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AGOSTO
2014
O BandeirantePublicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo
O matador de vaga-lumes
“Uma aragem de um vulto rondando a casa? Insuspeitado
soluço? A garrafinha no chão de lajotas da varanda, os
vaga-lumes todos mortos, trocados por lágrimas,
afogados em meio litro de cerveja derramada pelo
gargalo e sacudida de propósito por um tio que morava
ao lado, voltando de suas noitadas etílicas,
transbordando de maldade, instilado de peçonha.”
SÉRGIO PERAZZO p.3
“No dia seguinte, levantou com olheiras e um profundo
mau humor. E agora? Iria procurar a moça ou esperaria
que ela o fizesse? Que dúvida... Logo depois do café foi
espiar a sacada. Estava vazia. Sentiu um “nó” na
garganta. Entrou e foi direto para o seu quarto.
Tentou ler, mas não conseguiu.”
RODOLPHO CIVILE p.6
E o vento levou...
Caminho para a Penha
“No relógio da igreja são quase cinco horas, o ônibus está tão
devagar que talvez eu perca a prova, tomara. Na escadaria dois
mendigos nem se dão ao luxo de pedir esmolas, já devem ter
jantado cedo, não têm que trabalhar, entregar o serviço, fazer
provas, tomar banho. De novo bate aquela inveja, mas deitar
no chão duro não deve ser agradável, prefiro contar vantagens
naquele boteco lá de trás.”
ROBERTO ANTONIO ANICHE p. 5
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DESCONSTRUÇÃO
Hildette Rangel
4
CABANAGEM
Carlos Galvão
6
PENSAMENTOS
José Leopoldo
4
SUBLIME AMOR
Ligia Pezzuto
4
2. 2 O Bandeirante - Agosto 2014
Jornal O Bandeirante
ANO XXIV - nº. 261
Agosto 2014
Publicação mensal da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores -
Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede:
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278 - 7º. Andar - Sala 1 (Prédio
da Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP
Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes
Salun (MTb 20.405-SP)
Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto
(MTb 17.671-SP).
Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira
Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 –
Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com
Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 99937-6342.
Colaboradores desta edição: (Textos literários): Carlos
Augusto Ferreira Galvão, Hildette Rangel Enger, Ligia
Terezinha Pezzuto, José Leopoldo Lopes de Oliveira Sobrinho,
Roberto Antonio Aniche, Rodolpho Civile e Sérgio Perazzo.
(Fatos & Olhares): Márcia Etelli Coelho.
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.
Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto Ferreira
Galvão. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro:Aida
Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal
Efetivos:Hélio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e Marcos
Gimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,
Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.
.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
autores e não representam, necessariamente, a opinião
da Sobrames-SP
Editores de O Bandeirante
Flerts Nebó - novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994
Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009
Roberto A.Aniche e CarlosAugusto F. Galvão - 2010
Josyanne R.A.Franco e CarlosAugusto F.Galvão - 2011-2012
Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - 2013-2014
Presidentes da Sobrames-SP
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
11º. Helio Begliomini (2007-2008)
12º. Helio Begliomini (2009-2010)
13º. Josyanne Rita deArruda Franco (2011-2012)
14º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)
Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo Editorial
Produções e Edições Ltda. E-mail: rumoeditorial@uol.com.br
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
Editora - São Paulo
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP
As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecem
na terceira quinta-feira de cada mês, a partir
das 19h00 na PIZZARIA BONDE PAULISTA
Rua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo
“A Pizza Literária - décima terceira fornada”
http://coletanea2014.blogspot.com.br/
A edição de 2014 da tradicional coletânea da Sobrames-SP terá 26
autores que fazem, desta, mais uma primorosa edição.
