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O Cenário do Heavy Metal na região do Cariri
                                                  Francisca Raquel Queiroz Alves Rocha




Nessa reportagem, aborda–se o a história do Heavy Metal no Brasil e especialmente seus
reflexos e influências na região do Cariri, principalmente nas cidades de Juazeiro do Norte e
Crato: as primeiras bandas, as experiências, o preconceito, os desafios e dificuldades dos
músicos de manterem vivo este estilo musical hoje em dia.


       Na década de 80, o calçadão da Rua Santa Luzia (entre as ruas Padre
Cícero e São Pedro) na cidade de Juazeiro do Norte, era o ponto de encontro de
muitos jovens nos finais de semana, que curtiam e viviam o Rock e o Heavy Metal.




       Tachados de marginais e nomes depreciativos em função de seu jeito de
vestir e pelo tipo de música que curtiam, esses jovens não deixaram o preconceito
ofuscar o que eles tinham de mais precioso: a liberdade de viver e o amor pelo
gênero musical que começava a se tornar notório no Brasil.
       Aos poucos foram surgindo lugares (principalmente bares) que abriram
espaço para as bandas que começavam a surgir aqui e acolá. No Juazeiro, alguns
lugares como o Bar do Téo (entre os anos de 1985 a 1990), Só Maio Bar, Miolo de
Pote, Amar, Didi Lanches e no Crato, o Lagoinha, Xá de Flor, Saint’s (que mudou
para Darkside), Acauã, Rosto, Navegarte, Oficina do Disco, Bar Arranha Céu,
dentre outros, eram o palco de shows, geralmente nos finais de semana.
Michel Macedo Marques (professor auxiliar do Curso de
Letras da URCA, guitarrista das bandas Glory Fate e Holy Wood e baixista da
banda Rei Bulldog) no artigo “A História do Rock no Cariri– Partes I, II e III ”,
publicado na Revista Geral, nos meses de fevereiro à outubro de 2002, diz que a 1ª
banda de Rock autoral da região do Cariri foi a Pombos Urbanos, formada por
jovens da cidade de Juazeiro do Norte e Crato, criada em outubro de 1987 e durou
até maio de 1988, quando mudou o nome para Fator RH. Em 1990, a banda muda
para Lerfa Mu e com este nome, gravou a 1ª fita demo de Rock do interior do
Ceará.




         Durante o tempo, mudaram de nome e integrantes: de junho a julho de
1994, chama–se “Os papa–figos”; de 1994 a 2008, Nacacunda. Depois de 23 anos, a
banda ressurge novamente com a intenção de gravar um cd em tributo ao
guitarrista Segestes Tocantins, que faleceu em 14 de maio de 2011.
         Já a 1ª banda de Rock Pesado ou Heavy Metal caririense foi a
Stormbringer, que surgiu em 1992 (remanescente da antiga Calliope), que mais
tarde se tornou a Glory Fate. A mudança do nome foi justificado pela existência de
duas bandas homônimas. Tem como influência e referência, bandas importantes
dos anos 80, como Iron Maiden, Deep Purple, Manowar, UFO e Running Wild.
Com o nome Stormbringer, chegou a gravar duas demos tapes. Como Glory
Fate, abriu grandes shows nacionais de Metal e gravaram 04 CDs.
      Ao longo do tempo, várias bandas começaram a aparecer no cenário
underground caririense, bandas essas partindo das diversas vertentes do Rock e do
Heavy Metal, como por exemplo, Shadows (punk rock), Eutanásia, Lynx (rock e
hard rock), Traumatismo Craniano, Chemical Death (doom metal), Hidrofobia,
Neurize (punk), Prisma 777, Fator X (rock e hard/punk), Dr. Raiz, Post Scriptum,
Nigthlife, Al Capone tá é bebo, Hortus, Laments of Soul (doom gothic metal),
Malebounge (black metal) etc, que consolidaram ainda mais essa vertente musical
na região.
      Quando se fala do 1º festival de renome no Cariri, este foi o URCASTOCK,
organizado pelos estudantes do curso de Letras da URCA (Universidade Regional
do Cariri) com a ajuda da professora Cláudia Rejane, em maio de 1992.




