Este documento é um boletim informativo mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional de São Paulo (SOBRAMES-SP). O boletim apresenta informações sobre a eleição da nova diretoria para o biênio 2007-2008, reconhecimento aos membros da diretoria anterior pelo seu trabalho, e anúncios sobre eventos literários futuros como a próxima "Pizza Literária".
1. “
Informativo Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
SOBRAMES-SP - Regional do Estado de São Paulo
OBandeirante
15
Ano XV - n° 169 - Dezembro de 2006
François René de Chateubriand - escritor francês - (1768-1848)
“
Recomeçar e reconher: o editorial dos erres
Uma publicação feita por
Médicos
Escritores
O escritor original não é aquele que não imita ninguém,
mas sim aquele que ninguém pode imitar.
Helio Begliomini
Helio Begliomini é médico urologista em São Paulo.
Foi eleito presidente da SOBRAMES-SP
para o biênio 2007/2008
“Daí, pois, ao vosso servo um coração
sábio, capaz de julgar o vosso povo e
discernir entre o bem e o mal (...)”.
Oração de Salomão –
I Reis 2:9.
Estamos em dezembro de 2006,
prestes ao início de uma nova gestão
na querida Sobrames – SP. A
consciência de que os dirigentes
enquanto tais estão escrevendo
automaticamente a história de suas agremiações e, que a
mesma, transcenda a própria materialidade de seus seres,
não se faz presente de modo notório em nossa cultura.
Temos clara ciência de que estaremos recomeçando
uma nova etapa na história da entidade. Daí, ser oportuno
renovar sua tábua diretiva com novos talentos; reciclar
conceitos, reconhecer valores, reencontrar velhos
companheiros, restaurar o equilíbrio, readquirir a confiança,
recanalizar energias; reequilibrar o prumo, reconhecer e
resgatar nosso passado, restabelecer a harmonia, realinhar
nossa trajetória, reabastecer inspirações, reconciliar
desejos, ruir a indiferença, reabastecer amizades,
reaproximar de outras regionais, revitalizar o ânimo, ressurgir
projetos, relevar mágoas, reparar avarias sofridas, renascer
a paz, responder aos novos desafios, reacender a esperança,
enfim, rumar ao futuro com as baterias recarregadas e as
velas plenamente enfunadas. E estas palavras assumem um
sabor especialíssimo por estarmos no mês de Natal, quando
toda a cristandade comemora o nascimento do Salvador, nosso
senhor Jesus Cristo.
A Sobrames – SP tem se destacado ao largo dos anos
não somente pelas qualidades humanas e literárias de seus
participantes, como também pela enorme quantidade de
serviços que presta aos seus membros, desproporcionalmente
grande em função do número diminuto de associados que a
mantém financeiramente. Para que tudo isso continue, deve,
necessariamente, contar com uma diretoria despojada e
desmedidamente atuante.
Sabemos que a grande maioria dos associados gosta
de freqüentar nossas reuniões sociais, ler seus trabalhos e
ouvir os dos outros companheiros; participar de nossos
concursos, antologias, coletâneas, jornadas; receber o
informativo O Bandeirante... mas, nem todos “podem” ou
desejam disponibilizar parcas horas de seu precioso tempo
para que a entidade continue funcionando em beneficio da
coletividade.
Neste cenário, a atual diretoria está muito
empenhada em abrir suas reuniões a todos aqueles que não
somente delas desejam participar, fazendo
críticas, trazendo idéias, oxigenando o
ambiente, mas, sobretudo, agregando muita
vontade de trabalhar. Como é bom escutar
sentenças como “o que eu posso fazer para
ajudar?”; “eu tenho essa ou aquele idéia
para a entidade e, se aprovada, poderia
desenvolvê-la”; “vocês gostariam que eu
fizesse isso ou aquilo?”; ou, ainda, “neste
ou naquele projeto eu gostaria de participar.
Posso?”. Tenham certeza de que quaisquer
ações em prol da Sobrames – SP, desde que
aprovada pela diretoria, a resposta só poderá ser afirmativa.
Durante este ano participamos inicialmente a
convite e, posteriormente, por nossa própria iniciativa, de
várias reuniões da diretoria que ora conclui seu mandato, e
com total espírito de colaboração. Somos testemunha do
trabalho e da dedicação de seus membros à causa da
entidade.
Por isso gostaríamos de reconhecer o labor, o
desprendimento, o carinho e o amor que nossos
companheiros, ora membros da diretoria que finda seu
mandato, devotaram à Sobrames – SP. Essas palavras de elogio
assumem maiores proporções, considerando os injustos e
desgastantes danos morais sofridos em 2005; os problemas
profissionais e familiares que a todos invariavelmente
acometem; as agruras de doenças inevitáveis infligidas a entes
queridos pela insidiosa e misteriosa saga da vida; além da
desolação da morte que surpreendeu a família de um de
seus diretores pela irreparável perda de um filho.
Reconhecer os valores das pessoas é sempre
necessário, justo e salutar. Assim, consignamos nosso preito
de gratidão, gritos de alegria e ovação de louvor aos
membros da diretoria que deixa a entidade. Somos
orgulhosos de ser seus amigos. Somos envaidecidos por ser
membro da querida Sobrames de São Paulo, celeiro não
somente de talentosos escritores, briosos companheiros,
mas também de verdadeiros heróis.
Rogamos a Deus por eles, pois nos legaram exemplos
da estatura dos grandes homens.
Que neste biênio, a exemplo do anterior, o Senhor
nos conceda saúde, mas também traços da humildade, da
firmeza, da lucidez, e da sabedoria de Salomão (1032-975
a.C.) para coordenar nossa diretoria, a fim de que a nossa
querida Sobrames – SP cresça com o desprendimento e o
engrandecimento de seus membros.
PRÓXIMA PIZZA LITERÁRIA:18.01.2007
Pizzaria Bonde Paulista - Rua Oscar Freire, 1597 - 19h30.
