1. FOLHA DIRIGIDA
Educação
CADERNO DE
13 a 19 de outubro de 2011 www.folhadirigida.com.br
DIVULGAÇÃO
Moira Toledo:
“Um caminho para
viabilizar a produção
audiovisual é o
uso de celulares e
câmeras digitais
portáteis, uma
realidade até em
localidades
pequenas e
distantes”
“ É fato que
é bem possível
ensinar sem o
audiovisual.
Mas seria simples
negligência
perceber o
potencial imenso
de uma nova
ferramenta - que
não por acaso
envolve tecnologia
- e ignorá-la
”
Recursos senvolvimento da inteligência interpes-
soal, da inteligência emocional dos alu-
mas condições de ensino, o uso das fer-
ramentas audiovisuais já é absolutamen-
audiovisuais
nos, revelando-se, por fim, uma compe- te possível, dependendo apenas de von-
tência para todos os relacionamentos que tade política e desejo pedagógico.
eles terão no futuro. E esses são apenas
dois exemplos de aspectos de uma ofici- MUITAS ESCOLAS PARTICULARES JÁ UTILIZAM
na audiovisual, que vão muito além de ESSE TIPO DE TECNOLOGIA OU TÊM PROJETOS
quaisquer resultados audiovisuais em si. DESSE TIPO. MAS, COMO LEVAR ESSAS TEC-
NOLOGIAS A QUEM NÃO TEM ACESSO A ELAS?
HÁ EDUCADORES, PRINCIPALMENTE OS MAIS Um caminho é o uso de celulares e câ-
ANTIGOS E TRADICIONAIS, QUE AINDA TÊM UMA meras digitais portáteis, uma realidade
CERTA AVERSÃO À TECNOLOGIA. MUITOS DIZEM até em localidades pequenas e distantes.
ajudam a ampliar
QUE É POSSÍVEL ENSINAR BEM SEM TAIS FERRA- No Festival Claro Curtas, assisti a filmes
MENTAS. O QUE PENSA A RESPEITO DISSO? de formato curtíssimo realizados em to-
Acho que a questão da tecnologia é se- dos os cantos do país, em cidades cujos
cundária aqui. O que a educação audio- nomes nunca antes tinha ouvido falar. Ci-
visual traz hoje é um meio de integrar dades que se pode antever nos vídeos, de
foco da aprendizagem
os alunos em um processo expressivo, interior, do sertão. As câmeras hoje estão
técnico e humanista que tem diversos em todos os lugares. Então, eu acredito,
aspectos e resultados positivos, que de verdade, que é uma questão de vonta-
podem ajudar as escolas a superar desa- de política. Se houver uma política naci-
onal de incentivo à educação audiovisu-
al, haverá muito mais cidades e escolas
JOYCE TRINDADE
em condições de participar do que o con-
joyce.trindade@folhadirigida.com.br Material pode auxiliar educadores trário. E todas se beneficiarão.
Doutora em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes No site do Instituto Claro, os professores e educadores em geral po-
O QUE FAZER PARA QUE A EDUCAÇÃO AUDI-
OVISUAL SEJA POPULAR NO BRASIL?
da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Moira Toledo Bom, de certa maneira, ela já é. Nunca vi
dem ter acesso a links de materiais para auxiliar no desenvolvimento
defende o uso de recursos audiovisuais como forma de balanços negativos da realização de um
despertar o maior interesse dos alunos pelos conteúdos de atividades audiovisuais. Um deles é a Cartilha ‘Tecnologias na Es- processo similar. Já são mais de 2.500
alunos formados nos últimos 15 anos.
disciplinares. E, mais do que isso, como estratégia para cola’, que mostra como explorar o potencial das tecnologias de infor- Mais de 3.000 vídeos produzidos. São 18
ampliar o horizonte do processo de ensino-aprendizagem mação e comunicação na aprendizagem. Já o ‘Guia do Educador’, traz estados e mais de 40 cidades diferentes
com projetos contínuos... Ou seja, a edu-
dicas sobre o uso da linguagem audiovisual em sala de aula. cação audiovisual popular já produz mais
do que as escolas de cinema brasileiras.