O lançamento está previsto para 7 de novembro de 2014
VEJA MAIS INFORMAÇÕES DE NOSSA
COLETÂNEA 2014 NESTE BLOG
03/08 – Arary da Cruz Tiriba
05/08 – Carlos José Benatti
15/08 – Carlos Roberto Ferriani
18/08 – Vera Lúcia Teixeira
26/08 – Josef Tock
28/08 – Guaracy Lourenço da
Costa
Ficam todos os membros da Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores, regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
convocados para a Assembleia Geral Ordinária que se realizará no
dia 18 de setembro de 2014 na pizzaria “Bonde Paulista” situada
na Rua Oscar Freire, 1.597, em São Paulo, às 20h00, em primeira
convocação, com a presença de cinquenta por cento dos Membros
Titulares, Acadêmicos e Colaboradores quites com a tesouraria
da sociedade e dos Membros Eméritos, Honorários e Beneméritos
e, em segunda convocação às 20h30, com qualquer número de
membros da SOBRAMES-SP, para deliberar sobre a seguinte pauta
do dia: 1.Leitura da Ata da última AGO; 2. Apresentação de
relatório da Diretoria; 3.Apresentação de balanço e tomada de
contas pela Tesouraria; 4. Análise e votação de assuntos gerais
inscritos com a antecedência mínima de 5 (cinco) dias; 5. Eleição
da nova Diretoria para o Biênio 2015-2016.
Esta convocação obedece ao disposto no Capítulo IV - Assembleias, artigos 10.º
a 13.º, do Estatuto da Sociedade Brassileira de Médicos Escritores - Regional
do Estado de São Paulo, aprovado em AGE de 13.04.2000 e registrada no 4.º
Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica (SP)
sob n.º 405875/2000, averbado no registro primitivo n.º 223988/91
EDITAL DE CONVOCAÇÃO:
Assembleia Geral Ordinária
Depois do agito da Copa do Mundo e do período de férias escola-
res, a Sobrames-SP aguarda um semestre agitado em aconteci-
mentos: eleição da diretoria para o próximo biênio, preparo de
uma delegação paulista robusta para o Congresso Nacional em
Recife, Balada Literária com lançamento da Coletânea e posse da
nova diretoria fechando o agitado ano. Recheando os intervalos
entre os eventos, as famosas e alegres Pizzas Literárias mensais,
pulsantes e com novos associados colorindo o ambiente acolhedor.
Um sucesso permanente que se renova com sua presença. Acom-
panhe nosso calendário e participe da vida cultural da Sobrames-
-SP, uma vivência deveras inesquecível!
3. O Bandeirante - Agosto 2014 3
Sérgio Perazzo
O matador de vaga-lumes
Foi-se a memória. Sobe da esquina, em
crescendo, ainda, o som da batucada, prenúncio
de carnaval dissolvido na chuva de verão,
fragmentada em granizos estilhaçados, cacos,
mosaicos de cenas perdidas compondo uma única
fotografia manchada de tempo.
Pedaços de serpentinas enrolados nos pés das
mesas, confetes de véspera ainda entranhados nos
cabelos. Lantejoulas grudadas nas palmilhas dos
sapatos pelo suor gasto dos últimos bailes e desfiles.
Vestígios de uma folia que passou e que insiste
em voltar tardia num samba em tom menor,
deslizando nos temporais de março para o bueiro
do que foi alegria, do que foi crônica fugaz,
conversa à toa ao pé do fogo, na penumbra das
luzes se apagando, dando lugar ao bocejo
espreguiçado do amanhecer. O carnaval nem veio
e já se foi.
Foi-se a história. Uma luz jobiniana lá
embaixo se acendeu sem queimar a fotografia,
compondo o contraponto do colorido enxadrezado
da espuma do mar com as ondas furta-cor da
mais intensa paixão.
Eu começo no ponto em que você acaba,
reafirmando que a vida é sempre. Para cada
momento existe um fundo musical, um fragmento
de uma trilha sonora ainda por compor e gravar.
Não acredita? Preste atenção. Escute agora. Dê
lugar às pausas. Ao silêncio. Incorpore a clave do
compasso binário. Eu e você.
Foi justo neste ponto de calma alvissareira
em que até podia desabar o céu sobre nossas
cabeças, que o mundo repentinamente escureceu.
E lá foi você, não sei se mulher ou menina,
destemida no seu temor, embrenhar-se na mata
que em nossa imaginação nos rodeava e continha,
com o único propósito de caçar vaga-lumes. Um
propósito simples como média e pão com
manteiga. O propósito de iluminar com luz
interior, com luz da natureza, todas as lacunas da
sinfonia do silêncio que estávamos ouvindo no
intervalo da noite.
