Córtex cerebral: estrutura, classificações e funções
1. CÓRTEX CEREBRAL
Neuroanatomia
Prof. Carlos Frederico Rodrigues
2. CONCEITO E ESTRUTURA
É constituído por uma camada de substância
cinzenta que envolve os hemisférios cerebrais.
Sua superfície é marcada pela presença de inúmeros
sulcos e giros que aumentam a quantidade de córtex,
sem aumento do volume craniano.
Em sua maior parte é constituído de seis camadas:
molecular; granular externa, piramidal externa,
granular interna, piramidal interna e células
fusiformes.
Essas camadas são denominadas de acordo com o
tipo de célula predominante.
3. CONCEITO E ESTRUTURA
A camada molecular é pobre em células.
Nas camadas granulares há um predomínio das
chamadas células granulares, que são pequenas e
com formato estrelado. Sao interneurônios corticais
que recebem fibras que chegam ao córtex e as
enviam para outras camadas.
Nas camadas piramidais, encontramos as células
piramidais, que dão origem a fibras eferentes do
córtex cerebral. Possuem uma árvore dendrítica que
se relaciona com camadas mais superficiais e um
axônio descendente que terminará em estruturas
subcorticais.
4. CONCEITO E ESTRUTURA
As células fusiformes também originam fibras
eferentes/
Ao contrário do que ocorre no córtex cerebelar
onde existe um padrão constante de
interconexões entre as diversas células ali
presentes, no córtex cerebral parece haver uma
enorme diversidade de circuitos intracorticais,
que são ainda pouco conhecidos.
6. CLASSIFICAÇÕES
Classificação anatômica – divide-se o córtex de
acordo com o nome do osso que a eles se
sobrepõe. Frontal, parietal, occipital, temporal e
da ínsula.
Para uma localização mais precisa, utiliza-se
uma classificação citoarquitetural, que leva em
conta a estrutura microscópica do córtex:
isocórtex – 6 camadas estão presentes e
alocórtex – 6 camadas não estão presentes.
O isocórtex pode ser dividido de acordo com a
espessura das camadas.
7. CLASSIFICAÇÕES
Já vimos que a camada é responsável por
receber as fibras que chegam ao córtes e a
camada piramidal por fibras eferentes.
Sendo assim, é legítimo esperar que as áreas
sensoriais tenham uma camada granular
desenvolvida, enquanto as áreas efetuadoras
possuem uma camada piramidal desenvolvida.
Podemos classificar o córtex de acordo com
áreas citoarquiteturais, a mais conhecida é a de
Brodmann – divide o córtex em 50 regiões
9. CLASSIFICAÇÕES
Outra maneira de classificar o córtex leva em
consideração aspectos filogenéticos.
O alocórtex é mais antigo em termos evolutivos e
seria subdividido em arquicórtex (hipocampo) e
paleocórtex (úncus).
Todo o resto é chamado de neocórtex.
10. CLASSIFICAÇÕES
Finalmente, podemos abordar o córtex sob o
ponto de vista fisiológico, ou seja, funcional.
A primeira divisão seria em áreas de associação
e projeção.
Projeção seriam as áreas que recebem fibras
sensoriais ou emitem fibras eferentes.
As áreas de associação são aquelas que não
estão diretamente relacionadas nem com
motricidade nem com sensibilidade.
11. CLASSIFICAÇÕES
1. áreas de projeção (primárias) –
sensitivas e motoras.
Córtex cerebral 2. áreas de associação – unimodais e
supramodais.
3. áreas límbicas
12. CONEXÕES
As diferentes áreas do córtex cerebral se ligam a
regiões do próprio córtex e a numerosas estruturas
subcorticais.
As conexões intracorticais se fazem com áreas
adjacentes ou distantes através das fibras de
associação, algumas visíveis à dissecção.
A maior parte do córtex de um hemisfério se liga ao
do lado oposto pelo corpo caloso (maior comissura
do telencéfalo), sobretudo, os hemisférios frontal,
parietal e occipital.
O hemisfério temporal se liga ao do lado oposto pela
comissura anterior.
