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Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.




(Sebastião da Gama)

http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Sebasti%E3o+da+Gama




                António Gedeão - Pedra filosofal

                 http://www.youtube.com/watch?v=iqUI5NyDJmQ



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos


que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.




(António Gedeão)



Rómulo de Carvalho/ António Gedeão (ver p.225 do Manual de L.
Portuguesa)


Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu em Lisboa em 1906 e
licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela universidade do
Porto em 1931. Foi professor, pedagogo, cientista e investigador de
História das ciências.
Publicou diversos livros de divulgação científica, assim como livros
escolares especializados, nomeadamente na área da matemática.
Mas para além de homem da ciência, Rómulo de Carvalho é um grande poeta. Sob o
pseudónimo de António Gedeão enriqueceu de forma decisiva a literatura portuguesa
do século XX. Gedeão é autor de inúmeros belos poemas, “A Pedra Filosofal” ou
“Lágrima de Preta” são dois exemplos bem conhecidos. Estes e outros mostram uma
originalidade indiscutível e um génio poético impar! Apesar do enorme génio poético,
só aos 50 anos decide publicar o seu primeiro livro de poesia.
O autor incorpora na sua poesia uma cultura científica actual numa mistura de meios
de expressão tradicionais, e deixa ao mesmo tempo transparecer uma clara visão do
mundo moderno. António Gedeão morreu em 19 de Fevereiro de 1997, meses antes de
ter sido homenageado pelo Ministério de Ciência e de Tecnologia.
Rómulo de Carvalho ou António Gedeão, um cientista e um grande poeta português.
Este nosso exemplo, mostra bem como a ciência e a arte têm uma fronteira ténue!




http://www.romulodecarvalho.net/




Em relação a. Sendo um texto com uma dimensão superior ao usual, apresenta um
tratamento literário mais complexo e uma maior riqueza conceptual.
O argumento central segue de perto a história do rei que, decidindo distribuir o seu
reino pelas suas três filhas, questiona-as sobre o amor que têm por ele. De acordo
com as convenções do género, será a mais nova aquela que melhor transmite a ideia
do seu amor, mas utilizando uma fórmula que não é compreendida pelo pai – a
conhecida frase, preciso de vós como a comida precisa de sal . A questão da
linguagem será exactamente uma problemática central em todo o texto,
constituindo uma importante fonte de caracterização de diversas figuras.
E o texto desenvolve-se com frequentes alusões a questões sociais, num processo
simultâneo de desmistificação de certos padrões representados pelo conto tradicional
e de ampliação da problemática que habitualmente nele encontramos.
Assim, é através da linguagem que se estabelece uma primeira oposição entre o rei e o seu
bobo, revelando posições ideológicas distintas,
Enquanto o rei se expressa num registo reflexivo e sonhador, o bobo contrapõe o
seu pragmatismo. As intervenções do bobo estão também ao serviço de um
discurso de cariz social, representando um colectivo, ao passo que o rei se
assume, nas suas falas, como um sujeito individual.
Em relação ao rei, as suas preocupações reduzem-se a um sonho que teve, e ao seu
carácter premonitório, o que faz com que o discurso proferido seja auto-centrado; por
sua vez, o bobo, preocupado sobretudo com a sobrevivência e com os problemas
mais comezinhos que tem de enfrentar diariamente (designadamente a comida),


os pobres, em oposição a “eles”, os senhores.


aos pobres como eu (p. 12)
Será que é sangue igual ao deles o que me escorre das costas quando apanho
chibatadas [...]
Nós somos uns pobres servos... Sonhar seria um luxo, um desperdício! (p. 14)


bobo que extrai significados distintos das palavras, de acordo com a
posição/contexto social
 por exemplo, os “dias” dos pobres são diferentes dos “dias” dos ricos.
Em dois momentos apenas permanece a igualdade entre todos, retomando-se aqui
um dito popular: a hora do nascimento e a da morte –
 E quando um dia morrermos e formos para debaixo da terra, tão morto estarei eu
como qualquer deles (p. 14). Curiosamente, estes comentários instalam uma diferença
ao nível do saber, que contrasta com o pretenso estatuto/poder das personagens: o
bobo, apesar do seu baixo estatuto social, assume-se como possuidor de um
saber mais amplo do que os senhores e do que o seu rei, que manifesta
desconhecimento desse facto: Rei – nem sabes a sorte que tens!/ Bobo –
(irónico) Sei sim, meu senhor! [...]” (p. 15).

