sentimentos e capacidades. Disse um erudito judeu daquele tempo que um bom pai devia "afastá-los
com a mão esquerda e puxá-los para junto de si com a mão direita". Este delicado equilíbrio entre
firmeza e afeição tipificava o pai judeu ideal.
B. Esposa. No casamento, espontaneamente a mulher assumia um lugar de submissão ao
companheiro. A responsabilidade da esposa era a de "auxiliadora" do marido (Gênesis 2:18), aquela
que "lhe faz bem, e não mal, todos os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Sua principal
responsabilidade girava em torno do lar e dos filhos, mas às vezes se estendia ao mercado e a outras
áreas que afetavam o bem-estar da família (cf. Provérbios 31:16, 25).
O alvo primário da esposa era dar filhos ao marido. O porta-voz da família de Rebeca disse-
lhe: "És nossa irmã: sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta
dos seus inimigos" (Gênesis 24:60). A família judia esperava que a esposa se tornasse como uma
videira frutífera, enchendo n casa de filhos (Salmo 128:3). Assim, a mãe saudava o primeiro filho
com muita felicidade e
alívio.
À medida que os filhos iam chegando, a mãe ia ficando mais presa ao lar. Ela amamentava
cada criança até à idade de dois ou três anos, além de vestir e alimentar O restante da família.
Diariamente gastava horas preparando refeições e fazendo roupas de lã. Quando necessário, a
esposa ajudava o marido nos campos, plantando ou colhendo.
A mãe participava da responsabilidade de educar os filhos. Estes passavam os primeiros
anos formativos da vida junto à mãe. Finalmente, os filhos varões tinham idade suficiente para
acompanhar os pais aos campos ou a outro lugar de emprego (cf. Provérbios 31:1-9). A mãe
voltava, então, suas atenções mais plenamente para as filhas, ensinando-lhes como ser esposas e
mães bem-sucedidas.
O desempenho das tarefas de uma mulher determinava o fracasso ou o êxito da família. Os
sábios diziam: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é
como podridão nos seus ossos" (Provérbios 12:4). Se a esposa trabalhava com afinco na tarefa que
tinha pela frente, o marido era grandemente beneficiado. Os judeus acreditavam que um homem
poderia galgar posição, entre os líderes de Israel, somente no caso de sua esposa ser sábia e
talentosa (cf. Provérbios 31:23).
C. Filhos varões. Nos tempos bíblicos, os filhos varões tinham de sustentar os pais quando
estes envelhecessem, e dar-lhes sepultamento digno. Por este motivo, o casal geralmente esperava
ter muitos filhos, "Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem
que enche deles a sua aljava: não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta"
(Salmo 127:4-5).
O primogênito mantinha um lugar de honra muito especial no seio da família. Esperava-se
que ele fosse o próximo cabeça da casa. No decurso de sua vida, esperava-se que ele assumisse
maior responsabilidade por seus atos e pelos atos de seus irmãos. Foi por isto que Rúben, como
irmão mais velho, mostrou maior preocupação pela vida de José, quando os irmãos concordaram em
matá-lo (Gênesis 37:21, 29).
Ao morrer o pai, o primogênito recebia uma porção dobrada da herança da família
(Deuteronômio 21:17; 2 Crônicas 21:2-3).
O quinto mandamento admoestava: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os
teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá" (Êxodo 20:12). Tanto o pai quanto a mãe deviam
receber a mesma soma de respeito. Contudo, os rabinos do Talmude raciocinavam que se alguma
vez um filho tivesse de escolher entre os dois, a preferência devia ser dada ao pai. Por exemplo, se
ambos os pais pedissem um copo de água simultaneamente, o Talmude ensinava que tanto o filho
quanto a mãe deviam atender à necessidade do pai.
Jesus foi o exemplo perfeito de filho obediente. Lucas observou que aos 12 anos de idade,
Jesus "desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso" (Lucas 2:51). Mesmo enquanto suportava
as agonias da cruz, Jesus pensou em sua mãe e em sua responsabilidade para com ela como
primogênito. Pediu a João que cuidasse dela após a sua morte, cumprindo desse modo seu dever de
amor (João 19:27).
D. Filhas. Nos tempos antigos, as filhas não eram prezadas como os filhos varões. Alguns
pais realmente as consideravam como um fardo. Por exemplo, um pai escreveu: "O pai vela pela
filha, quando nenhum homem sabe; e o cuidado dela tira o sono: quando ela é jovem, para que não
deixe passar a flor da idade [não deixe de casar-se]; e sendo casada, para que não seja odiada; em
sua virgindade, para que não seja violada e se engravide na casa do pai; ou tendo marido, para que
ela não se comporte mal; e quando casada, para que não seja estéril" (Eclesiástico 42:9-10).
Contudo, os hebreus tratavam as filhas com mais humanidade do que algumas das culturas
vizinhas. Os romanos realmente expunham as filhas recém-nascidas aos elementos, na esperança de
que morressem. Os hebreus criam que a vida ― do homem e da mulher ―vinha de Deus. Por esta
razão, nunca considerariam matar um de seus filhinhos. Em realidade, quando o profeta Nata
procurou descrever o relacionamento íntimo de um pai com o filho, ele retratou uma filha nos
braços do pai com a cabeça reclinada no seu regaço (2 Samuel 12:3).
Moendo farinha, assando pão. Os hebreus usavam pedras para moer o trigo e a cevada a fim de fazer farinha.
Misturavam a farinha, o fermento, o azeite de oliveira e água ou leite para fazer uma massa que depois era adelgaçada
para ir ao forno.
As filhas primogênitas tinham um especial lugar de honra e de deveres na família. Por
exemplo, a primogênita de Ló tentou persuadir a irmã mais moça a ter um filho do pai, para
preservar a família (Gênesis 19:31-38). Na história de Labão e Jacó, a filha primogênita, Lia, teve
prioridade sobre a irmã mais moça (Gênesis 29:26).
Se a família não tinha filhos varões, as filhas podiam herdar as possessões do pai (Números
27:5-8); mas só poderiam conservar a herança se se casassem dentro de sua própria tribo (Números
36:5-12).
A filha estava sob o domínio legal do pai até que se casasse. O pai tomava por ela todas as
decisões importantes, tais como com quem ela devia casar-se. Mas a filha era solicitada a dar seu
consentimento na escolha de um noivo, e às vezes até lhe era permitido declarar preferência
(Gênesis 24:58; 1 Samuel 18:20). O pai aprovava todos os votos da filha antes de se tornarem
obrigatórios (Números 30:1-5).
Uma "Mesa" Judaica. Uma família israelita dos tempos do Antigo Testamento comia em volta de uma esteira no chão,
como esta, onde eram postos os pratos de barro simples. Esta reconstrução encontra-se no Museu Ha-Aretz, em Tel-
Avive.
Esperava-se que a filha ajudasse a mãe no lar. Bem cedo na vida ela começava a aprender as
várias habilidades de que necessitava para tornar-se uma boa esposa e mãe. Aos 12 anos de idade, a
filha tornava-se dona-de-casa com seus direitos próprios e lhe era permitido casar.
Em algumas culturas do Oriente Próximo, as famílias não permitiam que as filhas saíssem
de casa. Se apareciam em público, deviam usar um véu para cobrir o rosto e não lhes era permitido
falar com pessoas do sexo masculino. Os israelitas não impunham tais restrições às suas filhas. As
moças eram relativamente livres para ir e vir, contanto que dessem conta do seu trabalho. Vemos
exemplos desta liberdade no caso de Rebeca, que conversou com um estranho junto ao poço
(Gênesis 24:15-21), e as sete filhas do sacerdote de Midiã, que conversaram com Moisés enquanto
davam de beber ao rebanho do pai (Êxodo 2:16-22).
As moças dos tempos bíblicos preocupavam-se muito com sua aparência. Acreditavam que a
pele clara era bonita. Se uma jovem ficava bronzeada pelo sol, ela se escondia da vista pública
(Cantares 1:6). Por este motivo, as mulheres procuravam fazer o trabalho externo nas primeiras
horas da manhã ou ao entardecer. Às vezes, porém, a mulher era obrigada a expor-se ao sol do
meio-dia, como no caso da jovem de Cantares de Salomão. Ela acusou os irmãos de a colocarem
"por guarda das vinhas", o que significa que era obrigada a estar fora de casa a maior parte do dia
(Cantares 1:6).
A família esperava que a filha permanecesse virgem até ao casamento. Infelizmente, nem
sempre isto acontecia. Algumas moças eram seduzidas ou violadas. Quando isto acontecia, a lei
mosaica estabelecia distinções cuidadosas entre o castigo pela violação de uma moça que estava
noiva e pelo da que não estava.
Freqüentemente as filhas casavam-se em idade prematura. Tais casamentos não criavam os
problemas que criam hoje. Embora a recém-casada deixasse o domínio do pai, ela entrava no novo
domínio do marido e sua família. A sogra entrava em cena para continuar a orientação e o
treinamento que a jovem havia recebido de sua própria mãe. A esposa e a sogra muitas vezes
criavam um laço de amizade forte e duradouro. Isto se acha perfeitamente exemplificado no livro de
Rute, quando Noemi repetidamente se refere a Rute como "minha filha". Miquéias descreveu a
família rixenta como aquela em que "a filha se levanta contra a mãe, a nora contra a sogra"
(Miquéias 7:6).
Quando uma jovem ia viver com a família do marido, ela não abria mão de todos os direitos
que tinha em sua própria família. Se o marido morria e não havia cunhados com quem se casar, ela
podia voltar à casa paterna. Foi exatamente isso que Noemi recomendou às suas noras, e Orfa
aceitou a sugestão (Rute 1:8-18).
E. Irmãos e Irmãs. O amor desenvolvia-se entre os irmãos enquanto cresciam juntos,
compartilhando as responsabilidades, os problemas e as vitórias. Um dos Provérbios declara: "O
homem que tem muitos amigos pode congratular-se; mas há amigo mais chegado do que um irmão"
(Provérbios 18:24, ERC).
José revelou verdadeiro amor a seus irmãos. Mas enquanto ele era jovem, os irmãos o
venderam à escravidão porque odiavam a predileção do pai para com ele. Mais tarde, quando José
adquiriu poder e posição, podia ter acertado as contas com eles. Em vez de fazê-lo, ele lhes mostrou
amor e misericórdia. Disse ele: "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós
mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque para conservação da vida, Deus me enviou
adiante de vós" (Gênesis 45:5).
A Bíblia descreve muitos irmãos que mantiveram um profundo e permanente amor entre si.
O Salmista descreveu o amor dos irmãos, dizendo: "É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual
desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do
Hermom, que desce sobre os montes de Sião" (Salmo 133:2-3).
Irmãos e irmãs também compartilhavam um laço especial. Os filhos de Jó nunca davam
banquetes sem convidar suas três irmãs (Jó 1:4). Quando Diná foi violada, seus irmãos vingaram o
crime (Gênesis 34).
Nos tempos antigos, às vezes os jovens se casavam com sua meia―irmã. Abraão e Sara
tinham o mesmo pai, mas diferentes mães (Gênesis 20:12). Como já observamos, a lei mosaica
proibiu esta prática (Levítico 18:9; 20:17; Deuteronômio 27:22).
O laço de amor entre irmãs e irmãos era tão forte que a lei mosaica permitia que o sacerdote
tocasse o corpo de um irmão, irmã, pai, mãe ou filho falecido (Levítico 21:1-3). Esta era a única vez
que o sacerdote podia tocar um defunto e tornar-se cerimonialmente contaminado.
A FAMÍLIAAMPLIADA
No sentido mais fundamental, a família hebraica constituía-se do esposo, esposa e filhos.
Quando o marido tinha mais de uma esposa, a "família" incluía todas as esposas e todos os filhos
em seus vários relacionamentos (cf. Gênesis 30). Às vezes a família incluía todos os que
compartilhavam um teto comum sob a proteção do cabeça da família. Podiam ser avós, criados e
visitantes, bem como filhas viúvas e seus filhos. A família ampliada geralmente incluía os filhos e
suas esposas e filhos (Levítico 18:6-18). Deus contou os escravos de Abraão como parte do grupo
familiar, pois ele exigiu que Abraão os circuncidasse (Gênesis 17:12-14, 22-27). Na primitiva
história de Israel até quatro gerações viviam juntas. Isto era parte normal do modo de vida
seminômade e mais tarde do modo de vida agrícola.
No Oriente Médio, ainda hoje os povos seminômades perambulam juntos como famílias
numerosas em busca de sobrevivência. Cada família ampliada tem seu próprio "pai" ou xeque, cuja
palavra é lei.
Nos dias do Antigo Testamento, a família ampliada era governada pelo homem mais velho
da casa, que também era chamado "pai". Muitas vezes esta pessoa é o avô ou bisavô. Por exemplo,
quando a família de Jacó se mudou para o Egito, Jacó foi considerado o "pai" ― muito embora seus
filhos tivessem esposas e filhos (cf. Gênesis 46:8-27). Jacó continuou no governo da "família" até à
morte.
O "pai" de uma família ampliada tinha o poder de vida e morte sobre todos os seus
membros. Vemos isto quando Abraão quase sacrificou seu filho Isaque (Gênesis 22:9-12), e quando
Judá sentenciou sua nora à morte porque ela havia cometido adultério (Gênesis 38:24-26).
Mais tarde, a lei mosaica restringiu a autoridade do pai. Não lhe permitia sacrificar o filho
sobre o altar (Levítico 18:21). Permitia-lhe vender a filha, desde que não fosse a um estrangeiro, ou
para prostituição (Êxodo 21:7; Levítico 19:29). De acordo com a lei, o pai não podia negar o direito
de primogenitura de seu primogênito, mesmo que ele tivesse filhos de duas mulheres diferentes
(Deuteronômio 21:15-17).
Alguns pais hebreus quebraram essas leis, como no caso de Jefté, que votou sacrificar quem
quer que lhe saísse ao encontro após seu retorno vitorioso da batalha. Sua filha foi a primeira
pessoa. Crendo que ele tinha de cumprir o voto, Jefté sacrificou-a (Juizes 11:31, 34-40). Da mesma
forma o rei Manasses queimou o filho para aplacar um deus pagão (2 Reis 21:6).
Não sabemos quando a família ampliada dos tempos do Antigo Testamento abriu caminho
para a estrutura familiar que conhecemos hoje. Alguns eruditos acham que ela se extinguiu durante
a monarquia de Davi e de Salomão. Outros crêem que ela continuou por mais tempo ainda. Mas,
nos tempos do Novo Testamento, a família ampliada havia quase desaparecido. Os escritos de Paulo
o confirmam; quando ele escreveu sobre os papéis e atitudes de cada membro da família, falou
apenas dos pais, filhos e escravos (cf. Efésios 5:22― 6:9).
O Novo Testamento diz que José e Maria viajaram como um casal para alistar-se em Belém
(Lucas 2:4-5). Foram ao templo sozinhos quando Maria ofereceu sacrifícios (Lucas 2:22). Também
viajaram sozinhos quando levaram Jesus para o Egito (Mateus 2:14). Esses relatos tendem a
confirmar que a "família" do Novo Testamento constituía-se somente do marido, da esposa e dos
filhos.
O CLÃ
A família ampliada fazia parte de um grupo maior a que chamamos clã. O clã podia ser tão
grande que registrava centenas de homens em suas fileiras (cf. Gênesis 46:8-27; Esdras 8:1-14). Os
membros de um clã descendiam de um ancestral comum, e assim se consideravam uns aos outros
como parentes. Sentiam-se obrigados a ajudar e a proteger uns aos outros.
Muitas vezes o clã designava um homem, chamado goel, para oferecer ajuda aos membros
necessitados. Em português, esta pessoa é mencionada como resgatador. Sua ajuda cobria muitas
áreas de necessidade.
Se um membro do clã tinha de vender parte de sua propriedade para pagar dívidas, ele dava
ao resgatador a primeira opção de compra. O resgatador tinha, então, de comprar a propriedade, se
pudesse, para conservá-la na posse do clã (Levítico 25:25; cf. Rute 4:1-6). Vemos esta situação
quando o primo de Jeremias veio a este, dizendo: "Compra o meu campo que está em Anatote...
porque teu é o direito de posse e de resgate; compra-o" (Jeremias 32:6-8). Jeremias comprou o
campo e usou o acontecimento para proclamar que os judeus finalmente voltariam a Israel (Jeremias
32:15).
De quando em quando um exército capturava reféns e os vendia pela melhor oferta.
Também, um homem podia vender-se à escravidão para resgatar uma dívida. Em ambos os casos, o
parente do escravo tinha de encontrar o resgatador do clã, que tentaria comprar a liberdade do seu
parente (Levítico 25:47-49).
Se um homem casado morria sem ter deixado filho, o goel tinha de casar-se com a viúva
(Deuteronômio 25:5-10). A isto se dava o nome de casamento de levirato ("cunhado"). Quaisquer
filhos nascidos deste arranjo eram considerados descendência do irmão falecido.
A história de Rute e Noemi exemplifica bem a responsabilidade do resgatador. A viúva
Noemi tinha de vender sua propriedade próxima de Belém, e queria que sua nora sem filhos se
casasse de novo. O parente mais próximo concordou em adquirir o campo mas não estava disposto
a casar-se com Rute. Assim, ele desistiu de ambas as obrigações numa cerimônia realizada perante
os anciãos da cidade. Então Boaz, o parente seguinte, comprou o campo e casou-se com Rute (Rute
4:9-10).
O goel tinha de vingar a morte de um parente. Nesse caso, ele era chamado "vingador do
sangue" (cf. Deuteronômio 19:12). A lei de Moisés limitava esta prática estabelecendo cidades de
refúgio para onde os homicidas podiam fugir, porém mesmo esta providência não garantia a
segurança do assassino. Se o homicídio foi praticado por maldade ou premeditação, o vingador do
sangue seguiria o homicida até à cidade de refúgio e exigiria sua extradição. Em tal caso, o
homicida seria entregue ao goel è este o mataria (cf. Deuteronômio 19:1-13). Foi assim que Joabe
matou a Abner (2 Samuel 3:22-30).
EROSÃO DA FAMÍLIA
A família que vive em harmonia e em verdadeiro amor é um deleite para todos quantos se
associam com ela. Por certo foi isto que Deus tinha em mente quando estabeleceu a família.
Infelizmente, a Bíblia mostra-nos poucas famílias que alcançaram este ideal. No decurso da história
bíblica, as famílias foram-se desgastando por pressões sociais, econômicas e religiosas. Podemos
identificar alguns desses fatores.
A. Inexistência de filhos. A falta de filhos era uma grande ameaça a um casamento nos
tempos bíblicos. Se o casal não podia conceber um filho, marido e mulher consideravam o
problema como castigo de Deus.
A despeito de seu constante amor à esposa, um homem sem filhos às vezes se casava com
uma segunda mulher ou usava os serviços de uma escrava para conceber filhos (Gênesis 16:2; 30:3;
Deuteronômio 21:10-14). Alguns homens divorciavam-se da esposa para fazer isto. Embora esta
prática solucionasse o problema da falta de filhos, ela criava muitos outros problemas.
B. Poligamia. Havia contínua rixa doméstica quando duas mulheres compartilhavam o
mesmo marido nos tempos do Antigo Testamento. A palavra hebraica para a segunda esposa
significa, literalmente, "esposa rival" (cf. 1 Samuel 1:6); isto sugere que geralmente havia
amargura e hostilidade entre esposas polígamas. Não obstante, a poligamia era habitual,
especialmente no tempo dos patriarcas. Se um homem não podia levantar o dinheiro de casamento
para uma segunda esposa, ele considerava a compra de uma escrava para esse fim ou o uso de uma
que ele já tinha em casa (cf. Gênesis 16:2; 30:3-8).
Num casamento polígamo, invariavelmente o marido favorecia uma esposa em detrimento
da outra. Isto causava complicações como, por exemplo, decidir qual o filho a honrar como
primogênito. Às vezes um homem desejava deixar a herança para o filho da esposa favorecida,
embora, em realidade, devesse deixá-la ao filho da esposa "aborrecida" (Deuteronômio 21:15:17).
Moisés declarou que o primogênito tinha de ser devidamente honrado, e o marido não podia reduzir
a parte da mãe do primogênito diminuindo "o mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem
os seus direitos conjugais" (Êxodo 21:10).
A política era, também, motivo para a poligamia. Muitas vezes um rei selava uma aliança
com outro, casando-se com a filha do seu aliado. Quando a Bíblia fala do grande harém de
Salomão, ela acentua que ele "Tinha setecentas mulheres, princesas" (1 Reis 11:3). Isto mostra que
a maioria de seus casamentos foram de natureza política. Provavelmente as mulheres vinham de
pequenas cidades-estados e de tribos dos arredores de Israel.
Depois do Êxodo, a maioria dos casamentos hebreus foram monogâmicos; cada marido
tinha somente uma esposa (Marcos 10:2-9). O livro dos Provérbios nunca menciona a poligamia,
muito embora toque em muitos aspectos da cultura hebraica. Os profetas sempre usaram o
casamento monogâmico para descrever o relacionamento do Senhor com Israel. Tal casamento era o
ideal da vida familiar.
C. Morte do marido. A morte do marido sempre tinha conseqüências de longo alcance para
a família. O povo dos tempos bíblicos não constituía exceção. Após um período de lamentações, a
esposa enviuvada podia adotar vários cursos de ação.
Se ela não tivesse filhos, esperava-se que continuasse a viver com a família do marido, de
acordo com a lei do levirato (Deuteronômio 25:5-10). Ela devia casar-se com um dos irmãos do
marido ou com um parente próximo. Se esses homens não estivessem disponíveis, estava ela livre
para casar-se fora do clã (Rute 1:9).
As viúvas com filhos dispunham de outras opções. Do livro deuterocanônico de Tobias
aprendemos que algumas voltavam para a família do pai ou do irmão (Tobias 1:8). Se a viúva era
idosa, um de seus filhos varões podia cuidar dela. Se ela adquirira segurança financeira, podia viver
sozinha. Por exemplo, Judite não se casou nem se mudou para a casa de um parente, pois "seu
marido Manasses lhe havia deixado ouro, e prata, e criados e criadas, e gado e terras; e ela
permaneceu neste estado" (Judite 8:7).
De quando em quando a viúva não tinha sequer um centavo, nem tinha parente homem do
qual depender. Tais mulheres enfrentavam grandes dificuldades (cf. 1 Reis 17:8-15; 2 Reis 4:1-7).
A viúva sem filhos, dos tempos do Novo Testamento, achava-se numa posição muito mais
segura. Se ela não dispunha de nenhum dos costumeiros meios de sustento, podia recorrer à igreja
em busca de ajuda. Paulo sugeriu que as viúvas jovens casassem de novo e que as viúvas idosas
fossem sustentadas pelos filhos; mas se a viúva não tinha a quem recorrer, a igreja devia cuidar dela
(1 Timóteo 5:16).