Sua mão cheia de luzes foi enchendo a
garrafinha de plástico com o brilho e as asas dos
vaga-lumes. Mesmo sabendo não ser abelhas,
forrou o fundo da garrafa com uma película de
mel para que não morressem de fome. Furou mil
furinhos nas paredes de plástico para que
respirassem com um mínimo desafogo. Antes de
dormir, depositou a lanterna de vaga-lumes, enfim
pronta, no parapeito da janela abrindo para a
varanda lá fora, dando ao quarto uma luminosidade
suave e faiscante. Feito isso, suavemente me
abraçou. Um pisca-pisca que se alternava com a
sinfonia e as pausas de silêncio de uma cantiga
de ninar. Adormeceu sorrindo sem nenhuma ruga
na testa. Sou testemunha ocular.
Acordou de madrugada num sobressalto em
total escuridão. Em total silêncio. Uma aragem
de um vulto rondando a casa? Insuspeitado soluço?
A garrafinha no chão de lajotas da varanda, os
vaga-lumes todos mortos, trocados por lágrimas,
afogados em meio litro de cerveja derramada
pelo gargalo e sacudida de propósito por um tio
que morava ao lado, voltando de suas noitadas
etílicas, transbordando de maldade, instilado de
peçonha. Um tio sem trilha sonora, há muito
perdido no escuro. Há muito acorrentado naquele
canto da vida de paredes de concreto, condenado
a uma solitária perpétua sem frestas, donde os
vaga-lumes não se acercam nunca, sequer tendo
forças para voar livres. Menos ainda, para iluminar
o escuro ou, mesmo então, para povoar os sonhos
mais fantásticos, mais improváveis e mais
intransigentemente esperançados ou desesperados
que um ser humano pode sonhar e viver na luz
efêmera e intermitente da cauda nebulosa de
pirilampos.
Foi-se a mata, derrubada sete vezes, sete
vezes renascida, sete vezes irrigada. Foram-se
os vaga-lumes, migrando para sempre no sentido
sudoeste. Nunca mais foram encontrados.
Apagaram, no seu plano de voo, o interruptor
que acendia a noite. Ficou o nosso amor
abençoado, abraçados na escuridão, na fronteira
do medo, protegendo-se da sombra do mal, doce
refúgio em si mesmo construído, entre pausas da
sinfonia do mais sonoro silêncio, das mais
emudecidas colcheias no intervalo do compasso.
4. 4 O Bandeirante - Agosto 2014
Hildette Rangel Enger
Desconstrução
José Leopoldo Lopes Oliveira
Pensamentos de julho
Sublime amor
Ligia Terezinha Pezzuto
Na mansa manhã de moles ondas,
cantos de mel encobrem o mar.
Sussurar.
Qual dom na espuma infinita
de pranto sem fim feito manto.
A suavizar.
Nuvens calmas no horizonte,
fino caminho de alma e amor.
A se entregar.
O ninho entranha
compreensão e encanto.
Sublimar.
Tiro os sapatos
Para sentir nos pés
A terra que te recebe
Como semente...
Depois dispo devagar
meu vestido de noiva
Pesado de poeira do tempo
Em que andei contigo
Pelas estradas da vida...
Não mais espiaremos juntos
O pôr do sol
Nas tardes de verão...
Nem mais veremos
De mãos dadas
estrelas nascerem ao anoitecer
Retiro solenemente
O véu colorido
Que me cobria os olhos
Para poder enxergar
A vida sempre em azul
Como teus olhos...
De todo um sonho
Restou apenas um vazio
E duas lágrimas
Escorrendo pelo rosto...
Nosso noivado acabou
Foi fundamental para o sucesso da copa das copas a atuação firme
do Brasil no aumento do número de gols realizados. Pena que o sentimento
de nacionalidade esteja nos pés. E não na cabeça.
Por ironia da história, o Brasil mudou muito de um Vargas a outro;
o primeiro, Getúlio de pequeno físico deu a vida por honra, criou a
Petrobras; o outro foge ao ouvir-lhe o nome, apesar do físico avantajado.
