Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Implantação do 7o Plano de Pastoral na Arquidiocese de Campinas
1.
2. Editorial
Prezados irmãos e irmãs. Participaram repre-
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! sentantes de todas as
forças vivas de nossa
No dia 1º de abril de 2010, Quinta-feira Santa, na Igreja Arquidiocesana
Missa do Crisma celebrada na Catedral Metropolitana, que, na convivência
Dom Bruno Gamberini, nosso Arcebispo, entregou à fraterna de irmãos e
Arquidiocese a publicação do 7º Plano de Pastoral irmãs em Cristo Jesus,
Orgânica. Na apresentação, Dom Bruno nos dizia que partilharam experiências
“unidos ao Bispo desta Igreja trabalharemos numa nesse processo de
vinha fértil e abençoada, desejosos de evangelizar e implantação do Plano, na busca de concretizar a missão
implantar neste chão a justiça, a verdade, o amor e a de anunciar o Evangelho como autênticos discípulos
paz do Reino de Deus”. missionários.
Pouco mais de um ano após a promulgação do Nosso objetivo, com essa primeira publicação, é
Plano, Dom Bruno partiu para a Casa do Pai. que toda a Arquidiocese partilhe das indicações de
Conscientes da nossa missão, continuamos unidos no nossos assessores e dos trabalhos dos grupos e a usem
trabalho que nos foi confiado de construir a sociedade como mais uma luz que ajuda a iluminar os nossos
sonhada por Deus e anunciada por Jesus. caminhos na concretização do 7º PPO.
Essa revista que publicamos hoje, na Festa de Nossa Que Deus Pai, Filho e Espírito Santo continue a
Senhora da Conceição, Padroeira da Arquidiocese de nos abençoar, sob a proteção materna de Nossa Senhora
Campinas, é mais um instrumento valioso no processo da Conceição.
de implementação do nosso Plano de Pastoral.
Aqui está contida toda a riqueza que foi o Encontro Padre Bruno Alencar Alexandroni
de Formação realizado no Mosteiro de Itaici, na cidade Coordenador de Pastoral
de Indaiatuba, nos dias 16 a 18 de setembro passado. 08 de dezembro de 2011
Expediente
Esta é uma publicação especial da Coordenação de Pastoral da Arquidiocese de Campinas,
sobre o Encontro Arquidiocesano realizado no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba.
Esta publicação está disponível no site da Arquidiocese de Campinas, www.arquidiocesecampinas.com.
Administrador Diocesano Liturgia e Animação Eliana Carvalho Paes
Monsenhor João Luiz Fávero Comissão Arquidiocesana de Liturgia Sem. Emerson Ginetti
Sem. Fábio Fernandes dos Santos e Silva
Coordenador de Pastoral Cronometrista Sem. Fábio Luís Fernandes
Padre Bruno Alencar Alexandroni José Alberto Macedo Nogueira Sem. Fernando Marçola Neves
Sem. Jefferson de Oliveira Marques
Responsáveis pelo Encontro Filmagem e fotos Sem. João Henrique C. Stabile
Coordenação Colegiada de Pastoral Assessoria de Comunicação Sem. João Henrique de Oliveira Bento
Coordenação Arquidiocesana de Pastoral Maurício Aoki (voluntário) Padre Leonardo Henrique Piacente
Sem. Luan Flávio de Oliveira
Assessores Infra estrutura Sem. Marcel Fabiano Prado
Padre Luiz Roberto Benedetti Nadir Gonçalves de Castro Márcia Carvalho
Padre João Augusto Piazza Rosilene Montagner Márcia Signorelli
Diácono Sebastião Roberto de Abreu. Maria Inês Gonçalves
Equipe Dinamizadora do 7º PPO Maria Lourdes Santucci
Monsenhor João Luiz Fávero Médica Sem. Maurício Inácio da Silva
Padre Bruno Alencar Alexandroni Drª. Maria Emília S. Oliveira Messias Rabetti
Carmem Silvia Ventura Sem. Nilo C. de Oliveira Júnior
Diácono Jamil Cury Sawaya Secretários e facilitadores nos grupos Sem. Paulo César Nascimento dos Santos
Padre João Augusto Piazza Sem. Adilson José Ribeiro Sem. Rafael Queiroz Pereira
Padre Jonas Barbosa da Silva Sem. Amauri Thomazzi Sem. Renato de Moura Petrocco
Márcia Carvalho Sem. André Ulisses da Silva Vera Úrsula Gadioli Casarin
Nadir Gonçalves de Castro Antonio Pereira Júnior Wanda Conti
Rosilene Montagner Sem. Antonio Rodrigues Alves Sem. Wladimir Quintino da Costa
Diácono Sebastião Roberto de Abreu Aparecida Palmeira da Silva
Wanda Conti Carlos Roberto Cecílio Assessoria de Comunicação
Sem. Carlos Roberto de Oliveira Jesus Assessor: Padre Rodrigo Catini Flaibam
Vivência (dinâmicas) Cícero Palmeira da Silva Jornalista: Wilson A. Cassanti (MTb 32.422)
Carmem Silvia Ventura Claudemir Batista de Campos Apoio: Nathália Trindade
Sem. Claudiney Ferreira de Almeida Arte: João Costa
Secretários no Encontro Sem. Cleber Rogerio Rosa Fotos: Bárbara Beraquet e Maurício Aoki
Felipe M. Zangari Flor Sem. Diego Fernandes dos Santos
Maria Aparecida V. Duarte Sem. Diego Nogueira Scarano
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3. Apresentação
A
realização de um evento do 7º PPO: Acolhimento, Renovação e 1. Que experiência pastoral temos para
como o Encontro Serviço, com 10 diferentes temas: compartilhar e como ela está
Arquidiocesano que aconteceu acontecendo?
Palavra de Deus: o nascer da
no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba, 2. Como aprofundar o nosso viver e a
comunidade;
no período de 16 a 18 de setembro de nossa ação evangelizadora?
Acolher para ser Igreja. Povo de
2011, foi o resultado de um longo Deus; Pa ra esta atividade houve a
período de preparação. É importante Eucaristia: comunhão com Deus, indicação de que fossem levados em
destacar que este Encontro não foi um com o próximo e partilha com todos; conta o subsídio enviado previamente
acontecimento isolado, mas parte do Rede de Comunidades / Igreja aos inscritos no Encontro (Diretrizes
processo de implementação do 7º Comunhão / Partilha; Gerais da Ação Evangelizadora 2011-
Plano de Pastoral Orgânica, em Missão / Discipulado em uma Igreja 2015, de 30 a 36) e a reflexão dos
vigência na Arquidiocese de Campinas. toda Ministerial; assessores.
Sentiu-se a necessidade de Formação / Itinerário Catequético = Os frutos do trabalho referente à
refletirmos sobre como estamos uma nova atitude; segunda questão foram partilhados nos
vivendo a missionariedade da Igreja. Comunicação: realidade e desafios; miniplenários organizados por Eixo e a
Foi uma oportunidade para conhecer e Pobre: Opção Evangélica e Solidária reflexão foi então apresentada no
partilhar experiências. da Igreja; Plenário, assessorado pelo Monsenhor
Considerando esse contexto, foi Ecologia: Vivência, Educação, João Luiz Fávero, no domingo, dia 18
importante a proposição do Objetivo Profecia; de setembro, pela manhã.
do Encontro, que refletido e aprovado Misericórdia: Vida em abundância Durante a realização do Encontro
pela Coordenação Colegiada de para todos, em especial as situações foram propostas algumas vivências
Pastoral - CCP, ficou assim definido: de sofrimento. com o objetivo de fa vorecer o
“Aprofundar e compartilhar as entrosamento entre os participantes e
experiências pastorais, na vivência do Nos grupos foi solicitado aos houve a exibição do filme “Homens e
7º PPO, na perspectiva de uma Igreja participantes que respondessem a duas Deuses”, após o momento de Adoração
Discípula, Missionária e Profética, questões: do Santíssimo.
alimentada pela Palavra e Eucaristia”.
O tema escolhido foi Discípulos
Missionários de Jesus Cristo.
Uma vez definido o Objetivo, foi
necessário pensar que estratégias usar
que favorecessem sua concretização.
A Equipe Dinamizadora do 7º PPO
propôs então que o Encontro se
organizasse em torno de Assessorias,
trabalho em grupos, miniplenários e
plenário, intermeados e sustentados
pelos momentos de Espiritualidade,
Adoração do Santíssimo e Eucaristia.
As Assessorias estiveram a cargo
dos Padres Luiz Roberto Benedetti e
João Augusto Piazza que abordaram a
temática do Discipulado e da
Missionariedade, levando em conta a
realidade urbana onde acontece, de
fato, a ação evangelizadora.
