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UNIVERSIDADE POSITIVO
       MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO AMBIENTAL




    AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES E O
PROLONGAMENTO DA VIDA ÚTIL COMO ALTERNATIVA AMBIENTAL




                       CURITIBA
                       Junho 2010
MIRIELI A. ZANETTI




    AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES E O
PROLONGAMENTO DA VIDA ÚTIL COMO ALTERNATIVA AMBIENTAL




                         Dissertação apresentada como requisito parcial
                         para a obtenção do título de Mestre em Gestão
                         Ambiental do curso de mestrado Profissional em
                         Gestão Ambiental, Universidade Positivo (UP).

                         Orientador: Prof. Paulo R. Janissek
                         Co-Orientador: Prof. Maurício Dziedzic




                       CURITIBA
                       Junho 2010
AGRADECIMENTOS


       Em primeiro lugar agradeço a Deus que me deu inspiração e força para a realização do
mestrado e pelas oportunidades de crescimento e experiências que tenho vivido.
       Ao Prof. Paulo Janissek, meu orientador, por me acompanhar e auxiliar, com sua
sabedoria, experiência, recomendações, carinho e paciência durante o mestrado e a realização
deste trabalho.
       Ao Prof. Maurício Dziedzic, co-orientador deste trabalho e coordenador do curso, por
suas importantes contribuições, orientação e confiança em mim depositados.
       Registro minha gratidão à Universidade Positivo pela oportunidade concedida com a
bolsa integral para a realização do Mestrado.
       Aos membros da banca, Profa. Selma Cubas, Prof. Klaus Dieter e Prof. George
Kaskantis, por suas valiosas sugestões para a melhoria deste trabalho.
       Ao Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo pela
oportunidade, seriedade e qualidade, traduzidas nos seus professores e funcionários, em
especial às funcionárias, Juliane Poletto e Gislaine Otto que sempre estavam dispostas em
ajudar com toda a dedicação possível.
       A todos os colegas do curso: Damaris, Guilherme, Noele, Adriana e Viviane pelas
suas contribuições com conhecimentos, apoio e amizade ao longo das disciplinas. Quero
agradecer especialmente à amiga Alessandra Tulio, pelos momentos alegres e difíceis que
passamos juntas.
       Agradeço de forma especial às minhas amigas Meri, Rafaela e Sirlei pelos momentos
de descontração, pela força, paciência, conselhos, preocupação com o meu bem estar, pelo
ombro amigo nos momentos difíceis e pela torcida para que esta etapa fosse concretizada.
       Também agradeço a valiosa colaboração da amiga Simone pela disposição em me
ajudar sempre que precisei de um auxílio operacional e ao amigo Anderson sempre disposto a
acompanhar o desenvolvimento do trabalho e me ajudar a organizar as idéias.
       Minha gratidão ao amigo Charles Dalla Costa, pelo incentivo, pela compreensão e
ajuda nas horas de ausência no trabalho, pela amizade e pelas nossas ricas discussões sobre a
pesquisa e outros temas.
       Também agradeço à Positivo Informática pelas informações e visitas disponibilizadas
para que este estudo fosse viabilizado e principalmente aos colegas do projeto ACV que hoje
são meus queridos amigos, o casal John Smith (Mário) e Pocahontas (Fernanda) e o Júlio
Neto com toda a sua experiência. Também agradeço de forma especial a Prof.ª Cíntia, pelos
ensinamentos, pelas críticas e sugestões e principalmente pelas palavras de conforto e
incentivo.
         Aos funcionários e colegas da Universidade Positivo, que de uma forma ou de outra
me ajudaram na construção deste trabalho e pelas informações disponibilizadas que foram de
grande valia para este estudo.
         Minha gratidão também se estende àquelas pessoas mais importantes em minha vida,
minha família:
         Aos meus pais, Angelo e Sueli, que me ensinaram a ter disciplina, esforço e dedicação
desde as mais simples tarefas às mais importantes. Que me ouviram chorar e desabafar e que
sempre tinham palavras de conforto e incentivo. Obrigada pelo apoio e amor incondicional.
         Aos meus queridos irmãos Adriângela e Gustavo, pela ajuda, companheirismo e
descontração. Vocês são muito especiais e tornam a minha vida muito mais feliz!
         Também quero agradecer a Márcia, Poliana, Luciano e Maurício pelo incentivo,
carinho e torcida para que este objetivo fosse alcançado!
         Ao meu esposo Romulo, pelo amor e paciência nos momentos de ausência, que foram
muitos. Pelas críticas, por me ajudar a expandir os horizontes, por questionar as minhas idéias
e descobertas fazendo com eu as aprimore, por contribuir com sua criatividade e
conhecimento na elaboração deste trabalho. E principalmente, por me levar a acreditar que eu
posso ser muito maior do que penso que sou.
         De uma forma geral, agradeço a todos que me fizeram acreditar que no final tudo daria
certo!




                     “Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei nos ombros de gigantes”
                                                                        (Sir Isaac Newton)
RESUMO


As evoluções tecnológicas têm gerado preocupação ambiental sob a ótica holística do ciclo de
vida dos computadores. Estes por sua vez, têm se destacado devido aos impactos ocasionados
pela significativa produção e a breve vida útil. Estima-se para os computadores um tempo
médio de vida de dois a quatro anos, contribuindo para o incremento na geração de resíduos.
Esta rápida obsolescência é decorrente de inovações tecnológicas e fatores sociais, como a
criação de novas necessidades e desejos. Em todo o ciclo de vida dos computadores são
consumidos recursos naturais como água e energia, além de serem gerados outros impactos
relacionados às substâncias tóxicas presentes na composição destes produtos. Assim, devem
ser encontradas alternativas que minimizem os problemas gerados, visto que a eliminação
total do problema é altamente improvável. O objetivo do presente trabalho é analisar os
impactos ambientais dos computadores através da metodologia de Análise do Ciclo de Vida,
utilizando o programa computacional SimaPro®, e propor alternativas para minimizá-los.
Uma das alternativas detalhadas no trabalho é o gerenciamento de computadores na
Universidade Positivo (UP), executado para maximizar a vida útil dos computadores
existentes. Em decorrência do programa de gerenciamento de computadores que visa a
reutilização, ocorre a redução da aquisição de equipamentos novos, evitando também a
geração de resíduos. O estudo ACV indicou que impactos ambientais significativos são
gerados na fase de utilização, decorrentes da utilização de energia elétrica e da geração de
resíduos provenientes das peças dos computadores. Os resultados indicaram que, para
situações de uso diversificado e em grande número, é possível maximizar a vida útil dos
equipamentos de informática sem prejudicar o desempenho, pela classificação e configuração
específicas para atender as necessidades, classificadas na UP em três níveis de desempenho.
Como conseqüências da aplicação do programa, a vida útil foi estendida para seis anos, a
aquisição de equipamentos novos no período estudado (2005 – 2009) foi apenas 50% do
número total de computadores, e foi possível evitar a geração de 28 t de resíduos eletrônicos.
Ao final do ciclo, grande parte dos equipamentos de informática é doada para associações
beneficentes ou vendida a preço simbólico para funcionários. Assim, além dos ganhos
ambientais, é possível contabilizar ganhos econômicos e sociais.

Palavras Chave: computadores, ciclo de vida, impactos ambientais, gerenciamento,
prolongamento da vida útil.
ABSTRACT


Technological evolution has raised an environmental concern, in particular when a product’s
life cycle is considered. The environmental impact of computers is of special importance in
this regard, due to their significant production and short life time. The average life time of a
computer is between two and four years, with this short period caused being due to fast
technological innovation and social aspects, such as market-induced needs and desires.
During the full life cycle of a computer, non-renewable-resources, water, and energy are
consumed. Additional impacts arise due to the disposal of toxic substances present in the
product’s composition. Thus, alternatives must be sought which minimize the environmental
problems, since their full elimination is almost impossible. The aim of the present work is to
access a computer’s environmental impact using life cycle analysis (LCA) methodology. The
LCA studies were carried out with the help of the SimaPro™ software package. A critical
review of available alternatives to reduce the impact of computers is also presented. The
Universidade Positivo (UP) computer management program, developed to increase the useful
lifetime of computers is presented as a case study. The aim of this program is to reduce the
acquisition of new equipment, and, as a consequence, avoid electronic waste generation. The
LCA indicates that significant environmental impacts are generated during the use of a
computer, due to the electricity demand. The UP computer management program is an
alternative to reduce the impacts on the production and disposal phase. The results indicate
that it is possible to increase the equipment lifetime, ensuring the adequate equipment
performance, according with the specific needs. As consequence, the computer average time
was extended to 6 year, the new equipments acquisition represents only 50% of the total
number in the period evaluated (2005 – 2009) and 28 t. of electronic waste were avoided. At
the end of cycle, computer and related equipments are donated for social institutions or sell to
the employers at symbolic price. In addition to reduce environmental impacts and exploitation
of resources, economic and social benefits are achieved.

Key words: computers, life cycle, environmental impacts management, lifetime extension.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES



Figura 1 -    A evolução dos computadores                                            20
Figura 2 -    Estratégias do eco-projeto                                             23
Figura 3 -    Quatro níveis do eco-projeto                                           24
Figura 4 -    Etapas do ciclo de vida dos produtos                                   25
Figura 5 -    Estrutura da avaliação do ciclo de vida                                28
Figura 6 -    Inventário do ciclo de vida                                            29
Figura 7 -    Representação gráfica da árvore de processos fornecido pelo programa   32
              SimaPro
Figura 8 -    Os dois grupos da ISO 14000: produtos e sistemas de gestão ambiental   36
Figura 9 -    Rota dos resíduos provenientes de computadores na sua destinação       43
              final – Situação brasileira
Figura 10 -   Os componentes que fazem parte de um computador e os materiais         47
              presentes na sua composição
Figura 11 -   Estágios do ciclo de vida de um computador                             55
Figura 12 -   Identificação das etapas da ACV de maior impacto ambiental e as        56
              pontuações atribuídas a cada uma delas
Figura 13 -   Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes de       57
              um computador nas três principais categorias de danos: saúde humana,
              ecossistema e recursos
Figura 14 -   Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes da       59
              CPU
Figura 15 -   Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes do       59
              monitor CRT
Figura 16 -   Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes do       60
              monitor LCD
Figura 17 -   Esquema representativo da metodologia ACV aplicada ao trabalho         63
              desenvolvido
Figura 18 -   Visão Macro ACV: Representação esquemática do Ciclo de Vida de         84
              um Computador, indicando o impacto ambiental relativo às principais
              etapas: Manufatura (fabricação/montagem), distribuição, utilização
              (usuário) e final da vida útil
Figura 19 -   Principais contribuições de impacto ambiental das partes de um         85
              computador utilizando monitor CRT 15”
Figura 20 -   Principais contribuições de impacto ambiental das partes de um         85
              computador utilizando monitor LCD 15”
Figura 21 -   Figura 21 – Principais contribuições de impacto ambiental dos componentes    86
              do desktop (CPU)
Figura 22 -   Etapa de utilização e suas contribuições às três principais categorias de    87
              impactos no ciclo de vida do computador
Figura 23 -   Etapa de utilização e suas contribuições de impactos ambientais aos          88
              fatores de caracterização
Figura 24 -   Impactos ambientais na etapa de final da vida útil em relação às opções      89
              de destinação final
Figura 25 -   Alternativas para calços e embalagens usadas pelas empresas HP e             93
Figura 26 -   Itautec
Figura 27 -   Informações da HP sobre seu programa de reciclagem de produtos               95
Figura 28 -   Educação ambiental - perguntas e respostas da Dell                           95
Figura 29 -   Fluxograma dos processos de aquisição, reutilização e destinação dos         99
              computadores da UP
Figura 30 -   Quantidades de computadores novos, reutilizados e removidos no              101
              período de 2005-2009 da UP
Figura 31 -   Médias (%) em relação ao total dos computadores que sofreram                102
              alterações no período de 2005-2009 para as alternativas de reuso,
              remoção e aquisição de novos computadores na UP
Figura 32 -   Relação entre a taxa de crescimento do número de computadores e a           102
              taxa de crescimento do número de alunos no período de 2004 a 2009
Figura 33 -   Pontuação atribuída às três principais categorias de impactos: danos à      106
              saúde humana, qualidade do ecossistema e utilização dos recursos
              resultantes da comparação entre um computador com a vida útil
              estendida e um computador que não teve sua vida útil estendida sendo
              substituído
Figura 34 -   Calculadora de impactos ambientais relacionada ao consumo de                111
              energia
LISTA DE TABELAS


Tabela 1 -    Percentual da composição e índice de reciclabilidade dos materiais      50
              presentes em um computador

Tabela 2 -    Dados toxicológicos das substâncias perigosas na composição de um       52
              computador e seus limites permissíveis para a saúde humana
Tabela 3 -    Pontuação atribuída às principais contribuições de impactos causadas    58
              pelas partes de um computador
Tabela 4 -    Listagem dos resíduos gerados no ano de 2008 na fábrica da Positivo     75
              Informática e suas respectivas massas

Tabela 5 -    Resultados obtidos com a coleta de dados durante o inventário para      76
              posterior abastecimento do programa SimaPro

Tabela 6 -    Composição e massa de uma Placa de Circuito Impresso - PCB              77
Tabela 7 -    Composição e massa de um Teclado                                        78
Tabela 8 -    Composição e massa de um Disco Rígido - HD                              78
Tabela 9 -    Composição e massa de um Monitor CRT 15”                                80
Tabela 10 -   Composição e massa de um Monitor LCD 15”                                81
Tabela 11 -   Comparação entre as médias das massas (g) obtidas com as pesagens       82
              na fábrica e as massas (g) apresentadas pela literatura
Tabela 12 -   Comparação entre as massas (g) de um computador fabricado em 1998 e     83
              outro fabricado em 2008 e as diferenças observadas

Tabela 13 -   Algumas características dos laboratórios de informática da UP (dados    96
              de 2009)

Tabela 14 -   Aquisições, reutilizações e remoções de computadores na UP no          100
              período de 2005 a 2009
Tabela 15 -   Simulação das quantidades de resíduos provenientes de computadores     104
              removidos e reutilizados no período de 2005 a 2009
Tabela 16 -   Média das tensões dos computadores com monitor CRT e LCD               107
Tabela 17 -   Dados para o cálculo do consumo de energia com monitores CRT e         108
              LCD
Tabela 18 -   Estimativas do consumo de energia entre PCs com monitor CRT e PCs      109
              com monitor LCD e as diferenças de consumo, custos e emissões
LISTA DE QUADROS


Quadro 1 -   Caracterização das categorias de impacto do método EcoIndicator’99   34
Quadro 2 -   Breve descrição das etapas do ciclo de vida                          37
Quadro 3 -   Substâncias presentes na composição de um computador e seus          51
             possíveis danos à saúde humana
Quadro 4 -   Substâncias restritas, valor máximo de concentração por material     53
             homogêneo
Quadro 5 -   Representação resumida da estruturação do trabalho                   62

Quadro 6 -   Alternativas mitigadoras aos impactos nas diferentes etapas da ACV   90
Quadro 7 -   Possíveis substituições às substâncias RoHS                          92
Quadro 8 -   Alguns destaques e exemplos de ações sócio-ambientais                94
Quadro 9 -   Estudo técnico dos requisitos recomendáveis de hardware              97
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABINEE - Associação Brasileira da Indústria de Elétricos e Eletrônicos
ACV – Análise do Ciclo de Vida
ATSDR – Agência Americana de Registro de Substâncias Tóxicas e de Doenças
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CDI - Comitê para a Democratização da Informática
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPU - Unidade central de processamento
CRT - Tubos de raios catódicos
DC - Corrente Contínua
DfE - Projeto para o Meio Ambiente
DI – Departamento de Informática
EPA - Agência de Proteção Ambiental Americana
FEP – Ficha de Expedição de Produto
FGV - Fundação Getúlio Vargas
GANA - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental
IPC – Normas para Fabricação e Montagem de Placas de Circuito Impresso
ISO – Organização Internacional para Padronização
LCD - Tela de Cristal Líquido
LCI - Inventário do Ciclo de Vida
MRI – Instituto de Pesquisa de Midwest (EUA)
NBR – Normas Brasileiras
PC – Computador Pessoal
PCI – Placa de Circuito Impresso
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
REEE – Resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos
ROHS - Restrição do Uso de Substâncias Perigosas
SETAC – Sociedade de Química e Toxicologia Ambiental
SGA - Sistema de Gestão Ambiental
UNCED - Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento
UP – Universidade Positivo
WEEE - (Diretiva de) Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos
SUMÁRIO



1.      INTRODUÇÃO                                                               14
1.2     OBJETIVOS                                                                17
1.2.1   Objetivo Geral                                                           17
1.2.2   Objetivos Específicos                                                    17

2.      REVISÃO DE LITERATURA                                                    18
2.1     HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS COMPUTADORES                                   18

2.2     OS COMPUTADORES E AS QUESTÕES AMBIENTAIS                                 21
2.2.1   Eco-projeto                                                              21
2.2.1.1 Estratégias e Práticas do Eco-projeto                                    22
2.2.1.2 Os Quatro Níveis do Eco-projeto                                          24
2.3     DEFINIÇÃO E METODOLOGIA DA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA                      25
2.3.1   Histórico da Análise do Ciclo de Vida – ACV                              27

2.4     A FERRAMENTA SIMAPRO                                                     31
2.4.1   A Base de Dados Ecoinvent                                                32
2.4.2   O método EcoIndicator’99                                                 32
2.5     A SÉRIE DE NORMAS ISO 14000                                              34
2.5.1   A ACV na Família da Norma ISO 14040                                      36
2.6     ETAPAS DO CICLO DE VIDA DE COMPUTADORES                                  37

2.7     OPÇÕES DE TRATAMENTO AO FINAL DA VIDA ÚTIL DE                            38
        COMPUTADORES
2.7.1   Gerenciamento dos Resíduos de Computadores na Comunidade Internacional   41
        e no Brasil
2.7.2   Implicações Sociais e Políticas Sobre o Gerenciamento de Resíduos        43
        Eletrônicos
2.8     LOGÍSTICA REVERSA                                                        44

2.9     A REUTILIZAÇÃO COMO MEIO DE PROLONGAR A VIDA ÚTIL DOS                    45
        COMPUTADORES
2.10    OS MATERIAIS PRESENTES NA                     COMPOSIÇÃO    DE    UM     46
        COMPUTADOR E SEUS PERIFÉRICOS
2.10.1   A Composição de um Computador e seus Possíveis Danos à Saúde Humana       49

2.11     A DIRETIVA RoHS                                                           53
2.12     IMPACTOS AMBIENTAIS NO CICLO DE VIDA DE UM COMPUTADOR                     54
2.12.1   Identificação dos Impactos Ambientais nas Etapas do Ciclo de Vida de um   55
         Computador

3.       METODOLOGIA                                                               62
3.1      ESCOPO E OBJETIVOS DO TRABALHO                                            64
3.1.1    Local do Estudo ACV                                                       64
3.1.2    Local do Estudo de Caso                                                   64
3.2      ANÁLISE DO INVENTÁRIO: COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS                      65
3.2.1    Coleta e Tratamento dos Dados – ACV                                       65
3.2.2    Coleta e Tratamento dos Dados – Estudo de Caso                            69

4.       RESULTADOS E DISCUSSÃO                                                    72
4.1      ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES                                 72
4.1.1    Dados Utilizados                                                          72
4.1.2    Composição e Massa dos Componentes de um Computador                       76
4.1.2.1 Pesagens dos Componentes de um Computador para Obtenção da Massa           82
4.1.3    Avaliação dos Impactos pelo Programa SimaPro                              83

4.1.3.1 Ciclo Completo                                                             83
4.1.3.2 Desdobramento das Etapas do Ciclo de Vida de um Computador                 84
4.1.4    Avaliação de Melhoria: Análise das Alternativas                           90
4.1.4.1 Alternativas para Substituição de Materiais nos Computadores               91
4.1.4.2 Alternativas para embalagens e calços                                      92
4.1.4.3 Ações Socioambientais das Fabricantes de Computadores                      93

4.2      PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS COMPUTADORES DA UP                          96
4.2.1    Dados Utilizados                                                          96
4.2.2    Dados Relevantes                                                          96
4.2.3    Detalhamento Sistemático do Programa de Gerenciamento de Computadores     97
         da UP

4.2.4    Contabilização dos Ganhos                                                 99
4.2.4.1 Contabilização dos Ganhos Ambientais do Programa                        103

4.2.4.2 Contabilização dos Ganhos Sociais e Econômicos do Programa              104
4.2.5   Validação da Reutilização como Alternativa Indicada                     105
4.2.6   Sugestões de Melhoria ao Programa de Gerenciamento de Computadores da   107
        UP

4.2.6.1 Ferramenta de Apoio à Educação Ambiental: Calculadora de Impactos       110
        Ambientais

5.      CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES                                              112
REFERÊNCIAS                                                                     115
ANEXO I                                                                         124

ANEXO II                                                                        128
ANEXO III                                                                       130
ANEXO IV                                                                        132
ANEXO V                                                                         134
ANEXO VI                                                                        192
14

