SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 31
Descargar para leer sin conexión
VALTER T. MOTTA
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Enzimas
Volume
9
ENZIMAS
s enzimas são proteínas com propriedades
catalisadoras sobre as reações que ocorrem
nos sistemas biológicos. Elas tem um elevado grau
de especificidade sobre seus substratos acelerando
reações específicas sem serem alteradas ou con-
sumidas durante o processo. O estudo das enzimas
tem imensa importância clínica. Em algumas do-
enças as atividades de certas enzimas são medi-
das, principalmente, no plasma sangüíneo, eritró -
citos ou tecidos. Todas as enzimas presentes no
corpo humano s ão sintetizadas intracelularmente.
Três casos se destacam:
Enzimas plasma-específicas. Enzimas ativas
no plasma utilizadas no mecanismo de coagulação
sangüínea e fibrinólise. Ex.: pró -coagulantes:
trombina, fator XII, fator X e outros.
Enzimas secretadas. São secretadas gera l-
mente na forma inativa e após ativação atuam em
locais extracelulares. Os exemplos mais óbvios
são as proteases ou hidrolases produzidas no sis-
tema digestório. Ex.: lipase, α-amilase, tripsino-
gênio, fosfatase ácida prostática e antígeno pros-
tático específico. Muitas são encontradas no san-
gue.
Enzimas celulares. Normalmente apresentam
baixos teores séricos, mas os níveis aumentam
quando são liberadas a partir de tecidos lesados
por alguma doença. Isto permite inferir a localiza-
ção e a natureza das variações patológicas em
alguns órgãos, tais como: fígado, pâncreas e mi o-
cárdio. A elevação da atividade sérica depende do
conteúdo de enzima do tecido envolvido, da ex-
tensão e do tipo de necrose. São exemplos de e n-
zimas celulares as transaminases, lactato desidro-
genases etc.
As meias -vidas das enzimas teciduais após
liberação no plasma apresentam grande variabili-
dade – nos casos de enzimas medidas com propó-
sitos diagnósticos e prognósticos, podem variar
desde algumas horas até semanas. Em condições
normais as atividades enzimáticas permanecem
constantes, refletindo o equilíbrio entre estes pro-
cessos. Modificações nos níveis de atividade e n-
zimática ocorrem em situações onde este balanço
é alterado.
As elevações na atividade enzimática são devi-
das:
Aumento na liberação de enzimas para o
plasma é conseqüência de:
§ Lesão celular extensa, as lesões celulares são
geralmente causadas por isquemia ou toxinas
celulares, por exemplo: na elevação da ativ i-
dade da isoenzima CK-MB após infarto do
miocárdio.
§ Proliferação celular e aumento na renovação
celular, por exemplo: aumentos na fosfatase
alcalina pela elevação da atividade osteoblás-
tica durante o crescimento ou restauração ó s-
sea após fraturas.
§ Aumento na síntese enzimática, por exemplo:
marcada elevação na atividade da γ-glutamil
transferase após a ingestão de álcool.
§ Obstrução de ductos – afeta as enzimas nor-
malmente encontradas nas secreções exócri-
nas, por exemplo: a amilase e a lipase no suco
pancreático. Estas enzimas podem regurgitar
para a corrente circulatória se o ducto pancre -
ático-biliar estiver bloqueado.
A
92 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Redução da remoção de enzimas do
plasma devido à insuficiência renal. Afeta
as enzimas excretadas na urina, por exemplo: a
amilase pode estar elevada na insuficiência renal.
A redução nos níveis de atividade enzimática
são menos comuns e ocorrem na:
§ Síntese enzimática reduzida, por exemplo:
colinesterase baixa na insuficiência hepática
severa pela redução do número de hepatócitos.
§ Deficiência congênita de enzimas, por exe m-
plo: baixa atividade da enzima fosfatase alc a-
lina plasmática na hipofosfatasemia congênita.
§ Variantes enzimáticas inerentes com baixa
atividade biológica, por exemplo, variantes
anormais da colinesterase.