S
ão frequentes os debates acadêmi- AS FERRAMENTAS AUDIOVISUAIS JÁ SÃO Link Tecnologias na Escola: Agora, a ampliação disso para uma esca-
cos sobre como melhorar o ensino COMUNS HOJE NA SOCIEDADE . E LAS SÃO la macro depende de políticas públicas.
dentro das salas de aula. Um dos REALMENTE NECESSÁRIAS NA SALA DE AULA?
https://www.institutoclaro.org.br/banco_arquivos/Cartilha.pdf Minha tese de doutorado foi elaborada
grandes entraves da educação brasileira Moira Toledo - O que é necessário, de Link Guia do Educador: com o objetivo de oferecer subsídios àque-
é a falta de interesse dos estudantes pe- fato, nas salas de aula? Já faz muito tempo les que desenvolvem políticas públicas,
los conteúdos pedagógicos das discipli- que se questiona o currículo do nosso http://clarocurtas.com.br/uploads/cc_guia_educador.pdf de modo que esse passo possa enfim ser
nas. Um comportamento em parte jus- ensino formal. Um aluno formado nos dado, contando com informações e a ex-
tificado pelo uso de metodologias e ava- nossos ensinos fundamental e básico tem periência das mais de 100 entidades que
liações tradicionais. Ou seriam mesmo que conhecer e dominar um universo desenvolvem projetos similares.
ultrapassadas? extenso de conhecimentos, e eu reformu-
O que muitos especialistas acreditam
lo a própria pergunta assim: o que se soas possuem diferentes tipos de inteli- fios crônicos. Os professores de gerações O SEMINÁRIO CLARO CURTAS, QUE ACONTE-
é que a escola deve ser mais atrativa para
os estudantes. Esta também é a opinião ensina hoje nas escolas é realmente ne- gência. A escola tende a privilegiar, em mais antigas, mesmo da geração da mi- CEU EM AGOSTO, COM O TEMA ‘EMPREENDER
da educadora e doutora em Cinema pela cessário para a vida, para o futuro dos diferentes níveis, aqueles mais desenvol- nha mãe, que sempre pediu ajuda pra co- E APRENDER’, COMO PARTE DA 3ª EDIÇÃO DO
Escola de Comunicações e Artes da Uni- alunos? Creio que boa parte dos conteú- vidos nas inteligências linguística, ma- nectar os fios do VHS na televisão, hoje FESTIVAL NACIONAL DE CURTÍSSIMA METRA-
versidade de São Paulo (ECA-USP), Moira dos só interessa de fato a quem preten- temática e corporal. No filme “entre os estão muito mais familiarizados com a GEM DO INSTITUTO CLARO, FOI REALIZADO
Toledo. E ela vai além... de seguir carreira em uma ou outra de- muros da escola” isso fica muito claro, internet, celulares, câmeras fotográficas PARA DEBATER O ASSUNTO. DE ACORDO COM
Autora da tese “Educação Audiovisu- terminada área. Acredito que, em busca quando o jovem Suleyman - até então um digitais do que há dez anos. E os alunos, O SEMINÁRIO, QUAL É O BALANÇO DAS OPOR-
al Popular no Brasil”, a professora acre- de um universo amplo de conhecimen- péssimo aluno - se revela um excelente então, ainda muito mais do que os edu- TUNIDADES E AVANÇOS NO USO DA LINGUA-
dita que a utilização de ferramentas au- tos, as escolas acabam perdendo a chance fotógrafo (ou seja, uma pessoa com inte- cadores. É fato que é possível ensinar sem GEM AUDIOVISUAL EM AMBIENTES EDUCATI-
diovisuais no processo educativo de cri- de ensinar com plenitude conhecimen- ligência visual desenvolvida). Em uma o audiovisual. Mas seria simples negli- VOS?