2. O Bandeirante - ANO XV - nº 169 - Dezembro 2006 - Publicação da SOBRAMES-SP - Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores Regional do Estado de São Paulo - Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP - telefax (11)
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J.G.M.Nebó, José Rodrigues Louzã. Suplentes: Sérgio Perazzo, José Jucovsky, Arlete M.M.Giovani.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não significam, necessariamente, a opinião da SOBRAMES-SP
O Bandeirante
Dezembro 2006
Fechando cortinas em 2006
HOSPITAL METROPOLITANO
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e tratamentos de ambulatório.
Rua Marcelina, 441 - Vila Romana - SP
(11) 3677.2000
2
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ASSISTÊNCIA MÉDICA E ODONTOLÓGICA
Avenida Brasil, 598 – Jardim América – SP
(11) 3885 – 8000
lifesystem@uol.com.br
Flerts Nebó
EM BUSCA DE ANUNCIANTES - A manutenção desta publicação
de forma regular tem sido um dos principais desafios e
também representa um dos maiores gastos da sociedade ao
longo do tempo. Além dos custos de produção e impressão
do jornal, há ainda o custo da sua distribuição, envolvendo
aquisição de envelopes e o custo da postagem. Para fazer
face a essas despesas elevadas para uma arrecadação
pequena da SOBRAMES-SP, a diretoria inicia aqui uma
campanha para conseguir novos anunciantes, visando manter
e até mesmo ampliar a produção e distribuição deste jornal.
Você também pode ajudar. ANUNCIE: sobrames@uol.com.br.
AUTORES MOSTRAM A CARA EM 2007 - Dentre as novidades
na apresentação visual deste jornal, o Suplemento Literário
ganhará uma nova aparência a partir da edição de janeiro
de 2007. Todos os textos literários publicados terão, além
da indicação da autoria, uma foto do seu autor. É importante
que os autores, especialmente aqueles que não podem
comparecer às reuniões mensais das Pizzas Literárias, nos
enviem as fotos digitais que gostariam que acompanhassem
seus textos. A remessa poderá ser feita pelo e-mail
sobrames@uol.com.br.
TRANSMISSÃO DE CARGOS DA DIRETORIA - Acontecerá no
dia 21 de dezembro de 2006 a transmissão dos cargos de
diretoria. A nova gestão, que abrange o biênio 2007/2008,
terá como presidente o Dr. Helio Begliomini e o exercício
efetivo dos cargos tem início no dia 1º de janeiro de 2007. A
reunião de dezembro promete ser uma das mais concorridas
do ano de 2006, pois além da posse da nova diretoria, haverá
a entrega dos prêmios de prosa e poesia e a tradicional
apresentação de textos literários dos autores presentes.
SUPERPIZZA COM TEMA LIVRE - Todos os dez textos
apresentados durante a Pizza Literária de novembro estão
concorrendo na última edição do desafio SUPERPIZZA de
2006. Convidamos para escolher o melhor deles o empresário
Octaviano Du Pin Galvão Neto. O autor do texto apontado
pelo nosso leitor convidado ganhará uma garrafa de vinho.
O anúncio será feito na Pizza Literária do dia 21.12.2006.
Expediente
Editorial Rápidas
Chegamos ao último número do jornal O Bandeirante
deste ano, no qual a nossa SOBRAMES, com imensa satisfação,
teve a alegria conseguir realizar mais doze Pizzas Literárias.
Isto é, nos reunimos em todos os meses do ano para gozarmos
da companhia de nossos ilustres associados, mas sobretudo,
para reencontramos nossos queridos amigos, visto que a
amizade é um dom da natureza, que une a raça humana.
Um fato marcante neste ano foi a eleição da nova
Diretoria, que sob o comando do Dr. Helio Begliomini, e
com a participação de novos companheiros, conduzirá os
destinos da Regional São Paulo no próximo biênio.
Certamente será uma equipe dinâmica e temos a certeza
que levará ainda mais alto o nome de nossa Regional, dentro
do cenário nacional.
Outro marco importante de 2006 foi o lançamento
da nossa tradicional coletânea, que é bianual, e que chegou
à sua nona edição. Trata-se da obra “A Pizza Literária – nona
fornada”, da série que vem sendo uma das mais expressivas
publicações da SOBRAMES-SP ao longo dos anos.
Há de se destacar ainda que este é o último mês da
gestão atual da diretoria, que apesar de alguns percalços,
conseguiu realizar muito durante os dois anos em que atuou.
Destaque-se a realização da VIII Jornada Médico-literária
Paulista que aconteceu em setembro de 2005 na cidade de
Serra Negra e à qual compareceram oito companheiros vindos
da Argentina, transformando a jornada num evento
internacional.
Não poderia deixar de se mencionar também a
realização da Mostra Artística de Médicos Escritores,
realizada em maio de 2005 na Casa da Fazenda da Morumbi,
sob o patrocínio do Laboratório Apsen, que foi outro sucesso
para nosso grupo, com expressiva participação do público
externo e uma edição especial do jornal “O Bandeirante”,
com 10.000 exemplares distribuídos para todo o Brasil.
Missão cumprida! Deixo aqui consignados o meu
agradecimento a todos os que colaboraram com a SOBRAMES-
SP durante esta gestão e os mais ardentes votos de um Bom
Natal e um Felicíssimo Ano de 2007 para todos os nossos
leitores e queridos amigos. Que o ano de 2007 seja dos mais
proveitosos na existência de nossa regional.
Se eu fosse você, não faltaria em nenhum dos
eventos programados para 2007. Na próxima
edição você terá a agenda completa. Aguarde as
surpresas que vem por aí.
3. 3O Bandeirante
Dezembro 2006
Prêmio Flerts Nebó
Melhor prosa 2005/2006
Alitta Guimarães Costa Reis
Médica psiquiatra
São Lourenço - MG
Suplemento
Literário
Olho de Elefante
“De Viena pulei para Berlim. Embora Buda tivesse apagado
muitas das minhas sedes íntimas, não conseguiu extinguir a
sede de ver o maior número possível de lugares da terra e dos
mares. Ele me dera o que ele mesmo chamou de “olho de
elefante”, a capacidade de ver todas as coisas como se fosse a
primeira vez e saúda-las, de ver todas as coisas como
se fosse a última vez e dizer-lhes adeus.” -
Nikos Kazantzakis (1885-1957) - (“Relatório para Greco”)
Por muitos anos venho guardando lembrança da prodigiosa
memória de uma amiga de meu pai. Amiga de circo.