A utilidade diagnóstica da medida das enzimas
plasmáticas reside no fato que as alterações em
suas atividades fornecem indicadores sensíveis de
lesão ou proliferação celular. Estas modificações
ajudam a detectar e, em alguns casos, localizar a
lesão tecidual, monitorar o tratamento e o pro-
gresso da doença. No entanto, muitas vezes falta
especificidade, isto é, existem dificuldades em
relacionar a atividade enzimática aumentada com
os tecidos lesados. Isto porque as enzimas não
estão confinadas a tecidos ou orgãos específicos,
pois estão grandemente distrib uídas e suas ativ i-
dades podem refletir desordens envolvendo vários
tecidos.
Na prática, a falta de especificidade é parc i-
almente superada pela medida de vários parâme-
tros (que incluem várias enzimas). Como as con-
centrações relativas das enzimas variam consid e-
ravelmente em diferentes tecidos, é possível, pelo
menos em parte, identificar a origem de algumas
enzimas. Por exemplo, apesar das enzimas
transaminases ALT (GTP) e AST (GOT) serem
igualmente abundantes no tecido hepático, a AST
(GOT) apresenta concentração 20 vezes maior que
a ALT (GTP) no músculo cardíaco. A determin a-
ção simultânea das duas enzimas fornece uma
clara indicação da provável localização da lesão
tecidual. A especificidade enzimática pode tam-
bém ser aumentada pela análise das formas isoen-
zimáticas de algumas enzimas como na lactato
desidrogenase.
A seleção de quais enzimas medir com propó-
sitos diagnósticos e prognósticos depende de vá-
rios fatores. As principais enzimas de uso clínico,
juntamente com seus tecidos de origem e aplica-
ções clínicas são listadas na tabela 9.1.
Tabela 9.1 Distribuição de algumas enzimas de importância diagnóstica
Enzima Principal fonte Principais aplicações clínicas
Amilase Glândulas salivares, pâncreas, ovários Enfermidade pancreática
Aminotransferases (transa-
minases)
Fígado, músculo esquelético, coração, rim,
eritrócitos
Doenças do parênquima hepático, infarto do
miocárdio, doença muscular
Antígeno prostático específico Próstata Carcinoma de próstata
Creatina quinase Músculo esquelético, cérebr o, coração, músculo
liso
Infarto do miocárdio, enfermidades
musculares
Fosfatase ácida Próstata, eritrócitos Carcinoma da próstata
Fosfatase alcalina Fígado, osso, mucosa intestinal, placenta, rim Doenças ósseas, enfermidades hepáticas
γ-Glutamiltransferase Fígado, rim Enfermidade hepatobiliar, alcoolismo
Lactato desidrogenase Coração, fígado, músculo esquelético, eritró-
citos, plaquetas, nódulos linfáticos
Infarto do miocárdio, hemólise, doenças do
parênquima hepático
Lipase Pâncreas Enfermidade pancreática
Enzimas 93
AMILASE
amilase é uma enzima da classe das hidrolases que
catalisa o desdobramento do amido e glicogênio
ingeridos na dieta. O amido é a forma de
armazenamento para a glicose nos vegetais, sendo
constituído por uma mistura de amilose (amido não-
ramificado) e amilopectina (amido ramificado). A
estrutura do glicogênio é similar ao da amilopectina,
com maior número de ramificações. A α-amilase
catalisa a hidrólise das ligações α-l, 4 da amilose,
amilopectina e glicogênio, liberando maltose e
isomaltose. Não hidrolisa as ligações α-1,6.
A amilase sérica é secretada, fundamental-
mente, pelas glândulas salivares (forma S) e cé-
lulas acinares do pâncreas (forma P). É secretada
no trato intestinal por meio do ducto pancreático.
As glândulas salivares secretam a amilase que
inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos
na boca e esôfago. Esta ação é desativada pelo
conteúdo ácido do estômago. No intestino, a ação
da amilase pancreática é favorecida pelo meio
alcalino presente no duodeno. A atividade amilá-
sica é também encontrada no sêmem, testículos,
ovários, tubos de Fallopio, músculo estriado, pul-
mões e tecido adiposo. A amilase tem massa mo-
lecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, fa-
cilmente, filtrada pelo glomérulo renal.
HIPERAMILASEMIA
Pancreatite aguda. Constitui um distúrbio i n-
flamatório agudo do pâncreas associado a edema,
intumescência e quantidades variadas de autodis-
gestão, necrose e, em alguns casos, hemorragia.
