15. Este relado é encontrado nos três Sinóticos. Para uma argumentação
mais detalhada, veja Mateus 8.18, 23-27 (cf. Mc 4.35-41). Sendo o próprio
Criador, Ele demonstrou seu poder sobre a natureza ao repreender a
tempestade que aterrorizava os discípulos que, no barco, atravessavam o mar
da Galiléia (Mt 8:23-26). Depois do atraso causado pela conversa com os dois
homens (cf. v. 18), Jesus entrou em um barco com os seus discípulos (23). Este
era provavelmente o pequeno barco de pesca de Pedro. Quando eles estavam
cruzando o lago, se levantou (24) uma tempestade (seismos, “terremoto”).
Enquanto o barco era coberto pelas ondas, Jesus estava dormindo (tempo
imperfeito). Ele estava tão cansado que a tempestade não o despertou (veja
também Mc 4.35-41; Lc 8.22-25). Muito assustados, os discípulos o despertaram
com o grito: Senhor, salva-nos, que perecemos (25). Ele primeiro os repreendeu
por temerem (26; de forma literal, “covardemente”) e então repreendeu os
ventos e o mar. O resultado foi uma grande bonança. Não é de surpreender que
aqueles homens tenham se maravilhado (27). Em seus anos de pescaria no lago
eles já tinham passado por muitas tempestades graves, mas nunca por uma
que tivesse sido subitamente acalmada pela ordem de uma pessoa. A reação
deles ainda hoje é pertinente: Que homem é este! Como um mero homem Ele
seria completamente inexplicável. Comentário Bíblico Beacon – CPAD, pág 74
16.
17. Os demônios, como em outras ocasiões, reconheceram Cristo como
sendo o Filho de Deus e temeram o tormento que inevitavelmente sofreriam.
Atendendo um pedido, Jesus permitiu que os demônios entrassem em uma
manada de porcos que estava nas proximidades - Marcos afirma que eram
quase dois mil. O resultado foi que toda a manada morreu nas águas do lago
(30-32). Aqueles que guardavam os porcos fugiram até à cidade para contar
tudo o que havia ocorrido (33). Toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus. O
povo, tomado pelo medo (Lc 8.38) rogou que Ele se retirasse do seu território
(das suas “fronteiras” ou do seu “distrito”). Eles tiveram medo do poder de
Jesus. Algumas vezes, duas questões têm sido formuladas a respeito desse
acontecimento. A primeira é: Por que Jesus permitiu que esses porcos fossem
destruídos? Houve quem sugerisse que Ele queria confirmar a fé dos dois
endemoninhados curados, por esta evidência visível de que os demônios haviam
realmente deixado os seus corpos. Alguns pensam que Jesus fez isso para
mostrar à multidão o poder tremendo e as tendências destrutivas que os
demônios possuem.
18.
19.
20.
21.
22. Jesus, durante o Seu ministério terreno, encontrou muitos demônios. Claro
que nenhum deles era mais poderoso que o próprio Cristo: "Chegada a tarde,
trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os
espíritos..." (Mateus 8:16). A autoridade de Jesus sobre os demônios é uma das
provas de que Ele era realmente o Filho de Deus (Lucas 11:20). Os demônios que O
encontraram sabiam quem Ele era, e temiam: "E eis que gritaram: Que temos nós
contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?" (Mateus
8:29). Os demônios sabem que o seu fim será um de tormento. Satanás e seus
demônios agora têm o objetivo de destruir a obra de Deus e enganar qualquer
pessoa (1 Pedro 5:8, 2 Coríntios 11:14-15). Os demônios são descritos como espíritos
do mal (Mateus 10:1), espíritos imundos (Marcos 1:27), espíritos mentirosos (1 Reis
22:23) e os anjos de Satanás (Apocalipse 12:9). Satanás e seus demônios enganam o
mundo (2 Coríntios 4:4), promulgam a falsa doutrina (1 Timóteo 4:1), atacam os
cristãos (2 Coríntios 12:7, 1 Pedro 5:8) e combatem os santos anjos (Apocalipse 12 :4-
9). Os demônios/anjos caídos são inimigos de Deus, mas são inimigos derrotados.
Cristo tem despojado "os principados e as potestades”, e “publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz" (Colossenses 2:15). À medida que nos
submetemos a Deus e resistimos ao diabo, não temos nada a temer. "Filhinhos, vós
sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em
vós do que aquele que está no mundo" (1 João 4:4).
23.
24. Iguais aos anjos, os demônios também são seres espirituais
criados com juízo moral e com alta inteligência, mas sem corpos físicos.