A propósito do trabalho nos
grupos, vale destacar que foram
organizados em torno dos três eixos
3
4. Discipulado
O
nosso encontro tem como hoje, nem mesmo pelo trabalho, pela discutido nos vários níveis. Existem
objetivo analisar o profissão, como no tempo do constatações comuns, como a
andamento do 7º Plano de capitalismo industrial. Isso pode ser dificuldade de se confrontar com o
Pastoral e, ao mesmo tempo, sentido até no linguajar cotidiano das novo religioso-cultural, o cansaço dos
buscar novos passos, criar novas pessoas, constituído de pequenas cristãos engajados (quase sempre os
energias, abrir perspectivas e corrigir narrativas ligadas a fatos como a mesmos há muito tempo) e a ausência
possíveis erros de rota. casinha em que se mora, a vida dos de perspectivas, de horizontes novos,
Lembro-me de ter colocado, no filhos, suas conquistas mais a repetição do mesmo, a persistente
texto preparatório, que um plano significativas, as suas aquisições, que volta ao passado e o apego a um
dificilmente pode ser elaborado nos são referências ao que se tem e não passado-modernizado.
seus mínimos detalhes, em razão da Nessa realidade há uma grande
complexidade crescente da situação ideia-força, a missionariedade. É
em que vivemos como região metro- Há tempos que a preciso evangelizar, ser discípulo
politana. E mais, que era necessário missionário num mundo que se tornou
criar linhas de força, ideias-progra- identidade dos indivíduos terra de missão. A expressão discípulo
máticas a serem operacionalizadas nos missionário, que pode acabar sendo
vários níveis institucionais. não é dada pela religião. esvaziada se repetida e transformada
Gostaria que todos tivessem num bordão, vem acompanhada de
presente esta afirmação por duas outra, a mudança de época.
razões. De um lado, a exigência de Seria muita pretensão de minha
ação conjunta em torno de desafios ao que se é, mesmo profissionalmente. parte analisar tão brevemente essa
comuns, de um objetivo comum, o que, Isso é um sintoma das mudanças pelas mudança de época. Mesmo porque as
aliás, o 7º Plano contempla; de outro, quais passamos. Na época em que análises seriam conflitantes entre si.
há que se ter claro, que há uma perda estamos, a do capitalismo financeiro, O sociólogo polonês Zygmunt Bauman,
crescente e incessante da capacidade as identidades mudam e podemos um arguto observador da realidade
por parte das instituições de forjarem dizer, de maneira radical, que o atual, nos fala em tempo líquido, amor
e imporem aos indivíduos padrões de consumo condiciona e, até certo ponto, líquido, modernidade líquida, medos
conduta, visões de mundo, de dar a determina a identidade dos indivíduos. líquidos. Para ele, acontece a quebra
eles uma identidade. Procuro acompanhar a vida da de qualquer solidez, firmeza, coesão,
Há tempos que a identidade dos Igreja e, no caso específico de fidelidade e as relações se tornam
indivíduos não é dada pela religião e, Campinas, todo o material enviado e passageiras, efêmeras, vagando ao
sabor do gosto pessoal. Todas as insti-
tuições estão em crise, a começar pela
família. Mas, ao mesmo tempo, há a
busca da comunidade, lugar de refúgio,
de salvação e perigo ao mesmo tempo.
O perigo é claro com as comunidades
virtuais ou fundamentalistas e fechadas
sobre si mesmas, constituídas por
indivíduos desnorteados que buscam
no apego ao mundo “pronto” e murado
uma fortaleza que é preciso defender,
e não importa como.
O filósofo francês Gilles
Lipovetsky, no livro A sociedade da
decepção, diz que “Numa era de
racionalização, de descrença e de
desinstitucionalização da religiosidade,
nada mais normal que o aparecimento
de seitas, movimentos de fanatismo,
fundamentalismo e integrismo. A falta
geral de referência levaria uma parte
das populações de todos os cantos do
mundo a apostar em referências
extremas e dogmáticas. Faz sentido.
O medo do vazio quase sempre leva à
busca do excesso de presença”.
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5. Como não dá para analisar essa Então, o Cardeal Lehmann
mudança exaustivamente, aponto diz que “a fé se apresenta
algumas características e chamo a sempre mais como uma
atenção para as chances que tornam realidade baseada na
urgente, amplo e inclusivo o apelo decisão do indivíduo” e
missionário . O e vangelizador é, Lucien Febvre contrapõe-se à
também, um destinatário da missão e situação do século XVI,
experimenta na carne esse mundo. É quando “tudo isso se faz
preciso dizer sem subterfúgios que o sem que se pense”.
próprio evangelizador está em crise e As Diretrizes Gerais da
tende a se refugiar na instituição, na Ação Evangelizadora da
fórmula pronta e na receita. Igreja no Brasil mencionam
esta mudança radical e
A decisão pessoal dizem no nº 88: “As pessoas,
em um mundo pronto hoje, ciosas de sua liberdade
e autonomia, querem se
Começo com uma citação do convencer pessoalmente,
Cardeal Karl Lehmann, até pouco desejam discutir, refletir,
tempo Presidente da Conferência avaliar, ponderar os
Episcopal da Alemanha, em uma argumentos a favor e contra em uma única direção, dizendo que
entrevista publicada no site IHU. Diz o determinada visão, doutrina ou norma”. somos consumistas, individualistas,
Cardeal que “...na situação atual, Esta passagem não afeta apenas indiferentes, fundamentalistas e sair
convergem desdobramentos que estão a religião católica. Pouca gente se deu tirando conclusões de cunho moralista
em curso há anos. A ‘Igreja do povo’ conta da pesquisa do IBGE, ainda não ou exortações piedosas.
como existia até agora, está mudando publicada oficialmente, que apresenta O indivíduo é livre para fazer o que
e adquire novas dimensões. A fé se um dado novo, o do surgimento de quiser, como nunca antes teve esta
apresenta sempre mais como uma evangélicos não praticantes, de cerca liberdade. Mas, ao mesmo tempo, ele
realidade baseada na decisão do de 4 milhões de pessoas, em um está frustrado. Nós somos sempre o
indivíduo. Algumas das dificuldades se percentual que subiu de 0,7 para 2,9%. mais e o menos ao mesmo tempo.
devem ao fato de que se esfacelaram Isso só é possível porque o universo Cada um é livre mais que antes para
os ambientes religiosos e culturais expressar desejos e nunca houve tanta
dentro dos quais foi possível viver até depressão. Nunca se buscou tanto o
agora a própria fé”. prazer e nunca se sofreu tanto por não
Ele falava, é claro, da situação de
Não temos mais a se conseguir uma vida feliz. Nunca nos
crise da Igreja europeia. Concluía comunicamos tanto e nunca nos
dizendo que a crise de confiança, na
obrigação de buscar o paraíso sentimos tão sós. Criamos blogs para
Igreja, é uma crise de fé. O Cardeal e fugir do inferno. contar nossa vida, interagir sobre
falava, então, que a fé se apresenta coisas que antes só falávamos à
sempre mais como uma realidade família, amigos, vizinhos e mesmo ao
baseada na decisão do indivíduo. padre.
O historiador francês Lucien espiritual está tomado por gente que É preciso ser bem sucedido e feliz.
Febvre, em seu livro O problema da constrói sua fé sem seguir a cartilha Mas não temos mais a obrigação de
incredulidade no século XVI - a religião da denominação religiosa. Se outrora buscar o paraíso e fugir do inferno. O
de Rabelais, após descrever com o padre ou pastor produziam sentido à pesadelo do pecado e das imposições
minúcias o universo religioso medieval, vida das pessoas de muitas morais cada vez nos atormentam menos.
diz que “tudo isso mostra a Igreja comunidades, atualmente celebri- A grande infelicidade, hoje, é a
estabelecida em pleno coração da vida dades, empresários e esportistas, só imposição de ser feliz, em um mundo
dos homens, de sua vida sentimental, para citar três exemplos, dividem esse no qual a decepção é diretamente
de sua vida profissional, de sua vida espaço com essas lideranças. proporcional ao desejo. É preciso ser
estética, se se pode empregar esta A pergunta que surge para nós é: feliz aqui e agora, esquecendo o
grande palavra: de tudo o que os onde as pessoas buscam sentido para passado e não vivendo em função do
ultrapassa e de tudo o que os liga, de a sua vida e, ainda, como isso afeta a futuro. É viver o presente, o agora, o
suas grandes paixões, de seus religião? “instante eterno”, título de um livro do
pequenos interesses, de suas Antes de responder a esta sociólogo francês Michel Maffesoli, que
esperanças e de seus sonhos... Tudo questão, é preciso olhar o mundo e nos diz que é viver o “instante eterno”
isso se faz sem que se pense. Sem que entender as suas contradições no é “Empunhar a vida, o que ela nos
ninguém nem sequer levante a questão cotidiano da vida. As grandes teorias oferece, o que se apresenta.
de saber se é possível, se deve ser de explicativas da realidade, da história, Exuberância pagã que se aproxima dos
outra maneira. As coisas são assim. deram lugar a análises do cotidiano gozos do presente, levando a uma vida
Desde tempos imemoriais”. vivido. Não podemos ver a realidade audaz, intrépida, a uma vida
5
6. didade. E isso, para os críticos da
sociedade de consumo, anula va
qualquer ímpeto transformador da
realidade. Acomodava, anestesiava,
entorpecia. A própria classe operária
americana aderia a esse sistema e o
reforçava, no dizer do sociólogo e
filósofo alemão, naturalizado norte-
atravessada pela frescura do instante, termos bíblico-teológicos, mas difícil americano, Herbert Marcuse. O con-
no que este tem de provisório, de em termos operacionais. forto, garantido pelo consumo, gerava
precário e, portanto, de intenso”. Feita esta lembrança voltemos ao acomodação. Havia a contestação, mas
Ser feliz aqui e agora! Esquecer a tema do individualismo consumista. não era orientada por um projeto
“sociedade do adiamento”! Esquecer o Quanto mais as sociedades político claro. A defesa das drogas, o
“adiamento do gozo”, da fruição da enriquecem, mais aparecem novas “faça amor não faça a guerra” ligavam-
felicidade. Adiamentos presentes na ação “vontades” de consumir. Podemos se à liberação de direitos individuais.