                       Rinalme Emiliano de Lima Bezerra, escrevente de um
cartório imobiliário, professor, ex–integrante das bandas Qi–Zero e Prisma 777 e
atualmente baterista das bandas Hortus e The old lady under the bed, fala sobre a
importância do evento para a região do Cariri: “Foi a oportunidade de mostrar
como estava o movimento do Rock e do Metal no Cariri (...) Até então, existiam
algumas bandas, mas nunca nenhum evento (...) Achei fantástico! (...) Aquilo mexeu
comigo, me marcou (...)” A 2ª edição do evento aconteceu na antiga quadra do
Ginásio Municipal Antonio Xavier de Oliveira, em 1996 na cidade de Juazeiro.
      Já a 1ª loja de vinil/discos e livros foi a ET CETERA, de propriedade de
Marcos Vinícius Leonel Tavares, na cidade de Juazeiro do Norte. A inauguração
ocorreu em 1986. Naquele recinto tinha alguns LPs e artigos de Heavy Metal.
Mas em 1992 chegou ao Cariri, um estabelecimento comercial que veio
agregar e ajudar a firmar o Rock e o Metal no Cariri: a Porão Discos (agora Porão
Rock), sob a responsabilidade de Manoel Welson Gomes Mota, uma loja com
artigos variados para quem é amante desse estilo musical, tornando–se também
um local de encontro e discussão sobre o movimento que ganhava força cada vez
mais. A loja é responsável por produzir e patrocinar grandes eventos ligados ao
Metal na região do Cariri.




                   A Loja Porão era um sonho de Welson: “Fui morar em Belém do
Pará, trabalhei, economizei e resolvi voltar para minha terra (Juazeiro) e iniciar a
loja.” No início, enfrentou dificuldades até se estabelecer como uma loja de
referência para os roqueiros metaleiros, shakistas e otakus: “Quando comecei,
faltou dinheiro e tinha o preconceito também, mas com o tempo conseguimos mostrar
(...) que éramos responsáveis (...) Conquistamos o respeito, que foi o mais importante
(...) Hoje, a Porão conta com uma filial. Temos um estoque razoável, que vai do
simples brinco ao material importado (...) E o futuro é incentivar novas bandas e
quem sabe, levar filiais para outras cidades.”
Welson explicou a importância do surgimento da loja na região do Cariri,
como um local/espaço de “bate papo, troca de idéias e formações de opiniões (...) A
coisa (o movimento) foi saindo do underground e mostrando pra sociedade
juazeirense e caririense que na terra do Forró tinha „Som Pauleira‟.”
       Novos espaços e festivais foram surgindo no Juazeiro e no Crato. Os
festivais como o Sesc Metal (nos anos 2001 e 2002 no Crato), Throne of Metal (o
mais antigo festival de Metal), Juá Rock, Festival Rock Cordel, Sesc Mostra de
Bandas– Armazém do Som, Welcome to Hell, Rock Todo Mês, Domingo do Rock,
são alguns nomes desses festivais. Alguns exemplos de novos espaços são: Sesc,
Centro Cultural do Banco do Nordeste, Black Dog Rock Bar, Pink Floyd Bar.




                   Antonio Queiroz, Gestor de Cultura da Unidade Sesc de Juazeiro
do Norte e baixista da banda Nigthlife, explica sobre a sua participação nos
eventos e projetos do Sesc: “Tem um projeto voltado para bandas alternativas, não
só pra banda de Metal (...) Tem muita gente trabalhando com música, então acho
muito complicado você fechar só pra um estilo (...) É importante também dá espaço
pra todos os estilos.”
       Em se tratando dos desafios de manter esse estilo vivo na região do Cariri,
Antonio ressalta que existem dificuldades relacionadas a executar, ou seja, tocar
Metal, já que “exige uma técnica apurada do músico”, além de recursos, como bons
instrumentos, por exemplo, e o espaço é ainda reduzido: “Você passa tipo 6 meses
ensaiando com a banda e não aparece muita coisa. Você vai se cansando, os próprios
integrantes vão se cansando porque tem outras prioridades.”