O circo ocupou por semanas o terreno baldio próximo à
nossa casa. Eu era bem pequena, e tudo era um deslumbramento.
O circo chegava com estrépito, um desfile com artistas e animais
pela cidade, música empolgante, a montagem da lona. Podíamos
conviver com o dia-a-dia dos artistas. Víamos como eram feitas as
cornucópias azuis de papel, com rendas e laços, cheios de doces,
que eram vendidas à noite, no espetáculo, com canudinhos de
amendoim, pipocas e pirulitos de tábua. Víamos também a higiene,
a alimentação e o treinamento dos bichos. Eram boas pessoas,
tratavam bem os animais. Aprendíamos sobre a vida nômade, nos
“traillers” e tendas, como se arrumava a serragem e a palha de
arroz, como se faziam as roupagens. Para a nossa surpresa, as
crianças estudavam, freqüentavam escolas por onde passavam, e
os pais acompanhavam seus estudos, assim como os treinos do
circo. Assistíamos aos treinos, eles não se importavam. Bem sabiam
que era à noite que a mágica acontecia: homens e mulheres comuns
transformavam-se em palhaços, trapezistas, equilibristas, com
roupas coloridas e brilhantes.
Era inverno. A temperatura caíra a menos de 5° C e o circo
ficava próximo ao rio. Meus pais falaram com eles, as crianças
menores foram convidadas a dormirem no quarto grande que eu
dividia com minha irmã. Foi assim que me tornei amiga de uma
garotinha de franja e cabelos lisos, que regulava comigo de idade.
Ela contava histórias sobre o circo, e nós brincávamos muito.
Minha mãe contava histórias à noite, mas de dia aproveitava para
ensinar a nós duas português e matemática. Foi assim também que
meu pai tornou-se amigo do dono do circo. Sempre achei meu pai,
que era piloto, herói condecorado, muito fechado e sério, e foi
uma boa surpresa vê-lo rindo, contando histórias, e até falando
numa língua que eu não conhecia. Ele dizia apreciar a tenacidade
da gente de circo, vencendo um desafio a cada dia. Assim os homens
ficavam conversando por muito tempo, próximos à elefanta, que
ficava numa espécie de dança, presa pela pata por correntes. Ela
queria atenção. Meu pai levava amendoins, falava com ela, que se
afeiçoou bastante a ele. Tento, agora, lembrar o nome da elefanta,
mas só me lembro bem do seu olhar arguto, fixo. Perguntei a quem
poderia me dizer, ninguém se recordou do nome dela. Vou, então,
chamá-la aqui de Lia. O som desse nome parece-me ser o mais
próximo.
Estudei os elefantes depois disso: que animais fantásticos!
São os maiores quadrúpedes que existem. Neles, o nariz e o lábio
superior vêm unidos, formando a tromba, com função olfativa, que
serve para obter água, pegar objetos pesados como uma pessoa
ou leves como um palito. São surpreendentemente delicados e
preciosos. Lia era de origem asiática, talvez da Índia ou do Ceilão
(“Elephas maximus”), uma fêmea (“aliya”, em cingalês) com mais
ou menos sete anos, cerca de três toneladas, incisos curtos (presas
de marfim), e problemas recorrentes de pele.
Parentes longínquos dos mamutes e mastodontes, os
elefantes evoluíram sendo sociáveis. Às vezes vistos no Ocidente
como símbolos de peso e lentidão, no Oriente o simbolismo é outro:
força e potência (“mâtangi”), longevidade, prosperidade.
Chamados “Ga-já”, são considerados as cariátides (suporte) do
Universo, as montarias de deuses e reis, e também, por serem
arredondados e de cor cinza, o símbolo das nuvens que trazem
chuvas. Ganesha, o filho de Shiva, é representado na Índia com
cabeça de elefante.
Várias lendas falam do horror dos elefantes a ratos (porque
lhe roem as patas) e de sua prodigiosa memória. Nas aventuras de
Simbad, o marujo, elefantes mostram ao caçador seu cemitério
repleto de marfim, para que ele pare de persegui-los e mata-los
apenas por suas presas.
Na Idade Média ocidental os elefantes foram associados à
sabedoria, à temperança, à eternidade e à castidade, isso porque
Aristóteles, séculos atrás, teria dito que eles se mantêm fiéis
durante a prenhez de quase dois anos das fêmeas.
O circo voltou à cidade uns dois anos depois. Minha
amiguinha havia crescido e treinava para ser equilibrista. O circo
prosperara, lona nova, novos animais, números diferentes: globo
da morte, cavalos, uma peça teatral...
Meu pai viajara, chegou no dia da estréia, quase na hora
do espetáculo. Como de costume, trouxera livros e eu tive que
insistir para que largasse deles e me levasse ao circo. Minha
amiguinha se equilibraria na grande bola cheia de estrelas! Ficamos
próximos ao picadeiro, e eu estava impaciente.
Depois de alguns números, o homem de cartola anunciou o
elefante. Banquetas foram posicionadas, o elefante entrou em cena.
Olhando bem, era uma fêmea. Olhando melhor ainda, que boa
surpresa, era Lia! Que bom encontrar uma velha amiga, eu pensei,
vou passear de elefante outra vez. Quando vieram os aplausos
para a primeira parte do número, meu pai se levantou: “ – Bravo,
Lia!”
E, de repente, ela o olhou.
Parou de fazer seu número, levantou a tromba e barriu, um
alto e estranho som que se sobrepôs à música do espetáculo, e
deixou as pessoas em sobressalto, inclusive o domador e a moça de
maiô laranja cintilante que já ia subir pelas suas patas. O que teria
acontecido?
Lia movia-se bem rápido para uma criatura tão grande, e
avançava com toda determinação em direção às arquibancadas.
As pessoas recuaram, cadeiras voavam nos camarotes, mas,
subitamente, Lia parou, e, delicadamente, pôs a tromba no ombro
esquerdo de meu pai. Coincidentemente ou não, ele estava com
amendoins, e os deu a ela. Enquanto Lia pegava os amendoins, a
platéia passou do pasmo ao aplauso. De pé! Meu pai sorria, e logo
ela voltou sossegadamente ao picadeiro, e completou sua função.