1        INTRODUÇÃO


         As evoluções tecnológicas, mais especificamente aquelas relacionadas aos sistemas de
informação e seus recursos, têm gerado grande preocupação ambiental devido, principalmente,
aos impactos ocasionados pela significativa produção e a breve vida útil dos equipamentos, que
apesar de projetados inicialmente como bens de consumo duráveis, têm se tornado obsoleto
muito rapidamente, provocando grande incremento na geração de resíduos (WIDMER et al.,
2005).
         Estimativas de entidades de defesa do meio ambiente e de empresas de consultoria
ligadas ao setor de informática mostram que, em países desenvolvidos, o tempo médio de vida
de um computador é de aproximadamente dois anos, antes da troca por um modelo mais novo.
No Brasil, a troca não é tão constante, pois estudos apontam que os computadores são mantidos
por até quatro anos nas empresas e por uma média de cinco anos pelos consumidores
domésticos (COTTA et al., 2008).
         Mas a tendência é a redução desses prazos, devido ao aumento nas vendas dos produtos
eletrônicos, influenciado por uma prática de marketing global baseada na lógica do mercado
captalista: criar novas necessidades e desejos (COOPER, 2005; KOTLER, 2006).
         Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Elétricos e Eletrônicos (ABINEE,
2009), no terceiro trimestre de 2009 o mercado brasileiro de Computadores Pessoais (PC’s)
movimentou dois milhões de unidades, registrando crescimento de 8,5% em comparação ao
mesmo período do ano anterior e três milhões no quarto trimestre de 2009, apesar da crise
financeira global. No total foram 11,2 milhões de computadores vendidos no ano de 2009,
apresentando uma queda de 6,4% em relação ao fechamento nas vendas de 2008. De acordo
com as previsões da ABINEE (2009), em 2011, é possível que 15,8 milhões de unidades sejam
comercializadas. Os desktops devem representar 45% do mercado, ao passo que os notebooks
responderão pelos 55% restante.
         A chamada obsolescência planejada na indústria da tecnologia da informação ocorre de
forma sinérgica entre os setores do hardware e do software, pois novos programas como
aplicativos ou sistemas operacionais requerem configurações mais robustas e avançadas como
requisitos mínimos para o seu funcionamento. Desta forma, a obsolescência do hardware é
impulsionada por upgrades de softwares cada vez mais sofisticados de forma a sucateá-los e
substituí-los por modelos mais novos a fim de garantir as margens de lucro para ambos os
15

setores. Isso acaba por gerar toneladas de resíduos eletrônicos e conseqüentemente, problemas
ambientais difíceis de serem solucionados (SANDBORN, 2007).
       Este consumo exagerado que proporciona a rápida substituição e obsolescência dos
produtos, tem contribuído para a aceleração da degradação ambiental, seja através do
surgimento de novos produtos, tornando os atuais rapidamente ultrapassados, ou através da
necessidade real de substituição. Em conseqüência deste processo, ocorre a contínua extração
de matéria-prima para a produção de bens que serão descartados muito antes de terem esgotado
seus recursos de uso. Entretanto, pouca atenção tem sido dada às conseqüências da degradação
ambiental decorrente dessa lógica e uma possível reversão deste quadro requer uma profunda
revisão nos valores que regem a sociedade (RODRIGUES, 2007).
       As preocupações ambientais também se estendem aos impactos gerados pelos resíduos
de eletroeletrônicos que são descartados sem tratamento adequado. Este tipo de resíduo é
nocivo ao meio ambiente e à saúde humana, pois apresentam metais pesados e outras
substâncias perigosas na sua composição, que se não tratados de forma adequada, podem
comprometer o solo, as águas superficiais e subterrâneas, além de afetar a flora e a fauna.
Porém, não somente o descarte prematuro ocasiona danos ambientais, mas todo o ciclo de vida
dos equipamentos eletroeletrônicos, pois nos processos envolvidos, desde a extração de
matérias primas, produção e uso destes bens, até seu descarte, são consumidos recursos naturais
não renováveis, água e energia, gerando impactos relacionados às emissões de substâncias
tóxicas em todas as etapas (WIDMER et al., 2005; TURNER; CALLAGHAN, 2006).
       Contudo, a mesma publicidade global que por um lado gera novas necessidades e
desejos, tem contribuído para fomentar uma nova necessidade: a de produtos sustentáveis. Ser
sustentável nunca esteve tão em voga, o que influencia a decisão de compra dos novos
consumidores, aqueles preocupados com as questões socioambientais. Desta forma, cria-se uma
nova consciência coletiva, forçando o mercado a atender essas novas exigências, tornando a
sustentabilidade um critério competitivo (COOPER, 2005).
       Diante deste panorama, merecem destaque as ações da iniciativa pública e privada que
possibilitam a diminuição do problema, tendo em vista que a solução completa é improvável
em curto prazo, pois a utilização de equipamentos eletroeletrônicos continuará a sua tendência
de crescimento. As soluções viáveis são a produção mais limpa, o prolongamento da vida útil, a
utilização de materiais e tecnologias que permitam o reaproveitamento e/ou a reciclagem dos
componentes ao final da vida útil e a orientação ao consumo ambientalmente responsável que
motive a escolha desses produtos. Portanto, torna-se evidente a necessidade de se avaliar não
16

somente uma parte do problema, mas, toda a cadeia: concepção, produção, uso, final da vida
útil.
        Além disso, vem ganhando força uma visão holística dos impactos ambientais
decorrentes de todas as fases do processo (ciclo de vida), em conseqüência do desenvolvimento
de ferramentas e metodologias voltadas à avaliação e redução destes danos. Uma das
metodologias utilizadas é a Análise do Ciclo de Vida (ACV), que contempla todo o processo de
fabricação do produto, desde a retirada da matéria prima até a destinação final após o uso. Estas
questões ambientais são incorporadas às estratégias de negócios das organizações e estudos
referentes ao ciclo de vida dos produtos podem ser utilizados como ferramentas de apoio à
competitividade e tomadas de decisão (RODRIGUES, 2007).
        O panorama discutido anteriormente indica que é necessário conhecer e compreender os
problemas ocasionados pelos computadores. A análise do ciclo de vida identifica os impactos
ambientais decorrentes de todas as etapas, possibilitando apresentar alternativas para minimizá-
los. Vale ressaltar que o impacto ambiental avaliado neste trabalho é aquele que traz danos ao
meio ambiente e à saúde humana.
        Desta forma, foi realizada a ACV dos computadores para identificar os problemas e
impactos (adversidades, danos) ambientais relacionados. Os dados necessários foram obtidos
de referencial bibliográfico e de visitas à fábrica da Positivo Informática. Como proposta
prática para reduzir os impactos causados tanto na extração de materiais não renováveis, quanto
na geração de resíduos, a reutilização foi considerada a mais efetiva e válida, em consonância
com a Diretiva Européia (CE, 2004). O programa de gerenciamento dos computadores da
Universidade Positivo, que promove a reutilização dos computadores e permite a extensão de
sua vida útil, é detalhado e apresentado como estudo de caso.
        A seguir são apresentados os capítulos de revisão de literatura, a metodologia de
condução do estudo, resultados e discussão e conclusões do trabalho.
        No capítulo 2, que trata da revisão de literatura, é apresentado um quadro da evolução
dos computadores e as questões ambientais associadas como a rápida obsolescência, a
problemática da geração de resíduos – situação atual no Brasil e na comunidade internacional e
as opções de tratamento destes resíduos, a composição química destes equipamentos e os
possíveis efeitos danosos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Também são apresentados
os conceitos da Análise do Ciclo de Vida, como definição, utilização, normatização, fases e
método de valoração, além das normatizações da série ISO 14040, a ferramenta computacional
SimaPro e o método de avaliação de impactos ambientais – EcoIndicator’99, e os possíveis
danos ambientais decorrentes do ciclo de vida de um computador.
17

       No capítulo 3, referente à metodologia aplicada no estudo, são informadas as
considerações feitas durante a execução do trabalho e o detalhamento de cada etapa realizada
para a obtenção dos resultados que são apresentados no capítulo 4. Neste capítulo são
mostrados os resultados obtidos durante a coleta de dados (inventário), entre os quais a
identificação e quantificação dos aspectos ambientais, a avaliação dos dados através do método
EcoIndicador’99 e apresentação de alternativas para a minimização dos danos ambientais
originados no ciclo de vida de um computador. Também é apresentada e detalhada a alternativa
ambiental proposta neste trabalho, o prolongamento da vida útil dos computadores como objeto
do estudo de caso. Finalmente do capítulo 5 são apresentadas as conclusões do trabalho e
sugestões de estudos futuros.



1.2 OBJETIVOS


1.2.1 Objetivo Geral


       Utilizar a metodologia de Análise do Ciclo de Vida (ACV) para avaliar os impactos
ambientais relacionados aos computadores, e apresentar o programa de gerenciamento dos
computadores da Universidade Positivo (UP) como uma alternativa para minimizá-los.



1.2.2 Objetivos Específicos



       Realizar a análise do ciclo de vida dos computadores, considerando todas as etapas;
       Identificar as etapas de maior impacto e apresentar alternativas para a minimização
destes impactos;
       Apresentar as soluções ambientais dos principais fabricantes de computadores;
       Sistematizar o programa de gerenciamento dos computadores da UP;
       Quantificar os ganhos econômicos, sociais e ambientais decorrentes deste programa.
18

2      REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS COMPUTADORES


       Assim como em outras áreas, os computadores começaram como aparelhos
rudimentares, que eram capazes de desempenhar apenas tarefas muito simples. A capacidade de
armazenamento e velocidade veio muito mais tarde. Conhecer a evolução dos computadores
permite um melhor entendimento sobre as mudanças que ocorreram no decorrer dos 64 anos de
história da computação.
       Segundo dados do Museu da História dos Computadores - Computer History Museum
(2010), no início os computadores eram mecânicos e realizavam cálculos através de um sistema
de engrenagens, acionado por manivelas. Esse tipo de sistema, comum na forma de caixas
registradoras, predominou até o início da década de 70, quando as calculadoras portáteis se
popularizaram.
       A evolução dos computadores foi dividida em cinco etapas, chamadas gerações. Um
exemplo típico da primeira geração marcada pelo uso de válvulas foi o Eniac, construído em
1946, o qual pesava cerca de 30 toneladas e possuía 18 mil válvulas, as quais deveriam ser
substituídas anualmente, pois apesar de seus inúmeros ventiladores, a temperatura ambiente
chegava aos 67 ºC (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010).
       A segunda geração de computadores ocorreu com a substituição das válvulas por
transistores, os quais dominaram o mercado entre os anos de 1950 e início de 1960. Um
exemplo desta geração foi o Univac, construído em 1952, e o primeiro equipamento vendido
em massa: 46 unidades, custando cerca de a U$ 1.000.000,00 cada. Outro modelo desta geração
foi o IBM 650, o qual pesava 900 kg, com uma fonte de alimentação que pesava cerca de 1350
kg a um custo de US$ 500.000 (CERQUEIRA, 2004).
       A terceira geração teve início após 1958, com a introdução dos circuitos integrados, os
quais utilizavam silício, o que permitiu a miniaturização de componentes eletrônicos, reduzindo
o peso, tamanho e o preço dos computadores, além de melhorar o desempenho e confiabilidade.
Um exemplo desta geração foi o Apple II lançado em 1977, apresentando uma arquitetura
radical para os modelos anteriores, pois apresentava gráficos coloridos, placa de som, teclado e
mouse (COMPUTER, 2010).
       Em 1968, surgiu a primeira versão do mouse que se conhece hoje, feito de madeira.
Todavia, somente em 1982 foi possível utilizá-lo domesticamente, quando a empresa Apple
lançou o famoso sistema de "apontar e clicar” (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010).
19

       Na década de 80, teve início a quarta geração de computadores, marcada pelo
lançamento dos primeiros microprocessadores fabricados pela Intel, dando início à era dos
chips. Em 1981 a empresa IBM lançou o primeiro microcomputador, o IBM PC – 5150 que
pesava cerca de 12 kg, acompanhado de monitor CRT de fósforo verde. Devido a este modelo,
a expressão “computador pessoal” passou a ser incorporado a todos os outros computadores
criados na seqüência. No Brasil, um modelo desta geração bastante conhecido, foi o TK – 85.
Comercializado em 1983, tratava-se de um modelo simples que pesava 500 gramas somente
com um teclado embutido e sem monitor (COMPUTER, 2010).
       A quinta geração teve início nos anos 90, marcado pela comercialização dos modelos
Pentium, cujo nome tem raiz grega "pent", que significa "cinco". Os primeiros modelos desta
geração foram comercializados em 1993, pesando 25 kg, incluindo o monitor modelo CRT.
Outros modelos surgiram para competir com os produtos Intel, como o AMD K6 II em 1998,
que, porém, utilizavam praticamente os mesmos recursos.
       Praticamente uma década depois, os modelos lançados em 2008, apresentavam
mudanças significativas em relação aos seus antecessores, como melhor desempenho, menor
custo e peso. Devido à utilização de monitores LCD tornaram-se mais leves, utilizando cada
vez menos materiais para sua fabricação (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010). A Fig. 1
ilustra esta evolução.
20




Figura 1 - A evolução dos computadores (Adaptado de CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010).
21

2.2 OS COMPUTADORES E AS QUESTÕES AMBIENTAIS


       Cooper (2005) afirma que o desenvolvimento tecnológico inseriu na sociedade, além de
novos padrões de conforto e comportamento, novos e graves problemas ambientais. O setor da
tecnologia da informação destaca-se pela crescente inserção dos seus produtos na sociedade,
além da velocidade de obsolescência e conseqüente descarte, gerando os resíduos de
equipamentos eletrônicos (REE).
       Os problemas ambientais associados aos computadores são duplamente evidenciados:
consumo de energia e utilização de materiais altamente tóxicos, o que torna a sua produção,
utilização e descarte ambientalmente impactantes (LEE et al., 2004). Infelizmente, a disposição
em aterros é apenas o primeiro passo de uma seqüência perigosa de eventos envolvendo a
decomposição e lixiviação dos materiais que compõe estes equipamentos. Exemplos incluem
chumbo, fósforo, cromo entre outros (BRENNAN et al., 2002; SILVA et al., 2002).
       Estudos têm sido conduzidos envolvendo os problemas ambientais relacionados com os
resíduos eletrônicos e as alternativas existentes para minimizá-los (WILLIAMS; KUEHR,
2003; AHLUWALIA; NEMA, 2007). Entre algumas alternativas, tem se pesquisado o
comportamento de consumidores e empresas que ainda não priorizam a extensão da vida útil
dos computadores, resistindo à reutilização e reaproveitamento de produtos de segunda mão
(HICKEY; FITZPATRICK, 2008).
       Além dessas alternativas, tem sido apontado o desenvolvimento de produtos desde a sua
concepção com menor consumo de energia, facilidade de reciclagem de materiais, reutilização
de componentes de equipamentos obsoletos, substituição de materiais tóxicos por outros menos
nocivos (HERSH, 1998; LEE et al., 2004) e a garantia de que a saúde humana e ambiental não
sejam comprometidas durante os tratamentos do final de vida, através da política e da educação
pública (NAGEL; MEYER, 1999). Todas estas ações fazem parte de projetos “verdes” onde,
em sua maioria, são abordadas por intermédio da sistemática da Análise do Ciclo de Vida.



2.2.1 Eco-projeto


       Projeto para o Meio Ambiente (Design for Environmental - DfE) é o termo utilizado
para designar o desenvolvimento de produtos sustentáveis desde a sua concepção até a sua
disposição final. Alguns dos termos utilizados para o Projeto para o Ambiente são Projeto
Verde (Green Design), Projeto Sustentável (Sustainable Design), Projeto do Ciclo de Vida
22

(Life Cycle Design), Engenharia do Ciclo de Vida (Life Cycle Engineering) e também Projeto
Limpo (Clean Design). Embora os termos possam ser diversificados, os significados destes
termos usualmente se referem às atividades que têm os mesmos objetivos: a redução ou
eliminação dos impactos ambientais em todo o ciclo de vida através de melhorias na concepção
de produtos. Neste trabalho adota-se o termo Eco-projeto, por ser mais utilizado na produção
científica nacional.
          Segundo Handfield et al. (1997), devido às exigências do mercado, legislações e
sociedade, nos últimos anos as empresas começaram a se preocupar com as questões
ambientais não somente do processo produtivo, mas com todo o ciclo de vida dos produtos,
contemplando os aspectos ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto
tornando-os eco eficientes através do Eco-projeto, onde os benefícios ambientais ou
econômicos devem ser considerados e valorizados.
          É nas fases de concepção e desenvolvimento que se definem, em média, entre 80 e 90%
dos custos ambientais e econômicos do ciclo de vida dos produtos, e conseqüentemente, dos
impactos ambientais (DESIGN COUNCIL, 1997).
          Não existe um método único para se implementar o Eco-projeto, mas há uma norma
ISO (Organização Internacional para Normalização) que trata da integração deste conceito no
processo de desenvolvimento de produtos (ISO 14062, 2002). Como fatores que influenciam a
implementação do Eco-projeto, Boks (2006) citou:


   i)        Pressão externa de requisitos legais;
   ii)       Influências econômicas internas;
   iii)      Percepção e valorização do consumidor;
   iv)       Disponibilidade de novas tecnologias.



2.2.1.1 Estratégias e Práticas do Eco-projeto


          Segundo Manzini; Vezzoli (2005) são cinco as estratégias do Eco-projeto, relacionadas
às etapas do ciclo de vida do produto conforme mostra a Fig. 2:
23




Figura 2 - Estratégias do Eco-projeto (Adaptado de MANZINI; VEZZOLI, 2005).


         As estratégias do Eco-projeto podem ser expressas como (MANZINI; VEZZOLI,
2005):
         a) Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental;
         b) Minimização de recursos: redução do uso de materiais e de energia;
         c) Otimização da vida útil: concepção de produtos que permitam o prolongamento da
         vida útil e que sejam facilmente reparáveis;
         d) Extensão da vida útil dos materiais: concepção do produto visando a valorização dos
         materiais descartados, através da reinserção na cadeia produtiva;
         e) Facilidade na desmontagem: concepção do produto visando a facilidade de
         desmontagem e a separação de peças e materiais.


         Segundo Schischke et al. (2005), tais estratégias podem promover algumas vantagens
competitivas para as empresas que as adotam, além daquelas relacionadas com a redução dos
custos promovida pela minimização no consumo de materiais e energia e na geração de
resíduos, como uma imagem positiva que diferencia a empresa no mercado perante a
concorrência e a opinião pública. Além disso, promovem uma reação em cadeia, uma vez que
estas empresas acabam influenciando todos os seus contatos, promovendo melhorias junto aos
seus fornecedores, exigindo destes a aplicação dos princípios de gestão ambiental e
certificações ambientais de seus produtos.
24

         Porém, o mais importante a ser destacado é que o Eco-projeto desempenha papel
primordial nas novas políticas ambientais, cujos instrumentos têm como objetivo principal
promover alterações no projeto dos produtos como forma de prevenir e reduzir ao máximo os
impactos ambientais em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos (SCHISCHKE et al.,
2005).



2.2.1.2 Os Quatro Níveis do Eco-projeto


         O modelo “Quatro Níveis” (Four Steps) mostra como os melhoramentos ambientais
podem ser realizados em quatro etapas, em que cada uma se caracteriza por maiores e
potenciais benefícios ambientais e um maior grau de inovação exigido para o processo de
design, conforme mostra a Fig. 3 (CHARTER; CHICK, 1997).
         É importante ressaltar que as escalas de tempo apresentadas na ilustração podem ser
diferenciadas para cada setor industrial, pois alguns setores são considerados mais
conservadores onde as mudanças ocorrem mais lentamente, enquanto que outros como os da
tecnologia da informação, as mudanças têm se apresentando num espaço de tempo cada vez
mais curto e num ritmo acelerado.




Figura 3 – Quatro níveis do Eco-projeto (CHARTER; CHICK,1997).


         Sobre os quatro níveis Charter; Chick (1997) descrevem:

         Nível 1 (Melhoria do produto): melhoria de produtos existentes, levando-se em
         consideração as questões relacionadas aos atuais métodos de minimização de impactos
         e cuidados ambientais;
25

       Nível 2 (Re-desenho do produto): otimização da qualidade dos produtos já existentes.
       Não está relacionada às alterações dos conceitos propriamente ditos; porém, à
       substituição de determinados componentes. A reutilização de componentes, de
       matérias-primas e a minimização do consumo de energia nas diversas fases do ciclo de
       vida caracterizam esta fase;
       Nível 3 (Inovação funcional ou introdução de funções alternativas): este tipo de
       alteração não se limita a produtos existentes, mas se caracteriza pelo modo como as
       funções são executadas;
       Nível 4 (Inovação em sistemas sustentáveis): o surgimento de novos produtos e serviços
       exige a introdução de alterações na infra-estrutura das organizações. Substituição dos
       produtos por outros com maior eficiência ambiental, exigindo menor consumo de
       energia e de materiais.