política, ou mesmo, no projeto consumir para viver ou, no outro Então, há uma fase em que se
profissional. A felicidade é, num certo extremo, viver para consumir. Hoje, consome o necessário para viver, onde
sentido, substituída pela “arte de viver”. quanto mais se consome mais se quer dá-se importância aos objetos que
A própria ideia de liberdade se minimaliza, consumir. A esfera das satisfações se devem ser úteis e duráveis. Num
pois é preciso ser livre nas pequenas alarga cada vez mais e a saturação leva segundo momento, eles devem ser
liberdades, presentes nas brechas das a novas procuras. sinais distintivos de classe social.
imposições sociais; relativas, efêmeras, A explicação do consumo teve Hoje, estaríamos vivendo um
expressas em verbos como surfar, como modelo as ideias do crítico social terceiro momento, que é o do
marolar, “ficar”, zapear... Thorstein Veblen, presentes no livro “A consumo privatizado. As neces-
Fica claro que tudo isso implica, teoria da classe ociosa”. Ele procurava sidades obedecem a fins, gostos e
o u c a racteriza, duas marcas da mostrar como o consumo se
sociedade que estão na raiz da urgência desprendia cada vez mais da
do empenho do discípulo missionário: necessidade do uso, da
o individualismo e o consumismo. utilidade dos produtos para
Duas faces da mesma moeda, dois tornar-se sinal de distinção
aspectos da mesma realidade social e social. Servia para mostrar
individual. Para entender isso é preciso a superioridade enquanto
voltar um pouco atrás no tempo. classe social. Os “carrões”
americanos, cheios de itens
Individualismo e Consumismo de gosto duvidoso, não
tinham “utilidade”. Sua
As contradições a que me referi função era mostrar um
ocorrem em uma sociedade cuja status superior, um lugar
desigualdade social e econômica social distinto. Um consumo
gritante ameaça destrui-la. Uma ostentatório. Segundo ele,
sociedade na qual grupos financeiros as pessoas que se livram da
vivem de produzir dívida e ganhar com linha de subsistência não
ela, no dizer do sociólogo espanhol buscam propósitos úteis,
Manuel Castells. Quem falará pelos expandir sua vida, viver com
pobres quando sobrevivem e crescem mais sabedoria, compre-
os especuladores financeiros e o mundo ensão, mas querem impres-
se ordena em função deles, ou melhor, sionar as outras pessoas
eles “ordenam” o mundo de acordo mostrando que tem esse
com seus interesses e sua força se excesso, que tem mais que
sobrepõe a todas as instituições os outros. Dava como exem-
políticas, mesmo o Estado? plo o fato de famílias que se
É esta sociedade que nos põe face privavam do leite para as
às exigências evangélicas. E é bom crianças a fim de comprar
lembrar disso quando falar dos pobres gasolina para o carro.
na Igreja é quase heresia ou motivo Mas os anos 60-70
de troça ou ocasião para desencargo puseram em cheque essa
de consciência... Nessa sociedade, teoria. Consumia-se para ter
mais que nunca, a Igreja encontra o uma vida melhor. Buscava-
seu lugar e deve buscar como exercer se conforto, prazer, satis-
sua missão específica, que é clara em fação, facilidade, como-
6
7. critérios individuais. Uma lógica E a religião? O enfraquecimento das instituições
desinstitucionalizada, subjetiva e religiosas, de suas capacidades
emocional. Quero ser eu mesmo. Quero A religião permanece, com dois organizativas com estruturas pesadas,
viver, não me exibir. Olhemos as frases aspectos principais. imóveis e imobilizadoras, levam a uma
“tô na minha”; “ele se acha”... O Primeiro, ela permanece como individualização crescente do crer e do
consumo obedece a uma lógica de substrato profundo da cultura. Ela é agir. É a relativização das crenças.
“felicidades privadas, otimização de e vocada até para aquilo que a Naturalmente, crer não é
nossos recursos corporais e relacionais, transgride, até para sua profanação. consumir. Há toda uma tradição vivida,
a saúde ilimitada, a conquista de Uma propaganda de motel ilustra bem. uma busca do essencial, do divino, do
espaços-tempos personalizados”, diz O outdoor, presente nas entradas da sentido profundo do mundo e da
Lipovetsky. cidade de Campinas e em pontos história que marca o espírito de fé e
A dinâmica do consumo é a estratégicos, como entra d a d e isso nada tem a ver com o espírito do
satisfação subjetiva, pessoal e universidades, começa com uma consumismo. Mas isso não pode nos
individual. Ela sobrepuja a necessidade pergunta: Pecado? E mostra dois cegar para o fato de que o renascer
de competir com os outros. Buscamos jovens seminus, corpos perfeitos, religioso contemporâneo não deve ser
algo “que tenha nossa cara”, que se altamente erotizados. Depois de passar marcado pelos sinais do
pareça conosco. Castells diz que o os olhos pelos corpos vemos a turboconsumidor experiencial, descrito
modelo consumista busca o sentido da resposta: Pecado é não conhecer o por Lipo vetsky: “participação
vida, comprando-a a prestações. motel X. temporária, incorporação comunitária
Os objetos são padronizados, os O segundo aspecto é que a religião livre, comportamentos a la carte,
gostos são criados, há a moda, mas sofre uma mutação interna, não primado do bem-estar subjetivo e da
sempre em nome da satisfação e de apenas na escolha individual, mas nas experiência emocional”.
sentir sendo “eu mesmo”. O filósofo e raízes da escolha. Ela se situa no que
sociólogo francês Jean Baudrillard diz A Comunidade
que a sociedade de consumo é aquela
na qual na vitrine o individuo se Um manifesto de 240 professores
contempla a si mesmo. Mas mesmo os
A religião sofre uma de teologia da Alemanha, publicado no
objetos padronizados da moda tem que site IHU, fala sobre o assunto: “As
ter um toque pessoal, ser
mutação interna, não apenas comunidades cristãs devem ser espaços
“customizados”, isto é, afirmar o nos quais as pessoas partilham bens
indivíduo enquanto indivíduo, na
na escolha individual, mas espirituais e materiais. Mas atualmente
medida que o padronizado deve ser a vida das comunidades se desfaz. Sob
personalizado, adaptado ao gosto e
nas raízes da escolha. a pressão da escassez de sacerdotes,
características individuais. Tem que ter constroem-se unidades administrativas
um registro de “diferencialidade”. Eu cada vez maiores - paróquias nas quais
tenho que sentir que eu sou eu, Lipovetsky chama de “mercado da já não se pode experimentar a
mesmo quando obedeço à última alma” e “farmácia da felicidade”. Menos proximidade e a pertença. Identidades
moda. que propor um ideal, um projeto de históricas e redes sociais construídas
As lojas, mais do que oferecer vida, um sistema expressivo (crer, são abandonadas”.
objetos úteis, devem provocar uma viver, celebrar) a religião busca dar Causa espanto pensar que uma
experiência sensorial total, uma respostas às decepções com relação às experiência pioneira como as das Vilas
emoção diferente, ter uma cenografia promessas não cumpridas pela Planejadas, aqui em Campinas na
própria. Fazer o indivíduo viver o gosto sociedade secular ou, então, de década de 80, tendo como marca o
de uma aventura pessoal, de ter uma proporcionar elementos e experiências colégio presbiteral, o envolvimento das
imagem positiva de si mesmo, que possibilitem o desabrochar do religiosas(os), leigos em clima de
gostando cada vez mais de si que dos indivíduo, na forma de autoajuda. Ela igualdade e respeito à própria vocação
outros. não se contrapõe à sociedade de e função ministerial na vida da Igreja,
Eu exagerei um pouco para consumo. Amolda-se a ela. Pode-se nunca tenha sido objeto de uma
enfatizar que o novo individualismo gostar de paramentos luxuosos... de avaliação de toda a Igreja local.
consumista é radical: o outro não conta missa em latim! Ainda mais, até Absorvidas pelas paróquias, as
nem para competir. Amar: sim, mas mesmo a espiritualidade é comprada e religiosas(os) voltaram para seus
sem compromisso. vendida. conventos, ou equivalentes, os leigos
7
8. Questões dos participantes
O Padre Benedito Ferraro Alguém se referiu ao movimento
apresentou números, dolorosos, que carismático. Eu disse que o risco era que
corroboram o que foi apenas acenado se ficasse num plano puramente
por mim na questão da desigualdade. emocional e que com o fim da emoção
e sua missão no mundo cada vez mais Além desse enriquecimento lembrou tudo acabasse. É preciso reconhecer,
entregues a ministérios em torno do que os “pied noirs”, assim chamados de entretanto, que para muitos foi o início
altar. É um retrato impressionista, maneira discriminatória, não são de uma caminhada de fé cada vez mais
talvez subjetivo demais, mas, de violentos. Respondem, sim, a uma consciente e participante. E é preciso
qualquer forma, é expressão de uma
perda. Passados mais de trinta anos,
violência de que são vitimas. reconhecer que nas paróquias e
os laços comunitários criados são Realmente, o termo violência para me comunidades são generosos e
revividos, por nós que participamos, referir a eles, foi mal empregado. Na dedicados nas tarefas que lhe são
em jubileus, hospitais, velórios, realidade, o que quis dizer, nesse pedidas. E, mais ainda, emoção é
aniversários. Ao encontrar pessoas, exemplo que me ocorreu durante a necessária como componente de
distantes umas das outras no tempo e
comunicação, foi que a ação dos “pés humanidade. Eu falei, também, de riscos
no espaço, unidas novamente pela
solidariedade de alegrias e dores, ao negros” (descendentes de imigrantes como tantos que valorizam o grupo de
participar de celebrações coletivas em africanos das ex-colônias francesas) era oração, que gostam, sentem-se bem,
plano diocesano, como não pensar em
chances perdidas?