Dessa vez, o circo não ficou tanto tempo na cidade. Estava
quente, e a temporada prometia. Meu pai sempre ia lá para
conversar, e agradava Lia com amendoins. Quis até comprá-la:
minha mãe, irritadíssima, perguntou a ele se sabia o preço de um
elefante e o custo de mantê-lo...
Quando o circo levantou lona e se foi, meu pai assistiu a
partida da varanda, com seu cachimbo favorito, disfarçando muito
bem a comoção. Passando por nós, Lia levantou a tromba e barriu,
e só não voltou porque o domador a impediu. Mesmo assim, olhou
para trás.
- “ É a última vez que a vejo”, ele disse.
- “ Pai, o circo volta”, respondi.
Tempos depois, um trabalhador contratado para uma
empreitada na cidade contou no bar que havia ajudado a cavar o
maior buraco que qualquer um já tinha visto, para um elefante
morto. Então soubemos que Lia havia sofrido um acidente durante
uma tempestade, tocando com a tromba um fio de alta tensão.
Como sempre, em horas como essa, eu e meu pai não
dizíamos uma só palavra ponto. Compartilhávamos longos silêncios.
Dessa vez, no entanto, brilhou em meu pai o “olho de elefante”,
que pressentiu a morte da amiga e em seu coração lhe disse adeus.
4. 4 O Bandeirante
Dezembro 2006 Suplemento
Literário
Menção Honrosa
Prêmio Flerts Nebó 2005/2006
Walter Whitton Harris
Médico ortopedista
São Paulo - SP
O mendigo de gravata
FAZIA MINHA CAMINHADA MATINAL pelo canteiro central da
avenida, quando me deparei com um mendigo mexendo em sacos
de lixo na calçada, do outro lado da rua. O que prendeu minha
atenção foi que parecia estar usando terno e gravata. Mesmo
assim, foi apenas uma imagem que rapidamente passou pelos meus
olhos. Continuei andando.
Quando voltava, encontrei-o novamente. Desta vez,
chafurdava uns sacos pretos que estavam colocados no próprio
canteiro central. E não me enganara, ele estava mesmo de terno
e gravata. O terno marrom era bem surrado, mas, de onde eu
estava, não se via um único remendo. Não dava para saber a cor
da camisa, porque só se via o colarinho, mas juro que algum dia
fora branca. Com o tempo frio se aproximando, justificava-se o
pulôver que vestia. A gravata vermelha desbotada se escondia,
em parte, sob o colarinho e debaixo do pulôver.
O mendigo não teria 50 anos, porém, maltrapilho assim,
aparentava bem mais. Portava duas sacolas a tiracolo e estava
absorto escolhendo garrafas, algumas de vidro, outras de plástico
e latas de refrigerante e cerveja, que colocava com cuidado nas
sacolas. Só se deu por satisfeito quando as duas estavam cheias
e transbordando.
Pareceu que minha presença passara despercebida, pois
situava-me a uns dez metros de distância. Havia parado para
observá-lo. Com tempo de sobra naquela manhã, decidi seguí-lo,
pois queria desvendar o mistério desse homem e saber porque um
mendigo se trajava daquele jeito.
Tendo terminado de coletar seus objetos, atravessou a
avenida e começou a andar na direção oposta àquela de onde eu
tinha vindo. Fui acompanhando-o, porém, pelo canteiro central.
Só passei para a outra calçada quando o mendigo entrou numa
rua que saía da avenida. Quando eu consegui chegar na esquina,
vi que ele havia progredido bastante, pois estava quase um
quarteirão à minha frente. Dobrou outra esquina. Tive a sorte de
vê-lo entrando num terreno cercado. Quando cheguei ao portão,
entendi onde me encontrava, pois havia um cartaz anunciando
que aquele era um depósito de material para reciclagem. Havia
sacos de lixo e caixas de papelão cheios por todos os lados,
provavelmente trazidos pelas carrocinhas, das quais havia várias
estacionadas. Contudo, nada do mendigo de gravata. Assim que
vi alguém circulando pela área, indaguei pelo homem de terno.
— Ah — respondeu —, deve ser Seu Benedito. Ele está lá no
escritório.
Apontou para uma estrutura que eu não tinha observado
antes e que ficava a poucos metros de lá. Era um barracão de
madeira, com janela, da qual saía um feixe de luz emanado do teto
do recinto, proveniente de uma luminária de luz branca. Dirigi-
me ao local e entrei pela porta semi-aberta.
Sentado atrás de uma escrivaninha delapidada, estava nosso
homem, com um jornal na mão e um charuto na boca. Não havia
sequer tirado o paletó. Na mesa, havia uma garrafa térmica e um
copo descartável com café pela metade.
— Então conseguiu chegar até aqui... — comentou, tirando o
charuto da boca e esboçando um sorriso, com dentes amarelados
e cariados à vista.
Para justificar minha curiosidade, expliquei-lhe que desejava
entrevistá-lo. Foi, então, que contou-me um pouco de sua vida.
Fazia dois anos que perdera tudo que tinha quando ocorreu
uma enchente na periferia da cidade. Sua moradia desabou,
levando junto sua mulher e único filho. Na ocasião, estava
desempregado e soube da tragédia apenas quando retornou para
casa à noite, após longo dia em busca de trabalho. Só lhe restara
a roupa do corpo. Com um gesto, deu a entender que era a mesma
que estava usando!
Fora acolhido por vizinhos, que sofreram menos com a
catástrofe, porém, também se encontravam em situação crítica.
Um deles trabalhava neste depósito de reciclagem e o convidou
para vir com ele. A caminho, foram recolhendo os utensílios que
pudessem ser aproveitados para reciclar.
Por usar terno e gravata, fato inusitado entre os demais
trabalhadores, logo foi elevado a gerente do depósito. Desde então,
apesar de ter arranjado um novo lugar para residir e estar numa
situação econômica um pouco melhor, vinha diariamente ao
depósito vestido tal qual no primeiro dia, para nunca mais se
esquecer que fora com a ajuda dos amigos que conseguira superar
as dificuldades ocasionadas pela tempestade.