Os níveis de amilasemia aumentam após 2 -12 h do
início do episódio de dor abdominal que é cons-
tante, intenso e de localização epigástrica com
irradiação posterior para o dorso. A atividade
amilásica retorna ao normal entre o terceiro e o
quarto dia. Os valores máximos são quatro a seis
vezes maiores do que os valores de referência e
são atingidos entre 12-72 h. A magnitude da ele-
vação não se correlaciona com a severidade do
envolvimento pancreático. Por outro lado, 20% de
todos os casos de pancreatite apresentam amilase
normal (ex.: muitas pancreatites associadas com
hiperlipemia). Outros testes laboratoriais, como a
medida da amilase urinária, depuração da amilase,
avaliação das isoenzimas da amilase e a medida da
lipase sérica, quando empregados em conjunto
com a avaliação da amilasemia, aumentam consi-
deravelmente a especificidade no diagnóstico da
pancreatite aguda. Apesar de menor utilidade no
diagnóstico da pancreatite, a amilase urinária está
freqüentemente aumentada, atingindo valores mais
elevados e que persistem por períodos maiores.
Além da determinação da amilasemia outros sinais
freqüentes são utilizados para avaliar a pancre atite
aguda:
§ No momento do diagnóstico: contagem de
leucócitos >16.000/mm3
; glicemia >200
mg/dL; lactato desidrogenase >2 x normal;
ALT (GTP) > 6 x normal.
§ Durante as primeiras 48 horas: diminuição do
hematócrito >10%; cálcio sérico <8 mg/dL;
pO2 arterial <60 mm/Hg.
Outras causas de hiperamilasemia pancre-
ática:
§ Complicações da pancreatite aguda, tais
como: pseudocisto complicadas por
hemorragia, ascites e efusão pleural.
§ Lesões traumáticas do pâncreas, incluindo
trauma cirúrgico e investigações radiográficas.
§ Carcinoma de pâncreas, com obstrução dos
ductos pancreáticos.
§ Abscesso pancreático, onde a amilasemia au-
menta ocasionalmente.
Hiperamilasemia não-pancreática:
§ Insuficiência renal por declínio da depuração.
Os aumentos são proporcionais à extensão do
comprometimento renal.
A
94 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
§ Neoplasias de pulmão e ovário.
§ Síndrome de Meigs (associação de ascite, efu-
são pleural e fibro ma de ovário).
§ Lesões das glândulas salivares, caxumba ou
cirurgia maxilofacial.
§ Macroamilasemia, encontradas em 1-2% da
população como resultado da combinação da
molécula de amilase com imunoglobulinas
(IgA e IgG) ou outras proteínas plasmáticas
normais o u anormais para formar um complexo
muito grande para ser filtrado pelo glomérulo;
neste evento não ocorre amilasúria aumentada
e não indica doença.
Hiperamilasemia por desordens de origem
complexa. Com mecanismos desconhecidos ou
incertos:
§ Doença do trato biliar como a colecistite
aguda com aumentos de até quatro vezes os
valores de referência .
§ Eventos intra -abdominais (não pancreáticos)
tais como: úlcera péptica perfurada, obstrução
intestinal, infarto mesentérico, peritonite,
apendicite aguda, gravidez ectópica rompida,
aneurismas aórticos e oclusão mesentérica.
§ Trauma cerebral, a causa da elevação é
incerta, mas pode estar associada com trauma
das glâ ndulas salivares e/ou abdominais; isto é ,
dependente de outros órgãos atingidos.
§ Queimaduras e choques tra umáticos.
§ Hipermilasemia pós-operatória, ocorre em
20% dos pacientes submetidos a intervenções
cirúrgicas – incluindo procedimentos extra -ab-
dominais.
§ Cetoacidose diabética,a hiperamilasemia está
presente em 80% destes pacientes sendo mais
freqüente quando os teores de glicemia são
>500 mg/dL (a fonte de amilase é incerta).
§ Transplante renal, um quinto dos transplanta-
dos renais apresentam hiperamilasemia.
§ Alcoolismo agudo.
§ Pneumonia e enfermidades não-neoplásicas.
§ Drogas (opiatos, heroína) por constrição d o
esfíncter de Oddi e ductos pancreáticos, com a
conseqüente elevação da pressão intraductal,
provocando regurgitação da amilase para o
soro.