2.3 DEFINIÇÃO E METODOLOGIA DA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA


       Diante da necessidade de preservar os recursos naturais ou garantir a sua reposição
através de práticas sustentáveis, como o desenvolvimento de novas tecnologias ou substitutos
mais eficientes para materiais esgotáveis, é necessário o desenvolvimento de ferramentas e ou
metodologias que possibilitem implementar estas práticas (MOURA, 2000).
       Dentre as metodologias consideradas mais apropriadas está a Análise do Ciclo de Vida
(ACV), internacionalmente designada por Life Cycle Assessment (LCA), que considera todas as
etapas do ciclo de vida de um produto ou processo, desde a extração e processamento de
matérias-primas, fabricação, embalagem, transporte, distribuição, utilização, reuso ou
reciclagem, até sua disposição final (MANZINI; VEZZOLI, 2005), como pode ser observado
na Fig. 4 que ilustra o ciclo de um produto genérico. Também deve ser considerado que em
todas as etapas ocorre o consumo de energia.




Figura 4 - Etapas do ciclo de vida dos produtos (Adaptado de MANZINI; VEZZOLI, 2005).
26

       Para efeito deste trabalho será adotada a definição segundo a Norma ISO 14040 (2006):


                                      A Análise de Ciclo de Vida é uma técnica para determinar os
                                      aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um produto:
                                      juntando um inventário de todas as entradas e saídas relevantes do
                                      sistema, avaliando os impactos ambientais potenciais associados a
                                      essas entradas e saídas, e interpretando os resultados das fases de
                                      inventário e impacto em relação com os objetivos de estudo.



       A análise do ciclo de vida torna-se importante para as organizações, quando se torna
parte das estratégias de negócios impulsionada pelas legislações, pela exigência dos
consumidores cada vez mais conscientes das questões ambientais, ou pura e simplesmente por
pressões competitivas do mercado (ANDRADE, 2006).
       A ACV permite, ainda, a identificação de oportunidades de melhorias ambientais em
pontos mais específicos de um processo de produção. Melhorias como na redução da geração
de resíduos, no consumo de água e principalmente energia, bem como a reutilização e
reciclagem dos produtos (SETAC, 1993).
       Outra vantagem é que a ACV também pode ser utilizada como uma ferramenta
facilitadora na tomada de decisões, interagindo com o planejamento estratégico, definindo
prioridades no projeto e ou no re-projeto de produtos ou processos (ISO, 2006); além disso,
permite uma possível antecipação às legislações futuras, além de atuar como ferramenta de
melhoria contínua nos sistemas de gestão ambiental da família ISO 14000 (CHEHEBE, 1998).
       O processo de ACV é bastante complexo, mas alguns modelos podem ser utilizados
juntamente com outras ferramentas como auditorias e instrumentos de quantificação de
impactos ambientais. São características exclusivas à ACV a avaliação de todo o ciclo de vida e
a comparação entre produtos (SETAC, 1993).
       Manzini; Vezzoli (2005) apontam algumas das possíveis aplicações da metodologia
ACV:
       Planejar estratégias ambientais no desenvolvimento de produto ou processo;
       Projetar sustentavelmente um produto e ou processo;
       Dar apoio à tomadas de decisão;
       Comparar produtos;
       Desenvolver auditorias ambientais e minimizar a geração de resíduos e emissões;
       Contribuir no desenvolvimento de estratégias de marketing;
       Contribuir na definição de critérios para rotulagem ambiental;
       Contribuir na elaboração de políticas públicas.
27

       Também existem alguns autores que fazem críticas, como Cooper (2005) que ressalta
que a complexidade da ACV pode gerar dificuldades no entendimento e aplicação da
metodologia e conseqüentemente na coleta dos dados.



2.3.1 Histórico da Análise do Ciclo de Vida – ACV


       A Análise do Ciclo de Vida surgiu na década de 60, motivada pelas recentes
preocupações sobre a possível falta de recursos naturais e energia, incentivando a elaboração de
projetos para quantificar e reduzir o uso destes recursos e os impactos ao meio ambiente
(SETAC, 1993). A Sociedade de Química e Toxicologia Ambiental (SETAC) foi a primeira
entidade a se preocupar com as questões ambientais de forma sistematizada, definindo a ACV
como uma abordagem holística para avaliar os impactos ambientais de um produto do berço ao
túmulo (SETAC, 1993).
       O desenvolvimento do primeiro método de cálculo de impacto ambiental que se tem
notícia foi realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Midwest (MRI) nos Estados
Unidos em 1965, a serviço da Coca-Cola, quando foram confrontados com um desafio:
comparar diferentes tipos de embalagens de refrigerante para a determinação de qual delas
apresentava índices mais adequados de emissão para o meio ambiente e menor consumo de
recursos (ANDRADE, 2006).
       Este estudo, conhecido como Análise do Perfil dos Recursos Ambientais, quantificou o
uso de matérias primas e combustíveis, relacionando as cargas ambientais geradas na produção
para cada uma das alternativas. Era a origem da ACV com enfoque em estudos de impacto
ambiental, que a partir deste ponto inicial se desenvolveu em escala mundial a partir dos anos
90, tanto em termos de metodologia como em suas aplicações (ANDRADE, 2006).
       A análise do ciclo de vida foi desenvolvida de forma a evidenciar as crescentes
necessidades das empresas que procuravam agregar aspectos ambientais no desenvolvimento
de produtos e também em programas de melhoria contínua procurando atender as exigências
dos consumidores, da sociedade como um todo e da legislação (RODRIGUES, 2007).
       Segundo SETAC (1993), a metodologia da ACV é composta de quatro fases,
contemplando a definição do objetivo e escopo, a análise do inventário e avaliação de impacto,
e posterior interpretação. Tais fases podem ser observadas na Fig. 5.
28




Figura 5 – Estrutura da avaliação do ciclo de vida (Adaptado de ISO, 2006).


       Definição do Escopo e Objetivos: Na fase de definição de objetivos é estabelecida a
razão principal para a condução do estudo, sua abrangência e o público-alvo a que os resultados
se destinam. Já na definição do escopo, são fixadas as limitações e os critérios a serem
utilizados. Em linhas gerais, a série de normas ISO 14040 (ISO, 2006) estabelece que o
conteúdo mínimo do escopo de um estudo de ACV deve referir-se a três dimensões: início e
fim do estudo (a extensão da ACV), quantos e quais subsistemas incluir e o nível de detalhes do
estudo, ou seja, a profundidade da ACV (SEO; KULAY, 2006).

       Análise de Inventário: Também chamada de Inventário do Ciclo de Vida, é nesta fase
que é realizada a coleta dos dados, ou seja, o processo de quantificação das entradas e saídas de
todas as etapas do ciclo de vida do produto, o que inclui a utilização de matérias primas e
energia e suas saídas provenientes dos processos produtivos, como a geração de resíduos e/ou
materiais, como pode ser observado na Fig. 6. De acordo com Ferreira (2004), é a fase mais
trabalhosa da ACV e dela depende a confiabilidade dos resultados obtidos nas outras fases.
29




Figura 6 - Inventário do ciclo de vida (CURRAN, 1996).


       Avaliação de Impactos: A Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV) é uma fase
que busca identificar, caracterizar e avaliar, quantitativa e qualitativamente, os impactos
ambientais. Nesta fase faz-se uma avaliação da magnitude e significância dos impactos
ambientais, baseada nos resultados obtidos na análise do inventário. Neste caso, algumas
avaliações podem ser realizadas apenas pelos resultados obtidos na fase do inventário. Porém, a
avaliação de impactos deve ser realizada quando forem detectados quaisquer problemas
ambientais. Dados do inventário podem ser transformados em categorias de impactos sobre a
saúde humana, a qualidade do meio ambiente e a utilização de recursos. Também permite que
os resultados obtidos nesta fase sejam classificados e caracterizados.
       Alguns exemplos de problemas ambientais a serem avaliados quanto aos seus impactos
(CHEHEBE, 1997):
       • Exaustão de recursos não renováveis;
       • Aquecimento global;
       • Redução da camada de ozônio;
       • Toxicidade para a população;
       • Ecotoxicidade;
       • Acidificação;
       • Oxidantes fotoquímicos.

       De acordo com a norma NBR ISO 14.042 (ABNT, 2004) a AICV é composta de
elementos obrigatórios e opcionais, da seguinte forma:

       Seleção de Categorias de Impacto: Segundo Chehebe (1997), consiste na escolha e
definição de categorias de impacto. Uma categoria de impacto representa um problema
30

ambiental específico. As categorias de impacto mais comumente utilizadas são aquecimento
global, redução da camada de ozônio, acidificação, utilização de recursos naturais e uso do
solo.

        Classificação dos Resultados Inventariados: Na etapa de classificação, todas as
substâncias são organizadas e separadas em categorias de impacto, conforme o efeito que
provocam sobre o ambiente. O resultado é o perfil ambiental do sistema segundo sua
contribuição para esgotamento dos recursos, aquecimento global, danos à camada de ozônio,
acidificação, toxicidade, eutrofização, entre outras (PRE CONSULTANTS, 2006; ISO, 2006).

        Caracterização dos impactos: Diferentemente da classificação, este é um processo
quantitativo, pois é através da caracterização que são realizados os cálculos dos resultados dos
indicadores para cada categoria de impacto e/ou dano para indicar a intensidade de seus efeitos.
Numa possível comparação, quando todos os efeitos de um produto são maiores que os de
outro, é fácil notar qual deles é o mais agressivo ao ambiente. No entanto, é muito mais comum
que um produto apresente pontuação maior em determinadas classes e menor em outras. Nesse
caso, a interpretação dos dados é função de dois fatores (CURRAN, 1996; CHEHEBE, 1997):

        •      Normalização: Tem como objetivo permitir a comparação dos resultados das
        diferentes categorias de impacto, através da divisão por um valor de referência
        (CURRAN, 1996). Tolle (1997), explica que diferentemente da caracterização, que
        apenas permite comparar os efeitos individualmente, a normalização possibilita obter
        uma noção do quadro geral do impacto causado por todo o sistema; ou seja, visualizar o
        todo e não uma parte do problema, devido à possibilidade de confrontar cada efeito
        calculado com o valor total conhecido para aquela determinada classe de impacto.

        •      Ponderação ou Valoração: Classificada como qualitativa ou semi-quantitativa,
        consiste em organizar as categorias de impacto e/ou danos em grupos semelhantes,
        convertendo os resultados dos indicadores de cada uma das categorias a uma escala
        comum, através de fatores numéricos (ISO, 2006). Apesar de a normalização facilitar a
        visualização dos resultados, ainda não permite que se obtenha um resultado final, pois,
        até então, os diferentes efeitos ambientais são considerados como de igual importância.
        Cabe à ponderação atribuir valores à pontuação dita normalizada, permitindo
        representar a importância e a gravidade relativa de cada efeito, chegando-se a um
        resultado final, um indicador (CURRAN, 1996; ISO, 2006).
31

       Interpretação: Esta etapa tem o objetivo de avaliar e interpretar os dados obtidos com
o intuito de sugerir mudanças e buscar melhorias para diminuir os danos ao meio ambiente em
todo o processo da ACV, compreendendo (CURRAN, 1996; CHEHEBE, 1997):
        1º) Identificação das questões ambientais mais significativas baseadas nos resultados da
        análise do inventário;
        2º) Avaliação, que pode incluir a verificação da integridade, sensibilidade e
        consistência;
        3º) Conclusão, incluindo recomendações e relatório sobre as questões ambientais
        significativas.



2.4 A FERRAMENTA SIMAPRO


       O SimaPro é uma ferramenta computacional metodológica desenvolvida pela PRe-
Consultants, que auxilia na coleta de dados e interpretação dos resultados, buscando soluções
para problemas ambientais globais no ciclo de vida de um produto (GOEDKOOP;
SPRIENSMA, 2001).
       O programa apresenta algumas características gerais como: proteção de dados,
flexibilidade, análise do impacto, comparação dos resultados e apresentação gráfica dos
resultados. Além disso, o SimaPro possui uma base de dados de materiais e processos
acoplados com ferramentas de cálculo dos impactos, chamada de inventário (SCHISCHKE et
al., 2005).
        Neste programa, o ciclo de vida pode ser entendido e representado como uma árvore de
processos em que cada caixa representa um processo, com fluxos de entrada e saída ambientais
definidos. A partir da montagem da árvore de processos e de informações sobre cada processo é
possível construir o inventário de todos os fluxos ambientais de entradas e saídas associados ao
ciclo do produto em questão (PRE CONSULTANTS, 2006).
        A Fig. 7 é um exemplo da hierarquia das caixas de processos, com os fluxos de entradas
e saídas definidos gerados pelo programa SimaPro.
32




 Figura 7 - Representação gráfica da árvore de processos fornecido pelo programa SimaPro (PRE
 CONSULTANTS, 2006).


 2.4.1 A Base de Dados Ecoinvent


        Segundo Goedkoop; Spriensma (2001), o SimaPro dispõe de uma vasta base de dados, a
Ecoinvent, a qual disponibiliza informações sobre 2500 processos inventariados válidos para as
condições suíças e européias, tais como sistema de energia, metais, embalagens, tecnologia de
informação e comunicação, eletrônica, engenharia mecânica, materiais de construção, produtos
químicos, insumos agrícolas, sistema de transporte, tratamento e disposição de resíduos.
        Além disso, este conjunto de inventários caracteriza-se pela sua qualidade,
uniformidade e consistência, possibilitando a harmonização e a atualização dos inventários de
ciclo de vida para serem utilizados nos estudos de ACV, sendo integrado às principais
ferramentas computacionais específicas para análise do ciclo de vida, como o SimaPro
(FRISCHKNECHT et al., 2007).



 2.4.2 O método EcoIndicator’99


        Métodos para a avaliação de impactos têm sido desenvolvidos com o objetivo de
 facilitar a interpretação dos dados, os quais são usualmente disponibilizados por vários
 programas de apoio à análise do ciclo de vida como o SimaPro, cabendo citar alguns exemplos
 como o Eco-indicator 99 – utilizado neste estudo e disponibilizado no SimaPro, o CML method
 92, o Ecopoints 97 e o EPS 2000 dentre outros (LUO et al., 2000; SILVA, 2005).
        Segundo Silva (2005), no método Eco-indicator 99 a pontuação fornecida baseia-se na
 metodologia de avaliação de impactos, onde os dados da planilha de inventário são
 transformados em pontuações de danos.
        Num vocabulário mais simplista, o método EcoIndicator’99, atribui uma pontuação a
 cada impacto, permitindo uma comparação entre eles: quanto maior a pontuação, maior o
33

impacto, além de oferecer uma perspectiva sobre as maneiras de procurar superá-los. No
entanto, o exercício não é simples: baseando-se em pesquisas científicas, para cada impacto é
atribuído um peso específico e possui uma abordagem orientada para os danos referentes às
condições européias.
       Neste método, os impactos são organizados em três categorias de danos (GOEDKOOP;
SPRIENSMA, 2001):

               Danos à Saúde Humana: Nesta categoria estão incluidos o número e a duração
dos efeitos, fatalidades e incapacitações advindas de causas ambientais aos seres humanos. O
indicador, ou seja, os danos para a saúde humana são expresso em DALY, ou seja, Anos de
Vida Ajustados (Disability Adjusted Life Years), que é uma unidade usada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial.
               Danos à Qualidade do Ecossistema: os danos sobre a qualidade dos
ecossistemas incluem os efeitos sobre a completa e irreversível extinção de espécies, bem como
o reversível ou irreversível desaparecimento de espécies de uma determinada região durante um
período de tempo. Esta definição não é tão homogênea como a da Saúde Humana, envolvendo
aspectos como a ecotoxicidade, acidificação, eutrofização e o uso e transformação do solo. O
indicador é expresso em PDF, ou seja, Fração dos Potencialmente Desaparecidos, se referindo
às espécies de plantas.
               Danos aos Recursos: Os danos sobre os recursos são quantificados em relação à
energia necessária para atuais e futuras extrações de recursos minerais e combustíveis fósseis.
O uso de recursos bióticos e minerais como argila, areia, entre outros, estão inclusos nesta
categoria. O indicador é expresso em MJ, ou seja, exigência de energia adicional para
compensar a menor quantidade de minério no futuro.

       A estrutura do Eco-indicator 99 baseia-se no conceito de eco indicadores, que envolve a
caracterização dos efeitos ambientais, a avaliação dos danos ambientais sobre a saúde humana,
a qualidade dos ecossistemas e a degradação dos recursos naturais. Em linhas gerais, o cálculo
dos efeitos ambientais passa por três estágios: classificação e caracterização; normalização, e
valoração (GOEDKOOP; SPRIENSMA, 2001).
       O Eco-indicador é expresso em pontos (Pts). Para materiais esta unidade funcional é o
quilograma.
       Por fim, interessa conhecer as categorias ambientais do método EcoIndicator’99,
sintetizadas no Quadro 1 (CAMPBELL, 1998).
34

     Categoria
                                                         Descrição
     ambiental
                        O desenvolvimento de doenças cancerígenas é favorecido por diversas
                        intervenções ambientais, como a radioatividade, a radiação ultravioleta,
Carcinogênicos          emissões e certos compostos químicos. Esta categoria indica a probabilidade
                        que um individuo, exposto a 1 μg/m³ de uma determinada substância (por
                        exemplo, arsênio), tem de desenvolver câncer.
Efeitos Respiratórios   Estudos epidemiológicos demonstram que diversas substâncias orgânicas,
Orgânicos e             inorgânicas e material particulado estão relacionados a efeitos danosos ao
Inorgânicos             sistema respiratório em humanos.
                        São os danos à saúde humana relacionados às emissões rotineiras de
Radiação
                        substâncias radioativas ao meio ambiente.
                        Avalia a diminuição do ozônio na estratosfera, o que provoca uma menor
Camada de Ozônio        absorção da radiação ultravioleta, aumentando a sua incidência na superfície e
                        provocando o aumento de doenças humanas e desequilíbrios no ecossistema.
                        Expressa os danos causados em espécies expostas à concentração de
                        substâncias tóxicas. Os efeitos são calculados com base em dados de
Ecotoxicidade
                        toxicidade para organismos terrestres e aquáticos como microorganismos,
                        plantas, algas, anfíbios, moluscos, crustáceos, peixes e plantas.
O uso, ocupação e       Visa calcular os efeitos locais da ocupação e conversão do solo de uma área
transformação do        natural em um complexo industrial, agrícola ou populacional e a influência
solo                    dos danos sobre o decréscimo de espécies.
                        A adição de nutrientes à água ou ao solo aumenta a produção de biomassa. Na
                        água, isso conduz a uma redução na concentração de oxigênio dissolvido, o
Eutrofização
                        que afeta diversos organismos. Tanto no solo como na água, pode conduzir a
                        alterações indesejáveis no número de espécies no ecossistema.
                        A deposição ácida, resultante da emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre
Acidificação            para a atmosfera, solo ou para a água pode conduzir a mudanças na acidez da
                        água e do solo, com efeitos tanto sobre a fauna quanto sobre a flora.
                        Avalia o aumento da temperatura global devido à emissão de gases de efeito
Alterações
                        de estufa para a atmosfera. Esta categoria está relacionada a anos de vida
Climáticas
                        perdidos, destruição de recifes de corais, mudanças no ecossistema, etc.
Combustíveis
                        A categoria leva em consideração a descoberta de petróleo e a sua extração.
Fósseis
                        A categoria é expressa na massa total de minério utilizada dividida pela massa
Minerais                total de minério disponível. Seus efeitos estão relacionados à disponibilidade
                        de recursos.
Quadro 1 - Caracterização das categorias de impacto do método EcoIndicator’99 (CAMPBELL, 1998).


2.5 A SÉRIE DE NORMAS ISO 14000


        A Organização Internacional para Normalização – International Organization for
Standardization (ISO) é uma organização não-governamental sem fins lucrativos com o
objetivo de oferecer soluções que venham ao encontro das necessidades das empresas e da
sociedade, tornando os processos mais eficientes, seguros e limpos. Com sede em Genebra, na
Suíça, a ISO foi estabelecida com a missão de promover o desenvolvimento da normalização
35

de atividades correlatas em todos os países do mundo. Os trabalhos da ISO resultam em
acordos internacionais que são publicados como normas internacionais (ISO, 2006).
         A abreviação ISO não surgiu por ser a abreviatura do nome da organização e sim por ser
a derivação do vocábulo grego “ISOS” que significa igual. As séries ISO 9000 e ISO 14000
estão entre as mais conhecidas normas internacionais passíveis de certificação: a primeira, em
qualidade, e a segunda, em meio ambiente. Além de facilitar o intercâmbio internacional de
bens e de serviços, promovem a cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e
econômica (ISO, 2006).
         O Brasil é membro fundador da ISO, e nela se faz representar pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a qual promove a elaboração de normas técnicas em
diversos campos de atividade (ABNT, 2001).
         Durante a Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UNCED-Rio'92), popularmente chamada de ECO’92, realizada no Brasil, na cidade do Rio de
Janeiro, em junho de 1992, as discussões acerca do desenvolvimento sustentável
impulsionaram decisivamente a proposta da criação junto à ISO de um grupo especial para
estudar a elaboração de normas de gestão ambiental (ABNT, 2001).
         Em 1993, a ISO estabeleceu um comitê técnico para desenvolver a série de normas
internacionais de gestão ambiental, o qual dividiu o trabalho a ser desenvolvido em sete grupos,
sendo um destinado especificamente à análise de ciclo de vida e coordenado pela França. Estes
grupos de trabalho procuravam identificar normas para a formação de sistemas de
gerenciamento ambiental de forma a permitir que as organizações pudessem identificar os
problemas nos sistemas produtivos que não comprometessem o desempenho ambiental (ABNT,
2001).
         Segundo Andrade (2006), a ISO 14000 pode ser decomposta em dois grupos de
conjuntos de normas: um para a organização e outro para o produto (Fig.8). Sobre isso, Lora
(2002) afirma que a necessidade do grupo de normas voltadas para o produto se deve pela
precariedade da avaliação que se realiza nas empresas, pois os produtos podem ter impactos
ambientais negativos nas diferentes fases do seu ciclo de vida.
36




Figura 8 - Os dois grupos da ISO 14000: produtos e sistemas de gestão ambiental (VALLE, 2004).


