SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 32
Era uma vez uma flor.
Tanta flor que pode ter uma história, era uma vez… seja na
Primavera seja no próprio Inverno.
Mas esta flor era uma vez num canto escuro da terra sem sol
que lhe desse cor, sem um olhar que a tocasse, sem as mãos
do vento que a fizessem estremecer.
Vivia num canto escuro perto de uma lagoa de
sapos, entaipada. Nem o vento ou a vida a estremecia .
Era uma vez, mesmo uma vez toda a sua vida de sombra.
Na escuridão os sapos fitavam na flor os seus olhos
muito redondos e feios mas cheios de desejo de a
olhar, como se lhe dissessem deslumbrados:
-És pobre, prisioneira da sombra e és bela!
E a flor continuava escondida como um lençol de
trevas sepultada.
As        suas       raízes     agarravam-se      à
terra, frágeis, recebendo a humidade.
O caule tentava erguer-se na posição vertical, à
procura do sol que não chegava nunca.
E as pétalas, que não tinham nenhuma das cores do
arco-íris, porque o sol nunca as tocara – iam-se
abrindo, pálidas, devagarinho.
E, fora daquele canto da Natureza, a Primavera
já tinha rompido, aberto as cortinas de luz,
as jarras de chuva despejado a maravilha
transparente da água.
As árvores, com os troncos muito límpidos
pela chuva, muito castanhos a deixar romper
as folhas verdes e trémulas, quase sem
recorte, confundindo-se com a atmosfera clara.
E o sol, um dia, apareceu pela madrugada, mesmo sobre a
noite. Nasceu mais cedo do que nunca, nem sabíamos como
podia ter nascido assim quando a Terra se movia
exactamente como nos outros dias. E veio de madrugada
misturado com música tão mansa que as sombras se haviam
esquecido de tapar a flor – a flor escondida de pétalas sem
as cores do arco-íris, sem folhas verdes, de caule mal
erguido.
E os sapos abriram mais seus grandes olhos com o musgo da
solidão e o desejo de amar.
- És bela! És bela! – gritaram.
Os sapos mal amados, também mal
amados como a flor, os sapos que
trabalham na terra sem quererem nenhum
bem em troca.
-És bela! És bela! – repetiam.
E a flor tornou-se rubra de sol, franjada
com o amor que os sapos lhe diziam.
Rubra e trémula , o caule mais vertical, as
raízes agarradas mais à terra.
-Que nos dizes, flor? -Perguntaram os sapos
-O que vos digo? – e a flor, vermelha, percebeu que para
além de poder ter cor, também podia falar, ter voz.
- Que nos dizes, flor? – perguntaram os sapos.
-O que vos digo? – e flor vermelha, de folhas verdes e caule
erguido, raízes agarradas á terra, respondeu:
-O que vos digo? Sou vossa amiga, tanto!
Acompanharam-me quando eu tinha fome de sol, com o
vosso olhar tão bom, tão fraterno. Ajudaram-me a não
morrer!
Os sapos sorriram – que os sapos sabem sorrir.
E disseram-lhe:
-Obrigados também. Tu foste a nossa
esperança. Vivíamos aqui sós com o sangue da
noite na nossa pele e com o verde dos limos
nas águas paradas.
E a flor sorriu abrindo o vermelho
nítido das pétalas, o verde nítido nas
folhas - que as flores também podem
sorrir.
E então, viu-se uma criança que, caminhava pela
madrugada. Sobre a terra que o sol ia tocando. Vinha
descalça com a música dos passos mansos dos pés
descalços.
E olhou a flor.
-É tão linda! Vou leva-la a minha mãe!
A flor vermelha, desde que tivera a cor que o sol lhe havia
dado, começara breve a vida, a sua verdadeira vida ligada à
terra.
E em vida sorriu. Vida breve de flor que em breve iria
morrer.
Mas continuaria.
A amizade dos sapos, a mão do menino que a queria levar à
mãe - tudo era muito.
Os próprios sapos lhe disseram:
- Vai … Depois nos encontraremos…
Seremos homens ou cavalos alados…
Ela, apesar de tudo, vivera porque esperara – tanto! – o sol,
com o amor irmão dos sapos.
E se deixara cortar para viva continuar.
Pela mão de uma criança, filha dos homens, separou-se da
terra, partiu.
A mãe recebeu a flor da mão do filho e sorriu:
- Sabes que esta flor tem milhões de irmãos? –
perguntou-lhe.
Ela vivia tão só, no charco dos sapos… -
observou a criança.
- Onde estão eles, os irmãos?
- Vem ver…
E a mãe deu-lhe a mão direita muito suave e segura
enquanto a esquerda prendia a flor. E ambos caminhavam
pelas ruas. Na rua havia flores vermelhas por toda a parte.
No peito das mulheres, dos homens, nos olhos das
crianças, nos canos silenciosos das espingardas. Não era
uma guerra, nem uma festa. Era um mundo de coração
aberto.
O menino, espantado, olhava tudo e todos, e sua mãe.
O menino que fugira pela madrugada diferente para
encontrar a flor solitária. E viu que a mãe chorava. De
alegria. E com a sua mão de seda pura limpou-lhe as
lágrimas transparentes. Ambos haviam entendido a alegria
única das flores cortadas. No peito de toda a gente.
E continuaram a caminhar pelas ruas húmidas de alegria.
Rios livres a correrem para o mar.
Numa esquina encontraram o pai, com
uma flor ao peito. Abraçaram-se os
três, sorrindo. Como se abraçassem o
mundo inteiro. E continuaram a caminhar.
25 de abril história de uma flor1
25 de abril história de uma flor1
25 de abril história de uma flor1

