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A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO DE LINGERIES NO MUNICÍPIO DE GUAPORÉ
(RS): ALGUMAS EVIDÊNCIAS DO PROCESSO PRODUTIVO
                                                                                   Luciana Fornari1
                                                                           Cleide Fátima Moretto2

Resumo

O setor têxtil e de confecção de modo geral vêm ganhando representatividade diante dos
números da economia brasileira. A indústria de confecção de lingerie, especificamente,
constitui diversos arranjos produtivos nas mais variadas regiões do país, arranjos estes
comumente formados por micro e pequenas empresas que atuam no mercado nacional e
internacional. O estudo objetiva analisar os fatores determinantes do processo produtivo do
setor de confecção de lingeries do município de Guaporé (RS). Revisa as contribuições da
economia institucional para o estudo do processo produtivo. Realiza pesquisa de
levantamento, por meio de amostragem probabilística, tendo como base as empresas
cadastradas como confecção de lingerie no município de Guaporé. Focaliza, como categorias
de análise, as características da empresa e dos gestores, o fator trabalho, o fator capital e
tecnologia e o mercado, de modo a compreender o processo produtivo das mesmas. Conclui
que o setor pesquisado é composto basicamente de micro e pequenas empresas familiares, sua
produção não ocorre em larga escala devido ao tamanho da indústria, à terceirização como
forma de suprir a falta de mão-de-obra e as mulheres são predominantes tanto na gestão como
no processo produtivo.
Palavras-chave: confecção de lingerie, processo produtivo, Guaporé (RS).

    SESSÃO TEMÁTICA: Estudos setoriais, cadeias produtivas, sistemas locais de produção


1 INTRODUÇÃO


        Na busca do fortalecimento do produto nacional, o setor têxtil e de confecções tem
sido responsável pelo incremento da imagem da identidade Brasil no mercado externo. De
acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2011), o Brasil
é hoje o 7º maior parque têxtil mundial e conta com mais de 30 mil empresas formais,
participando com, aproximadamente, 4,4% do PIB nacional e com faturamento anual de US$
33 bilhões (dados de 2006). A produção nacional é de, aproximadamente, 6,4 bilhões de
peças, sendo que 99,0% do mercado brasileiro ainda é abastecido pelas empresas nacionais
(ABIT 2011; IEMI, 2011). É um dos setores que mais emprega no país, aproximadamente 1,6
milhões de pessoas, sendo que 80,0% dos empregos gerados na cadeia têxtil estão centrados
no segmento da confecção, apresentando, portanto, um forte impacto social. O setor de moda
íntima vem ganhando espaço representativo nesta cadeia.

1
 Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: luciana.fornari@bol.com.br
2
  Economista. Doutora em Teoria Econômica. Professora titular da Faculdade de Ciências Econômicas,
Administrativas e Contábeis (Feac) da Universidade de Passo Fundo. E-mail: moretto@upf.br
2


       Garcia (2008) comenta que, com o passar dos tempos, a lingerie acompanhou as
mudanças de comportamento e foi se adaptando ao cotidiano e, a partir do século XIX, a
lingerie se tornou símbolo de sensualidade e luxo, feita a partir de tecidos finos e elegantes.
Ghidin (2008) acrescenta que ocorreu grande inovação relacionada aos tecidos e às cores a
partir dessa época e a fabricação de peças passou a incorporar ousadia. A lingerie, segundo
ela, passou a ser vista como fonte de lucros, diversas marcas passaram a apostar no produto e
obtiveram grandes lucros.
       No Brasil, atualmente, pode-se considerar a cidade de Nova Friburgo, no estado do
Rio de Janeiro, como sendo o pólo nacional de moda íntima. Nova Friburgo iniciou suas
atividades neste ramo há muitos anos, e no passar do tempo aprimorou seus produtos e serviu
de incentivo para outras regiões do país que também entraram para este setor produtivo. Além
de Nova Friburgo, existem outros municípios e regiões que também possuem grande
representatividade, como é o caso do município de Guaporé.
       Guaporé é um município do estado Rio Grande do Sul localizado no Planalto da Serra
Geral. O município tem aproximadamente 22.800 habitantes, de origem predominantemente
italiana. As indústrias, com destaque para o ramo joalheiro, metal-mecânico e têxtil, são a
principal fonte de riqueza do município. O município conta com aproximadamente 1.700
empresas (IBGE, 2009), deste montante, de acordo com a Secretaria de Indústria e Comércio
local, 91 são indústrias de lingerie, voltadas também para a moda praia e fitness. Este
mercado se desenvolveu no início da década de 1990, sendo responsável, atualmente, por
grande parte de sua geração de emprego e renda, com destaque estadual, nacional e inclusive
abrangendo outros países da Europa e América.
       A combinação de elementos econômicos, políticos, sociais e institucionais conduz a
processos dinâmicos e ao crescimento da produção, do emprego, da inovação, do progresso
tecnológico e à elevação nos níveis de bem-estar de parcelas da população, a partir da
expansão de micro, pequenas e médias empresas. O crescimento centra-se em um conjunto de
relações criadas por atores econômicos locais, apoiados por sistemas institucionais voltados
aos interesses e às necessidades das atividades desenvolvidas na região.
       Nesse contexto, o artigo tem como objetivo geral analisar a estrutura e as principais
características econômicas do processo produtivo nas empresas da indústria de confecção de
lingeries no município de Guaporé (RS). De cunho aplicado, o estudo caracteriza-se como
uma pesquisa descritiva, segue a orientação dedutiva, com base em uma abordagem
quantitativa. As técnicas de pesquisa adotadas possuem embasamento em pesquisas
3


bibliográficas e em pesquisa de levantamento, por meio de dados primários, no qual foi
utilizado um formulário como instrumento de pesquisa.
       Com o propósito de cumprir com seus objetivos, o artigo trata da contribuição da
economia institucional para o estudo do processo produtivo e contextualiza a produção de
lingerie no âmbito da indústria de confecções têxtil do país. Em seguida, aborda sobre os
métodos e técnicas adotados para a realização da análise dos dados e apresenta a análise dos
resultados obtidos com a pesquisa aplicada. Por fim, traz as considerações finais.


2 A CONTRIBUIÇÃO DA ECONOMIA INSTITUCIONAL NA ANÁLISE DO
  PROCESSO PRODUTIVO


       A economia institucional parte do argumento desenvolvido por Williamson, segundo o
qual “o ambiente institucional pode interferir significativamente nas formas pelas quais os
agentes econômicos se relacionam e efetuam transações, com conseqüências sobre a estrutura
e efetividade de um dado segmento” (VALLE et al., 2002, p.3).
       Hall e Soskice (2001) citados por Bronzo e Honório (2005, p. 10) definem instituições
como “um conjunto de regras, formais e informais, seguidas pelos atores seja por razões
normativas, cognitivas ou materiais”. As organizações são consideradas, pelos mesmos
autores, como “entidades estáveis compostas por membros formalmente organizados, cujas
regras também contribuem para as instituições de economia capitalista” (BRONZO;
HONÓRIO, 2005, p. 10). Neste contexto, as interações estratégicas da firma utilizam
estratégia corporativa, o que ocasiona visão ampla a respeito do comportamento das
instituições econômicas no capitalismo contemporâneo. Existem, no entanto, alguns
obstáculos inerentes à formação destes arranjos institucionais, os chamados custos de
transação, os quais “exigem que se sejam viabilizadas condições mínimas para que os arranjos
possam gozar de eficiência e funcionalidade” (VALLE et al. 2005, p. 3).
       Várias são as premissas que sustem o desenvolvimento da economia dos custos de
transação. Devido à motivação de reduzi-los surgem as firmas, que depende das incertezas
comportamentais e ambientais dos agentes, além da intensidade dos investimentos em ativos
específicos. Os custos de transação avaliam qual o impacto do conhecimento das estruturas
governamentais. Eles podem ser significativos a ponto de a empresa perceber vantagens em
integrar todas as operações verticalmente, o que até então era obtido por meio de transações
com outras empresas (WILLIAMSON, 1985; BARNEY, 1999 apud BRONZO; HONÓRIO,
2005 p.3).
4


        Embora seja importante compreender de que forma as organizações criam e recriam
vantagens competitivas a partir do controle de determinados recursos e ativos no interior dos
seus limites de eficiência, é também importante considerar que a competitividade mostra-se
quase sempre dependente da forma como as organizações gerenciam as suas estruturas de
relacionamento interorganizacional, com repercussões nos custos de transação e nas
economias de aprendizagem (BRONZO; HONÓRIO, 2005).
        A nova economia institucional tem contribuído na questão de saber como as
organizações absorvem inovações, como aprendem e como se adaptam à elas, adotando novas
abordagens que tentam entender o funcionamento das organizações, por meio de análises
contratuais – economia dos custos de transação – ou como repositórios de recursos e
competência – economia evolucionista3 (NOGUEIRA, 2001). Para os evolucionistas,
comentam Bronzo e Honório (2005), a economia dos custos de transação representa um
conjunto de teorias importantes nos estudos da firma e da estratégia organizacional, mas ainda
falta ampliar o enfoque para além do aspecto contratual das transações. As correntes
evolucionistas apresentam uma abordagem mais voltada para aspectos dinâmicos, fazendo
com que considerem o conhecimento como o resultado da história da organização, ou de suas
escolhas no sentido de adquirir determinadas competências. Trata-se, portanto, de um
processo dependente do caminho percorrido e, de forma mais ampla, analisa aspectos
dinâmicos da evolução das firmas (NOGUEIRA, 2001).
        A linguagem evolucionista ou desenvolvimentista tem sido muito usada por
economistas para descrever como a estrutura de uma economia muda ao longo do tempo,
tanto indivíduos como organizações são entidades que “aprendem” (TIGRE, 2005). O mesmo
autor ressalta que a teoria evolucionista se distingue da neoclássica e da teoria da organização
industrial, pois descarta hipóteses básicas do pensamento econômico convencional4. Neste
sentido, identificam-se alguns fatores econômicos de importância para se entender o processo
produtivo, para além da análise dos fatores de produção (trabalho e capital) e de sua