Talvez pensemos em comunicação
quando falamos da missionariedade da
Igreja. Comunicar necessariamente
não significa env olve r. Pode se
transformar em pura forma de expandir
e dar a conhecer atos e medidas
administrativas. Chamou-me muito a
atenção uma entrevista do pensador
Regis Debray. Ele estabelece uma
oposição entre transmissão e
comunicação.
A comunidade brota e necessita
de uma transmissão. A comunicação
consiste em faz er circular uma
informação no espaço em um
momento. A transmissão é portar uma
informação no tempo, isto é, construir
uma duração, uma tradição, uma
memória... Além disso, uma
comunidade humana sempre supõe um
ponto de coerência, um ponto criador
de laços, que pode ser um texto, uma uma reação instintiva. Na realidade, porém a missa é obrigação a que muitos
figura heroica, um evento, enfim algo queria contrapô-la às formas de reação se desobrigam.
que reúne vivencialmente. E o que
reúne é chamado de sagrado. Não
organizada e com certo patamar de O Padre Eugênio Pessato apresentou
resisto à tentação de citar o tríduo permanência. Quanto à explicação da dados de uma pesquisa, limitada ao seu
pascal “aqui nos reuniu o amor de desigualdade, concordamos. Sua raiz é território de atuação paroquial, que
Cristo, alegremo-nos e n´Ele econômica (a sociedade de classes). O comprova o que foi dito na colocação.
rejubilemos... E amemo-nos na grande drama é que a teoria das classes Aqui, é necessária uma referência ao valor
lealdade do coração”. Aliás, que
sociais já não dá conta da desse gesto: é parte da ação missionária
distância entre essas maravilhas e os
sentimentalismos modernosos pós- complexidade da situação atual. Sem o conhecimento da realidade.
comunhão. Intermináveis!!! perder validade, ela não dispõe de O Padre José Arlindo de Nadai
Sim, há perigos e aqui sociólogos e instrumentos analíticos que permitam pergunta sobre a conveniência de dividir a
pastoralistas convergem. O risco de operacionalizar uma ação organizada paróquia por setores. Acredito que a
nossas comunidades se transformarem em níveis cada vez mais abrangentes. tentativa de criar grupos, de animar
em guetos, de caráter étnico, religioso,
Os próprios especuladores (sob o convivência e partilha, é necessária no
ou duas coisas juntas. As Diretrizes
alertam: “Contradiz profundamente a eufemismo de investidores), como ambiente burocrático-administrativo
dinâmica do Reino de Deus e de uma George Soros, dizem que sem paroquial. Mas se o critério for puramente
Igreja em estado permanente de missão mecanismos de controle é a sociedade geográfico, ainda ficamos na mesma.
a existência de comunidades cristãs toda que corre riscos. Estão naquela Grupos em torno de “interesses”, no
fechadas em torno de si mesmas, sem situação de dar os anéis para não sentido sociológico do termo, que vai muito
relacionamento com a sociedade em
geral” (nº 80). “Comunidade implica
perder os dedos. Quanto à organização além do campo puramente material. Inclui
necessariamente convívio, vínculos da classe operária, é, sim, indispensável aspirações, desejos, emoções, estilos de
profundos, afetividade, interesses e necessária. Só que mais difícil que vida, numa palavra, modo de
comuns, estabilidade e solidariedade nos nunca, face à situação. “experimentar” o mundo e viver a História.
sonhos, nas alegrias e nas dores” (nº 59).
8
9. Entrevista
Assessoria: Quais são as mudanças sociais
que desafiam hoje a Igreja?
Padre Benedetti: Primeiro é constatar que a
Igreja enfatiza quase que em todas as linhas,
palavras e momentos, públicos e particulares,
a necessidade da evangelização, traduzida
agora como ser discípulo missionário. Hoje
nós não vivemos mais em uma sociedade
cristã, no sentido que as estruturas moldavam
o cristão e pertencer à sociedade e à religião
dessa sociedade era a mesma coisa. Hoje a
religião, como tudo, é uma escolha individual.
Mas é uma escolha feita por um indivíduo que
se redefine. Não é um indivíduo que se pensa
como indivíduo a partir de esquema de mundo,
de sentido, visões da história, teorias sobre o
mundo, religiosas ou não. É um indivíduo que
busca sentir-se bem consigo mesmo. Isso
atinge diretamente a religião, porque se ela coloca a felicidade como obrigação, ela se depois, porque eu seria injusto com muitas
não responde a essa necessidade individual torna uma imposição a mais porque ela não pessoas e comunidades. Mas eu não posso
ou se o questiona, o indivíduo vai buscar outra tolera a decepção. negar que, pessoas que me procuram, se
que dê a resposta que ele espera ou, também, queixam porque foram apresentar algum tipo
uma religião que o ajude a ser rico, como tem, Assessoria: Como podemos conviver com a de problema e o padre disse que a Igreja
por exemplo, alguns grupos evangélicos, ou, realidade do consumismo desenfreado? determina isso e acabou e se não quiser
ainda, como grupos que se defendem desse Padre Benedetti: Há a necessidade de aceitar, que vá buscar outra religião. Isso,
mundo, são fieis e firmes, como a conviver, mas tendo o senso e o timing da evidentemente, não é resposta e isso existe.
Congregação Cristã do Brasil. Temos esse história pessoal de cada um e, principalmente, Dizer que a Igreja diz isso ou aquilo é fácil,
universo do mundo que precisa ser quanto às crianças, tem que ter o exemplo dos mas ela o faz com alguma finalidade buscando
evangelizado desde as raízes porque o pais. Se o pai e a mãe alimentam o a vivência do evangelho, assim como o
homem, hoje, é outro. Não há uma mudança consumismo, não tem saída. Eles têm que ter evangelho questiona o que a Igreja diz.
extemporânea dentro de uma situação de a capacidade de perceber e colocar um
permanência, mas é uma mudança de época questionamento no meio, sem imposição, Assessoria: O que deve ser feito a partir
e não uma época que ocorre mudança. sobre a real necessidade disso ou daquilo. Um dessa realidade que o senhor apresenta?
exemplo. Uma criança vai a um supermercado Padre Benedetti: Eu penso que, primeiro, nós
Assessoria: O princípio das religiões não é e faz birra, quer a coisa mais cara. Cabe aos temos que pensar as estruturas da Igreja, que
buscar a felicidade? Que mal há nisso? pais mostrarem que não têm condições de são pesadas e impõem pesos, são imóveis e
Padre Benedetti: A felicidade é aquilo que comprar o mais caro, mas que pode comprar, imobilizam. As estruturas de formação dos
move toda a ação humana. Aristóteles tem até por exemplo, dois mais baratos e dar um para seminaristas se reproduzem depois nas
a afirmação clara, a da harmonia, a felicidade quem não tem possibilidade de comprar nem paróquias. Esse eixo estruturado e estruturante
como a razão de ser de toda a ação humana. o mais barato. Desde pequena, a criança vai precisa começar a mudar em uma perspectiva,
O problema é que se busca a felicidade aprendendo a ter algo mais simples e está por exemplo, de repensar a questão ministerial.
refugiando-se em si mesmo, desconhecendo sendo questionada sobre a situação que Não no sentido de desaparecer o padre que
a sociedade e os outros. Quando você deseja estamos vivendo. Mas existirão momentos que eu sou ou o tipo de padres que nós somos,
ser feliz de uma maneira que não corresponde isso vai ser fonte de frustração e vai levantar mas começar a pensar em uma forma de padre
à humanidade da qual você faz parte, você novas perguntas. Por isso é preciso ter o diferente. Segundo, é bom setorizar, criar
se transforma em um sujeito que, quanto mais timing do momento e não moralizar ou impor, relações, porque a situação que estamos
busca a felicidade, mais se decepciona. Eu mas ter sensibilidade para questionar. vivendo não preocupa só os cristãos. A imagem
leio muito o filósofo francês Lipovetsky, que de que os jovens são felizes, por exemplo, é
diz que não podemos ser negativos quando Assessoria: A nossa Igreja, muitas vezes, falsa, porque eles estão em uma cultura que
analisamos a sociedade, mas temos que ver falha no acolhimento ao ter respostas prontas favorece os grupos econômicos, mas há
as contradições. E ele deixa isso muito claro. para muitas solicitações dos fieis, deixando frustrações pessoais, há buscas pessoais... E
Você tem, sim, que buscar a felicidade, que de atender com a caridade. Isso também é a Igreja tem que se preparar para dar uma
procurar um nível de consumo que responda uma realidade que estamos vivendo? resposta a essa ansiedade da juventude, não
às suas necessidades, mas, ao mesmo tempo, Padre Benedetti: Eu não posso afirmar ou uma resposta em nível de padre somente,
você tem que pensar que tudo isso convive generalizar esta afirmação, primeiro porque apenas, mas em uma discussão coletiva, em
com possibilidades de decepção. Quando nunca estudei ou pesquisei sobre isso, e, grupos dentro da paróquia.