AMILASE URINÁRIA
A hiperamilasúria reflete as elevações séricas da
amilase. A atividade da amilase urinária é deter-
minada em amostras de urina de uma hora (nestes
casos o paciente deve esvaziar completamente a
bexiga e desprezar esta urina; todas as urinas c o-
lhidas na hora seguinte são reservadas) ou de 24
horas. Na pancreatite aguda a reabsorção tubular
da amilase está reduzida, provavelmente secundá-
ria a competição com outras proteínas de baixa
massa molecular. A hiperamilasúria ocorre tam-
bém em quase todas as situações que elevam a
amilase sérica.
DEPURAÇÃO DA AMILASE
A relação·entre a depuração renal da amilase e a
depuração da creatinina é útil no diagnóstico dife-
rencial da pancreatite aguda. Nesta patologia, a
depuração renal da amilase é, geralmente, maior
do que a depuração da creatinina causando eleva-
ção na relação. O mecanismo responsável por este
aumento na depuração é, em parte, atribuído a um
distúrbio na reabsorção tubular da amilase (e de
outras proteínas de baixa massa molecular) na
pancreatite aguda. A fórmula empregada para a
depuração é:
%100
(mg/dL)urinanacreat.soronoAmilase
(mg/dL)soronocreat.(U/dL)urinanaAmilase
=×
×
×
Enzimas 95
As determinações de amilase e creatinina séricas
são realizadas em amostras obtidas ao mesmo
tempo da coleta de urina. A comparação das duas
depurações permite corrigir as alterações na velo-
cidade de filtração glomerular, condição esta tam-
bém encontrada na insuficiência renal severa.
Normalmente, os valores da relação variam
entre 1 a 4%, enquanto na pancreatite aguda, fre-
qüentemente, estão entre 7 e 15%. No entanto,
esta relação não é específica, pois apresenta ele-
vações na cetoacidose diabética, queimaduras
extensas, perfuração duodenal, mieloma, circula-
ção extracorpórea e grandes doses intravenosas de
corticoesteróides. A relação é normalizada após a
atividade da amilase no sangue e urina voltarem
aos valores de referência. O cálculo desta relação
permite diferenciar a macroamilasemia de outras
causas de hiperamilasemia. Em função do tama-
nho do complexo de macroamilase sua depuração
renal é reduzida, fornecendo em valores abaixo de
1%.
DETERMINAÇÃO DA AMILASE
Paciente. Não é exigida preparação especial.
Amostra. Soro sem hemólise e não-lipêmico. A
atividade amilásica necessita de cálcio e cloretos
como cofatores. Assim, anticoagulantes quelantes
como o citrato, oxalato e EDTA são impróprios
para estas amo stras. Urina colhida no período de 1
h ou no período de 24 h sem conservantes. A
amilase é uma enzima bastante estável. No soro e
urina (livre de contaminação bacteriana) a amilase
é estável por uma semana em temperatura amb i-
ente ou por vários meses sob refrigeração.
Interferentes. Resultados falsamente aumenta-
dos: ácido aminossalicílico, ácido etacrínico,
grandes quantidades de etanol, aspirina, analgés i-
cos narcóticos, anticoncepcionais orais, colinérg i-
cos, contrastes radiográficos, corticoesteróides,
pancreozimina, furosemida, rifampina e tiazídicos.
Resultados falsamente reduzidos: glicose e fluore-
tos.
Métodos. A amilase é determinada por diferentes
métodos. Os principais são: sacarogênicos, amilo-
clásticos, cromolíticos e técnicas de monitoração
contínua.
Amiloclásticos (Iodométricos). A avaliação
amiloclástica (iodométrica) está baseada na capa-
cidade do iodo formar cor azul intensa com o
amido. Após a ação da amilase sobre um substrato
de amido em tempo determinado, a cor azul é
medida fornecendo a quantidade de polissacarídio
remanescente. O método de Van Loon modificado
por Caraway além de empregar um substrato rela -
tivamente estável é eficiente e rápido.
Sacarogênicos. Nestes métodos, o substrato de
polissacarídio é hidrolizado pela ação da ami lase
com formação de monossacarídios e dissacarídios.
O dissacarídio (maltose) forma glicose pela ação
de uma maltase. A quantidade de glicose produ-
zida indica a atividade amilásica. As unidades
Somogyi obtidas neste método expressam o nú-
mero de mg de glicose liberada após incubação. A
quantidade de glicose já existente na amostra deve
ser considerada ao empregar estes métodos. É
bastante empregado em automação.