Aldeia de Kafr Kenna. Uma aldeia na Galiléia rural, Kafr Kenna, ainda se parece muito com as aldeias dos tempos
bíblicos. Observe o estilo simples das casas.
D. Filhos rebeldes. Era pecado grave desonrar o pai ou a mãe. Moisés ordenou que a pessoa
que ferisse ou amaldiçoasse o pai ou a mãe fosse morta (cf. Êxodo 21:15, 17; Levítico 20:9). Não
temos registro de que este castigo tenha sido aplicado, mas a Bíblia descreve muitos casos em que
os filhos desonraram os pais. Quando Ezequiel enumerou os pecados de Jerusalém, escreveu: "No
meio de ti desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões contra o estrangeiro e são injustos para com
o órfão e a viúva" (Ezequiel 22:7). Quadro semelhante é apresentado em Provérbios 19:26. Jesus
condenou muitos judeus de seu tempo por não honrarem os pais (Mateus 15:4-9)
Às vezes o pai ou a mãe causava mais atrito no seio da família do que o filho ou a filha. O
profeta Nata anunciou a Davi que "não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me
desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher" (2 Samuel 12:10). Desse
tempo em diante, Davi teve problema com os filhos.
Amnon apaixonou-se de Tamar, sua meia-irmã, e a violentou. Não obstante, Davi não
castigou o filho, e Absalão, irmão de Tamar, matou a Amnom por vingança. Então Absalão fugiu
para a terra de sua mãe, retornando mais tarde para chefiar uma revolta contra o pai (2 Samuel 13).
Davi insistiu em que seus homens não matassem Absalão, mas o jovem morreu num acidente de
Batalha. Davi chorou a morte do filho (2 Samuel 18).
Ao aproximar-se Davi da morte, seu filho Adonias desejou sucedê-lo no trono. Davi não
tentou restringir-lhe as pretensões, nesta ou em nenhuma outra ocasião. A Bíblia diz que o rei jamais
"o contrariou [Adonias], dizendo: Por que procedes assim?" (1 Reis 1:6).
E. Rivalidade entre os filhos. O escritor de Provérbios expõe graficamente o problema dos
filhos que discutem entre si: "O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são
ferrolhos dum castelo" (Provérbios 18:19). A Bíblia descreve irmãos que discutem por vários
motivos. Jacó procurou furtar a bênção de Esaú (Gênesis 27). Absalão odiou a Amnom porque Davi
se recusou a puni-lo (2 Samuel 13). Salomão destruiu a seu irmão Adonias por suspeitar que este
desejava o trono (1 Reis 2:19-25). Quando Jeorão subiu ao trono, matou todos os irmãos, de sorte
que nunca fossem uma ameaça para ele (2 Crônicas 21:4).
Às vezes os pais provocavam a rivalidade entre os filhos, como no caso da família de
Isaque. A Bíblia diz que "Isaque amava a Esaú...; Rebeca, porém, amava a Jacó" (Gênesis 25:28).
Quando Isaque desejou abençoar a Esaú, Rebeca ajudou Jacó a obter a bênção para si. Esaú
enfureceu-se e ameaçou matar a Jacó que fugiu para um país longínquo (Gênesis 27:41-43). A
reunificação da família demandou uma geração inteira.
Infelizmente, Jacó não tirou proveito da lição dos erros de seu pai. Ele também favoreceu a
um dos filhos, dando a José honra perante os outros. Isto enfureceu de tal modo os restantes que
tramaram matar o predileto do pai. A Bíblia registra que "Vendo, pois, seus irmãos, que o pai o
amava mais do que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente"
(Gênesis 37:4).
F. Adultério. Os judeus consideravam o adultério uma grave ameaça à família, por isso
puniam os adúlteros imediatamente e com severidade.
RESUMO
A família era um fio unificador na história bíblica. Quando ameaçada ou desafiada, a
unidade familiar lutava pela sobrevivência. Deus usou as famílias para transmitir sua mensagem a
cada nova geração.
Deus sempre se expressara como Pai de sua família redimida (Oséias 11:1-3). Ele espera
receber honra da parte de seus filhos (Malaquias 1:6). Jesus ensinou seus discípulos a orar, dizendo
"Pai nosso." Mesmo hoje, as orações das crianças preparam-nas para honrar a Deus como o Pai
perfeito, capaz de atender a todas as suas necessidades.
Deus ordenou a unidade da família como parte vital da sociedade. Pela amorosa experiência
da família humana, começamos a entender o tremendo privilégio que temos de fazer parte da
"família de Deus".
2. MULHERES E CONDIÇÕES DA MULHER
É justo dizer que o Israel bíblico achava que os homens eram mais importantes do que as
mulheres. O pai ou o homem mais idoso da família tomava as decisões que afetavam todo o grupo
familiar, ao passo que as mulheres tinham muito pouco que dizer sobre elas. Esta forma patriarcal
(centrada no pai) de vida em família determinava como as mulheres eram tratadas em Israel.
Por exemplo, uma menina era educada para obedecer ao pai sem questionar. Depois, quando
se casava, devia obedecer ao marido da mesma forma. Se ela se divorciava, ou enviuvava, quase
sempre voltava a viver na casa do pai.
Em verdade, Levítico 27:1-8 sugere que uma mulher valia apenas a metade de um homem.
Assim, uma filha era menos bem recebida do que um filho. Os meninos eram ensinados a tomar
decisões e a governar suas famílias. As meninas eram criadas para casar e ter filhos.
A jovem nem mesmo pensava numa carreira fora do lar. A mãe lhe ensinava a cuidar da casa
e criar filhos. Esperava-se que ela fosse uma auxiliadora do marido e lhe desse muitos filhos
(Gênesis 3:16). Se a mulher não tinha filhos, era tida como amaldiçoada (Gênesis 30:1-2, 22; 1
Samuel 1:1-8).
Não obstante, a mulher era mais do que um objeto que podia ser comprado e vendido.
Cabia-lhe um papel importante. Provérbios 12:4 diz: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido,
mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos." Em outras palavras, uma
boa esposa era boa para o marido; ela o ajudava, cuidava dele e fazia-o sentir-se honrado. Mas uma
esposa má era pior do que um câncer; ela podia destruí-lo dolorosamente e fazê-lo objeto de
zombaria. A esposa podia fazer ou desfazer o marido.
Ainda que a maioria das mulheres passasse os dias como donas-de-casa e mães, havia
algumas exceções. Por exemplo, Miriã, Débora, Hulda e Ester foram mais do que boas esposas ―
foram líderes políticas e religiosas que comprovaram ser capazes de conduzir a nação tão bem
quanto qualquer homem.
OPINIÃO DE DEUS SOBRE AS MULHERES
No final do primeiro capítulo do Gênesis, lemos: "Criou Deus, pois, o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse:
Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as
aves dos céus, e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gênesis 1:27, 28). Esta passagem mostra
duas coisas a respeito das mulheres. Primeira, a mulher bem como o homem foi criada à imagem de
Deus. Deus não criou a mulher para ser inferior ao homem; ambos são igualmente importantes.
Segunda, também se esperava que a mulher tivesse autoridade sobre a criação de Deus. Homem e
mulher devem compartilhar esta autoridade ― ela não pertence apenas ao homem.
Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja
idônea" (Gênesis 2:18). Assim, "Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu:
tomou uma de suas costelas" (Gênesis 2:21), Deus empregou essa costela na criação de Eva. Este
relato mostra como a mulher é importante para o homem: Ela é parte de seu próprio ser, e sem ela o
homem é incompleto.
Mas Adão e Eva pecaram, e Deus disse a Eva: "O teu desejo será para o teu marido, e ele te
governará" (Gênesis 3:16). Foi, portanto, dito às mulheres que obedecessem a seus maridos. E
assim permaneceu, mesmo nos tempos do Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo disse às
esposas cristãs, "sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor" (Efésios 5:22). Mas,
embora a mulher devesse obedecer ao marido, ela não era inferior a ele. Significa, simplesmente,
que ela deve estar disposta a deixar que ele dirija. Na verdade, Paulo exigiu submissão tanto da
parte do marido como da esposa, "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Efésios 5:21).
Em outra carta, Paulo declarou claramente que não há diferença de status em Cristo entre homem e
mulher. "Não pode haver judeu nem grego", escreve ele, "nem escravo nem liberto; nem homem
nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).
Retrato de uma cabeça. As linhas de cobre negro feitas nas pálpebras desta escultura de marfim (século quatorze a.C.)
dão uma aparência de vida a esta representação de uma importante mulher de Ugarite. Ao longo da testa, na linha do
cabelo encontram-se laçadas de prata misturada com ouro. O alto toucado e o cabelo eram outrora cobertos de ouro
fino.
A POSIÇÃO LEGAL DAS MULHERES
A posição legal da mulher, em Israel, era inferior à do homem. Por exemplo, o homem podia
divorciar-se da esposa "por ter ele achado coisa indecente nela", mas à esposa não era permitido
divorciar-se do marido por nenhuma razão (Deuteronômio 24:1-4). A Lei declarava que a esposa
suspeita de ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de ciúmes (Números 5:11-31).
Contudo, não havia prova alguma para o homem suspeito de infidelidade com outra mulher. A Lei
dizia, também, que o homem podia fazer um voto religioso, e esse voto era válido (Números 30:1-
15); mas o voto feito por uma mulher podia ser anulado por seu pai ou (se ela fosse casada) pelo
marido. O pai de uma mulher podia vendê-la para pagar uma dívida (Êxodo 21:7), e ela não podia
ser libertada depois de 6 anos, como podia o homem (Levítico 25:40). Num caso, pelo menos, um
homem deu sua filha para ser usada sexualmente por uma turba (Juizes 19:24).
Algumas leis, porém, sugeriam que homens e mulheres deviam ser tratados como iguais. Por
exemplo, os filhos deviam tratar o pai e a mãe com igual respeito e reverência (Êxodo 20:12). O
filho que desobedecesse ou amaldiçoasse ao pai ou à mãe devia ser castigado (Deuteronômio 21:18-
21). O homem e a mulher apanhados no ato de adultério deviam ambos morrer apedrejados
(Deuteronômio 22:22). (É interessante notar neste ponto que quando os fariseus arrastaram uma
adúltera à presença de Jesus com a intenção de apedrejá-la, eles próprios já haviam quebrado a lei
deixando que o homem escapasse -João 8:3-11).
Outras leis hebraicas ofereciam proteção às mulheres. Se o homem tomasse uma segunda
esposa, ele ainda era obrigado, pela lei, a alimentar e vestir a primeira esposa, e continuar a ter
relações sexuais com ela (Êxodo 21:10). Mesmo a mulher estrangeira, tomada como noiva, na
guerra, tinha alguns direitos; se o marido se cansasse dela, devia dar-lhe liberdade (Deuteronômio
21:14). Qualquer homem culpado do crime de estupro devia ser morto por apedrejamento
(Deuteronômio 22:23-27).
Em geral, só os homens possuíam propriedade. Mas quando os pais não tinham filhos
varões, as filhas podiam receber a herança. Deviam casar-se dentro do clã para conservá-la
(Números 27:8-11).
Uma vez que Israel era uma sociedade dominada por homens, algumas vezes os direitos da
mulher eram menosprezados. Jesus contou a história de uma viúva que teve de importunar um juiz
que não queria tomar tempo para ouvir o seu lado da questão. Não querendo que ela continuasse a
aborrecê-lo, finalmente o juiz concordou em ouvi-la (Lucas 18:1-8). Como acontecia com muitas
das histórias de Jesus, isto era algo que podia realmente acontecer, e talvez tenha acontecido.
Não obstante, as viúvas recebiam também alguns privilégios especiais. Por exemplo, era-
lhes permitido respigar os campos após a colheita (Deuteronômio 24:19-22) e receber uma porção
dos dízimos no terceiro ano, juntamente com os levitas (Deuteronômio 26:12). Assim, a despeito de
seu status legal inferior, as mulheres gozavam de alguns direitos especiais na sociedade judaica.
MULHERES NO CULTO
As mulheres eram consideradas membros da "família da fé". Como tais, podiam entrar na
maioria das áreas de culto.
A Lei determinava que todos os homens se apresentassem perante o Senhor três vezes por
ano. Evidentemente, em algumas ocasiões as mulheres iam com eles (Deuteronômio 29:11;
Neemias 8:2; Joel 2:16), mas não se exigia que fossem. Talvez não se exigia que fossem por causa
de seus importantes deveres como esposas e mães. Por exemplo, Ana foi a Silo com o marido e
pediu um filho ao Senhor (1 Samuel 1:3-5). Mais tarde, quando a criança nasceu, ela disse ao
marido: "Quando for o menino desmamado, levá-lo-ei para ser apresentado perante o Senhor, e para
lá ficar para sempre" (vv. 21-22).
Mulher de Mari. Estatueta de barro da cidade de Mari, localizada ao longo do rio Eufrates na Mesopotâmia (hoje
Síria); retrata uma mulher cantando. A estatueta foi feita antes de 2500 a. C.
Como cabeça da casa, o marido ou pai apresentava os sacrifícios e ofertas em nome da
família toda (Levítico 1:2). Mas a esposa podia também estar presente. As mulheres compareciam à
Festa dos Tabernáculos (Deuteronômio 16:14), à festa anual do Senhor (Juizes 21:19-21), e à festa
da Lua Nova (2 Reis 4:23).
Um sacrifício que só as mulheres faziam ao Senhor era oferecido após o nascimento de uma
criança: "E, cumpridos os dias da sua purificação por filho ou filha, trará ao sacerdote um cordeiro
de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola por oferta pelo pecado à porta da tenda da
congregação" (Levítico 12:6).
À época do Novo Testamento, as mulheres judias já não participavam ativamente no culto
do templo ou da sinagoga. Embora houvesse uma área especial no templo conhecida como "Pátio
das mulheres", não lhes era permitido entrar no pátio interior. Fontes extrabíblicas dizem-nos que
não se permitia às mulheres ler ou falar na sinagoga; mas podiam sentar-se e ouvir na seção especial
a elas destinada. As mulheres podem ter tido permissão para entrar somente nas sinagogas que
funcionavam com base em princípios helenísticos.
Na igreja cristã primitiva revela-se um quadro diferente. Lucas 8:1-3 mostra que Jesus
recebeu algumas mulheres como companheiras de viagem. Ele incentivou a Marta e Maria a sentar-
se a seus pés como discípulas (Lucas 10:38-42). O respeito de Jesus pelas mulheres era algo
surpreendentemente novo.
Depois que Jesus ascendeu ao céu, diversas mulheres reuniram-se com os demais discípulos
no cenáculo para orar. Conquanto a Escritura não o diga tão especificamente, com toda a
probabilidade essas mulheres oravam em público, em voz audível. Tanto homens como mulheres
congregaram-se no lar da mãe de João Marcos a fim de orar pelo livramento de Pedro (Atos 12:1-
17), e do mesmo modo, homens e mulheres oravam regularmente na igreja de Corinto (1 Coríntios
11:2-16). Por isso o apóstolo Paulo deu instruções a homens e mulheres sobre a maneira de orar em
público.
Esta liberdade concedida às mulheres era tão nova que causou alguns problemas na igreja,
de modo que Paulo deu às primeiras organizações algumas diretrizes limitando o papel das
mulheres. Escreveu ele: "Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é
permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem
aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos; porque para a mulher é
vergonhoso falar na igreja" (1 Coríntios 14:34-35).
Poço de água e degraus. Construída cerca de 1100 a.C, esta escadaria de setenta e nove degraus desce em espiral ao
tanque de Gibeom. A escadaria e o poço, que exigiram a remoção de quase 3000 toneladas de pedra calcária, dava
acesso à água fresca dentro dos muros da cidade. Mulheres de Gibeom faziam o longa descida e subida todos os dias a
fim de prover água para suas casas.
Em outra carta, Paulo escreveu: "A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E
não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em
silêncio" (1 Timóteo 2:11-12). As opiniões diferem quanto ao que, exatamente, levou Paulo a
escrever essas coisas, e até que ponto constituem normas para os cristãos de nosso tempo. Contudo,
por certo ele estava corrigindo comportamento que parecia desregrado para a época.
Diversas mulheres da Bíblia foram famosas por sua fé. Incluídas na lista dos fiéis em
Hebreus 11 estão duas mulheres: Sara e Raabe (Josué 2; 6:22-25). Ana foi um exemplo piedoso da
mãe israelita: Ela orou a Deus; creu que ele ouviu suas orações; e cumpriu a promessa que fez a
Deus. Sua história encontra-se em 1 Samuel 1. Maria, mãe de Jesus, também foi uma boa e piedosa
mulher. Maria deve ter-se lembrado do exemplo de Ana, pois seu cântico de louvor a Deus (Lucas
1:46-55) é muito parecido com o de Ana (1 Samuel 2:1-10). O apóstolo Paulo lembra a Timóteo a
bondade de sua mãe e avó (2 Timóteo 1:5).
Todavia, nem todas as mulheres judias dos tempos bíblicos foram leais a Deus. Segundo o
livro dos escritos judeus conhecido como Talmude, algumas mulheres "dedicavam-se à feitiçaria"
(Joma 83b) e ao ocultismo. O Talmude alegava também que "a maioria das mulheres inclina-se para
a feitiçaria" (Sinédrio 67a). Alguns rabinos criam que foi por isto que Deus disse a Moisés: "A
feiticeira não deixarás viver."
Faça-se justiça, porém: as Escrituras não dizem que as mulheres estavam mais interessadas
no ocultismo do que os homens. Diversas referências bíblicas a mulheres que participavam do
ocultismo (p. ex., 2 Reis 23:7; Ezequiel 8:14; Oséias 4:13-14) mostram claramente que os homens
também se envolviam. E das quatro vezes que a bruxaria é mencionada no livro de Atos, só uma
delas se relaciona com uma mulher (Atos 8:9-24; 13:4-12; 16:16-18; 19:13-16).
AS MULHERES NA CULTURA DE ISRAEL
A sociedade israelita determinava que o lugar da mulher era no lar. Esperava-se que ela
achasse a vida de esposa e mãe muito agradável. Evidentemente, as mulheres judias aceitavam esse
papel com boa disposição.
A. A esposa ideal. Todo homem desejava encontrar uma esposa perfeita, uma esposa que lhe
fizesse "bem, e não mal, todos os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Poucos homens, então como
agora, desejavam uma mulher mandona ou que gostasse de brigar! Provérbios 19:13 comparava
uma esposa rixenta a um contínuo gotejar sobre a cabeça de alguém. Em realidade, "Melhor é morar
numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda" (Provérbios 21:19).
Cena de mercado romano. Este relevo funerário romano mostra o balcão de um negociante de aves e vegetais. Atrás
do balcão está uma vendedora. A sorte das mulheres romanas era melhor do que a da maioria das mulheres do mundo
antigo.
Que qualidades entravam na composição da "esposa perfeita" no antigo Israel? Que
qualidades a família procurava numa noiva para o filho? Que qualidades a mãe tentava instilar na
filha, preparando-a para ser uma boa esposa e mãe?
A maioria dessas qualidades acham-se descritas num interessante poema em Provérbios 31.
O poema é um acróstico ― ou seja, cada verso começa com uma letra hebraica diferente em ordem
alfabética. Podíamos chamar esses versos de "ABC da Esposa Perfeita".
Segundo este poema, a esposa ideal tem muitos talentos. Ela sabe cozinhar e costurar (vv.
13, 15, 19, 22). Nunca desperdiça o tempo com fuxicos, mas passa o tempo em tarefas mais
importantes (v. 27). Ela tem queda para ver o que precisa ser feito e o faz. Entende bem de
negócios, sabe comprar e vender com sabedoria (vv. 16, 24). Contudo, ela não é egoísta. Ajuda os
necessitados e dá conselho aos que são menos sábios (v. 26). Possui, também, profunda reverência
por Deus (v. 30). Tenta, por todos os modos, ser uma "auxiliadora idônea" para o marido. O poema
termina dizendo que se ela fizer todas essas coisas, seu marido será elevado a uma posição de
destaque aos olhos da comunidade (v. 23).
Um esboço mais breve do que constitui uma esposa perfeita pode ser encontrado em
Eclesiástico 26:13-16: "A graça de uma esposa deleita o marido, e sua discrição lha engordará os
ossos. Uma mulher calada e amorosa é um dom do Senhor; e nada vale tanto quanto uma mente
bem instruída. Uma mulher modesta e fiel é uma graça dobrada, e sua mente casta não pode ser
avaliada. Como o sol quando se ergue no alto céu, assim é a beleza de uma boa esposa na ordenação
de sua casa."
B. A beleza da mulher. Cada sociedade tem seus próprios padrões de beleza. Algumas
culturas acentuam que a mulher bela deve ser gorda, enquanto para outras ela deve ser delgada. É
difícil saber exatamente o que os antigos hebreus consideravam belo.
A maioria das mulheres atraentes que a Bíblia menciona não são descritas em detalhe.
Geralmente o escritor nota que uma mulher era "bela"', e isso é tudo. O conceito bíblico de beleza
está aberto a diferentes interpretações.
Tome-se, por exemplo, a declaração de que "Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era
formosa de porte e de semblante" (Gênesis 29:17). Alguns eruditos pensam que a palavra hebraica
traduzida por "baços" poderia ser mais bem traduzida por "ternos e encantadores". Nesse caso,
podia significar que ambas as irmãs eram belas a seu próprio modo. Lia podia ter tido belos olhos,
enquanto Raquel possuía corpo bonito.
As mais claras descrições de uma mulher bonita vêm de Cantares de Salomão; mas ainda
aqui há alguma dúvida de que a moça esteja sendo descrita com precisão. O poeta usa uma longa
série de símiles e metáforas para pintar um quadro mental de seu amor, e às vezes a técnica poética
entra na forma da descrição. Os dentes dela são brancos como o rebanho de ovelhas, sem faltar
nenhum. Seus lábios são como um fio de escarlate (Cantares 4:2-3).
Algumas das mais importantes mulheres do Antigo Testamento são mencionadas como tipos
de beleza. Sara (Gênesis 12:11), Rebeca (Gênesis 26:7) e Raquel (Gênesis 29:17) são todas
descritas assim. Davi foi tentado a cometer adultério com Bate-Seba porque ela era mui formosa (2
Samuel 11:2). Tamar, filha de Davi, foi violentada por seu meio-irmão Amnom por causa de sua
beleza (2 Samuel 13:1). Tanto Absalão como Jó tinham filhas formosas (2 Samuel 14:27; Jó 42:15).