No entanto, não conseguiu perder o hábito de separar todos
os objetos para reciclagem que achava a caminho do trabalho,
pois sabia que fora isso que se tornou seu ganha-pão, e que o
fizera se reerguer.
Agora, quando vou caminhar e vejo alguém revirando o lixo da
avenida, eu me pergunto:
— Será o Benedito?
Menção Honrosa
Prêmio Flerts Nebó 2005/2006
Sérgio Perazzo
Médico psicodramatista
São Paulo - SP
Wagner está
esperando lá fora
Era uma dessas noites de outubro carregada de vaticínios
e eletricidade, que depois se transformava em garoa insistente.
Fazia um frio de julho embaixo do viaduto. Alguém acendeu uma
fogueira, que fosse para espantar mosquito, e para ali foram
rodeando todos os homens, mulheres e crianças de rua do pedaço.
Catadores de lixo e de papel. Malabaristas de sinal de trânsito. A
sombra bruxuleante das chamas pintava em cada rosto uma
maquiagem de teatro. De acordo com as preferências, rodava,
vez por outra, uma garrafa de branquinha, cachimbo de crack ou
lata de cola.
Mais adiante, um grupo de voluntárias distribuía pratos
fundos de sopa. Uma espécie de minestrone que os sem-teto
tomavam como um aperitivo. Não tinham cara nem postura de
famintos. Sabiam que homem de rua não passa fome? Podiam até
escolher entre os fundos de um restaurante francês e os de um
italiano ou árabe ou português, como um grande cardápio
internacional de sobras à Ia carte. Um fricassê de restos ainda
cheirando a alho e pimenta.
Naquela noite já tinham jantado e a sopa de altruísmo e
de filantropia, assim como podia ser de letrinhas, só por via das
dúvidas, era a garantia de um sono até mais tarde, uma espécie de
cobertor por dentro. Afinal de contas amanhã era sábado e seria
falta de caridade deixar as voluntárias com as mãos abanando
depois de tanto esforço em acordar cedo para ir ao Ceagesp e
escolher cada legume de encomenda para o tal minestrone. Mesmo
que tivessem se fartado de vichyssoise do Chez Qualquer Coisa ali
da esquina uma hora antes.
Enquanto molhavam o pão na sopa, encaravam de vez em
quando o enxame de travestis na calçada em frente, com sua
ousadia displicente e escarrada, microssaias, salto agulha num pé
42 e decotes que mostravam até o avesso de cada decilitro de
silicone com marquinha de biquíni da Praia Grande, a BB, Big Beach
da Flórida dos pobres.
continua na página 5
5. O Bandeirante
Dezembro 2006
5Suplemento
Literário
Não muito longe das bancas de flores do Largo do Arouche
as putas faziam outro ponto mais abaixo, com seus pneuzinhos
pedindo uma lipo, seus piercings no umbigo e suas cicatrizes de
cesariana disfarçadas com tatuagens.
Lá pros lados da Consolação veio surgindo, em direção à
Santa Casa, umas figuras que pareciam estar vestidas com uma
espécie de camisolões azul-claro, pregueados como paramentos
de sacristia.
Ensaio de escola de samba em outubro? Não podia ser. É
claro que não.
Foram chegando um a um, se abancando em torno da
fogueira. Era um coral que depois do ensaio resolvera se
apresentar ali, na chuva, bem embaixo do Minhocão, em plena
Amaral Gurgel. O dificil era começar. Explicavam ou não porque
estavam ali? Começavam logo a cantar sem mais? Sentiam na pele
todo o constrangimento que o choque da pobreza sem disfarce
provocava sempre.
Afinal, meio desenxabidos, foram se compondo na sua
formação de sopranos, contraltos, tenores e baixos. Só faltavam
os castrati.
O regente deu o sinal, depois de afinar as vozes com o
diapasão, e das gargantas inibidas ressoou, enfim livre, o Te Deum
de Haydn, passando pela Abertura dos mestres cantores, até
explodir no Coro dos peregrinos da ópera Tannhauser de Wagner.
Mesmo que alguns preferissem um sambinha de pagode,
que não tinham coragem de pedir, intimidados que estavam por
uma beleza gratuita a que não estavam acostumados, a música
exercia o seu poder hipnótico, a sua magia inexplicável, de uma tal
forma, que a sopa esfriou e ficou pela metade e as putas e os
travestis deixaram de rodar bolsinha e atravessaram a rua
juntando-se aos sem-teto para ouvir melhor o dueto entre soprano
e tenor em seus solos cristalinos. As voluntárias largaram panelas
e conchas num vão de concreto.
O viaduto virara uma sala de visitas de um sarau de
família com um clima solene de nave de catedral. De uma sala de
concertos informal de algum urbanista um tanto pirado.
O fogo, como a luz vacilante de velas votivas, escaneava
cada ruga, cada cabelo desgrenhado, cada cicatriz, do corpo ou
da alma, cada remela, cada barba arrepiada, cada tufo de pêlo,
cada pé imundo, um capítulo de Vítor Hugo ilustrado com uma
composição do velho Pieter Brueghel e gravuras de Gustave Doré.
A princípio, sem que se notasse, um vulto veio vindo do
fim da rua. Como se estivesse esse tempo todo esperando do lado
de fora. Uma cabeçorra atarraxada num sobretudo escuro de lã.
O cachecol enrolado no pescoço mal deixando distinguir o rosto.
De repente levantou os braços como um maestro na
iminência de um concerto e um tropel de sopros e percussão
começou a se fazer ouvir, primeiro em surdina, depois em
crescendo, duelando com o Coro dos peregrinos.
A cada acorde que soava, brotava do asfalto um soldado
de uniforme negro de rosto lívido, frio e cruel, de olhos vazados,
como um fantasma do inferno, com um distintivo de caveira acima
da aba do quépi, numa cadência de passo de ganso.
Logo o coro, as putas, os travestis, as crianças perdidas,
as voluntárias e os homens de rua estavam cercados por uma
tropa espectral das SS, como num campo polonês de extermínio de
prisioneiros judeus. Um clima de mo Reich.
Ninguém saiu, ninguém parou de cantar, mas o Cabeção
Encapotado não parava de reger como um führer enlouquecido
discursando e esmurrando o ar numa praça repleta de fanáticos.