2.5.1 A ACV na Família da Norma ISO 14040



       As normatizações da série ISO 14000 estabelecem as diretrizes da gestão ambiental
corporativa. Em se tratando de Análise do Ciclo de Vida, as normas referentes ao assunto são a
14040, 14041, 14042 e 14043, cujas idéias principais são brevemente descritas (ISO, 2006):

    14040 - Princípios e Práticas Gerais: Publicada em 1997, estabelece que a ACV deve
    incluir a definição do objetivo e o escopo do trabalho, inclusive suas abrangências e
    limitações, a análise do inventário, a análise de impacto mencionando o método a ser
    utilizado para o cálculo do impacto ambiental do produto, e finalmente a interpretação dos
    resultados.

    14041 - Análise do Inventário do Ciclo de Vida do Produto: Publicada em 1998, trata
    da fase de coleta e quantificação de todas as variáveis, ou seja, entradas e saídas envolvidas
    no estudo a ser realizado.

   14042 - Avaliação de Impactos: Publicada em 2000, trata da fase onde são avaliados os
   dados coletados na fase anterior, quanto ao seu impacto no meio ambiente, na saúde
   humana, e na utilização de recursos.
37

   14043 – Interpretação ou Avaliação de Melhorias: Publicada em 2000, define um
   procedimento sistemático para identificar, qualificar, conferir e avaliar as informações dos
   resultados do inventário do ciclo de vida, facilitando a sua interpretação. Ou seja, tem como
   objetivo principal reduzir os impactos ambientais através da identificação de diferentes
   opções para uma melhora ambiental do processo ou produto.



2.6 ETAPAS DO CICLO DE VIDA DE COMPUTADORES


       Conforme apresentado anteriormente, a ACV é considerada uma metodologia bastante
complexa, onde as bem definidas limitações do estudo são de grande importância para o
sucesso do mesmo. Com a finalidade de auxiliar na determinação destes limites, o Quadro 2
apresenta uma breve descrição das etapas do ciclo de vida de um computador.



               A maioria dos estudos de ACV considera a extração de materiais inclusa na
               fase de manufatura de produtos. Alguns estudos já realizados para análise do
               ciclo de vida de outros produtos mostram que a etapa de manufatura, seja de
Manufatura
               materiais ou do próprio produto, é bastante expressiva no que diz respeito ao
               consumo de energia, água, geração de resíduos sólidos e emissões atmosféricas
               (FAVA et al., 1993; CURRAN, 1996; DUAN et al., 2009).
               A etapa de distribuição (transporte) torna-se o conector entre todas as etapas
Distribuição
               do ciclo de vida do produto (SEO; KULAY, 2006; DUAN et al., 2009).
               Nesta etapa é considerado o consumo de energia elétrica e suas possíveis
               emissões. Uma CPU típica com monitor CRT consome 130 Watts de energia
               elétrica. Isto implica que um computador com uma configuração considerada
Utilização
               padrão, que fica ligado oito horas por dia, durante cinco dias na semana, pode
               consumir até 250 kWh de energia elétrica, que na maior parte do mundo é
               derivada de combustíveis fósseis.
               Entre os destinos possíveis, podem ser citados a recuperação da função do
               produto ou de seus componentes (reutilização), valorização dos materiais ou
               de seu conteúdo energético (reciclagem e/ou tratamento) ou ainda pode-se
Final da       optar por não recuperar, encaminhando-o diretamente para a disposição final -
Vida Útil      aterros (IPU, 1998; LUIZIO, 2004; COOPER, 2005; RODRIGUES, 2007).
               Lee et al. (2004) afirmam que o descarte prematuro dos computadores implica
               no início de um novo ciclo de consumo de materiais e energia, gerando novas
               emissões e resíduos em todas as outras etapas do ciclo de vida.
Quadro 2 - Breve descrição das etapas do ciclo de vida (FAVA et al., 1993; CURRAN, 1996; DUAN et
al., 2009).
38

2.7 OPÇÕES DE TRATAMENTO AO FINAL DA VIDA ÚTIL DE COMPUTADORES



       Seguem descritas as principais opções de tratamento aos resíduos provenientes das
peças dos computadores:

       Reutilização - extensão da vida útil: Segundo Crowe et al. (2003), as partes podem ser
reutilizadas para a mesma função anterior ou para uma nova atribuição. Em alguns casos pode
ocorrer processo de remanufatura, o que significa passar por processos que possibilitem que o
produto seja utilizado como novo (LUIZIO, 2004). Segundo Rodrigues (2007), entre as
estratégias para a redução da geração de resíduos, discute-se a questão do prolongamento da
vida útil dos bens duráveis como forma de desaceleração dos ciclos de produção, consumo e
descarte. O reuso, portanto, pode ser entendido como uma opção sustentável na fase de
descarte, uma vez que o equipamento que tenha sido reparado ou remanufaturado deixaria a
condição de resíduo, passando a ter uma segunda vida útil. Rodrigues (2007) também afirma
que o reuso de equipamentos pode ocorrer por intermédio de:
       •      Repasse informal do equipamento obsoleto dentro de uma mesma organização,
       entre familiares ou através de doações a terceiros (indivíduos, organizações sociais etc.);
       •      Venda a empresas privadas que compram os equipamentos pós-consumo para
       consertá-los e revendê-los;
       •      Remanufatura: existem empresas que se dedicam a consertar os equipamentos
       usados que passam por processos de reformulação, envolvendo a desmontagem de
       componentes e revisão, adquirindo a condição e desempenho de equipamentos novos.

     Reciclagem: É caracterizada por uma série de processos que vão desde a coleta especial
até a pré-produção dos materiais reciclados. A presença de substâncias tóxicas nos
computadores dificulta a recuperação dos materiais que possuem valor econômico, como, por
exemplo, os metais raros e preciosos, presentes em pequenas quantidades nos componentes,
que associada à dificuldade de desmontagem, torna muitas vezes a recuperação de materiais
inviável, além dos riscos de contaminação ambiental das pessoas que os manejam. As
principais preocupações ambientais são referentes às emissões e à geração de resíduos ( IPU,
1998; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009; WILLIAMS; KUEHR, 2003). De acordo com
Crowe et al. (2003), o processo de reciclagem dos computadores consiste em: desmontagem;
segregação de metais ferrosos, não-ferrosos e de plásticos; reciclagem e recuperação de
materiais com maior valor econômico; tratamento e disposição de resíduos perigosos. Devido a
39

reciclagem envolver outras fases de trabalho, optou-se por descrevê-la mais detalhadamente
(LUIZIO, 2004; CROWE et al., 2003; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009):
•       Armazenamento: Os diferentes equipamentos são pesados à chegada. Verifica-se a
proveniência da carga e o tipo de material que a compõe, preenchendo uma guia de
acompanhamento do resíduo. O material é descarregado em local específico dependendendo de
suas características;

•       Desmanufatura: Os diferentes materiais que entram na unidade são separados nas suas
diferentes categorias (ferrosos, vidros, plásticos, etc) e desmontados. – Os materiais separados
devem ser armazenados em recipientes apropriados para posterior recuperação, tratamento ou
eliminação.

•       Trituração e separação: Os diferentes materiais são levados até o triturador para
moagem e posterior separação. Na sequência, o material moído passa por esteiras equipadas
com ímãs que fazem a separação das frações ferrosas.

•       Granulação dos diferentes materiais: o material é transportado através de esteira para
dois granuladores em seqüência, cuja função é reduzir ainda mais a dimensão das partículas
para permitir uma boa separação entre os metais não ferrosos, plásticos e outros;

•       Separação dos materiais não ferrosos e plásticos: Os materiais provenientes do
segundo granulador são transportados para as mesas de separação gravimétrica onde ocorre a
separação entre partículas de densidade elevada e baixa, respectivamente cobre e alumínio e
também mistura de plásticos com cobre. O resultado desta primeira gravimetria é o cobre fino,
completamente separado. Já na segunda etapa da gravimétrica são separados o cobre e o
alumínio dos plásticos. Os diferentes materiais não ferrosos obtidos na separação são
armazenados;

•       Aspiração e eliminação de poeiras: A total aspiração e minimização de poeiras
melhora as condições de trabalho para os operadores;

•       Qualidade: Todas as fases do processo de reciclagem devem ser monitoradas por
profissionais da qualidade. Esta atividade visa controlar os seguintes aspectos:
    o   Correta separação dos materiais;
    o   Qualidade dos granulados finais;
    o   Avaliação dos produtos nocivos que necessitam de tratamento posterior;
40

       Valorização energética: Corresponde à recuperação do valor energético dos resíduos,
através do processo de incineração (LUIZIO, 2004). Trata-se de um método de tratamento de
resíduos que consiste na incineração destes, gerando combustão, onde a energia calorífica
resultante é transformada em energia elétrica. Apresenta como principais vantagens a redução
significativa do volume de resíduos e a utilização da energia produzida pelos materiais
combustíveis (CROWE et al., 2003). Porém, segundo Crowe et al. (2003), são muitas as
desvantagens da incineração dos resíduos provenientes dos eletrônicos, devido à sua
composição altamente heterogênea e de poder calorífico bem diferenciado. Crowe et al. (2003)
também aponta outro fator importante que está relacionado à alta concentração de metais
pesados nestes equipamentos, onde os resíduos provenientes da incineração devem ser enviados
para aterros especiais e os gases da combustão devem ter tratamentos especiais, o que pode
tornar o processo economicamente inviável.

       Incineração: A incineração de resíduos é bastante utilizada nos países industrializados,
devido à escassez de áreas para aterro e também à possibilidade de recuperação de energia. A
incineração deste tipo de material gera tanto emissões, quanto resíduos. Devido à variedade de
substâncias contidas nestes produtos poderão ocorrer efeitos nocivos específicos durante a
incineração. Um exemplo disso ocorre com o cobre, que funciona como catalisador, e aumenta
o risco de formação de dioxinas quando os retardadores de chama contidos nos plásticos das
peças dos computadores são incinerados. Este aspecto é especialmente preocupante uma vez
que a incineração de retardadores de chama bromados mesmo a baixas temperaturas pode levar
à produção de dibenzodioxinas polibromadas (PBDD) e dibenzofuranos polibromados (PBDF)
extremamente tóxicos (LUIZIO, 2004; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009; WILLIAMS;
KUEHR, 2003);

       Disposição final: Componentes ou materiais que não são recuperados ou valorizados
através das opções anteriores são encaminhados a um local de destinação final: aterros de
resíduos urbanos ou, lixões. O perigo maior se concentra nos aterros não controlados, devido ao
risco de lixiviação de metais e outras substâncias químicas para o solo e lençóis subterrâneos,
ou então a evaporação de substâncias perigosas (GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009).
41

2.7.1Gerenciamento dos Resíduos de Computadores na Comunidade Internacional e no Brasil


        Na China o sistema de reciclagem não se presta exclusivamente aos resíduos
eletrônicos. Um problema grave naquele país é a prática ilegal de recebimento dos despejos
vindos de países ricos, principalmente dos Estados Unidos, que justifica o envio de seus
computadores obsoletos com o propósito da inclusão digital. Tal prática, na verdade, trata-se de
uma atividade mal intencionada, pois é uma forma barata de “resolver” a questão (CROWE et
al., 2003).
        Uma vez que os computadores se encontram sob a responsabilidade de um novo país, os
problemas que os acompanham passam a pertencer também a este país (BEIRIZ, 2005). Sem
legislação própria e subsídios para tratar de um resíduo caro e tóxico, este acaba sendo
reciclado com métodos primitivos causando graves problemas ambientais e na saúde da
população. Conforme descreve Carrol (2008), o desmantelamento dos componentes é feito de
forma manual, geralmente por crianças e mulheres sem nenhuma proteção. O que tem valor
comercial é vendido e o restante acaba sendo queimado, agravando a situação.
        Na Índia, a maior parte dos resíduos provém dos fabricantes e, da mesma forma que na
China, o trabalho é manual sem qualquer proteção e ferramentas específicas, geralmente
envolvendo mulheres e crianças. O destino também é o mesmo: o que não pode ser vendido é
queimado a céu aberto ou depositado em aterros (CARROL, 2008). O procedimento
inadequado adotado nestes países para recuperar os metais, faz com que componentes tóxicos
como o cádmio e o mercúrio contaminem água, solo e ar.
        Os países da União Européia, por sua vez, decidiram implementar medidas destinadas a
prevenir a produção destes resíduos e a fomentar a reutilização, reciclagem e outras formas de
valorização, com vista à redução da quantidade e, ao mesmo tempo, melhoria dos resultados
ambientais dos agentes econômicos envolvidos na gestão desses resíduos. Estas medidas fazem
parte da diretiva WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment), doravante denominado
Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, que torna os fabricantes responsáveis pelo ciclo
de vida dos seus produtos, arcando com os custos de coleta seletiva, transporte, tratamento e
reciclagem destes resíduos (CE, 2004).
        A diretiva também obriga as indústrias a agirem em duas frentes: reduzir a toxicidade
dos produtos e desenvolver métodos para um pós-uso eficaz. Os fabricantes são responsáveis
por seu produto até o fim da vida útil e devem garantir um processo de reciclagem limpo e
eficiente (CE, 2004).
42

         Nos Estados Unidos, a diversidade de iniciativas políticas sobre REEEs (Resíduos de
Equipamentos Eletroeletrônicos), reforça a complexidade da relação entre Federação-estado.
Alguns estados estão mais adiantados com a legislação local, proibindo o aterramento e
incineração desses resíduos ou elaborando políticas sobre a responsabilidade estendida do
produtor, incluindo uma taxa de eliminação paga antecipadamente pelos consumidores no
momento da aquisição de novos produtos (SHEEHAN; SPIEGELMAN, 2005).
         No Japão, um alto índice de inovações foi registrado na produção de eletrônicos e no
tratamento de resíduos antes mesmo da promulgação das diretivas européias. A produção de
eletrônicos com solda livre de chumbo data do início dos anos 90 e teve êxito graças à criação
de uma rede de inovação que cobre instituições diversas, como universidades, institutos de
pesquisa e associações industriais. Estas inovações incluem medidas para a redução dos
impactos ambientais através da redução de substâncias perigosas, eficiência no uso de recursos
e reciclabilidade, eficiência energética, redução do uso de materiais através da miniaturização e
o prolongamento da vida útil do produto via reuso de componentes (BEIRIZ, 2005).
         No Brasil, pesquisas realizadas por algumas organizações não governamentais como o
Instituto Metareciclagem e o Comitê para a Democratização da Informática (CDI, 2009),
revelam que parte dos resíduos eletrônicos ainda é enviada para aterros e lixões. Há também
uma deficiência adicional, representada pelas oportunidades de reciclagem que ainda são
desperdiçadas.
         O destino do resíduo especial também depende da política de cada município, e, na
maior parte do país, existem falhas no tratamento e na disposição final (CDI, 2009). De acordo
com Jordão (2010), apenas 10% dos computadores comercializados são devolvidos aos
fabricantes, ONG’s ou pontos de coleta. Estes são sucateados, doados ou vendidos para
empresas especializadas em resíduos eletrônicos, as quais realizam a desmontagem, a moagem
dos materiais passíveis de reciclagem e posterior venda para fornecedores de matéria-prima.
         Ainda segundo Jordão (2010), quanto às partes de um computador que possuem
componentes eletrônicos como placas-mãe, estas são enviadas à Europa para reciclagem e
separação dos metais presentes na composição. Esta atividade não é realizada no Brasil por não
possuir tecnologia adequada. Esta rota percorrida pelo resíduo eletrônico pode ser observada na
Fig.9.
43




Figura 9 – Rota dos resíduos provenientes de computadores na sua destinação final – Situação brasileira
(Adaptado de JORDÃO, 2010).


2.7.2 Implicações Sociais e Políticas Sobre o Gerenciamento de Resíduos Eletrônicos


       A Comunidade Européia preocupa-se com resíduos contendo substâncias perigosas
desde os anos 70 e promulgou, em 2003, dois regulamentos importantes para tratar do
problema: a Diretiva 2002/96/CE sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (WEEE) e
a Diretiva 2002/95/CE sobre a Restrição do Uso de Substâncias Perigosas (Restriction of
Hazardous Substances - RoHS) (CE, 2004). Essas exigências incorporam a responsabilidade do
produtor (produtor, distribuidor ou importador) e têm impactos globais.
       Em vigor desde 2006, a Diretiva Européia sobre Resíduos de Equipamentos
Eletroeletrônicos (WEEE) tem como objetivo prevenir e diminuir os resíduos de uma lista de
equipamentos eletroeletrônicos selecionados segundo o estágio corrente de análise científica.
Fundamenta-se nos princípios do poluidor-pagador, da precaução e da responsabilidade
estendida do produtor. A responsabilidade do produtor está associada às etapas de coleta
seletiva, tratamento, recuperação e reciclagem (GREEN ELECTRONICS COUNCIL. 2009).
       A Convenção de Basiléia aborda o controle de movimentos transfronteiriços de resíduos
perigosos e seu depósito, regulamentando internacionalmente a circulação internacional de
resíduos perigosos entre os países signatários. Este acordo surgiu no início de 1981 sob os
auspícios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em Montevidéu,
e em seguida, na reunião do Cairo sobre gerenciamento seguro de resíduos perigosos. Em 1989,
foi adotada e reconhecida como um documento de referência mundial.
       A Convenção deve ser um instrumento que represente o esforço internacional para
eliminar o trânsito de resíduos com periculosidade ambiental (ZIGLIO, 2005).
44

       No Brasil ainda não há uma legislação específica para tratamento e gerenciamento de
resíduos perigosos - apenas ações isoladas de estados e municípios. No tocante às normas
ambientais sobre resíduos perigosos destacam-se as provenientes do CONAMA que devem ser
respeitadas enquanto leis federais. Mais especificamente, pode-se citar a Resolução nº 257 para
a destinação de pilhas, baterias e lâmpadas (CONAMA, 1999).
       Recentemente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) decidiu realizar
estudos e regulamentar o descarte de resíduos eletrônicos. Esta regulamentação será estruturada
através da ajuda de três grupos formados por fabricantes, importadores e distribuidores;
transportadores e recicladores; governo, meio acadêmico e organizações não governamentais.
Depois de concluídos os trabalhos no segundo semestre de 2010, os estudos serão enviados
para a Câmara Técnica e uma vez aprovada, finalmente será votada no Plenário do Conselho
(AGÊNCIA BRASIL, 2010).
       No estado do Paraná, foi aprovada no ano de 2008, a Lei Estadual 18.851/08, que obriga
as empresas produtoras, distribuidoras e as que comercializam equipamentos de informática a
cuidarem da destinação final dos equipamentos comercializados por elas no final de sua vida
útil, dando-lhes uma destinação adequada. Os fabricantes devem emitir nota de entrada dos
resíduos, sendo uma das vias encaminhada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente para
controle e fiscalização. Além disso, as empresas devem promover campanhas educativas
esclarecendo os usuários sobre os riscos para o meio ambiente se estes materiais forem
lançados em locais impróprios (OBSERVATÓRIO DA INDÚSTRIA, 2008).