13. CONEXÕES
A maior parte das aferências sensivas do córtex
chegam até ele passando pelo tálamo.
Recebe ainda fibras da formação reticular
(catecolaminérgicas e serotoninérgicas) e fibras
colinérgicas chegam através do núcleo de Meynert.
Possui também conexões eferentes amplas: medula,
ponte, diferentes regiões do tronco, corpo estriado,
tálamo e etc.
Grande parte das fibras que se dirigem ao ou partem
do córtex passam pela cápsula interna. Alojadas as
fibras relacionadas com a sensibilidade e motricidade
de todo corpo.
14. CONSIDERAÇÕES
FUNCIONAIS
Não é uma estrutura homogênea do ponto de
vista funcional.
Diferentes regiões tem diferentes conexões e
funções.
Admite-se que existam áreas cerebrais
relativamente específicas para determinadas
funções, porém, não em termos absolutos.
15. ÁREAS DE PROJEÇÃO.
Também chamadas áreas primárias do cérebro, estão
diretamente relacionadas com a sensibilidade ou com
a motricidade.
Área motora primária;
Área somatossensorial primária;
Área visual primária;
Área auditiva primária;
Outras áreas primárias
16. Área motora primária
Localiza-se na região do giro pré-central – área 4
de Brodmann.
Camadas piramidais bem desenvolvidas.
Encontra-mos as células piramidais gigantes, ou
células de Betz, que originam os tratos córtico-
espinhal e córtico-nuclear.
Estímulos elétricos aplicados nessa região
provocam o parecimento de movimentos em
partes específicas da metade oposta do corpo.
18. Área motora primária
Estímulos aplicados na porção mais baixa do giro
produzem movimento da língua.
Um pouco mais acima da face e assim
sucessivamente até a porção medial do hemisféri,
onde estimulam o pé.
Esxiste na área primária uma somatotopia –
homúnculo de Penfield.
A correspondência não é com o tamanho da área
corporal, mas com a importância e capacidade para
realizar movimento.
19. Área motora primária
Lesões da área motora primária irão provocar
paralisias das porções correspondentes da
metade oposta do corpo.
É interessante notar que fibras sensitivas
também chegam até a área motora.
Elas possuem importante participação no
controle dos movimentos.
20. Área somatossensorial primária
Situa-se no giro pós-central, nas áreas 1,2 e 3 de
Brodmann.
Aqui terminam as fibras provenientes dos
núcleos ventral-póstero –lateral e ventral-póstero-
medial do tálamo, que trazem infromações
sensoriais somáticas da metade oposta do corpo
e da face.
Também aqui existe uma somatotopia distorcida.
As áreas do corpo que possuem mais
sensibilidade são representadas de forma mais
21. Área somatossensorial primária
Estímulos elétricos aplicados nessa região
provocarão o aparecimento de sensações mal
definidas (disestesias), algo como formigamento.
Lesões dessas áreas promoverão incapacidade
de reconhecer estímulos táteis, localizar dois
pontos e sentido de posição.
23. Área visual primária
Bordas do sulco calcarino no lobo occipital, área
17 de Brodmann.
Recebe as fibras do trato genículo-calcarino, que
se originam no corpo geniculado lateral.
O córtex visual de cada hemisfério recebe
informações procedentes do lado oposto.
Existe uma retinotopia, já que cada ponto da
retina se projeta para uma área específica do
córtex.
25. Área visual primária
A estimulação elétrica da área 17 faz com que o
indivíduo relate ver pontos luminosos ou clarões
nas regiões correspondentes do campo visual.
Lesões dessas áreas provocarão amaurose
parcial ou total dependendo da extensão da
lesão.
26. Área auditiva primária
Situa-se no giro temporal superior – áreas 41 e
42.
Recebe as fibras oriundas do corpo geniculado
medial.
Sons de diferentes frequências atingem áreas
diferentes do córtex – tonotopia.
Sons mais graves são representados mais
anteriormente e os agudos posteriormente.
28. Área auditiva primária
Estimulação dessa área provoca acúfenos.
Dificilmente provocam surdez porque as vias
auditivas, apesar de cruzarem a linha média,
como as demais vias sensitivas, possuem um
grande componente ipsilateral.