3
  Para a escola evolucionista, por sua vez, as empresas possuem um conjunto de capacidades e de competências
que se modificam ao longo do tempo, tanto pelos seus esforços na solução de problemas quanto em função de
eventos inesperados que impulsionam a mudança. Assim, a teoria das capacidades dinâmicas da firma, como
proposta em Teece, Pisano e Shuen (1997), citados por Bronzo e Honório (2005, p. 6) “integra-se à abordagem
da teoria dos custos de transação, estabelecendo suas raízes em diferentes referências, como as de Schumpeter
(1911), Penrose (1959), Williamson (1975), Nelson e Winter (1982), Prahalad e Hamel (1990)”.
4
  Tigre (2005) argumenta que existem três princípios que se destacam para o entendimento da teoria neoclássica,
o primeiro é que “a dinâmica econômica é baseada em inovações em produtos, processos e nas formas de
organização da produção” (p. 17), o segundo “descarta a idéia de racionalidade invariante (ou substantiva) dos
agentes econômicos” (p. 18), e o terceiro refere-se “à propriedade de auto-organização da firma, como resultado
das flutuações do mercado” (p. 18).
5


produtividade. O tamanho da firma, o emprego da tecnologia e o modo como elas se
organizam definem os processos organizacionais.
       As pequenas empresas no mundo atual são de grande importância, estão em grande
concentração e são responsáveis por grande parcela dos empregos, uma grande vantagem que
possuem é serem menos sensíveis às crises financeiras. Torrès e Julien (2005), citados por
Souza e Mazzali (2008, p 593) identificam na literatura anglo-saxônica uma espécie de
“paradigma orientador da pesquisa em pequenas empresas”, denominado por eles como “a
tese da especificidade gerencial”. Nesse paradigma, o pequeno negócio é considerado uma
entidade específica, com distinções das grandes empresas, com destaque para: “estrutura
administrativa centralizada; estratégias intuitivas e de curto prazo; baixa especialização;
simplicidade e informalidade do sistema de informação e atuação em mercados locais”
(SOUZA, MAZZALI, 2008, p. 593). A existência continuada dessas empresas é explicada por
alguns fatores, dentre eles “o fato de que o grande capital empresarial não brota do chão (sua
oferta não é elástica); depende do crescimento do capital já existente. Assim, embora as
pequenas empresas percam terreno continuamente, o processo é lento”. (STEINDL, 1945
apud SOUZA; MAZZALI, 2008 p. 594).
       O crescimento econômico se dá hoje pela crescente inovação tecnológica. Souza
(1995) ressalta que o processo de industrialização não se deu no mundo todo ao mesmo
tempo, processo esse marcado pelos feitos tecnológicos da época que proporcionaram
melhoria e eficácia nas condições de trabalho. A tecnologia vem sendo peça fundamental para
o crescimento das empresas nos mais diversos setores da economia, o que não é diferente para
as indústrias de moda íntima. A tecnologia representa a capacidade de combinação de
recursos para se produzir. A tecnologia torna o processo de industrialização e produção mais
eficaz, consequentemente os produtos são de melhor qualidade, produzidos em maior
quantidade reduzindo os custos, e assim, o preço final (PEREIRA; DATHEIN, 2011).
       Dunning (2007) citado por Pereira e Dathein (2011, p.10), comenta que a velocidade
com que as transformações ocorrem é responsável pelo aceleramento do processo de
aprendizagem, tanto dos indivíduos como das instituições, o que leva à redução de custos e
tempo de mudanças. Segundo Enderle et al. (2005), as micro e pequenas empresas (MPEs)
têm sua importância reconhecida no processo de acumulação de capital, porém, se faz
necessário uma discussão acerca de como essas empresas podem auferir ganhos maiores e se
tornarem mais competitivas. A aglomeração de empresas de uma determinada atividade tem
sido uma forma encontrada para encarar tal situação.
6


       Nos moldes marshallianos, como comentam Enderle et al. (2005, p. 237), a
especialização causada pela aglomeração de indústrias num eixo comum possibilita às
empresas eficiência organizacional, onde recursos são compartilhados entre as mesmas,
proporcionando o desenvolvimento da indústria local. Normalmente a criação dos distritos
indústrias se dá devido a fatores geográficos. Enderle et al. explicam que “as evidências
indicam que não é o tamanho das pequenas empresas o que as prejudica, mas, sim, o fato de
que essas empresas costumam operar sozinhas em ambientes cada vez mais competitivos”.
(2005, p.237). Para estas aglomerações o determinante é a capacidade de alcançarem altos
patamares de competitividade, esta, baseada na capacidade de gerar inovações
(CASSIOLATO; LASTRES, 2003).


3 SETOR INDUSTRIAL E A PRODUÇÃO DE LINGERIE NO BRASIL

       A Indústria Têxtil e do Vestuário é uma das indústrias com grande representatividade
na estrutura industrial nacional e possui um papel importante em termos de emprego e peso na
economia nacional. De acordo com Vasconcelos (2006), com o fim das restrições
quantitativas à entrada de produtos têxteis, a forte pressão competitiva criada pelas economias
de mão-de-obra barata, a mudança no paradigma econômico, a modificação acelerada das
preferências dos consumidores e a evolução da tecnologia, exige-se das empresas têxteis e do
vestuário um novo grau de capacidade concorrencial e de flexibilidade tanto dos produtos,
como dos processos produtivos e estruturas de gestão. O autor, ainda, destaca que a dinâmica
da indústria é dada pelo mercado final onde a indústria de confecções aparece em destaque
nos últimos anos. A competitividade do setor está intimamente relacionada com a eficiência
verificada em cada um dos elos da cadeia produtiva e a qualidade final dos produtos está
relacionada com a qualidade obtida em cada etapa. O setor caracteriza-se por incorporar
tecnologia desenvolvida por outros setores, ou seja, os avanços tecnológicos no processo
produtivo provêm dos avanços ocorridos na produção das matérias-primas e nas máquinas e
equipamentos. As empresas são dependentes de investimento em modernização para aumentar
a eficácia das operações industriais, reduzir os custos e assegurar a competitividade
(VASCONCELOS, 2006). O setor têxtil e de confecções caracteriza-se por utilizar o fator
capital de forma intensiva recorrendo a sistemas cada vez mais automatizados e de elevada
tecnologia, porém, não podendo deixar de lado o fator trabalho para as operações que
necessitam deste fator importante para o setor de modo geral.
       Coutinho e Ferraz (1993) destacam que o Brasil, devido ao processo de substituição de
importações, foi o único país, além da Coréia, a ter capacidade produtiva em máquinas e
7


equipamentos ao setor têxtil. Os principais produtores se encontram em países
industrializados, onde o ambiente é competitivo, sendo necessária a inovação para se
manterem no mercado. De acordo com Simon e Carvalho (2009), o Brasil apresenta
aglomerações setoriais importantes da indústria de confecção, sendo que, atualmente, as
regiões Sul e Sudeste do país correspondem a 80% de toda a produção da indústria de
confecção nacional.
         O aparecimento das indústrias de lingerie no Brasil teve seu início por volta do final
da década de 1960, quando uma grande empresa de tecelagem de Nova Friburgo, no estado do
Rio de Janeiro, foi vendida para uma multinacional que deu início ao processo de fabricação
de lingeries (O PÓLO..., 2011). Nos anos 1970, o país enfrentou forte crise econômica e
muitas costureiras desta fábrica tiveram que ser demitidas, passando, a partir deste momento,
a confeccionarem as peças em suas próprias casas, o que, por conseqüência, ocasionou o
aparecimento de micro e pequenas empresas que se tornaram responsáveis pelo crescimento
do setor na região (O PÓLO..., 2011). Já no ano de 1997, de acordo com a mesma fonte, foi
criado o Pólo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região, o qual surgiu por meio de estudos
sobre os Arranjos Produtivos Locais (APLs) para o desenvolvimento do estado do Rio de
Janeiro. Este projeto tem como objetivo capacitar os confeccionistas para que sejam
competitivos tanto a nível nacional como internacional.
         Hoje, diversas regiões do país desenvolvem esta atividade, fortalecendo-a diante do
mercado internacional e gerando empregos e renda, o que influencia diretamente nos
resultados em nível de país. O estado do Rio de Janeiro, mais precisamente, Nova Friburgo,
segue líder no ramo de confecção de lingerie no país. O pólo conta com cerca de 900
indústrias, gera mais de 20 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, e tem um faturamento
anual por volta de R$ 600 milhões (O PÓLO..., 2011). Diversas localidades do país estão em
forte crescimento na área, a região Nordeste brasileira já é considerada uma potência e, na
serra gaúcha, o município de Guaporé ganha a segunda colocação em nível de país neste
setor.
         O setor passou por diversas transformações no ambiente produtivo o que estabeleceu
uma nova cultura. Essas transformações implicaram em mudanças na relação com a mão-de-
obra, de forma a ampliar sua participação e envolvimento no processo de trabalho
(COUTINHO; FERRAZ, 1993). Os mesmos autores destacam que este setor possui diversas
limitações, ligadas à qualidade, onde a mesma só é observada no produto final, não passa por
todos os processos de produção. Isso pode ocorrer devido à baixa participação das
8


exportações na produção total, tendo baixa interação com os mercados externos, normalmente
mais exigentes, a evolução acontece de maneira retraída.
       O processo informal também ganha destaque neste setor, o qual contribui para a
desarticulação da capacitação tecnológica, humana e gerencial das indústrias. Para
Cacciamalli (1983) este setor é eficiente e lucrativo, mesmo tendo produção em menor escala
e baixa inserção de tecnologia. Existe uma contínua diferenciação das atividades econômicas,
e da organização da produção e do trabalho, da qualificação e do processo produtivo, o que
significa “um processo de diferenciação de estrutura produtiva e dos atributos dos
trabalhadores” (CACCIAMALI, 1983, p. 12).
       A concentração regional sugere a formação de pólos industriais. Isso faz com que a
modernização tecnológica e gerencial das MPEs se promova. Para estas empresas, a atuação
individual tende a dificultar o acesso à informações de mercado e tendências, e fontes
competitivas de fornecimento de matéria-prima (COUTINHO; FERRAZ, 1993).
       No setor têxtil muitas são as tecnologias que podem ser inseridas no intuito de
aperfeiçoar a produção de lingeries, sejam elas nos insumos e principalmente no maquinário e
assessórios que envolvem a produção das peças.
       De acordo com notícia publicada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
(CGEE, [s.d.]), o setor têxtil no Brasil possui um dos maiores contingentes de maquinários
instalados do mundo, mas isso, ao contrário do que parece, não significa que o país tenha
grande representatividade nas exportações mundiais. Um estudo realizado pelo CGEE para a
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) constatou que o setor precisa se
adaptar à realidade da competitividade mundial para poder se manter e penetrar mais no
mercado externo.
       De acordo com Kon e Coan (2005), a partir da década de 1990, a indústria têxtil passa
por uma reestruturação onde ocorre uma abertura comercial e se intensifica a tecnologia
utilizada. Ano também em que começaram a surgir as indústrias de confecção de lingerie no
município de Guaporé. Um dos impactos observados com a abertura comercial foi o aumento
do consumo por parte da população de baixa renda. Muitas empresas de tecidos planos foram
levadas a falência, principalmente pelas importações da Ásia. Ao mesmo passo, estas
empresas foram substituídas por fábricas de malhas de algodão, as quais tinham um
investimento menor e o produto se tornaria mais barato.
       Segundo Haguenauer et al. (2001) citado por Kon e Coan (2005, p. 19), além de sua
formação e evolução, a cadeia têxtil, por ser grande geradora de emprego e renda é protegida
internacionalmente pela imposição de quotas quantitativas para os principais produtos, as
9


quais devem ser respeitadas por países exportadores, o que gera forte proteção aos mercados
nacionais.
       O setor têxtil passou por grande modernização, pois precisou informatizar o processo
produtivo, o que resultou no aumento de produtividade e de capacidade de produção. Porém,
esta modernização acabou afetando os empregos gerados pelo setor, causando diminuição dos
mesmos.


4 MÉTODOS E TÉCNICAS


       O estudo aplicado parte da orientação dedutiva, a qual tem por objetivo explicar o
conteúdo das premissas (GIL, 2002). Em relação à sua complexidade, utiliza-se da pesquisa
descritiva e segue a abordagem quantitativa. Como técnicas, baseia-se na pesquisa
bibliográfica e na pesquisa de levantamento.