Por estas intervenções descortina-se facilmente a função de comentador que o
bobo – aliás, de acordo com um papel que tradicionalmente lhe é atribuído – vai
assumir na economia da peça. Um papel que, dada a sua posição de
subalternidade, não pode desempenhar com frontalidade, pelo que será sobretudo
através de apartes que essa função será concretizada, estabelecendo um jogo entre
um ser-dissimulado – só percebido pelo leitor/espectador

– e um parecer, única faceta a que o rei a princípio tem acesso, e que o jogo
linguístico também ilustra: Rei - Zombas de mim?/ Bobo - Que ideia senhor! Como
posso zombar de ti se penso como tu pensas?/ Rei - Parecia... (p. 16). O bobo só
assumirá o seu verdadeiro eu perante o rei, a sua “essência”, no início do
segundo acto, quando o rei se vê completamente despojado do seu poder pelas
duas filhas, estando agora em posição de igualdade perante o bobo, uma igualdade
que, todavia, lhe é difícil de aceitar:
                                                                                 |8|
Bobo – Rei?! Quem foi que aqui falou em rei? Aqui não vejo rei nenhum...
Rei – Não provoques a minha ira, que eu ainda tenho poder para ...
Bobo (interrompe-o) – Poder? Falaste em poder? Que poder tens tu, que nem
uma mísera côdea de pão consegues encontrar? (p. 68)


Mas outras personagens se diferenciam através dos seus discursos. É o caso dos
pretendentes à mão das três princesas. Felizardo caracteriza-se por um discurso
baseado nos valores mais terrenos: a sua riqueza é constantemente medida em
termos dos bens que possui – tem um rolo de papel, a que recorre repetidas vezes,
para sumariar o volume das suas posses: “256 bois, 256 vacas...”. A estes dados,
Reginaldo contrapõe um discurso que valoriza a riqueza dos sentimentos: De
muitas riquezas ouvi falar, senhores, mas nenhum de vós falou em amor! (p. 44); a
minha Violeta terá o meu coração inteiro, e isso é riqueza bem maior do que os vossos
bens todos juntos! (p. 45).
Mas o outro funciona num registo bem diferente, acentuando através da linguagem a
pertença a universos igualmente distintos: E o que é que a gente faz com um
coração?; Gratidão? Palavra estranha... (p. 45). Quanto a Simplício (e o nome que o
designa tem um significado claro), nada mais faz do que secundar as palavras de
Felizardo, repetindo sempre Tiraste-me as palavras da boca!, mas a princesa que lhe
está destinada, Hortênsia, parece igualmente dar pouco valor ao valor das
palavras: O vosso vocabulário, meu amado noivo, é um pouco reduzido,
convenhamos, mas como é farta a vossa bolsa, e largos os horizontes de vosso
reino (ri), quem é que precisa de grandes discursos? (p. 48).

Todavia, como referirá o bobo, com sabedoria, Olha que às vezes há palavras
que matam muito mais depressa do que uma valente espadeirada... (p. 72),
numa alusão às palavras, de amor profundo, da filha mais nova que, incompreendidas
pelo pai, resultaram em palavras de raiva e ódio, por parte deste. E será finalmente
através das palavras que o rei irá ter até ao reino da filha, que a reconhecerá (neste
caso, através da voz dela, ou seja, o som das palavras) e que o bobo decididamente
assume o seu eu: Não me calo, não me calo, e não me calo! (p. 105).