Assim, uma surdez cortical só é possível por
lesão bilateral.
29. Outras áreas primárias
Área olfatória – porção mais anterior do giro
para-hipocampal e do úncus.
A área gustativa situa-se na porção mais inferior
do giro pós-central (área 43 de Brodmann) junto
a área somática da língua.
Impulsos originados dos receptores vestibulares
atingem o córtex também no giro pós-central
(área 3) na região correspondente à sensibilidade
da face.
30. Áreas de associação
Ocupam a maior parte da superfície do cérebro
humano.
O aumento da superfície cortical durante a
evolução se deu através da expansão do córtex
de associação.
Podem ser divididas, segundo Luria, áreas
secundárias e terciárias.
As secundárias estão diretamente conectadas as
áreas de projeção e são unimodais – uma
modalidade sensorial ou com a motricidade.
31. Áreas de associação
Áreas teciárias são áreas integradoras.
Estão conectadas basicamente com as áreas
secundárias e com as áreas límbicas.
São multimodais ou supramodais.
Ocupam-se das atividades superiores, como, por
exemplo, o pensamento abstrato e os processos
simbólicos.
32. Áreas de associação unimodais
Normalmente estão justapostas às áreas primárias
correspondentes.
Área somestésica secundária – área 5 de Brodmann.
Situa-se no lobo parietal, atrás da área somestésica
primária.
Área auditiva secundária – área 22 de Brodmann –
circunda a área auditiva primária.
Área visual secundária – mais extensa e abrange as
áreas 18 e 19 no lobo occipital e ainda 20,21 e 37 de
Brodmann no lobo temporal.
33. Áreas de associação unimodais
As áreas secundárias recebem aferências
principalmente das áreas primárias e repassam para
outras áreas corticais.
Lesões das áreas secundárias não causam déficits
simples mas levam às chamadas agnosias (agnosis –
desconhecer).
Lesão da área visual secundária não provoca
cegueira, produz agnosia visual. O indivíduo será
capaz de enxergar o objeto, mas não consegue
reconhecer o objeto como um relógio.
Como as outras modalidades estão intactas, o
indivíduo pode reconhecer o relógio pelo tato ou
34. Áreas de associação unimodais
As áreas secundárias ou gnósicas, parecem ser
importantes em uma segunda etapa do processo de
percepção.
Recebem informações já elaboradas pelas áreas
primárias e interagem com as terciárias e límbicas.
Quando se estimula um indivíduo com luz branca,
detectamos o estímulo da área visual primária. Com
uma cena visual mais complexa, detectamos o
estímulo das áreas secundárias.
Outra característica dessas áreas é a sua assimetria.
35. Áreas de associação unimodais
Lesões dessas áreas no hemisfério esquerdo
tendem a demonstrar-se clinicamente de maneira
diversas das lesões do hemisfério direito.
Lesões das áreas da audição secundária do lado
esquerdo levam à afasia e do lado direito à
amusia.
36. Áreas de associação unimodais
De forma análoga às áreas sensoriais, as áreas
motoras também possuem áreas unimodais
justapostas.
Área motora secundária corresponde as áreas
6,8 e 44 de Brodmann.
Admite-se que seja importante para o
planejamento motor – há um aumento do
metabolismo quando se pede para um indivíduo
pensar um movimento.
37. Áreas de associação
supramodais
Existem basicamente duas áreas terciárias.
A primeira na confluência temporoparietal e a
segunda na porção mais anterior do lobo frontal –
área pré-frontal.
Não estão associadas a uma modalidade
sensorial específica nem à função motora.
Promovem integração sensório-motora e
participa dos processos motivacionais.
38. Áreas de associação
supramodais
Ocorreria uma associação entre entre as funções
límbicas e não límbicas.
Recebem o fluxo de informações das áreas
primárias e secundárias.
Elaboram estratégias comportamentais.
Enviam de volta as informações para áreas
secundárias e primárias.
39. Áreas de associação
supramodais.
A área temporoparietal – áreas 39,40 e parte da
7 de Brodmann.
Seus neurônios respondem a mais de uma
modalidade sensorial e podem até mesmo estar
envolvidos na motricidade.