4.1 Referencial Teórico

       Para atingir o objetivo do trabalho adota-se um esquema conceitual que utiliza os
fatores básicos da teoria da firma (trabalho, capital, tecnologia e mercado) e amplia para
novos conceitos da economia institucional (interação entre os agentes econômicos).
       No fator trabalho é feita uma análise do fator dentro da empresa, identificando-se os
colaboradores chão-de-fábrica, onde se encaixam os colaboradores de forma geral, e em
ciência e tecnologia, que abrange o setor de criação e desenvolvimento do produto. O
objetivo desta análise é identificar as diferenças entre os setores e avaliar de que forma as
empresas utilizam esse fator. Para cada um dos setores são analisadas algumas variáveis de
controle dos sujeitos amostrais, como o gênero, para identificar qual a predominância do
setor, que, como visto na revisão de literatura, se constitui em sua maioria por mulheres, a
escolaridade, a remuneração, a jornada de trabalho, variáveis que podem interferir na
produção da empresa, entre outras, como a origem dos trabalhadores. Busca-se identificar se o
município oferece a mão-de-obra necessária e suficiente para o grande número de empresas
ou se a tendência é que estas empresas busquem pessoal fora do município. Além destas duas
categorias, dentro da empresa, é necessário analisar se as empresas adotam serviços
terceirizados para poder suprir o volume de produção e qual o impacto que este setor gera.
       Outra categoria avaliada é o fator capital e inovação. Busca-se identificar como ocorre
a tomada de decisão em nível de capital e de tecnologia. Ainda, examina-se se as empresas
que recebem apoio de instituições e programas apresentam alguma alteração em sua
10


produção, como investimento em tecnologia, infra-estrutura de instalação, desenvolvimento
do produto, pois nem todas as empresas possuem profissional específico para este setor.
        Na sequência, estuda-se o mercado da confecção de lingerie no qual as empresas estão
inseridas, identificando a origem dos insumos e o destino dos produtos, em termos de
abrangência. Nesse aspecto, avalia-se a existência de ligações entre as empresas, como apoios
institucionais e compras coletivas, direcionados normalmente à redução de custos,
organizações de feiras, entre outras.

4.2 Forma de Obtenção e Tratamento dos Dados

        A pesquisa de levantamento segue a amostragem probabilística e, em função da
limitação do tempo para a pesquisa de campo, adota-se o erro tolerável de 10%. Fazem parte
da população 91 empresas do setor de confecção de lingeries cadastradas na Prefeitura
Municipal de Guaporé (RS), seguindo os critérios de planejamento e confiabilidade amostral,
selecionadas aleatoriamente. O cálculo do tamanho mínimo da amostra com o ajuste para a
população envolvida resultou em 48 empresas (BARBETTA, 2002). Para o levantamento das
informações relativas ao modelo conceitual adotado, foi aplicado um formulário5, testado
previamente, respondido pelo proprietário ou gestor das empresas selecionadas. Os mesmos
foram consultados sobre a possibilidade em participar da pesquisa e sobre a confidencialidade
das informações. Os dados coletados foram tabulados em planilhas do Software Excel e, após,
tratados por meio do Software SPSS. Os resultados são apresentados por meio de estatística
descritiva simples, como frequência absoluta e frequência relativa.


5 ANÁLISE DOS RESULTADOS


        A amostra selecionada foi composta por 48 empresas, às quais foi solicitado que os
gestores respondessem ao formulário. Apenas duas empresas enquadram-se como de pequeno
porte, o que corresponde a 4,2% do total da amostra, enquanto as demais são consideradas
microempresas, representando 95,8% do total. Quanto ao enquadramento jurídico das
empresas entrevistadas, 100% delas estão enquadradas como Sociedade Limitada. Em termos


5
  Conforme definição Lakatos e Marconi (2003): Formulário: é um roteiro de perguntas enunciadas pelo
entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do pesquisado, este método permite que o entrevistador
obtenha maiores informações junto ao entrevistado, facilitando com isso o entendimento das respostas e a
interpretação dos resultados; Questionário: uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito, sem a
presença do pesquisador, com o uso deste meio de coleta de dados o pesquisador corre o risco de não obter
respostas qualificadas, causando danos à pesquisa.
11


do capital social das empresas, previsto em contrato, a maior freqüência das respostas ocorreu
na faixa entre 10 e 20 mil reais; a média de 47 respondentes é de aproximadamente 35.850
mil reais. Quanto à forma de gestão, 64,5 % delas é familiar (dois ou mais membros da
mesma família). Quanto ao tempo de atuação no mercado, observa-se que, das empresas
entrevistadas, empresas de um a quatro anos de existência representam 50,0% do total da
amostra, o que comprova que, micro e pequenas empresas possuem uma taxa elevada de
natalidade no mercado.
       Em relação à participação das empresas no mercado, foi solicitado que os
respondentes distribuíssem o montante de 100,0% para os mercados nos quais participam, no
âmbito local, regional, nacional e internacional. Observa-se que apenas 12,5% das empresas
não atuam no município, 27,1% destina-se totalmente ao mercado local. Quanto ao mercado
regional, 90,0% não tem representatividade nenhuma, e no estado, esse índice chega a 60,0%.
Em nível de país 45,0% das empresas não tem participação e o percentual de empresas com
40,0 a 50,0% de participação fica em torno de 27,0%. Internacionalmente a representatividade
também é baixa, em torno de 90,0% das empresas não atuam no mercado internacional.
       Para avaliar o tamanho da empresa e a demanda pelo fator trabalho, buscou-se estimar
a quantidade média de funcionários nestas empresas. Constatou-se que a grande maioria delas
possui no máximo dez funcionários e há predominância do gênero feminino. A média para
todas as empresas é de 11,8 funcionários, sendo que uma pequena minoria possui até quarenta
funcionários e apenas uma empresa possui mais de 100 funcionários. A participação da
mulher neste setor, segundo relato dos gestores, é fundamental, tanto pela sua atuação, por ter
certa tendência a trabalhar com isso, quanto pela sua criatividade e cuidado com os pequenos
detalhes, os quais são de grande importância no resultado. A remuneração dos colaboradores,
ocorre de maneira tradicional, não diferenciando funcionários pela habilidade e competência e
não oferecendo participação nos resultados, o que é uma característica das micro e pequenas
empresas.

5.1 Caracterização do gestor

       Um dos focos do estudo foi identificar as principais características do gestor destas
empresas. Em relação ao nível de escolarização do gestor,percebe-se que em sua grande
maioria, mais precisamente 72,9% dos 48 analisados, possuem segundo grau ou ensino médio
completo, seguidos de 16,7% com ensino superior completo e 6,3% com ensino superior
incompleto.
12


       A idade média encontrada dos gestores foi de 36 anos, sendo que a idade mínima é de
21 anos e a máxima é de 54 anos. Em relação ao gênero, contatou-se que 67,0% são gestoras
contra apenas 33,0% de gestores homens. É visível que além da mulher estar mais presente na
produção do lingerie, sua representatividade frente a estas empresas também é maior.

       Quadro 1– Distribuição da relação do gestor com o processo produtivo
       Relação do gestor com o processo produtivo          Frequência absoluta   Frequência relativa (%)
        Participação centralizada: realização de tarefas
                                                                          37                     77,1
        múltiplas
        Gestão parcialmente descentralizada                                5                     10,4
        Gestão descentralizada com estrutura formal de
                                                                           6                     12,5
        cargos e funções
       Total                                                              48                    100,0
       Fonte: primária.
       Buscou-se informações a respeito da participação do gestor no processo produtivo
(Quadro 1), considerando que em micro e pequenas empresas é comum que o gestor participe
de forma centralizada, atuando em diversos setores e realizando múltiplas tarefas. Identificou-
se que 77,1% dos gestores participam de forma centralizada, ou seja, além de gerir é quem
atua em nível comercial, atendendo fornecedores, clientes, realiza tarefas de banco, e
inclusive diretamente no processo produtivo. Outros ainda têm sua participação parcialmente
centralizada, estes correspondem a 10,4% da amostra e realizam atividades específicas dentro
da empresa. Já 12,5% dos entrevistados relataram que a participação do gestor ocorre de
forma descentralizada, ou seja, a empresa possui uma estrutura formal de cargos e funções,
sendo assim, o gestor não participa de outras funções. Quando questionados quanto ao pró-
labore ou remuneração, apenas 38 responderam, sendo que a média obtida foi de 1.523,68
reais, um valor que pode ser considerado baixo quando comparado com a remuneração média
dos colaboradores.

5.2 Fator Trabalho

       Um primeiro questionamento da pesquisa tratou do recrutamento e seleção de novos
funcionários, pois, como identificado anteriormente, uma das características da MPEs é
realizar internamente este processo, devido à necessidade de conhecer e identificar se a pessoa
é qualificada para o posto e ainda se pode migrar para outros. Pode-se confirmar que as
empresas da amostra são responsáveis por este processo, o recrutamento e seleção feitos
internamente correspondem a 89,6%, contra apenas 10,4% que realizam de forma
terceirizada. Quando questionados sobre a capacitação observada no ingresso de novos
funcionários, constatou-se que a experiência ou prática anterior são o atributo mais desejável,
13


representando 66,7% da amostra. A falta de mão-de-obra faz com que a maioria das empresas
não exija cursos ou treinamentos antes da contratação. Ter conhecimento ou já ter trabalhado
anteriormente na área bastam para que ele seja contratado.
          Para avaliar a divisão do trabalho no processo produtivo, foram indicadas como
possíveis respostas as opções de realizada pelo gestor, acompanhada pelo gestor, controlada e
avaliada pelo gestor e por fim, todas as alternativas. Observa-se que 56,3% responderam que
realizam todas as alternativas, sua participação ocorre de maneira maciça; 22,9% responderam
que a divisão do trabalho é controlada e avaliada pelo gestor, portanto, há quem o faça, o
gestor avalia se é pertinente ou não, e 20,8% respondeu que a divisão é feita pelo gestor.
Normalmente são os próprios gestores que realizam essa atividade por se tratarem, em sua
maioria, de microempresas, onde ele é responsável pro toda a parte administrativa e os demais
funcionários participam diretamente no processo produtivo.
          Conforme mencionado anteriormente, a análise do processo produtivo foi dividida em
dois setores para uma melhor análise, sendo o primeiro o chão de fábrica, e o segundo criação
e desenvolvimento do produto. Para o primeiro setor os dados obtidos estão relacionados a
seguir.
          Vê-se que o número de mulheres presentes nas atividades ligadas diretamente ao
processo produtivo é mais alto em relação ao número de homens devido a sua tendência
natural de realizar esta atividade: 47,9% das empresas não possuem funcionários homens
ligados ao processo produtivo. Quando observado o número de mulheres, em 100,0% das
empresas há sua participação, sendo que, das empresas entrevistadas, a menor participação é
de duas mulheres. Em termos da origem do fator trabalho, constatou-se que cerca de 80,0%
das empresas utiliza mão-de-obra local. A participação regional ou de outras localidades ainda
é baixa, mas esse número já vem crescendo em razão da falta de mais mão-de-obra no
município. No que se refere ao nível de escolarização destes funcionários ligados diretamente
ao processo produtivo, identificou-se que em sua maioria, 64,6%, tem segundo grau ou
ensino médio incompleto, seguido de 33,3% de colaboradores com segundo grau ou ensino
médio completo; o primeiro grau ou ensino fundamental completo representou apenas 2,1%
dos entrevistados. Já a remuneração média dos funcionários que atuam no chão de fábrica é
de 796,00 reais, variando de em torno de 600,00 até quase 1.000,00 reais. O absenteísmo dos
funcionários em micro e pequenas empresas pode afetar em muito a sua produção. Estas faltas
muitas vezes são explicadas pelos atestados médicos. A frequência de atestados nas empresas
em questão pode ser considerada baixa, pois, quando questionado sobre a ocorrência de
14


atestados no último ano, 62,5% responderam que não ocorreu a apresentação de nenhum
atestado.
       Além dos colaboradores ligados diretamente a produção do produto, outro setor de
grande importância é o de criação e desenvolvimento do produto. Produtos inovadores, peças
diferenciadas e acompanhando as tendências são o objetivo a ser alcançado pelos designers do
produto. Algumas empresas possuem profissionais específicos para a tarefa dentro da própria
empresa, já outras, contratam essa mão-de-obra terceirizada apenas para o desenvolvimento
de suas coleções. Foi possível observar que, das empresas que responderam ao formulário,
apenas uma possui funcionário do gênero masculino neste setor, ou seja, 2,1%, e que cinco,
ou seja, em torno de 10,0%, possui mulheres. O baixo número de funcionários neste setor
comprova que, para estas empresas, o custo de sua manutenção é elevado para esta área,
normalmente contrata-se um terceiro para realizar esta tarefa. Observou-se que o nível de
escolarização dos colaboradores da criação e desenvolvimento de produto é em sua maioria
ensino superior completo.