anças e jovens pode ser transformadora tos básicos e mais universais. E, especi- equipe de vídeo há lugar para todo tipo gência perceber o potencial imenso de Acho que seguimos avançando. A cada dia
em nossa sociedade. Para ela, seria ne- almente, as escolas têm pecado no de- de criança ou jovem, para todo tipo de uma nova ferramenta - que não por aca- fico sabendo de uma nova iniciativa, um
gligência ignorar o imenso potencial senvolvimento do que é mais importante inteligência. Para os hábeis em lingua- so envolve tecnologia - e ignorá-la. En- novo projeto, uma nova abordagem via
destas novas tecnologias. no projeto de vida de cada aluno, que é gem, roteiro. Os desenvoltos em aspec- tão, não é uma questão de ser possível políticas públicas. O seminário foi mui-
Em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, a o desenvolvimento de competências que tos visuais, há a direção de arte, a foto- ou não. Sem dúvida que um professor to ilustrativo nesse sentido: Cineclubes,
doutora em Cinema afirma que, além de permitam que ele continue aprendendo grafia, a direção. Os destros em inteligência brilhante, que envolve os alunos de outras Secretaria de Cultura do Rio, universida-
ser encarada como ferramenta, a lingua- - sozinho - depois da escola; que ele se corporal podem assumir a operação de maneiras e conquista resultados signi- des, alunos virando professores... Há um
gem audiovisual pode ampliar as pos- relacione bem com as pessoas, em casa, câmera, o microfone, a construção de ce- ficativos, pode questionar a necessida- movimento social muito grande, um es-
sibilidades de ensino tanto em ambien- no trabalho; que ele seja uma pessoa nários. Os bons em matemática desco- de da educação audiovisual. Nesse con- pírito da época, movendo energia nesse
tes formais, como nos informais. “As
ativa e tenha um método de pesqui- brem novos desafios na direção de foto- texto, entendo que o educador vai se sentido. São diferentes iniciativas que, em
ferramentas audiovisuais são hoje qua-
se que mais necessárias na escola do que sa e estudo que seja autônomo e crí- grafia, na construção de cenários/maque- apaixonar pela educação audiovisual, se um seminário como esse, se aproximam
os próprios conteúdos”, afirma. tico. O processo de ensino-aprendizagem tes, na operação das ilhas de edição. E, experimentar, porque isso levará o de- em busca de soluções comuns e de inte-
Segundo a educadora, a escola tende a das ferramentas audiovisuais, que ocorre assim, ao compor uma equipe, privile- sempenho da turma que já é boa a ní- resse real para a sociedade.
privilegiar, em diferentes níveis, os con- especialmente a partir de oficinas e gia-se e se dá espaço a todos os alunos, veis ainda mais profundos. Agora, um
teúdos mais desenvolvidos na esfera das workshops, possui características intrín- ou seja, constrói-se um percurso pedagó- professor que encontra dificuldades em O GUIA DO EDUCADOR FOI DESENVOLVIDO PELO
inteligências linguística, matemática e secas que permitem aos alunos desen- gico inclusivo. Fora isso, o próprio circuito sala de aula, alunos desmotivados, muita INSTITUTO CLARO PARA OFERECER, GRATUITA-
corporal, em detrimento dos outros tipos volver tais competências em um curto educativo das oficinas privilegia - e mui- evasão ou baixo desempenho... bom, para MENTE, AOS PROFESSORES E ALUNOS, FERRA-
de inteligência. Para ela, as escolas têm período de tempo, e de maneira defini- to - o desenvolvimento de outras com- esse, a educação audiovisual é um acha- MENTAS E SUBSÍDIOS PARA ESTIMULAR O DE-
pecado no desenvolvimento do que é mais tiva. Então, respondendo à pergunta, e petências. Por exemplo, durante o pro- do, pois ajudará a colocar o processo edu- SENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES AUDIOVISUAIS
importante no projeto de vida de cada levando-a a um paroxismo: sim, as fer- cesso de experimentação e aprendizagem cativo nos trilhos. Enfim, acredito que é EM SALA DE AULA. AÇÕES COMO ESSAS CON-
aluno, que é o desenvolvimento de com- ramentas audiovisuais são hoje quase do uso da câmera de vídeo, os alunos são só falta de oportunidade, de formação e SEGUEM BONS RESULTADOS?