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outono
Carla Ferreira
 
A castanha lili-
A castanha lili-A castanha lili-
A castanha lili-
labeques
 
Um sonho de neve
Um sonho de neveUm sonho de neve
Um sonho de neve
lenatubal
 
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-tiHistoria adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
Andreia Lucas
 
Natal conto melhor-natal-de-sempre
Natal conto melhor-natal-de-sempreNatal conto melhor-natal-de-sempre
Natal conto melhor-natal-de-sempre
Marisol Santos
 
O palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoletoO palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoleto
Silvares
 
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outonoAdivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
Elisabete Godinho
 
Os direitos as crianças luiísa ducla soares
Os direitos as crianças   luiísa ducla soaresOs direitos as crianças   luiísa ducla soares
Os direitos as crianças luiísa ducla soares
Be Moinho Das Leituras
 
História --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriçoHistória --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriço
helenasalazar
 
Adivinha quanto eu gosto de ti outono
Adivinha quanto eu gosto de ti   outonoAdivinha quanto eu gosto de ti   outono
Adivinha quanto eu gosto de ti outono
maria54cunha
 

La actualidad más candente (20)

A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outono
 
Ciclo do chocolate
Ciclo do chocolateCiclo do chocolate
Ciclo do chocolate
 
A bruxa castanha de antónio mota
A bruxa castanha de antónio motaA bruxa castanha de antónio mota
A bruxa castanha de antónio mota
 
O outono
O outonoO outono
O outono
 
A castanha lili-
A castanha lili-A castanha lili-
A castanha lili-
 
Ciclo do azeite
Ciclo do azeiteCiclo do azeite
Ciclo do azeite
 
A lenda de arlequim
A lenda de arlequimA lenda de arlequim
A lenda de arlequim
 
O Pássaro Encantado
O Pássaro EncantadoO Pássaro Encantado
O Pássaro Encantado
 
Chegou a Primavera
Chegou a PrimaveraChegou a Primavera
Chegou a Primavera
 
Um sonho de neve
Um sonho de neveUm sonho de neve
Um sonho de neve
 
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-tiHistoria adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
Historia adivinha-quanto-eu-gosto-de-ti
 