5.3 Capital e Inovação

       Foi discutido anteriormente que micro e pequenas empresas normalmente utilizam
recursos próprios para integrar ao capital da empresa, isso porque o acesso ao crédito para
elas é mais difícil, devido à alta taxa de natalidade e mortalidade das mesmas. Pode-se
observar que, em sua maioria, os recursos correspondem em parte a recursos próprios e em
parte a financiamento, o que representa 54,2%. Empresas que tem seu capital integralmente
de financiamento bancário representam 25,0%; 20,8% são as que utilizaram apenas recursos
próprios. De outra parte, analisando-se o tipo de instalação física das empresas, observa-se
que estão instaladas em prédio próprio, cedido ou locado: 66,7% das empresas estão
instaladas em prédio próprio, contra 33,3% em prédio locado. Para estas empresas,
basicamente microempresas, estar instalada em prédio próprio reduz bastante seus gastos
mensais.

       Quadro 2 – Identificação do processo de confecção do produto
        Processo de confecção do produto           Frequência absoluta        Frequência relativa (%)
        Totalmente feito na empresa                                      35                       74,5
        Parte feito na empresa, parte terceirizado                       10                       21,3
        Outro                                                             2                        4,3
        Total                                                            47                     100,0
       Fonte: primária.
       Quanto à confecção do produto (Quadro 2), observa-se que 74,5% respondeu que a
produção é feita totalmente na empresa e 21,3% afirmou contratar serviço de terceiros para
15


uma parte da produção. A terceirização vem sendo utilizada por estas empresas para suprir a
necessidade de aumento de produção. A competitividade é um fator que interfere diretamente
nesta variável, pois para serem mais competitivas, precisam estar mais presentes no mercado,
e uma das formas, é com um volume de produção elevado.
       A capacitação tecnológica pode ser mensurada por meio de indicadores como, por
exemplo, o investimento em máquinas e equipamentos. Quando questionados sobre o
investimento em tecnologia, 87, 5% responderam afirmativamente, sendo que, destas, 27,8%
investiu 10 mil reais, poucas empresas investiram em mais de 100 mil reais, 5,6% apenas.
       Buscou-se, ainda, identificar a representatividade no custo de produção de alguns
fatores, como, matéria-prima, marketing, equipamentos e tecnologia, mão-de-obra, infra-
estrutura, desenvolvimento do produto e outros fatores. Com relação à participação da
matéria-prima, nota-se que para 31,0% das empresas, este fator representa 30,0% de seus
custos, seguido de 27,0% de empresas que indicam 50,0% de representatividade nos custos de
produção; 4,2% não indicaram nenhuma quantidade percentual, e 4,2% indicaram 60,0% de
representatividade. Em termos de marketing, evidenciou-se que 60,0% das empresas não
atribui nenhum percentual de participação à empresa, seguida de 30,0% com 5,0% de
participação, e 8,0% com representatividade de 10,0%. Já com relação aos equipamentos e
tecnologia, 37,5% indicou nenhuma participação, seguida de 21,0% de empresas com 10,0%
de participação nos custos. Em torno de 38,0% das empresas possuem de 15 a 30,0% de
participação desse fator em seus custos de produção.

5.4 Mercado

       No que diz respeito aos insumos utilizados na fabricação dos produtos, foram
apresentadas algumas opções de origem para que, da mesma forma que os custos, fossem
apresentados em percentual de significância. Quanto à proporção municipal, identificou-se
que 17,0% das empresas não utilizam este recurso, e em média 20,0% adquirem os insumos
em sua totalidade no município. As proporções variam de 10 a 90,0%. Quanto a proporção
estadual, identificou-se que menos de 20,0% utiliza este recurso. A participação estadual é
muito baixa.
       O presente trabalho identificou anteriormente que nos arranjos setoriais normalmente
ocorre cooperação entre as empresas, como compras conjuntas, visando minimização dos
custos, organização de feiras e eventos, buscando maior concorrência nacional, entre outras.
O que se identificou por meio da pesquisa de campo é que nas empresas entrevistadas desse
setor essa cooperação não acontece: 77,0% das empresas não possuem nenhum tipo de
16


relação umas com as outras, e um número mínimo, em torno de 10,0% realiza compras
conjuntas, e 10,0% planeja feiras de forma coletiva.
       Algumas empresas apresentam linhas de produção alternativas à principal, como
forma melhorar a concorrência com as demais. Ao perguntar se a empresa possuía linha
alternativa, 75,0% das empresas respondeu que não possui e apenas 25,0% respondeu
afirmativamente. Todas as empresas possuem sistema interno de controle de qualidade. A
produção é destinada em média 71,0% para atacado e varejo. O restante das empresas destina
sua produção apenas para o varejo. Nessa direção, as empresas entrevistadas responderam à
pergunta sobre qual o foco principal da empresa observado no momento da oferta do produto.
Preço e qualidade obtiveram 27,1% das respostas, e 20,8% disseram que ambos os quesitos
são o foco. Em seguida, a diferenciação do produto possui maior relevância. Pode-se concluir
com isso que 75,0% das empresas recaem seu foco principal para preço e/ou qualidade.
       A produção média é de aproximadamente 600 peças. Algumas empresas que possuem
número maior de funcionários acabam produzindo uma quantidade maior de peças.
Mensalmente, em média, a produção é de 15.000 peças.
       Sabe-se que as empresas em geral enfrentam diversas dificuldades em seu dia-a-dia,
independente de localização ou porte, as dificuldades enfrentadas são diversas. Pode-se
observar pela pesquisa que dois são os fatores que mais interferem nas empresas do setor de
lingerie em Guaporé: a concorrência direta, com 31,3% lidera, seguida da falta de mão-de-
obra, com 27,1%. Além destes, 14,6% dos entrevistados responderam que os dois pontos
juntos interferem de forma expressiva no setor. A falta de profissionais no mercado afeta
diretamente na produção das empresas.


6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


       A emergência do segmento industrial de confecções de lingerie de Guaporé (RS)
resultou da interação entre as condições locais e as mudanças ocorridas nos processos
econômicos, históricos e sociais. Foi um processo espontâneo e involuntário de
industrialização, que teve como base um conjunto de condições locais, nacionais e
internacionais, tendo seu início em meio à abertura comercial ocorrida na década de 1990.
       A pesquisa de campo permitiu evidenciar aspectos comuns a realidade da maior parte
das micro e pequenas empresas do país. A média de funcionários registrados por empresa é
12, sendo que a moda atingida é de até 10 funcionários. Se analisado individualmente, pode-
17


se constatar que o número de empresas que possuem até quatro (4) funcionários é o mais
encontrado. Destes, em sua maioria são mulheres, as quais predominam neste mercado.
         Quanto às características que envolvem o gestor foi possível identificar que a maioria
deles possui grau de escolarização médio, com o segundo grau ou ensino médio completo. A
idade média observada foi de 35 anos. Quando analisado o gênero dos gestores, comprovou-
se que cerca de dois terços são mulheres, o que mais uma vez comprova a importância da
mulher na dinâmica produtiva local. A participação dos gestores na indústria é centralizada,
ou seja, os gestores realizam múltiplas tarefas na empresa, participando inclusive do processo
de produção, isso se dá devido ao número reduzido de funcionários encontrado nestas
empresas.
         O fator trabalho e sua estrutura é um dos pontos de maior importância observado. Foi
possível identificar algumas características do setor em particular, como por exemplo,
constatou-se que noventa por cento das empresas são responsáveis pelo recrutamento e
seleção, ou seja, conhecer o profissional que está sendo selecionado. Identificou-se, também
,que no momento em que a empresa escolhe seus novos funcionários, a capacidade observada
é se o mesmo possui experiência ou prática anterior, ou seja, é preferível que o candidato já
tenha atuado na área do que ele possua treinamento e qualificação. A divisão do trabalho
recebe total participação do gestor, tanto para distribuição como para o acompanhamento da
sua realização. A escolarização média dos funcionários das empresas pesquisadas é segundo
grau ou ensino médio incompleto e a remuneração que recebem está na faixa de 795,00 reais.
Observa-se que a terceirização tem sido um recurso utilizado por parte das empresas de maior
parte.
         Com relação às características ligadas ao capital e inovação, constatou-se que a fonte
dos recursos das empresas vem de recursos próprios e financiamentos. Atenta-se aqui para a
literatura que fala que o acesso ao crédito é dificultado para este tipo de empresa, por isso
parte do recurso vêm do proprietário e isso pode explicar também o baixo valor investido,
apresentado no capital social da empresa. A maioria das empresas está instalada em prédio
próprio, isso se torna possível pela escala reduzida de produção. Quanto aos custos de
produção, a mão-de-obra é sinalizada como a principal. Constatou-se que, em sua maioria, os
insumos de produção são adquiridos no próprio município, o que mostra que o setor desdobra
outras atividades que se relacionam entre si, como o comércio de tecidos e aviamentos.
         Um ponto importante, que diverge de questões apresentadas na literatura recente, diz
respeito à relação entre as empresas do setor pesquisado. A presença de formas de interação e
de cooperação, que caracterizariam um aglomerado industrial, sobretudo se composto por
18


micro e pequenas empresas, não foi evidenciada. Acredita-se que isso possa ocorrer devido à
forte concorrência enfrentada por elas, já que atuam tanto para atacado como para varejo, o
mercado é o mesmo, além da própria restrição em termos de mão-de-obra especializada.
       As evidências apontadas corroboram para o conhecimento das diversas micro e
pequenas empresas que compõe o setor de confecção têxtil do país e sinalizam a importância
de se aprofundar estudos no sentido de ampliar as possibilidades de cooperação entre as
empresas, buscando mecanismos de fortalecimento do setor no mercado.