Desejo impossível: que as mulheres da Índia sejam respeitadas como
as vacas. Seria revolucionário. Basta ler os jornais para vermos a distância
que estamos de um mínimo de convivência civilizada.
O melhor legado da copa foi alemão, em Santa Cruz Cabrália, onde
serão sempre lembrados com alegria e nem a isso o governo manifestou
qualquer agradecimento.
5. O Bandeirante - Agosto 2014 5
Caminho para a Penha
RobertoAntonioAniche
Tarde qualquer de um desses dias úteis
preguiçosos que nos fazem, de dentro do ônibus
nos sentirmos o office-boy mais sonolento do ano.
Avenida Celso Garcia, degradada, mas poderia ser
qualquer outra, tudo o que eu queria era que o
ônibus andasse devagar e chegasse na hora de eu
ir embora de novo.
A porta abre e entra uma senhora gorda,
guarda-chuvas (mas não chovia), duas crianças
atrás, eu apenas olho com o olhar sonolento de
quem não tem pressa. Nas mãos tenho um livro
de geografia que não quero estudar, mas que teima
em ficar me olhando boquiaberto com letras que
se embaralham tentando me convencer de que
estou realmente do outro lado do mundo.
Barulho de primeira marcha, devagar ele sai
do ponto, alguém assovia uma música do Roberto
Carlos, alguém cola o radinho de pilha no ouvido e
a voz do Hélio Ribeiro escapa falando coisas de
amor para minha primeira namorada que não sei
com quem se casou. Olho pela janela, pessoas
esticadas numa mesa de bar tomando cerveja,
conversando qualquer coisa que não ouço. Às vezes
tenho inveja dessas pessoas que nunca conversam
comigo, que não dividem suas ideias, suas proezas,
suas vantagens comigo.
Queria estar sentado lá, sem ter que fazer
prova de geografia, falando qualquer coisa sobre
amores indecentes e amores que perdi, enchendo
a mesa de gols que marquei e gols que defendi.
Mas o ônibus não me deixa e dá outro tranco e
para, para entrar o carteiro trazendo notícias de
todo lugar, cartas de cobrança, cartões de
aniversário, mas ele nem me nota com meu livro
de geografia. Claro que ninguém me escreveu,
ninguém quer saber como ando, o que estou
fazendo e se estudei para a prova de geografia.
No relógio da igreja são quase cinco horas,
o ônibus está tão devagar que talvez eu perca a
prova, tomara. Na escadaria dois mendigos nem
se dão ao luxo de pedir esmolas, já devem ter
jantado cedo, não têm que trabalhar, entregar o
serviço, fazer provas, tomar banho. De novo bate
aquela inveja, mas deitar no chão duro não deve
ser agradável, prefiro contar vantagens naquele
boteco lá de trás.
O ônibus para no ponto e a mulher gorda
desce com as duas crianças. É assim que a minha
primeira namorada deve estar, gorda, cheia de
filhos e varizes. Não tenho inveja, não fui eu quem
desapareceu naquela tarde que eu fiz questão de
esquecer. O ônibus retoma a marcha e as pessoas
andam nas calçadas, andam sem ter nomes,
uniformes, livros nem horário. A tarde já está
acabando e elas estão indo preguiçosamente para
suas casas.
Que vontade de ser só mais um na multidão
que anda para qualquer lugar sem ter a pretensão
de chegar a lugar algum, ser só mais um sem
nome, sem endereço, sem obrigações de chegar
na hora. Não ter ninguém que me espere para eu
poder sentar no banco do boteco e tomar a
cerveja lentamente, sentar na escadaria da igreja
sem me preocupar com as horas que o relógio
bate, ou com o chão duro; não ter uma mulher
gorda com varizes me esperando, não ter que
fazer prova de geografia.
Só isso, ter a pretensão de sequer ser um
nome numa tarde preguiçosa dentro do ônibus
para a Penha...
6. 6 O Bandeirante - Agosto 2014
Rodolpho Civile
E o vento levou...
(...)
O drama passa-se na época da guerra de secessão.