           Amanda Mota, integrante da banda Laments of Soul, questiona a “falta
de eventos da cidade organizados pela prefeitura e a falta de estúdio de ensaio e
gravação gratuito para as bandas.”
As possíveis soluções para driblar o problema do incentivo e da falta de
espaço, para Antonio Queiroz, seria trabalhar com pessoas ligadas diretamente as
ferramentas culturais, que tenham sensibilidade, e desmitificar o preconceito que
ainda existe, voltado a construção de uma imagem errônea e distorcida do
movimento. “Para que você possa levar ações como essas, justamente do Metal para
dentro de instituições e projetos, é muito complicado porque tem a desconstrução do
preconceito perante a sociedade, a desconstrução dentro das instituições e produtoras
de eventos.”
       Entretanto, Michel Macedo assim se posiciona: “Aqui no Ceará (...) a gente
tem um dogma que só o que é de fora é bom. Então de repente a gente fala „Ah, mas
não tem espaço‟, mas quando vem uma banda de fora, eles conseguem espaço, eles
têm público, só pelo fato de ser de fora (...).”
       Para Rinalme Emiliano, o maior desafio reside nos artistas e no público: “O
grande problema que existe (...) é da própria galera ir além do seu próprio
preconceito, numa questão de buscar ser mais unido, buscar dar mais apoio (...) O
desafio é a mudança estrutural do pensamento do próprio roqueiro daqui da região
(...) Em um festival de várias bandas, a galera só aparece de frente ao palco, se for
aquela banda que você quer ver. Se for outra, não tem a curiosidade de ficar
olhando.”
       Quando se fala em preconceito, Antonio Queiroz diz que, “é quase
impossível você não ser vítima (...) O 1º preconceito que sofro é dentro da minha
família (...).” Michel Macedo acrescenta: “Naquela época, tinha muito preconceito
(...) A idéia que se tinha do Rock, do Heavy Metal principalmente, era de que tudo era
um monte de louco, um monte de drogados (...) Desde que o mundo é mundo, o povo
tem medo de novidade (...) Por exemplo: o 1º Rock in Rio no Brasil foi um choque
muito grande na época. Foi quando as pessoas começaram a prestar atenção nesse
estilo que já existia na Europa e em muitos lugares do mundo.” O comerciante
Welson Mota comenta que “era horrível ser tachado de maconheiro só porque
usávamos roupas pretas e cabelos grandes (...) É difícil mostrar pra sociedade que um
cabeludo, tatuado, pode ser igual a qualquer pessoa, pois caráter está na pessoa e não
na forma de se vestir.”
       Não podemos esquecer que existe uma situação mais agravante do que as já
apontadas anteriormente: é a situação do mercado: “A música não deixa de ser um
produto e o que vende é o que está mais exposto (...) Já teve bandas que o cara teve
que emagrecer ou não foi aceito o „Cara X‟ em „Tal Banda‟, porque não se encaixava
no perfil, porque ele não tinha a cara da coisa, porque infelizmente hoje em dia, o
mercado da música está muito vinculado a imagem. Antigamente era e hoje em dia é
muito mais. Então se você não vende isso na imagem, fica muito complicado”,
explica Antonio. A nível nacional, o mundo do Heavy Metal é “cruel... Muito difícil
de uma banda nordestina, se não tiver o perfil europeu, conseguir alguma coisa.”
       Já Michel acrescenta que o Metal vive um “momento terrível”. As duas
bandas que marcaram o auge desse estilo musical aqui no Brasil foram o Angra e o
Sepultura. “Naquela época, mandar uma demo tape para a Rock Brigade era difícil e
mais complicado ainda era ter um aval positivo da gravadora, já que não aceitava
outras bandas que concorresse com o Angra e Sepultura. (...) Isso foi fazendo com
que todo o público corresse pra essas bandas e elas de repente, como acontece com
qualquer artista, tiveram seus maus momentos (...) E ai o que foi que fizeram para
salvar desse momento? Criaram bandas covers, esse circo que existe das bandas que
se veste igual e tudo. É interessante... Foi legal num 1º momento para criar público,
por exemplo (...) Mas ao mesmo tempo, isso também atrapalhou o trabalho de bandas
autorais.”
       Já Cenário do Metal hoje no Cariri é visto com olhares positivos. Antonio
vê avanços em termos de bons profissionais e recursos tecnológicos mais acessíveis.
“O Juazeiro está mais aberto para aceitar e entender o Metal”, completa Rinalme.
Para Welson, “a nova geração está ai pra defender a nossa ideologia de vida.”
       No Cariri existe também o único programa radiofônico destinado a uma
vertente do rock/metal: o Christ Rock. Rinalme Emiliano é também locutor e
idealizador deste programa de Rock/Metal Cristão, que está no ar a 6 anos, todos
os domingos, das 14 às 15 horas na Rádio Padre Cícero, 104.9 Fm. O programa
também é transmitido pela internet no próprio site e blog da rádio.
       O projeto do programa surgiu em virtude do amor que Rinalme nutre pela
música e rádio (o seu primeiro trabalho como locutor, começou em 1997, quando
fazia um programa da Renovação Carismática).
       Em 2001, Rinalme teve a idéia de criar um programa radiofônico, mas logo
esbarrou no preconceito do diretor da rádio naquela época. O projeto ficou
“engavetado” até 2005, quando sob a direção do Padre Luiz, teve aprovação. O
nome do programa também foi uma sugestão do mesmo padre.
A primeira transmissão do Christ Rock, foi no dia 16 de setembro de 2006.
Durante essa trajetória, o público fiel foi aumentando e a participação/interação é
constante nas redes sociais (facebook, MSN) e pelo telefone. A dinâmica do
programa consiste em blocos de música, salmos, curiosidades sobre a vida dos
artistas, letras traduzidas, entrevistas com bandas regionais e nacionais, etc.
       O Christ Rock tem como finalidade usar a música como um meio de
transmitir uma mensagem positiva, de incentivo, quebrar certos tabus existentes
que pregam o distanciamento entre religião e música. “Por ser roqueiro, o pessoal
da igreja me critica... Porque sou cristão, o pessoal que é roqueiro me critica porque
sou cristão”, diz Rinalme.
       Segundo o mesmo, o importante é “transmitir o bem, uma mensagem sadia”,
com uma programação educativa, embalados pelo ritmo do Rock e do Metal
Cristão ou não Cristão (essas últimas, pela mensagem que suas músicas
transmitem). “A intenção não é doutrinar”, ressalta o locutor, já que o público–alvo
do programa engloba pessoas de todas as idades, de diferentes crenças e gostos
musicais e até de outros países, que de alguma forma, se identificam com a
proposta do programa.
       No ano passado, foi aberto um espaço de apoio às bandas da região, que
depois de enviarem seus CDs ou demos para o locutor, (que avalia tal material)
têm divulgado suas músicas. Pretende–se este ano, implantar um quadro chamado
“A voz do Ouvinte”, tornando a interação com o público ainda mais visível.