REFERÊNCIAS


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  • 1. A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO DE LINGERIES NO MUNICÍPIO DE GUAPORÉ (RS): ALGUMAS EVIDÊNCIAS DO PROCESSO PRODUTIVO Luciana Fornari1 Cleide Fátima Moretto2 Resumo O setor têxtil e de confecção de modo geral vêm ganhando representatividade diante dos números da economia brasileira. A indústria de confecção de lingerie, especificamente, constitui diversos arranjos produtivos nas mais variadas regiões do país, arranjos estes comumente formados por micro e pequenas empresas que atuam no mercado nacional e internacional. O estudo objetiva analisar os fatores determinantes do processo produtivo do setor de confecção de lingeries do município de Guaporé (RS). Revisa as contribuições da economia institucional para o estudo do processo produtivo. Realiza pesquisa de levantamento, por meio de amostragem probabilística, tendo como base as empresas cadastradas como confecção de lingerie no município de Guaporé. Focaliza, como categorias de análise, as características da empresa e dos gestores, o fator trabalho, o fator capital e tecnologia e o mercado, de modo a compreender o processo produtivo das mesmas. Conclui que o setor pesquisado é composto basicamente de micro e pequenas empresas familiares, sua produção não ocorre em larga escala devido ao tamanho da indústria, à terceirização como forma de suprir a falta de mão-de-obra e as mulheres são predominantes tanto na gestão como no processo produtivo. Palavras-chave: confecção de lingerie, processo produtivo, Guaporé (RS). SESSÃO TEMÁTICA: Estudos setoriais, cadeias produtivas, sistemas locais de produção 1 INTRODUÇÃO Na busca do fortalecimento do produto nacional, o setor têxtil e de confecções tem sido responsável pelo incremento da imagem da identidade Brasil no mercado externo. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2011), o Brasil é hoje o 7º maior parque têxtil mundial e conta com mais de 30 mil empresas formais, participando com, aproximadamente, 4,4% do PIB nacional e com faturamento anual de US$ 33 bilhões (dados de 2006). A produção nacional é de, aproximadamente, 6,4 bilhões de peças, sendo que 99,0% do mercado brasileiro ainda é abastecido pelas empresas nacionais (ABIT 2011; IEMI, 2011). É um dos setores que mais emprega no país, aproximadamente 1,6 milhões de pessoas, sendo que 80,0% dos empregos gerados na cadeia têxtil estão centrados no segmento da confecção, apresentando, portanto, um forte impacto social. O setor de moda íntima vem ganhando espaço representativo nesta cadeia. 1 Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: luciana.fornari@bol.com.br 2 Economista. Doutora em Teoria Econômica. Professora titular da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Feac) da Universidade de Passo Fundo. E-mail: moretto@upf.br
  • 2. 2 Garcia (2008) comenta que, com o passar dos tempos, a lingerie acompanhou as mudanças de comportamento e foi se adaptando ao cotidiano e, a partir do século XIX, a lingerie se tornou símbolo de sensualidade e luxo, feita a partir de tecidos finos e elegantes. Ghidin (2008) acrescenta que ocorreu grande inovação relacionada aos tecidos e às cores a partir dessa época e a fabricação de peças passou a incorporar ousadia. A lingerie, segundo ela, passou a ser vista como fonte de lucros, diversas marcas passaram a apostar no produto e obtiveram grandes lucros. No Brasil, atualmente, pode-se considerar a cidade de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, como sendo o pólo nacional de moda íntima. Nova Friburgo iniciou suas atividades neste ramo há muitos anos, e no passar do tempo aprimorou seus produtos e serviu de incentivo para outras regiões do país que também entraram para este setor produtivo. Além de Nova Friburgo, existem outros municípios e regiões que também possuem grande representatividade, como é o caso do município de Guaporé. Guaporé é um município do estado Rio Grande do Sul localizado no Planalto da Serra Geral. O município tem aproximadamente 22.800 habitantes, de origem predominantemente italiana. As indústrias, com destaque para o ramo joalheiro, metal-mecânico e têxtil, são a principal fonte de riqueza do município. O município conta com aproximadamente 1.700 empresas (IBGE, 2009), deste montante, de acordo com a Secretaria de Indústria e Comércio local, 91 são indústrias de lingerie, voltadas também para a moda praia e fitness. Este mercado se desenvolveu no início da década de 1990, sendo responsável, atualmente, por grande parte de sua geração de emprego e renda, com destaque estadual, nacional e inclusive abrangendo outros países da Europa e América. A combinação de elementos econômicos, políticos, sociais e institucionais conduz a processos dinâmicos e ao crescimento da produção, do emprego, da inovação, do progresso tecnológico e à elevação nos níveis de bem-estar de parcelas da população, a partir da expansão de micro, pequenas e médias empresas. O crescimento centra-se em um conjunto de relações criadas por atores econômicos locais, apoiados por sistemas institucionais voltados aos interesses e às necessidades das atividades desenvolvidas na região. Nesse contexto, o artigo tem como objetivo geral analisar a estrutura e as principais características econômicas do processo produtivo nas empresas da indústria de confecção de lingeries no município de Guaporé (RS). De cunho aplicado, o estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, segue a orientação dedutiva, com base em uma abordagem quantitativa. As técnicas de pesquisa adotadas possuem embasamento em pesquisas
  • 3. 3 bibliográficas e em pesquisa de levantamento, por meio de dados primários, no qual foi utilizado um formulário como instrumento de pesquisa. Com o propósito de cumprir com seus objetivos, o artigo trata da contribuição da economia institucional para o estudo do processo produtivo e contextualiza a produção de lingerie no âmbito da indústria de confecções têxtil do país. Em seguida, aborda sobre os métodos e técnicas adotados para a realização da análise dos dados e apresenta a análise dos resultados obtidos com a pesquisa aplicada. Por fim, traz as considerações finais. 2 A CONTRIBUIÇÃO DA ECONOMIA INSTITUCIONAL NA ANÁLISE DO PROCESSO PRODUTIVO A economia institucional parte do argumento desenvolvido por Williamson, segundo o qual “o ambiente institucional pode interferir significativamente nas formas pelas quais os agentes econômicos se relacionam e efetuam transações, com conseqüências sobre a estrutura e efetividade de um dado segmento” (VALLE et al., 2002, p.3). Hall e Soskice (2001) citados por Bronzo e Honório (2005, p. 10) definem instituições como “um conjunto de regras, formais e informais, seguidas pelos atores seja por razões normativas, cognitivas ou materiais”. As organizações são consideradas, pelos mesmos autores, como “entidades estáveis compostas por membros formalmente organizados, cujas regras também contribuem para as instituições de economia capitalista” (BRONZO; HONÓRIO, 2005, p. 10). Neste contexto, as interações estratégicas da firma utilizam estratégia corporativa, o que ocasiona visão ampla a respeito do comportamento das instituições econômicas no capitalismo contemporâneo. Existem, no entanto, alguns obstáculos inerentes à formação destes arranjos institucionais, os chamados custos de transação, os quais “exigem que se sejam viabilizadas condições mínimas para que os arranjos possam gozar de eficiência e funcionalidade” (VALLE et al. 2005, p. 3). Várias são as premissas que sustem o desenvolvimento da economia dos custos de transação. Devido à motivação de reduzi-los surgem as firmas, que depende das incertezas comportamentais e ambientais dos agentes, além da intensidade dos investimentos em ativos específicos. Os custos de transação avaliam qual o impacto do conhecimento das estruturas governamentais. Eles podem ser significativos a ponto de a empresa perceber vantagens em integrar todas as operações verticalmente, o que até então era obtido por meio de transações com outras empresas (WILLIAMSON, 1985; BARNEY, 1999 apud BRONZO; HONÓRIO, 2005 p.3).
  • 4. 4 Embora seja importante compreender de que forma as organizações criam e recriam vantagens competitivas a partir do controle de determinados recursos e ativos no interior dos seus limites de eficiência, é também importante considerar que a competitividade mostra-se quase sempre dependente da forma como as organizações gerenciam as suas estruturas de relacionamento interorganizacional, com repercussões nos custos de transação e nas economias de aprendizagem (BRONZO; HONÓRIO, 2005). A nova economia institucional tem contribuído na questão de saber como as organizações absorvem inovações, como aprendem e como se adaptam à elas, adotando novas abordagens que tentam entender o funcionamento das organizações, por meio de análises contratuais – economia dos custos de transação – ou como repositórios de recursos e competência – economia evolucionista3 (NOGUEIRA, 2001). Para os evolucionistas, comentam Bronzo e Honório (2005), a economia dos custos de transação representa um conjunto de teorias importantes nos estudos da firma e da estratégia organizacional, mas ainda falta ampliar o enfoque para além do aspecto contratual das transações. As correntes evolucionistas apresentam uma abordagem mais voltada para aspectos dinâmicos, fazendo com que considerem o conhecimento como o resultado da história da organização, ou de suas escolhas no sentido de adquirir determinadas competências. Trata-se, portanto, de um processo dependente do caminho percorrido e, de forma mais ampla, analisa aspectos dinâmicos da evolução das firmas (NOGUEIRA, 2001). A linguagem evolucionista ou desenvolvimentista tem sido muito usada por economistas para descrever como a estrutura de uma economia muda ao longo do tempo, tanto indivíduos como organizações são entidades que “aprendem” (TIGRE, 2005). O mesmo autor ressalta que a teoria evolucionista se distingue da neoclássica e da teoria da organização industrial, pois descarta hipóteses básicas do pensamento econômico convencional4. Neste sentido, identificam-se alguns fatores econômicos de importância para se entender o processo produtivo, para além da análise dos fatores de produção (trabalho e capital) e de sua 3 Para a escola evolucionista, por sua vez, as empresas possuem um conjunto de capacidades e de competências que se modificam ao longo do tempo, tanto pelos seus esforços na solução de problemas quanto em função de eventos inesperados que impulsionam a mudança. Assim, a teoria das capacidades dinâmicas da firma, como proposta em Teece, Pisano e Shuen (1997), citados por Bronzo e Honório (2005, p. 6) “integra-se à abordagem da teoria dos custos de transação, estabelecendo suas raízes em diferentes referências, como as de Schumpeter (1911), Penrose (1959), Williamson (1975), Nelson e Winter (1982), Prahalad e Hamel (1990)”. 4 Tigre (2005) argumenta que existem três princípios que se destacam para o entendimento da teoria neoclássica, o primeiro é que “a dinâmica econômica é baseada em inovações em produtos, processos e nas formas de organização da produção” (p. 17), o segundo “descarta a idéia de racionalidade invariante (ou substantiva) dos agentes econômicos” (p. 18), e o terceiro refere-se “à propriedade de auto-organização da firma, como resultado das flutuações do mercado” (p. 18).
  • 5. 5 produtividade. O tamanho da firma, o emprego da tecnologia e o modo como elas se organizam definem os processos organizacionais. As pequenas empresas no mundo atual são de grande importância, estão em grande concentração e são responsáveis por grande parcela dos empregos, uma grande vantagem que possuem é serem menos sensíveis às crises financeiras. Torrès e Julien (2005), citados por Souza e Mazzali (2008, p 593) identificam na literatura anglo-saxônica uma espécie de “paradigma orientador da pesquisa em pequenas empresas”, denominado por eles como “a tese da especificidade gerencial”. Nesse paradigma, o pequeno negócio é considerado uma entidade específica, com distinções das grandes empresas, com destaque para: “estrutura administrativa centralizada; estratégias intuitivas e de curto prazo; baixa especialização; simplicidade e informalidade do sistema de informação e atuação em mercados locais” (SOUZA, MAZZALI, 2008, p. 593). A existência continuada dessas empresas é explicada por alguns fatores, dentre eles “o fato de que o grande capital empresarial não brota do chão (sua oferta não é elástica); depende do crescimento do capital já existente. Assim, embora as pequenas empresas percam terreno continuamente, o processo é lento”. (STEINDL, 1945 apud SOUZA; MAZZALI, 2008 p. 594). O crescimento econômico se dá hoje pela crescente inovação tecnológica. Souza (1995) ressalta que o processo de industrialização não se deu no mundo todo ao mesmo tempo, processo esse marcado pelos feitos tecnológicos da época que proporcionaram melhoria e eficácia nas condições de trabalho. A tecnologia vem sendo peça fundamental para o crescimento das empresas nos mais diversos setores da economia, o que não é diferente para as indústrias de moda íntima. A tecnologia representa a capacidade de combinação de recursos para se produzir. A tecnologia torna o processo de industrialização e produção mais eficaz, consequentemente os produtos são de melhor qualidade, produzidos em maior quantidade reduzindo os custos, e assim, o preço final (PEREIRA; DATHEIN, 2011). Dunning (2007) citado por Pereira e Dathein (2011, p.10), comenta que a velocidade com que as transformações ocorrem é responsável pelo aceleramento do processo de aprendizagem, tanto dos indivíduos como das instituições, o que leva à redução de custos e tempo de mudanças. Segundo Enderle et al. (2005), as micro e pequenas empresas (MPEs) têm sua importância reconhecida no processo de acumulação de capital, porém, se faz necessário uma discussão acerca de como essas empresas podem auferir ganhos maiores e se tornarem mais competitivas. A aglomeração de empresas de uma determinada atividade tem sido uma forma encontrada para encarar tal situação.