Abraão Lincoln, assumindo a Presidência, pretendia
promover a extinção da escravatura. A Carolina do Sul
declarou sua separação. Lincoln tentou evitar a guerra,
mas não conseguiu. Outros estados sulistas uniram-se à
Carolina formando os Estados confederados da América.
Abril de 1861: os sulistas iniciam a guerra de secessão
(separação) atacando o forte Sumter, comandados pelo
general Lee. Depois de vários anos de guerra, os
nortistas comandados pelos generais Grant e Sherman
entram em Richmond, capital dos confederados. O
general Lee rendeu-se a 9 de abril de 1865. Lincoln foi
assassinado por um fanático sulista quando assistia a
uma peça no Teatro Ford, em Washington.
A guerra foi longa e o filme também: três horas e
meia. Não houve tempo para diálogo. Glorinha chorou
quando Scarlett O’Hara volta à sua fazenda “Tara” e só
encontra a destruição. Jura solenemente que de lá não
sairia mais... Muito comovida, Glorinha pegou a mão de
Raimundo que a segurou até o final do filme.
Quando saíram do cinema, já era noite. Voltaram
para casa. A despedida foi só: “boa noite”. Não houve
promessa de reencontro. Raimundo ficou amargurado.
Saíram juntos só para assistir a um filme? Será que ela
não gostou dele? Amor próprio ofendido tentou dormir,
mas não conseguiu. Ficou “rolando” na cama.
No dia seguinte, levantou com olheiras e um
profundo mau humor. E agora? Iria procurar a moça ou
esperaria que ela o fizesse? Que dúvida... Logo depois
do café foi espiar a sacada. Estava vazia. Sentiu um “nó”
na garganta. Entrou e foi direto para o seu quarto. Tentou
ler, mas não conseguiu. Abriu a porta do guarda-roupa.
Na parte interna do espelho. Com admiração acariciou as
negras madeixas. Olhou o conjunto: altura média,
moreno, cabelos ondulados, testa baixa, sobrancelhas
bem delineadas. Olhos castanhos muito expressivos. Boca
bem feita. Dentes alvos. Sorriso comunicativo irradiava
simpatia. Será que tudo isso não impressionara a moça?
Depois dessa autoanálise, adquiriu uma nova força.
Precisava conquistar a moça. Foi falta de habilidade? –
pensou – Não! Foi o maldito “E o Vento Levou”! Que ideia
foi ter ido vê-lo!
Com determinação, saiu à rua. Por coincidência
ela estava batendo à porta. Olhou o moço e sorridente
fez um aceno. Na sua mão, um véu preto, um missal e
um rosário.
- Vamos à missa?
- À missa? – surpreso Raimundo.
- Por quê? Você não costuma ir?
- Às vezes... – sorriu.
- Não quero forçá-lo!
- Não! Não! Está bem! Vou acompanhá-la.
Inexplicavelmente o mau humor sumiu. O melhor
remédio é sempre o amor.
(...) - (trecho do romance Esperando a Eternidade)
(...)
A revolução dos cabanos procurava uma identidade
e havia interrogações inquietantes, como a escravidão,
debate afogado em reticências pela Igreja e pouco
pensada por parte dos cabanos. Naturalmente
estabeleceu-se que os negros que quisessem sair do
cativeiro deveriam aderir ao exército cabano e conquistar
esta liberdade por atos de bravura.
CarlosAugusto Ferreira Galvão
Identidade cabana
Terminar pura e simplesmente com a escravidão?!
E fazer o que com os escravos? Muitos deles queriam
continuar escravos, pois não sabiam ser outra coisa.
Alegavam que tinham “sorte” de ser bem alimentados.
Aparentemente a cidade não possuía condições culturais
de acabar imediatamente com a escravidão, e graças a
Deus tive a sensibilidade de entender isso.
Já ia longe os primeiros dias em que reinou a
anarquia, combatida com pulso firme porAngelim. Aelite,
que prudentemente havia se recolhido dentro das casas,
começava a se aventurar pelas ruas em compras e
passeios. Até a uma festa compareci com Lissa, e aquela
gente se divertia como que meio temerosa. Era de se
notar o desaparecimento da antiga ostentação, quando
as madames finas pareciam disputar a posse do maior
brilhante ou da maior esmeralda. Todos apresentavam-
-se vestidos com simplicidade e quase não se viam joias
nas mulheres.A cidade estava em paz e começava a tocar
a vida para frente.