2.8 LOGÍSTICA REVERSA


       O aumento da preocupação com o meio ambiente vem criando importância na
reutilização dos materiais e conseqüentemente na formação de um ciclo que passa pelo
consumidor e chega novamente no fornecedor. O gerenciamento desse caminho inverso dos
materiais, ou seja, o retorno do produto é chamado de logística reversa (STOCK, 1998,
DYCKHOOF et al., 2004).
       Leite (2003) comenta que a Logística Reversa surge como importante ferramenta no
gerenciamento integrado dos resíduos sólidos e possibilita que os materiais, antes depositados
em aterros sanitários ou em lixões, sejam reintroduzidos na cadeia de produção. Também
afirma que, depois de algumas evoluções nos conceitos, tornou-se uma área da logística
45

empresarial que administra os fluxos e as informações correspondentes ao retorno dos bens na
fase pós-venda ou pós-consumo.
       Muitos a vêem como uma forma de obtenção de lucro direta e indireta. Devido à recente
e maior atenção dada à preocupação com o meio ambiente, as empresas estão adquirindo uma
nova visão de marketing social, ambiental e principalmente de responsabilidade empresarial,
por terem consciência que, mesmo involuntariamente, acabam poluindo e causando danos ao
meio-ambiente (LEITE, 2003).
       Portanto, o objetivo estratégico desta logística é agregar valor a um produto que não é
mais utilizado pelo usuário original, mas que possui condições de ser reutilizado, ou a um
produto descartado por ter atingido o fim de sua vida útil. Desta forma, a Logística Reversa
acrescenta três movimentações potenciais à logística da cadeia de suprimentos: a reutilização
dos produtos, a recuperação de produtos e a reciclagem de materiais – que podem significar a
redução de recursos em um sistema e representar um caminho para retorno e reuso de resíduos
gerados. Essa é uma importante ferramenta no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos
permitindo a reintrodução dos materiais na cadeia de produção (LEITE, 2003).
       Dowlatshahi (2000) cita como determinante do sucesso de uma cadeia reversa, além dos
objetivos estratégicos, os objetivos operacionais, envolvendo a execução prática dos processos
ao longo da cadeia reversa: análise custo/benefício, transporte, estoque, gerenciamento de
suprimentos, remanufatura/reciclagem e embalagem.
       O aumento da consciência ambiental dos consumidores e as tendências legislativas
ambientais impelem as empresas a serem cada vez responsáveis por todo o ciclo de vida do seu
produto. Desta forma o desenvolvimento da Logística Reversa é um atraente incentivo para a
sustentabilidade dos recursos, permitindo que mais bens e serviços sejam produzidos aliados a
menor impacto sobre o meio ambiente (LEITE, 2003).



2.9 A REUTILIZAÇÃO COMO MEIO DE PROLONGAR A VIDA ÚTIL DOS
COMPUTADORES


       As políticas ambientais orientadas para o produto estão focadas na etapa de fim de vida
dos produtos, exigindo sistemas de elevada qualidade para a sua reutilização e reciclagem. Ao
mesmo tempo em que os destinos convencionais, como a incineração e deposição em aterro, se
revelam cada vez menos apropriados, devido ao aumento dos seus custos e às imposições legais
(SPIES; WUCKE, 2004).
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Análise do Ciclo de Vida de Computadores