O tropel chegou ao seu volume máximo e loiras donzelas
angelicais, tranças escorrendo pelas vestimentas brancas,
desceram em chusmas de seus cavalos imaculados e acolheram no
colo os peregrinos, os sem-teto, as putas, os travestis, as crianças
abandonadas, as voluntárias, cada membro do coro e até mesmo o
regente, no seu êxtase e no desamparo.
E do lado de fora, como um louco, como um alucinado,
Wagner gargalhava e não parava de reger, amplificando os metais
estrepitosamente na sua Cavalgada das Valquirias.
Wagner está esperando lá fora - continuação
Não é culpa de ninguém.
A vida é que é mesmo assim.
O menino maltrapilho
que te amola pedindo esmola
no sinal vermelho,
este menino pentelho
que tem a idade do teu filho,
sujo, descalço, de calça arregaçada,
uma triste premonição,
é o mesmo que te dá as costas
para cheirar um resto de cola
num pedaço de muro de demolição
num canto escuro de calçada.
Com sorte seu destino é a Febem.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
O motorista arrogante
ouvindo rock do Supla
parado em fila dupla
só para comer caviar
e beber até vomitar
no abrigo do restaurante.
Prêmio Bernardo de
Oliveira Martins
Melhor poesia 2005/2006
Sérgio Perazzo
Médico psicodramatista
São Paulo - SP
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
A madame consumista,
como quem nada quer,
arrastando o seu lulu
pela escada do shopping center,
estufada de silicone.
Detona na ponta de estoque
o cartão de ouro da Daslu,
do biquíni até o sarongue,
a maquiagem sem retoque.
Estagiária de aspone, bate
o ponto numa ONG onde
tem salário e cota e ainda
por cima vota
no partido comunista.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
A ninfeta soropositiva,
por milagre ainda viva,
que vende o corpo e a vida
por um punhado de comida,
por meia dúzia de reais
ou assalta, na manha,
o bolso cheio do turista sexual,
num lance legal
de boa-noite-cinderela,
por um pouco mais,
para pegar a xepa da feira,
até ontem balconista sem salário
que, em casa, ainda apanha
do esquenta-cama temporário
como cão sem dono, sem porém,
dorme à noite no trem
um sono de mãe solteira,
um sonho de passionária,
um sonho só dela,
que termina na cela
de uma penitenciária.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
A rave em onda de ecstasy
entrando de sola
na porta da escola
e a polícia de Honda
na lista de elite
do tráfico da favela,
um rap batucando panela,
o mano de gorro
baleado (Socorro!)
na porta do baile funk,
a mãe, lavadeira, no tanque.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
O clero na sacristia
sem perder a fé e a linha.
Sou contra a camisinha.
Pedofilia!
Pedofilia?
Filhos de ninguém
continua na página 6
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
O político de Brasília,
terno branco, bico fino,
enfim, um pai de família,
só falta ser pai-de-santo.
Chamado aqui de canto,
um cara-de-pau na lata,
discurso de burocrata
dando uma de militante,
se fingindo sem camisa,
terninho petista à Ia Marisa,
braços dados com o lobista,
campeão de vela e remo
consagrado herói e artista
no altar ilibado da História
com a vitória no Supremo. A
escória vestida de beca na
praia jogando peteca,
eu sou mais eu, mais eu.
Passaporte azul europeu
carimbado no paraíso fiscal
acima do bem e do mal.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
A consciência babando tevê não
está no aqui nem no agora. Ri
como hiena não sei de quê.
Geme com as popozudas
do Domingão do Faustão
de peminha grossa
e de bunda de fora.
Afinal, ninguém se safa
da boquinha da garrafa.
Roça o biscoito escondido
do desfecho de todo este drama.
Rega ilusão e transplanta mudas.
Treme com o capítulo colorido da
nova novela das oito
6. 6 O Bandeirante
Dezembro 2006 Suplemento
Literário
Filhos de ninguém - continuação
Era um dia
A rodinha
Erodia.
Heródes,
Herói
Que corrói,
Heroína
E cocaína;
É a América latrina.
Panem et circes,
More circus than bread.
Bread! Bread!
Pane! Pão!
Não!
No lo ganas!
La grana,
No ves ella.
Caracoles!
Caracas.
Venezuela.
Bolívia.
Cuba.
Havana,
Nirvana.
Me engana.
Tirana.
Choupana.
Dava cana.
Cana dá.
É só “piá”.
Chupa cana
Pero no mucho...
Pra encher o bucho
que começa e termina na cama.
A propaganda não dá trela.
O olho se acostuma.
Em suma,
está acostumado.
Um olho cheio de remela.
Completamente chapado.
Não é culpa de ninguém.
Não é culpa de ninguém?
Perto de tudo isso,
meu filho,
a porta que nos bate na cara a
mulher amada
parece grande,
mas no fundo é pouco,
é quase nada,
nada pesada.
Coisa de doce namorada
se comparada ao último seqüestro.
Mero acidente de estrada.
Dupla mão.
Ambidestro.
Essas são coisas
pelas quais a gente chora.
Ou não chora.
E agora?
Cante a brisa.
Espane este rastilho
seco de pólvora.
Essa dor
que parece infinita,
essa dor passa.
Um dia ela passa.
Ou não passa.
Vai por mim.
Durma meu filho.
Sonhe com o amanhã.
A vida não é sempre assim.
Menção Honrosa
Prêmio Bernardo de Oliveira
Martins 2005/2006
Geovah Paulo da Cruz
Médico oftalmologista
São Paulo - SP
O vírus
Solo mierda.
Habrá mierda pra todos?
Para os burocratas?
Os estatais?
E outros que tais.
Quais?
Os mais iguais.
E aqui no Brasil?
Por quanto tempo mais?
Oh tempora, oh mores!
Não mores
Não comas
Não bebas
Não trabalhes
Não vivas.
Siamo foduto
Tutto puto
Fajuto
Da Silva.
“Deitado eternamente em berço
esplêndido”
E perdendo o barco da história
Por esta esquerda simplória,
Sem glória,
Nem memória,
Enquanto o resto do mundo exorciza
O socialismo
E sua turva divisa,
O fracassado comunismo.