                 Um pouco da História do Rock e do Heavy Metal




                    De acordo com o livro “O que é Rock?” de Paulo Chacon, o
Rock and Roll nasceu na década de 50 e nos anos 70 já era visto como um produto
a ser consumido pela “massa”. Entretanto, não era só um estilo de música:
converteu–se também em uma “maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma
de comportamento”, segundo Chacon.
       As raízes do Rock residem desses dois estilos: o Rhythm e o Blues, tidos
como a “vertente negra” do Rock. Mas como toda cultura, seja ela literatura, artes,
música, etc, é passível de transformações, não foi diferente no Rock. A partir da
primeira vez em que se ousou distorcer uma guitarra, nascia assim uma das
vertentes mais fortes e mais duradouras de todos os tempos: o Heavy Metal, Rock
Pauleira ou Rock Pesado. O termo “Headbanger”, traduzido aqui como
“Metaleiros”, é usado para identificar os indivíduos que ouvem esse tipo de
música, que vivenciam os costumes, a “moda do Metal”, etc.




                 No livro “Heavy Metal: Guitarras em Fúria” de Tom Leão,
aborda com mais riqueza de detalhes as questões que norteiam essa vertente do
Rock (o Heavy Metal), que surgiu nos anos 60. A fragmentação em sub–gêneros
ocorreu por volta dos anos 80. Dentre os sub–gêneros mais conhecidos, estão o
Black Metal, Death Metal, Doom Metal, Folk Metal, Glam Metal, Metal
alternativo, Metal Progressivo, Metal Sinfônico, Metalcore, Power Metal, Speed
Metal, Stoner Metal, Thrash Metal, Metal Experimental, Groove Metal, etc.
       Tom Leão diz que atualmente, o termo Heavy Metal “se tornou muito
restrito para identificar, traduzir e exemplificar o que se passa dentro deste gênero
barulhento do rock.” O autor aponta que existe também uma “facção forte e
radical” neste estilo que por ser ainda conservadora, não admite a mudança e as
novas vertentes de seus sub–gêneros.




                       No site “Heavy Metal Center” (www.heavymetalcenter.net),
André Lopes fala do Rock e do Metal a nível nacional. Nos anos 50, quando o Rock
chegou em nossas terras, foi primeiramente absorvido pelas orquestras de Jazz e
pelos cantores da época, responsáveis por elaborar e difundir os “primeiros hits do
novo gênero”. Em 60, a mistura de outros ritmos agregado ao Rock brasileiro,
fizeram com que o mesmo explodisse “sob diversas formas”.
Já nos anos 70, o Rock brasileiro procura sua própria identidade. Chacon
em seu livro explica que “é o Tropicalismo e não a Jovem Guarda que
antropofogicamente conduz o Rock” em nosso território. Com isso, nos anos 80, o
gênero musical se firma no mercado. A 1ª edição do festival conhecido como Rock
In Rio, aconteceu entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985 no Rio de Janeiro, e
trouxe ao solo brasileiro, bandas renomadas no cenário do Rock e do então Heavy
Metal, como Queen, Iron Maiden, Whitesnake, AC/DC, Scorpions, Ozzy
Osbourne, etc.