  • 1. UNIVERSIDADE POSITIVO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO AMBIENTAL AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES E O PROLONGAMENTO DA VIDA ÚTIL COMO ALTERNATIVA AMBIENTAL CURITIBA Junho 2010
  • 2. MIRIELI A. ZANETTI AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES E O PROLONGAMENTO DA VIDA ÚTIL COMO ALTERNATIVA AMBIENTAL Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão Ambiental do curso de mestrado Profissional em Gestão Ambiental, Universidade Positivo (UP). Orientador: Prof. Paulo R. Janissek Co-Orientador: Prof. Maurício Dziedzic CURITIBA Junho 2010
  • 3. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus que me deu inspiração e força para a realização do mestrado e pelas oportunidades de crescimento e experiências que tenho vivido. Ao Prof. Paulo Janissek, meu orientador, por me acompanhar e auxiliar, com sua sabedoria, experiência, recomendações, carinho e paciência durante o mestrado e a realização deste trabalho. Ao Prof. Maurício Dziedzic, co-orientador deste trabalho e coordenador do curso, por suas importantes contribuições, orientação e confiança em mim depositados. Registro minha gratidão à Universidade Positivo pela oportunidade concedida com a bolsa integral para a realização do Mestrado. Aos membros da banca, Profa. Selma Cubas, Prof. Klaus Dieter e Prof. George Kaskantis, por suas valiosas sugestões para a melhoria deste trabalho. Ao Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo pela oportunidade, seriedade e qualidade, traduzidas nos seus professores e funcionários, em especial às funcionárias, Juliane Poletto e Gislaine Otto que sempre estavam dispostas em ajudar com toda a dedicação possível. A todos os colegas do curso: Damaris, Guilherme, Noele, Adriana e Viviane pelas suas contribuições com conhecimentos, apoio e amizade ao longo das disciplinas. Quero agradecer especialmente à amiga Alessandra Tulio, pelos momentos alegres e difíceis que passamos juntas. Agradeço de forma especial às minhas amigas Meri, Rafaela e Sirlei pelos momentos de descontração, pela força, paciência, conselhos, preocupação com o meu bem estar, pelo ombro amigo nos momentos difíceis e pela torcida para que esta etapa fosse concretizada. Também agradeço a valiosa colaboração da amiga Simone pela disposição em me ajudar sempre que precisei de um auxílio operacional e ao amigo Anderson sempre disposto a acompanhar o desenvolvimento do trabalho e me ajudar a organizar as idéias. Minha gratidão ao amigo Charles Dalla Costa, pelo incentivo, pela compreensão e ajuda nas horas de ausência no trabalho, pela amizade e pelas nossas ricas discussões sobre a pesquisa e outros temas. Também agradeço à Positivo Informática pelas informações e visitas disponibilizadas para que este estudo fosse viabilizado e principalmente aos colegas do projeto ACV que hoje são meus queridos amigos, o casal John Smith (Mário) e Pocahontas (Fernanda) e o Júlio Neto com toda a sua experiência. Também agradeço de forma especial a Prof.ª Cíntia, pelos
  • 4. ensinamentos, pelas críticas e sugestões e principalmente pelas palavras de conforto e incentivo. Aos funcionários e colegas da Universidade Positivo, que de uma forma ou de outra me ajudaram na construção deste trabalho e pelas informações disponibilizadas que foram de grande valia para este estudo. Minha gratidão também se estende àquelas pessoas mais importantes em minha vida, minha família: Aos meus pais, Angelo e Sueli, que me ensinaram a ter disciplina, esforço e dedicação desde as mais simples tarefas às mais importantes. Que me ouviram chorar e desabafar e que sempre tinham palavras de conforto e incentivo. Obrigada pelo apoio e amor incondicional. Aos meus queridos irmãos Adriângela e Gustavo, pela ajuda, companheirismo e descontração. Vocês são muito especiais e tornam a minha vida muito mais feliz! Também quero agradecer a Márcia, Poliana, Luciano e Maurício pelo incentivo, carinho e torcida para que este objetivo fosse alcançado! Ao meu esposo Romulo, pelo amor e paciência nos momentos de ausência, que foram muitos. Pelas críticas, por me ajudar a expandir os horizontes, por questionar as minhas idéias e descobertas fazendo com eu as aprimore, por contribuir com sua criatividade e conhecimento na elaboração deste trabalho. E principalmente, por me levar a acreditar que eu posso ser muito maior do que penso que sou. De uma forma geral, agradeço a todos que me fizeram acreditar que no final tudo daria certo! “Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei nos ombros de gigantes” (Sir Isaac Newton)
  • 5. RESUMO As evoluções tecnológicas têm gerado preocupação ambiental sob a ótica holística do ciclo de vida dos computadores. Estes por sua vez, têm se destacado devido aos impactos ocasionados pela significativa produção e a breve vida útil. Estima-se para os computadores um tempo médio de vida de dois a quatro anos, contribuindo para o incremento na geração de resíduos. Esta rápida obsolescência é decorrente de inovações tecnológicas e fatores sociais, como a criação de novas necessidades e desejos. Em todo o ciclo de vida dos computadores são consumidos recursos naturais como água e energia, além de serem gerados outros impactos relacionados às substâncias tóxicas presentes na composição destes produtos. Assim, devem ser encontradas alternativas que minimizem os problemas gerados, visto que a eliminação total do problema é altamente improvável. O objetivo do presente trabalho é analisar os impactos ambientais dos computadores através da metodologia de Análise do Ciclo de Vida, utilizando o programa computacional SimaPro®, e propor alternativas para minimizá-los. Uma das alternativas detalhadas no trabalho é o gerenciamento de computadores na Universidade Positivo (UP), executado para maximizar a vida útil dos computadores existentes. Em decorrência do programa de gerenciamento de computadores que visa a reutilização, ocorre a redução da aquisição de equipamentos novos, evitando também a geração de resíduos. O estudo ACV indicou que impactos ambientais significativos são gerados na fase de utilização, decorrentes da utilização de energia elétrica e da geração de resíduos provenientes das peças dos computadores. Os resultados indicaram que, para situações de uso diversificado e em grande número, é possível maximizar a vida útil dos equipamentos de informática sem prejudicar o desempenho, pela classificação e configuração específicas para atender as necessidades, classificadas na UP em três níveis de desempenho. Como conseqüências da aplicação do programa, a vida útil foi estendida para seis anos, a aquisição de equipamentos novos no período estudado (2005 – 2009) foi apenas 50% do número total de computadores, e foi possível evitar a geração de 28 t de resíduos eletrônicos. Ao final do ciclo, grande parte dos equipamentos de informática é doada para associações beneficentes ou vendida a preço simbólico para funcionários. Assim, além dos ganhos ambientais, é possível contabilizar ganhos econômicos e sociais. Palavras Chave: computadores, ciclo de vida, impactos ambientais, gerenciamento, prolongamento da vida útil.
  • 6. ABSTRACT Technological evolution has raised an environmental concern, in particular when a product’s life cycle is considered. The environmental impact of computers is of special importance in this regard, due to their significant production and short life time. The average life time of a computer is between two and four years, with this short period caused being due to fast technological innovation and social aspects, such as market-induced needs and desires. During the full life cycle of a computer, non-renewable-resources, water, and energy are consumed. Additional impacts arise due to the disposal of toxic substances present in the product’s composition. Thus, alternatives must be sought which minimize the environmental problems, since their full elimination is almost impossible. The aim of the present work is to access a computer’s environmental impact using life cycle analysis (LCA) methodology. The LCA studies were carried out with the help of the SimaPro™ software package. A critical review of available alternatives to reduce the impact of computers is also presented. The Universidade Positivo (UP) computer management program, developed to increase the useful lifetime of computers is presented as a case study. The aim of this program is to reduce the acquisition of new equipment, and, as a consequence, avoid electronic waste generation. The LCA indicates that significant environmental impacts are generated during the use of a computer, due to the electricity demand. The UP computer management program is an alternative to reduce the impacts on the production and disposal phase. The results indicate that it is possible to increase the equipment lifetime, ensuring the adequate equipment performance, according with the specific needs. As consequence, the computer average time was extended to 6 year, the new equipments acquisition represents only 50% of the total number in the period evaluated (2005 – 2009) and 28 t. of electronic waste were avoided. At the end of cycle, computer and related equipments are donated for social institutions or sell to the employers at symbolic price. In addition to reduce environmental impacts and exploitation of resources, economic and social benefits are achieved. Key words: computers, life cycle, environmental impacts management, lifetime extension.
  • 7. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - A evolução dos computadores 20 Figura 2 - Estratégias do eco-projeto 23 Figura 3 - Quatro níveis do eco-projeto 24 Figura 4 - Etapas do ciclo de vida dos produtos 25 Figura 5 - Estrutura da avaliação do ciclo de vida 28 Figura 6 - Inventário do ciclo de vida 29 Figura 7 - Representação gráfica da árvore de processos fornecido pelo programa 32 SimaPro Figura 8 - Os dois grupos da ISO 14000: produtos e sistemas de gestão ambiental 36 Figura 9 - Rota dos resíduos provenientes de computadores na sua destinação 43 final – Situação brasileira Figura 10 - Os componentes que fazem parte de um computador e os materiais 47 presentes na sua composição Figura 11 - Estágios do ciclo de vida de um computador 55 Figura 12 - Identificação das etapas da ACV de maior impacto ambiental e as 56 pontuações atribuídas a cada uma delas Figura 13 - Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes de 57 um computador nas três principais categorias de danos: saúde humana, ecossistema e recursos Figura 14 - Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes da 59 CPU Figura 15 - Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes do 59 monitor CRT Figura 16 - Pontuações aos impactos ambientais causados pelos componentes do 60 monitor LCD Figura 17 - Esquema representativo da metodologia ACV aplicada ao trabalho 63 desenvolvido Figura 18 - Visão Macro ACV: Representação esquemática do Ciclo de Vida de 84 um Computador, indicando o impacto ambiental relativo às principais etapas: Manufatura (fabricação/montagem), distribuição, utilização (usuário) e final da vida útil Figura 19 - Principais contribuições de impacto ambiental das partes de um 85 computador utilizando monitor CRT 15” Figura 20 - Principais contribuições de impacto ambiental das partes de um 85 computador utilizando monitor LCD 15”
  • 8. Figura 21 - Figura 21 – Principais contribuições de impacto ambiental dos componentes 86 do desktop (CPU) Figura 22 - Etapa de utilização e suas contribuições às três principais categorias de 87 impactos no ciclo de vida do computador Figura 23 - Etapa de utilização e suas contribuições de impactos ambientais aos 88 fatores de caracterização Figura 24 - Impactos ambientais na etapa de final da vida útil em relação às opções 89 de destinação final Figura 25 - Alternativas para calços e embalagens usadas pelas empresas HP e 93 Figura 26 - Itautec Figura 27 - Informações da HP sobre seu programa de reciclagem de produtos 95 Figura 28 - Educação ambiental - perguntas e respostas da Dell 95 Figura 29 - Fluxograma dos processos de aquisição, reutilização e destinação dos 99 computadores da UP Figura 30 - Quantidades de computadores novos, reutilizados e removidos no 101 período de 2005-2009 da UP Figura 31 - Médias (%) em relação ao total dos computadores que sofreram 102 alterações no período de 2005-2009 para as alternativas de reuso, remoção e aquisição de novos computadores na UP Figura 32 - Relação entre a taxa de crescimento do número de computadores e a 102 taxa de crescimento do número de alunos no período de 2004 a 2009 Figura 33 - Pontuação atribuída às três principais categorias de impactos: danos à 106 saúde humana, qualidade do ecossistema e utilização dos recursos resultantes da comparação entre um computador com a vida útil estendida e um computador que não teve sua vida útil estendida sendo substituído Figura 34 - Calculadora de impactos ambientais relacionada ao consumo de 111 energia
  • 9. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Percentual da composição e índice de reciclabilidade dos materiais 50 presentes em um computador Tabela 2 - Dados toxicológicos das substâncias perigosas na composição de um 52 computador e seus limites permissíveis para a saúde humana Tabela 3 - Pontuação atribuída às principais contribuições de impactos causadas 58 pelas partes de um computador Tabela 4 - Listagem dos resíduos gerados no ano de 2008 na fábrica da Positivo 75 Informática e suas respectivas massas Tabela 5 - Resultados obtidos com a coleta de dados durante o inventário para 76 posterior abastecimento do programa SimaPro Tabela 6 - Composição e massa de uma Placa de Circuito Impresso - PCB 77 Tabela 7 - Composição e massa de um Teclado 78 Tabela 8 - Composição e massa de um Disco Rígido - HD 78 Tabela 9 - Composição e massa de um Monitor CRT 15” 80 Tabela 10 - Composição e massa de um Monitor LCD 15” 81 Tabela 11 - Comparação entre as médias das massas (g) obtidas com as pesagens 82 na fábrica e as massas (g) apresentadas pela literatura Tabela 12 - Comparação entre as massas (g) de um computador fabricado em 1998 e 83 outro fabricado em 2008 e as diferenças observadas Tabela 13 - Algumas características dos laboratórios de informática da UP (dados 96 de 2009) Tabela 14 - Aquisições, reutilizações e remoções de computadores na UP no 100 período de 2005 a 2009 Tabela 15 - Simulação das quantidades de resíduos provenientes de computadores 104 removidos e reutilizados no período de 2005 a 2009 Tabela 16 - Média das tensões dos computadores com monitor CRT e LCD 107 Tabela 17 - Dados para o cálculo do consumo de energia com monitores CRT e 108 LCD Tabela 18 - Estimativas do consumo de energia entre PCs com monitor CRT e PCs 109 com monitor LCD e as diferenças de consumo, custos e emissões
  • 10. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Caracterização das categorias de impacto do método EcoIndicator’99 34 Quadro 2 - Breve descrição das etapas do ciclo de vida 37 Quadro 3 - Substâncias presentes na composição de um computador e seus 51 possíveis danos à saúde humana Quadro 4 - Substâncias restritas, valor máximo de concentração por material 53 homogêneo Quadro 5 - Representação resumida da estruturação do trabalho 62 Quadro 6 - Alternativas mitigadoras aos impactos nas diferentes etapas da ACV 90 Quadro 7 - Possíveis substituições às substâncias RoHS 92 Quadro 8 - Alguns destaques e exemplos de ações sócio-ambientais 94 Quadro 9 - Estudo técnico dos requisitos recomendáveis de hardware 97
  • 11. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ABINEE - Associação Brasileira da Indústria de Elétricos e Eletrônicos ACV – Análise do Ciclo de Vida ATSDR – Agência Americana de Registro de Substâncias Tóxicas e de Doenças CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CDI - Comitê para a Democratização da Informática CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CPU - Unidade central de processamento CRT - Tubos de raios catódicos DC - Corrente Contínua DfE - Projeto para o Meio Ambiente DI – Departamento de Informática EPA - Agência de Proteção Ambiental Americana FEP – Ficha de Expedição de Produto FGV - Fundação Getúlio Vargas GANA - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental IPC – Normas para Fabricação e Montagem de Placas de Circuito Impresso ISO – Organização Internacional para Padronização LCD - Tela de Cristal Líquido LCI - Inventário do Ciclo de Vida MRI – Instituto de Pesquisa de Midwest (EUA) NBR – Normas Brasileiras PC – Computador Pessoal PCI – Placa de Circuito Impresso PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente REEE – Resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos ROHS - Restrição do Uso de Substâncias Perigosas SETAC – Sociedade de Química e Toxicologia Ambiental SGA - Sistema de Gestão Ambiental UNCED - Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento UP – Universidade Positivo WEEE - (Diretiva de) Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos
  • 12. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 14 1.2 OBJETIVOS 17 1.2.1 Objetivo Geral 17 1.2.2 Objetivos Específicos 17 2. REVISÃO DE LITERATURA 18 2.1 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS COMPUTADORES 18 2.2 OS COMPUTADORES E AS QUESTÕES AMBIENTAIS 21 2.2.1 Eco-projeto 21 2.2.1.1 Estratégias e Práticas do Eco-projeto 22 2.2.1.2 Os Quatro Níveis do Eco-projeto 24 2.3 DEFINIÇÃO E METODOLOGIA DA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA 25 2.3.1 Histórico da Análise do Ciclo de Vida – ACV 27 2.4 A FERRAMENTA SIMAPRO 31 2.4.1 A Base de Dados Ecoinvent 32 2.4.2 O método EcoIndicator’99 32 2.5 A SÉRIE DE NORMAS ISO 14000 34 2.5.1 A ACV na Família da Norma ISO 14040 36 2.6 ETAPAS DO CICLO DE VIDA DE COMPUTADORES 37 2.7 OPÇÕES DE TRATAMENTO AO FINAL DA VIDA ÚTIL DE 38 COMPUTADORES 2.7.1 Gerenciamento dos Resíduos de Computadores na Comunidade Internacional 41 e no Brasil 2.7.2 Implicações Sociais e Políticas Sobre o Gerenciamento de Resíduos 43 Eletrônicos 2.8 LOGÍSTICA REVERSA 44 2.9 A REUTILIZAÇÃO COMO MEIO DE PROLONGAR A VIDA ÚTIL DOS 45 COMPUTADORES 2.10 OS MATERIAIS PRESENTES NA COMPOSIÇÃO DE UM 46 COMPUTADOR E SEUS PERIFÉRICOS
  • 13. 2.10.1 A Composição de um Computador e seus Possíveis Danos à Saúde Humana 49 2.11 A DIRETIVA RoHS 53 2.12 IMPACTOS AMBIENTAIS NO CICLO DE VIDA DE UM COMPUTADOR 54 2.12.1 Identificação dos Impactos Ambientais nas Etapas do Ciclo de Vida de um 55 Computador 3. METODOLOGIA 62 3.1 ESCOPO E OBJETIVOS DO TRABALHO 64 3.1.1 Local do Estudo ACV 64 3.1.2 Local do Estudo de Caso 64 3.2 ANÁLISE DO INVENTÁRIO: COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS 65 3.2.1 Coleta e Tratamento dos Dados – ACV 65 3.2.2 Coleta e Tratamento dos Dados – Estudo de Caso 69 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 72 4.1 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DOS COMPUTADORES 72 4.1.1 Dados Utilizados 72 4.1.2 Composição e Massa dos Componentes de um Computador 76 4.1.2.1 Pesagens dos Componentes de um Computador para Obtenção da Massa 82 4.1.3 Avaliação dos Impactos pelo Programa SimaPro 83 4.1.3.1 Ciclo Completo 83 4.1.3.2 Desdobramento das Etapas do Ciclo de Vida de um Computador 84 4.1.4 Avaliação de Melhoria: Análise das Alternativas 90 4.1.4.1 Alternativas para Substituição de Materiais nos Computadores 91 4.1.4.2 Alternativas para embalagens e calços 92 4.1.4.3 Ações Socioambientais das Fabricantes de Computadores 93 4.2 PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS COMPUTADORES DA UP 96 4.2.1 Dados Utilizados 96 4.2.2 Dados Relevantes 96 4.2.3 Detalhamento Sistemático do Programa de Gerenciamento de Computadores 97 da UP 4.2.4 Contabilização dos Ganhos 99
  • 14. 4.2.4.1 Contabilização dos Ganhos Ambientais do Programa 103 4.2.4.2 Contabilização dos Ganhos Sociais e Econômicos do Programa 104 4.2.5 Validação da Reutilização como Alternativa Indicada 105 4.2.6 Sugestões de Melhoria ao Programa de Gerenciamento de Computadores da 107 UP 4.2.6.1 Ferramenta de Apoio à Educação Ambiental: Calculadora de Impactos 110 Ambientais 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 112 REFERÊNCIAS 115 ANEXO I 124 ANEXO II 128 ANEXO III 130 ANEXO IV 132 ANEXO V 134 ANEXO VI 192
  • 15. 14 1 INTRODUÇÃO As evoluções tecnológicas, mais especificamente aquelas relacionadas aos sistemas de informação e seus recursos, têm gerado grande preocupação ambiental devido, principalmente, aos impactos ocasionados pela significativa produção e a breve vida útil dos equipamentos, que apesar de projetados inicialmente como bens de consumo duráveis, têm se tornado obsoleto muito rapidamente, provocando grande incremento na geração de resíduos (WIDMER et al., 2005). Estimativas de entidades de defesa do meio ambiente e de empresas de consultoria ligadas ao setor de informática mostram que, em países desenvolvidos, o tempo médio de vida de um computador é de aproximadamente dois anos, antes da troca por um modelo mais novo. No Brasil, a troca não é tão constante, pois estudos apontam que os computadores são mantidos por até quatro anos nas empresas e por uma média de cinco anos pelos consumidores domésticos (COTTA et al., 2008). Mas a tendência é a redução desses prazos, devido ao aumento nas vendas dos produtos eletrônicos, influenciado por uma prática de marketing global baseada na lógica do mercado captalista: criar novas necessidades e desejos (COOPER, 2005; KOTLER, 2006). Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Elétricos e Eletrônicos (ABINEE, 2009), no terceiro trimestre de 2009 o mercado brasileiro de Computadores Pessoais (PC’s) movimentou dois milhões de unidades, registrando crescimento de 8,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior e três milhões no quarto trimestre de 2009, apesar da crise financeira global. No total foram 11,2 milhões de computadores vendidos no ano de 2009, apresentando uma queda de 6,4% em relação ao fechamento nas vendas de 2008. De acordo com as previsões da ABINEE (2009), em 2011, é possível que 15,8 milhões de unidades sejam comercializadas. Os desktops devem representar 45% do mercado, ao passo que os notebooks responderão pelos 55% restante. A chamada obsolescência planejada na indústria da tecnologia da informação ocorre de forma sinérgica entre os setores do hardware e do software, pois novos programas como aplicativos ou sistemas operacionais requerem configurações mais robustas e avançadas como requisitos mínimos para o seu funcionamento. Desta forma, a obsolescência do hardware é impulsionada por upgrades de softwares cada vez mais sofisticados de forma a sucateá-los e substituí-los por modelos mais novos a fim de garantir as margens de lucro para ambos os
  • 16. 15 setores. Isso acaba por gerar toneladas de resíduos eletrônicos e conseqüentemente, problemas ambientais difíceis de serem solucionados (SANDBORN, 2007). Este consumo exagerado que proporciona a rápida substituição e obsolescência dos produtos, tem contribuído para a aceleração da degradação ambiental, seja através do surgimento de novos produtos, tornando os atuais rapidamente ultrapassados, ou através da necessidade real de substituição. Em conseqüência deste processo, ocorre a contínua extração de matéria-prima para a produção de bens que serão descartados muito antes de terem esgotado seus recursos de uso. Entretanto, pouca atenção tem sido dada às conseqüências da degradação ambiental decorrente dessa lógica e uma possível reversão deste quadro requer uma profunda revisão nos valores que regem a sociedade (RODRIGUES, 2007). As preocupações ambientais também se estendem aos impactos gerados pelos resíduos de eletroeletrônicos que são descartados sem tratamento adequado. Este tipo de resíduo é nocivo ao meio ambiente e à saúde humana, pois apresentam metais pesados e outras substâncias perigosas na sua composição, que se não tratados de forma adequada, podem comprometer o solo, as águas superficiais e subterrâneas, além de afetar a flora e a fauna. Porém, não somente o descarte prematuro ocasiona danos ambientais, mas todo o ciclo de vida dos equipamentos eletroeletrônicos, pois nos processos envolvidos, desde a extração de matérias primas, produção e uso destes bens, até seu descarte, são consumidos recursos naturais não renováveis, água e energia, gerando impactos relacionados às emissões de substâncias tóxicas em todas as etapas (WIDMER et al., 2005; TURNER; CALLAGHAN, 2006). Contudo, a mesma publicidade global que por um lado gera novas necessidades e desejos, tem contribuído para fomentar uma nova necessidade: a de produtos sustentáveis. Ser sustentável nunca esteve tão em voga, o que influencia a decisão de compra dos novos consumidores, aqueles preocupados com as questões socioambientais. Desta forma, cria-se uma nova consciência coletiva, forçando o mercado a atender essas novas exigências, tornando a sustentabilidade um critério competitivo (COOPER, 2005). Diante deste panorama, merecem destaque as ações da iniciativa pública e privada que possibilitam a diminuição do problema, tendo em vista que a solução completa é improvável em curto prazo, pois a utilização de equipamentos eletroeletrônicos continuará a sua tendência de crescimento. As soluções viáveis são a produção mais limpa, o prolongamento da vida útil, a utilização de materiais e tecnologias que permitam o reaproveitamento e/ou a reciclagem dos componentes ao final da vida útil e a orientação ao consumo ambientalmente responsável que motive a escolha desses produtos. Portanto, torna-se evidente a necessidade de se avaliar não
  • 17. 16 somente uma parte do problema, mas, toda a cadeia: concepção, produção, uso, final da vida útil. Além disso, vem ganhando força uma visão holística dos impactos ambientais decorrentes de todas as fases do processo (ciclo de vida), em conseqüência do desenvolvimento de ferramentas e metodologias voltadas à avaliação e redução destes danos. Uma das metodologias utilizadas é a Análise do Ciclo de Vida (ACV), que contempla todo o processo de fabricação do produto, desde a retirada da matéria prima até a destinação final após o uso. Estas questões ambientais são incorporadas às estratégias de negócios das organizações e estudos referentes ao ciclo de vida dos produtos podem ser utilizados como ferramentas de apoio à competitividade e tomadas de decisão (RODRIGUES, 2007). O panorama discutido anteriormente indica que é necessário conhecer e compreender os problemas ocasionados pelos computadores. A análise do ciclo de vida identifica os impactos ambientais decorrentes de todas as etapas, possibilitando apresentar alternativas para minimizá- los. Vale ressaltar que o impacto ambiental avaliado neste trabalho é aquele que traz danos ao meio ambiente e à saúde humana. Desta forma, foi realizada a ACV dos computadores para identificar os problemas e impactos (adversidades, danos) ambientais relacionados. Os dados necessários foram obtidos de referencial bibliográfico e de visitas à fábrica da Positivo Informática. Como proposta prática para reduzir os impactos causados tanto na extração de materiais não renováveis, quanto na geração de resíduos, a reutilização foi considerada a mais efetiva e válida, em consonância com a Diretiva Européia (CE, 2004). O programa de gerenciamento dos computadores da Universidade Positivo, que promove a reutilização dos computadores e permite a extensão de sua vida útil, é detalhado e apresentado como estudo de caso. A seguir são apresentados os capítulos de revisão de literatura, a metodologia de condução do estudo, resultados e discussão e conclusões do trabalho. No capítulo 2, que trata da revisão de literatura, é apresentado um quadro da evolução dos computadores e as questões ambientais associadas como a rápida obsolescência, a problemática da geração de resíduos – situação atual no Brasil e na comunidade internacional e as opções de tratamento destes resíduos, a composição química destes equipamentos e os possíveis efeitos danosos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Também são apresentados os conceitos da Análise do Ciclo de Vida, como definição, utilização, normatização, fases e método de valoração, além das normatizações da série ISO 14040, a ferramenta computacional SimaPro e o método de avaliação de impactos ambientais – EcoIndicator’99, e os possíveis danos ambientais decorrentes do ciclo de vida de um computador.