9
10. Missionariedade
F
oi com grande alegria que acolhi
o convite para refletir neste
encontro de estudos da nossa
Arquidiocese de Campinas,
compartilhando um pouco daquilo que
tenho lido e estudado junto à
Comunidade que presido.
A Igreja tem sempre uma palavra,
uma direção, um chamado e um desejo
de posicionar-se, de não se esconder
ou se acomodar, mas de ser e estar
presente no mundo para realizar a sua
missão.
É assim que o documento de
Aparecida deve ser visto por nós, como
Igreja, como um momento em que os
nossos pastores da América Latina, sob
a luz do Espírito Santo, orientaram a
caminhada da Igreja, inspirando o
Objetivo Geral da Ação Evangelizadora
da Igreja no Brasil, que traz, na sua
introdução, a razão de ser da Igreja,
que é Evangelizar a partir do
encontro com Jesus Cristo. a ação de Deus já está acontecendo. A começava a subir a escada, um
Nós, em Campinas, assumimos o transmissão da fé nos lança não apenas dispositivo automático fazia jogar água
Objetivo Geral da Igreja do Brasil, que para a ação presente, mas com gelada sobre os outros macacos.
têm a sua riqueza desenvolvida ao perspectiva de futuro. É essa a razão Passado certo tempo, toda vez que
longo do 7º Plano de Pastoral Orgânica, pela qual esta verdade precisa ser qualquer um dos macacos esboçava
com preciosas orientações, aos moldes resgatada na nossa vivência subir a escada, os demais o
do Documento de Aparecida. Além do evangelizadora. espancavam, evitando, assim, a água
encontro com a pessoa de Jesus Cristo, Ser Missionária é a grande marca gelada. Obviamente, após certo tempo
o próprio objetivo já determina a da Igreja nesses dois mil anos, que foi nenhum dos macacos se arriscava a
maneira como devemos nos colocar. se enfraquecendo com os subir a escada, apesar da tentação. Os
Somos chamados a estar constan- contratempos e as acomodações dos cientistas, então, substituíram um dos
tempos. E nós temos a tentação de macacos. A primeira coisa que o novo
fazer as outras pessoas iguais a nós, macaco fez, foi tentar subir a escada.
A razão de ser da Igreja de fazer o quê e da forma que fazemos, Imediatamente os demais começaram
de se organizarem como estamos a espancá-lo e, após várias surras, o
é Evangelizar a partir do organizados. Tudo está pronto e novo membro aprendeu a não subir a
acomodado e vai se repetindo, se escada, embora jamais soubesse a
encontro com Jesus Cristo. reproduzindo e se mantendo, porque razão. Um segundo macaco foi
esta é a nossa segurança. substituído e ocorreu com ele o mesmo
A Conferência de Aparecida e a que com o primeiro, que também
temente em processo de diálogo, como nossa caminhada pastoral a partir do participou com os demais do
quem quer aprender, em uma relação 7º PPO, nos interpelam a uma nova espancamento. Um terceiro macaco foi
permanente de interlocução. postura. Para entender esse processo, trocado, e o mesmo aconteceu. Assim,
Já o Documento do Diretório peço que vocês prestem atenção em foram todos substituídos, um de cada
Nacional de Catequese, no seu capítulo como se forma um paradigma (modelo, vez, e a cada troca repetia-se o
sexto, trabalha este sentido novo que padrão ou exemplo a ser seguido) para espancamento dos novatos, quando
deve estar na relação catequética, na termos como referência na nossa faziam suas tentativas de subir a
relação evangelizadora. O destinatário reflexão. escada. No final, o grupo de cinco
é um interlocutor, não é alguém que Um grupo de cientistas colocou macacos, que embora nunca tivessem
só recebe, porque antes mesmo de cinco macacos em uma gaiola e no recebido uma ducha fria, continuava a
chegarmos à relação evangelizadora e meio dela uma escada com bananas espancar todo macaco que tentasse
catequética, o Espírito Santo já chegou, no alto. Cada vez que um dos macacos subir a escada. Se fosse possível
10
11. conversar com os macacos e
perguntar-lhes porque espancavam os
que tentavam subir a escada,
certamente não saberiam dizer a razão.
Em muitas circunstâncias é assim
que procedemos em nossas
comunidades. E as pessoas podem
estar se questionando sobre a razão repensar a nossa prática e não não é simplesmente mais um plano que
de continuarmos a fazer o que sempre simplesmente fazer coisas. O Padre a gente faz, mas é uma grande
fizemos da mesma maneira, se existem Benedetti nos disse que a religião tem oportunidade para repensarmos a
outras formas para isso. Por isso, tudo organizado, está tudo pronto, os nossa ação evangelizadora.
somos convidados a ter presente a livros, os esquemas estão É arrepiante imaginarmos que
possibilidade de “romper paradigmas” estabelecidos e é só continuar a muita coisa na nossa Igreja funciona
não nos enganando com as aparências prática. Mas o mistério da Igreja tem com plano ou sem plano, com padre
de normalidade. Tudo parece estar uma outra referência e não é ou sem padre, com leigo ou sem leigo,
bem: a Paróquia, a Comunidade, a simplesmente uma entidade enfim, caminha por si mesma. Nós, de
Pastoral... Sempre está tudo muito organizada onde os fieis vão fazendo protagonistas passamos a meros
bem... Nós continuamos participando coisas. reprodutores das coisas. O nosso Plano
porque está tudo bem, e vamos Repensar exige a capacidade de de Pastoral, no Espírito de Aparecida,
mantendo o que fazemos porque envolver-se e de questionar, com é uma riquíssima oportunidade que o
olhamos para nós mesmos. maturidade, não simplesmente de Senhor nos dá para repensarmos e
Diante desta constatação, o repetir, manter e fazer algo. Aparecida relançarmos as nossas ações. O nosso
Documento de Aparecida, no número diz que a Pastoral deve ser repensada Plano não é de resultados, mas de
11, faz um chamado para a Igreja com audácia para que seja uma grandes indicações e pistas a serem
“repensar profundamente e a relançar presença de qualidade, que faz a construídas. Nada está pronto, mas são
com fidelidade e audácia sua missão diferença onde está presente, onde indicações que orientam e direcionam
nas novas circunstâncias latino- atua, e não para adequar-se às a nossa atenção para aspectos
americanas e mundiais”. conveniências. Nesse momento difícil fundamentais da vida da Igreja, que
É um chamado feito para todo o e conturbado somos chamados a ser precisamos ter presentes para que a
Povo de Deus, para todos nós, padres, audaciosos, fieis ao evangelho, com a nossa missão se realize neste contexto
leigos, representantes das Paróquias, audácia do discípulo que segue Jesus e momento.
das Comunidades, lideranças dos Cristo e que é capaz de criar novas Pa ra isso, o Documento de
diversos Organismos eclesiais. O coisas, pois o Espírito faz novas todas Aparecida, no número doze, nos diz:
momento que estamos vivendo exige as coisas. Por isso, o nosso 7º Plano “A todos nos toca recomeçar a partir
de Cristo, reconhecendo que ‘não se
começa a ser cristão por uma decisão
ética ou uma grande ideia, mas pelo
encontro com um acontecimento, com
uma Pessoa, que dá um novo horizonte
à vida e, com isso, uma direção
decisiva’”.
Parece óbvio que Cristo é o ponto
de partida, mas a maioria de nossas
ações não partem dessa experiência de
encontro com o Senhor, mas sim de
regras que temos estabelecidas, nos
costumes enraizados, que vamos
simplesmente repetindo. Penso que
essa é uma das razões, não única,
porque muitos de nós estamos
cansados e saturados. As inúmeras
exigências e “coisas” para fazer vão
pesando no nosso cotidiano e não
temos mais a alegria de dar a vida, de
morrer, de carregar a cruz, de se cansar
por causa do Reino. Faz-se muito, mas
não saímos do lugar.
Aparecida chama a atenção para
o que parece óbvio. É preciso recolocar
11
12. Não se começa a ser cristão por uma decisão ética
ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo
horizonte à vida e, com isso, uma direção decisiva.
esse recomeço a partir de Cristo, a tudo de Jesus Cristo. O caminho que não com a pessoa, com o mistério que
partir do encontro com o Ressuscitado, os bispos em Aparecida nos indicaram é dado na nossa relação. Por isso a
razão fundamental de sermos cristãos. para relançar a missão evangelizadora missão começa a partir de cada um de
Nós não podemos ser cristãos porque no nosso Continente é a iniciação à vida nós.