A luta entre Salomão e Adonias para suceder a Davi como rei terminou quando Adonias quis casar
com a formosa Abisague (1 Reis 1:3-4). Não somente seu pedido foi negado, como lhe custou a
vida (1Reis 2:19-25). Os judeus que viviam durante o período persa foram salvos por uma bela
judia de nome Ester (cf. o livro de Ester).
Penteado. Um painel do sarcófago da princesa Kawit do Egito (cerca de 2100 a.C.) retrata o esmerado processo de
pentear cabelos. Uma criada trança os cabelos de sua senhora, enquanto a princesa tem na mão uma tigela de leite e um
espelho.
Nem todas as mulheres eram naturalmente formosas, mas as ricas podiam melhorar a
aparência com roupas, perfumes e cosméticos caros. O profeta Ezequiel disse que a nação de Israel
era como uma jovem que se banhou e ungiu. Ela usava roupas bordadas e calçados de couro. Deus
disse à nação: "Também te adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu
pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e linda coroa na cabeça. Assim
foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda, e de bordados" (Ezequiel
16:11-13). O profeta Isaías mencionou mais destes adornos em 3:18-23, tais como anéis dos
artelhos, turbantes e amuletos, sinetes e as jóias pendentes do nariz. Os arqueólogos têm encontrado
alguns desses objetos.
Jeremias falou de outra prática comum do seu tempo. As mulheres pintavam linhas no rosto
para darem maior realce aos olhos (Jeremias 4:30). Outras mulheres usavam pentes adornados de
jóias para tornarem o cabelo mais bonito. Muitos desses pentes e centenas de espelhos também têm
sido encontrados, dando uma retrospectiva dos tempos bíblicos.
Há, porém, dois tipos de beleza ― a exterior e a interior de uma personalidade agradável. As
Escrituras advertem homens e mulheres a não darem demasiada importância aos aspectos físicos e
às roupas dispendiosas.
Um sábio admoestou: "Como jóia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa
que não tem discrição" (Provérbios 11:22). Outro sábio escreveu: "Enganosa é a graça e vã a
formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada" (Provérbios 31:30). Pedro e Paulo
disseram às mulheres de sua época que se preocupassem mais com a beleza interior do que com a
boa aparência (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:3-4).
C. A mulher como parceira sexual. Era contrário à Lei que uma mulher não casada tivesse
relações sexuais. Devia permanecer virgem até após a cerimônia de casamento. Se alguém pudesse
provar que ela não era virgem quando se casou, era trazida à porta da casa de seu pai e os homens
da cidade apedrejavam-na até morrer (Deuteronômio 22:20-21).
O sexo, porém, era parte muito importante da vida matrimonial. Deus havia ordenado que o
relacionamento sexual fosse realizado em lugar próprio e entre as pessoas certas ― parceiros
conjugais. Os judeus levavam isto tão a sério que o homem recém-casado estava livre de seus
deveres militares ou de negócios durante um ano inteiro, de sorte que ele promovesse "felicidade à
mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). A única restrição era que o marido e a esposa não
tivessem relações sexuais durante o período de menstruação da mulher (Levítico 18:19).
O sexo devia ser desfrutado pela esposa bem como pelo marido. Deus disse a Eva: "o teu
desejo será para o teu marido" (Gênesis 3:16). Nos Cantares de Salomão, a mulher era muito
agressiva, beijando o marido e conduzindo-o à recâmara. Ela lhe expressava amor vez após vez, e
insistia com ele para que desfrutasse o relacionamento físico de ambos (Cantares 1:2; 2:3-6, 8-10;
8:1-4).
Nos tempos do Novo Testamento houve desacordo na igreja de Corinto com relação ao
papel do sexo. Parece que algumas pessoas achavam que a vida devia ser gozada na sua totalidade
de modo que, fosse o que fosse que alguém desejasse fazer sexualmente, devia estar certo ―
incluindo o adultério, a prostituição e atos homossexuais. Outros pensavam que o sexo era de certo
modo mau e não se devia ter nenhuma relação física, nem mesmo com o esposo ou com a esposa.
Paulo lembrou aos coríntios que o adultério e a homossexualidade eram pecados e deviam ser
evitados (1 Coríntios 6:9-11), mas disse que maridos e esposas deviam desfrutar juntos o dom
divino do sexo. Paulo instruiu: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também
semelhantemente a esposa ao seu marido....Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo
consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para
que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1 Coríntios 7:3, 5).
D. A mulher como mãe. Sem os remédios e os analgésicos modernos, o nascimento de
uma criança era experiência muito dolorosa. Em realidade, muitas mães morriam ao dar à luz (cf.
Gênesis 35:18-20; 1 Samuel 4:20). A despeito desses perigos, a maior parte das mulheres ainda
desejavam ter filhos.
Para as mulheres hebréias era extremamente importante ser boa esposa e mãe. A maior honra
que uma mulher poderia receber seria dar à luz o Messias. Mal podemos imaginar a emoção de
Maria quando o anjo Gabriel a saudou com as palavras, "Salve! agraciada; o Senhor é contigo.
Bendita és tu entre as mulheres!" (Lucas 1:28). Então ele prosseguiu, dizendo-lhe que ela seria a
mãe do Messias. A saudação que Maria recebeu de Isabel foi do mesmo teor (cf. Lucas 1:42).
E. O trabalho da mulher. Pelos padrões hodiernos, não consideraríamos muito estimulante
a vida diária marcada por trabalho duro e longas horas da mãe israelita média.
Levantava-se de manhã antes de todos, e acendia o fogo na lareira ou no fogão. O principal
alimento da dieta judaica era o pão. Com efeito, a palavra hebraica para alimento (ohel) era
sinônimo de pão. Um dos deveres da esposa e mãe, portanto, era moer o grão para fazer farinha.
Isto requeria vários passos e ela não dispunha de nenhuma das bugigangas elétricas que as esposas
modernas possuem, de modo que todo o seu trabalho era feito a mão.
Ela usava espinhos, restolho, ou mesmo estéreo como combustível. Geralmente cabia aos
filhos o trabalho de encontrar lenha; se, porém, eles não tivessem idade suficiente para sair de casa,
então essa tarefa cabia à mulher.
Todas as famílias necessitavam de água. Às vezes elas construíam sua própria cisterna para
armazenar a água da chuva; mas, na maioria das vezes, a água vinha de uma fonte ou de um poço
no meio da aldeia.
Preparando a massa. Esta figura humana, rudemente modelada de el-Jib, na Palestina (cerca do sexto século a.C.)
curva-se sobre a gamela para preparar a massa. O pão era o alimento básico do antigo Oriente Próximo. Os padeiro9
misturavam farinha com água e temperavam-na com sal; depois amassavam-na em gamela especial. A seguir
adicionavam uma pequena quantidade de massa fermentada até que toda a massa fosse levedada. Os judeus não usavam
fermento nas ofertas de manjares (Levítico 2:11), e seu emprego era proibido durante a semana da Páscoa.
Algumas cidades do Antigo Testamento foram edificadas sobre fontes subterrâneas; Megido
e Hazor foram duas dessas cidades. Em Hazor a mulher ia até um poço profundo. Então ela descia
duas rampas feitas por mão humana, de nove metros e cinco lances de escada até ao túnel de água,
onde ela seguia por mais escadas até ao nível de água para encher o grande cântaro. Era preciso que
ela tivesse considerável força para subir e sair do poço com um pesado vasilhame de água. Mas isso
não era de todo mau. A caminhada em busca de água dava-lhe oportunidade de conversar com
outras mulheres da aldeia. As senhoras muitas vezes se reuniam em torno da fonte de água ao
entardecer ou bem cedo de manhã para trocar novidades e boatos (cf. Gênesis 24:11). A mulher
junto ao poço de Sicar veio ao meio-dia, sem dúvida, porque as outras mulheres, por causa de sua
vida frouxa, não queriam saber de nada com ela e menosprezavam-na (cf. João 4:5-30).
Também se esperava que a esposa fizesse as roupas da família. As crianças pequenas tinham
de ser amamentadas, vigiadas e mantidas limpas. A medida que as crianças cresciam, a mãe lhes
ensinava boas maneiras. Também ensinava às filhas mais velhas a cozinhar, costurar e fazer as
demais coisas que uma boa esposa israelita devia saber.
Além disso, era de esperar que a esposa ajudasse a recolher a colheita (cf. Rute 2:23). Ela
preparava algumas colheitas como azeitonas e uvas para armazenamento. Assim, sua rotina diária
tinha de ser flexível bastante para incluir estes outros misteres.
MULHERES LÍDERES EM ISRAEL
Em sua grande maioria, as mulheres israelitas nunca se tornavam dirigentes públicas, mas
houve algumas exceções. A Bíblia registra os nomes e atos de diversas mulheres que se destacaram
em assuntos políticos, militares ou religiosos.
A. Heroínas militares. As duas mais famosas heroínas militares do Antigo Testamento
foram Débora e Jael; ambas participaram da mesma vitória. Por meio de Débora, Deus falou ao
general Baraque como os cananeus podiam ser batidos. Baraque concordou em atacar os cananeus,
porém desejava que Débora fosse com ele à batalha. Ela foi, e os cananeus foram devidamente
derrotados. Contudo, Sísera, general cananeu, escapou a pé. Jael viu-o, saiu a saudá-lo e
convidou―o a entrar em sua tenda. Ali ele caiu no sono. Enquanto ele dormia, Jael entrou e
encravou-lhe na cabeça uma estaca da tenda, matando-o (Juizes 4-5).
Noutra ocasião diversas mulheres ajudaram a defender a cidade de Tebes contra os
atacantes. O chefe do ataque, Abimeleque, aproximou-se da porta da torre para a incendiar. Uma
das mulheres viu-o junto à porta e lançou-lhe sobre a cabeça uma pedra de moinho. A pesada pedra
partiu o crânio de Abimeleque. Enquanto jazia moribundo, ordenou ao seu escudeiro:
"Desembainha a tua espada, e mata-me; para que não se diga de mim: Mulher o matou" (Juizes
9:54). O ataque foi abandonado. Gerações posteriores deram à mulher desconhecida o crédito pela
vitória (cf. 2 Samuel 11:21).
Mulher fiando lã. Este relevo de pedra, procedente de Susa, retrata uma mulher segurando um fuso na mão esquerda e
um material fibroso, talvez lã, na direita. Atrás dela está uma criada com um grande abano. Entre os hebreus, fiar era
principalmente ocupação de mulheres (Êxodo 35:25-26).
Os judeus contemporâneos de Jesus contavam uma história popular a respeito de uma
mulher rica, chamada Judite, devota e formosa. A história começou com a invasão de Israel por um
exército assírio, conduzido pelo general Holofernes. Ele sitiou uma das cidades de Israel, cortou-lhe
o alimento e os suprimentos, e lhe deu cinco dias para render-se. Judite incentivou seus concidadões
a confiar em Deus pela vitória. Então ela vestiu-se com roupas bonitas e fez uma visita a
Holofernes. O general achou que ela era muito amável e pediu-lhe que o visitasse todos os dias. Na
última noite, véspera da rendição dos judeus, Judite ficou sozinha com Holofernes. Quando ele caiu
embriagado, Judite tirou-lhe a espada, cortou-lhe a cabeça e colocou-a num cesto. Depois ela voltou
à cidade. Na manhã seguinte, vendo os assírios que seu chefe estava morto, a vitória foi fácil para
os judeus.
B. Rainhas. Nem todas as mulheres da Bíblia foram conhecidas por suas boas ações. A
rainha Jezabel é a mulher má mais bem conhecida do Antigo Testamento. Era filha de Etbaal, rei
dos sidônios. Casou-se com Acabe, príncipe de Israel, e mudou-se para Samaria. Tornando―se
rainha, impôs seus desejos ao povo. Quis que os israelitas se curvassem diante de Baal, por isso
trouxe centenas de seus profetas para o país e os incluiu na folha de pagamento do governo.
Também matou todos os profetas do Senhor que pôde encontrar (1 Reis 18:13). Mesmo homens
piedosos como Nabote foram mortos. O profeta Elias fugiu e escondeu-se de Jezabel para salvar a
vida. Ele achava que era o único verdadeiro profeta que restara em todo o país. Na realidade, no
reino todo havia apenas 7.000 pessoas que se recusaram a adorar a Baal, mas somente Deus sabia
quem eram. Sete mil, naturalmente, era muito pouco. Anos após a derrota e morte de Jezabel, o
culto de Baal continuava (1 Reis 18-21).
Herodias foi outra mulher que usou o poder e a beleza para conseguir o que desejava.
Quando João Batista denunciou o casamento dela com o rei Herodes, ela conseguiu que o rei
prendesse João e o encarcerasse. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou para os
convidados. Isto agradou muito ao rei, de modo que ele prometeu dar-lhe o que ela pedisse.
Herodias disse à filha que pedisse a cabeça de João Batista. Deste modo, ela causou a morte de
João.
Nem todas as rainhas da Bíblia foram más. A rainha Ester usou seu poder sobre o império
persa para ajudar os judeus. Um relato completo de sua história encontra-se no livro de Ester.
C. Rainhas-mães. Os escritores de 1 e 2 Reis e de 2 Crônicas contam muita coisa acerca das
rainhas-mães de Judá. Referindo-se aos vinte diferentes reis que reinaram em Judá desde Salomão
até ao tempo do exílio, somente uma vez esses livros deixaram de mencionar uma rainha-mãe. O
exemplo típico do que se disse acerca da rainha-mãe encontra-se nesta passagem: "No segundo ano
de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou a reinar Amazias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha
vinte e cinco anos quando começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em Jerusalém. Era o nome
de sua mãe Jeoadã, de Jerusalém. Fez ele o que era reto perante o Senhor" (2 Reis 14:1-3).
Supomos que a mãe do rei deve ter sido uma pessoa importante em Judá. Infelizmente,
muito pouco se sabe acerca de seu papel no governo ou na sociedade.
Encontramos, porém, a influência decisiva de uma rainha-mãe no caso de Adonias. Visto ser
ele o filho mais velho sobrevivente de Davi, achava que devia ser o próximo rei depois de Davi.
Diversos altos oficiais concordavam com ele ― incluindo Joabe, general do exército, e Abiatar, o
sacerdote. Por outro lado, o profeta Nata e outro sacerdote de nome Zadoque achavam que
Salomão, outro dos filhos de Davi, seria um rei melhor. Bate-Seba, mãe de Salomão, persuadiu
Davi a jurar que Salomão seria rei (1 Reis 1:30). Salomão tratou sua mãe com respeito pelo que ela
havia feito (1 Reis 2:19).
Todavia, nem todas as rainhas-mães foram tratadas tão respeitosamente. Quando o rei Asa
introduziu reformas religiosas no país, ele depôs sua mãe da dignidade de rainha-mãe. Ela havia
feito uma imagem da deusa Aserá (poste-ídolo). Visto que o rei Asa achava que essas coisas eram
pecaminosas, ele tirou as prostitutas e destruiu todos os ídolos, incluindo o poste-ídolo. Embora o
rei Asa não tenha matado a mãe, ele retirou-lhe o poder (1 Reis 15:9-15).
Cabeça de mulher de marfim. Esta cabeça de marfim de uma mulher assíria (cerca do século oitavo a.C.) foi
esculpida de um grande dente de elefante. Um filete de cordão duplo ou espécie de turbante segura o cabelo, o qual cai
em cachos sobre o pescoço.
Uma rainha-mãe que teve tremendo poder foi Atalia, mãe de Acazias. Quando seu filho foi
morto em combate, Atalia apoderou-se de trono e procurou matar todos os herdeiros legítimos.
Durante seis anos Atalia reinou em Judá com mão de ferro; tão-logo, porém, o jovem príncipe teve
idade suficiente para tornar-se rei, Atalia foi destituída e morta (2 Reis 11:1-16).
D. Conselheiros. A maior parte das aldeias tinha pessoas sábias a quem outras pessoas
freqüentemente pediam conselho. A corte do rei tinha, do mesmo modo, muitos conselheiros sábios.
Embora não haja referências bíblicas a mulheres conselheiras na corte, há diversos exemplos de
mulheres sábias nas aldeias.
Quando Joabe, comandante-chefe do exército de Davi, desejou reconciliar Davi com seu
filho Absalão, ele recorreu a uma mulher sábia de Tecoa para ajudá-lo. A mulher fingiu ser viúva
com dois filhos. Ela disse que um dos filhos havia matado o outro num acesso de raiva, e agora o
restante de sua família queria matar o filho remanescente. Davi ouviu a história da mulher e disse
que ela estava certa em perdoar o segundo filho. Então a mulher mostrou ao rei que ele não estava
praticando o que pregava, pois não havia perdoado a Absalão por um crime semelhante. Davi
percebeu que ele estivera errado e permitiu que Absalão regressasse a Jerusalém (2 Samuel 14:1-
20).
Outra mulher sábia salvou da destruição a sua cidade. Um homem por nome Seba chefiou
uma revolta contra o rei Davi. Fracassada a revolta, Seba fugiu e escondeu-se na cidade de Abel.
Joabe, general de Davi, cercou a cidade e preparava-se para atacá-la quando uma mulher sábia da
cidade apareceu no muro e pediu para falar a Joabe. Ela lembrou-lhe quão importante sua cidade
havia sido para Israel; disse-lhe que destruir esta cidade era como matar "uma mãe em Israel".
Assim, juntos combinaram um plano. Se Seba fosse morto, a cidade não seria atacada. A sábia
mulher voltou e contou o plano traçado aos moradores. Mataram Seba e Joabe e seu exército
retiraram-se.
E. Dirigentes religiosas. Em Israel, Deus não ordenou sacerdotisas, e uma mulher não
poderia, em hipótese alguma, tornar-se sacerdotisa porque seu ciclo mensal a fazia impura. O
ministério sacerdotal restringia-se aos varões descendentes de Arão. Contudo, as mulheres podiam
desempenhar muitas outras tarefas rituais. Não é de surpreender encontrar mulheres participando do
culto público a Deus em vários níveis.
A Mezuzá
Quando o anjo da morte passou sobre o Egito, matando todos os primogênitos, as famílias judias foram
protegidas pelo sangue do cordeiro pascoal espargido nas ombreiras das portas de suas casas (Êxodo 12:23). Hoje
muitos judeus prendem uma mezuzá nas ombreiras das portas como lembrete da presença de Deus e da redenção do
povo judeu do Egito.
A mezuzá (hebraico, "ombreira de porta") é um pequeno estojo que contém um pergaminho no qual está escrita a
seguinte oração: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, e de toda a rua força. Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua
casa, e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:4-9).
O pergaminho continua com Deuteronômio 11:13-21, que acentua a obediência aos mandamentos e as
recompensas de uma vida reta.
Mesmo hoje cada pergaminho da mezuzá é cuidadosamente escrito por escribas qualificados, usando os
mesmos estritos procedimentos que usam ao escrever as leis. Depois é enrolado firmemente e colocado no estojo de
sorte que a palavra shaddai ("Todo-poderoso") aparece através de uma pequena abertura perto do topo. Lê-se uma
oração especial quando a mezuzá é presa quase ao topo da ombreira direita da porta. Embora a popularidade da mezuzá
tenha diminuído em anos recentes, muitos judeus ainda a beijam tocando os lábios com os dedos e a seguir levantando-
os até ela quando entram numa casa e ao saírem dela. Ao mesmo tempo, recitam o Salmo 121:8: "O Senhor guardará a
tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre."
A mezuzá é um lembrete diário para a família judaica de sua responsabilidade para com Deus e a comunidade.
Para a comunidade, é um sinal de que este é um lar onde as leis de Deus imperam supremas. Dentro deste santuário,
longe das influências mundanas, a família judaica estuda as Escrituras, observa os feriados religiosos, e instrui os filhos
na fé dos seus pais.
Um antigo erudito hebreu explicou a finalidade da mezuzá comparando-a aos guardas de um rei terreno. Do
mesmo modo que um rei tem guardas à porta para garantir-lhe a segurança, assim o povo de Israel está seguro dentro de
seus lares porque a palavra de Deus está à porta para guardá-lo.
As mulheres serviam como profetisas ― isto é, porta-vozes femininos de Deus. A mais
famosa profetisa hebréia foi Hulda, esposa de Salum. Ela exerceu este ministério nos dias do rei
Josias. Quando foi encontrado no templo o livro da Lei, os guias religiosos vieram a ela e lhe
perguntaram o que Deus desejava que a nação fizesse. A nação inteira, incluindo o rei Josias, tentou
levar a cabo suas instruções nos mínimos detalhes, pois estavam certos de que Deus havia falado
por intermédio dela (2 Reis 22:11-23:14).
Houve muitas outras profetisas no Antigo Testamento, incluindo-se Miriã (Êxodo 15:20),
Débora (Juizes 4:4) e a mulher de Isaías (Isaías 8:3). O Novo Testamento menciona que Ana e as
filhas de Filipe eram profetisas, mas não sabemos muita coisa a respeito de suas vidas ou de suas
mensagens (Lucas 2:36; Atos 21:9).
Algumas mulheres usaram os talentos musicais que Deus lhes deu. Miriã e outras mulheres
cantaram um hino de louvor a Deus depois que ele livrou os israelitas da mão dos egípcios (Êxodo
15:2). Quando Deus ajudou Débora e Baraque a derrotar os cananeus, eles escreveram um cântico
de vitória e o cantaram em dueto (Juizes 5:1-31). Três filhas de Hemã eram também musicistas; de
acordo com 1 Crônicas 25:5, 6 elas tocavam no templo.
Na igreja de Cencréia havia uma diaconisa por nome Febe, que Paulo disse ter "sido
protetora de muitos, e de mim inclusive" (Romanos 16:2). Numa carta a Timóteo, Paulo escreveu
que as esposas de diáconos devem ser "respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo"
(1 Timóteo 3:11). Porém ele deixou claro que não queria nenhuma mulher ensinando ou exercendo
autoridade sobre os homens (2:12).
Outras líderes da igreja primitiva incluíam Priscila, que com mais exatidão, expôs a Apoio o
caminho de Deus (cf. Atos 18:24-28). Evódia e Síntique eram duas das líderes espirituais de Filipos.
Paulo disse: "juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais
cooperadores meus" (Filipenses 4:3). Parece, pois, que elas realizavam trabalho semelhante ao dele.
RESUMO
Uma antiga história judaica demonstra quão importante era a mulher em Israel. Diz a
história que certo homem piedoso casou-se com uma piedosa mulher. Não tiveram filhos, por isso
concordaram em divorciar-se. Então o marido se casou com uma mulher ímpia e ela o fez ímpio. A
mulher piedosa casou-se com um homem ímpio e fez dele um homem reto. A moral da história é
que a mulher determina o ambiente do lar.
A mãe israelita tinha um lugar importante na vida da família. Em grande parte, era ela o
segredo de uma família bem-sucedida ou a causa de seu fracasso. Ela podia exercer incalculável
influência sobre o marido e os filhos.