  • 18. 17 No capítulo 3, referente à metodologia aplicada no estudo, são informadas as considerações feitas durante a execução do trabalho e o detalhamento de cada etapa realizada para a obtenção dos resultados que são apresentados no capítulo 4. Neste capítulo são mostrados os resultados obtidos durante a coleta de dados (inventário), entre os quais a identificação e quantificação dos aspectos ambientais, a avaliação dos dados através do método EcoIndicador’99 e apresentação de alternativas para a minimização dos danos ambientais originados no ciclo de vida de um computador. Também é apresentada e detalhada a alternativa ambiental proposta neste trabalho, o prolongamento da vida útil dos computadores como objeto do estudo de caso. Finalmente do capítulo 5 são apresentadas as conclusões do trabalho e sugestões de estudos futuros. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Utilizar a metodologia de Análise do Ciclo de Vida (ACV) para avaliar os impactos ambientais relacionados aos computadores, e apresentar o programa de gerenciamento dos computadores da Universidade Positivo (UP) como uma alternativa para minimizá-los. 1.2.2 Objetivos Específicos Realizar a análise do ciclo de vida dos computadores, considerando todas as etapas; Identificar as etapas de maior impacto e apresentar alternativas para a minimização destes impactos; Apresentar as soluções ambientais dos principais fabricantes de computadores; Sistematizar o programa de gerenciamento dos computadores da UP; Quantificar os ganhos econômicos, sociais e ambientais decorrentes deste programa.
  • 19. 18 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS COMPUTADORES Assim como em outras áreas, os computadores começaram como aparelhos rudimentares, que eram capazes de desempenhar apenas tarefas muito simples. A capacidade de armazenamento e velocidade veio muito mais tarde. Conhecer a evolução dos computadores permite um melhor entendimento sobre as mudanças que ocorreram no decorrer dos 64 anos de história da computação. Segundo dados do Museu da História dos Computadores - Computer History Museum (2010), no início os computadores eram mecânicos e realizavam cálculos através de um sistema de engrenagens, acionado por manivelas. Esse tipo de sistema, comum na forma de caixas registradoras, predominou até o início da década de 70, quando as calculadoras portáteis se popularizaram. A evolução dos computadores foi dividida em cinco etapas, chamadas gerações. Um exemplo típico da primeira geração marcada pelo uso de válvulas foi o Eniac, construído em 1946, o qual pesava cerca de 30 toneladas e possuía 18 mil válvulas, as quais deveriam ser substituídas anualmente, pois apesar de seus inúmeros ventiladores, a temperatura ambiente chegava aos 67 ºC (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010). A segunda geração de computadores ocorreu com a substituição das válvulas por transistores, os quais dominaram o mercado entre os anos de 1950 e início de 1960. Um exemplo desta geração foi o Univac, construído em 1952, e o primeiro equipamento vendido em massa: 46 unidades, custando cerca de a U$ 1.000.000,00 cada. Outro modelo desta geração foi o IBM 650, o qual pesava 900 kg, com uma fonte de alimentação que pesava cerca de 1350 kg a um custo de US$ 500.000 (CERQUEIRA, 2004). A terceira geração teve início após 1958, com a introdução dos circuitos integrados, os quais utilizavam silício, o que permitiu a miniaturização de componentes eletrônicos, reduzindo o peso, tamanho e o preço dos computadores, além de melhorar o desempenho e confiabilidade. Um exemplo desta geração foi o Apple II lançado em 1977, apresentando uma arquitetura radical para os modelos anteriores, pois apresentava gráficos coloridos, placa de som, teclado e mouse (COMPUTER, 2010). Em 1968, surgiu a primeira versão do mouse que se conhece hoje, feito de madeira. Todavia, somente em 1982 foi possível utilizá-lo domesticamente, quando a empresa Apple lançou o famoso sistema de "apontar e clicar” (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010).
  • 20. 19 Na década de 80, teve início a quarta geração de computadores, marcada pelo lançamento dos primeiros microprocessadores fabricados pela Intel, dando início à era dos chips. Em 1981 a empresa IBM lançou o primeiro microcomputador, o IBM PC – 5150 que pesava cerca de 12 kg, acompanhado de monitor CRT de fósforo verde. Devido a este modelo, a expressão “computador pessoal” passou a ser incorporado a todos os outros computadores criados na seqüência. No Brasil, um modelo desta geração bastante conhecido, foi o TK – 85. Comercializado em 1983, tratava-se de um modelo simples que pesava 500 gramas somente com um teclado embutido e sem monitor (COMPUTER, 2010). A quinta geração teve início nos anos 90, marcado pela comercialização dos modelos Pentium, cujo nome tem raiz grega "pent", que significa "cinco". Os primeiros modelos desta geração foram comercializados em 1993, pesando 25 kg, incluindo o monitor modelo CRT. Outros modelos surgiram para competir com os produtos Intel, como o AMD K6 II em 1998, que, porém, utilizavam praticamente os mesmos recursos. Praticamente uma década depois, os modelos lançados em 2008, apresentavam mudanças significativas em relação aos seus antecessores, como melhor desempenho, menor custo e peso. Devido à utilização de monitores LCD tornaram-se mais leves, utilizando cada vez menos materiais para sua fabricação (CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010). A Fig. 1 ilustra esta evolução.
  • 21. 20 Figura 1 - A evolução dos computadores (Adaptado de CERQUEIRA, 2004; COMPUTER, 2010).
  • 22. 21 2.2 OS COMPUTADORES E AS QUESTÕES AMBIENTAIS Cooper (2005) afirma que o desenvolvimento tecnológico inseriu na sociedade, além de novos padrões de conforto e comportamento, novos e graves problemas ambientais. O setor da tecnologia da informação destaca-se pela crescente inserção dos seus produtos na sociedade, além da velocidade de obsolescência e conseqüente descarte, gerando os resíduos de equipamentos eletrônicos (REE). Os problemas ambientais associados aos computadores são duplamente evidenciados: consumo de energia e utilização de materiais altamente tóxicos, o que torna a sua produção, utilização e descarte ambientalmente impactantes (LEE et al., 2004). Infelizmente, a disposição em aterros é apenas o primeiro passo de uma seqüência perigosa de eventos envolvendo a decomposição e lixiviação dos materiais que compõe estes equipamentos. Exemplos incluem chumbo, fósforo, cromo entre outros (BRENNAN et al., 2002; SILVA et al., 2002). Estudos têm sido conduzidos envolvendo os problemas ambientais relacionados com os resíduos eletrônicos e as alternativas existentes para minimizá-los (WILLIAMS; KUEHR, 2003; AHLUWALIA; NEMA, 2007). Entre algumas alternativas, tem se pesquisado o comportamento de consumidores e empresas que ainda não priorizam a extensão da vida útil dos computadores, resistindo à reutilização e reaproveitamento de produtos de segunda mão (HICKEY; FITZPATRICK, 2008). Além dessas alternativas, tem sido apontado o desenvolvimento de produtos desde a sua concepção com menor consumo de energia, facilidade de reciclagem de materiais, reutilização de componentes de equipamentos obsoletos, substituição de materiais tóxicos por outros menos nocivos (HERSH, 1998; LEE et al., 2004) e a garantia de que a saúde humana e ambiental não sejam comprometidas durante os tratamentos do final de vida, através da política e da educação pública (NAGEL; MEYER, 1999). Todas estas ações fazem parte de projetos “verdes” onde, em sua maioria, são abordadas por intermédio da sistemática da Análise do Ciclo de Vida. 2.2.1 Eco-projeto Projeto para o Meio Ambiente (Design for Environmental - DfE) é o termo utilizado para designar o desenvolvimento de produtos sustentáveis desde a sua concepção até a sua disposição final. Alguns dos termos utilizados para o Projeto para o Ambiente são Projeto Verde (Green Design), Projeto Sustentável (Sustainable Design), Projeto do Ciclo de Vida
  • 23. 22 (Life Cycle Design), Engenharia do Ciclo de Vida (Life Cycle Engineering) e também Projeto Limpo (Clean Design). Embora os termos possam ser diversificados, os significados destes termos usualmente se referem às atividades que têm os mesmos objetivos: a redução ou eliminação dos impactos ambientais em todo o ciclo de vida através de melhorias na concepção de produtos. Neste trabalho adota-se o termo Eco-projeto, por ser mais utilizado na produção científica nacional. Segundo Handfield et al. (1997), devido às exigências do mercado, legislações e sociedade, nos últimos anos as empresas começaram a se preocupar com as questões ambientais não somente do processo produtivo, mas com todo o ciclo de vida dos produtos, contemplando os aspectos ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto tornando-os eco eficientes através do Eco-projeto, onde os benefícios ambientais ou econômicos devem ser considerados e valorizados. É nas fases de concepção e desenvolvimento que se definem, em média, entre 80 e 90% dos custos ambientais e econômicos do ciclo de vida dos produtos, e conseqüentemente, dos impactos ambientais (DESIGN COUNCIL, 1997). Não existe um método único para se implementar o Eco-projeto, mas há uma norma ISO (Organização Internacional para Normalização) que trata da integração deste conceito no processo de desenvolvimento de produtos (ISO 14062, 2002). Como fatores que influenciam a implementação do Eco-projeto, Boks (2006) citou: i) Pressão externa de requisitos legais; ii) Influências econômicas internas; iii) Percepção e valorização do consumidor; iv) Disponibilidade de novas tecnologias. 2.2.1.1 Estratégias e Práticas do Eco-projeto Segundo Manzini; Vezzoli (2005) são cinco as estratégias do Eco-projeto, relacionadas às etapas do ciclo de vida do produto conforme mostra a Fig. 2:
  • 24. 23 Figura 2 - Estratégias do Eco-projeto (Adaptado de MANZINI; VEZZOLI, 2005). As estratégias do Eco-projeto podem ser expressas como (MANZINI; VEZZOLI, 2005): a) Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental; b) Minimização de recursos: redução do uso de materiais e de energia; c) Otimização da vida útil: concepção de produtos que permitam o prolongamento da vida útil e que sejam facilmente reparáveis; d) Extensão da vida útil dos materiais: concepção do produto visando a valorização dos materiais descartados, através da reinserção na cadeia produtiva; e) Facilidade na desmontagem: concepção do produto visando a facilidade de desmontagem e a separação de peças e materiais. Segundo Schischke et al. (2005), tais estratégias podem promover algumas vantagens competitivas para as empresas que as adotam, além daquelas relacionadas com a redução dos custos promovida pela minimização no consumo de materiais e energia e na geração de resíduos, como uma imagem positiva que diferencia a empresa no mercado perante a concorrência e a opinião pública. Além disso, promovem uma reação em cadeia, uma vez que estas empresas acabam influenciando todos os seus contatos, promovendo melhorias junto aos seus fornecedores, exigindo destes a aplicação dos princípios de gestão ambiental e certificações ambientais de seus produtos.
  • 25. 24 Porém, o mais importante a ser destacado é que o Eco-projeto desempenha papel primordial nas novas políticas ambientais, cujos instrumentos têm como objetivo principal promover alterações no projeto dos produtos como forma de prevenir e reduzir ao máximo os impactos ambientais em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos (SCHISCHKE et al., 2005). 2.2.1.2 Os Quatro Níveis do Eco-projeto O modelo “Quatro Níveis” (Four Steps) mostra como os melhoramentos ambientais podem ser realizados em quatro etapas, em que cada uma se caracteriza por maiores e potenciais benefícios ambientais e um maior grau de inovação exigido para o processo de design, conforme mostra a Fig. 3 (CHARTER; CHICK, 1997). É importante ressaltar que as escalas de tempo apresentadas na ilustração podem ser diferenciadas para cada setor industrial, pois alguns setores são considerados mais conservadores onde as mudanças ocorrem mais lentamente, enquanto que outros como os da tecnologia da informação, as mudanças têm se apresentando num espaço de tempo cada vez mais curto e num ritmo acelerado. Figura 3 – Quatro níveis do Eco-projeto (CHARTER; CHICK,1997). Sobre os quatro níveis Charter; Chick (1997) descrevem: Nível 1 (Melhoria do produto): melhoria de produtos existentes, levando-se em consideração as questões relacionadas aos atuais métodos de minimização de impactos e cuidados ambientais;
  • 26. 25 Nível 2 (Re-desenho do produto): otimização da qualidade dos produtos já existentes. Não está relacionada às alterações dos conceitos propriamente ditos; porém, à substituição de determinados componentes. A reutilização de componentes, de matérias-primas e a minimização do consumo de energia nas diversas fases do ciclo de vida caracterizam esta fase; Nível 3 (Inovação funcional ou introdução de funções alternativas): este tipo de alteração não se limita a produtos existentes, mas se caracteriza pelo modo como as funções são executadas; Nível 4 (Inovação em sistemas sustentáveis): o surgimento de novos produtos e serviços exige a introdução de alterações na infra-estrutura das organizações. Substituição dos produtos por outros com maior eficiência ambiental, exigindo menor consumo de energia e de materiais. 2.3 DEFINIÇÃO E METODOLOGIA DA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA Diante da necessidade de preservar os recursos naturais ou garantir a sua reposição através de práticas sustentáveis, como o desenvolvimento de novas tecnologias ou substitutos mais eficientes para materiais esgotáveis, é necessário o desenvolvimento de ferramentas e ou metodologias que possibilitem implementar estas práticas (MOURA, 2000). Dentre as metodologias consideradas mais apropriadas está a Análise do Ciclo de Vida (ACV), internacionalmente designada por Life Cycle Assessment (LCA), que considera todas as etapas do ciclo de vida de um produto ou processo, desde a extração e processamento de matérias-primas, fabricação, embalagem, transporte, distribuição, utilização, reuso ou reciclagem, até sua disposição final (MANZINI; VEZZOLI, 2005), como pode ser observado na Fig. 4 que ilustra o ciclo de um produto genérico. Também deve ser considerado que em todas as etapas ocorre o consumo de energia. Figura 4 - Etapas do ciclo de vida dos produtos (Adaptado de MANZINI; VEZZOLI, 2005).
  • 27. 26 Para efeito deste trabalho será adotada a definição segundo a Norma ISO 14040 (2006): A Análise de Ciclo de Vida é uma técnica para determinar os aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um produto: juntando um inventário de todas as entradas e saídas relevantes do sistema, avaliando os impactos ambientais potenciais associados a essas entradas e saídas, e interpretando os resultados das fases de inventário e impacto em relação com os objetivos de estudo. A análise do ciclo de vida torna-se importante para as organizações, quando se torna parte das estratégias de negócios impulsionada pelas legislações, pela exigência dos consumidores cada vez mais conscientes das questões ambientais, ou pura e simplesmente por pressões competitivas do mercado (ANDRADE, 2006). A ACV permite, ainda, a identificação de oportunidades de melhorias ambientais em pontos mais específicos de um processo de produção. Melhorias como na redução da geração de resíduos, no consumo de água e principalmente energia, bem como a reutilização e reciclagem dos produtos (SETAC, 1993). Outra vantagem é que a ACV também pode ser utilizada como uma ferramenta facilitadora na tomada de decisões, interagindo com o planejamento estratégico, definindo prioridades no projeto e ou no re-projeto de produtos ou processos (ISO, 2006); além disso, permite uma possível antecipação às legislações futuras, além de atuar como ferramenta de melhoria contínua nos sistemas de gestão ambiental da família ISO 14000 (CHEHEBE, 1998). O processo de ACV é bastante complexo, mas alguns modelos podem ser utilizados juntamente com outras ferramentas como auditorias e instrumentos de quantificação de impactos ambientais. São características exclusivas à ACV a avaliação de todo o ciclo de vida e a comparação entre produtos (SETAC, 1993). Manzini; Vezzoli (2005) apontam algumas das possíveis aplicações da metodologia ACV: Planejar estratégias ambientais no desenvolvimento de produto ou processo; Projetar sustentavelmente um produto e ou processo; Dar apoio à tomadas de decisão; Comparar produtos; Desenvolver auditorias ambientais e minimizar a geração de resíduos e emissões; Contribuir no desenvolvimento de estratégias de marketing; Contribuir na definição de critérios para rotulagem ambiental; Contribuir na elaboração de políticas públicas.
  • 28. 27 Também existem alguns autores que fazem críticas, como Cooper (2005) que ressalta que a complexidade da ACV pode gerar dificuldades no entendimento e aplicação da metodologia e conseqüentemente na coleta dos dados. 2.3.1 Histórico da Análise do Ciclo de Vida – ACV A Análise do Ciclo de Vida surgiu na década de 60, motivada pelas recentes preocupações sobre a possível falta de recursos naturais e energia, incentivando a elaboração de projetos para quantificar e reduzir o uso destes recursos e os impactos ao meio ambiente (SETAC, 1993). A Sociedade de Química e Toxicologia Ambiental (SETAC) foi a primeira entidade a se preocupar com as questões ambientais de forma sistematizada, definindo a ACV como uma abordagem holística para avaliar os impactos ambientais de um produto do berço ao túmulo (SETAC, 1993). O desenvolvimento do primeiro método de cálculo de impacto ambiental que se tem notícia foi realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Midwest (MRI) nos Estados Unidos em 1965, a serviço da Coca-Cola, quando foram confrontados com um desafio: comparar diferentes tipos de embalagens de refrigerante para a determinação de qual delas apresentava índices mais adequados de emissão para o meio ambiente e menor consumo de recursos (ANDRADE, 2006). Este estudo, conhecido como Análise do Perfil dos Recursos Ambientais, quantificou o uso de matérias primas e combustíveis, relacionando as cargas ambientais geradas na produção para cada uma das alternativas. Era a origem da ACV com enfoque em estudos de impacto ambiental, que a partir deste ponto inicial se desenvolveu em escala mundial a partir dos anos 90, tanto em termos de metodologia como em suas aplicações (ANDRADE, 2006). A análise do ciclo de vida foi desenvolvida de forma a evidenciar as crescentes necessidades das empresas que procuravam agregar aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos e também em programas de melhoria contínua procurando atender as exigências dos consumidores, da sociedade como um todo e da legislação (RODRIGUES, 2007). Segundo SETAC (1993), a metodologia da ACV é composta de quatro fases, contemplando a definição do objetivo e escopo, a análise do inventário e avaliação de impacto, e posterior interpretação. Tais fases podem ser observadas na Fig. 5.
  • 29. 28 Figura 5 – Estrutura da avaliação do ciclo de vida (Adaptado de ISO, 2006). Definição do Escopo e Objetivos: Na fase de definição de objetivos é estabelecida a razão principal para a condução do estudo, sua abrangência e o público-alvo a que os resultados se destinam. Já na definição do escopo, são fixadas as limitações e os critérios a serem utilizados. Em linhas gerais, a série de normas ISO 14040 (ISO, 2006) estabelece que o conteúdo mínimo do escopo de um estudo de ACV deve referir-se a três dimensões: início e fim do estudo (a extensão da ACV), quantos e quais subsistemas incluir e o nível de detalhes do estudo, ou seja, a profundidade da ACV (SEO; KULAY, 2006). Análise de Inventário: Também chamada de Inventário do Ciclo de Vida, é nesta fase que é realizada a coleta dos dados, ou seja, o processo de quantificação das entradas e saídas de todas as etapas do ciclo de vida do produto, o que inclui a utilização de matérias primas e energia e suas saídas provenientes dos processos produtivos, como a geração de resíduos e/ou materiais, como pode ser observado na Fig. 6. De acordo com Ferreira (2004), é a fase mais trabalhosa da ACV e dela depende a confiabilidade dos resultados obtidos nas outras fases.
  • 30. 29 Figura 6 - Inventário do ciclo de vida (CURRAN, 1996). Avaliação de Impactos: A Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV) é uma fase que busca identificar, caracterizar e avaliar, quantitativa e qualitativamente, os impactos ambientais. Nesta fase faz-se uma avaliação da magnitude e significância dos impactos ambientais, baseada nos resultados obtidos na análise do inventário. Neste caso, algumas avaliações podem ser realizadas apenas pelos resultados obtidos na fase do inventário. Porém, a avaliação de impactos deve ser realizada quando forem detectados quaisquer problemas ambientais. Dados do inventário podem ser transformados em categorias de impactos sobre a saúde humana, a qualidade do meio ambiente e a utilização de recursos. Também permite que os resultados obtidos nesta fase sejam classificados e caracterizados. Alguns exemplos de problemas ambientais a serem avaliados quanto aos seus impactos (CHEHEBE, 1997): • Exaustão de recursos não renováveis; • Aquecimento global; • Redução da camada de ozônio; • Toxicidade para a população; • Ecotoxicidade; • Acidificação; • Oxidantes fotoquímicos. De acordo com a norma NBR ISO 14.042 (ABNT, 2004) a AICV é composta de elementos obrigatórios e opcionais, da seguinte forma: Seleção de Categorias de Impacto: Segundo Chehebe (1997), consiste na escolha e definição de categorias de impacto. Uma categoria de impacto representa um problema
  • 31. 30 ambiental específico. As categorias de impacto mais comumente utilizadas são aquecimento global, redução da camada de ozônio, acidificação, utilização de recursos naturais e uso do solo. Classificação dos Resultados Inventariados: Na etapa de classificação, todas as substâncias são organizadas e separadas em categorias de impacto, conforme o efeito que provocam sobre o ambiente. O resultado é o perfil ambiental do sistema segundo sua contribuição para esgotamento dos recursos, aquecimento global, danos à camada de ozônio, acidificação, toxicidade, eutrofização, entre outras (PRE CONSULTANTS, 2006; ISO, 2006). Caracterização dos impactos: Diferentemente da classificação, este é um processo quantitativo, pois é através da caracterização que são realizados os cálculos dos resultados dos indicadores para cada categoria de impacto e/ou dano para indicar a intensidade de seus efeitos. Numa possível comparação, quando todos os efeitos de um produto são maiores que os de outro, é fácil notar qual deles é o mais agressivo ao ambiente. No entanto, é muito mais comum que um produto apresente pontuação maior em determinadas classes e menor em outras. Nesse caso, a interpretação dos dados é função de dois fatores (CURRAN, 1996; CHEHEBE, 1997): • Normalização: Tem como objetivo permitir a comparação dos resultados das diferentes categorias de impacto, através da divisão por um valor de referência (CURRAN, 1996). Tolle (1997), explica que diferentemente da caracterização, que apenas permite comparar os efeitos individualmente, a normalização possibilita obter uma noção do quadro geral do impacto causado por todo o sistema; ou seja, visualizar o todo e não uma parte do problema, devido à possibilidade de confrontar cada efeito calculado com o valor total conhecido para aquela determinada classe de impacto. • Ponderação ou Valoração: Classificada como qualitativa ou semi-quantitativa, consiste em organizar as categorias de impacto e/ou danos em grupos semelhantes, convertendo os resultados dos indicadores de cada uma das categorias a uma escala comum, através de fatores numéricos (ISO, 2006). Apesar de a normalização facilitar a visualização dos resultados, ainda não permite que se obtenha um resultado final, pois, até então, os diferentes efeitos ambientais são considerados como de igual importância. Cabe à ponderação atribuir valores à pontuação dita normalizada, permitindo representar a importância e a gravidade relativa de cada efeito, chegando-se a um resultado final, um indicador (CURRAN, 1996; ISO, 2006).
  • 32. 31 Interpretação: Esta etapa tem o objetivo de avaliar e interpretar os dados obtidos com o intuito de sugerir mudanças e buscar melhorias para diminuir os danos ao meio ambiente em todo o processo da ACV, compreendendo (CURRAN, 1996; CHEHEBE, 1997): 1º) Identificação das questões ambientais mais significativas baseadas nos resultados da análise do inventário; 2º) Avaliação, que pode incluir a verificação da integridade, sensibilidade e consistência; 3º) Conclusão, incluindo recomendações e relatório sobre as questões ambientais significativas. 2.4 A FERRAMENTA SIMAPRO O SimaPro é uma ferramenta computacional metodológica desenvolvida pela PRe- Consultants, que auxilia na coleta de dados e interpretação dos resultados, buscando soluções para problemas ambientais globais no ciclo de vida de um produto (GOEDKOOP; SPRIENSMA, 2001). O programa apresenta algumas características gerais como: proteção de dados, flexibilidade, análise do impacto, comparação dos resultados e apresentação gráfica dos resultados. Além disso, o SimaPro possui uma base de dados de materiais e processos acoplados com ferramentas de cálculo dos impactos, chamada de inventário (SCHISCHKE et al., 2005). Neste programa, o ciclo de vida pode ser entendido e representado como uma árvore de processos em que cada caixa representa um processo, com fluxos de entrada e saída ambientais definidos. A partir da montagem da árvore de processos e de informações sobre cada processo é possível construir o inventário de todos os fluxos ambientais de entradas e saídas associados ao ciclo do produto em questão (PRE CONSULTANTS, 2006). A Fig. 7 é um exemplo da hierarquia das caixas de processos, com os fluxos de entradas e saídas definidos gerados pelo programa SimaPro.
  • 33. 32 Figura 7 - Representação gráfica da árvore de processos fornecido pelo programa SimaPro (PRE CONSULTANTS, 2006). 2.4.1 A Base de Dados Ecoinvent Segundo Goedkoop; Spriensma (2001), o SimaPro dispõe de uma vasta base de dados, a Ecoinvent, a qual disponibiliza informações sobre 2500 processos inventariados válidos para as condições suíças e européias, tais como sistema de energia, metais, embalagens, tecnologia de informação e comunicação, eletrônica, engenharia mecânica, materiais de construção, produtos químicos, insumos agrícolas, sistema de transporte, tratamento e disposição de resíduos. Além disso, este conjunto de inventários caracteriza-se pela sua qualidade, uniformidade e consistência, possibilitando a harmonização e a atualização dos inventários de ciclo de vida para serem utilizados nos estudos de ACV, sendo integrado às principais ferramentas computacionais específicas para análise do ciclo de vida, como o SimaPro (FRISCHKNECHT et al., 2007). 2.4.2 O método EcoIndicator’99 Métodos para a avaliação de impactos têm sido desenvolvidos com o objetivo de facilitar a interpretação dos dados, os quais são usualmente disponibilizados por vários programas de apoio à análise do ciclo de vida como o SimaPro, cabendo citar alguns exemplos como o Eco-indicator 99 – utilizado neste estudo e disponibilizado no SimaPro, o CML method 92, o Ecopoints 97 e o EPS 2000 dentre outros (LUO et al., 2000; SILVA, 2005). Segundo Silva (2005), no método Eco-indicator 99 a pontuação fornecida baseia-se na metodologia de avaliação de impactos, onde os dados da planilha de inventário são transformados em pontuações de danos. Num vocabulário mais simplista, o método EcoIndicator’99, atribui uma pontuação a cada impacto, permitindo uma comparação entre eles: quanto maior a pontuação, maior o
  • 34. 33 impacto, além de oferecer uma perspectiva sobre as maneiras de procurar superá-los. No entanto, o exercício não é simples: baseando-se em pesquisas científicas, para cada impacto é atribuído um peso específico e possui uma abordagem orientada para os danos referentes às condições européias. Neste método, os impactos são organizados em três categorias de danos (GOEDKOOP; SPRIENSMA, 2001): Danos à Saúde Humana: Nesta categoria estão incluidos o número e a duração dos efeitos, fatalidades e incapacitações advindas de causas ambientais aos seres humanos. O indicador, ou seja, os danos para a saúde humana são expresso em DALY, ou seja, Anos de Vida Ajustados (Disability Adjusted Life Years), que é uma unidade usada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial. Danos à Qualidade do Ecossistema: os danos sobre a qualidade dos ecossistemas incluem os efeitos sobre a completa e irreversível extinção de espécies, bem como o reversível ou irreversível desaparecimento de espécies de uma determinada região durante um período de tempo. Esta definição não é tão homogênea como a da Saúde Humana, envolvendo aspectos como a ecotoxicidade, acidificação, eutrofização e o uso e transformação do solo. O indicador é expresso em PDF, ou seja, Fração dos Potencialmente Desaparecidos, se referindo às espécies de plantas. Danos aos Recursos: Os danos sobre os recursos são quantificados em relação à energia necessária para atuais e futuras extrações de recursos minerais e combustíveis fósseis. O uso de recursos bióticos e minerais como argila, areia, entre outros, estão inclusos nesta categoria. O indicador é expresso em MJ, ou seja, exigência de energia adicional para compensar a menor quantidade de minério no futuro. A estrutura do Eco-indicator 99 baseia-se no conceito de eco indicadores, que envolve a caracterização dos efeitos ambientais, a avaliação dos danos ambientais sobre a saúde humana, a qualidade dos ecossistemas e a degradação dos recursos naturais. Em linhas gerais, o cálculo dos efeitos ambientais passa por três estágios: classificação e caracterização; normalização, e valoração (GOEDKOOP; SPRIENSMA, 2001). O Eco-indicador é expresso em pontos (Pts). Para materiais esta unidade funcional é o quilograma. Por fim, interessa conhecer as categorias ambientais do método EcoIndicator’99, sintetizadas no Quadro 1 (CAMPBELL, 1998).