Uma Vaca De Estimação
Uma Vaca De EstimaçãoUma Vaca De Estimação
Uma Vaca De Estimação
 
Natal conto melhor-natal-de-sempre
Natal conto melhor-natal-de-sempreNatal conto melhor-natal-de-sempre
Natal conto melhor-natal-de-sempre
 
O palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoletoO palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoleto
 
O sapo no inverno
O sapo no invernoO sapo no inverno
O sapo no inverno
 
A oficina do pai natal- pdf
A oficina do pai natal- pdfA oficina do pai natal- pdf
A oficina do pai natal- pdf
 
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outonoAdivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
Adivinha-quanto-u-gosto-de-ti-outono
 
Os direitos as crianças luiísa ducla soares
Os direitos as crianças   luiísa ducla soaresOs direitos as crianças   luiísa ducla soares
Os direitos as crianças luiísa ducla soares
 
História --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriçoHistória --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriço
 
Adivinha quanto eu gosto de ti outono
Adivinha quanto eu gosto de ti   outonoAdivinha quanto eu gosto de ti   outono
Adivinha quanto eu gosto de ti outono
 

Destacado (12)

O tesouro---manuel-antónio-pina
O tesouro---manuel-antónio-pinaO tesouro---manuel-antónio-pina
O tesouro---manuel-antónio-pina
 
O tesouro liberdade
O tesouro  liberdadeO tesouro  liberdade
O tesouro liberdade
 
Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!
 
O 25 de abril, a liberdade e os livros
O 25 de abril, a liberdade e os livrosO 25 de abril, a liberdade e os livros
O 25 de abril, a liberdade e os livros
 
O Tesouro
O  TesouroO  Tesouro
O Tesouro
 
Alice Vieira - Vinte Cinco a Sete Vozes
 Alice Vieira - Vinte Cinco a Sete Vozes Alice Vieira - Vinte Cinco a Sete Vozes
Alice Vieira - Vinte Cinco a Sete Vozes
 
25 de Abril-história
25 de Abril-história25 de Abril-história
25 de Abril-história
 
Tesouro. história 25 abril
Tesouro. história 25 abrilTesouro. história 25 abril
Tesouro. história 25 abril
 
Resumo do conto o tesouro
Resumo do conto o tesouroResumo do conto o tesouro
Resumo do conto o tesouro
 
A liberdade o que é? José Jorge Letria
A liberdade o que é? José Jorge LetriaA liberdade o que é? José Jorge Letria
A liberdade o que é? José Jorge Letria
 
25 de Abril O tesouro e ficha de trabalho
25 de Abril O tesouro e ficha de trabalho25 de Abril O tesouro e ficha de trabalho
25 de Abril O tesouro e ficha de trabalho
 
Trabalho 25 de abril 2
Trabalho 25 de abril   2 Trabalho 25 de abril   2
Trabalho 25 de abril 2
 

Similar a 25 de abril história de uma flor1

Poemas so século xx
Poemas so século xxPoemas so século xx
Poemas so século xx
tildocas
 
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivoCetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Vera Laporta
 
Recriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José SaramagoRecriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José Saramago
Lurdes Augusto
 
Primavera - Cecília Meireles
Primavera - Cecília MeirelesPrimavera - Cecília Meireles
Primavera - Cecília Meireles
Mima Badan
 
O Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A RosaO Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A Rosa
mariahbrasil
 
O Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea RosaO Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea Rosa
Rudimar
 
O Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A RosaO Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A Rosa
mariahbrasil
 
O Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea RosaO Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea Rosa
Rudimar
 
Monsaraz Alentejo
Monsaraz AlentejoMonsaraz Alentejo
Monsaraz Alentejo
BiaEsteves
 

Similar a 25 de abril história de uma flor1 (20)