Gentes grosseiras
E sem maneiras.
Companheiros!
Os home come as muié!
Imagem no espelho
retrato da gente
reflete o semblante
do ente que passa
daquele que olha
contornos do corpo
buscando um conforto
ao ver na pantalha
a bela figura
sorriso aberto!
Alegria que espalha
nas faces rosadas
nos olhos brilhantes.
Menção Honrosa
Prêmio Bernardo de Oliveira
Martins 2005/2006
Alcione Alcântara Gonçalves
Médico psiquiatra
Tupã - SP
Espelho quebrado
Cabelos sedosos
um busto que arfa
cintura delgada
no corpo esbelto
mãos afiladas
pernas torneadas
que vulto mirabolante
surgiu num relâmpago
e sumiu de repente
no espelho quebrado.
Cantando na Praça da Sé:
“Meu bem, vamos embora
Que esperar não é fazer.
Quem sabe faz na hora,
Não espera amolecer”.
É frei de mente aberta
Louvando a cultura analfabeta.
Bispo com jeito de bicha
Chelebrando missha
Pra quem tem ficha
No shindicato.
Passeata.
Ato.
Carrapato
Grudado no imposto do trabalhador
Assim não dá pé.
E agora José?
Se você tivesse vergonha,
Se você tivesse brio,
Se você tivesse moral,
Não votava.
Rasgava.
Anulava.
Deletava.
Descartava.
Depois alguém violava
A Constituição
E outra faria,
Clone da atual.
A dos miseráveis,
Dos descartáveis,
Dos enganáveis.
Monumental.
Nacional.
Federal.
Municipal
Estadual.
Estado anal
(No da gente, sem lubrificante...)
“Mas se um dia a pátria amada
Precisar da macacada,
Puta merda, que mancada!
Amor febril,
Pelo barril”.
Tudo pelo social.
Hosanas ao boçal!
Viva a república sindical
E suas éticas flácidas!
“O virus do Ipiranga às margens plácidas...”
7. O prêmio é uma homenagem a um
dos ilustres membros da SOBRAMES
São Paulo, o médico e poeta Dr.
Bernardo de Oliveira Martins. Ele
nasceu em 13.03.1919, na cidade da
Lapa, no Paraná. Foi médico ginecologista, e também Mestre
em Saúde Pública. Ingressou na SOBRAMES-SP em 1991 e
sempre teve grande destaque com seus textos poéticos.
Faleceu em 10.07.1997. O “Prêmio Bernardo de Oliveira
Martins” foi criado nesse ano, chegando à nona edição. Dele
participam todas as poesias apresentadas durante as Pizzas
Literárias no período de um ano. Já receberam a medalha
que simboliza o prêmio os confrades Edson Batista de Lima
(1998), Aldo Miletto (1999), Roberto Caetano Miraglia (2000),
José Rodrigues Louzã (2001), Aldo Miletto (2002), Luiz Jorge
Ferreira (2003), Marcos Roberto dos Santos Ramasco (2004)
e Sérgio Perazzo (2005), além de menções honrosas a outros
poetas. Em 2006 o poeta Sérgio Perazzo é mais uma vez
agraciado com o prêmio deste concurso, com a poesia “Filhos
de Ninguém”.
O Bandeirante
Dezembro 2006 7Patronos dos Concursos
POESIA
Prêmio Bernardo
de Oliveira Martins
PROSA
Prêmio Flerts Nebó
Visando premiar também os
prosadores da SOBRAMES-SP criou-
se em 2000 o prêmio para a melhor
prosa de cada ano, dentre os textos
apresentados durante as Pizzas
Literárias, e que recebeu o título
de Prêmio Flerts Nebó. Médico
reumatologista, Flerts Nebó nasceu em São Paulo, em 9 de
setembro de 1920. É um dos fundadores da SOBRAMES-SP, já
tendo ocupado sua presidência por três gestões, além de
inúmeros cargos na diretoria. É Membro Honorário e Membro
Emérito da Regional São Paulo. É autor de mais de 65 livros,
a grande maioria romances. O prêmio chega em 2006 à sua
sétima edição e já teve os seguintes contemplados: Roberto
Caetano Miraglia (2000), Marcos Gimenes Salun (2001), Paulo
Adolpho Leierer (2002), Walter Whitton Harris (2003),
Josyanne Rita de Arruda Franco (2004) e Marcos Roberto
dos Santos Ramasco (2005), além de menções honrosas a
outros escritores. Alitta Guimarães Costa Reis, com o conto
“Olho de elefante” é a vencedora em 2006.
Nossos convidados para o JURI de 2006
POESIA - A escolha da melhor poesia 2005/2006 e de duas menções honrosas, dentre os 62 textos inscritos ficou a cargo dos
seguintes confrades, membros de outras regionais: Lilian Maial (Rio de Janeiro), Paulo Camelo de Andrade Almeida
(Pernambuco), João Batista de Alencastro (Goiás), Luiz Gonzaga Barreto (Pernambuco) e Sonia Maria Barbosa (Paraná).
PROSA - Para escolher a melhor prosa 2005/2006 e duas menções honrosas, dentre os 63 textos inscritos, participaram do
juri os seguintes confrades: Laércio Ney Nicaretta Oliani (Goiás), Eberth Franco Vêncio (Goiás), Ruy Perini (Espírito Santo)
e Josemar Otaviano de Alvarenga (Minas Gerais).
Junto aos seus votos, alguns de nossos jurados também
enviaram comentários ou deram opiniões sobre o evento.
Destacamos a seguir as palavras de dois deles:
De Josemar Otaviano Alvarenga, presidente da
SOBRAMES-MG: “Foi com imenso prazer, honra e alegria que,
esta presidência da SOBRAMES/MG aceitou o convite para participar
como jurado, de trabalho tão importante e significativo para a
SOBRAMES, o prêmio da justa homenagem ao grande Flerts Nebó.
Aproveito a oportunidade para cumprimentar a SOBRAMES-SP, a
diretoria atual, os sócios, pela grandeza democrática
demonstrada, em respeito ao estatuto. Estendo os cumprimentos
ao confrade Begliomini e sua chapa, eleitos à presidência do novo
biênio. Além de escritores, não devemos só pissitar. Nos devemos
ao exemplo ético e moral, a que todos se possam ao espelho
desejável. SOBRAMES é maior que as vaidades e solipsismos
redundantes. Parabéns e avante, SOBRAMES!”