Podemos definir os demônios da seguinte e maneira: Os demônios são anjos
que pecaram contra Deus e que agora operam continuamente o mal no
mundo. Quando Deus criou o mundo, ele “viu tudo o que havia feito, e tudo
havia ficado muito bom” (Gn 1.3 1). Isso significa que mesmo o mundo
angelical que Deus havia criado não possuía anjos maus nem demônios
àquela altura. Mas, quando chegamos a Gênesis 3 , percebemos que
Satanás, na forma de uma serpente, tentou Eva para que pecasse (Gn 3.1-5).
Portanto, em um determinado tempo entre os eventos de Gênesis 1.31 e
Gênesis 3.1 , deve ter havido uma rebelião no mundo angelical, com muitos
anjos se voltando contra Deus e tornando-se maus. O Novo Testamento fala
disso em dois lugares. Pedro nos diz que “Deus não poupou a anjos que
pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a
fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4). Judas também diz que
“quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas
abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos
com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6).
25.
26.
27. Assim como Satanás induziu Eva a pecar contra Deus (Gn 3.1-
6), ele também induziu Jesus a pecar para que falhasse na sua missão
como Messias (Mt 4.1-11). As táticas de Satanás e seus demônios são
as de usar as mentiras (Jo 8.44), o engano (Ap 12.9), o assassinato (Sl
106.37; Jo 8.44) e qualquer outra espécie de atividade destrutiva para
provocar nas pessoas o abandono de Deus e a destruição delas
próprias. Os demônios tentarão toda tática para cegar as pessoas para
o evangelho (2Co 4.4) e mantê-las em escravidão às coisas que as
impedem de vir a Deus (Gl 4.8). Eles também usarão tentação, dúvida,
culpa, temor, confusão, doença, inveja, orgulho, calúnia ou quaisquer
outros meios para impedir o testemunho e a utilidade dos cristãos.
Quando Jesus enviou os doze discípulos adiante dele para pregar o
Reino de Deus, ”deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os
demônios” (Lc 9.1). Após os setenta terem pregado sobre o Reino de
Deus nas cidades e aldeias, eles retornaram com alegria, dizendo:
”Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10.17)
, e Jesus lhes disse: ”Eu lhes dei autoridade [...] sobre todo o poder do
inimigo”(Lc 10.19).
28. Quando Filipe, o evangelista, desceu para Samaria para pregar o
evangelho de Cristo , ”os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos” (At
8.7), e Paulo usou a autoridade espiritual sobre os demônios para dizer ao
espírito de adivinhação que estava em uma jovem adivinhadora: “Em nome de
Jesus Cristo eu lhe ordeno que saia dela!” (At 16.18). Paulo estava cônscio da
autoridade espiritual que possuía, tanto nos encontros face a face como o de
Atos 16 , como também em sua vida de oração. Ele disse: “Pois, embora
vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas
com as quais lutamos não são humanas; ao contrario, são poderosas em Deus
para destruir fortalezas” (2Co 10.3,4). Além disso, ele falou em alguma medida
da luta que os cristãos têm contra “as ciladas do Diabo” em sua descrição do
conflito “contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (v. Ef 6.10-
18). Tiago fala a todos os seus leitores (em muitas igrejas): “Resistam ao
Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4.7). Semelhantemente, Pedro diz a seus
leitores em muitas igrejas na Ásia Menor: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo,
o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem
possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé” (lPe 5.8,9).
29.
30. Não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão
(16). Para qualquer um que não esteja cego pelo preconceito, a resposta não só é óbvia
como também é mais poderosa quando está implícita e não abertamente verbalizada.
A referência de Jesus à mulher como sendo filha de Abraão sugere que ela tem um
duplo apelo à misericórdia e ajuda de todos os judeus - como um ser humano e como
uma compatriota israelita. E, dizendo ele isso, todos os seus adversários ficaram
envergonhados (17). A palavra todos indica que o chefe da sinagoga tinha alguns
ajudantes ativos no seu ataque ao Mestre. Mas a réplica de Jesus era tão relevante e
tão adequada, que até mesmo estes homens egoístas ficaram envergonhados. Eles não
expressaram qualquer refutação - não havia nenhuma a fazer. E todo o povo se
alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele. O povo reconheceu e
apreciou aquilo que os líderes religiosos negligenciavam por sua cegueira: que Deus
havia trabalhado entre eles, e que havia demonstrado a sua ilimitada compaixão,
assim como o seu soberano poder. Aquilo que viram fez com que associassem este
Jesus ao Deus do Céu. Sem dúvida, a resposta de Jesus censurando o príncipe da
sinagoga aumentou o entendimento e a admiração que sentiram pelo milagre ali
presenciado por eles. Charles Simeon faz três reflexões sobre este episódio: 1) Quanta
cegueira e hipocrisia existem no coração humano! 2) Como é desejável abraçar cada
oportunidade de esperar em Deus! - esta mulher recebeu a cura porque participava
fielmente das reuniões na sinagoga; 3) Com que conforto e esperança podemos confiar
os nossos problemas a Jesus!