é bonito ser cristão, nem porque a cristã, com a inspiração do processo Não devemos nos preocupar com
Igreja tem valores éticos e morais. A catecumenal. a diminuição percentual dos católicos,
nossa experiência de fé é de encontro, As estruturas que temos hoje em mas sim com o que temos oferecido
que sempre se renova e que precisa nossas Comunidades são baseadas para os que nos procuram e para a
recomeçar constantemente. O demasiadamente no discurso. Temos nossa sociedade, que está confusa,
Documento de Aparecida, portanto, cursos para todas as necessidades: cheia de outras referências. A Igreja
trata a fé como evento existencial, a batismo, comunhão, casamento... E não é lugar onde se consome, mas
experiência de encontro com Deus e cursos dentro de uma pedagogia onde se faz uma experiência que muda
com o irmão. “Ele está no meio de nós” terrível, onde as pessoas vão, por a vida. Na Iniciação Cristã, uma das
é o que proclamamos solenemente, necessidade, “aguentar” os exigências é a disposição para a
não como um refrão decorado, mas profissionais que ministram os cursos, conversão, para a mudança de vida.
como expressão dessa experiência que que ensinam e você aprende e repete. O documento aponta que o
qualifica e determina todo modo de ser Pouco importa se esses cursos trazem processo de iniciação cristã, no modelo
da Igreja e da Comunidade. algo para vida das pessoas, o que do catecumenato, seja assumido em
A fé, entendida dessa maneira, é importa é que você faça o discurso todo continente, como uma maneira
uma descoberta decisiva da adequado. O padre quer assim, o ordinária de formação dos discípulos
Conferência de Aparecida, que, professor ensinou isso e nós vamos missionários. A Igreja assume uma
aparentemente, parece óbvio. É repetindo e reproduzindo essas postura desafiadora que faz repensar
justamente a partir desse sentido da fórmulas. a ação pastoral e convida a nos
experiência existencial da fé, que nós Os Bispos, em Aparecida, nos relançarmos em missão.
superamos a ideia dela como aceitação, chamam para uma nova postura e A nossa postura é de acolher
opção ética ou mera tradição cultural, apontam o caminho da iniciação cristã aquilo que o Espírito vai apontando
como é em grande parte do nosso como método e processo catecumenal, através da Igreja.
catolicismo. É a partir dessa onde somos chamados a aprender. O Para concretizar este processo de
experiência que compreendemos a Documento constata que na Igreja iniciação em nossa prática catequética,
nossa missão, não como tarefa que muitos agentes atuam sem consciência somos ajudados pelo Diretório Nacional
precisamos realizar, mas como modo da sua missão, com a identidade cristã de Catequese que aponta para a
de organizar a nossa vida a partir dessa fraca e vulnerável. Isso nos desafia a “catequese por idades”, isto é, a
experiência, dessa espiritualidade que organizar e imaginar novas formas de Catequese deve respeitar a idade dos
determina as nossas relações, a nossa aproximação de tantos irmãos e irmãs catequizandos; com crianças, conversa
postura e também os nossos costumes. batizados e não evangelizados. Quando de criança; com adolescente, conversa
O nosso grande referencial é Jesus se fala em missão, temos uma de adolescente; com jovens, conversa
Cristo, portanto, partir sempre e em preocupação moral, com a doutrina e de jovens; com adultos, conversa de
adultos.
12
13. Entrevista
Assessoria: A Missão da Igreja sempre foi não é aluno de um curso e a Igreja não é o
a de anunciar Jesus Cristo. Qual a diferença segmento do Ministério da Educação, que dá
para os dias de hoje? curso e depois um certificado, mas é o lugar
Padre Piazza: A missão é exatamente a de da experiência permanente de encontro, de
Anunciar Jesus Cristo. Porém hoje se aprofundamento do Cristo Senhor para
redescobre que esse Jesus Cristo que chegarmos, como diz São Paulo, à largura,
devemos anunciar precisa ser a base e o comprimento, altura e à profundidade do
ponto de partida da nossa ação, que não está Cristo Senhor (Ef 3,18).
Hoje, o grande desafio que o reduzida à instituição. O objetivo não é
Diretório aponta é a catequese para agregar pessoas para o nosso grupo, mas Assessoria: Qual é o Jesus Cristo que nós
adultos, não apenas como uma anunciar Jesus para que a Vida, em plenitude, vamos anunciar?
preparação para o sacramento, mas
que Ele nos dá, esteja presente na vida das Padre Piazza: É aquele de quem fiz uma
para um chamado à caminhada da fé.
São tantos batizados não pessoas. Para isso é preciso que nós experiência de encontro que modificou a
evangelizados! tenhamos a experiência dessa vida plena. minha vida. Não anunciamos uma teoria sobre
A Missão da Igreja é anunciar Hoje nós somos uma Igreja cansada, cheia alguém, mas alguém que dá todo o sentido à
Jesus, ajudando as pessoas a conhecê- de pessoas que estão buscando outras minha vida. Portanto, a primeira experiência
Lo e a fascinarem-se por Ele e fazer a formas, um pouco no espírito do tempo que de Jesus é na relação de encontro com a
livre opção por segui-Lo. A primeira
vivemos, do individualismo, daquilo que é pessoa. Jesus está onde dois ou mais
missão é o anúncio do querigma:
aquele que morreu, está vivo em nosso conveniente, gostoso, interessante, e não estiverem reunidos em seu nome. Por isso, o
meio; ressuscitou! O anúncio vai além uma busca do evangelho. Quando se fala de anúncio de Jesus parte de uma relação de
do discurso, pois é preciso testemunhar cruz, ninguém quer. Mas o próprio Jesus disse encontro e isso se dá na comunidade, que
o mistério do Cristo vivo para os que quem quiser segui-lo, deve tomar a vai discernir constantemente o que é e o que
iniciantes, orientando-os a olhar para própria cruz, a cada dia, e segui-lo. A grande não é fiel ao evangelho. A Comunidade se
a Comunidade, os trabalhos, a
realidade, as pessoas e descobrir nas
diferença e redescoberta do Documento de abre para a universalidade da Igreja, que tem
pequenas coisas e nos momentos Aparecida é recolocar essa base, fundamento o Papa como a visibilidade, o carisma da
vivenciados, os sinais de Deus. A e ponto de partida. A Missão já não é mais unidade, da comunhão e da fidelidade ao
missão tem esse grande sentido de uma tarefa, entre outras, que temos a fazer, evangelho. A comunidade não é apenas um
despertar a pessoa para algo mais, com mas o nosso próprio ser é missionário. Por agregamento social, mas é essa experiência
profundas implicações para a sua vida.
isso o discipulado não é apenas uma relação de comunhão de vida. Por isso é o Jesus que
A Conferência de Aparecida suscita
atitudes práticas. A primeira é a de aprendizado, mas é uma relação de nos leva à comunhão com as pessoas, que
conversão pessoal. Somos nós os testemunho, de anúncio, de manifestar para não se reduz aos nossos maneirismos e
chamados a uma mudança de os outros a razão da própria esperança, e por limitações, mas que se abre para a grande
mentalidade, não nos esquecendo que isso o discipulado é missionário. comunhão universal. Desse modo, não
o cristão é o discípulo que está anuncio o meu Jesus, o seu Jesus, ou outro
aprendendo sempre e, portanto, vai
Assessoria: Como nós vamos fazer essa qualquer, mas aquele que é experimentado
fazendo essa transformação da vida.
Depois, a renovação de nossas mudança, já que vivemos uma pastoral mais pela Igreja como seu Senhor, sua cabeça;
estruturas eclesiais, que também de manutenção, de cursos? aquele que nos congrega e nos envia: “Ide...”.
necessitam de uma conv ersão, Padre Piazza: Foi o que os Bispos
principalmente as estruturas apontaram em Aparecida, ou seja, retomar
paroquiais. O documento fala que a o processo da iniciação cristã. Refazer!
Paróquia deve passar por um processo
de renovação e reestruturação, para
Inclusive nós! A iniciação cristã não é um
que seja um lugar da experiência da processo que foi feito no passado, mas algo
iniciação cristã, um lugar do encontro que se repete e se renova constantemente
com Deus. O Documento de Aparecida em nossa vida. É um processo que nos leva
aponta treze lugares de encontro com a uma experiência de encontro com o
o Senhor.
Senhor, uma experiência que não se fecha
O 7º Plano de Pastoral Orgânica é
a oportunidade que temos para tentar em uma vivência, mas que está aberta a
novas experiências, partilhar, dividir... muitas vivências. Cada momento é
É preciso arriscar e compartilhar. Ele oportunidade para uma nova experiência,
não é um Plano fechado e delimitado, para um crescimento maior. A fé é um
mas tem as referências que nos processo permanente de crescimento, de
ajudam nessa ousadia, na audácia de
amadurecimento, que nos coloca nessa
relançar a ação evangelizadora na
Arquidiocese de Campinas. dinâmica de crescimento permanente; não
Lembremo-nos sempre que: é algo isolado, acabado e pronto. Então, é
“Conhecer a Jesus Cristo pela fé é retomar, através da iniciação cristã, esse
nossa alegria; segui-lo é uma graça, e processo de crescimento que não pode ser
transmitir este tesouro aos demais é dado por acabado. O discípulo de Jesus
uma tarefa que o Senhor nos confiou
ao nos chamar e nos escolher” (DA 18).