        A partir desse evento, a mídia e as pessoas voltariam os seus olhares para
aquele novo estilo musical e seus seguidores, que ganhavam força mundo afora e
como é de praxe, começaram–se a estereotipar o desconhecido, não refletindo
corretamente os ideais, as reais facetas e pensamentos daqueles jovens que usavam
a música como forma de se rebelar contra o sistema, seja ele político, econômico,
social, religioso, etc.
        E finalmente nos anos 90, a perspectiva desse ramo musical, se estende ao
exterior, ou seja, o Brasil começou a exportar artistas ligados ao cenário do Rock e
do Heavy Metal.
O cenário do Heavy Metal no Cariri

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O cenário do Heavy Metal no Cariri

  • 1. O Cenário do Heavy Metal na região do Cariri Francisca Raquel Queiroz Alves Rocha Nessa reportagem, aborda–se o a história do Heavy Metal no Brasil e especialmente seus reflexos e influências na região do Cariri, principalmente nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato: as primeiras bandas, as experiências, o preconceito, os desafios e dificuldades dos músicos de manterem vivo este estilo musical hoje em dia. Na década de 80, o calçadão da Rua Santa Luzia (entre as ruas Padre Cícero e São Pedro) na cidade de Juazeiro do Norte, era o ponto de encontro de muitos jovens nos finais de semana, que curtiam e viviam o Rock e o Heavy Metal. Tachados de marginais e nomes depreciativos em função de seu jeito de vestir e pelo tipo de música que curtiam, esses jovens não deixaram o preconceito ofuscar o que eles tinham de mais precioso: a liberdade de viver e o amor pelo gênero musical que começava a se tornar notório no Brasil. Aos poucos foram surgindo lugares (principalmente bares) que abriram espaço para as bandas que começavam a surgir aqui e acolá. No Juazeiro, alguns lugares como o Bar do Téo (entre os anos de 1985 a 1990), Só Maio Bar, Miolo de Pote, Amar, Didi Lanches e no Crato, o Lagoinha, Xá de Flor, Saint’s (que mudou para Darkside), Acauã, Rosto, Navegarte, Oficina do Disco, Bar Arranha Céu, dentre outros, eram o palco de shows, geralmente nos finais de semana.
  • 2. Michel Macedo Marques (professor auxiliar do Curso de Letras da URCA, guitarrista das bandas Glory Fate e Holy Wood e baixista da banda Rei Bulldog) no artigo “A História do Rock no Cariri– Partes I, II e III ”, publicado na Revista Geral, nos meses de fevereiro à outubro de 2002, diz que a 1ª banda de Rock autoral da região do Cariri foi a Pombos Urbanos, formada por jovens da cidade de Juazeiro do Norte e Crato, criada em outubro de 1987 e durou até maio de 1988, quando mudou o nome para Fator RH. Em 1990, a banda muda para Lerfa Mu e com este nome, gravou a 1ª fita demo de Rock do interior do Ceará. Durante o tempo, mudaram de nome e integrantes: de junho a julho de 1994, chama–se “Os papa–figos”; de 1994 a 2008, Nacacunda. Depois de 23 anos, a banda ressurge novamente com a intenção de gravar um cd em tributo ao guitarrista Segestes Tocantins, que faleceu em 14 de maio de 2011. Já a 1ª banda de Rock Pesado ou Heavy Metal caririense foi a Stormbringer, que surgiu em 1992 (remanescente da antiga Calliope), que mais tarde se tornou a Glory Fate. A mudança do nome foi justificado pela existência de duas bandas homônimas. Tem como influência e referência, bandas importantes dos anos 80, como Iron Maiden, Deep Purple, Manowar, UFO e Running Wild.
  • 3. Com o nome Stormbringer, chegou a gravar duas demos tapes. Como Glory Fate, abriu grandes shows nacionais de Metal e gravaram 04 CDs. Ao longo do tempo, várias bandas começaram a aparecer no cenário underground caririense, bandas essas partindo das diversas vertentes do Rock e do Heavy Metal, como por exemplo, Shadows (punk rock), Eutanásia, Lynx (rock e hard rock), Traumatismo Craniano, Chemical Death (doom metal), Hidrofobia, Neurize (punk), Prisma 777, Fator X (rock e hard/punk), Dr. Raiz, Post Scriptum, Nigthlife, Al Capone tá é bebo, Hortus, Laments of Soul (doom gothic metal), Malebounge (black metal) etc, que consolidaram ainda mais essa vertente musical na região. Quando se fala do 1º festival de renome no Cariri, este foi o URCASTOCK, organizado pelos estudantes do curso de Letras da URCA (Universidade Regional do Cariri) com a ajuda da professora Cláudia Rejane, em maio de 1992. Rinalme Emiliano de Lima Bezerra, escrevente de um cartório imobiliário, professor, ex–integrante das bandas Qi–Zero e Prisma 777 e atualmente baterista das bandas Hortus e The old lady under the bed, fala sobre a importância do evento para a região do Cariri: “Foi a oportunidade de mostrar como estava o movimento do Rock e do Metal no Cariri (...) Até então, existiam algumas bandas, mas nunca nenhum evento (...) Achei fantástico! (...) Aquilo mexeu comigo, me marcou (...)” A 2ª edição do evento aconteceu na antiga quadra do Ginásio Municipal Antonio Xavier de Oliveira, em 1996 na cidade de Juazeiro. Já a 1ª loja de vinil/discos e livros foi a ET CETERA, de propriedade de Marcos Vinícius Leonel Tavares, na cidade de Juazeiro do Norte. A inauguração ocorreu em 1986. Naquele recinto tinha alguns LPs e artigos de Heavy Metal.