  • 6. 6 Nos moldes marshallianos, como comentam Enderle et al. (2005, p. 237), a especialização causada pela aglomeração de indústrias num eixo comum possibilita às empresas eficiência organizacional, onde recursos são compartilhados entre as mesmas, proporcionando o desenvolvimento da indústria local. Normalmente a criação dos distritos indústrias se dá devido a fatores geográficos. Enderle et al. explicam que “as evidências indicam que não é o tamanho das pequenas empresas o que as prejudica, mas, sim, o fato de que essas empresas costumam operar sozinhas em ambientes cada vez mais competitivos”. (2005, p.237). Para estas aglomerações o determinante é a capacidade de alcançarem altos patamares de competitividade, esta, baseada na capacidade de gerar inovações (CASSIOLATO; LASTRES, 2003). 3 SETOR INDUSTRIAL E A PRODUÇÃO DE LINGERIE NO BRASIL A Indústria Têxtil e do Vestuário é uma das indústrias com grande representatividade na estrutura industrial nacional e possui um papel importante em termos de emprego e peso na economia nacional. De acordo com Vasconcelos (2006), com o fim das restrições quantitativas à entrada de produtos têxteis, a forte pressão competitiva criada pelas economias de mão-de-obra barata, a mudança no paradigma econômico, a modificação acelerada das preferências dos consumidores e a evolução da tecnologia, exige-se das empresas têxteis e do vestuário um novo grau de capacidade concorrencial e de flexibilidade tanto dos produtos, como dos processos produtivos e estruturas de gestão. O autor, ainda, destaca que a dinâmica da indústria é dada pelo mercado final onde a indústria de confecções aparece em destaque nos últimos anos. A competitividade do setor está intimamente relacionada com a eficiência verificada em cada um dos elos da cadeia produtiva e a qualidade final dos produtos está relacionada com a qualidade obtida em cada etapa. O setor caracteriza-se por incorporar tecnologia desenvolvida por outros setores, ou seja, os avanços tecnológicos no processo produtivo provêm dos avanços ocorridos na produção das matérias-primas e nas máquinas e equipamentos. As empresas são dependentes de investimento em modernização para aumentar a eficácia das operações industriais, reduzir os custos e assegurar a competitividade (VASCONCELOS, 2006). O setor têxtil e de confecções caracteriza-se por utilizar o fator capital de forma intensiva recorrendo a sistemas cada vez mais automatizados e de elevada tecnologia, porém, não podendo deixar de lado o fator trabalho para as operações que necessitam deste fator importante para o setor de modo geral. Coutinho e Ferraz (1993) destacam que o Brasil, devido ao processo de substituição de importações, foi o único país, além da Coréia, a ter capacidade produtiva em máquinas e
  • 7. 7 equipamentos ao setor têxtil. Os principais produtores se encontram em países industrializados, onde o ambiente é competitivo, sendo necessária a inovação para se manterem no mercado. De acordo com Simon e Carvalho (2009), o Brasil apresenta aglomerações setoriais importantes da indústria de confecção, sendo que, atualmente, as regiões Sul e Sudeste do país correspondem a 80% de toda a produção da indústria de confecção nacional. O aparecimento das indústrias de lingerie no Brasil teve seu início por volta do final da década de 1960, quando uma grande empresa de tecelagem de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, foi vendida para uma multinacional que deu início ao processo de fabricação de lingeries (O PÓLO..., 2011). Nos anos 1970, o país enfrentou forte crise econômica e muitas costureiras desta fábrica tiveram que ser demitidas, passando, a partir deste momento, a confeccionarem as peças em suas próprias casas, o que, por conseqüência, ocasionou o aparecimento de micro e pequenas empresas que se tornaram responsáveis pelo crescimento do setor na região (O PÓLO..., 2011). Já no ano de 1997, de acordo com a mesma fonte, foi criado o Pólo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região, o qual surgiu por meio de estudos sobre os Arranjos Produtivos Locais (APLs) para o desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro. Este projeto tem como objetivo capacitar os confeccionistas para que sejam competitivos tanto a nível nacional como internacional. Hoje, diversas regiões do país desenvolvem esta atividade, fortalecendo-a diante do mercado internacional e gerando empregos e renda, o que influencia diretamente nos resultados em nível de país. O estado do Rio de Janeiro, mais precisamente, Nova Friburgo, segue líder no ramo de confecção de lingerie no país. O pólo conta com cerca de 900 indústrias, gera mais de 20 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, e tem um faturamento anual por volta de R$ 600 milhões (O PÓLO..., 2011). Diversas localidades do país estão em forte crescimento na área, a região Nordeste brasileira já é considerada uma potência e, na serra gaúcha, o município de Guaporé ganha a segunda colocação em nível de país neste setor. O setor passou por diversas transformações no ambiente produtivo o que estabeleceu uma nova cultura. Essas transformações implicaram em mudanças na relação com a mão-de- obra, de forma a ampliar sua participação e envolvimento no processo de trabalho (COUTINHO; FERRAZ, 1993). Os mesmos autores destacam que este setor possui diversas limitações, ligadas à qualidade, onde a mesma só é observada no produto final, não passa por todos os processos de produção. Isso pode ocorrer devido à baixa participação das
  • 8. 8 exportações na produção total, tendo baixa interação com os mercados externos, normalmente mais exigentes, a evolução acontece de maneira retraída. O processo informal também ganha destaque neste setor, o qual contribui para a desarticulação da capacitação tecnológica, humana e gerencial das indústrias. Para Cacciamalli (1983) este setor é eficiente e lucrativo, mesmo tendo produção em menor escala e baixa inserção de tecnologia. Existe uma contínua diferenciação das atividades econômicas, e da organização da produção e do trabalho, da qualificação e do processo produtivo, o que significa “um processo de diferenciação de estrutura produtiva e dos atributos dos trabalhadores” (CACCIAMALI, 1983, p. 12). A concentração regional sugere a formação de pólos industriais. Isso faz com que a modernização tecnológica e gerencial das MPEs se promova. Para estas empresas, a atuação individual tende a dificultar o acesso à informações de mercado e tendências, e fontes competitivas de fornecimento de matéria-prima (COUTINHO; FERRAZ, 1993). No setor têxtil muitas são as tecnologias que podem ser inseridas no intuito de aperfeiçoar a produção de lingeries, sejam elas nos insumos e principalmente no maquinário e assessórios que envolvem a produção das peças. De acordo com notícia publicada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, [s.d.]), o setor têxtil no Brasil possui um dos maiores contingentes de maquinários instalados do mundo, mas isso, ao contrário do que parece, não significa que o país tenha grande representatividade nas exportações mundiais. Um estudo realizado pelo CGEE para a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) constatou que o setor precisa se adaptar à realidade da competitividade mundial para poder se manter e penetrar mais no mercado externo. De acordo com Kon e Coan (2005), a partir da década de 1990, a indústria têxtil passa por uma reestruturação onde ocorre uma abertura comercial e se intensifica a tecnologia utilizada. Ano também em que começaram a surgir as indústrias de confecção de lingerie no município de Guaporé. Um dos impactos observados com a abertura comercial foi o aumento do consumo por parte da população de baixa renda. Muitas empresas de tecidos planos foram levadas a falência, principalmente pelas importações da Ásia. Ao mesmo passo, estas empresas foram substituídas por fábricas de malhas de algodão, as quais tinham um investimento menor e o produto se tornaria mais barato. Segundo Haguenauer et al. (2001) citado por Kon e Coan (2005, p. 19), além de sua formação e evolução, a cadeia têxtil, por ser grande geradora de emprego e renda é protegida internacionalmente pela imposição de quotas quantitativas para os principais produtos, as
  • 9. 9 quais devem ser respeitadas por países exportadores, o que gera forte proteção aos mercados nacionais. O setor têxtil passou por grande modernização, pois precisou informatizar o processo produtivo, o que resultou no aumento de produtividade e de capacidade de produção. Porém, esta modernização acabou afetando os empregos gerados pelo setor, causando diminuição dos mesmos. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS O estudo aplicado parte da orientação dedutiva, a qual tem por objetivo explicar o conteúdo das premissas (GIL, 2002). Em relação à sua complexidade, utiliza-se da pesquisa descritiva e segue a abordagem quantitativa. Como técnicas, baseia-se na pesquisa bibliográfica e na pesquisa de levantamento. 4.1 Referencial Teórico Para atingir o objetivo do trabalho adota-se um esquema conceitual que utiliza os fatores básicos da teoria da firma (trabalho, capital, tecnologia e mercado) e amplia para novos conceitos da economia institucional (interação entre os agentes econômicos). No fator trabalho é feita uma análise do fator dentro da empresa, identificando-se os colaboradores chão-de-fábrica, onde se encaixam os colaboradores de forma geral, e em ciência e tecnologia, que abrange o setor de criação e desenvolvimento do produto. O objetivo desta análise é identificar as diferenças entre os setores e avaliar de que forma as empresas utilizam esse fator. Para cada um dos setores são analisadas algumas variáveis de controle dos sujeitos amostrais, como o gênero, para identificar qual a predominância do setor, que, como visto na revisão de literatura, se constitui em sua maioria por mulheres, a escolaridade, a remuneração, a jornada de trabalho, variáveis que podem interferir na produção da empresa, entre outras, como a origem dos trabalhadores. Busca-se identificar se o município oferece a mão-de-obra necessária e suficiente para o grande número de empresas ou se a tendência é que estas empresas busquem pessoal fora do município. Além destas duas categorias, dentro da empresa, é necessário analisar se as empresas adotam serviços terceirizados para poder suprir o volume de produção e qual o impacto que este setor gera. Outra categoria avaliada é o fator capital e inovação. Busca-se identificar como ocorre a tomada de decisão em nível de capital e de tecnologia. Ainda, examina-se se as empresas que recebem apoio de instituições e programas apresentam alguma alteração em sua