13
14. Trabalhos em grupos - pergunta 1
Esta pergunta teve como objetivo fazer uma avaliação da Já existe uma experiência de caixa único para as finanças,
implementação do 7º PPO e servir de motivação para todos. embora seja apenas um começo.
As respostas mostram os esforços comuns na implementação A presença das capelanias nos hospitais; os agentes da
do 7º PPO e nos impulsionam com os resultados positivos já pastoral da saúde foram citados como fator positivo, mas também
obtidos. Foram apresentadas, também, algumas dificuldades. como grande dificuldade devido à demanda. Foi mencionado o
serviço da Legião de Maria na visita às pessoas enfermas.
Pontos mais significativos
A participação dos cristãos leigas e leigos e a pastoral da
Formação, incluindo a iniciação cristã, com crianças e educação foram apontados como pontos muito positivos.
adultos. Houve menção das Escolas da Fé e a formação nos Outro item foi a presença da Igreja nas regiões mais distantes,
âmbitos da Paróquia, Forania e Arquidiocese, com agentes ainda longe do que necessitamos, mas já temos um início.
já engajados na ação pastoral. Formação foi o item mais Para a maioria dos participantes o Plano, no geral, está
apontado como experiência a partilhar. Foi mencionado o caminhando bem, seja nas paróquias e comunidades como
esforço para desenvolver o itinerário catequético tendo a nas Foranias.
paróquia como ponto de referência. A formação deve ser
Dificuldades a serem vencidas
entendida em seu sentido amplo e integral.
Outro item bastante mencionado foi a renovação das Falta de conhecimento do 7º PPO e, portanto, pouca
pastorais e mesmo a criação de outras pastorais e integração motivação na implantação. Alguns disseram que não veem
entre as pastorais afins como, por exemplo, família e catequese. na Forania os frutos do 7º PPO.
Um destaque para as pastorais ligadas à administração de Temos resistência e pouca abertura ao novo.
Sacramentos com a valorização da Iniciação Cristã. Falta de formação para atender às necessidades do
A missão, incluindo visitas e reflexão, teve grande acolhimento e da missão.
destaque e está sendo desenvolvida. Houve menção específica A catequese tem dificuldade na perseverança das crianças
da metodologia das visitas populares. após a primeira Eucaristia.
Quanto às questões relacionadas à família, foi mencionada É preciso renovar a formação de agentes, ressaltou-se os
a necessidade de reestruturação da Pastoral Familiar. Ministros da Palavra. Também foi apontada a necessidade de
Destacou-se também o trabalho com casais de segunda união, uma reestruturação das paróquias. Existem dificuldades na
com os filhos e mesmo um atendimento às famílias enlutadas. organização e em ampliar a dimensão do serviço. Foi apontada
Foi também solicitada uma formação mais aprofundada para a dificuldade no relacionamento entre Comunidades e Matriz.
o trabalho com as famílias. Precisamos de uma articulação com os jovens, tanto na
O acolhimento foi mencionado como item positivo, mas Área como nas Pastorais.
também como dificuldade a ser vencida. Ficou evidenciada a Dificuldade de continuidade nos trabalhos pastorais,
importância de respeito às diferenças e de sair das “portas quando o pároco é religioso e é transferido.
do Templo” e ir em busca das pessoas. Necessitamos de uma
Indicações e propostas
maior formação nesse item.
Outro ponto que sobressai é a formação de grupos de 1. Implantar as sugestões da CF 2011, mudando atitudes
vivência e atividades relacionadas à Ação Social. da Comunidade em vista do meio ambiente.
Existe também um trabalho com jovens, embora 2. Buscar uma melhor integração entre as paróquias. Por
mencionado poucas vezes. Está também como dificuldade. exemplo, quanto à Administração dos Sacramentos, deve-
Houve menção quanto à ação positiva dos Movimentos se estabelecer normas comuns de preparação dos
na implementação do 7º PPO. Uma menção especial ao TLC sacramentos, principalmente na preparação dos noivos.
no acolhimento aos jovens. Foi mencionado também o 3. Elaborar Plano de Pastoral Paroquial. Realizar uma
trabalho dos Pequeninos do Senhor, em várias paróquias. reestruturação nas Paróquias e Comunidades.
Foi ressaltada a importância da Comunicação, sendo 4. Fortalecer a divulgação do 7ºPPO nas paróquias.
enfatizado o papel dos informativos paroquiais. Também o 5. Aprofundar um estudo sobre a pastoral urbana.
trabalho feito pela PASCOM tem ajudado principalmente os 6. Incentivar os cristãos e cristãs para a formação de uma
jovens. A organização do site foi elogiada e a participação consciência crítica e o comprometimento com a
em rádios comunitárias. transformação social. Sugerir participação em projetos e
Embora pequena, existe a formação de uma consciência Associações da Sociedade Civil.
ecológica. Com atividades de reciclagem, existe uma busca de 7. Publicar os projetos apresentados para a Coordenação
conscientizar as pessoas, sejam da Comunidade ou do bairro. Arquidiocesana de Pastoral pelos diferentes segmentos
Foi mencionada a Campanha da Fraternidade (CF) que da ação pastoral, favorecendo assim a troca de
sempre tem ações de abrangência na Sociedade e foi experiências em todas as ações.
fortalecida com o 7º PPO. Foi lembrada também sua ação 8. A Pastoral Operária fez a sugestão de que toda a igreja
além do tempo quaresmal. lute pelos trabalhadores, nessa realidade de desemprego,
Uma ajuda foi o trabalho de forma colegiada e a definição sub-emprego e condições precárias de trabalho. Enfatizou
de pontos comuns na Forania. a importância da luta pela transformação da Sociedade.
14
15. Trabalhos em grupos - pergunta 2
Nesta questão, foram distribuídos os dez temas presentes “Formação, Itinerário Catequético: uma nova atitude”
no 7º PPO, em seus três eixos. Cada tema foi trabalhado por
Sobre uma nova atitude diante da formação, entendida
dois grupos. Veja as sínteses dos grupos, com os temas em
como itinerário catequético, foi colocada a pessoa de Jesus
cada um dos eixos.
como ponto de partida, no diálogo com a diversidade de
Eixo Igreja que Acolhe linguagens. Foi frisada a importância de investimento na
formação, partilhando as experiências e mantendo os agentes
“A Palavra de Deus: o nascer da Comunidade”
motivados, testemunhos da alegria do Reino de Deus.
Destacou-se a importância de acolher e promover a Palavra
“Comunicação: realidade e desafios”
de Deus, que gera a comunidade e ilumina o diálogo com a
sociedade. A Palavra promove o encontro com Jesus, que provoca A pessoa de Jesus é a referência para a Comunicação. Ele é
a conversão, estimula a formação permanente, na vivência da o comunicador do Pai e envia a Igreja para anunciar a Boa Notícia
comunhão eclesial, tendo em vista o testemunho do Reino. do Reino. Assim, a Comunicação é missão da Igreja. É importante
comunicar com a linguagem que contemple todas as realidades,
“Acolher para ser Igreja Povo de Deus”
valorizando o diálogo como uma das melhores expressões de
O Acolhimento foi destaque na discussão sobre o ser Igreja, comunicação. Foi destacada a importância da Pastoral Familiar,
Povo de Deus. É no encontro pessoal com Jesus que se toma a como “eixo transversal” de evangelização permanente e a
consciência do que é ser Igreja, para ir ao encontro do outro, necessidade de se implantar e valorizar a Pastoral da Comunicação
dando testemunho da alegria do Reino. Para isso, o ser cristão Paroquial como instrumento de evangelização.
pressupõe preparar-se na oração, caminhar juntos, criando
Eixo Igreja do Serviço Solidário
vínculos, tendo compaixão e escutando o próximo. Reconheceu-
se a graça de ser Igreja acolhedora e testemunhar Jesus Cristo, “Pobres: Opção Evangélica e Solidária da Igreja”
pois é um despertar para a missão e anúncio da Palavra.
A Comunidade é convocada para ir ao encontro e acolher
“Eucaristia: comunhão com Deus com o próximo as pessoas, sensibilizando-se com o sofrimento do outro, ter
e partilha com todos” compaixão com os presos, dependentes químicos, pessoas com
deficiências, mulheres, migrantes, pessoas em situação de rua.
Sobre a Eucaristia no sentido de comunhão com Deus e
Foi lembrada a fragilidade das políticas públicas e reconhecida
com o próximo e partilha com todos, foi levantada a questão
a importância da parceria da Igreja no atendimento aos
sobre o como ela se expressa na prática, já que ela não é o
necessitados. A vivência do Plano de Pastoral deve motivar a
fim da participação, mas é vivência. Sendo um dom, é Pão
participação efetiva na transformação da sociedade, na saúde,
partilhado e Vida compartilhada, é a Palavra de Deus que se
educação, cultura, conselhos municipais, etc. A Comunidade
faz carne, partilhada com todos. Foi sugerido que, a partir do
deve ter no seu calendário ações de inclusão dos sofredores.