De Laércio Nei Nicaretta Oliani, membro da
SOBRAMES-GO: “É com imensa satisfação e orgulho que envio
minha modesta contribuição para este prestigiado evento de nossa
regional paulista da SOBRAMES. Eternamente grato e envaidecido
pela oportunidade, espero ter realizado à altura a nobre missão
que me foi confiada, parabenizando de antemão aos participantes
pela qualidade dos trabalhos, à diretoria pela competente
organização e a todos os confrades que não olvidam esforços para
dignificar os princípios sobrâmicos. Por conta de compromissos
inadiáveis não poderei estar presente ao evento, porém deixo aqui
meus fraternos votos de Boas Festas e sucesso a todos.”
Algumas opiniões Registro
OFERENDA, ATÉ FEVEREIRO - De 13.12.2006 até 12.02.2007
estará aberta ao público no Centro Cultural APSEN a
exposição “Oferenda”, da artista plástica Martha W.Farias.O
Candomblé e uma série de Orixás inspirados na cultura afro-
brasileira é o tema da exposição. As obras terão legendas
em português e em braile. Há ainda esculturas que podem
ser manuseadas por deficientes visuais, além de miniaturas
de instrumentos e ferramentas utilizadas pelos Orixás. O
Centro Cultural APSEN funciona de terça a sábado, das 12h00
às 20h00 e domingos das 12h00 às 18h00. Fica na Av.Morumbi,
5594 (Casa da Fazenda do Morumbi). Veja maiores detalhes
em www.apsen.com.br.
MEMÓRIA DA DESTRUIÇÃO - Recebemos da FAPEAL - Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, o Calendário
2007, que tem como tema 12 edifícios e monumentos daquele
Estado que sofreram processo de abandono ao longo dos
anos. É um importante documento histórico, com fotos
atuais e dos tempos de glória desse patrimônio histórico
degradado. Informações: www.fapeal.br.
REVISTA OFICINA DE LETRAS - Recebemos da SOBRAMES -
regional Pernambuco, através de seu presidente, Dr. Luiz
Barreto, o livro “Revista Oficina de Letras”. Trata-se da 23ª
edição dessa obra cuja publicação teve início em 1990.
Partricipam desta edição 39 autores, a maioria vinculados à
regional pernambucana e também a alguns outros Estados.
Informações pelo e-mail igbarreto@uol.com.br.
8. 8
O Bandeirante
Dezembro 2006
Coletânea
A Pizza Literária: flagrantes do lançamento
Nem mesmo um dos maiores congestionamentos do ano registrados na cidade de São Paulo, ocorrido no último dia
4 de dezembro, impediu que cerca de oitenta pessoas estivessem presentes no singelo coquetel que marcou o lançamento
da coletânea 2006 da SOBRAMES-SP. A chuva intensa que se abateu sobre a cidade desde o final da tarde daquela segunda-
feira não permitiu que boa parte dos convidados pudessem se locomover até a Rua Alves Guimarães, onde acontecia o
lançamento. O fato, porém, não ofuscou o brilho do evento. Contando com a participação de 33 autores, os 1350
exemplares de “A Pizza Literária - nona fornada”, publicados pela Rumo Editorial já estão circulando. Alguns dos autores
que não puderam comparecer ao encontro devem receber seus livros pelo correio nos próximos dias. A seguir alguns
flagrantes do lançamento, que você poderá ver também no blog da coletânea em http://coletanea2006.blogspot.com. A
obra poderá ser adquirida com os autores ou através do e-mail SOBRAMES@UOL.COM.BR.
ABRAMES PREMIA HELIO E NELSON: Durante a realização
da Semana da Academia Brasileira de Médicos Escritores,
em 22 e 23 de novembro, na Sociedade de Medicina e Cirurgia
do Rio de Janeiro, Nelson Jacintho tomou posse da cadeira
nº 16 daquele sodalício, e ganhou o primeiro lugar num dos
temas de trovas. No mesmo evento, Helio Begliomini recebeu
menção honrosa no concurso de poesias, segundo lugar no
concurso de crônicas e primeiro lugar no concurso de
ensaios.
MARCOS GIMENES SALUN recebeu o título de Membro
Honorário da SOBRAMES-SP no último dia 9 de dezembro,
durante almoço realizado no Consulado Geral Britânico em
São Paulo, ao qual compareceram presidentes e integrantes
da diretoria das últimas quatro gestões nas quais Salun atuou,
além de membros da diretoria eleita para o próximo biênio,
da qual ele também faz parte.
HELIO BEGLIOMINI tomou posse no dia 23 de novembro, na
cidade no Rio de Janeiro, como membro correspondente da
tradicional Academia Nacional de Medicina, sendo saudado
pelo acadêmico Ronaldo Damião. Em seu discurso de posse
enalteceu a saga desse augusto sodalício com 177 anos de
existência, o mais antigo em atividade no Brasil, celeiro de
destacados profissionais que fizeram e que fazem parte da
história da medicina brasileira, assim como exaltou a arte de
curar como uma profissão privilegiada, ao mesmo tempo em
que divina, e, particularmente, dissertou sobre sua alegria
pela vocação ao sacerdócio de Hipócrates coroado de
realizações, reforçado agora com esse inaudito galardão.
Walter Harris,
Luiz Giovani e
Helio Begliomini.
A Pizza Literária
Carlos Galvão,
Walter Harris e
Naira Gimenes
Nelson Jacintho e
Rubens Paulo
Gonçalves
Marcos Salun, Mélida
Velasco (centro) e
duas convidadas.
Flerts Nebó e
Evanir Carvalho
Evanir Carvalho, Sonia
Andruskevicius e Arlete
Giovani (ao fundo)
Destaques da regional São Paulo
Registramos aqui os destaques mais recentes envolvendo alguns membros da regional São Paulo:
NãopercaapróximaPIZZALITERÁRIA:18.01.2007
PizzariaBondePaulista-RuaOscarFreire,1597-19h30.