  • 4. Mas em 1992 chegou ao Cariri, um estabelecimento comercial que veio agregar e ajudar a firmar o Rock e o Metal no Cariri: a Porão Discos (agora Porão Rock), sob a responsabilidade de Manoel Welson Gomes Mota, uma loja com artigos variados para quem é amante desse estilo musical, tornando–se também um local de encontro e discussão sobre o movimento que ganhava força cada vez mais. A loja é responsável por produzir e patrocinar grandes eventos ligados ao Metal na região do Cariri. A Loja Porão era um sonho de Welson: “Fui morar em Belém do Pará, trabalhei, economizei e resolvi voltar para minha terra (Juazeiro) e iniciar a loja.” No início, enfrentou dificuldades até se estabelecer como uma loja de referência para os roqueiros metaleiros, shakistas e otakus: “Quando comecei, faltou dinheiro e tinha o preconceito também, mas com o tempo conseguimos mostrar (...) que éramos responsáveis (...) Conquistamos o respeito, que foi o mais importante (...) Hoje, a Porão conta com uma filial. Temos um estoque razoável, que vai do simples brinco ao material importado (...) E o futuro é incentivar novas bandas e quem sabe, levar filiais para outras cidades.”
  • 5. Welson explicou a importância do surgimento da loja na região do Cariri, como um local/espaço de “bate papo, troca de idéias e formações de opiniões (...) A coisa (o movimento) foi saindo do underground e mostrando pra sociedade juazeirense e caririense que na terra do Forró tinha „Som Pauleira‟.” Novos espaços e festivais foram surgindo no Juazeiro e no Crato. Os festivais como o Sesc Metal (nos anos 2001 e 2002 no Crato), Throne of Metal (o mais antigo festival de Metal), Juá Rock, Festival Rock Cordel, Sesc Mostra de Bandas– Armazém do Som, Welcome to Hell, Rock Todo Mês, Domingo do Rock, são alguns nomes desses festivais. Alguns exemplos de novos espaços são: Sesc, Centro Cultural do Banco do Nordeste, Black Dog Rock Bar, Pink Floyd Bar. Antonio Queiroz, Gestor de Cultura da Unidade Sesc de Juazeiro do Norte e baixista da banda Nigthlife, explica sobre a sua participação nos eventos e projetos do Sesc: “Tem um projeto voltado para bandas alternativas, não só pra banda de Metal (...) Tem muita gente trabalhando com música, então acho muito complicado você fechar só pra um estilo (...) É importante também dá espaço pra todos os estilos.” Em se tratando dos desafios de manter esse estilo vivo na região do Cariri, Antonio ressalta que existem dificuldades relacionadas a executar, ou seja, tocar Metal, já que “exige uma técnica apurada do músico”, além de recursos, como bons instrumentos, por exemplo, e o espaço é ainda reduzido: “Você passa tipo 6 meses ensaiando com a banda e não aparece muita coisa. Você vai se cansando, os próprios integrantes vão se cansando porque tem outras prioridades.” Amanda Mota, integrante da banda Laments of Soul, questiona a “falta de eventos da cidade organizados pela prefeitura e a falta de estúdio de ensaio e gravação gratuito para as bandas.”
  • 6. As possíveis soluções para driblar o problema do incentivo e da falta de espaço, para Antonio Queiroz, seria trabalhar com pessoas ligadas diretamente as ferramentas culturais, que tenham sensibilidade, e desmitificar o preconceito que ainda existe, voltado a construção de uma imagem errônea e distorcida do movimento. “Para que você possa levar ações como essas, justamente do Metal para dentro de instituições e projetos, é muito complicado porque tem a desconstrução do preconceito perante a sociedade, a desconstrução dentro das instituições e produtoras de eventos.” Entretanto, Michel Macedo assim se posiciona: “Aqui no Ceará (...) a gente tem um dogma que só o que é de fora é bom. Então de repente a gente fala „Ah, mas não tem espaço‟, mas quando vem uma banda de fora, eles conseguem espaço, eles têm público, só pelo fato de ser de fora (...).” Para Rinalme Emiliano, o