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Antonio G. Alice Vieira

  • 1. Pelo sonho é que vamos, comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria, ao que desconhecemos e ao que é do dia a dia. Chegamos? Não chegamos? - Partimos. Vamos. Somos. (Sebastião da Gama) http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Sebasti%E3o+da+Gama António Gedeão - Pedra filosofal http://www.youtube.com/watch?v=iqUI5NyDJmQ Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso, em serenos sobressaltos como estes pinheiros altos que em verde e ouro se agitam como estas aves que gritam em bebedeiras de azul. Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma. é fermento, bichinho alacre e sedento. de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
  • 2. Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel. arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa dos ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança., Colombina e Arlequim, passarola voadora, para-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra som televisão desembarque em foguetão na superfície lunar. Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre a mãos de uma criança. (António Gedeão) Rómulo de Carvalho/ António Gedeão (ver p.225 do Manual de L. Portuguesa) Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu em Lisboa em 1906 e licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela universidade do Porto em 1931. Foi professor, pedagogo, cientista e investigador de História das ciências. Publicou diversos livros de divulgação científica, assim como livros escolares especializados, nomeadamente na área da matemática. Mas para além de homem da ciência, Rómulo de Carvalho é um grande poeta. Sob o pseudónimo de António Gedeão enriqueceu de forma decisiva a literatura portuguesa do século XX. Gedeão é autor de inúmeros belos poemas, “A Pedra Filosofal” ou “Lágrima de Preta” são dois exemplos bem conhecidos. Estes e outros mostram uma originalidade indiscutível e um génio poético impar! Apesar do enorme génio poético, só aos 50 anos decide publicar o seu primeiro livro de poesia. O autor incorpora na sua poesia uma cultura científica actual numa mistura de meios de expressão tradicionais, e deixa ao mesmo tempo transparecer uma clara visão do mundo moderno. António Gedeão morreu em 19 de Fevereiro de 1997, meses antes de ter sido homenageado pelo Ministério de Ciência e de Tecnologia.
  • 3. Rómulo de Carvalho ou António Gedeão, um cientista e um grande poeta português. Este nosso exemplo, mostra bem como a ciência e a arte têm uma fronteira ténue! http://www.romulodecarvalho.net/ Em relação a. Sendo um texto com uma dimensão superior ao usual, apresenta um tratamento literário mais complexo e uma maior riqueza conceptual. O argumento central segue de perto a história do rei que, decidindo distribuir o seu reino pelas suas três filhas, questiona-as sobre o amor que têm por ele. De acordo com as convenções do género, será a mais nova aquela que melhor transmite a ideia do seu amor, mas utilizando uma fórmula que não é compreendida pelo pai – a conhecida frase, preciso de vós como a comida precisa de sal . A questão da linguagem será exactamente uma problemática central em todo o texto, constituindo uma importante fonte de caracterização de diversas figuras. E o texto desenvolve-se com frequentes alusões a questões sociais, num processo simultâneo de desmistificação de certos padrões representados pelo conto tradicional e de ampliação da problemática que habitualmente nele encontramos.
  • 4. Assim, é através da linguagem que se estabelece uma primeira oposição entre o rei e o seu bobo, revelando posições ideológicas distintas,
  • 5.