Ensaios cromolíticos. Utilizam um substrato
de amido ligado a um corante, formando um com-
plexo insolúvel. Após a ação da amilase são pro-
duzidos pequenos fragmentos de corante-substrato
solúveis em água medidos fotometricamente. Este
método é facilmente automatizado.
Monitoração contínua. Sistemas enzimáticos-
acoplados são empregados para determinar a ati-
vidade enzimática por técnica de monitoração
contínua na modificação na absorvância do NAD+
medida em 340 nm.
Outros métodos. Raramente empregados para
este propósito são os métodos turbidimétricos,
nefelométricos e de polarização fluorescente.
Valores de referência para a amilase
Soro de adultos 60 a 160 U/dL (Somogyi)
Urina
1500 a 1800 U/d (Somogyi)
ou 70-275 U/h
Líquido duodenal
50.000 a 80.000 Ud/L
(Somogyi)
96 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Bibliografia consultada
CARAWAY, W.T. A stable starch substrate for the
determ i nation of amylase in serum and other body fluids.
Am. J. Clin. Pathol., 32:97-9, 1959.
VAN LOON, E.J., LIKINS, M.R., SEGER, A. J. Photometric
method for blood amylase by use of starch-iodine color.
Am. J. Clin. Path., 22:1134-6, 1952.
WONG, E.C.C., BUTCH, A. W., ROSENBLUM, J.L. et al.
The clinical chemistry laboratory and acute pancreatitis.
Clin. Chem., 39:234-43, 1993.
Enzimas 97
LIPASE E TRIPSINA
lipase é uma enzima altamente específica que
catalisa a hidrólise dos ésteres de glic erol de
ácidos graxos de cadeia longa (triglicerídios) em
presença de sais biliares e um cofator chamado
colipase. As ligações éster, nos átomos de carbono
1 e 3 são preferentemente rompidas, produzindo
dois mol de ácidos graxos de cadeia longa e um
mol de 2-acilmonoglicerídio por mol de
triglicerídio hidrolizado. Tanto a lipase como a
colipase são sintetizadas pelas células acinares do
pâncreas. A lipase também é encontrada na mu -
cosa intestinal, leucócitos, células do tecido adi-
poso, língua e leite.
HIPERLIPASEMIA
A medida da atividade da lipase no soro, plasma,
líquido ascítico e pleural, é usada exclusivamente
para o diagnóstico de desordens pancreáticas,
geralmente, pancreatite aguda. Os níveis de lipase
são normais nos casos de envolvimento de glâ n-
dulas salivares.
Pancreatite aguda. A atividade da lipase au-
menta entre 4 a 8 horas, após o início do quadro
atingindo o pico máximo em 24 horas. Os valores
voltam ao normal entre 8 e 14 dias. Os aumentos
da lipase geralmente são paralelo s àqueles da
amilase, entretanto, tais aumentos podem ocorrer
antes ou após as elevações da amilase. Na pancre-
atite aguda pode-se encontrar normoamilasemia
em 20% dos pacientes (em casos de hiperlipemia)
mas com hiperlipasemia. A atividade lipásica não
é necessariamente proporcional à severidade do
ataque.
Complicações da pancreatite aguda. A pan-
creatite aguda pode produzir líquido ascítico ou
líquido pleural, ou ambos. Acima de 50% dos
pacientes com pancreatite aguda severa desenvol-
vem pseudocisto, cuja presença é supeitada
quando não há melhora clínica em uma semana
após o ataque. Metade dos pacientes com pseudo-
cisto mostram elevações na lipase sérica.
Pancreatite crônica. A lipase sérica também é
utilizada no diagnóstico da pancreatite crônica;
apesar da destruição das células acinares nos últ i-
mos estágios da enfermidade resulta em diminui-
ção na quantidade da enzima na circulação.
Desordens intra-abdominais agudas. As
vezes o diagnóstico da pancreatite é dificultado
por outras desordens intra -abdominais com acha-
dos clínicos similares: úlceras duodenais ou gás-
tricas perfuradas, obstrução intestinal mesenté-
rica e colecistite aguda.