  • 10. 10 produção, como investimento em tecnologia, infra-estrutura de instalação, desenvolvimento do produto, pois nem todas as empresas possuem profissional específico para este setor. Na sequência, estuda-se o mercado da confecção de lingerie no qual as empresas estão inseridas, identificando a origem dos insumos e o destino dos produtos, em termos de abrangência. Nesse aspecto, avalia-se a existência de ligações entre as empresas, como apoios institucionais e compras coletivas, direcionados normalmente à redução de custos, organizações de feiras, entre outras. 4.2 Forma de Obtenção e Tratamento dos Dados A pesquisa de levantamento segue a amostragem probabilística e, em função da limitação do tempo para a pesquisa de campo, adota-se o erro tolerável de 10%. Fazem parte da população 91 empresas do setor de confecção de lingeries cadastradas na Prefeitura Municipal de Guaporé (RS), seguindo os critérios de planejamento e confiabilidade amostral, selecionadas aleatoriamente. O cálculo do tamanho mínimo da amostra com o ajuste para a população envolvida resultou em 48 empresas (BARBETTA, 2002). Para o levantamento das informações relativas ao modelo conceitual adotado, foi aplicado um formulário5, testado previamente, respondido pelo proprietário ou gestor das empresas selecionadas. Os mesmos foram consultados sobre a possibilidade em participar da pesquisa e sobre a confidencialidade das informações. Os dados coletados foram tabulados em planilhas do Software Excel e, após, tratados por meio do Software SPSS. Os resultados são apresentados por meio de estatística descritiva simples, como frequência absoluta e frequência relativa. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS A amostra selecionada foi composta por 48 empresas, às quais foi solicitado que os gestores respondessem ao formulário. Apenas duas empresas enquadram-se como de pequeno porte, o que corresponde a 4,2% do total da amostra, enquanto as demais são consideradas microempresas, representando 95,8% do total. Quanto ao enquadramento jurídico das empresas entrevistadas, 100% delas estão enquadradas como Sociedade Limitada. Em termos 5 Conforme definição Lakatos e Marconi (2003): Formulário: é um roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do pesquisado, este método permite que o entrevistador obtenha maiores informações junto ao entrevistado, facilitando com isso o entendimento das respostas e a interpretação dos resultados; Questionário: uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito, sem a presença do pesquisador, com o uso deste meio de coleta de dados o pesquisador corre o risco de não obter respostas qualificadas, causando danos à pesquisa.
  • 11. 11 do capital social das empresas, previsto em contrato, a maior freqüência das respostas ocorreu na faixa entre 10 e 20 mil reais; a média de 47 respondentes é de aproximadamente 35.850 mil reais. Quanto à forma de gestão, 64,5 % delas é familiar (dois ou mais membros da mesma família). Quanto ao tempo de atuação no mercado, observa-se que, das empresas entrevistadas, empresas de um a quatro anos de existência representam 50,0% do total da amostra, o que comprova que, micro e pequenas empresas possuem uma taxa elevada de natalidade no mercado. Em relação à participação das empresas no mercado, foi solicitado que os respondentes distribuíssem o montante de 100,0% para os mercados nos quais participam, no âmbito local, regional, nacional e internacional. Observa-se que apenas 12,5% das empresas não atuam no município, 27,1% destina-se totalmente ao mercado local. Quanto ao mercado regional, 90,0% não tem representatividade nenhuma, e no estado, esse índice chega a 60,0%. Em nível de país 45,0% das empresas não tem participação e o percentual de empresas com 40,0 a 50,0% de participação fica em torno de 27,0%. Internacionalmente a representatividade também é baixa, em torno de 90,0% das empresas não atuam no mercado internacional. Para avaliar o tamanho da empresa e a demanda pelo fator trabalho, buscou-se estimar a quantidade média de funcionários nestas empresas. Constatou-se que a grande maioria delas possui no máximo dez funcionários e há predominância do gênero feminino. A média para todas as empresas é de 11,8 funcionários, sendo que uma pequena minoria possui até quarenta funcionários e apenas uma empresa possui mais de 100 funcionários. A participação da mulher neste setor, segundo relato dos gestores, é fundamental, tanto pela sua atuação, por ter certa tendência a trabalhar com isso, quanto pela sua criatividade e cuidado com os pequenos detalhes, os quais são de grande importância no resultado. A remuneração dos colaboradores, ocorre de maneira tradicional, não diferenciando funcionários pela habilidade e competência e não oferecendo participação nos resultados, o que é uma característica das micro e pequenas empresas. 5.1 Caracterização do gestor Um dos focos do estudo foi identificar as principais características do gestor destas empresas. Em relação ao nível de escolarização do gestor,percebe-se que em sua grande maioria, mais precisamente 72,9% dos 48 analisados, possuem segundo grau ou ensino médio completo, seguidos de 16,7% com ensino superior completo e 6,3% com ensino superior incompleto.
  • 12. 12 A idade média encontrada dos gestores foi de 36 anos, sendo que a idade mínima é de 21 anos e a máxima é de 54 anos. Em relação ao gênero, contatou-se que 67,0% são gestoras contra apenas 33,0% de gestores homens. É visível que além da mulher estar mais presente na produção do lingerie, sua representatividade frente a estas empresas também é maior. Quadro 1– Distribuição da relação do gestor com o processo produtivo Relação do gestor com o processo produtivo Frequência absoluta Frequência relativa (%) Participação centralizada: realização de tarefas 37 77,1 múltiplas Gestão parcialmente descentralizada 5 10,4 Gestão descentralizada com estrutura formal de 6 12,5 cargos e funções Total 48 100,0 Fonte: primária. Buscou-se informações a respeito da participação do gestor no processo produtivo (Quadro 1), considerando que em micro e pequenas empresas é comum que o gestor participe de forma centralizada, atuando em diversos setores e realizando múltiplas tarefas. Identificou- se que 77,1% dos gestores participam de forma centralizada, ou seja, além de gerir é quem atua em nível comercial, atendendo fornecedores, clientes, realiza tarefas de banco, e inclusive diretamente no processo produtivo. Outros ainda têm sua participação parcialmente centralizada, estes correspondem a 10,4% da amostra e realizam atividades específicas dentro da empresa. Já 12,5% dos entrevistados relataram que a participação do gestor ocorre de forma descentralizada, ou seja, a empresa possui uma estrutura formal de cargos e funções, sendo assim, o gestor não participa de outras funções. Quando questionados quanto ao pró- labore ou remuneração, apenas 38 responderam, sendo que a média obtida foi de 1.523,68 reais, um valor que pode ser considerado baixo quando comparado com a remuneração média dos colaboradores. 5.2 Fator Trabalho Um primeiro questionamento da pesquisa tratou do recrutamento e seleção de novos funcionários, pois, como identificado anteriormente, uma das características da MPEs é realizar internamente este processo, devido à necessidade de conhecer e identificar se a pessoa é qualificada para o posto e ainda se pode migrar para outros. Pode-se confirmar que as empresas da amostra são responsáveis por este processo, o recrutamento e seleção feitos internamente correspondem a 89,6%, contra apenas 10,4% que realizam de forma terceirizada. Quando questionados sobre a capacitação observada no ingresso de novos funcionários, constatou-se que a experiência ou prática anterior são o atributo mais desejável,
  • 13. 13 representando 66,7% da amostra. A falta de mão-de-obra faz com que a maioria das empresas não exija cursos ou treinamentos antes da contratação. Ter conhecimento ou já ter trabalhado anteriormente na área bastam para que ele seja contratado. Para avaliar a divisão do trabalho no processo produtivo, foram indicadas como possíveis respostas as opções de realizada pelo gestor, acompanhada pelo gestor, controlada e avaliada pelo gestor e por fim, todas as alternativas. Observa-se que 56,3% responderam que realizam todas as alternativas, sua participação ocorre de maneira maciça; 22,9% responderam que a divisão do trabalho é controlada e avaliada pelo gestor, portanto, há quem o faça, o gestor avalia se é pertinente ou não, e 20,8% respondeu que a divisão é feita pelo gestor. Normalmente são os próprios gestores que realizam essa atividade por se tratarem, em sua maioria, de microempresas, onde ele é responsável pro toda a parte administrativa e os demais funcionários participam diretamente no processo produtivo. Conforme mencionado anteriormente, a análise do processo produtivo foi dividida em dois setores para uma melhor análise, sendo o primeiro o chão de fábrica, e o segundo criação e desenvolvimento do produto. Para o primeiro setor os dados obtidos estão relacionados a seguir. Vê-se que o número de mulheres presentes nas atividades ligadas diretamente ao processo produtivo é mais alto em relação ao número de homens devido a sua tendência natural de realizar esta atividade: 47,9% das empresas não possuem funcionários homens ligados ao processo produtivo. Quando observado o número de mulheres, em 100,0% das empresas há sua participação, sendo que, das empresas entrevistadas, a menor participação é de duas mulheres. Em termos da origem do fator trabalho, constatou-se que cerca de 80,0% das empresas utiliza mão-de-obra local. A participação regional ou de outras localidades ainda é baixa, mas esse número já vem crescendo em razão da falta de mais mão-de-obra no município. No que se refere ao nível de escolarização destes funcionários ligados diretamente ao processo produtivo, identificou-se que em sua maioria, 64,6%, tem segundo grau ou ensino médio incompleto, seguido de 33,3% de colaboradores com segundo grau ou ensino médio completo; o primeiro grau ou ensino fundamental completo representou apenas 2,1% dos entrevistados. Já a remuneração média dos funcionários que atuam no chão de fábrica é de 796,00 reais, variando de em torno de 600,00 até quase 1.000,00 reais. O absenteísmo dos funcionários em micro e pequenas empresas pode afetar em muito a sua produção. Estas faltas muitas vezes são explicadas pelos atestados médicos. A frequência de atestados nas empresas em questão pode ser considerada baixa, pois, quando questionado sobre a ocorrência de
  • 14. 14 atestados no último ano, 62,5% responderam que não ocorreu a apresentação de nenhum atestado. Além dos colaboradores ligados diretamente a produção do produto, outro setor de grande importância é o de criação e desenvolvimento do produto. Produtos inovadores, peças diferenciadas e acompanhando as tendências são o objetivo a ser alcançado pelos designers do produto. Algumas empresas possuem profissionais específicos para a tarefa dentro da própria empresa, já outras, contratam essa mão-de-obra terceirizada apenas para o desenvolvimento de suas coleções. Foi possível observar que, das empresas que responderam ao formulário, apenas uma possui funcionário do gênero masculino neste setor, ou seja, 2,1%, e que cinco, ou seja, em torno de 10,0%, possui mulheres. O baixo número de funcionários neste setor comprova que, para estas empresas, o custo de sua manutenção é elevado para esta área, normalmente contrata-se um terceiro para realizar esta tarefa. Observou-se que o nível de escolarização dos colaboradores da criação e desenvolvimento de produto é em sua maioria ensino superior completo. 5.3 Capital e Inovação Foi discutido anteriormente que micro e pequenas empresas normalmente utilizam recursos próprios para integrar ao capital da empresa, isso porque o acesso ao crédito para elas é mais difícil, devido à alta taxa de natalidade e mortalidade das mesmas. Pode-se observar que, em sua maioria, os recursos correspondem em parte a recursos próprios e em parte a financiamento, o que representa 54,2%. Empresas que tem seu capital integralmente de financiamento bancário representam 25,0%; 20,8% são as que utilizaram apenas recursos próprios. De outra parte, analisando-se o tipo de instalação física das empresas, observa-se que estão instaladas em prédio próprio, cedido ou locado: 66,7% das empresas estão instaladas em prédio próprio, contra 33,3% em prédio locado. Para estas empresas, basicamente microempresas, estar instalada em prédio próprio reduz bastante seus gastos mensais. Quadro 2 – Identificação do processo de confecção do produto Processo de confecção do produto Frequência absoluta Frequência relativa (%) Totalmente feito na empresa 35 74,5 Parte feito na empresa, parte terceirizado 10 21,3 Outro 2 4,3 Total 47 100,0 Fonte: primária. Quanto à confecção do produto (Quadro 2), observa-se que 74,5% respondeu que a produção é feita totalmente na empresa e 21,3% afirmou contratar serviço de terceiros para