maior desafio reside nos artistas e no público: “O grande problema que existe (...) é da própria galera ir além do seu próprio preconceito, numa questão de buscar ser mais unido, buscar dar mais apoio (...) O desafio é a mudança estrutural do pensamento do próprio roqueiro daqui da região (...) Em um festival de várias bandas, a galera só aparece de frente ao palco, se for aquela banda que você quer ver. Se for outra, não tem a curiosidade de ficar olhando.” Quando se fala em preconceito, Antonio Queiroz diz que, “é quase impossível você não ser vítima (...) O 1º preconceito que sofro é dentro da minha família (...).” Michel Macedo acrescenta: “Naquela época, tinha muito preconceito (...) A idéia que se tinha do Rock, do Heavy Metal principalmente, era de que tudo era um monte de louco, um monte de drogados (...) Desde que o mundo é mundo, o povo tem medo de novidade (...) Por exemplo: o 1º Rock in Rio no Brasil foi um choque muito grande na época. Foi quando as pessoas começaram a prestar atenção nesse estilo que já existia na Europa e em muitos lugares do mundo.” O comerciante Welson Mota comenta que “era horrível ser tachado de maconheiro só porque usávamos roupas pretas e cabelos grandes (...) É difícil mostrar pra sociedade que um cabeludo, tatuado, pode ser igual a qualquer pessoa, pois caráter está na pessoa e não na forma de se vestir.” Não podemos esquecer que existe uma situação mais agravante do que as já apontadas anteriormente: é a situação do mercado: “A música não deixa de ser um produto e o que vende é o que está mais exposto (...) Já teve bandas que o cara teve
  • 7. que emagrecer ou não foi aceito o „Cara X‟ em „Tal Banda‟, porque não se encaixava no perfil, porque ele não tinha a cara da coisa, porque infelizmente hoje em dia, o mercado da música está muito vinculado a imagem. Antigamente era e hoje em dia é muito mais. Então se você não vende isso na imagem, fica muito complicado”, explica Antonio. A nível nacional, o mundo do Heavy Metal é “cruel... Muito difícil de uma banda nordestina, se não tiver o perfil europeu, conseguir alguma coisa.” Já Michel acrescenta que o Metal vive um “momento terrível”. As duas bandas que marcaram o auge desse estilo musical aqui no Brasil foram o Angra e o Sepultura. “Naquela época, mandar uma demo tape para a Rock Brigade era difícil e mais complicado ainda era ter um aval positivo da gravadora, já que não aceitava outras bandas que concorresse com o Angra e Sepultura. (...) Isso foi fazendo com que todo o público corresse pra essas bandas e elas de repente, como acontece com qualquer artista, tiveram seus maus momentos (...) E ai o que foi que fizeram para salvar desse momento? Criaram bandas covers, esse circo que existe das bandas que se veste igual e tudo. É interessante... Foi legal num 1º momento para criar público, por exemplo (...) Mas ao mesmo tempo, isso também atrapalhou o trabalho de bandas autorais.” Já Cenário do Metal hoje no Cariri é visto com olhares positivos. Antonio vê avanços em termos de bons profissionais e recursos tecnológicos mais acessíveis. “O Juazeiro está mais aberto para aceitar e entender o Metal”, completa Rinalme. Para Welson, “a nova geração está ai pra defender a nossa ideologia de vida.” No Cariri existe também o único programa radiofônico destinado a uma vertente do rock/metal: o Christ Rock. Rinalme Emiliano é também locutor e idealizador deste programa de Rock/Metal Cristão, que está no ar a 6 anos, todos os domingos, das 14 às 15 horas na Rádio Padre Cícero, 104.9 Fm. O programa também é transmitido pela internet no próprio site e blog da rádio. O projeto do programa surgiu em virtude do amor que Rinalme nutre pela música e rádio (o seu primeiro trabalho como locutor, começou em 1997, quando fazia um programa da Renovação Carismática). Em 2001, Rinalme teve a idéia de criar um programa radiofônico, mas logo esbarrou no preconceito do diretor da rádio naquela época. O projeto ficou “engavetado” até 2005, quando sob a direção do Padre Luiz, teve aprovação. O nome do programa também foi uma sugestão do mesmo padre.