A história de Israel e sua cultura devem muito a essas mulheres que trabalharam arduamente.
3. CASAMENTO E DIVÓRCIO
A Bíblia expressa com clareza as intenções de Deus para o casamento. Deus quer que o
homem e a mulher se realizem tanto espiritual como sexualmente. Este relacionamento foi
desfigurado pela queda da humanidade no pecado. A história de Israel fala das mudanças que
afetaram o casamento porque os israelitas preferiram aceitar as práticas degradantes de seus
vizinhos ímpios.
Jesus reafirmou o significado do casamento. Ele censurou a atitude dos judeus para com o
divórcio, e desafiou os parceiros conjugais a viverem em harmonia.
CASAMENTO
Convém observar as passagens bíblicas que descrevem o propósito do casamento. A Bíblia
dá uma visão geral dos privilégios e deveres do vínculo matrimonial.
A. Divinamente estabelecido. No princípio Deus criou um casal de seres humanos, um
homem e uma mulher. Sua primeira ordem a eles foi: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a
terra" (Gênesis 1:28). Ao reunir este casal, Deus instituiu o casamento, a mais fundamental de todas
as relações sociais. O casamento capacitava a raça humana a cumprir a ordem de Deus de encher a
terra e sujeitá-la (Gênesis 1:28).
Deus fez a ambos, o homem e a mulher, à sua imagem, cada qual com um papel especial e
cada qual complementado pelo outro. O capítulo 2 de Gênesis diz que Deus criou primeiro o
homem. Depois, usando uma costela do homem, Deus fez-lhe "uma auxiliadora" (Gênesis 2:18).
Quando Deus trouxe Eva a Adão, ele os uniu e disse: "Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à
sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2:24).
Deus tencionava que o casamento fosse uma relação permanente. Devia ser uma entrega
pactuai única de duas pessoas que excluíam todas as demais de sua intimidade. Deus proibiu
expressamente a quebra dessa união quando ordenou: "Não adulterarás" (Êxodo 20:14). O Novo
Testamento reafirma a singularidade do vínculo matrimonial. Jesus disse que O homem e sua
mulher "já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem" (Mateus 19:6). Paulo comparou lindamente o amor de um homem à sua esposa ao amor de
Cristo à sua Igreja (Efésios 5:25). Ele disse que o amor de Cristo era tão profundo ao ponto de ele
morrer pela igreja, e do mesmo modo o amor do homem à sua esposa deve superar quaisquer
imperfeições que ela possa ter.
O casamento é mais do que um contrato que duas pessoas fazem para seu mútuo benefício.
Visto que fazem seus votos matrimoniais na presença de Deus e em seu nome, podem buscar poder
de Deus para cumprir tais votos. Deus torna-se uma parte sustentadora do casamento. O livro dos
Provérbios lembra-nos disto quando diz que Deus dá sabedoria, discrição e entendimento, de
modo que os parceiros matrimoniais possam evitar que sejam induzidos à infidelidade (cf.
Provérbios 2:6-16). Os escritores do Novo Testamento entenderam que o casamento cristão é criado
e mantido por Cristo.
B. Marcado pelo amor. Acima de tudo mais, o amor é o sinal da união. Note-se a
simplicidade com que a Bíblia descreve o casamento de Isaque e Rebeca: "[ele] tomou a Rebeca, e
esta lhe foi por mulher. Ele a amou" (Gênesis 24:67). O amor, baseado em verdadeira amizade e
respeito, sela e sustenta o laço matrimonial. Pedro conclama os maridos a viverem "a vida comum
do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil,
tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça de vida" (1 Pedro
3:7). Este tipo de amor entre marido e mulher purifica a relação matrimonial de ambos.
A Bíblia diz que marido e mulher são iguais como pessoas diante de Deus, visto que ambos
foram feitos à imagem de Deus. Ambos podem ser salvos de seus pecados, mediante Jesus (Gênesis
1:27; Gálatas 3:28; Colossenses 3:10-11). Juntos recebem os dons e as bênçãos de Deus para seu
casamento (Romanos 4:18-21; Hebreus 11:11; 1 Pedro 3:5-7). Quando se unem em casamento,
ambos têm obrigações, embora possam ter graus variáveis de capacidade para executar as
responsabilidades que partilham.
Procissão matrimonial. Esta concepção artística de uma procissão matrimonial típica nos tempos bíblicos, mostra o
noivo acompanhando o grupo do casamento de volta à sua casa para uma festa. Música e dança eram partes essenciais
da celebração, que durava de uma a duas semanas.
C. Realização sexual. Outro fator no relacionamento matrimonial é a união sexual dos
parceiros. A união sexual consuma o casamento na base de uma entrega matrimonial mútua. A
expressão "coabitou o homem com Eva" ou "conheceu Adão a Eva" (Gênesis 4:1, 25 e outros
lugares), é o modo direto de a Bíblia referir-se ao intercurso sexual. Mas a Bíblia trata este ato com
dignidade, chamando-o digno de honra e sem mácula (Hebreus 13:4). As Escrituras exigem do povo
de Deus que conserve puras as suas relações sexuais. Não devem usar o sexo para dar vazão a
paixões lascivas, como o fazem os ímpios (1 Tessalonicenses 4:3-7). A Bíblia recomenda ao homem
casado deleitar-se na esposa de sua mocidade todos os dias de sua vida (Eclesiastes 9:9). Ele deve
embriagar-se "sempre com as suas carícias" (Provérbios 5:15-19).
1. Um dever a cumprir. Quando um israelita comprometia-se a casar, ele não devia permitir
que nada o impedisse de cumprir seu propósito. Não devia ir à guerra, para não dar-se o caso de ele
morrer e outro homem casar-se com a noiva prometida (Deuteronômio 20:7). Durante o primeiro
ano de casamento ele não devia retomar nenhuma tarefa que interferisse em sua presença no lar para
promover "felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). Paulo disse aos maridos e às
esposas que estivessem sexualmente disponíveis um ao outro, sem privar-se um ao outro, de modo
que Satanás não pudesse tentá-los a tolerar afeições errantes por lhes faltar domínio―próprio (1
Coríntios 7:3-5).
2. Promiscuidade e perversão. Paulo diz que o homem que se une "à prostituta, forma um
só corpo com ela, porque, como se diz [o homem e a prostituta], serão os dois uma só carne" (1
Coríntios 6:16). O corpo, diz Paulo, é o templo de Cristo. Uma vez que a união sexual promíscua
une a carne de dois indivíduos, ela é uma profanação do templo de Cristo.
Aqui o termo carne significa mais do que órgãos sexuais ou mesmo o corpo todo. Ele se
refere à pessoa integral. A união sexual inevitavelmente envolve a pessoa toda, quer dentro, quer
fora do casamento. Quando Deus exige que seu povo viva vidas santas (1 Pedro 1:15-16), isto inclui
a conduta sexual com relação ao casamento (1 Tessalonicenses 4:3-6). Deus exigiu santidade
correspondente dos israelitas (Levítico 18; 20:10-21). A pessoa na sua totalidade ― corpo não
menos do que alma ― é separada para Deus.
Com o tempo a prostituição religiosa das nações pagas entrou em Israel. A própria presença
desta prática profanou o culto do Senhor (1 Samuel 2:22).
A Bíblia proíbe o incesto (Levítico 18:6-18; 20:11-12). Denuncia, também, as relações
homossexuais como depravadas e reprováveis aos olhos de Deus. Na verdade, tais relações
acarretavam pena de morte em Israel (cf. Levítico 18:22; 20:13; Deuteronômio 23:18; Romanos
1:26-27; 1 Coríntios 6:9; 1 Timóteo 1:10).
Cenas de casamento. Cenas de um casamento romano típico são vistas nos lados deste altar. Na cena à esquerda, o
casal junta as mãos ao término da cerimônia matrimonial. À direita, crianças tomam parte na procissão à casa do noivo,
carregando uma oferta para o sacrifício pagão.
3. Papéis sexuais próprios. Nos tempos bíblicos, pensava-se no casamento como um estado
em que as pessoas naturalmente cumpririam seus respectivos papéis sexuais. Dessa maneira, o
homem era o cabeça da família e a esposa devia submeter-se à sua autoridade (Salmo 45:11; 1
Pedro 3:4-6). Este relacionamento de papéis esteve presente desde o começo; a mulher foi feita para
ser auxiliadora do homem, adaptada para ele nesse sentido. Por todo o tempo do Antigo Testamento
a mulher encontrou seu lugar na sociedade por intermédio do pai, depois mediante o marido, e então
por meio do irmão mais velho ou parente resgatador. Deus usou este relacionamento de papéis para
estabelecer harmonia na família e na sociedade toda. A submissão da mulher judia ao marido não
lhe depreciava as capacidades nem a reduzia a um lugar secundário na sociedade. A esposa
"excelente" do Antigo Testamento (Provérbios 31) gozava da confiança do marido e do respeito dos
filhos e vizinhos. Ela desfrutava de muita liberdade para usar suas habilidades econômicas a fim de
prover para a família. Era reconhecida como pessoa de sabedoria e graciosa mestra. Estava tão
longe quanto possível de ser uma escrava-utensílio, que é como a mulher era considerada em outras
culturas do Oriente Próximo.
D. Símbolo espiritual. O casamento simbolizava a união entre Deus e seu povo. Israel era
chamada de esposa do Senhor, e o próprio Senhor disse: "não obstante eu os haver desposado"
(Jeremias 31:32; cf. Isaías 54:5). Os profetas declararam que a nação havia cometido "prostituição"
e "adultério" quando ela se voltou de Deus para os ídolos (Números 25:1-2; Juizes 2:17; Jeremias
3:20; Ezequiel 16:17; Oséias 1:2). Disseram que Deus havia repudiado sua esposa infiel (Isaías
50:1; Jeremias 3:8) ao enviar ele os israelitas para o cativeiro. Não obstante, Deus teve compaixão
de sua "esposa", Israel, e chamou-a de volta para ser fiel (Isaías 54). Como o noivo se alegra na
sua noiva (Isaías 62:4-5), assim o Senhor se delicia em fazer de Israel o "povo santo", seus remidos
(Isaías 62:12).
O Novo Testamento descreve a igreja como a noiva de Cristo, preparando-se para a vida no
reino eterno (Efésios 5:23). Esta imagem sublinha a verdade de que o casamento deve ser uma
união de amor e fidelidade, exclusiva e permanente. Os maridos devem amar as esposas como
Cristo ama à sua noiva resgatada, e as esposas devem submeter-se a seus maridos, como se
submetem a Cristo.
COSTUMES MATRIMONIAIS BÍBLICOS
Nos tempos bíblicos, o primeiro passo no casamento era dado pelo homem ou por sua
família (Gênesis 4:19; 6:2; 12:19; 24:67; Êxodo 2:1). Geralmente, as famílias do casal faziam o
arranjo do casamento. Assim Hagar, como chefe da família "o casou [Ismael] com uma mulher da
terra do Egito" (Gênesis 21:21). Estando Isaque com quarenta anos de idade, era perfeitamente
capaz de escolher sua própria esposa (Gênesis 25:20); no entanto, Abraão mandou seu servo a Harã
a fim de buscar uma esposa para Isaque (Gênesis 24).
Abraão deu ao servo duas ordens estritas: A noiva não podia ser cananéia, e devia deixar o
lar paterno para viver com Isaque na Terra Prometida. Em circunstância alguma devia Isaque voltar
a Harã para viver de acordo com o antigo modo de vida da família.
O servo de Abraão encontrou a orientação do Senhor em sua escolha (Gênesis 24:12-32).
Então, segundo o costume da Mesopotâmia, ele fez os arranjos com o irmão e a mãe da moça
(Gênesis 24:28-29, 33). Ele selou o acordo dando-lhes presentes (um dote) a eles e a Rebeca
(Gênesis 24:53). Finalmente, buscaram o consentimento da própria Rebeca (Gênesis 24:57). Este
procedimento era muito semelhante às práticas matrimoniais humanas descritas em antigos textos
de Nuzi.1
Em circunstâncias diferentes, ambos os filhos de Isaque ― Jacó e Esaú ― escolheram suas
próprias esposas. A escolha de Esaú causou muita amargura de espírito a seus pais (Gênesis 26:34-
35; 27:46; 28:8-9); mas a escolha de Jacó encontrou aprovação.
Jacó foi enviado à casa de Labão, seu tio, em Harã, onde agiu com a autoridade de seu pai
no arranjo para casar-se com Raquel. Em vez de dar um dote a Labão, ele trabalhou durante sete
anos. Mas não se costumava permitir que a filha mais moça casasse primeiro, e assim Labão
enganou Jacó casando-o com Lia, irmã mais velha de Raquel. Jacó aceitou, pois, a oferta de Labão
de trabalhar mais sete anos para obter Raquel.
Naquela região, o homem que não tinha filho muitas vezes adotava um herdeiro, dando-lhe a
filha como esposai Exigia-se que o filho adotivo trabalhasse na família. Se mais tarde nascesse um
filho, o adotivo perdia a herança em favor do herdeiro natural. Talvez Labão tenha tencionado
adotar a Jacó; mas então lhe nasceram filhos (Gênesis 31:1). Talvez os filhos de Labão tenham
sentido ciúmes de Jacó por temerem que ele pudesse reivindicar a herança. De qualquer maneira,
Jacó deixou Harã secretamente para voltar à casa paterna em Canaã.
Raquel levou consigo os deuses do lar que pertenciam ao pai. Visto como a posse desses
deuses era uma reivindicação à herança, Labão saiu no encalço dos fugitivos; mas Raquel ocultou
os ídolos de modo que Labão não os encontrasse. Para pacificar o tio, Jacó comprometeu-se a não
maltratar as filhas de Labão nem tomar outras esposas (Gênesis 31:50).
Deveríamos notar, especialmente, a tradição do Antigo Testamento do "preço da noiva".
Conforme vimos, o marido ou sua família pagava ao pai da noiva um preço por ela para selar o
acordo de casamento (cf. Êxodo 22:16-17; Deuteronômio 22:28-29).
O preço da noiva nem sempre era pago em dinheiro. Podia ser pago na forma de roupas
(Juizes 14:8-20) ou de algum outro artigo valioso. Um preço muitíssimo horrendo foi exigido por
Saul, que pediu a Davi prova física de que ele havia matado 100 filisteus (1Samuel 18:25).
O pagamento do preço da noiva não significava que a esposa tinha sido vendida ao marido e
agora era sua propriedade. Era reconhecimento do valor econômico da filha. Mais tarde a lei
1
Veja E. A. Speiser, The Anchor Bible: Gênesis (Nova Iorque: Doubleday and Company, 1964), pp. 182-185.
sancionou a prática de comprar uma criada para tornar-se esposa de um homem. Tais leis protegiam
as mulheres contra abuso ou maus tratos (Êxodo 21:7-11).
Às vezes, o noivo ou sua família dava presentes à noiva também (Gênesis 24:53). Doutras
vezes o pai da noiva também lhe dava um presente de casamento, como fez Calebe (Josué 15:15-
19). É interessante notar que Faraó deu a cidade de Gezer como presente de casamento à sua filha,
esposa de Salomão (1 Reis 9:16).
A festa fazia parte importante da cerimônia de casamento. Geralmente era dada pela família
da noiva (Gênesis 29:22), mas a família do noivo podia oferecê-la também (Juizes 14:10).
Tanto a noiva como o noivo tinham criados para servi-los (Juizes 14:11; Salmo 45:14;
Marcos 2:19). Se fosse um casamento real, a noiva dava suas criadas ao esposo para aumentar a
glória da corte dele (Salmo 45:14).
Muito embora a noiva se adornasse com jóias e vestimentas bonitas (Salmo 45:13-15; Isaías
49:18), o noivo era o centro de atenção. O Salmista apresenta, não a noiva (como fazem os
modernos ocidentais), mas o noivo como feliz e radiante no dia do casamento (Salmo 19:5).
Em outras nações do Oriente Próximo, o noivo costumeiramente passava a morar com a
família da noiva. Mas em Israel, em geral era a noiva que ia para o lar do marido e se tornava parte
de sua família. O direito de herança pertencia ao varão. Se um israelita tinha somente filhas e
desejava preservar a herança da família, suas filhas tinham de casar-se dentro da própria tribo
porque a herança não podia ser transferida para outra tribo (Números 36:5-9).
Um dos mais importantes aspectos da celebração do casamento era o pronunciamento da
bênção de Deus sobre a união. Foi por isto que Isaque abençoou a Jacó antes de enviá-lo a Harã
para buscar uma esposa (Gênesis 24:60; 28:1-4).
Embora a Bíblia não descreva uma cerimônia matrimonial, supomos que fosse um
acontecimento muito público. Jesus compareceu a, pelo menos, uma cerimônia de casamento e
abençoou-a. Em suas lições, ele referiu-se a vários aspectos das festividades de casamento,
mostrando assim que a pessoa comum tinha familiaridade com tais cerimônias (Mateus 22:1-10;
25:1-3; Marcos 2:19-20; Lucas 14:8).
O LEVIRATO
Os israelitas achavam muito importante que o homem tivesse herdeiro. A preservação da
herança da propriedade que Deus lhes havia dado, era feita através dos descendentes (cf. Êxodo
15:17-18; Salmo 127; 128).
A mulher incapaz de ter filhos muitas vezes era alvo do opróbrio dos vizinhos (Gênesis
30:1-2, 23; 1 Samuel 1:6-10; Lucas 1:25). Ela e a família se recolhiam, então, em ardente oração
(Gênesis 25:21; 1 Samuel 1:10-12, 26-28).
Surgia situação mais grave se o marido morresse antes de ela ter-lhe dado herdeiro. Para
resolver este problema, deu-se início à prática do levirato. Mencionado pela primeira vez em
conexão com a família de Judá (Gênesis 38:8), o levirato mais tarde veio a fazer parte da lei de
Moisés (Deuteronômio 25:5-10). Quando uma mulher enviuvava, o irmão do marido morto, de
acordo com a lei do levirato, tinha de casar-se com ela. Os filhos deste casamento tornavam-se
herdeiros do irmão falecido, a fim de que "o nome deste não se apague em Israel" (Deuteronômio
25:6). Se um homem recusava casar-se com a cunhada viúva, ele sofria a ignomínia pública
(Deuteronômio 25:7-10; cf. Rute 4:1-7).
O exemplo mais conhecido deste tipo de casamento foi o de Boaz com Rute. Neste caso, o
parente mais próximo não quis casar-se com ela; então Boaz, como o parente mais próximo logo a
seguir, agiu como parente resgatador. Havendo ele pago a dívida da herança de Elimeleque, tomou
Rute por sua esposa "para suscitar o nome deste [Malom] sobre a sua herança, para que este nome
não seja exterminado dentre seus irmãos, e da porta da sua cidade" (Rute 4:10). Davi foi a terceira
geração deste casamento, e desta linha veio, mais tarde, Jesus Cristo (Rute 4:17; Romanos 1:3).
VIOLAÇÕES DO CASAMENTO
Embora Deus tenha ordenado o casamento como uma relação sagrada entre um homem e
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Vida cotidiana nos tempos bíiblicos

  • 2. Vida CotidianaVida Cotidiana nosnos Tempos BíblicosTempos Bíblicos Redatores: JAMES I. PACKER, AM., D. PHIL. Regent College MERRILL C. TENNEY, A.M., Ph.D. Wheaton Graduate School WILLIAM WHITE, JR. Th.M., Ph.D. Traduzido por Luiz Aparecido Caruso Editora Vida Nossos e-books são disponibilizados gratuitamente, com a única finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que não tem condições econômicas para comprar. Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso acervo apenas para avaliação, e, se gostar, abençoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros. SEMEADORES DA PALAVRA e-books evangélicos
  • 3. ISBN 0-7297-0985-1 Categoria: Comentários Bíblicos Traduzido do original em inglês: Daily Life in Bible Times Copyright ® 1982 by Thomas Nelson Inc. Publishers Copyright ® 1980 by Editora Vida 1.a impressão, 1982 2.a impressão, 1986 3.a impressão, 1988 Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, Miami, Florida 33167― E.U.A As citações bíblicas são extraídas da Versão de Almeida, Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo onde outra fonte for indicada. ERC ― Versão de Almeida, Edição Revista e Corrigida
  • 4. ÍNDICE Introdução.............................................................................................................................................5 1. Relacionamentos da família.............................................................................................................6 2. Mulheres e condições da mulher....................................................................................................16 3. Casamento e divórcio.....................................................................................................................28 4. Nascimento e primeira infância......................................................................................................38 5. Infância e adolescência...................................................................................................................49 6. Enfermidades e cura.......................................................................................................................58 7. Alimento e hábitos alimentares......................................................................................................65 8. Vestuário e cosméticos....................................................................................................................77 9. Arquitetura e mobiliário.................................................................................................................90 10. Música..........................................................................................................................................97 11. Rituais de culto...........................................................................................................................103 Reconhecimentos..............................................................................................................................120
  • 5. INTRODUÇÃO Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos apresenta os resultados da mais recente pesquisa bíblica arqueológica relacionada com a vida e praticai do dia-a-dia do povo da Bíblia. As leis, os costumes e os hábitos dos tempos bíblicos são muito diferentes dos de nosso tempo; e quando pudermos entender essas diferenças, tiremos um quadro muito mais claro de muitos dos acontecimentos registrados na Bíblia. A vida da família descrita nas Escrituras difere muito da nossa. Mulheres e crianças ocupavam na sociedade posições diferentes do que ocupam em nossa época. Além do mais, nos tempos bíblicos as mulheres de Israel possuíam um status muito mais favorável do que o desfrutado pelas mulheres das culturas circunvizinhas. O alto conceito em que os hebreus tinham o casamento era ímpar naquele tempo, muito embora houvesse constante tensão entre os ideais de Israel e as práticas corruptas dos povos entre os quais eles viviam. Os filhos eram bem-vindos ao seio da família, e em muitos casos o amor que a família bíblica votava aos filhos está refletido nas Escrituras. Outro elemento da vida familiar bem diferente do nosso é o alto grau de respeito dispensado às pessoas idosas. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos abrange muito mais do que a vida em família. Enfermidade e cura, alimento e hábitos alimentares, vestuário e adorno também são examinados de um modo que ajude o leitor da Bíblia a retratar as práticas da era bíblica. Comparada com a dos romanos e a dos gregos, a arquitetura hebraica era simples. Nos primeiros tempos as pessoas viviam em tendas grandes, e somente quando Israel se fixou na terra é que se construíram casas e se fizeram óbvias as diferenças entre os abastados e os pobres. A música de Israel era simples também, embora, afinal, se introduzissem instrumentos procedentes dos povos que rodeavam a nação. Além disso, atribui-se a Davi a invenção de diversos instrumentos musicais. Muitos desses instrumentos eram usados no culto. O culto de Israel era marcado por temor e ações de graça, esperança e gratidão. Ainda que esse culto nem sempre tenha sido fiel, Israel experimentou as bênçãos das promessas de Deus. Foi esta esperança trouxe alegria tão exuberante às suas celebrações. Vida cotidiana nos Tempos Bíblicos é um guia das leis, costumes e princípios morais do período bíblico. O estudante da Bíblia é incentivado a ler o livro e a descobrir o significado desses fatores na vida de Israel, bem como o seu significado para os nossos dias.