(...) - (trecho do romance A Terra de Tupã)
7. O Bandeirante - Agosto 2014 7
Livros em destaque
HELIO BEGLIOMINI e MARCOS
GIMENES SALUN
“Sobrames Paulista - compêndio
dos seus vinte anos de história
(1998-2008)
Rumo Editorial - SP
Os autores compilam nessa obra o
registro documental de fatos e
informações que marcaram os
primeiros 20 anos da tragetória da
Regional Paulista da SOBRAMES.
Tendo como base documentos do
acervo da entidade, a obra é
fartamente ilustrada, constituin-
do-se em fonte de consulta e
informação primorosa.
Aquisições e informações pelo e-mail:
rumoeditorial@uol.com.br
FLERTS NEBÓ
“O homem que voltou do passado”
Editoras Técnicas Reunidas - SP
Um drama de amor e milagre de
uma ressurreição, para que não se
perca, para gáudio do leitor, o
triunfo de Vênus sobre as sangrentas
tropelias de Marte, é o que o autor
oferece em seu romance. Ambienta-
do na França, durante a Primeira
Guerra Mundial, narra a história de
Michele e Philipe, dois jovens que se
amam e se separam em decorrência
da vida cotidiana, sem, entretanto,
deixarem de se amar, provando que
o amor puro nunca morre.
Aquisições e informações:
flerts@plugnet.com.br
O trecho abaixo é parte de uma poesia de um dos autores da
SOBRAMES-SP, já publicada anteriormente numa de nossas
COLETÂNEAS. Você consegue identificar o autor?
Resposta na próxima edição.
Esta agenda está sujeita a
alterações em decorrência de
fatores não previstos quando
de sua elaboração
Endereços e horários
Pizzas Literárias:
Pizzaria Bonde Paulista. Rua Oscar
Freire, 1.597 - a partir de 19h00.
Balada Literária:
APM - Espaço Maracá - Av. Brigadei-
ro Luís Antônio, 278 - 11.º andar -
das 18h30 às 22h00
Reuniões de Diretoria:
Sede da SOBRAMES-SP na APM -
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 -
7º. andar - Sala 1 - às 19h00
PIZZAS LITERÁRIAS
JAN - 16
FEV - 20
MAR - 2O
ABR - 24
MAI - 15
JUN - 26
JUL - 17
AGO - 21
SET - 18
OUT - 16
NOV - 13*
DEZ - 18
Realizadas na terceira
quinta-feira de cada mês
*ATENÇÃO Em virtude de
feriados, as datas das reuniões
de Abril, Junho e Novembro
foram modificadas
CONGRESSO NACIONAL
OUT - 08 a 12 Recife - PE
ELEIÇÕES
JUL - 17 Prazo final para a
inscrição de chapas concorrentes
SET - 18 Eleição
BALADA LITERÁRIA
MAI - 30 NOV - 07
COLETÂNEA 2014
FEV Divulgação das regras e
início das adesões de autores
NOV - 07 Lançamento
REUNIÕES DE DIRETORIA
Primeira quinta-feira do mês
O trecho da edição anterior pertence à crônica
“Ponta de Lança”, de Walter Whitton
Harris, que foi publicado na página 307 da
“II Antologia Paulista” de 2000. Que tal reler essa
crônica na íntegra, além de outros textos dos
talentosos autores da SOBRAMES presentes naquela edição?
Relendo
REALIZADO
“Aquele domingo parecia que não iria
diferir de nenhum outro e lá se foi Julinho
para seu futebol. Seu pai lia o jornal
tranquilamente, tendo-o buscado no
jornaleiro de manhãzinha. Sua mãe varria o
quintal e sua irmã ainda dormia.”
CONFIRMADO
Mas é preciso despertar! A vida conti-
nua! / Não se pode permanecer inerte! /
Enquanto vivemos precisamos, e muito,
ficar acordados... / estar alerta para
enfrentarmos o futuro.../ meditando
sempre sobre o nosso porvir...