Enfermidade renal aguda ou crônica. Nestes
casos o aumento da atividade lipásica não é tão
freqüente nem tão pronunciada como a atividade
da amilase.
Obstrução do ducto pancreático. A obstru-
ção do ducto pancreático por cálculo ou carcinoma
de pâncreas pode elevar a atividade da lipase sé-
rica, dependendo da localização da obstrução e a
quantidade de tecido lesado.
DETERMI NAÇÃO DA LIPASE
Paciente. Não é exigido cuidados especiais.
Amostra. Soro isento de hemólise. É estável por
uma semana no refrigerador ou por vários meses a
-20 0
C.
Interferentes. Resultados falsamente aumenta-
dos: codeína, heparina, morfina, betanecol, colan-
giopan-creatografia retrógrada endoscópica.
Métodos. Essencial para a compreensão da me-
todologia usada na avaliação da lipase é o fato
desta enzima atuar na interface éster-água. Deste
modo, os substratos para o ensaio devem ser
emulsões. A velocidade de reação aumenta com a
A
98 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
dispersão da emulsão. O emprego de substratos
onde a interface éster-água é inapropriada, per-
mite a ação de outras enzimas, tais como: éster
carboxílico hidrolase, aril-éster hidrolase e lipase
lipoprotéica. Substratos que empregam triglicerí-
dios de ácidos graxos de cadeia curta, também
permitem falsas reações lipásicas.
Titulometria. Os primeiros métodos práticos
para a medida da lipase empregavam uma emulsão
tamponada de azeite de oliva como substrato. O
soro a ser testado era incubado por 24 h com o
substrato e os ácidos graxos liberados eram titula-
dos com hidróxido de sódio a 0,05 M, usando a
fenolftaleína como indicador.
Turbidimetria ou nefelometria. São métodos
simples e rápidos que monitoram a redução da
turvação de uma emulsão de azeite de oliva como
resultado da ação da lipase sobre o substrato.
Enzimáticos. A lipase hidroliza o substrato
contendo triglicerídios produzindo glicerol livre
que é quantificado por diferentes métodos.
Valores de referência para a lipase
Adultos 0,1 a 1,0 Ud Cherry-Crandall ou
28 a 280 U/L (internacionais)
TRIPSINA
A tripsina é uma enzima proteolítica produzida no
pâncreas, na forma precursora de tripsinogênio
inativo. O tripsinogênio é convertido em tripsina
no duodeno pela enteroquinase. A ativação do
tripsinogênio no duodeno, em lugar de intra -pan-
creática, evita a autodisgestão proteolítica do pân-
creas. A tripsina está presente nas fezes de crian-
ças pequenas, com redução dos teores em crianças
maiores e em adultos, em virtude da destruição da
tripsina por bactérias intestinais. A ausência de
tripsina nas fezes é encontrada em pacientes com
insuficiência pancreática, fibrose cística (avan-
çada), má absorção em crianças, e pancreatite
(crônica).
Bibliografia consultada
CALBREATH, Donald F., CIULLA, Anna P. Clinical
c hemistry. 2 ed. Philadelphia : Saunders, 1991. 468 p.
CHERRY, I.S., CRANDALL Jr., L. A. The specificity of
pancreatic lipase: Its appearance in the blood after
pancreatic injury. Am. J. Physiol., 100:266-73, 1932.
CLAVIEN, P. A., BURGAN, S., MOOSSA, A. R. Serum
enzymes and other laboratory tests in acute pancreatitis.
Br. J. Surg., 76:1234-43, 1989.
FASSATI, P., PONTI, M., PARIS, P. et al. Kinetic
colorimetric assay of lipase in seru m. Clin. Chem,
3 8 :211-5, 1992.
KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA,
Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry:
interpretation and technoques. Baltimore : Williams &
Wilkins, 1995. 514 p.
KUROOKA, S., KITAMURA, T. Properties of serum lipase i n
patients with various pancreatic diseases. J. Biochem.,
8 4 :1459-66, 1978.
REITZ, B., GUIBAULT, G. G. Fluorometric method for
m e asuring serum lipase activity. Clin. Chem., 21:1788-
90, 1975.
TIETZ, N. W., ASTLES, J.R., SHUEY, D.F. Lipase activity
measurement in serum by a continuos-monitoring pH-
stat technique - an– update. Clin. Chem., 35:1688-93,
1989.