  • 6. 1. RELACIONAMENTOS DA FAMÍLIA Dois fatos se destacam no que a Bíblia diz acerca da família e seus relacionamentos. Primeiro, os papéis dos membros da família permaneceram quase os mesmos durante o período bíblico. A mudança de cultura e de leis não afetou em grande medida os costumes familiares. É verdade que os povos que viveram nos primeiros tempos do período do Antigo Testamento eram seminômades ― freqüentemente se mudavam de uma região para outra ― de modo que seus hábitos diferiam, de certa forma, daqueles dos povos de residência fixa. A lei mosaica aboliu algumas da práticas nômades, tais como o casamento de um homem com sua irmã. Todavia, permaneceu a maior parte do estilo de vida familiar original, mesmo na era neotestamentária. Segundo, a vida da família nos tempos bíblicos refletia uma cultura muito diferente da nossa. É preciso que reconheçamos esta diferença quando nos voltamos para as Escrituras em busca de diretriz na criação de nossas famílias. Devemos buscar os princípios bíblicos em vez de copiar diretamente os estilos de vida específicos que a Bíblia retrata. Esses estilos de vida foram projetados para pequenas comunidades agrícolas, e em muitos casos não eram do agrado de Deus. Por exemplo: a cultura daquela época permitia a um homem ter mais de uma esposa, e alguns homens de Deus as tiveram; não obstante, em parte alguma a Bíblia declara que Deus aprovou esta prática. Classificamo-la como um costume cultural tolerado, mas não um costume receitado biblicamente. Outro exemplo: Quando Abraão viveu no Egito com Sara, ele lhe recomendou dizer que era sua irmã, temendo que os egípcios o matassem por causa da grande beleza de Sara. Ela era, de fato, sua meia-irmã, um grau de parentesco que Deus mais tarde especificou como próximo demais para casamento (cf. Gênesis 20:12; Levítico 18:9). Como resultado, Faraó levou Sara para sua casa e Deus afligiu―lhe a família com pragas a fim de resgatá-la. O ensino bíblico sobre a vida familiar inclui instruções para os filhos, para as mães e para os pais. Veremos exemplos de famílias que observaram a vontade de Deus e foram grandemente abençoadas; veremos também as que desobedeceram a Deus e colheram as conseqüências. Ao longo do caminho notaremos como a vida da família mudou durante o curso da história de Israel. A UNIDADE FAMILIAR A família foi a primeira estrutura social que Deus criou. Ele formou a primeira família juntando Adão e Eva como marido e esposa (Gênesis 2:18-24). O homem e a mulher tornaram-se o núcleo de uma unidade familiar. Por que Deus criou a estrutura da família? Gênesis 2:18 diz que Deus criou a mulher como auxiliadora de Adão, o que indica que o homem e a mulher foram reunidos primeiramente para companheirismo; a esposa devia ajudar o marido, e o marido devia cuidar da esposa. Então os dois juntos deviam atender às necessidades dos filhos, fruto de seu relacionamento. A. Marido. A palavra hebraica que traduzimos por marido significa, em parte, "dominar, governar". Também pode ser traduzida como "senhor, amo". Como cabeça da família, o esposo era responsável pelo seu bem-estar. Por exemplo, quando Abraão e Sara enganaram Faraó a respeito de seu casamento, o governante inquiriu a Abraão em vez de Sara, que realmente havia mentido (Gênesis 12:17-20). Isto não quer dizer que o marido hebreu era um tirano que gostava de mandar na família. Pelo contrário, ele assumia amorosamente a responsabilidade pela família e buscava atender às necessidades dos que estavam debaixo de sua autoridade. Todo casal judeu unia-se com a idéia de ter filhos. Estavam especialmente ansiosos por ter um filho varão. O homem orgulhava-se de verdade pela sorte de ser pai de um filho. Jeremias observou: "...o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente" (Jeremias 20:15).
  • 7. O pai judeu assumia a liderança espiritual da família; ele funcionava como seu sacerdote (cf. Gênesis 12:8; Jó 1:5). Esperava-se que ele conduzisse a família na observância dos vários ritos religiosos, tais como a Páscoa (Êxodo 12:3). Juntamente com a esposa, o pai devia ensinar "a criança no caminho em que deve andar..." (Provérbios 22:6). O pai tinha, também, de transmitir aos filhos toda a lei escrita. Ele era admoestado nestes termos: "tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:7-9). Casa do Antigo Testamento reconstruída. Interior reconstruído de uma casa típica dos tempos bíblicos mostra o fogão (à esquerda do centro) e uma talha com a concha de tirar água (primeiro plano). Um tear horizontal pende de um poste no lado esquerdo da área onde a família toma as refeições ― uma esteira circular posta com tigelas. Jarras de guardar mantimento, cestas e tigelas estão nas prateleiras, nos bancos e no chão. Na porta da cidade. As portas tas da cidade eram centros de conversações e de comércio. Muitas vezes as portas recebiam o nome de acordo com os artigos aí negociados (p. ex., Porta das Ovelhas, Porta do Peixe)- Visto como os anciãos muitas vezes faziam negócio junto à porta, "assentar-se à porta" significava atingir certa eminência social. O pai tinha de infligir castigo físico quando necessário. Isto devia ser feito de tal modo que não provocasse "vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor" (Efésios 6:4).
  • 8. Nos tempos bíblicos, o homem que não sustentasse adequadamente a família era culpado de ofensa grave. O homem que falhava neste ponto era evitado e escarnecido pela sociedade (cf. Provérbios 6:6-11; 19:7). Paulo escreveu: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8). Como esposo e pai, o homem defendia os direitos da família perante os juizes quando se fizesse necessário (veja Deuteronômio 22:13-19). "O órfão e a viúva" não tinham um homem que defendesse seus direitos, por isso com freqüência lhes era negada a justiça (cf. Deuteronômio 10:18). O povo judeu era governado por várias tradições judaicas. O Talmude diz que o pai tinha quatro responsabilidades para com o filho, além de ensinar-lhe a Lei. Ele devia circuncidar o filho (cf. Gênesis 17:12-13), redimi-lo de Deus se ele fosse o primogênito (cf. Números 18:15-16), achar-lhe uma esposa (cf. Gênesis 24:4), e ensinar-lhe uma profissão. Um bom pai pensava nos filhos como seres humanos completos, e respeitava seus sentimentos e capacidades. Disse um erudito judeu daquele tempo que um bom pai devia "afastá-los com a mão esquerda e puxá-los para junto de si com a mão direita". Este delicado equilíbrio entre firmeza e afeição tipificava o pai judeu ideal. B. Esposa. No casamento, espontaneamente a mulher assumia um lugar de submissão ao companheiro. A responsabilidade da esposa era a de "auxiliadora" do marido (Gênesis 2:18), aquela que "lhe faz bem, e não mal, todos os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Sua principal responsabilidade girava em torno do lar e dos filhos, mas às vezes se estendia ao mercado e a outras áreas que afetavam o bem-estar da família (cf. Provérbios 31:16, 25). O alvo primário da esposa era dar filhos ao marido. O porta-voz da família de Rebeca disse- lhe: "És nossa irmã: sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos" (Gênesis 24:60). A família judia esperava que a esposa se tornasse como uma videira frutífera, enchendo n casa de filhos (Salmo 128:3). Assim, a mãe saudava o primeiro filho com muita felicidade e alívio. À medida que os filhos iam chegando, a mãe ia ficando mais presa ao lar. Ela amamentava cada criança até à idade de dois ou três anos, além de vestir e alimentar O restante da família. Diariamente gastava horas preparando refeições e fazendo roupas de lã. Quando necessário, a esposa ajudava o marido nos campos, plantando ou colhendo. A mãe participava da responsabilidade de educar os filhos. Estes passavam os primeiros anos formativos da vida junto à mãe. Finalmente, os filhos varões tinham idade suficiente para acompanhar os pais aos campos ou a outro lugar de emprego (cf. Provérbios 31:1-9). A mãe voltava, então, suas atenções mais plenamente para as filhas, ensinando-lhes como ser esposas e mães bem-sucedidas. O desempenho das tarefas de uma mulher determinava o fracasso ou o êxito da família. Os sábios diziam: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos" (Provérbios 12:4). Se a esposa trabalhava com afinco na tarefa que tinha pela frente, o marido era grandemente beneficiado. Os judeus acreditavam que um homem poderia galgar posição, entre os líderes de Israel, somente no caso de sua esposa ser sábia e talentosa (cf. Provérbios 31:23). C. Filhos varões. Nos tempos bíblicos, os filhos varões tinham de sustentar os pais quando estes envelhecessem, e dar-lhes sepultamento digno. Por este motivo, o casal geralmente esperava ter muitos filhos, "Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava: não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta" (Salmo 127:4-5). O primogênito mantinha um lugar de honra muito especial no seio da família. Esperava-se que ele fosse o próximo cabeça da casa. No decurso de sua vida, esperava-se que ele assumisse
  • 9. maior responsabilidade por seus atos e pelos atos de seus irmãos. Foi por isto que Rúben, como irmão mais velho, mostrou maior preocupação pela vida de José, quando os irmãos concordaram em matá-lo (Gênesis 37:21, 29). Ao morrer o pai, o primogênito recebia uma porção dobrada da herança da família (Deuteronômio 21:17; 2 Crônicas 21:2-3). O quinto mandamento admoestava: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá" (Êxodo 20:12). Tanto o pai quanto a mãe deviam receber a mesma soma de respeito. Contudo, os rabinos do Talmude raciocinavam que se alguma vez um filho tivesse de escolher entre os dois, a preferência devia ser dada ao pai. Por exemplo, se ambos os pais pedissem um copo de água simultaneamente, o Talmude ensinava que tanto o filho quanto a mãe deviam atender à necessidade do pai. Jesus foi o exemplo perfeito de filho obediente. Lucas observou que aos 12 anos de idade, Jesus "desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso" (Lucas 2:51). Mesmo enquanto suportava as agonias da cruz, Jesus pensou em sua mãe e em sua responsabilidade para com ela como primogênito. Pediu a João que cuidasse dela após a sua morte, cumprindo desse modo seu dever de amor (João 19:27). D. Filhas. Nos tempos antigos, as filhas não eram prezadas como os filhos varões. Alguns pais realmente as consideravam como um fardo. Por exemplo, um pai escreveu: "O pai vela pela filha, quando nenhum homem sabe; e o cuidado dela tira o sono: quando ela é jovem, para que não deixe passar a flor da idade [não deixe de casar-se]; e sendo casada, para que não seja odiada; em sua virgindade, para que não seja violada e se engravide na casa do pai; ou tendo marido, para que ela não se comporte mal; e quando casada, para que não seja estéril" (Eclesiástico 42:9-10). Contudo, os hebreus tratavam as filhas com mais humanidade do que algumas das culturas vizinhas. Os romanos realmente expunham as filhas recém-nascidas aos elementos, na esperança de que morressem. Os hebreus criam que a vida ― do homem e da mulher ―vinha de Deus. Por esta razão, nunca considerariam matar um de seus filhinhos. Em realidade, quando o profeta Nata procurou descrever o relacionamento íntimo de um pai com o filho, ele retratou uma filha nos braços do pai com a cabeça reclinada no seu regaço (2 Samuel 12:3). Moendo farinha, assando pão. Os hebreus usavam pedras para moer o trigo e a cevada a fim de fazer farinha. Misturavam a farinha, o fermento, o azeite de oliveira e água ou leite para fazer uma massa que depois era adelgaçada para ir ao forno. As filhas primogênitas tinham um especial lugar de honra e de deveres na família. Por
  • 10. exemplo, a primogênita de Ló tentou persuadir a irmã mais moça a ter um filho do pai, para preservar a família (Gênesis 19:31-38). Na história de Labão e Jacó, a filha primogênita, Lia, teve prioridade sobre a irmã mais moça (Gênesis 29:26). Se a família não tinha filhos varões, as filhas podiam herdar as possessões do pai (Números 27:5-8); mas só poderiam conservar a herança se se casassem dentro de sua própria tribo (Números 36:5-12). A filha estava sob o domínio legal do pai até que se casasse. O pai tomava por ela todas as decisões importantes, tais como com quem ela devia casar-se. Mas a filha era solicitada a dar seu consentimento na escolha de um noivo, e às vezes até lhe era permitido declarar preferência (Gênesis 24:58; 1 Samuel 18:20). O pai aprovava todos os votos da filha antes de se tornarem obrigatórios (Números 30:1-5). Uma "Mesa" Judaica. Uma família israelita dos tempos do Antigo Testamento comia em volta de uma esteira no chão, como esta, onde eram postos os pratos de barro simples. Esta reconstrução encontra-se no Museu Ha-Aretz, em Tel- Avive. Esperava-se que a filha ajudasse a mãe no lar. Bem cedo na vida ela começava a aprender as várias habilidades de que necessitava para tornar-se uma boa esposa e mãe. Aos 12 anos de idade, a filha tornava-se dona-de-casa com seus direitos próprios e lhe era permitido casar. Em algumas culturas do Oriente Próximo, as famílias não permitiam que as filhas saíssem de casa. Se apareciam em público, deviam usar um véu para cobrir o rosto e não lhes era permitido falar com pessoas do sexo masculino. Os israelitas não impunham tais restrições às suas filhas. As moças eram relativamente livres para ir e vir, contanto que dessem conta do seu trabalho. Vemos exemplos desta liberdade no caso de Rebeca, que conversou com um estranho junto ao poço (Gênesis 24:15-21), e as sete filhas do sacerdote de Midiã, que conversaram com Moisés enquanto davam de beber ao rebanho do pai (Êxodo 2:16-22). As moças dos tempos bíblicos preocupavam-se muito com sua aparência. Acreditavam que a pele clara era bonita. Se uma jovem ficava bronzeada pelo sol, ela se escondia da vista pública (Cantares 1:6). Por este motivo, as mulheres procuravam fazer o trabalho externo nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer. Às vezes, porém, a mulher era obrigada a expor-se ao sol do meio-dia, como no caso da jovem de Cantares de Salomão. Ela acusou os irmãos de a colocarem "por guarda das vinhas", o que significa que era obrigada a estar fora de casa a maior parte do dia (Cantares 1:6). A família esperava que a filha permanecesse virgem até ao casamento. Infelizmente, nem sempre isto acontecia. Algumas moças eram seduzidas ou violadas. Quando isto acontecia, a lei mosaica estabelecia distinções cuidadosas entre o castigo pela violação de uma moça que estava noiva e pelo da que não estava. Freqüentemente as filhas casavam-se em idade prematura. Tais casamentos não criavam os problemas que criam hoje. Embora a recém-casada deixasse o domínio do pai, ela entrava no novo domínio do marido e sua família. A sogra entrava em cena para continuar a orientação e o treinamento que a jovem havia recebido de sua própria mãe. A esposa e a sogra muitas vezes criavam um laço de amizade forte e duradouro. Isto se acha perfeitamente exemplificado no livro de Rute, quando Noemi repetidamente se refere a Rute como "minha filha". Miquéias descreveu a família rixenta como aquela em que "a filha se levanta contra a mãe, a nora contra a sogra"
  • 11. (Miquéias 7:6). Quando uma jovem ia viver com a família do marido, ela não abria mão de todos os direitos que tinha em sua própria família. Se o marido morria e não havia cunhados com quem se casar, ela podia voltar à casa paterna. Foi exatamente isso que Noemi recomendou às suas noras, e Orfa aceitou a sugestão (Rute 1:8-18). E. Irmãos e Irmãs. O amor desenvolvia-se entre os irmãos enquanto cresciam juntos, compartilhando as responsabilidades, os problemas e as vitórias. Um dos Provérbios declara: "O homem que tem muitos amigos pode congratular-se; mas há amigo mais chegado do que um irmão" (Provérbios 18:24, ERC). José revelou verdadeiro amor a seus irmãos. Mas enquanto ele era jovem, os irmãos o venderam à escravidão porque odiavam a predileção do pai para com ele. Mais tarde, quando José adquiriu poder e posição, podia ter acertado as contas com eles. Em vez de fazê-lo, ele lhes mostrou amor e misericórdia. Disse ele: "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós" (Gênesis 45:5). A Bíblia descreve muitos irmãos que mantiveram um profundo e permanente amor entre si. O Salmista descreveu o amor dos irmãos, dizendo: "É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião" (Salmo 133:2-3). Irmãos e irmãs também compartilhavam um laço especial. Os filhos de Jó nunca davam banquetes sem convidar suas três irmãs (Jó 1:4). Quando Diná foi violada, seus irmãos vingaram o crime (Gênesis 34). Nos tempos antigos, às vezes os jovens se casavam com sua meia―irmã. Abraão e Sara tinham o mesmo pai, mas diferentes mães (Gênesis 20:12). Como já observamos, a lei mosaica proibiu esta prática (Levítico 18:9; 20:17; Deuteronômio 27:22). O laço de amor entre irmãs e irmãos era tão forte que a lei mosaica permitia que o sacerdote tocasse o corpo de um irmão, irmã, pai, mãe ou filho falecido (Levítico 21:1-3). Esta era a única vez que o sacerdote podia tocar um defunto e tornar-se cerimonialmente contaminado. A FAMÍLIAAMPLIADA No sentido mais fundamental, a família hebraica constituía-se do esposo, esposa e filhos. Quando o marido tinha mais de uma esposa, a "família" incluía todas as esposas e todos os filhos em seus vários relacionamentos (cf. Gênesis 30). Às vezes a família incluía todos os que compartilhavam um teto comum sob a proteção do cabeça da família. Podiam ser avós, criados e visitantes, bem como filhas viúvas e seus filhos. A família ampliada geralmente incluía os filhos e suas esposas e filhos (Levítico 18:6-18). Deus contou os escravos de Abraão como parte do grupo familiar, pois ele exigiu que Abraão os circuncidasse (Gênesis 17:12-14, 22-27). Na primitiva história de Israel até quatro gerações viviam juntas. Isto era parte normal do modo de vida seminômade e mais tarde do modo de vida agrícola. No Oriente Médio, ainda hoje os povos seminômades perambulam juntos como famílias numerosas em busca de sobrevivência. Cada família ampliada tem seu próprio "pai" ou xeque, cuja palavra é lei. Nos dias do Antigo Testamento, a família ampliada era governada pelo homem mais velho da casa, que também era chamado "pai". Muitas vezes esta pessoa é o avô ou bisavô. Por exemplo, quando a família de Jacó se mudou para o Egito, Jacó foi considerado o "pai" ― muito embora seus filhos tivessem esposas e filhos (cf. Gênesis 46:8-27). Jacó continuou no governo da "família" até à morte. O "pai" de uma família ampliada tinha o poder de vida e morte sobre todos os seus membros. Vemos isto quando Abraão quase sacrificou seu filho Isaque (Gênesis 22:9-12), e quando Judá sentenciou sua nora à morte porque ela havia cometido adultério (Gênesis 38:24-26). Mais tarde, a lei mosaica restringiu a autoridade do pai. Não lhe permitia sacrificar o filho
  • 12. sobre o altar (Levítico 18:21). Permitia-lhe vender a filha, desde que não fosse a um estrangeiro, ou para prostituição (Êxodo 21:7; Levítico 19:29). De acordo com a lei, o pai não podia negar o direito de primogenitura de seu primogênito, mesmo que ele tivesse filhos de duas mulheres diferentes (Deuteronômio 21:15-17). Alguns pais hebreus quebraram essas leis, como no caso de Jefté, que votou sacrificar quem quer que lhe saísse ao encontro após seu retorno vitorioso da batalha. Sua filha foi a primeira pessoa. Crendo que ele tinha de cumprir o voto, Jefté sacrificou-a (Juizes 11:31, 34-40). Da mesma forma o rei Manasses queimou o filho para aplacar um deus pagão (2 Reis 21:6). Não sabemos quando a família ampliada dos tempos do Antigo Testamento abriu caminho para a estrutura familiar que conhecemos hoje. Alguns eruditos acham que ela se extinguiu durante a monarquia de Davi e de Salomão. Outros crêem que ela continuou por mais tempo ainda. Mas, nos tempos do Novo Testamento, a família ampliada havia quase desaparecido. Os escritos de Paulo o confirmam; quando ele escreveu sobre os papéis e atitudes de cada membro da família, falou apenas dos pais, filhos e escravos (cf. Efésios 5:22― 6:9). O Novo Testamento diz que José e Maria viajaram como um casal para alistar-se em Belém (Lucas 2:4-5). Foram ao templo sozinhos quando Maria ofereceu sacrifícios (Lucas 2:22). Também viajaram sozinhos quando levaram Jesus para o Egito (Mateus 2:14). Esses relatos tendem a confirmar que a "família" do Novo Testamento constituía-se somente do marido, da esposa e dos filhos. O CLÃ A família ampliada fazia parte de um grupo maior a que chamamos clã. O clã podia ser tão grande que registrava centenas de homens em suas fileiras (cf. Gênesis 46:8-27; Esdras 8:1-14). Os membros de um clã descendiam de um ancestral comum, e assim se consideravam uns aos outros como parentes. Sentiam-se obrigados a ajudar e a proteger uns aos outros. Muitas vezes o clã designava um homem, chamado goel, para oferecer ajuda aos membros necessitados. Em português, esta pessoa é mencionada como resgatador. Sua ajuda cobria muitas áreas de necessidade. Se um membro do clã tinha de vender parte de sua propriedade para pagar dívidas, ele dava ao resgatador a primeira opção de compra. O resgatador tinha, então, de comprar a propriedade, se pudesse, para conservá-la na posse do clã (Levítico 25:25; cf. Rute 4:1-6). Vemos esta situação quando o primo de Jeremias veio a este, dizendo: "Compra o meu campo que está em Anatote... porque teu é o direito de posse e de resgate; compra-o" (Jeremias 32:6-8). Jeremias comprou o campo e usou o acontecimento para proclamar que os judeus finalmente voltariam a Israel (Jeremias 32:15). De quando em quando um exército capturava reféns e os vendia pela melhor oferta. Também, um homem podia vender-se à escravidão para resgatar uma dívida. Em ambos os casos, o parente do escravo tinha de encontrar o resgatador do clã, que tentaria comprar a liberdade do seu parente (Levítico 25:47-49). Se um homem casado morria sem ter deixado filho, o goel tinha de casar-se com a viúva (Deuteronômio 25:5-10). A isto se dava o nome de casamento de levirato ("cunhado"). Quaisquer filhos nascidos deste arranjo eram considerados descendência do irmão falecido. A história de Rute e Noemi exemplifica bem a responsabilidade do resgatador. A viúva Noemi tinha de vender sua propriedade próxima de Belém, e queria que sua nora sem filhos se casasse de novo. O parente mais próximo concordou em adquirir o campo mas não estava disposto a casar-se com Rute. Assim, ele desistiu de ambas as obrigações numa cerimônia realizada perante os anciãos da cidade. Então Boaz, o parente seguinte, comprou o campo e casou-se com Rute (Rute 4:9-10). O goel tinha de vingar a morte de um parente. Nesse caso, ele era chamado "vingador do sangue" (cf. Deuteronômio 19:12). A lei de Moisés limitava esta prática estabelecendo cidades de refúgio para onde os homicidas podiam fugir, porém mesmo esta providência não garantia a segurança do assassino. Se o homicídio foi praticado por maldade ou premeditação, o vingador do