  • 15. 15 uma parte da produção. A terceirização vem sendo utilizada por estas empresas para suprir a necessidade de aumento de produção. A competitividade é um fator que interfere diretamente nesta variável, pois para serem mais competitivas, precisam estar mais presentes no mercado, e uma das formas, é com um volume de produção elevado. A capacitação tecnológica pode ser mensurada por meio de indicadores como, por exemplo, o investimento em máquinas e equipamentos. Quando questionados sobre o investimento em tecnologia, 87, 5% responderam afirmativamente, sendo que, destas, 27,8% investiu 10 mil reais, poucas empresas investiram em mais de 100 mil reais, 5,6% apenas. Buscou-se, ainda, identificar a representatividade no custo de produção de alguns fatores, como, matéria-prima, marketing, equipamentos e tecnologia, mão-de-obra, infra- estrutura, desenvolvimento do produto e outros fatores. Com relação à participação da matéria-prima, nota-se que para 31,0% das empresas, este fator representa 30,0% de seus custos, seguido de 27,0% de empresas que indicam 50,0% de representatividade nos custos de produção; 4,2% não indicaram nenhuma quantidade percentual, e 4,2% indicaram 60,0% de representatividade. Em termos de marketing, evidenciou-se que 60,0% das empresas não atribui nenhum percentual de participação à empresa, seguida de 30,0% com 5,0% de participação, e 8,0% com representatividade de 10,0%. Já com relação aos equipamentos e tecnologia, 37,5% indicou nenhuma participação, seguida de 21,0% de empresas com 10,0% de participação nos custos. Em torno de 38,0% das empresas possuem de 15 a 30,0% de participação desse fator em seus custos de produção. 5.4 Mercado No que diz respeito aos insumos utilizados na fabricação dos produtos, foram apresentadas algumas opções de origem para que, da mesma forma que os custos, fossem apresentados em percentual de significância. Quanto à proporção municipal, identificou-se que 17,0% das empresas não utilizam este recurso, e em média 20,0% adquirem os insumos em sua totalidade no município. As proporções variam de 10 a 90,0%. Quanto a proporção estadual, identificou-se que menos de 20,0% utiliza este recurso. A participação estadual é muito baixa. O presente trabalho identificou anteriormente que nos arranjos setoriais normalmente ocorre cooperação entre as empresas, como compras conjuntas, visando minimização dos custos, organização de feiras e eventos, buscando maior concorrência nacional, entre outras. O que se identificou por meio da pesquisa de campo é que nas empresas entrevistadas desse setor essa cooperação não acontece: 77,0% das empresas não possuem nenhum tipo de
  • 16. 16 relação umas com as outras, e um número mínimo, em torno de 10,0% realiza compras conjuntas, e 10,0% planeja feiras de forma coletiva. Algumas empresas apresentam linhas de produção alternativas à principal, como forma melhorar a concorrência com as demais. Ao perguntar se a empresa possuía linha alternativa, 75,0% das empresas respondeu que não possui e apenas 25,0% respondeu afirmativamente. Todas as empresas possuem sistema interno de controle de qualidade. A produção é destinada em média 71,0% para atacado e varejo. O restante das empresas destina sua produção apenas para o varejo. Nessa direção, as empresas entrevistadas responderam à pergunta sobre qual o foco principal da empresa observado no momento da oferta do produto. Preço e qualidade obtiveram 27,1% das respostas, e 20,8% disseram que ambos os quesitos são o foco. Em seguida, a diferenciação do produto possui maior relevância. Pode-se concluir com isso que 75,0% das empresas recaem seu foco principal para preço e/ou qualidade. A produção média é de aproximadamente 600 peças. Algumas empresas que possuem número maior de funcionários acabam produzindo uma quantidade maior de peças. Mensalmente, em média, a produção é de 15.000 peças. Sabe-se que as empresas em geral enfrentam diversas dificuldades em seu dia-a-dia, independente de localização ou porte, as dificuldades enfrentadas são diversas. Pode-se observar pela pesquisa que dois são os fatores que mais interferem nas empresas do setor de lingerie em Guaporé: a concorrência direta, com 31,3% lidera, seguida da falta de mão-de- obra, com 27,1%. Além destes, 14,6% dos entrevistados responderam que os dois pontos juntos interferem de forma expressiva no setor. A falta de profissionais no mercado afeta diretamente na produção das empresas. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A emergência do segmento industrial de confecções de lingerie de Guaporé (RS) resultou da interação entre as condições locais e as mudanças ocorridas nos processos econômicos, históricos e sociais. Foi um processo espontâneo e involuntário de industrialização, que teve como base um conjunto de condições locais, nacionais e internacionais, tendo seu início em meio à abertura comercial ocorrida na década de 1990. A pesquisa de campo permitiu evidenciar aspectos comuns a realidade da maior parte das micro e pequenas empresas do país. A média de funcionários registrados por empresa é 12, sendo que a moda atingida é de até 10 funcionários. Se analisado individualmente, pode-
  • 17. 17 se constatar que o número de empresas que possuem até quatro (4) funcionários é o mais encontrado. Destes, em sua maioria são mulheres, as quais predominam neste mercado. Quanto às características que envolvem o gestor foi possível identificar que a maioria deles possui grau de escolarização médio, com o segundo grau ou ensino médio completo. A idade média observada foi de 35 anos. Quando analisado o gênero dos gestores, comprovou- se que cerca de dois terços são mulheres, o que mais uma vez comprova a importância da mulher na dinâmica produtiva local. A participação dos gestores na indústria é centralizada, ou seja, os gestores realizam múltiplas tarefas na empresa, participando inclusive do processo de produção, isso se dá devido ao número reduzido de funcionários encontrado nestas empresas. O fator trabalho e sua estrutura é um dos pontos de maior importância observado. Foi possível identificar algumas características do setor em particular, como por exemplo, constatou-se que noventa por cento das empresas são responsáveis pelo recrutamento e seleção, ou seja, conhecer o profissional que está sendo selecionado. Identificou-se, também ,que no momento em que a empresa escolhe seus novos funcionários, a capacidade observada é se o mesmo possui experiência ou prática anterior, ou seja, é preferível que o candidato já tenha atuado na área do que ele possua treinamento e qualificação. A divisão do trabalho recebe total participação do gestor, tanto para distribuição como para o acompanhamento da sua realização. A escolarização média dos funcionários das empresas pesquisadas é segundo grau ou ensino médio incompleto e a remuneração que recebem está na faixa de 795,00 reais. Observa-se que a terceirização tem sido um recurso utilizado por parte das empresas de maior parte. Com relação às características ligadas ao capital e inovação, constatou-se que a fonte dos recursos das empresas vem de recursos próprios e financiamentos. Atenta-se aqui para a literatura que fala que o acesso ao crédito é dificultado para este tipo de empresa, por isso parte do recurso vêm do proprietário e isso pode explicar também o baixo valor investido, apresentado no capital social da empresa. A maioria das empresas está instalada em prédio próprio, isso se torna possível pela escala reduzida de produção. Quanto aos custos de produção, a mão-de-obra é sinalizada como a principal. Constatou-se que, em sua maioria, os insumos de produção são adquiridos no próprio município, o que mostra que o setor desdobra outras atividades que se relacionam entre si, como o comércio de tecidos e aviamentos. Um ponto importante, que diverge de questões apresentadas na literatura recente, diz respeito à relação entre as empresas do setor pesquisado. A presença de formas de interação e de cooperação, que caracterizariam um aglomerado industrial, sobretudo se composto por
  • 18. 18 micro e pequenas empresas, não foi evidenciada. Acredita-se que isso possa ocorrer devido à forte concorrência enfrentada por elas, já que atuam tanto para atacado como para varejo, o mercado é o mesmo, além da própria restrição em termos de mão-de-obra especializada. As evidências apontadas corroboram para o conhecimento das diversas micro e pequenas empresas que compõe o setor de confecção têxtil do país e sinalizam a importância de se aprofundar estudos no sentido de ampliar as possibilidades de cooperação entre as empresas, buscando mecanismos de fortalecimento do setor no mercado. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO - ABIT. Economia. São Paulo, 2011. Disponível em: http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=8&id_sub=23&idioma=PT Acesso em 12 ago. 2011. BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 5. ed. Florianópolis: Ed. Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. BRONZO, Marcelo; HONÓRIO, Luiz. O institucionalismo e a abordagem das interações estratégicas da firma. RAE Eletrônica, FGV, São Paulo, v.4, n. 1, São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/raeel/v4n1/v4n1a08.pdf Acesso em 19 nov. 2011. CACCIAMALI, Maria Cristina. Setor Informal Urbano e Formas de Participação na Produção. Doutorado em Teoria Econômica (Tese). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. – São Paulo: Ed. IPE, Série Ensaios Econômicos, n.26, 1983. Disponível em: http://www.econ.fea.usp.br/cacciamali/setor_informal_urbano_e_formas_de_participacao_na _producao_3-6.pdf Acesso em 23 set. 2011. CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CGEE. Setor têxtil e de confecções deve investir em gestão. Disponível em: http://www.cgee.org.br/noticias/viewBoletim.php?in_news=749&boletim= Acesso em 8 jun. 2011. COUTINHO, Luciano G.; FERRAZ, João Carlos (Coord.). Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira: Competitividade do Complexo Têxtil. Campinas: Ministério da Ciência e Tecnologia – MTC/Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP/Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT, 1993. Disponível em: www.cipedya.com/web/FileDownload.aspx?IDFile=148772 Acesso em: 27 nov. 2011. ENDERLE; Rogério; et al. A gênese da organização industrial localizada e seu papel contemporâneo na inserção das micro e pequenas empresas. Revista de Negócios, FURB, v. 10, n. 4, 2005. Disponível em http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rn/article/viewArticle/240. Acesso em 12 out. 2011. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (FEE). PIB Municipal RS 2008. Disponível em:
  • 19. 19 http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/estatisticas/pg_pib_municipal_destaques.php Acesso em 23 ago 2011. GARCIA, Cláudia. A História das Roupas de Baixo Femininas. Disponível em: http://almanaque.folha.uol.com.br/lingerie.htm Acesso em 24 abr. 2011. GHIDIN, Marilise Fátima. Estudo Sobre Controle da Qualidade no Processo Produtivo do Lingerie. Disponível em: http://www.modavestuario.com/mariliseghidin.pdf Acesso em 22 abr. 2011. GORINI, Ana Paula Fontenelle; MARTINS, Renato Francisco. Novas tecnologias e organização do trabalho no setor têxtil: uma avaliação do Programa de financiamentos do x. Revista BNDES, n.10, dez. 1998. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhec imento/revista/rev1011.pdf Acesso em 20 set. 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E CIÊNCIA (IBGE). IBGE Cidades. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=430940 Acesso em 08 nov. 2011. INSTITUTO EUVALDO LODI – IEL; CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA – CNA; SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE. Análise da eficiência econômica e da competitividade da cadeia têxtil brasileira. Brasília: Instituto Estadual do Livro, 2000. INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL - IEMI. Estudo do Mercado Potencial – 2011. Disponível em: http://www.iemi.com.br/biblioteca/estudos-do-mercado- potencial/moda-intima/ Acesso em 20 out. 2011. KÖHLER, Carl. História do Vestuário. 2 ed. São Paulo: Martins fontes, 2001. KON, Anita; COAN, Durval Calegari. Transformações na indústria têxtil brasileira: a transição para a modernização. Revista de Economia Mackenzie , v. 3, n. 3 p, 11-34, 2005. Disponível em: http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/rem/article/viewFile/774/461 Acesso em 15 out. 2011. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. MENDES, René; CAMPOS, Ana Cristina Castro. Saúde e Segurança no Trabalho Informal: Desafios e Oportunidades para a Indústria Brasileira. Revista Brasileira de Medicina no Trabalho, Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 209-223, jul./set.- 2004. Disponível em: http://sstmpe.fundacentro.gov.br/Anexo/SST_no_trabalho_informal.pdf Acesso em: 23 set. 2011. NOGUEIRA, Antonio Carlos Lima. Conhecimento nas Organizações: evolução das abordagens econômicas, 2001. Disponível em: http://pensa.org.br/artigos- congressos/conhecimento-nas-organizacoes-evolucao-das-abordagens-economicas/ Acesso em 1 nov. 2011. PEREIRA, Adriano José; DATHEIN, Ricardo. Processo de aprendizado, acumulação de conhecimento e sistemas de inovação: A “co-evolução das tecnologias físicas e sociais” como
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