  • 35. 34 Categoria Descrição ambiental O desenvolvimento de doenças cancerígenas é favorecido por diversas intervenções ambientais, como a radioatividade, a radiação ultravioleta, Carcinogênicos emissões e certos compostos químicos. Esta categoria indica a probabilidade que um individuo, exposto a 1 μg/m³ de uma determinada substância (por exemplo, arsênio), tem de desenvolver câncer. Efeitos Respiratórios Estudos epidemiológicos demonstram que diversas substâncias orgânicas, Orgânicos e inorgânicas e material particulado estão relacionados a efeitos danosos ao Inorgânicos sistema respiratório em humanos. São os danos à saúde humana relacionados às emissões rotineiras de Radiação substâncias radioativas ao meio ambiente. Avalia a diminuição do ozônio na estratosfera, o que provoca uma menor Camada de Ozônio absorção da radiação ultravioleta, aumentando a sua incidência na superfície e provocando o aumento de doenças humanas e desequilíbrios no ecossistema. Expressa os danos causados em espécies expostas à concentração de substâncias tóxicas. Os efeitos são calculados com base em dados de Ecotoxicidade toxicidade para organismos terrestres e aquáticos como microorganismos, plantas, algas, anfíbios, moluscos, crustáceos, peixes e plantas. O uso, ocupação e Visa calcular os efeitos locais da ocupação e conversão do solo de uma área transformação do natural em um complexo industrial, agrícola ou populacional e a influência solo dos danos sobre o decréscimo de espécies. A adição de nutrientes à água ou ao solo aumenta a produção de biomassa. Na água, isso conduz a uma redução na concentração de oxigênio dissolvido, o Eutrofização que afeta diversos organismos. Tanto no solo como na água, pode conduzir a alterações indesejáveis no número de espécies no ecossistema. A deposição ácida, resultante da emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre Acidificação para a atmosfera, solo ou para a água pode conduzir a mudanças na acidez da água e do solo, com efeitos tanto sobre a fauna quanto sobre a flora. Avalia o aumento da temperatura global devido à emissão de gases de efeito Alterações de estufa para a atmosfera. Esta categoria está relacionada a anos de vida Climáticas perdidos, destruição de recifes de corais, mudanças no ecossistema, etc. Combustíveis A categoria leva em consideração a descoberta de petróleo e a sua extração. Fósseis A categoria é expressa na massa total de minério utilizada dividida pela massa Minerais total de minério disponível. Seus efeitos estão relacionados à disponibilidade de recursos. Quadro 1 - Caracterização das categorias de impacto do método EcoIndicator’99 (CAMPBELL, 1998). 2.5 A SÉRIE DE NORMAS ISO 14000 A Organização Internacional para Normalização – International Organization for Standardization (ISO) é uma organização não-governamental sem fins lucrativos com o objetivo de oferecer soluções que venham ao encontro das necessidades das empresas e da sociedade, tornando os processos mais eficientes, seguros e limpos. Com sede em Genebra, na Suíça, a ISO foi estabelecida com a missão de promover o desenvolvimento da normalização
  • 36. 35 de atividades correlatas em todos os países do mundo. Os trabalhos da ISO resultam em acordos internacionais que são publicados como normas internacionais (ISO, 2006). A abreviação ISO não surgiu por ser a abreviatura do nome da organização e sim por ser a derivação do vocábulo grego “ISOS” que significa igual. As séries ISO 9000 e ISO 14000 estão entre as mais conhecidas normas internacionais passíveis de certificação: a primeira, em qualidade, e a segunda, em meio ambiente. Além de facilitar o intercâmbio internacional de bens e de serviços, promovem a cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e econômica (ISO, 2006). O Brasil é membro fundador da ISO, e nela se faz representar pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a qual promove a elaboração de normas técnicas em diversos campos de atividade (ABNT, 2001). Durante a Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED-Rio'92), popularmente chamada de ECO’92, realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 1992, as discussões acerca do desenvolvimento sustentável impulsionaram decisivamente a proposta da criação junto à ISO de um grupo especial para estudar a elaboração de normas de gestão ambiental (ABNT, 2001). Em 1993, a ISO estabeleceu um comitê técnico para desenvolver a série de normas internacionais de gestão ambiental, o qual dividiu o trabalho a ser desenvolvido em sete grupos, sendo um destinado especificamente à análise de ciclo de vida e coordenado pela França. Estes grupos de trabalho procuravam identificar normas para a formação de sistemas de gerenciamento ambiental de forma a permitir que as organizações pudessem identificar os problemas nos sistemas produtivos que não comprometessem o desempenho ambiental (ABNT, 2001). Segundo Andrade (2006), a ISO 14000 pode ser decomposta em dois grupos de conjuntos de normas: um para a organização e outro para o produto (Fig.8). Sobre isso, Lora (2002) afirma que a necessidade do grupo de normas voltadas para o produto se deve pela precariedade da avaliação que se realiza nas empresas, pois os produtos podem ter impactos ambientais negativos nas diferentes fases do seu ciclo de vida.
  • 37. 36 Figura 8 - Os dois grupos da ISO 14000: produtos e sistemas de gestão ambiental (VALLE, 2004). 2.5.1 A ACV na Família da Norma ISO 14040 As normatizações da série ISO 14000 estabelecem as diretrizes da gestão ambiental corporativa. Em se tratando de Análise do Ciclo de Vida, as normas referentes ao assunto são a 14040, 14041, 14042 e 14043, cujas idéias principais são brevemente descritas (ISO, 2006): 14040 - Princípios e Práticas Gerais: Publicada em 1997, estabelece que a ACV deve incluir a definição do objetivo e o escopo do trabalho, inclusive suas abrangências e limitações, a análise do inventário, a análise de impacto mencionando o método a ser utilizado para o cálculo do impacto ambiental do produto, e finalmente a interpretação dos resultados. 14041 - Análise do Inventário do Ciclo de Vida do Produto: Publicada em 1998, trata da fase de coleta e quantificação de todas as variáveis, ou seja, entradas e saídas envolvidas no estudo a ser realizado. 14042 - Avaliação de Impactos: Publicada em 2000, trata da fase onde são avaliados os dados coletados na fase anterior, quanto ao seu impacto no meio ambiente, na saúde humana, e na utilização de recursos.
  • 38. 37 14043 – Interpretação ou Avaliação de Melhorias: Publicada em 2000, define um procedimento sistemático para identificar, qualificar, conferir e avaliar as informações dos resultados do inventário do ciclo de vida, facilitando a sua interpretação. Ou seja, tem como objetivo principal reduzir os impactos ambientais através da identificação de diferentes opções para uma melhora ambiental do processo ou produto. 2.6 ETAPAS DO CICLO DE VIDA DE COMPUTADORES Conforme apresentado anteriormente, a ACV é considerada uma metodologia bastante complexa, onde as bem definidas limitações do estudo são de grande importância para o sucesso do mesmo. Com a finalidade de auxiliar na determinação destes limites, o Quadro 2 apresenta uma breve descrição das etapas do ciclo de vida de um computador. A maioria dos estudos de ACV considera a extração de materiais inclusa na fase de manufatura de produtos. Alguns estudos já realizados para análise do ciclo de vida de outros produtos mostram que a etapa de manufatura, seja de Manufatura materiais ou do próprio produto, é bastante expressiva no que diz respeito ao consumo de energia, água, geração de resíduos sólidos e emissões atmosféricas (FAVA et al., 1993; CURRAN, 1996; DUAN et al., 2009). A etapa de distribuição (transporte) torna-se o conector entre todas as etapas Distribuição do ciclo de vida do produto (SEO; KULAY, 2006; DUAN et al., 2009). Nesta etapa é considerado o consumo de energia elétrica e suas possíveis emissões. Uma CPU típica com monitor CRT consome 130 Watts de energia elétrica. Isto implica que um computador com uma configuração considerada Utilização padrão, que fica ligado oito horas por dia, durante cinco dias na semana, pode consumir até 250 kWh de energia elétrica, que na maior parte do mundo é derivada de combustíveis fósseis. Entre os destinos possíveis, podem ser citados a recuperação da função do produto ou de seus componentes (reutilização), valorização dos materiais ou de seu conteúdo energético (reciclagem e/ou tratamento) ou ainda pode-se Final da optar por não recuperar, encaminhando-o diretamente para a disposição final - Vida Útil aterros (IPU, 1998; LUIZIO, 2004; COOPER, 2005; RODRIGUES, 2007). Lee et al. (2004) afirmam que o descarte prematuro dos computadores implica no início de um novo ciclo de consumo de materiais e energia, gerando novas emissões e resíduos em todas as outras etapas do ciclo de vida. Quadro 2 - Breve descrição das etapas do ciclo de vida (FAVA et al., 1993; CURRAN, 1996; DUAN et al., 2009).
  • 39. 38 2.7 OPÇÕES DE TRATAMENTO AO FINAL DA VIDA ÚTIL DE COMPUTADORES Seguem descritas as principais opções de tratamento aos resíduos provenientes das peças dos computadores: Reutilização - extensão da vida útil: Segundo Crowe et al. (2003), as partes podem ser reutilizadas para a mesma função anterior ou para uma nova atribuição. Em alguns casos pode ocorrer processo de remanufatura, o que significa passar por processos que possibilitem que o produto seja utilizado como novo (LUIZIO, 2004). Segundo Rodrigues (2007), entre as estratégias para a redução da geração de resíduos, discute-se a questão do prolongamento da vida útil dos bens duráveis como forma de desaceleração dos ciclos de produção, consumo e descarte. O reuso, portanto, pode ser entendido como uma opção sustentável na fase de descarte, uma vez que o equipamento que tenha sido reparado ou remanufaturado deixaria a condição de resíduo, passando a ter uma segunda vida útil. Rodrigues (2007) também afirma que o reuso de equipamentos pode ocorrer por intermédio de: • Repasse informal do equipamento obsoleto dentro de uma mesma organização, entre familiares ou através de doações a terceiros (indivíduos, organizações sociais etc.); • Venda a empresas privadas que compram os equipamentos pós-consumo para consertá-los e revendê-los; • Remanufatura: existem empresas que se dedicam a consertar os equipamentos usados que passam por processos de reformulação, envolvendo a desmontagem de componentes e revisão, adquirindo a condição e desempenho de equipamentos novos. Reciclagem: É caracterizada por uma série de processos que vão desde a coleta especial até a pré-produção dos materiais reciclados. A presença de substâncias tóxicas nos computadores dificulta a recuperação dos materiais que possuem valor econômico, como, por exemplo, os metais raros e preciosos, presentes em pequenas quantidades nos componentes, que associada à dificuldade de desmontagem, torna muitas vezes a recuperação de materiais inviável, além dos riscos de contaminação ambiental das pessoas que os manejam. As principais preocupações ambientais são referentes às emissões e à geração de resíduos ( IPU, 1998; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009; WILLIAMS; KUEHR, 2003). De acordo com Crowe et al. (2003), o processo de reciclagem dos computadores consiste em: desmontagem; segregação de metais ferrosos, não-ferrosos e de plásticos; reciclagem e recuperação de materiais com maior valor econômico; tratamento e disposição de resíduos perigosos. Devido a
  • 40. 39 reciclagem envolver outras fases de trabalho, optou-se por descrevê-la mais detalhadamente (LUIZIO, 2004; CROWE et al., 2003; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009): • Armazenamento: Os diferentes equipamentos são pesados à chegada. Verifica-se a proveniência da carga e o tipo de material que a compõe, preenchendo uma guia de acompanhamento do resíduo. O material é descarregado em local específico dependendendo de suas características; • Desmanufatura: Os diferentes materiais que entram na unidade são separados nas suas diferentes categorias (ferrosos, vidros, plásticos, etc) e desmontados. – Os materiais separados devem ser armazenados em recipientes apropriados para posterior recuperação, tratamento ou eliminação. • Trituração e separação: Os diferentes materiais são levados até o triturador para moagem e posterior separação. Na sequência, o material moído passa por esteiras equipadas com ímãs que fazem a separação das frações ferrosas. • Granulação dos diferentes materiais: o material é transportado através de esteira para dois granuladores em seqüência, cuja função é reduzir ainda mais a dimensão das partículas para permitir uma boa separação entre os metais não ferrosos, plásticos e outros; • Separação dos materiais não ferrosos e plásticos: Os materiais provenientes do segundo granulador são transportados para as mesas de separação gravimétrica onde ocorre a separação entre partículas de densidade elevada e baixa, respectivamente cobre e alumínio e também mistura de plásticos com cobre. O resultado desta primeira gravimetria é o cobre fino, completamente separado. Já na segunda etapa da gravimétrica são separados o cobre e o alumínio dos plásticos. Os diferentes materiais não ferrosos obtidos na separação são armazenados; • Aspiração e eliminação de poeiras: A total aspiração e minimização de poeiras melhora as condições de trabalho para os operadores; • Qualidade: Todas as fases do processo de reciclagem devem ser monitoradas por profissionais da qualidade. Esta atividade visa controlar os seguintes aspectos: o Correta separação dos materiais; o Qualidade dos granulados finais; o Avaliação dos produtos nocivos que necessitam de tratamento posterior;
  • 41. 40 Valorização energética: Corresponde à recuperação do valor energético dos resíduos, através do processo de incineração (LUIZIO, 2004). Trata-se de um método de tratamento de resíduos que consiste na incineração destes, gerando combustão, onde a energia calorífica resultante é transformada em energia elétrica. Apresenta como principais vantagens a redução significativa do volume de resíduos e a utilização da energia produzida pelos materiais combustíveis (CROWE et al., 2003). Porém, segundo Crowe et al. (2003), são muitas as desvantagens da incineração dos resíduos provenientes dos eletrônicos, devido à sua composição altamente heterogênea e de poder calorífico bem diferenciado. Crowe et al. (2003) também aponta outro fator importante que está relacionado à alta concentração de metais pesados nestes equipamentos, onde os resíduos provenientes da incineração devem ser enviados para aterros especiais e os gases da combustão devem ter tratamentos especiais, o que pode tornar o processo economicamente inviável. Incineração: A incineração de resíduos é bastante utilizada nos países industrializados, devido à escassez de áreas para aterro e também à possibilidade de recuperação de energia. A incineração deste tipo de material gera tanto emissões, quanto resíduos. Devido à variedade de substâncias contidas nestes produtos poderão ocorrer efeitos nocivos específicos durante a incineração. Um exemplo disso ocorre com o cobre, que funciona como catalisador, e aumenta o risco de formação de dioxinas quando os retardadores de chama contidos nos plásticos das peças dos computadores são incinerados. Este aspecto é especialmente preocupante uma vez que a incineração de retardadores de chama bromados mesmo a baixas temperaturas pode levar à produção de dibenzodioxinas polibromadas (PBDD) e dibenzofuranos polibromados (PBDF) extremamente tóxicos (LUIZIO, 2004; GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009; WILLIAMS; KUEHR, 2003); Disposição final: Componentes ou materiais que não são recuperados ou valorizados através das opções anteriores são encaminhados a um local de destinação final: aterros de resíduos urbanos ou, lixões. O perigo maior se concentra nos aterros não controlados, devido ao risco de lixiviação de metais e outras substâncias químicas para o solo e lençóis subterrâneos, ou então a evaporação de substâncias perigosas (GREEN ELECTRONICS COUNCIL, 2009).
  • 42. 41 2.7.1Gerenciamento dos Resíduos de Computadores na Comunidade Internacional e no Brasil Na China o sistema de reciclagem não se presta exclusivamente aos resíduos eletrônicos. Um problema grave naquele país é a prática ilegal de recebimento dos despejos vindos de países ricos, principalmente dos Estados Unidos, que justifica o envio de seus computadores obsoletos com o propósito da inclusão digital. Tal prática, na verdade, trata-se de uma atividade mal intencionada, pois é uma forma barata de “resolver” a questão (CROWE et al., 2003). Uma vez que os computadores se encontram sob a responsabilidade de um novo país, os problemas que os acompanham passam a pertencer também a este país (BEIRIZ, 2005). Sem legislação própria e subsídios para tratar de um resíduo caro e tóxico, este acaba sendo reciclado com métodos primitivos causando graves problemas ambientais e na saúde da população. Conforme descreve Carrol (2008), o desmantelamento dos componentes é feito de forma manual, geralmente por crianças e mulheres sem nenhuma proteção. O que tem valor comercial é vendido e o restante acaba sendo queimado, agravando a situação. Na Índia, a maior parte dos resíduos provém dos fabricantes e, da mesma forma que na China, o trabalho é manual sem qualquer proteção e ferramentas específicas, geralmente envolvendo mulheres e crianças. O destino também é o mesmo: o que não pode ser vendido é queimado a céu aberto ou depositado em aterros (CARROL, 2008). O procedimento inadequado adotado nestes países para recuperar os metais, faz com que componentes tóxicos como o cádmio e o mercúrio contaminem água, solo e ar. Os países da União Européia, por sua vez, decidiram implementar medidas destinadas a prevenir a produção destes resíduos e a fomentar a reutilização, reciclagem e outras formas de valorização, com vista à redução da quantidade e, ao mesmo tempo, melhoria dos resultados ambientais dos agentes econômicos envolvidos na gestão desses resíduos. Estas medidas fazem parte da diretiva WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment), doravante denominado Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, que torna os fabricantes responsáveis pelo ciclo de vida dos seus produtos, arcando com os custos de coleta seletiva, transporte, tratamento e reciclagem destes resíduos (CE, 2004). A diretiva também obriga as indústrias a agirem em duas frentes: reduzir a toxicidade dos produtos e desenvolver métodos para um pós-uso eficaz. Os fabricantes são responsáveis por seu produto até o fim da vida útil e devem garantir um processo de reciclagem limpo e eficiente (CE, 2004).
  • 43. 42 Nos Estados Unidos, a diversidade de iniciativas políticas sobre REEEs (Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos), reforça a complexidade da relação entre Federação-estado. Alguns estados estão mais adiantados com a legislação local, proibindo o aterramento e incineração desses resíduos ou elaborando políticas sobre a responsabilidade estendida do produtor, incluindo uma taxa de eliminação paga antecipadamente pelos consumidores no momento da aquisição de novos produtos (SHEEHAN; SPIEGELMAN, 2005). No Japão, um alto índice de inovações foi registrado na produção de eletrônicos e no tratamento de resíduos antes mesmo da promulgação das diretivas européias. A produção de eletrônicos com solda livre de chumbo data do início dos anos 90 e teve êxito graças à criação de uma rede de inovação que cobre instituições diversas, como universidades, institutos de pesquisa e associações industriais. Estas inovações incluem medidas para a redução dos impactos ambientais através da redução de substâncias perigosas, eficiência no uso de recursos e reciclabilidade, eficiência energética, redução do uso de materiais através da miniaturização e o prolongamento da vida útil do produto via reuso de componentes (BEIRIZ, 2005). No Brasil, pesquisas realizadas por algumas organizações não governamentais como o Instituto Metareciclagem e o Comitê para a Democratização da Informática (CDI, 2009), revelam que parte dos resíduos eletrônicos ainda é enviada para aterros e lixões. Há também uma deficiência adicional, representada pelas oportunidades de reciclagem que ainda são desperdiçadas. O destino do resíduo especial também depende da política de cada município, e, na maior parte do país, existem falhas no tratamento e na disposição final (CDI, 2009). De acordo com Jordão (2010), apenas 10% dos computadores comercializados são devolvidos aos fabricantes, ONG’s ou pontos de coleta. Estes são sucateados, doados ou vendidos para empresas especializadas em resíduos eletrônicos, as quais realizam a desmontagem, a moagem dos materiais passíveis de reciclagem e posterior venda para fornecedores de matéria-prima. Ainda segundo Jordão (2010), quanto às partes de um computador que possuem componentes eletrônicos como placas-mãe, estas são enviadas à Europa para reciclagem e separação dos metais presentes na composição. Esta atividade não é realizada no Brasil por não possuir tecnologia adequada. Esta rota percorrida pelo resíduo eletrônico pode ser observada na Fig.9.
  • 44. 43 Figura 9 – Rota dos resíduos provenientes de computadores na sua destinação final – Situação brasileira (Adaptado de JORDÃO, 2010). 2.7.2 Implicações Sociais e Políticas Sobre o Gerenciamento de Resíduos Eletrônicos A Comunidade Européia preocupa-se com resíduos contendo substâncias perigosas desde os anos 70 e promulgou, em 2003, dois regulamentos importantes para tratar do problema: a Diretiva 2002/96/CE sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (WEEE) e a Diretiva 2002/95/CE sobre a Restrição do Uso de Substâncias Perigosas (Restriction of Hazardous Substances - RoHS) (CE, 2004). Essas exigências incorporam a responsabilidade do produtor (produtor, distribuidor ou importador) e têm impactos globais. Em vigor desde 2006, a Diretiva Européia sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (WEEE) tem como objetivo prevenir e diminuir os resíduos de uma lista de equipamentos eletroeletrônicos selecionados segundo o estágio corrente de análise científica. Fundamenta-se nos princípios do poluidor-pagador, da precaução e da responsabilidade estendida do produtor. A responsabilidade do produtor está associada às etapas de coleta seletiva, tratamento, recuperação e reciclagem (GREEN ELECTRONICS COUNCIL. 2009). A Convenção de Basiléia aborda o controle de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e seu depósito, regulamentando internacionalmente a circulação internacional de resíduos perigosos entre os países signatários. Este acordo surgiu no início de 1981 sob os auspícios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em Montevidéu, e em seguida, na reunião do Cairo sobre gerenciamento seguro de resíduos perigosos. Em 1989, foi adotada e reconhecida como um documento de referência mundial. A Convenção deve ser um instrumento que represente o esforço internacional para eliminar o trânsito de resíduos com periculosidade ambiental (ZIGLIO, 2005).
  • 45. 44 No Brasil ainda não há uma legislação específica para tratamento e gerenciamento de resíduos perigosos - apenas ações isoladas de estados e municípios. No tocante às normas ambientais sobre resíduos perigosos destacam-se as provenientes do CONAMA que devem ser respeitadas enquanto leis federais. Mais especificamente, pode-se citar a Resolução nº 257 para a destinação de pilhas, baterias e lâmpadas (CONAMA, 1999). Recentemente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) decidiu realizar estudos e regulamentar o descarte de resíduos eletrônicos. Esta regulamentação será estruturada através da ajuda de três grupos formados por fabricantes, importadores e distribuidores; transportadores e recicladores; governo, meio acadêmico e organizações não governamentais. Depois de concluídos os trabalhos no segundo semestre de 2010, os estudos serão enviados para a Câmara Técnica e uma vez aprovada, finalmente será votada no Plenário do Conselho (AGÊNCIA BRASIL, 2010). No estado do Paraná, foi aprovada no ano de 2008, a Lei Estadual 18.851/08, que obriga as empresas produtoras, distribuidoras e as que comercializam equipamentos de informática a cuidarem da destinação final dos equipamentos comercializados por elas no final de sua vida útil, dando-lhes uma destinação adequada. Os fabricantes devem emitir nota de entrada dos resíduos, sendo uma das vias encaminhada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente para controle e fiscalização. Além disso, as empresas devem promover campanhas educativas esclarecendo os usuários sobre os riscos para o meio ambiente se estes materiais forem lançados em locais impróprios (OBSERVATÓRIO DA INDÚSTRIA, 2008). 2.8 LOGÍSTICA REVERSA O aumento da preocupação com o meio ambiente vem criando importância na reutilização dos materiais e conseqüentemente na formação de um ciclo que passa pelo consumidor e chega novamente no fornecedor. O gerenciamento desse caminho inverso dos materiais, ou seja, o retorno do produto é chamado de logística reversa (STOCK, 1998, DYCKHOOF et al., 2004). Leite (2003) comenta que a Logística Reversa surge como importante ferramenta no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos e possibilita que os materiais, antes depositados em aterros sanitários ou em lixões, sejam reintroduzidos na cadeia de produção. Também afirma que, depois de algumas evoluções nos conceitos, tornou-se uma área da logística
  • 46. 45 empresarial que administra os fluxos e as informações correspondentes ao retorno dos bens na fase pós-venda ou pós-consumo. Muitos a vêem como uma forma de obtenção de lucro direta e indireta. Devido à recente e maior atenção dada à preocupação com o meio ambiente, as empresas estão adquirindo uma nova visão de marketing social, ambiental e principalmente de responsabilidade empresarial, por terem consciência que, mesmo involuntariamente, acabam poluindo e causando danos ao meio-ambiente (LEITE, 2003). Portanto, o objetivo estratégico desta logística é agregar valor a um produto que não é mais utilizado pelo usuário original, mas que possui condições de ser reutilizado, ou a um produto descartado por ter atingido o fim de sua vida útil. Desta forma, a Logística Reversa acrescenta três movimentações potenciais à logística da cadeia de suprimentos: a reutilização dos produtos, a recuperação de produtos e a reciclagem de materiais – que podem significar a redução de recursos em um sistema e representar um caminho para retorno e reuso de resíduos gerados. Essa é uma importante ferramenta no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos permitindo a reintrodução dos materiais na cadeia de produção (LEITE, 2003). Dowlatshahi (2000) cita como determinante do sucesso de uma cadeia reversa, além dos objetivos estratégicos, os objetivos operacionais, envolvendo a execução prática dos processos ao longo da cadeia reversa: análise custo/benefício, transporte, estoque, gerenciamento de suprimentos, remanufatura/reciclagem e embalagem. O aumento da consciência ambiental dos consumidores e as tendências legislativas ambientais impelem as empresas a serem cada vez responsáveis por todo o ciclo de vida do seu produto. Desta forma o desenvolvimento da Logística Reversa é um atraente incentivo para a sustentabilidade dos recursos, permitindo que mais bens e serviços sejam produzidos aliados a menor impacto sobre o meio ambiente (LEITE, 2003). 2.9 A REUTILIZAÇÃO COMO MEIO DE PROLONGAR A VIDA ÚTIL DOS COMPUTADORES As políticas ambientais orientadas para o produto estão focadas na etapa de fim de vida dos produtos, exigindo sistemas de elevada qualidade para a sua reutilização e reciclagem. Ao mesmo tempo em que os destinos convencionais, como a incineração e deposição em aterro, se revelam cada vez menos apropriados, devido ao aumento dos seus custos e às imposições legais (SPIES; WUCKE, 2004).