  • 13. sangue seguiria o homicida até à cidade de refúgio e exigiria sua extradição. Em tal caso, o homicida seria entregue ao goel è este o mataria (cf. Deuteronômio 19:1-13). Foi assim que Joabe matou a Abner (2 Samuel 3:22-30). EROSÃO DA FAMÍLIA A família que vive em harmonia e em verdadeiro amor é um deleite para todos quantos se associam com ela. Por certo foi isto que Deus tinha em mente quando estabeleceu a família. Infelizmente, a Bíblia mostra-nos poucas famílias que alcançaram este ideal. No decurso da história bíblica, as famílias foram-se desgastando por pressões sociais, econômicas e religiosas. Podemos identificar alguns desses fatores. A. Inexistência de filhos. A falta de filhos era uma grande ameaça a um casamento nos tempos bíblicos. Se o casal não podia conceber um filho, marido e mulher consideravam o problema como castigo de Deus. A despeito de seu constante amor à esposa, um homem sem filhos às vezes se casava com uma segunda mulher ou usava os serviços de uma escrava para conceber filhos (Gênesis 16:2; 30:3; Deuteronômio 21:10-14). Alguns homens divorciavam-se da esposa para fazer isto. Embora esta prática solucionasse o problema da falta de filhos, ela criava muitos outros problemas. B. Poligamia. Havia contínua rixa doméstica quando duas mulheres compartilhavam o mesmo marido nos tempos do Antigo Testamento. A palavra hebraica para a segunda esposa significa, literalmente, "esposa rival" (cf. 1 Samuel 1:6); isto sugere que geralmente havia amargura e hostilidade entre esposas polígamas. Não obstante, a poligamia era habitual, especialmente no tempo dos patriarcas. Se um homem não podia levantar o dinheiro de casamento para uma segunda esposa, ele considerava a compra de uma escrava para esse fim ou o uso de uma que ele já tinha em casa (cf. Gênesis 16:2; 30:3-8). Num casamento polígamo, invariavelmente o marido favorecia uma esposa em detrimento da outra. Isto causava complicações como, por exemplo, decidir qual o filho a honrar como primogênito. Às vezes um homem desejava deixar a herança para o filho da esposa favorecida, embora, em realidade, devesse deixá-la ao filho da esposa "aborrecida" (Deuteronômio 21:15:17). Moisés declarou que o primogênito tinha de ser devidamente honrado, e o marido não podia reduzir a parte da mãe do primogênito diminuindo "o mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos conjugais" (Êxodo 21:10). A política era, também, motivo para a poligamia. Muitas vezes um rei selava uma aliança com outro, casando-se com a filha do seu aliado. Quando a Bíblia fala do grande harém de Salomão, ela acentua que ele "Tinha setecentas mulheres, princesas" (1 Reis 11:3). Isto mostra que a maioria de seus casamentos foram de natureza política. Provavelmente as mulheres vinham de pequenas cidades-estados e de tribos dos arredores de Israel. Depois do Êxodo, a maioria dos casamentos hebreus foram monogâmicos; cada marido tinha somente uma esposa (Marcos 10:2-9). O livro dos Provérbios nunca menciona a poligamia, muito embora toque em muitos aspectos da cultura hebraica. Os profetas sempre usaram o casamento monogâmico para descrever o relacionamento do Senhor com Israel. Tal casamento era o ideal da vida familiar. C. Morte do marido. A morte do marido sempre tinha conseqüências de longo alcance para a família. O povo dos tempos bíblicos não constituía exceção. Após um período de lamentações, a esposa enviuvada podia adotar vários cursos de ação. Se ela não tivesse filhos, esperava-se que continuasse a viver com a família do marido, de acordo com a lei do levirato (Deuteronômio 25:5-10). Ela devia casar-se com um dos irmãos do marido ou com um parente próximo. Se esses homens não estivessem disponíveis, estava ela livre para casar-se fora do clã (Rute 1:9). As viúvas com filhos dispunham de outras opções. Do livro deuterocanônico de Tobias
  • 14. aprendemos que algumas voltavam para a família do pai ou do irmão (Tobias 1:8). Se a viúva era idosa, um de seus filhos varões podia cuidar dela. Se ela adquirira segurança financeira, podia viver sozinha. Por exemplo, Judite não se casou nem se mudou para a casa de um parente, pois "seu marido Manasses lhe havia deixado ouro, e prata, e criados e criadas, e gado e terras; e ela permaneceu neste estado" (Judite 8:7). De quando em quando a viúva não tinha sequer um centavo, nem tinha parente homem do qual depender. Tais mulheres enfrentavam grandes dificuldades (cf. 1 Reis 17:8-15; 2 Reis 4:1-7). A viúva sem filhos, dos tempos do Novo Testamento, achava-se numa posição muito mais segura. Se ela não dispunha de nenhum dos costumeiros meios de sustento, podia recorrer à igreja em busca de ajuda. Paulo sugeriu que as viúvas jovens casassem de novo e que as viúvas idosas fossem sustentadas pelos filhos; mas se a viúva não tinha a quem recorrer, a igreja devia cuidar dela (1 Timóteo 5:16). Aldeia de Kafr Kenna. Uma aldeia na Galiléia rural, Kafr Kenna, ainda se parece muito com as aldeias dos tempos bíblicos. Observe o estilo simples das casas. D. Filhos rebeldes. Era pecado grave desonrar o pai ou a mãe. Moisés ordenou que a pessoa que ferisse ou amaldiçoasse o pai ou a mãe fosse morta (cf. Êxodo 21:15, 17; Levítico 20:9). Não temos registro de que este castigo tenha sido aplicado, mas a Bíblia descreve muitos casos em que os filhos desonraram os pais. Quando Ezequiel enumerou os pecados de Jerusalém, escreveu: "No meio de ti desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões contra o estrangeiro e são injustos para com o órfão e a viúva" (Ezequiel 22:7). Quadro semelhante é apresentado em Provérbios 19:26. Jesus condenou muitos judeus de seu tempo por não honrarem os pais (Mateus 15:4-9) Às vezes o pai ou a mãe causava mais atrito no seio da família do que o filho ou a filha. O profeta Nata anunciou a Davi que "não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher" (2 Samuel 12:10). Desse tempo em diante, Davi teve problema com os filhos. Amnon apaixonou-se de Tamar, sua meia-irmã, e a violentou. Não obstante, Davi não castigou o filho, e Absalão, irmão de Tamar, matou a Amnom por vingança. Então Absalão fugiu para a terra de sua mãe, retornando mais tarde para chefiar uma revolta contra o pai (2 Samuel 13). Davi insistiu em que seus homens não matassem Absalão, mas o jovem morreu num acidente de Batalha. Davi chorou a morte do filho (2 Samuel 18). Ao aproximar-se Davi da morte, seu filho Adonias desejou sucedê-lo no trono. Davi não tentou restringir-lhe as pretensões, nesta ou em nenhuma outra ocasião. A Bíblia diz que o rei jamais "o contrariou [Adonias], dizendo: Por que procedes assim?" (1 Reis 1:6).
  • 15. E. Rivalidade entre os filhos. O escritor de Provérbios expõe graficamente o problema dos filhos que discutem entre si: "O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos dum castelo" (Provérbios 18:19). A Bíblia descreve irmãos que discutem por vários motivos. Jacó procurou furtar a bênção de Esaú (Gênesis 27). Absalão odiou a Amnom porque Davi se recusou a puni-lo (2 Samuel 13). Salomão destruiu a seu irmão Adonias por suspeitar que este desejava o trono (1 Reis 2:19-25). Quando Jeorão subiu ao trono, matou todos os irmãos, de sorte que nunca fossem uma ameaça para ele (2 Crônicas 21:4). Às vezes os pais provocavam a rivalidade entre os filhos, como no caso da família de Isaque. A Bíblia diz que "Isaque amava a Esaú...; Rebeca, porém, amava a Jacó" (Gênesis 25:28). Quando Isaque desejou abençoar a Esaú, Rebeca ajudou Jacó a obter a bênção para si. Esaú enfureceu-se e ameaçou matar a Jacó que fugiu para um país longínquo (Gênesis 27:41-43). A reunificação da família demandou uma geração inteira. Infelizmente, Jacó não tirou proveito da lição dos erros de seu pai. Ele também favoreceu a um dos filhos, dando a José honra perante os outros. Isto enfureceu de tal modo os restantes que tramaram matar o predileto do pai. A Bíblia registra que "Vendo, pois, seus irmãos, que o pai o amava mais do que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente" (Gênesis 37:4). F. Adultério. Os judeus consideravam o adultério uma grave ameaça à família, por isso puniam os adúlteros imediatamente e com severidade. RESUMO A família era um fio unificador na história bíblica. Quando ameaçada ou desafiada, a unidade familiar lutava pela sobrevivência. Deus usou as famílias para transmitir sua mensagem a cada nova geração. Deus sempre se expressara como Pai de sua família redimida (Oséias 11:1-3). Ele espera receber honra da parte de seus filhos (Malaquias 1:6). Jesus ensinou seus discípulos a orar, dizendo "Pai nosso." Mesmo hoje, as orações das crianças preparam-nas para honrar a Deus como o Pai perfeito, capaz de atender a todas as suas necessidades. Deus ordenou a unidade da família como parte vital da sociedade. Pela amorosa experiência da família humana, começamos a entender o tremendo privilégio que temos de fazer parte da "família de Deus".
  • 16. 2. MULHERES E CONDIÇÕES DA MULHER É justo dizer que o Israel bíblico achava que os homens eram mais importantes do que as mulheres. O pai ou o homem mais idoso da família tomava as decisões que afetavam todo o grupo familiar, ao passo que as mulheres tinham muito pouco que dizer sobre elas. Esta forma patriarcal (centrada no pai) de vida em família determinava como as mulheres eram tratadas em Israel. Por exemplo, uma menina era educada para obedecer ao pai sem questionar. Depois, quando se casava, devia obedecer ao marido da mesma forma. Se ela se divorciava, ou enviuvava, quase sempre voltava a viver na casa do pai. Em verdade, Levítico 27:1-8 sugere que uma mulher valia apenas a metade de um homem. Assim, uma filha era menos bem recebida do que um filho. Os meninos eram ensinados a tomar decisões e a governar suas famílias. As meninas eram criadas para casar e ter filhos. A jovem nem mesmo pensava numa carreira fora do lar. A mãe lhe ensinava a cuidar da casa e criar filhos. Esperava-se que ela fosse uma auxiliadora do marido e lhe desse muitos filhos (Gênesis 3:16). Se a mulher não tinha filhos, era tida como amaldiçoada (Gênesis 30:1-2, 22; 1 Samuel 1:1-8). Não obstante, a mulher era mais do que um objeto que podia ser comprado e vendido. Cabia-lhe um papel importante. Provérbios 12:4 diz: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos." Em outras palavras, uma boa esposa era boa para o marido; ela o ajudava, cuidava dele e fazia-o sentir-se honrado. Mas uma esposa má era pior do que um câncer; ela podia destruí-lo dolorosamente e fazê-lo objeto de zombaria. A esposa podia fazer ou desfazer o marido. Ainda que a maioria das mulheres passasse os dias como donas-de-casa e mães, havia algumas exceções. Por exemplo, Miriã, Débora, Hulda e Ester foram mais do que boas esposas ― foram líderes políticas e religiosas que comprovaram ser capazes de conduzir a nação tão bem quanto qualquer homem. OPINIÃO DE DEUS SOBRE AS MULHERES No final do primeiro capítulo do Gênesis, lemos: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gênesis 1:27, 28). Esta passagem mostra duas coisas a respeito das mulheres. Primeira, a mulher bem como o homem foi criada à imagem de Deus. Deus não criou a mulher para ser inferior ao homem; ambos são igualmente importantes. Segunda, também se esperava que a mulher tivesse autoridade sobre a criação de Deus. Homem e mulher devem compartilhar esta autoridade ― ela não pertence apenas ao homem. Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). Assim, "Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu: tomou uma de suas costelas" (Gênesis 2:21), Deus empregou essa costela na criação de Eva. Este relato mostra como a mulher é importante para o homem: Ela é parte de seu próprio ser, e sem ela o homem é incompleto. Mas Adão e Eva pecaram, e Deus disse a Eva: "O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará" (Gênesis 3:16). Foi, portanto, dito às mulheres que obedecessem a seus maridos. E assim permaneceu, mesmo nos tempos do Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo disse às esposas cristãs, "sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor" (Efésios 5:22). Mas, embora a mulher devesse obedecer ao marido, ela não era inferior a ele. Significa, simplesmente, que ela deve estar disposta a deixar que ele dirija. Na verdade, Paulo exigiu submissão tanto da parte do marido como da esposa, "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Efésios 5:21).
  • 17. Em outra carta, Paulo declarou claramente que não há diferença de status em Cristo entre homem e mulher. "Não pode haver judeu nem grego", escreve ele, "nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28). Retrato de uma cabeça. As linhas de cobre negro feitas nas pálpebras desta escultura de marfim (século quatorze a.C.) dão uma aparência de vida a esta representação de uma importante mulher de Ugarite. Ao longo da testa, na linha do cabelo encontram-se laçadas de prata misturada com ouro. O alto toucado e o cabelo eram outrora cobertos de ouro fino. A POSIÇÃO LEGAL DAS MULHERES A posição legal da mulher, em Israel, era inferior à do homem. Por exemplo, o homem podia divorciar-se da esposa "por ter ele achado coisa indecente nela", mas à esposa não era permitido divorciar-se do marido por nenhuma razão (Deuteronômio 24:1-4). A Lei declarava que a esposa suspeita de ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de ciúmes (Números 5:11-31). Contudo, não havia prova alguma para o homem suspeito de infidelidade com outra mulher. A Lei dizia, também, que o homem podia fazer um voto religioso, e esse voto era válido (Números 30:1- 15); mas o voto feito por uma mulher podia ser anulado por seu pai ou (se ela fosse casada) pelo marido. O pai de uma mulher podia vendê-la para pagar uma dívida (Êxodo 21:7), e ela não podia ser libertada depois de 6 anos, como podia o homem (Levítico 25:40). Num caso, pelo menos, um homem deu sua filha para ser usada sexualmente por uma turba (Juizes 19:24). Algumas leis, porém, sugeriam que homens e mulheres deviam ser tratados como iguais. Por exemplo, os filhos deviam tratar o pai e a mãe com igual respeito e reverência (Êxodo 20:12). O filho que desobedecesse ou amaldiçoasse ao pai ou à mãe devia ser castigado (Deuteronômio 21:18- 21). O homem e a mulher apanhados no ato de adultério deviam ambos morrer apedrejados (Deuteronômio 22:22). (É interessante notar neste ponto que quando os fariseus arrastaram uma adúltera à presença de Jesus com a intenção de apedrejá-la, eles próprios já haviam quebrado a lei deixando que o homem escapasse -João 8:3-11). Outras leis hebraicas ofereciam proteção às mulheres. Se o homem tomasse uma segunda esposa, ele ainda era obrigado, pela lei, a alimentar e vestir a primeira esposa, e continuar a ter relações sexuais com ela (Êxodo 21:10). Mesmo a mulher estrangeira, tomada como noiva, na guerra, tinha alguns direitos; se o marido se cansasse dela, devia dar-lhe liberdade (Deuteronômio 21:14). Qualquer homem culpado do crime de estupro devia ser morto por apedrejamento (Deuteronômio 22:23-27). Em geral, só os homens possuíam propriedade. Mas quando os pais não tinham filhos varões, as filhas podiam receber a herança. Deviam casar-se dentro do clã para conservá-la (Números 27:8-11). Uma vez que Israel era uma sociedade dominada por homens, algumas vezes os direitos da mulher eram menosprezados. Jesus contou a história de uma viúva que teve de importunar um juiz que não queria tomar tempo para ouvir o seu lado da questão. Não querendo que ela continuasse a aborrecê-lo, finalmente o juiz concordou em ouvi-la (Lucas 18:1-8). Como acontecia com muitas
  • 18. das histórias de Jesus, isto era algo que podia realmente acontecer, e talvez tenha acontecido. Não obstante, as viúvas recebiam também alguns privilégios especiais. Por exemplo, era- lhes permitido respigar os campos após a colheita (Deuteronômio 24:19-22) e receber uma porção dos dízimos no terceiro ano, juntamente com os levitas (Deuteronômio 26:12). Assim, a despeito de seu status legal inferior, as mulheres gozavam de alguns direitos especiais na sociedade judaica. MULHERES NO CULTO As mulheres eram consideradas membros da "família da fé". Como tais, podiam entrar na maioria das áreas de culto. A Lei determinava que todos os homens se apresentassem perante o Senhor três vezes por ano. Evidentemente, em algumas ocasiões as mulheres iam com eles (Deuteronômio 29:11; Neemias 8:2; Joel 2:16), mas não se exigia que fossem. Talvez não se exigia que fossem por causa de seus importantes deveres como esposas e mães. Por exemplo, Ana foi a Silo com o marido e pediu um filho ao Senhor (1 Samuel 1:3-5). Mais tarde, quando a criança nasceu, ela disse ao marido: "Quando for o menino desmamado, levá-lo-ei para ser apresentado perante o Senhor, e para lá ficar para sempre" (vv. 21-22). Mulher de Mari. Estatueta de barro da cidade de Mari, localizada ao longo do rio Eufrates na Mesopotâmia (hoje Síria); retrata uma mulher cantando. A estatueta foi feita antes de 2500 a. C. Como cabeça da casa, o marido ou pai apresentava os sacrifícios e ofertas em nome da família toda (Levítico 1:2). Mas a esposa podia também estar presente. As mulheres compareciam à Festa dos Tabernáculos (Deuteronômio 16:14), à festa anual do Senhor (Juizes 21:19-21), e à festa da Lua Nova (2 Reis 4:23). Um sacrifício que só as mulheres faziam ao Senhor era oferecido após o nascimento de uma criança: "E, cumpridos os dias da sua purificação por filho ou filha, trará ao sacerdote um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola por oferta pelo pecado à porta da tenda da congregação" (Levítico 12:6). À época do Novo Testamento, as mulheres judias já não participavam ativamente no culto do templo ou da sinagoga. Embora houvesse uma área especial no templo conhecida como "Pátio das mulheres", não lhes era permitido entrar no pátio interior. Fontes extrabíblicas dizem-nos que não se permitia às mulheres ler ou falar na sinagoga; mas podiam sentar-se e ouvir na seção especial a elas destinada. As mulheres podem ter tido permissão para entrar somente nas sinagogas que funcionavam com base em princípios helenísticos. Na igreja cristã primitiva revela-se um quadro diferente. Lucas 8:1-3 mostra que Jesus recebeu algumas mulheres como companheiras de viagem. Ele incentivou a Marta e Maria a sentar- se a seus pés como discípulas (Lucas 10:38-42). O respeito de Jesus pelas mulheres era algo
  • 19. surpreendentemente novo. Depois que Jesus ascendeu ao céu, diversas mulheres reuniram-se com os demais discípulos no cenáculo para orar. Conquanto a Escritura não o diga tão especificamente, com toda a probabilidade essas mulheres oravam em público, em voz audível. Tanto homens como mulheres congregaram-se no lar da mãe de João Marcos a fim de orar pelo livramento de Pedro (Atos 12:1- 17), e do mesmo modo, homens e mulheres oravam regularmente na igreja de Corinto (1 Coríntios 11:2-16). Por isso o apóstolo Paulo deu instruções a homens e mulheres sobre a maneira de orar em público. Esta liberdade concedida às mulheres era tão nova que causou alguns problemas na igreja, de modo que Paulo deu às primeiras organizações algumas diretrizes limitando o papel das mulheres. Escreveu ele: "Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja" (1 Coríntios 14:34-35). Poço de água e degraus. Construída cerca de 1100 a.C, esta escadaria de setenta e nove degraus desce em espiral ao tanque de Gibeom. A escadaria e o poço, que exigiram a remoção de quase 3000 toneladas de pedra calcária, dava acesso à água fresca dentro dos muros da cidade. Mulheres de Gibeom faziam o longa descida e subida todos os dias a fim de prover água para suas casas. Em outra carta, Paulo escreveu: "A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em silêncio" (1 Timóteo 2:11-12). As opiniões diferem quanto ao que, exatamente, levou Paulo a escrever essas coisas, e até que ponto constituem normas para os cristãos de nosso tempo. Contudo, por certo ele estava corrigindo comportamento que parecia desregrado para a época. Diversas mulheres da Bíblia foram famosas por sua fé. Incluídas na lista dos fiéis em Hebreus 11 estão duas mulheres: Sara e Raabe (Josué 2; 6:22-25). Ana foi um exemplo piedoso da mãe israelita: Ela orou a Deus; creu que ele ouviu suas orações; e cumpriu a promessa que fez a Deus. Sua história encontra-se em 1 Samuel 1. Maria, mãe de Jesus, também foi uma boa e piedosa mulher. Maria deve ter-se lembrado do exemplo de Ana, pois seu cântico de louvor a Deus (Lucas 1:46-55) é muito parecido com o de Ana (1 Samuel 2:1-10). O apóstolo Paulo lembra a Timóteo a bondade de sua mãe e avó (2 Timóteo 1:5). Todavia, nem todas as mulheres judias dos tempos bíblicos foram leais a Deus. Segundo o livro dos escritos judeus conhecido como Talmude, algumas mulheres "dedicavam-se à feitiçaria" (Joma 83b) e ao ocultismo. O Talmude alegava também que "a maioria das mulheres inclina-se para a feitiçaria" (Sinédrio 67a). Alguns rabinos criam que foi por isto que Deus disse a Moisés: "A feiticeira não deixarás viver." Faça-se justiça, porém: as Escrituras não dizem que as mulheres estavam mais interessadas no ocultismo do que os homens. Diversas referências bíblicas a mulheres que participavam do ocultismo (p. ex., 2 Reis 23:7; Ezequiel 8:14; Oséias 4:13-14) mostram claramente que os homens também se envolviam. E das quatro vezes que a bruxaria é mencionada no livro de Atos, só uma
  • 20. delas se relaciona com uma mulher (Atos 8:9-24; 13:4-12; 16:16-18; 19:13-16). AS MULHERES NA CULTURA DE ISRAEL A sociedade israelita determinava que o lugar da mulher era no lar. Esperava-se que ela achasse a vida de esposa e mãe muito agradável. Evidentemente, as mulheres judias aceitavam esse papel com boa disposição. A. A esposa ideal. Todo homem desejava encontrar uma esposa perfeita, uma esposa que lhe fizesse "bem, e não mal, todos os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Poucos homens, então como agora, desejavam uma mulher mandona ou que gostasse de brigar! Provérbios 19:13 comparava uma esposa rixenta a um contínuo gotejar sobre a cabeça de alguém. Em realidade, "Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda" (Provérbios 21:19). Cena de mercado romano. Este relevo funerário romano mostra o balcão de um negociante de aves e vegetais. Atrás do balcão está uma vendedora. A sorte das mulheres romanas era melhor do que a da maioria das mulheres do mundo antigo. Que qualidades entravam na composição da "esposa perfeita" no antigo Israel? Que qualidades a família procurava numa noiva para o filho? Que qualidades a mãe tentava instilar na filha, preparando-a para ser uma boa esposa e mãe? A maioria dessas qualidades acham-se descritas num interessante poema em Provérbios 31. O poema é um acróstico ― ou seja, cada verso começa com uma letra hebraica diferente em ordem alfabética. Podíamos chamar esses versos de "ABC da Esposa Perfeita". Segundo este poema, a esposa ideal tem muitos talentos. Ela sabe cozinhar e costurar (vv. 13, 15, 19, 22). Nunca desperdiça o tempo com fuxicos, mas passa o tempo em tarefas mais importantes (v. 27). Ela tem queda para ver o que precisa ser feito e o faz. Entende bem de negócios, sabe comprar e vender com sabedoria (vv. 16, 24). Contudo, ela não é egoísta. Ajuda os necessitados e dá conselho aos que são menos sábios (v. 26). Possui, também, profunda reverência por Deus (v. 30). Tenta, por todos os modos, ser uma "auxiliadora idônea" para o marido. O poema termina dizendo que se ela fizer todas essas coisas, seu marido será elevado a uma posição de destaque aos olhos da comunidade (v. 23). Um esboço mais breve do que constitui uma esposa perfeita pode ser encontrado em Eclesiástico 26:13-16: "A graça de uma esposa deleita o marido, e sua discrição lha engordará os ossos. Uma mulher calada e amorosa é um dom do Senhor; e nada vale tanto quanto uma mente bem instruída. Uma mulher modesta e fiel é uma graça dobrada, e sua mente casta não pode ser avaliada. Como o sol quando se ergue no alto céu, assim é a beleza de uma boa esposa na ordenação de sua casa." B. A beleza da mulher. Cada sociedade tem seus próprios padrões de beleza. Algumas culturas acentuam que a mulher bela deve ser gorda, enquanto para outras ela deve ser delgada. É difícil saber exatamente o que os antigos hebreus consideravam belo.