7º PPO, os grupos de reflexão, onde as famílias e comunidades
Cabe a ela motivar a criação de Grupos de Vivência, Grupos de
trabalham temas, aprofundem as exigências da Eucaristia. O
Fé e Política, Pastorais Sociais em vista da transformação social.
mesmo se aplica aos grupos de rua, às CEBs, através do
Foi dada também a importância da conscientização sobre a
trabalho na catequese, liturgia, em mutirões solidários em
realidade social e política. Foi lembrado do cuidado que se deve
benefício da sociedade. Os trabalhos da evangelização de
às homilias, para que contribuam para uma conversão pessoal
adultos têm dado frutos e a dinâmica é crescente, mesmo
e de ação pastoral, propondo ações concretas para viver a opção
quando existe uma diferença social econômica.
evangélica e preferencial pelos pobres.
Eixo Igreja que se Renova
“Ecologia: Vivência, Educação, Profecia”
“Rede de Comunidades, Igreja Comunhão, Partilha”
O tema foi reconhecido como um olhar alargado de fé da
Para consolidar a rede de comunidades eclesiais de Igreja sobre o mundo, a partir do encontro com Jesus. No dia-
comunhão e partilha, foi dada a importância de se retomar a a-dia, pequenas ações para promover a Ecologia e, com maior
paixão por Jesus Cristo, procurar nele a força para o abragência, a conscientização e condições para a participação
seguimento na obediência e radicalidade. Assim, é possível em conferências, assembleias, votações, conselhos e demais
uma Igreja que testemunha vivência fraterna e caridade, manifestações. Que se divulguem as leis sobre o Meio Ambiente
contra os padrões que o mundo impõe à vida humana. e Ecologia. É necessário promover coleta seletiva de lixo e de
óleo, limpeza dos córregos, visitas monitoradas, utilização de
“Missão, Discipulado em uma Igreja toda Ministerial”
materiais recicláveis e divulgação das cooperativas.
Para formar uma Igreja toda ministerial, foram lembrados
“Misericórdia: Vida em abundância para todos,
trabalhos que podem colaborar, como a formação intensiva das
em especial as situações de sofrimento”
Escolas da Fé, a Catequese de Adultos com a aplicação do método
catecumenal de Iniciação Cristã, a Pastoral Familiar. A experiência O tema trouxe sugestões de ações para que haja vida para
de missões poderá ser mais fecunda se puder ser realizada por todos, em especial aos que sofrem. O ponto de partida é Jesus
pequenos grupos. A própria comunidade deve vencer seus que assumiu nossas dores e desperta o “ser samaritano”, fazendo-
obstáculos, buscando o diálogo e integração entre as pastorais, se missionário, saindo ao encontro do outro, na atenção às
movimentos e foranias. Ao mesmo tempo que forma seus famílias, na presença misericordiosa de escuta e de generosidade
multiplicadores, ela se apresenta como indicadora de caminhos; junto aos que sofrem. Foi lembrado o sofrimento provocado pelas
daí a importância de ser acolhedora, de promover o sentido de drogas e o dos encarcerados e a necessidade de maior presença
entrega e formar agentes para o anúncio do Evangelho. da Pastoral Carcerária. Esta busca de defesa, promoção e
testemunho de vida deve acontecer no diálogo inter-religioso.
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16. Miniplenários
As propostas apresentadas pelos instrumento necessário para ouvir e Água e Esgoto para se conhecer e entender
secretários dos miniplenários foram ricas comunicar o Evangelho, priorizando o a real necessidade de evitar o desperdício
de conteúdo e desafios a serem diálogo dos diferentes grupos, realidades da água, bem mais precioso que Deus nos
superados. Para esta publicação, e formas de discussão presentes em deu. Todos os cristãos devem estar atentos
obedecemos como método a divisão entre nossos dias. Valorizar cada vez mais a à criação de projetos que promovam a
os três grandes eixos de evangelização Pastoral Familiar será o grande desafio coleta seletiva nos condomínios, nos
do 7º Plano de Pastoral Orgânica. para enfrentar o relativismo e o prédios, nas ruas, assim como a coleta do
individualismo presentes na sociedade, de óleo. Também será importante incentivar
Igreja que Acolhe
modo especial no campo da moral, criando projetos maiores como a limpeza dos
A Igreja de Campinas se compromete uma cultura de valorização da vida. córregos e preservação de matas ciliares.
em promover a partilha da Palavra a partir Portanto, é necessário cada vez mais Como povo de Deus no mundo,
da vida comunitária e do encontro pessoal uma conversão pessoal e eclesial, construindo a civilização do amor já aqui
com Jesus Cristo, sendo testemunho da buscando uma Igreja que esteja em em nossa querida Mãe Terra, devemos
comunhão fraterna e solidária. constante renovação das estruturas, nos comprometer com políticas públicas
para incentivar a missão, superando uma que promovam a vida em todos os níveis
Igreja que de Renova
visão só geográfica da evangelização. e apóiem a edificação e preservação de
Abastecidos em Cristo, através de toda a Obra criada por Deus. Assim
uma contínua experiência cristã, somos Igreja do Serviço Solidário poderemos conhecer e divulgar as leis
convidados a ser uma Igreja missionária sobre a ecologia e preservação da vida,
1. Opção evangélica e preferencial
e testemunhal, anunciando Jesus e sua como as leis sobre resíduos sólidos e
pelos pobres.
missão salvífica, a partir de uma contínua tóxicos (baterias, componentes dos
conversão pessoal e pastoral. Os pobres são sujeitos históricos e computadores), criando uma alternativa
Com o exemplo das primeiras eclesiais que contribuem para a transfor- social e pastoral para cada problema
comunidades, poderemos nos empenhar mação da sociedade e da Igreja (Puebla). como a criação de cooperativas de
em renovar a comunidade, seguindo os Nossa Igreja particular deve valorizar reciclagem.
valores evangélicos, para sermos um povo a formação de grupos de vivência que
Misericórdia: vida em abundância
em constante missão no mundo. A se organizem na transformação da
para todos, em especial nas
Evangelização deve ser reflexo da unidade sociedade, participando das lutas por
situações de sofrimento
eclesial em prol da construção do Reino. políticas públicas através dos conselhos
O Missionário não pode se acomodar com de cidadania, como saúde, educação, A opção preferencial pelos pobres nos
as exigências do mundo, mas ser moradia, transporte e cultura. impulsiona a procurar caminhos novos
“fermento na massa”, testemunho a partir Devemos motivar a criação de grupos e criativos, afim de responder aos efeitos
do dom que Deus ofereceu a cada um. de Fé e Política em vista de formar da pobreza. Todo cristão deve despertar
Devemos estabelecer e fortalecer cristãos para atuar na transformação para a generosidade e a compaixão junto
vínculos com os “batizados não social e fortalecer as pastorais sociais àqueles que sofrem, na linha da
evangelizados”, preparando os agentes de através da área sócio-transformadora, construção de uma Igreja Samaritana.
pastoral para esta árdua “missão dialética”, como meta para a construção de uma Será preciso promover o diálogo
partilhar recursos humanos e testemunhar sociedade mais justa e fraterna. ecumênico e inter-religioso, através de
o aprendizado de verdadeiros discípulos Os ministros ordenados e extra- ações conjuntas com outras Igrejas e
do Mestre. A alegria manifestada na ordinários da Palavra devem cuidar para Religiões, que trabalham no atendimento
comunidade que celebra a Palavra de Deus que as homilias contribuam com uma aos excluídos, principalmente na
e partilha o pão da Eucaristia está sensibilização para com o sofrimento dos promoção humana em diversos níveis.
relacionada diretamente com o outros: presidiários, dependentes químicos,
compromisso da construção do Reino, pessoas com deficiência, mulheres Outras questões
através de uma pastoral catequética e marginalizadas, migrantes e pessoas em
missionária atenta à realidade de cada situação de rua, jovens, etc. A formação Ao final da apresentação dos
comunidade e aberta ao diálogo entre dos estudantes de filosofia e teologia deve miniplenários, foram apresentadas
ministros ordenados e agentes de pastoral. estar atenta à realidade em que vivemos algumas questões que exigiam respostas.
Somos convocados a assumir a missão para que possam se preparar melhor para Sobre a divulgação do material produzido
evangelizadora, condição fundamental o exercício do ministério ordenado. no processo de elaboração do 7º PPO, foi
para guardar e reviver os frutos do Espírito lembrado que todo o conteúdo já havia
2. Ecologia: vivência, educação,
em nossas comunidades. Isto animou a sido apresentado em encontros anteriores
profecia.
Igreja em seu nascimento e em todos os e disponibilizado no site da Arquidiocese.
momentos de sua caminhada histórica. A preservação da vida em todos os Sobre a necessidade de se buscar projetos
Para isso é importante valorizar a meios é prioridade de nossa Igreja e, comuns, diferentemente de como está
formação contínua, visando o empenho para tal, firmamos o compromisso de elaborado o Plano, foi explicado que o
no diálogo e comunhão. educar na linha da consciência ecológica Plano, como se encontra, é fruto da
Uma Igreja toda missionária, que leva e planetária na catequese, nas escolas, metodologia participativa assumida desde
a Palavra de Deus, principalmente aos que nos grupos de pastoral e de base. o início do processo de elaboração. Sobre
ainda não tiveram o encontro pessoal com São importantes ações nesse processo a destinação da coleta da Campanha da
Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, contará de educação ambiental, como visitas Fraternidade, a sugestão foi encaminhada
com uma Pastoral da Comunicação como monitoradas às Estações de Tratamento de para a Comissão Arquidiocesana da CF.
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