petências que permitam que ele continue que mais necessárias na escola do que estimulados a fazer experimentações ri- de condições para fazê-lo, como tempo Sem dúvida. O processo de síntese em ma-
aprendendo - sozinho - depois da esco- os próprios conteúdos. gorosas, sempre mudando apenas um dentro do cronograma das aulas e pro- teriais educativos é fundamental para ga-
la. Com oficinas de vídeo, por exemplo, parâmetro envolvido da experiência. Sem fessores interessados, entre outras. rantir que não se caia, sempre, no desper-
os alunos desenvolvem habilidades que Q UAIS BENEFÍCIOS A UTILIZAÇÃO DESSAS perceber, praticam o método científico - dício da experiência social. Como diz Bo-
poderão usar para sempre em suas vidas. FERRAMENTAS PODE TRAZER AO PROCESSO algo que poderão usar para sempre em A DISCUSSÃO SOBRE EDUCAÇÃO AUDIOVISU- aventura Souza Santos, a experiência so-
A solução, de acordo com Moira, é pos- DE APRENDIZAGEM? suas vidas. No processo coletivo de de- AL NÃO FOGE UM POUCO DA REALIDADE DA cial do mundo é muito maior do que se
sível: basta vontade política. “Na gran- O principal benefício advém do próprio senvolvimento dos roteiros, todos os alu- MAIORIA DAS ESCOLAS, QUE NÃO POSSUI A imagina. E grande parte dela está sendo
de maioria das escolas, que possuem
perfil da realização audiovisual. Para se nos acabam se expondo, se expressando, MENOR INFRAESTRUTURA PARA LECIONAR AS desperdiçada... É fundamental que docu-
mínimas condições de ensino, o uso das
ferramentas audiovisuais já é absoluta- produzir um vídeo, são necessárias - em e tendo que lidar com as críticas do ou- MATÉRIAS BÁSICAS DO ENSINO REGULAR? mentemos o que estamos pensando e
mente possível, dependendo apenas de geral - muitas pessoas, com habilidades tro. Aprendem a fazer e ouvir críticas, a É impossível falar em educação audiovi- construindo, e que os alunos tenham
vontade política e desejo pedagógico”, e perfis distintos. O pesquisador Howard dissociar o trabalho de si mesmos, e en- sual quando não há mínimas condições como buscar referências em seu proces-
afirma. A educadora foi uma das orga- Gardner afirma que existem diversos ti- tendem, por fim, que quando alguém está de aprendizagem, como escolas de lata, so ‘se-virista’, em sua ‘sevirologia’. Ou seja,
nizadoras do “Seminário Claro Curtas”, pos de inteligência, igualmente comple- criticando algo que você fez, o que está um professor atendendo diversas turmas, que eles tenham bons materiais para es-
onde foram debatidas, em agosto, refle- xas e necessárias. Ou seja, ninguém é to- sendo debatido é o que foi produzido, e etc. Nesses casos, sem dúvida, as preocu- tudar enquanto buscam aprender a ‘se
xões e práticas sobre a utilização da lin- talmente inteligente ou desprovido de não você, como pessoa. Essa é uma dis- pações sempre serão outras. Mas, na grande virar’, que é um dos principais objetivos
guagem audiovisual na educação. inteligência. O que ocorre é que as pes- tinção fundamental, que é útil para o de- maioria das escolas, que possuem míni- das oficinas audiovisuais.