Poemas sobre árvores e as florestas
Poemas sobre árvores e as florestas Poemas sobre árvores e as florestas
Poemas sobre árvores e as florestas
 
Poemas so século xx
Poemas so século xxPoemas so século xx
Poemas so século xx
 
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
 
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivoCetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
 
Recriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José SaramagoRecriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José Saramago
 
Primavera - Cecília Meireles
Primavera - Cecília MeirelesPrimavera - Cecília Meireles
Primavera - Cecília Meireles
 
Espanta pardais
Espanta pardaisEspanta pardais
Espanta pardais
 
Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014
 
A fita vermelha
A fita vermelhaA fita vermelha
A fita vermelha
 
O Mundo às Cores
O Mundo às CoresO Mundo às Cores
O Mundo às Cores
 
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
 
Cesario verde
Cesario verdeCesario verde
Cesario verde
 
O jardim encantado
O jardim encantadoO jardim encantado
O jardim encantado
 
Monsaraz
MonsarazMonsaraz
Monsaraz
 
O Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A RosaO Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A Rosa
 
O Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea RosaO Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea Rosa
 
O Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea RosaO Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea Rosa
 
O Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A RosaO Rouxinol E A Rosa
O Rouxinol E A Rosa
 
O Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea RosaO Rouxinolea Rosa
O Rouxinolea Rosa
 
Monsaraz Alentejo
Monsaraz AlentejoMonsaraz Alentejo
Monsaraz Alentejo
 

Más de PeroVaz

229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
PeroVaz
 
Folheto (alunos e enc. educ.
Folheto (alunos e enc. educ.Folheto (alunos e enc. educ.
Folheto (alunos e enc. educ.
PeroVaz
 
Cartaz bullying
Cartaz   bullyingCartaz   bullying
Cartaz bullying
PeroVaz
 
Miguel ciganos
Miguel ciganosMiguel ciganos
Miguel ciganos
PeroVaz
 

Más de PeroVaz (20)

Pf port91-ch2-2012-cc
Pf port91-ch2-2012-ccPf port91-ch2-2012-cc
Pf port91-ch2-2012-cc
 
Pf port91-ch2-2012
Pf port91-ch2-2012Pf port91-ch2-2012
Pf port91-ch2-2012
 
Pf port91-ch1-2012-cc
Pf port91-ch1-2012-ccPf port91-ch1-2012-cc
Pf port91-ch1-2012-cc
 
Pf port91-ch1-2012
Pf port91-ch1-2012Pf port91-ch1-2012
Pf port91-ch1-2012
 
Pf port91 ch2_2013_cc (1)
Pf port91 ch2_2013_cc (1)Pf port91 ch2_2013_cc (1)
Pf port91 ch2_2013_cc (1)
 
Pf port91 ch2_2013
Pf port91 ch2_2013Pf port91 ch2_2013
Pf port91 ch2_2013
 
Pf port91 ch1_2013_cc
Pf port91 ch1_2013_ccPf port91 ch1_2013_cc
Pf port91 ch1_2013_cc
 
Pf port91 ch1_2013
Pf port91 ch1_2013Pf port91 ch1_2013
Pf port91 ch1_2013
 
Pf port91-ch2-2014-cc
Pf port91-ch2-2014-ccPf port91-ch2-2014-cc
Pf port91-ch2-2014-cc
 
Pf port91-ch2-2014
Pf port91-ch2-2014Pf port91-ch2-2014
Pf port91-ch2-2014
 
Pf port91-ch1-2014-cc
Pf port91-ch1-2014-ccPf port91-ch1-2014-cc
Pf port91-ch1-2014-cc
 
Pf port91-ch1-2014
Pf port91-ch1-2014Pf port91-ch1-2014
Pf port91-ch1-2014
 
Pf port91-f2-2015-cc
Pf port91-f2-2015-ccPf port91-f2-2015-cc
Pf port91-f2-2015-cc
 