  • 6. Enquanto o rei se expressa num registo reflexivo e sonhador, o bobo contrapõe o seu pragmatismo. As intervenções do bobo estão também ao serviço de um discurso de cariz social, representando um colectivo, ao passo que o rei se assume, nas suas falas, como um sujeito individual. Em relação ao rei, as suas preocupações reduzem-se a um sonho que teve, e ao seu carácter premonitório, o que faz com que o discurso proferido seja auto-centrado; por sua vez, o bobo, preocupado sobretudo com a sobrevivência e com os problemas mais comezinhos que tem de enfrentar diariamente (designadamente a comida), os pobres, em oposição a “eles”, os senhores. aos pobres como eu (p. 12) Será que é sangue igual ao deles o que me escorre das costas quando apanho chibatadas [...] Nós somos uns pobres servos... Sonhar seria um luxo, um desperdício! (p. 14) bobo que extrai significados distintos das palavras, de acordo com a posição/contexto social por exemplo, os “dias” dos pobres são diferentes dos “dias” dos ricos. Em dois momentos apenas permanece a igualdade entre todos, retomando-se aqui um dito popular: a hora do nascimento e a da morte – E quando um dia morrermos e formos para debaixo da terra, tão morto estarei eu como qualquer deles (p. 14). Curiosamente, estes comentários instalam uma diferença ao nível do saber, que contrasta com o pretenso estatuto/poder das personagens: o bobo, apesar do seu baixo estatuto social, assume-se como possuidor de um saber mais amplo do que os senhores e do que o seu rei, que manifesta desconhecimento desse facto: Rei – nem sabes a sorte que tens!/ Bobo – (irónico) Sei sim, meu senhor! [...]” (p. 15). Por estas intervenções descortina-se facilmente a função de comentador que o bobo – aliás, de acordo com um papel que tradicionalmente lhe é atribuído – vai assumir na economia da peça. Um papel que, dada a sua posição de subalternidade, não pode desempenhar com frontalidade, pelo que será sobretudo através de apartes que essa função será concretizada, estabelecendo um jogo entre um ser-dissimulado – só percebido pelo leitor/espectador – e um parecer, única faceta a que o rei a princípio tem acesso, e que o jogo linguístico também ilustra: Rei - Zombas de mim?/ Bobo - Que ideia senhor! Como posso zombar de ti se penso como tu pensas?/ Rei - Parecia... (p. 16). O bobo só assumirá o seu verdadeiro eu perante o rei, a sua “essência”, no início do segundo acto, quando o rei se vê completamente despojado do seu poder pelas duas filhas, estando agora em posição de igualdade perante o bobo, uma igualdade que, todavia, lhe é difícil de aceitar: |8|
  • 7. Bobo – Rei?! Quem foi que aqui falou em rei? Aqui não vejo rei nenhum... Rei – Não provoques a minha ira, que eu ainda tenho poder para ... Bobo (interrompe-o) – Poder? Falaste em poder? Que poder tens tu, que nem uma mísera côdea de pão consegues encontrar? (p. 68) Mas outras personagens se diferenciam através dos seus discursos. É o caso dos pretendentes à mão das três princesas. Felizardo caracteriza-se por um discurso baseado nos valores mais terrenos: a sua riqueza é constantemente medida em termos dos bens que possui – tem um rolo de papel, a que recorre repetidas vezes, para sumariar o volume das suas posses: “256 bois, 256 vacas...”. A estes dados, Reginaldo contrapõe um discurso que valoriza a riqueza dos sentimentos: De muitas riquezas ouvi falar, senhores, mas nenhum de vós falou em amor! (p. 44); a minha Violeta terá o meu coração inteiro, e isso é riqueza bem maior do que os vossos bens todos juntos! (p. 45). Mas o outro funciona num registo bem diferente, acentuando através da linguagem a pertença a universos igualmente distintos: E o que é que a gente faz com um coração?; Gratidão? Palavra estranha... (p. 45). Quanto a Simplício (e o nome que o designa tem um significado claro), nada mais faz do que secundar as palavras de Felizardo, repetindo sempre Tiraste-me as palavras da boca!, mas a princesa que lhe está destinada, Hortênsia, parece igualmente dar pouco valor ao valor das palavras: O vosso vocabulário, meu amado noivo, é um pouco reduzido, convenhamos, mas como é farta a vossa bolsa, e largos os horizontes de vosso reino (ri), quem é que precisa de grandes discursos? (p. 48). Todavia, como referirá o bobo, com sabedoria, Olha que às vezes há palavras que matam muito mais depressa do que uma valente espadeirada... (p. 72), numa alusão às palavras, de amor profundo, da filha mais nova que, incompreendidas pelo pai, resultaram em palavras de raiva e ódio, por parte deste. E será finalmente através das palavras que o rei irá ter até ao reino da filha, que a reconhecerá (neste caso, através da voz dela, ou seja, o som das palavras) e que o bobo decididamente assume o seu eu: Não me calo, não me calo, e não me calo! (p. 105).