Existem evidências de que só se ativam em
momentos relevantes para o animal. Por
exemplo, em presença de comida, mas só se o
animal estiver com fome.
40. Áreas de associação
supramodais.
Recebe fibras das regiões unimodais e interage com
a área pré-frontal e o córtex límbico.
Parece estar relacionada com a linguagem e
representação simbólica, bem como, percepção
espacial.
Lesões no hemisfério esquerdo levam a problemas
de linguagem, de cálculos (acalculia) e com a
percepção espacial (incapacidade de discriminar
direita/esquerda).
Do lado direito – desorientação espacial generalizada
– distúrbios da percepção do próprio esquema
corporal – anosognosia.
41. Áreas de associação
supramodais.
A área pré-frontal corresponde às áreas 45,46,
47, 8, 9, 10,11 e 12 de Brodmann.
Bem desenvolvida no cérebro humano -1/4 da
superfície total do cérebro.
Recebe fibras de todas as áreas unimodais, da
área terciária temporoparietal e tem ainda
conexões com o sistema límbico e se comunica
com o núcleo dorsomedial do tálamo.
42. Áreas de associação
supramodais.
Seus neurônios respondem a diversos estímulos
sensoriais e parecem estar relacionados com
questões motivacionais, só funcionam se houver uma
recompensa.
As observações de pacientes com lesões nessa área
não se manifestam de maneira uniforme.
Muitos pacientes exibem dificuldade de concentração
e atenção. Outros desenvolvem abulia ou euforia.
Possuem dificuldade de modificar estratégias
comportamentais.
43. Áreas de associação
multimodais.
Alterações da capacidade de julgamento e
previsões – comportamento inadequado em
público.
Alterações emocionais – não respondem mais
aos estímulos com reações emocionais.
Resumindo, poderíamos dizer que a área pré-
frontal é importante para o planejamento,
execução e modificação de estratégias de
comportamento.
44. Áreas de associação
multimodais.
Quando ainda não haviam drogas psicotrópicas,
preconizava-se a lobotomia pré-frontal. Valeu o
Nobel de Medicina para Egas Moniz.
Realizado com picador de gelo nas ruas.
Inúmeros efeitos colaterais.
45. Áreas relacionadas com a linguagem
e a assimetria da função cortical.
Linguagem – embora seja uma função complexa,
parece estar ligada a duas áreas corticais.
No lobo frontal e na juncão temporoparietal. Em
95% das pessoas essas áreas estão no
hemisfério esquerdo.
A área anterior ou de Broca, situa-se no giro
opercular e giro frontal inferior.
A área posterior localiza-se na região
temporoparietal e é conhecida como área de
Wernicke.
46. Áreas relacionadas com a linguagem
e a assimetria da função cortical.
A área de Broca relaciona-se com os aspectos da
expressão da linguagem.
A área de Wernicke se ocupa da percepção da
linguagem.
Lesões nessas áreas provocam as chamadas
afasias, ou seja, o paciente é incapaz de se
comunicar através da linguagem verbal, embora
os mecanismos periféricos sensitivos e motores
estejam intactos.
47. Áreas relacionadas com a linguagem
e a assimetria da função cortical.
Dois tipos básicos de afasia:
Motora – lesão da área de Broca – capaz de
compreender a linguagem falada ou escrita, mas
incapaz de expressar. Usará monossílabos.
Sensitiva – lesão da área de Wernicke –
incapacidade de reconhecer a linguagem falada
ou escrita.
48. Áreas associadas com a linguagem
e a assimetria da funcão cortical.
A descoberta de que as áreas da linguagem
situavam-se no hemisfério esquerdo gerou o conceito
de hemisfério dominante.
Hoje sabe-se que o hemisfério direito é mais
desenvolvido em outras funções e esse conceito de
dominância não possui mais sentido.
A assimetria funcional é uma característica das áreas
de associação.
Hoje sabe-se que os hemisférios são assimétricos até
na macroscopia.
49. Rosa – áreas primárias.
Amarelo – áreas secundárias
Azul – áreas terciárias
Verde – áreas límbicas.