Pf port91-f2-2015
Pf port91-f2-2015Pf port91-f2-2015
Pf port91-f2-2015
 
Pf port91-f1-2015-cc
Pf port91-f1-2015-ccPf port91-f1-2015-cc
Pf port91-f1-2015-cc
 
Pf port91-f1-2015
Pf port91-f1-2015Pf port91-f1-2015
Pf port91-f1-2015
 
229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
229656983 preparacao-para-prova-final-de-portugues-9º-ano-3º-ciclo
 
Folheto (alunos e enc. educ.
Folheto (alunos e enc. educ.Folheto (alunos e enc. educ.
Folheto (alunos e enc. educ.
 
Cartaz bullying
Cartaz   bullyingCartaz   bullying
Cartaz bullying
 
Miguel ciganos
Miguel ciganosMiguel ciganos
Miguel ciganos
 

Último

Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
WagnerCamposCEA
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
TailsonSantos1
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
TailsonSantos1
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
RavenaSales1
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
edelon1
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
LeloIurk1
 

Último (20)

Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
Antero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escritaAntero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escrita
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
Nós Propomos! Autocarros Elétricos - Trabalho desenvolvido no âmbito de Cidad...
Nós Propomos! Autocarros Elétricos - Trabalho desenvolvido no âmbito de Cidad...Nós Propomos! Autocarros Elétricos - Trabalho desenvolvido no âmbito de Cidad...
Nós Propomos! Autocarros Elétricos - Trabalho desenvolvido no âmbito de Cidad...
 
praticas experimentais 1 ano ensino médio
praticas experimentais 1 ano ensino médiopraticas experimentais 1 ano ensino médio
praticas experimentais 1 ano ensino médio
 
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptxProjeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Modelo de Plano Plano semanal Educação Infantil 5 anossemanal Educação Infant...
Modelo de Plano Plano semanal Educação Infantil 5 anossemanal Educação Infant...Modelo de Plano Plano semanal Educação Infantil 5 anossemanal Educação Infant...
Modelo de Plano Plano semanal Educação Infantil 5 anossemanal Educação Infant...
 