  • 21. A maioria das mulheres atraentes que a Bíblia menciona não são descritas em detalhe. Geralmente o escritor nota que uma mulher era "bela"', e isso é tudo. O conceito bíblico de beleza está aberto a diferentes interpretações. Tome-se, por exemplo, a declaração de que "Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante" (Gênesis 29:17). Alguns eruditos pensam que a palavra hebraica traduzida por "baços" poderia ser mais bem traduzida por "ternos e encantadores". Nesse caso, podia significar que ambas as irmãs eram belas a seu próprio modo. Lia podia ter tido belos olhos, enquanto Raquel possuía corpo bonito. As mais claras descrições de uma mulher bonita vêm de Cantares de Salomão; mas ainda aqui há alguma dúvida de que a moça esteja sendo descrita com precisão. O poeta usa uma longa série de símiles e metáforas para pintar um quadro mental de seu amor, e às vezes a técnica poética entra na forma da descrição. Os dentes dela são brancos como o rebanho de ovelhas, sem faltar nenhum. Seus lábios são como um fio de escarlate (Cantares 4:2-3). Algumas das mais importantes mulheres do Antigo Testamento são mencionadas como tipos de beleza. Sara (Gênesis 12:11), Rebeca (Gênesis 26:7) e Raquel (Gênesis 29:17) são todas descritas assim. Davi foi tentado a cometer adultério com Bate-Seba porque ela era mui formosa (2 Samuel 11:2). Tamar, filha de Davi, foi violentada por seu meio-irmão Amnom por causa de sua beleza (2 Samuel 13:1). Tanto Absalão como Jó tinham filhas formosas (2 Samuel 14:27; Jó 42:15). A luta entre Salomão e Adonias para suceder a Davi como rei terminou quando Adonias quis casar com a formosa Abisague (1 Reis 1:3-4). Não somente seu pedido foi negado, como lhe custou a vida (1Reis 2:19-25). Os judeus que viviam durante o período persa foram salvos por uma bela judia de nome Ester (cf. o livro de Ester). Penteado. Um painel do sarcófago da princesa Kawit do Egito (cerca de 2100 a.C.) retrata o esmerado processo de pentear cabelos. Uma criada trança os cabelos de sua senhora, enquanto a princesa tem na mão uma tigela de leite e um espelho. Nem todas as mulheres eram naturalmente formosas, mas as ricas podiam melhorar a aparência com roupas, perfumes e cosméticos caros. O profeta Ezequiel disse que a nação de Israel era como uma jovem que se banhou e ungiu. Ela usava roupas bordadas e calçados de couro. Deus disse à nação: "Também te adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e linda coroa na cabeça. Assim foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda, e de bordados" (Ezequiel 16:11-13). O profeta Isaías mencionou mais destes adornos em 3:18-23, tais como anéis dos artelhos, turbantes e amuletos, sinetes e as jóias pendentes do nariz. Os arqueólogos têm encontrado alguns desses objetos. Jeremias falou de outra prática comum do seu tempo. As mulheres pintavam linhas no rosto para darem maior realce aos olhos (Jeremias 4:30). Outras mulheres usavam pentes adornados de jóias para tornarem o cabelo mais bonito. Muitos desses pentes e centenas de espelhos também têm sido encontrados, dando uma retrospectiva dos tempos bíblicos.
  • 22. Há, porém, dois tipos de beleza ― a exterior e a interior de uma personalidade agradável. As Escrituras advertem homens e mulheres a não darem demasiada importância aos aspectos físicos e às roupas dispendiosas. Um sábio admoestou: "Como jóia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição" (Provérbios 11:22). Outro sábio escreveu: "Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada" (Provérbios 31:30). Pedro e Paulo disseram às mulheres de sua época que se preocupassem mais com a beleza interior do que com a boa aparência (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:3-4). C. A mulher como parceira sexual. Era contrário à Lei que uma mulher não casada tivesse relações sexuais. Devia permanecer virgem até após a cerimônia de casamento. Se alguém pudesse provar que ela não era virgem quando se casou, era trazida à porta da casa de seu pai e os homens da cidade apedrejavam-na até morrer (Deuteronômio 22:20-21). O sexo, porém, era parte muito importante da vida matrimonial. Deus havia ordenado que o relacionamento sexual fosse realizado em lugar próprio e entre as pessoas certas ― parceiros conjugais. Os judeus levavam isto tão a sério que o homem recém-casado estava livre de seus deveres militares ou de negócios durante um ano inteiro, de sorte que ele promovesse "felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). A única restrição era que o marido e a esposa não tivessem relações sexuais durante o período de menstruação da mulher (Levítico 18:19). O sexo devia ser desfrutado pela esposa bem como pelo marido. Deus disse a Eva: "o teu desejo será para o teu marido" (Gênesis 3:16). Nos Cantares de Salomão, a mulher era muito agressiva, beijando o marido e conduzindo-o à recâmara. Ela lhe expressava amor vez após vez, e insistia com ele para que desfrutasse o relacionamento físico de ambos (Cantares 1:2; 2:3-6, 8-10; 8:1-4). Nos tempos do Novo Testamento houve desacordo na igreja de Corinto com relação ao papel do sexo. Parece que algumas pessoas achavam que a vida devia ser gozada na sua totalidade de modo que, fosse o que fosse que alguém desejasse fazer sexualmente, devia estar certo ― incluindo o adultério, a prostituição e atos homossexuais. Outros pensavam que o sexo era de certo modo mau e não se devia ter nenhuma relação física, nem mesmo com o esposo ou com a esposa. Paulo lembrou aos coríntios que o adultério e a homossexualidade eram pecados e deviam ser evitados (1 Coríntios 6:9-11), mas disse que maridos e esposas deviam desfrutar juntos o dom divino do sexo. Paulo instruiu: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também semelhantemente a esposa ao seu marido....Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1 Coríntios 7:3, 5). D. A mulher como mãe. Sem os remédios e os analgésicos modernos, o nascimento de uma criança era experiência muito dolorosa. Em realidade, muitas mães morriam ao dar à luz (cf. Gênesis 35:18-20; 1 Samuel 4:20). A despeito desses perigos, a maior parte das mulheres ainda desejavam ter filhos. Para as mulheres hebréias era extremamente importante ser boa esposa e mãe. A maior honra que uma mulher poderia receber seria dar à luz o Messias. Mal podemos imaginar a emoção de Maria quando o anjo Gabriel a saudou com as palavras, "Salve! agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres!" (Lucas 1:28). Então ele prosseguiu, dizendo-lhe que ela seria a mãe do Messias. A saudação que Maria recebeu de Isabel foi do mesmo teor (cf. Lucas 1:42). E. O trabalho da mulher. Pelos padrões hodiernos, não consideraríamos muito estimulante a vida diária marcada por trabalho duro e longas horas da mãe israelita média. Levantava-se de manhã antes de todos, e acendia o fogo na lareira ou no fogão. O principal alimento da dieta judaica era o pão. Com efeito, a palavra hebraica para alimento (ohel) era sinônimo de pão. Um dos deveres da esposa e mãe, portanto, era moer o grão para fazer farinha. Isto requeria vários passos e ela não dispunha de nenhuma das bugigangas elétricas que as esposas
  • 23. modernas possuem, de modo que todo o seu trabalho era feito a mão. Ela usava espinhos, restolho, ou mesmo estéreo como combustível. Geralmente cabia aos filhos o trabalho de encontrar lenha; se, porém, eles não tivessem idade suficiente para sair de casa, então essa tarefa cabia à mulher. Todas as famílias necessitavam de água. Às vezes elas construíam sua própria cisterna para armazenar a água da chuva; mas, na maioria das vezes, a água vinha de uma fonte ou de um poço no meio da aldeia. Preparando a massa. Esta figura humana, rudemente modelada de el-Jib, na Palestina (cerca do sexto século a.C.) curva-se sobre a gamela para preparar a massa. O pão era o alimento básico do antigo Oriente Próximo. Os padeiro9 misturavam farinha com água e temperavam-na com sal; depois amassavam-na em gamela especial. A seguir adicionavam uma pequena quantidade de massa fermentada até que toda a massa fosse levedada. Os judeus não usavam fermento nas ofertas de manjares (Levítico 2:11), e seu emprego era proibido durante a semana da Páscoa. Algumas cidades do Antigo Testamento foram edificadas sobre fontes subterrâneas; Megido e Hazor foram duas dessas cidades. Em Hazor a mulher ia até um poço profundo. Então ela descia duas rampas feitas por mão humana, de nove metros e cinco lances de escada até ao túnel de água, onde ela seguia por mais escadas até ao nível de água para encher o grande cântaro. Era preciso que ela tivesse considerável força para subir e sair do poço com um pesado vasilhame de água. Mas isso não era de todo mau. A caminhada em busca de água dava-lhe oportunidade de conversar com outras mulheres da aldeia. As senhoras muitas vezes se reuniam em torno da fonte de água ao entardecer ou bem cedo de manhã para trocar novidades e boatos (cf. Gênesis 24:11). A mulher junto ao poço de Sicar veio ao meio-dia, sem dúvida, porque as outras mulheres, por causa de sua vida frouxa, não queriam saber de nada com ela e menosprezavam-na (cf. João 4:5-30). Também se esperava que a esposa fizesse as roupas da família. As crianças pequenas tinham de ser amamentadas, vigiadas e mantidas limpas. A medida que as crianças cresciam, a mãe lhes ensinava boas maneiras. Também ensinava às filhas mais velhas a cozinhar, costurar e fazer as demais coisas que uma boa esposa israelita devia saber. Além disso, era de esperar que a esposa ajudasse a recolher a colheita (cf. Rute 2:23). Ela preparava algumas colheitas como azeitonas e uvas para armazenamento. Assim, sua rotina diária tinha de ser flexível bastante para incluir estes outros misteres. MULHERES LÍDERES EM ISRAEL Em sua grande maioria, as mulheres israelitas nunca se tornavam dirigentes públicas, mas houve algumas exceções. A Bíblia registra os nomes e atos de diversas mulheres que se destacaram em assuntos políticos, militares ou religiosos. A. Heroínas militares. As duas mais famosas heroínas militares do Antigo Testamento foram Débora e Jael; ambas participaram da mesma vitória. Por meio de Débora, Deus falou ao general Baraque como os cananeus podiam ser batidos. Baraque concordou em atacar os cananeus, porém desejava que Débora fosse com ele à batalha. Ela foi, e os cananeus foram devidamente derrotados. Contudo, Sísera, general cananeu, escapou a pé. Jael viu-o, saiu a saudá-lo e convidou―o a entrar em sua tenda. Ali ele caiu no sono. Enquanto ele dormia, Jael entrou e encravou-lhe na cabeça uma estaca da tenda, matando-o (Juizes 4-5).
  • 24. Noutra ocasião diversas mulheres ajudaram a defender a cidade de Tebes contra os atacantes. O chefe do ataque, Abimeleque, aproximou-se da porta da torre para a incendiar. Uma das mulheres viu-o junto à porta e lançou-lhe sobre a cabeça uma pedra de moinho. A pesada pedra partiu o crânio de Abimeleque. Enquanto jazia moribundo, ordenou ao seu escudeiro: "Desembainha a tua espada, e mata-me; para que não se diga de mim: Mulher o matou" (Juizes 9:54). O ataque foi abandonado. Gerações posteriores deram à mulher desconhecida o crédito pela vitória (cf. 2 Samuel 11:21). Mulher fiando lã. Este relevo de pedra, procedente de Susa, retrata uma mulher segurando um fuso na mão esquerda e um material fibroso, talvez lã, na direita. Atrás dela está uma criada com um grande abano. Entre os hebreus, fiar era principalmente ocupação de mulheres (Êxodo 35:25-26). Os judeus contemporâneos de Jesus contavam uma história popular a respeito de uma mulher rica, chamada Judite, devota e formosa. A história começou com a invasão de Israel por um exército assírio, conduzido pelo general Holofernes. Ele sitiou uma das cidades de Israel, cortou-lhe o alimento e os suprimentos, e lhe deu cinco dias para render-se. Judite incentivou seus concidadões a confiar em Deus pela vitória. Então ela vestiu-se com roupas bonitas e fez uma visita a Holofernes. O general achou que ela era muito amável e pediu-lhe que o visitasse todos os dias. Na última noite, véspera da rendição dos judeus, Judite ficou sozinha com Holofernes. Quando ele caiu embriagado, Judite tirou-lhe a espada, cortou-lhe a cabeça e colocou-a num cesto. Depois ela voltou à cidade. Na manhã seguinte, vendo os assírios que seu chefe estava morto, a vitória foi fácil para os judeus. B. Rainhas. Nem todas as mulheres da Bíblia foram conhecidas por suas boas ações. A rainha Jezabel é a mulher má mais bem conhecida do Antigo Testamento. Era filha de Etbaal, rei dos sidônios. Casou-se com Acabe, príncipe de Israel, e mudou-se para Samaria. Tornando―se rainha, impôs seus desejos ao povo. Quis que os israelitas se curvassem diante de Baal, por isso trouxe centenas de seus profetas para o país e os incluiu na folha de pagamento do governo. Também matou todos os profetas do Senhor que pôde encontrar (1 Reis 18:13). Mesmo homens piedosos como Nabote foram mortos. O profeta Elias fugiu e escondeu-se de Jezabel para salvar a vida. Ele achava que era o único verdadeiro profeta que restara em todo o país. Na realidade, no reino todo havia apenas 7.000 pessoas que se recusaram a adorar a Baal, mas somente Deus sabia quem eram. Sete mil, naturalmente, era muito pouco. Anos após a derrota e morte de Jezabel, o culto de Baal continuava (1 Reis 18-21). Herodias foi outra mulher que usou o poder e a beleza para conseguir o que desejava. Quando João Batista denunciou o casamento dela com o rei Herodes, ela conseguiu que o rei prendesse João e o encarcerasse. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou para os convidados. Isto agradou muito ao rei, de modo que ele prometeu dar-lhe o que ela pedisse. Herodias disse à filha que pedisse a cabeça de João Batista. Deste modo, ela causou a morte de João.
  • 25. Nem todas as rainhas da Bíblia foram más. A rainha Ester usou seu poder sobre o império persa para ajudar os judeus. Um relato completo de sua história encontra-se no livro de Ester. C. Rainhas-mães. Os escritores de 1 e 2 Reis e de 2 Crônicas contam muita coisa acerca das rainhas-mães de Judá. Referindo-se aos vinte diferentes reis que reinaram em Judá desde Salomão até ao tempo do exílio, somente uma vez esses livros deixaram de mencionar uma rainha-mãe. O exemplo típico do que se disse acerca da rainha-mãe encontra-se nesta passagem: "No segundo ano de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou a reinar Amazias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em Jerusalém. Era o nome de sua mãe Jeoadã, de Jerusalém. Fez ele o que era reto perante o Senhor" (2 Reis 14:1-3). Supomos que a mãe do rei deve ter sido uma pessoa importante em Judá. Infelizmente, muito pouco se sabe acerca de seu papel no governo ou na sociedade. Encontramos, porém, a influência decisiva de uma rainha-mãe no caso de Adonias. Visto ser ele o filho mais velho sobrevivente de Davi, achava que devia ser o próximo rei depois de Davi. Diversos altos oficiais concordavam com ele ― incluindo Joabe, general do exército, e Abiatar, o sacerdote. Por outro lado, o profeta Nata e outro sacerdote de nome Zadoque achavam que Salomão, outro dos filhos de Davi, seria um rei melhor. Bate-Seba, mãe de Salomão, persuadiu Davi a jurar que Salomão seria rei (1 Reis 1:30). Salomão tratou sua mãe com respeito pelo que ela havia feito (1 Reis 2:19). Todavia, nem todas as rainhas-mães foram tratadas tão respeitosamente. Quando o rei Asa introduziu reformas religiosas no país, ele depôs sua mãe da dignidade de rainha-mãe. Ela havia feito uma imagem da deusa Aserá (poste-ídolo). Visto que o rei Asa achava que essas coisas eram pecaminosas, ele tirou as prostitutas e destruiu todos os ídolos, incluindo o poste-ídolo. Embora o rei Asa não tenha matado a mãe, ele retirou-lhe o poder (1 Reis 15:9-15). Cabeça de mulher de marfim. Esta cabeça de marfim de uma mulher assíria (cerca do século oitavo a.C.) foi esculpida de um grande dente de elefante. Um filete de cordão duplo ou espécie de turbante segura o cabelo, o qual cai em cachos sobre o pescoço. Uma rainha-mãe que teve tremendo poder foi Atalia, mãe de Acazias. Quando seu filho foi morto em combate, Atalia apoderou-se de trono e procurou matar todos os herdeiros legítimos. Durante seis anos Atalia reinou em Judá com mão de ferro; tão-logo, porém, o jovem príncipe teve idade suficiente para tornar-se rei, Atalia foi destituída e morta (2 Reis 11:1-16). D. Conselheiros. A maior parte das aldeias tinha pessoas sábias a quem outras pessoas freqüentemente pediam conselho. A corte do rei tinha, do mesmo modo, muitos conselheiros sábios. Embora não haja referências bíblicas a mulheres conselheiras na corte, há diversos exemplos de mulheres sábias nas aldeias. Quando Joabe, comandante-chefe do exército de Davi, desejou reconciliar Davi com seu filho Absalão, ele recorreu a uma mulher sábia de Tecoa para ajudá-lo. A mulher fingiu ser viúva
  • 26. com dois filhos. Ela disse que um dos filhos havia matado o outro num acesso de raiva, e agora o restante de sua família queria matar o filho remanescente. Davi ouviu a história da mulher e disse que ela estava certa em perdoar o segundo filho. Então a mulher mostrou ao rei que ele não estava praticando o que pregava, pois não havia perdoado a Absalão por um crime semelhante. Davi percebeu que ele estivera errado e permitiu que Absalão regressasse a Jerusalém (2 Samuel 14:1- 20). Outra mulher sábia salvou da destruição a sua cidade. Um homem por nome Seba chefiou uma revolta contra o rei Davi. Fracassada a revolta, Seba fugiu e escondeu-se na cidade de Abel. Joabe, general de Davi, cercou a cidade e preparava-se para atacá-la quando uma mulher sábia da cidade apareceu no muro e pediu para falar a Joabe. Ela lembrou-lhe quão importante sua cidade havia sido para Israel; disse-lhe que destruir esta cidade era como matar "uma mãe em Israel". Assim, juntos combinaram um plano. Se Seba fosse morto, a cidade não seria atacada. A sábia mulher voltou e contou o plano traçado aos moradores. Mataram Seba e Joabe e seu exército retiraram-se. E. Dirigentes religiosas. Em Israel, Deus não ordenou sacerdotisas, e uma mulher não poderia, em hipótese alguma, tornar-se sacerdotisa porque seu ciclo mensal a fazia impura. O ministério sacerdotal restringia-se aos varões descendentes de Arão. Contudo, as mulheres podiam desempenhar muitas outras tarefas rituais. Não é de surpreender encontrar mulheres participando do culto público a Deus em vários níveis. A Mezuzá Quando o anjo da morte passou sobre o Egito, matando todos os primogênitos, as famílias judias foram protegidas pelo sangue do cordeiro pascoal espargido nas ombreiras das portas de suas casas (Êxodo 12:23). Hoje muitos judeus prendem uma mezuzá nas ombreiras das portas como lembrete da presença de Deus e da redenção do povo judeu do Egito. A mezuzá (hebraico, "ombreira de porta") é um pequeno estojo que contém um pergaminho no qual está escrita a seguinte oração: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a rua força. Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:4-9). O pergaminho continua com Deuteronômio 11:13-21, que acentua a obediência aos mandamentos e as recompensas de uma vida reta. Mesmo hoje cada pergaminho da mezuzá é cuidadosamente escrito por escribas qualificados, usando os mesmos estritos procedimentos que usam ao escrever as leis. Depois é enrolado firmemente e colocado no estojo de sorte que a palavra shaddai ("Todo-poderoso") aparece através de uma pequena abertura perto do topo. Lê-se uma oração especial quando a mezuzá é presa quase ao topo da ombreira direita da porta. Embora a popularidade da mezuzá tenha diminuído em anos recentes, muitos judeus ainda a beijam tocando os lábios com os dedos e a seguir levantando- os até ela quando entram numa casa e ao saírem dela. Ao mesmo tempo, recitam o Salmo 121:8: "O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre." A mezuzá é um lembrete diário para a família judaica de sua responsabilidade para com Deus e a comunidade. Para a comunidade, é um sinal de que este é um lar onde as leis de Deus imperam supremas. Dentro deste santuário, longe das influências mundanas, a família judaica estuda as Escrituras, observa os feriados religiosos, e instrui os filhos na fé dos seus pais. Um antigo erudito hebreu explicou a finalidade da mezuzá comparando-a aos guardas de um rei terreno. Do
  • 27. mesmo modo que um rei tem guardas à porta para garantir-lhe a segurança, assim o povo de Israel está seguro dentro de seus lares porque a palavra de Deus está à porta para guardá-lo. As mulheres serviam como profetisas ― isto é, porta-vozes femininos de Deus. A mais famosa profetisa hebréia foi Hulda, esposa de Salum. Ela exerceu este ministério nos dias do rei Josias. Quando foi encontrado no templo o livro da Lei, os guias religiosos vieram a ela e lhe perguntaram o que Deus desejava que a nação fizesse. A nação inteira, incluindo o rei Josias, tentou levar a cabo suas instruções nos mínimos detalhes, pois estavam certos de que Deus havia falado por intermédio dela (2 Reis 22:11-23:14). Houve muitas outras profetisas no Antigo Testamento, incluindo-se Miriã (Êxodo 15:20), Débora (Juizes 4:4) e a mulher de Isaías (Isaías 8:3). O Novo Testamento menciona que Ana e as filhas de Filipe eram profetisas, mas não sabemos muita coisa a respeito de suas vidas ou de suas mensagens (Lucas 2:36; Atos 21:9). Algumas mulheres usaram os talentos musicais que Deus lhes deu. Miriã e outras mulheres cantaram um hino de louvor a Deus depois que ele livrou os israelitas da mão dos egípcios (Êxodo 15:2). Quando Deus ajudou Débora e Baraque a derrotar os cananeus, eles escreveram um cântico de vitória e o cantaram em dueto (Juizes 5:1-31). Três filhas de Hemã eram também musicistas; de acordo com 1 Crônicas 25:5, 6 elas tocavam no templo. Na igreja de Cencréia havia uma diaconisa por nome Febe, que Paulo disse ter "sido protetora de muitos, e de mim inclusive" (Romanos 16:2). Numa carta a Timóteo, Paulo escreveu que as esposas de diáconos devem ser "respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo" (1 Timóteo 3:11). Porém ele deixou claro que não queria nenhuma mulher ensinando ou exercendo autoridade sobre os homens (2:12). Outras líderes da igreja primitiva incluíam Priscila, que com mais exatidão, expôs a Apoio o caminho de Deus (cf. Atos 18:24-28). Evódia e Síntique eram duas das líderes espirituais de Filipos. Paulo disse: "juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus" (Filipenses 4:3). Parece, pois, que elas realizavam trabalho semelhante ao dele. RESUMO Uma antiga história judaica demonstra quão importante era a mulher em Israel. Diz a história que certo homem piedoso casou-se com uma piedosa mulher. Não tiveram filhos, por isso concordaram em divorciar-se. Então o marido se casou com uma mulher ímpia e ela o fez ímpio. A mulher piedosa casou-se com um homem ímpio e fez dele um homem reto. A moral da história é que a mulher determina o ambiente do lar. A mãe israelita tinha um lugar importante na vida da família. Em grande parte, era ela o segredo de uma família bem-sucedida ou a causa de seu fracasso. Ela podia exercer incalculável influência sobre o marido e os filhos. A história de Israel e sua cultura devem muito a essas mulheres que trabalharam arduamente.