8. CONGRESSOS EM PERNAMBUCO: inscrições até 15 de agosto
Estão abertas as inscrições para o XXV Congresso Brasileiro de Médicos Escritores que acontecerá de
8 a 11 de outubro em Recife-PE, juntamente com o IX Congresso da UMEAL. Informações no site da
regional pernambucana da SOBRAMES: http://sobrames-pe.webnode.com
CHAPA “CAMINHANDO”
CONCORRE À DIREÇÃO
DA SOBRAMES-SP
Encerrado o prazo regulamentar
para a inscrição de chapas
concorrentes à direção da
SOBRAMES-SP para o biênio 2015/
2016, apresentou-se apenas a
candidatura da CHAPA
“CAMINHANDO”, assim composta:
Presidente: Carlos Augusto
Ferreira Galvão; Vice-presidente:
Márcia Etelli Coelho: Primeiro-
-Secretário: Marcos Gimenes
Salun; Segundo-Secretário: Maria
do Céu Coutinho Louzã; Primeiro-
-Tesoureiro: Helio
Begliomini;Segundo-Tesoureiro:
Aida Lúcia Pullin Dal Sasso
Begliomini Conselho Fiscal
(efetivos): Josyanne Rita de Arruda
Franco, José Alberto Vieira e
Roberto Antonio Aniche; Conselho
Fiscal (suplentes): José Jucovsky,
Alcione Alcântara Gonçalves e Sonia
Regina Andruskevicius de Castro.
Veja o edital de convocação para a
ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
onde se realizarão as eleições na
página 2 desta edição.
CONCURSO ABRAMES
AAcademia Brasileira de Médicos
Escritores abriu inscrições até o dia
30 de agosto para o seu
prestigiado Concurso Literário, não
apenas para os membros
acadêmicos, mas para os escritores
em geral. Informações:
www.abrames.com.br
JOSYANNE NA SALA DOS MÉDICOS
Cativante a entrevista que Josyanne Rita de Arruda Franco, presidente da
regional paulista da SOBRAMES, concedeu para a revista virtual Sala dos
Médicos. Falando sobre aspectos de sua vida e sobre a literatura, ela
apresenta um belo painel de sua formação profissional e cultural, além de
mostrar características preciosas de sua personalidade e
proporcionar uma ampla divulgação da SOBRAMES.
A íntegra da entrevista poderá ser vista no BLOG da SOBRAMES-SP
http://sobramespaulista.blogspot.com.br/ ou diretamente no site da
revista: http://www.saladosmedicos.com.br/entrevista/hobbies-pedia-
tra-josyanne-franco-faz-da-literatura-uma-necessidade/
CONSAGRADOS E ECLÉTICOS
Tradicionalmente, a Pizza Literária de julho é dedicada aos
autores consagrados, quando os sobramistas apresentam textos
de seus escritores favoritos. Um desfile literário eclético
incluindo Cecília Meireles, Clarice Lispector, Castro Alves, Ana
Jácomo, Manoel de Barros, Thiago de Mello, Chico Buarque de
Holanda, dentre outros, foi o cardápio da noite
de 17 de julho passado.
Ecléticos também foram os visitantes que pela primeira vez
prestigiaram o evento: a nutricionista Mércia Cristina Strong, a
aposentada Maria Júlia de Mendonça, a veterinária Vera Regina
Monteiro de Barros e a designer de interiores Kelen Martins da
Silva Costa acompanhada das filhas Beatriz e Gabriela. Essas
duas estudantes declamaram poesias próprias, vencedoras em
Concurso Literário, demostrando que a juventude também se
interessa pela arte de escrever.
RIR É O MELHOR REMÉDIO
Em homenagem a Max Nunes e ao escritor homenageado na
FLIP 2014, Millôr Fernandes, o tema da próxima Superpizza
será “Rir é o Melhor Remédio”. Os textos em prosa ou verso
serão apresentados na Pizza Literária de 21.08.2014.
CREDENCIAIS ANTECIPADAS
para ingresso grátis de escritores:
http://www.bienaldolivrosp.com.br/
Visitar/Credenciamento-Profissional-
do-Setor/