25 de abril história de uma flor1

  • 1.
  • 2.
  • 3. Era uma vez uma flor. Tanta flor que pode ter uma história, era uma vez… seja na Primavera seja no próprio Inverno. Mas esta flor era uma vez num canto escuro da terra sem sol que lhe desse cor, sem um olhar que a tocasse, sem as mãos do vento que a fizessem estremecer. Vivia num canto escuro perto de uma lagoa de sapos, entaipada. Nem o vento ou a vida a estremecia . Era uma vez, mesmo uma vez toda a sua vida de sombra.
  • 4.
  • 5. Na escuridão os sapos fitavam na flor os seus olhos muito redondos e feios mas cheios de desejo de a olhar, como se lhe dissessem deslumbrados: -És pobre, prisioneira da sombra e és bela! E a flor continuava escondida como um lençol de trevas sepultada. As suas raízes agarravam-se à terra, frágeis, recebendo a humidade. O caule tentava erguer-se na posição vertical, à procura do sol que não chegava nunca. E as pétalas, que não tinham nenhuma das cores do arco-íris, porque o sol nunca as tocara – iam-se abrindo, pálidas, devagarinho.
  • 6.
  • 7. E, fora daquele canto da Natureza, a Primavera já tinha rompido, aberto as cortinas de luz, as jarras de chuva despejado a maravilha transparente da água. As árvores, com os troncos muito límpidos pela chuva, muito castanhos a deixar romper as folhas verdes e trémulas, quase sem recorte, confundindo-se com a atmosfera clara.
  • 8.
  • 9. E o sol, um dia, apareceu pela madrugada, mesmo sobre a noite. Nasceu mais cedo do que nunca, nem sabíamos como podia ter nascido assim quando a Terra se movia exactamente como nos outros dias. E veio de madrugada misturado com música tão mansa que as sombras se haviam esquecido de tapar a flor – a flor escondida de pétalas sem as cores do arco-íris, sem folhas verdes, de caule mal erguido. E os sapos abriram mais seus grandes olhos com o musgo da solidão e o desejo de amar. - És bela! És bela! – gritaram.
  • 10.
  • 11. Os sapos mal amados, também mal amados como a flor, os sapos que trabalham na terra sem quererem nenhum bem em troca. -És bela! És bela! – repetiam. E a flor tornou-se rubra de sol, franjada com o amor que os sapos lhe diziam. Rubra e trémula , o caule mais vertical, as raízes agarradas mais à terra.
  • 12.
  • 13. -Que nos dizes, flor? -Perguntaram os sapos -O que vos digo? – e a flor, vermelha, percebeu que para além de poder ter cor, também podia falar, ter voz. - Que nos dizes, flor? – perguntaram os sapos. -O que vos digo? – e flor vermelha, de folhas verdes e caule erguido, raízes agarradas á terra, respondeu: -O que vos digo? Sou vossa amiga, tanto! Acompanharam-me quando eu tinha fome de sol, com o vosso olhar tão bom, tão fraterno. Ajudaram-me a não morrer!
  • 14.
  • 15. Os sapos sorriram – que os sapos sabem sorrir. E disseram-lhe: -Obrigados também. Tu foste a nossa esperança. Vivíamos aqui sós com o sangue da noite na nossa pele e com o verde dos limos nas águas paradas.
  • 16.
  • 17. E a flor sorriu abrindo o vermelho nítido das pétalas, o verde nítido nas folhas - que as flores também podem sorrir.
  • 18.
  • 19. E então, viu-se uma criança que, caminhava pela madrugada. Sobre a terra que o sol ia tocando. Vinha descalça com a música dos passos mansos dos pés descalços. E olhou a flor. -É tão linda! Vou leva-la a minha mãe! A flor vermelha, desde que tivera a cor que o sol lhe havia dado, começara breve a vida, a sua verdadeira vida ligada à terra. E em vida sorriu. Vida breve de flor que em breve iria morrer. Mas continuaria.
  • 20.
  • 21. A amizade dos sapos, a mão do menino que a queria levar à mãe - tudo era muito. Os próprios sapos lhe disseram: - Vai … Depois nos encontraremos… Seremos homens ou cavalos alados… Ela, apesar de tudo, vivera porque esperara – tanto! – o sol, com o amor irmão dos sapos. E se deixara cortar para viva continuar. Pela mão de uma criança, filha dos homens, separou-se da terra, partiu.
  • 22.
  • 23. A mãe recebeu a flor da mão do filho e sorriu: - Sabes que esta flor tem milhões de irmãos? – perguntou-lhe. Ela vivia tão só, no charco dos sapos… - observou a criança. - Onde estão eles, os irmãos? - Vem ver…
  • 24.
  • 25. E a mãe deu-lhe a mão direita muito suave e segura enquanto a esquerda prendia a flor. E ambos caminhavam pelas ruas. Na rua havia flores vermelhas por toda a parte. No peito das mulheres, dos homens, nos olhos das crianças, nos canos silenciosos das espingardas. Não era uma guerra, nem uma festa. Era um mundo de coração aberto.
  • 26.
  • 27. O menino, espantado, olhava tudo e todos, e sua mãe. O menino que fugira pela madrugada diferente para encontrar a flor solitária. E viu que a mãe chorava. De alegria. E com a sua mão de seda pura limpou-lhe as lágrimas transparentes. Ambos haviam entendido a alegria única das flores cortadas. No peito de toda a gente. E continuaram a caminhar pelas ruas húmidas de alegria. Rios livres a correrem para o mar.
  • 28.
  • 29. Numa esquina encontraram o pai, com uma flor ao peito. Abraçaram-se os três, sorrindo. Como se abraçassem o mundo inteiro. E continuaram a caminhar.