  • 8. A primeira transmissão do Christ Rock, foi no dia 16 de setembro de 2006. Durante essa trajetória, o público fiel foi aumentando e a participação/interação é constante nas redes sociais (facebook, MSN) e pelo telefone. A dinâmica do programa consiste em blocos de música, salmos, curiosidades sobre a vida dos artistas, letras traduzidas, entrevistas com bandas regionais e nacionais, etc. O Christ Rock tem como finalidade usar a música como um meio de transmitir uma mensagem positiva, de incentivo, quebrar certos tabus existentes que pregam o distanciamento entre religião e música. “Por ser roqueiro, o pessoal da igreja me critica... Porque sou cristão, o pessoal que é roqueiro me critica porque sou cristão”, diz Rinalme. Segundo o mesmo, o importante é “transmitir o bem, uma mensagem sadia”, com uma programação educativa, embalados pelo ritmo do Rock e do Metal Cristão ou não Cristão (essas últimas, pela mensagem que suas músicas transmitem). “A intenção não é doutrinar”, ressalta o locutor, já que o público–alvo do programa engloba pessoas de todas as idades, de diferentes crenças e gostos musicais e até de outros países, que de alguma forma, se identificam com a proposta do programa. No ano passado, foi aberto um espaço de apoio às bandas da região, que depois de enviarem seus CDs ou demos para o locutor, (que avalia tal material) têm divulgado suas músicas. Pretende–se este ano, implantar um quadro chamado “A voz do Ouvinte”, tornando a interação com o público ainda mais visível. Um pouco da História do Rock e do Heavy Metal De acordo com o livro “O que é Rock?” de Paulo Chacon, o Rock and Roll nasceu na década de 50 e nos anos 70 já era visto como um produto a ser consumido pela “massa”. Entretanto, não era só um estilo de música: converteu–se também em uma “maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento”, segundo Chacon. As raízes do Rock residem desses dois estilos: o Rhythm e o Blues, tidos como a “vertente negra” do Rock. Mas como toda cultura, seja ela literatura, artes,
  • 9. música, etc, é passível de transformações, não foi diferente no Rock. A partir da primeira vez em que se ousou distorcer uma guitarra, nascia assim uma das vertentes mais fortes e mais duradouras de todos os tempos: o Heavy Metal, Rock Pauleira ou Rock Pesado. O termo “Headbanger”, traduzido aqui como “Metaleiros”, é usado para identificar os indivíduos que ouvem esse tipo de música, que vivenciam os costumes, a “moda do Metal”, etc. No livro “Heavy Metal: Guitarras em Fúria” de Tom Leão, aborda com mais riqueza de detalhes as questões que norteiam essa vertente do Rock (o Heavy Metal), que surgiu nos anos 60. A fragmentação em sub–gêneros ocorreu por volta dos anos 80. Dentre os sub–gêneros mais conhecidos, estão o Black Metal, Death Metal, Doom Metal, Folk Metal, Glam Metal, Metal alternativo, Metal Progressivo, Metal Sinfônico, Metalcore, Power Metal, Speed Metal, Stoner Metal, Thrash Metal, Metal Experimental, Groove Metal, etc. Tom Leão diz que atualmente, o termo Heavy Metal “se tornou muito restrito para identificar, traduzir e exemplificar o que se passa dentro deste gênero barulhento do rock.” O autor aponta que existe também uma “facção forte e radical” neste estilo que por ser ainda conservadora, não admite a mudança e as novas vertentes de seus sub–gêneros. No site “Heavy Metal Center” (www.heavymetalcenter.net), André Lopes fala do Rock e do Metal a nível nacional. Nos anos 50, quando o Rock chegou em nossas terras, foi primeiramente absorvido pelas orquestras de Jazz e pelos cantores da época, responsáveis por elaborar e difundir os “primeiros hits do novo gênero”. Em 60, a mistura de outros ritmos agregado ao Rock brasileiro, fizeram com que o mesmo explodisse “sob diversas formas”.
  • 10. Já nos anos 70, o Rock brasileiro procura sua própria identidade. Chacon em seu livro explica que “é o Tropicalismo e não a Jovem Guarda que antropofogicamente conduz o Rock” em nosso território. Com isso, nos anos 80, o gênero musical se firma no mercado. A 1ª edição do festival conhecido como Rock In Rio, aconteceu entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985 no Rio de Janeiro, e trouxe ao solo brasileiro, bandas renomadas no cenário do Rock e do então Heavy Metal, como Queen, Iron Maiden, Whitesnake, AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, etc. A partir desse evento, a mídia e as pessoas voltariam os seus olhares para aquele novo estilo musical e seus seguidores, que ganhavam força mundo afora e como é de praxe, começaram–se a estereotipar o desconhecido, não refletindo corretamente os ideais, as reais facetas e pensamentos daqueles jovens que usavam a música como forma de se rebelar contra o sistema, seja ele político, econômico, social, religioso, etc. E finalmente nos anos 90, a perspectiva desse ramo musical, se estende ao exterior, ou seja, o Brasil começou a exportar artistas ligados ao cenário do Rock e do Heavy Metal.