  • 28. 3. CASAMENTO E DIVÓRCIO A Bíblia expressa com clareza as intenções de Deus para o casamento. Deus quer que o homem e a mulher se realizem tanto espiritual como sexualmente. Este relacionamento foi desfigurado pela queda da humanidade no pecado. A história de Israel fala das mudanças que afetaram o casamento porque os israelitas preferiram aceitar as práticas degradantes de seus vizinhos ímpios. Jesus reafirmou o significado do casamento. Ele censurou a atitude dos judeus para com o divórcio, e desafiou os parceiros conjugais a viverem em harmonia. CASAMENTO Convém observar as passagens bíblicas que descrevem o propósito do casamento. A Bíblia dá uma visão geral dos privilégios e deveres do vínculo matrimonial. A. Divinamente estabelecido. No princípio Deus criou um casal de seres humanos, um homem e uma mulher. Sua primeira ordem a eles foi: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gênesis 1:28). Ao reunir este casal, Deus instituiu o casamento, a mais fundamental de todas as relações sociais. O casamento capacitava a raça humana a cumprir a ordem de Deus de encher a terra e sujeitá-la (Gênesis 1:28). Deus fez a ambos, o homem e a mulher, à sua imagem, cada qual com um papel especial e cada qual complementado pelo outro. O capítulo 2 de Gênesis diz que Deus criou primeiro o homem. Depois, usando uma costela do homem, Deus fez-lhe "uma auxiliadora" (Gênesis 2:18). Quando Deus trouxe Eva a Adão, ele os uniu e disse: "Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2:24). Deus tencionava que o casamento fosse uma relação permanente. Devia ser uma entrega pactuai única de duas pessoas que excluíam todas as demais de sua intimidade. Deus proibiu expressamente a quebra dessa união quando ordenou: "Não adulterarás" (Êxodo 20:14). O Novo Testamento reafirma a singularidade do vínculo matrimonial. Jesus disse que O homem e sua mulher "já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Mateus 19:6). Paulo comparou lindamente o amor de um homem à sua esposa ao amor de Cristo à sua Igreja (Efésios 5:25). Ele disse que o amor de Cristo era tão profundo ao ponto de ele morrer pela igreja, e do mesmo modo o amor do homem à sua esposa deve superar quaisquer imperfeições que ela possa ter. O casamento é mais do que um contrato que duas pessoas fazem para seu mútuo benefício. Visto que fazem seus votos matrimoniais na presença de Deus e em seu nome, podem buscar poder de Deus para cumprir tais votos. Deus torna-se uma parte sustentadora do casamento. O livro dos Provérbios lembra-nos disto quando diz que Deus dá sabedoria, discrição e entendimento, de modo que os parceiros matrimoniais possam evitar que sejam induzidos à infidelidade (cf. Provérbios 2:6-16). Os escritores do Novo Testamento entenderam que o casamento cristão é criado e mantido por Cristo. B. Marcado pelo amor. Acima de tudo mais, o amor é o sinal da união. Note-se a simplicidade com que a Bíblia descreve o casamento de Isaque e Rebeca: "[ele] tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou" (Gênesis 24:67). O amor, baseado em verdadeira amizade e respeito, sela e sustenta o laço matrimonial. Pedro conclama os maridos a viverem "a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça de vida" (1 Pedro 3:7). Este tipo de amor entre marido e mulher purifica a relação matrimonial de ambos. A Bíblia diz que marido e mulher são iguais como pessoas diante de Deus, visto que ambos
  • 29. foram feitos à imagem de Deus. Ambos podem ser salvos de seus pecados, mediante Jesus (Gênesis 1:27; Gálatas 3:28; Colossenses 3:10-11). Juntos recebem os dons e as bênçãos de Deus para seu casamento (Romanos 4:18-21; Hebreus 11:11; 1 Pedro 3:5-7). Quando se unem em casamento, ambos têm obrigações, embora possam ter graus variáveis de capacidade para executar as responsabilidades que partilham. Procissão matrimonial. Esta concepção artística de uma procissão matrimonial típica nos tempos bíblicos, mostra o noivo acompanhando o grupo do casamento de volta à sua casa para uma festa. Música e dança eram partes essenciais da celebração, que durava de uma a duas semanas. C. Realização sexual. Outro fator no relacionamento matrimonial é a união sexual dos parceiros. A união sexual consuma o casamento na base de uma entrega matrimonial mútua. A expressão "coabitou o homem com Eva" ou "conheceu Adão a Eva" (Gênesis 4:1, 25 e outros lugares), é o modo direto de a Bíblia referir-se ao intercurso sexual. Mas a Bíblia trata este ato com dignidade, chamando-o digno de honra e sem mácula (Hebreus 13:4). As Escrituras exigem do povo de Deus que conserve puras as suas relações sexuais. Não devem usar o sexo para dar vazão a paixões lascivas, como o fazem os ímpios (1 Tessalonicenses 4:3-7). A Bíblia recomenda ao homem casado deleitar-se na esposa de sua mocidade todos os dias de sua vida (Eclesiastes 9:9). Ele deve embriagar-se "sempre com as suas carícias" (Provérbios 5:15-19). 1. Um dever a cumprir. Quando um israelita comprometia-se a casar, ele não devia permitir que nada o impedisse de cumprir seu propósito. Não devia ir à guerra, para não dar-se o caso de ele morrer e outro homem casar-se com a noiva prometida (Deuteronômio 20:7). Durante o primeiro ano de casamento ele não devia retomar nenhuma tarefa que interferisse em sua presença no lar para promover "felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). Paulo disse aos maridos e às esposas que estivessem sexualmente disponíveis um ao outro, sem privar-se um ao outro, de modo que Satanás não pudesse tentá-los a tolerar afeições errantes por lhes faltar domínio―próprio (1 Coríntios 7:3-5). 2. Promiscuidade e perversão. Paulo diz que o homem que se une "à prostituta, forma um só corpo com ela, porque, como se diz [o homem e a prostituta], serão os dois uma só carne" (1 Coríntios 6:16). O corpo, diz Paulo, é o templo de Cristo. Uma vez que a união sexual promíscua une a carne de dois indivíduos, ela é uma profanação do templo de Cristo. Aqui o termo carne significa mais do que órgãos sexuais ou mesmo o corpo todo. Ele se refere à pessoa integral. A união sexual inevitavelmente envolve a pessoa toda, quer dentro, quer
  • 30. fora do casamento. Quando Deus exige que seu povo viva vidas santas (1 Pedro 1:15-16), isto inclui a conduta sexual com relação ao casamento (1 Tessalonicenses 4:3-6). Deus exigiu santidade correspondente dos israelitas (Levítico 18; 20:10-21). A pessoa na sua totalidade ― corpo não menos do que alma ― é separada para Deus. Com o tempo a prostituição religiosa das nações pagas entrou em Israel. A própria presença desta prática profanou o culto do Senhor (1 Samuel 2:22). A Bíblia proíbe o incesto (Levítico 18:6-18; 20:11-12). Denuncia, também, as relações homossexuais como depravadas e reprováveis aos olhos de Deus. Na verdade, tais relações acarretavam pena de morte em Israel (cf. Levítico 18:22; 20:13; Deuteronômio 23:18; Romanos 1:26-27; 1 Coríntios 6:9; 1 Timóteo 1:10). Cenas de casamento. Cenas de um casamento romano típico são vistas nos lados deste altar. Na cena à esquerda, o casal junta as mãos ao término da cerimônia matrimonial. À direita, crianças tomam parte na procissão à casa do noivo, carregando uma oferta para o sacrifício pagão. 3. Papéis sexuais próprios. Nos tempos bíblicos, pensava-se no casamento como um estado em que as pessoas naturalmente cumpririam seus respectivos papéis sexuais. Dessa maneira, o homem era o cabeça da família e a esposa devia submeter-se à sua autoridade (Salmo 45:11; 1 Pedro 3:4-6). Este relacionamento de papéis esteve presente desde o começo; a mulher foi feita para ser auxiliadora do homem, adaptada para ele nesse sentido. Por todo o tempo do Antigo Testamento a mulher encontrou seu lugar na sociedade por intermédio do pai, depois mediante o marido, e então por meio do irmão mais velho ou parente resgatador. Deus usou este relacionamento de papéis para estabelecer harmonia na família e na sociedade toda. A submissão da mulher judia ao marido não lhe depreciava as capacidades nem a reduzia a um lugar secundário na sociedade. A esposa "excelente" do Antigo Testamento (Provérbios 31) gozava da confiança do marido e do respeito dos filhos e vizinhos. Ela desfrutava de muita liberdade para usar suas habilidades econômicas a fim de prover para a família. Era reconhecida como pessoa de sabedoria e graciosa mestra. Estava tão longe quanto possível de ser uma escrava-utensílio, que é como a mulher era considerada em outras culturas do Oriente Próximo. D. Símbolo espiritual. O casamento simbolizava a união entre Deus e seu povo. Israel era chamada de esposa do Senhor, e o próprio Senhor disse: "não obstante eu os haver desposado" (Jeremias 31:32; cf. Isaías 54:5). Os profetas declararam que a nação havia cometido "prostituição" e "adultério" quando ela se voltou de Deus para os ídolos (Números 25:1-2; Juizes 2:17; Jeremias 3:20; Ezequiel 16:17; Oséias 1:2). Disseram que Deus havia repudiado sua esposa infiel (Isaías 50:1; Jeremias 3:8) ao enviar ele os israelitas para o cativeiro. Não obstante, Deus teve compaixão de sua "esposa", Israel, e chamou-a de volta para ser fiel (Isaías 54). Como o noivo se alegra na
  • 31. sua noiva (Isaías 62:4-5), assim o Senhor se delicia em fazer de Israel o "povo santo", seus remidos (Isaías 62:12). O Novo Testamento descreve a igreja como a noiva de Cristo, preparando-se para a vida no reino eterno (Efésios 5:23). Esta imagem sublinha a verdade de que o casamento deve ser uma união de amor e fidelidade, exclusiva e permanente. Os maridos devem amar as esposas como Cristo ama à sua noiva resgatada, e as esposas devem submeter-se a seus maridos, como se submetem a Cristo. COSTUMES MATRIMONIAIS BÍBLICOS Nos tempos bíblicos, o primeiro passo no casamento era dado pelo homem ou por sua família (Gênesis 4:19; 6:2; 12:19; 24:67; Êxodo 2:1). Geralmente, as famílias do casal faziam o arranjo do casamento. Assim Hagar, como chefe da família "o casou [Ismael] com uma mulher da terra do Egito" (Gênesis 21:21). Estando Isaque com quarenta anos de idade, era perfeitamente capaz de escolher sua própria esposa (Gênesis 25:20); no entanto, Abraão mandou seu servo a Harã a fim de buscar uma esposa para Isaque (Gênesis 24). Abraão deu ao servo duas ordens estritas: A noiva não podia ser cananéia, e devia deixar o lar paterno para viver com Isaque na Terra Prometida. Em circunstância alguma devia Isaque voltar a Harã para viver de acordo com o antigo modo de vida da família. O servo de Abraão encontrou a orientação do Senhor em sua escolha (Gênesis 24:12-32). Então, segundo o costume da Mesopotâmia, ele fez os arranjos com o irmão e a mãe da moça (Gênesis 24:28-29, 33). Ele selou o acordo dando-lhes presentes (um dote) a eles e a Rebeca (Gênesis 24:53). Finalmente, buscaram o consentimento da própria Rebeca (Gênesis 24:57). Este procedimento era muito semelhante às práticas matrimoniais humanas descritas em antigos textos de Nuzi.1 Em circunstâncias diferentes, ambos os filhos de Isaque ― Jacó e Esaú ― escolheram suas próprias esposas. A escolha de Esaú causou muita amargura de espírito a seus pais (Gênesis 26:34- 35; 27:46; 28:8-9); mas a escolha de Jacó encontrou aprovação. Jacó foi enviado à casa de Labão, seu tio, em Harã, onde agiu com a autoridade de seu pai no arranjo para casar-se com Raquel. Em vez de dar um dote a Labão, ele trabalhou durante sete anos. Mas não se costumava permitir que a filha mais moça casasse primeiro, e assim Labão enganou Jacó casando-o com Lia, irmã mais velha de Raquel. Jacó aceitou, pois, a oferta de Labão de trabalhar mais sete anos para obter Raquel. Naquela região, o homem que não tinha filho muitas vezes adotava um herdeiro, dando-lhe a filha como esposai Exigia-se que o filho adotivo trabalhasse na família. Se mais tarde nascesse um filho, o adotivo perdia a herança em favor do herdeiro natural. Talvez Labão tenha tencionado adotar a Jacó; mas então lhe nasceram filhos (Gênesis 31:1). Talvez os filhos de Labão tenham sentido ciúmes de Jacó por temerem que ele pudesse reivindicar a herança. De qualquer maneira, Jacó deixou Harã secretamente para voltar à casa paterna em Canaã. Raquel levou consigo os deuses do lar que pertenciam ao pai. Visto como a posse desses deuses era uma reivindicação à herança, Labão saiu no encalço dos fugitivos; mas Raquel ocultou os ídolos de modo que Labão não os encontrasse. Para pacificar o tio, Jacó comprometeu-se a não maltratar as filhas de Labão nem tomar outras esposas (Gênesis 31:50). Deveríamos notar, especialmente, a tradição do Antigo Testamento do "preço da noiva". Conforme vimos, o marido ou sua família pagava ao pai da noiva um preço por ela para selar o acordo de casamento (cf. Êxodo 22:16-17; Deuteronômio 22:28-29). O preço da noiva nem sempre era pago em dinheiro. Podia ser pago na forma de roupas (Juizes 14:8-20) ou de algum outro artigo valioso. Um preço muitíssimo horrendo foi exigido por Saul, que pediu a Davi prova física de que ele havia matado 100 filisteus (1Samuel 18:25). O pagamento do preço da noiva não significava que a esposa tinha sido vendida ao marido e agora era sua propriedade. Era reconhecimento do valor econômico da filha. Mais tarde a lei 1 Veja E. A. Speiser, The Anchor Bible: Gênesis (Nova Iorque: Doubleday and Company, 1964), pp. 182-185.
  • 32. sancionou a prática de comprar uma criada para tornar-se esposa de um homem. Tais leis protegiam as mulheres contra abuso ou maus tratos (Êxodo 21:7-11). Às vezes, o noivo ou sua família dava presentes à noiva também (Gênesis 24:53). Doutras vezes o pai da noiva também lhe dava um presente de casamento, como fez Calebe (Josué 15:15- 19). É interessante notar que Faraó deu a cidade de Gezer como presente de casamento à sua filha, esposa de Salomão (1 Reis 9:16). A festa fazia parte importante da cerimônia de casamento. Geralmente era dada pela família da noiva (Gênesis 29:22), mas a família do noivo podia oferecê-la também (Juizes 14:10). Tanto a noiva como o noivo tinham criados para servi-los (Juizes 14:11; Salmo 45:14; Marcos 2:19). Se fosse um casamento real, a noiva dava suas criadas ao esposo para aumentar a glória da corte dele (Salmo 45:14). Muito embora a noiva se adornasse com jóias e vestimentas bonitas (Salmo 45:13-15; Isaías 49:18), o noivo era o centro de atenção. O Salmista apresenta, não a noiva (como fazem os modernos ocidentais), mas o noivo como feliz e radiante no dia do casamento (Salmo 19:5). Em outras nações do Oriente Próximo, o noivo costumeiramente passava a morar com a família da noiva. Mas em Israel, em geral era a noiva que ia para o lar do marido e se tornava parte de sua família. O direito de herança pertencia ao varão. Se um israelita tinha somente filhas e desejava preservar a herança da família, suas filhas tinham de casar-se dentro da própria tribo porque a herança não podia ser transferida para outra tribo (Números 36:5-9). Um dos mais importantes aspectos da celebração do casamento era o pronunciamento da bênção de Deus sobre a união. Foi por isto que Isaque abençoou a Jacó antes de enviá-lo a Harã para buscar uma esposa (Gênesis 24:60; 28:1-4). Embora a Bíblia não descreva uma cerimônia matrimonial, supomos que fosse um acontecimento muito público. Jesus compareceu a, pelo menos, uma cerimônia de casamento e abençoou-a. Em suas lições, ele referiu-se a vários aspectos das festividades de casamento, mostrando assim que a pessoa comum tinha familiaridade com tais cerimônias (Mateus 22:1-10; 25:1-3; Marcos 2:19-20; Lucas 14:8). O LEVIRATO Os israelitas achavam muito importante que o homem tivesse herdeiro. A preservação da herança da propriedade que Deus lhes havia dado, era feita através dos descendentes (cf. Êxodo 15:17-18; Salmo 127; 128). A mulher incapaz de ter filhos muitas vezes era alvo do opróbrio dos vizinhos (Gênesis 30:1-2, 23; 1 Samuel 1:6-10; Lucas 1:25). Ela e a família se recolhiam, então, em ardente oração (Gênesis 25:21; 1 Samuel 1:10-12, 26-28). Surgia situação mais grave se o marido morresse antes de ela ter-lhe dado herdeiro. Para resolver este problema, deu-se início à prática do levirato. Mencionado pela primeira vez em conexão com a família de Judá (Gênesis 38:8), o levirato mais tarde veio a fazer parte da lei de Moisés (Deuteronômio 25:5-10). Quando uma mulher enviuvava, o irmão do marido morto, de acordo com a lei do levirato, tinha de casar-se com ela. Os filhos deste casamento tornavam-se herdeiros do irmão falecido, a fim de que "o nome deste não se apague em Israel" (Deuteronômio 25:6). Se um homem recusava casar-se com a cunhada viúva, ele sofria a ignomínia pública (Deuteronômio 25:7-10; cf. Rute 4:1-7). O exemplo mais conhecido deste tipo de casamento foi o de Boaz com Rute. Neste caso, o parente mais próximo não quis casar-se com ela; então Boaz, como o parente mais próximo logo a seguir, agiu como parente resgatador. Havendo ele pago a dívida da herança de Elimeleque, tomou Rute por sua esposa "para suscitar o nome deste [Malom] sobre a sua herança, para que este nome não seja exterminado dentre seus irmãos, e da porta da sua cidade" (Rute 4:10). Davi foi a terceira geração deste casamento, e desta linha veio, mais tarde, Jesus Cristo (Rute 4:17; Romanos 1:3). VIOLAÇÕES DO CASAMENTO Embora Deus tenha ordenado o casamento como uma relação sagrada entre um homem e