Enzimas 99
FOSFATASE ALCALINA
fosfatase alcalina (FA) pertence a um grupo
de enzimas relativamente inespecíficas, que
catalisam a hidrólise de vários fosfomonoésteres
em pH alcalino. O pH ótimo da reação in vitro
está ao redor de 10, mas depende da natureza e
concentração do substrato empregado.
A fosfatase alcalina está amplamente distribu-
ída nos tecidos humanos, notadamente na mucosa
intestinal, fígado (canalículos biliares), túbulos
renais, baço, ossos (osteoblastos) e placenta. A
forma predominante no soro em adultos normais
origina-se, principalmente, do fígado e esqueleto.
Apesar da exata função metabólica da enzima ser
desconhecida, parece estar associada com o trans-
porte lipídico no intestino e com processos de
calcificação óssea.
No fígado, a fosfatase alcalina está localizada
na membrana celular que une a borda sinusoidal
das células parenquimais aos canalículos biliares.
Nos ossos a atividade da fosfatase alcalina está
confinada aos osteoblastos onde ocorre a forma-
ção óssea.
HIPERFOSFATASEMIA ALCALINA
Obstrução intrahepática. Como a fosfatase
alcalina está localizada nas membranas de reves-
timento dos canalículos biliares, e enzima está
elevada nas desordens do trato biliar. Pelo imp e-
dimento do fluxo biliar, a FA sérica atinge 2-3
vezes os valores de referência (podendo chegar a
10-15 vezes), dependendo do grau de estase biliar.
Estes aumentos são devidos, fundamentalmente,
ao: (a) incremento na síntese da enzima, (b) reten-
ção de ácidos biliares no fígado, que solubilizam a
fosfatase alcalina e a removem da membrana
plasmática dos hepatócitos, e (c) regurgitação da
enzima para a circulação pelo impedimento da
excreção. As elevações ocorrem em:
§ Lesões expansivas, carcinoma hepatocelular
primário, metástases, abscessos e granuloma .
§ Hepatite viral e cirrose, apresentam pequenas
elevações nos níveis séricos da FA.
§ Outras desordens, mononucleose in fecciosa,
colangite e cirrose portal.
Obstrução extrahepática. A atividade eleva 3
a 10 vezes os valores de referência na obstrução
parcial ou total do colédoco. Encontrados nos
cálculos biliares e câncer de cabeça de pâncreas.
Enfermidades ósseas. Aumentos na atividade
da FA ocorrem em pacientes com doenças ósseas
caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica.
§ Doença de Paget (osteíte deformante), como
resultado da ação das células osteoblásticas na
tentativa de reconstrução óssea que está sendo
reabsorvida pela atividade não-controlada dos
osteoclastos. A FA atinge de 10 a 25 vezes o
limite superor dos valores de referência.
§ Osteomalácia e raquitismo, apresentam peque-
nos aumentos (2 a 4 vezes) de FA, que
declinam após terapia com vitamina D.
§ Hiperparatireoidismo primário e secundário,
incrementos pequenos de FA refletem a pre-
sença e a extensão do envolvimento ósseo.
§ Tumores ósseos osteoblásticos primários ou
secundários, com valores bastante elevados.
§ Fraturas ósseas, pequenos aumentos de FA.
§ Outras desordens, pancreatite aguda e crônica,
insuficiência renal crônica, septicemia ex-
trahepática, infecções bacterianas intra -abdo-
minais, síndrome de Fanconi, tirotoxicose e hi-
perfosfatemia transiente benigna em cria nças.
Algumas drogas como: cloropromazina, estro -
gênios e progesterona.
A
100 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Gravidez. Aumentos da FA de 2-3 vezes são
observados no terceiro trimestre de gravidez; a
enzima adicional é de origem placentária. Au-
mentos ou reduções inexplicáveis da FA, predi-
zem complicações na gravidez, tais como, hiper-
tensão ou pré-eclampsia.
ISOENZIMAS DA FOSFATASE ALCALINA
As principais isoenzimas da fosfatase alcalina
encontradas no soro são provenientes do fígado,
ossos, intestino e placenta. Apresentam consid e-
rável heterogeneidade inter e intratecidual, sendo
seu estudo um indicativo da origem da elevação.
Podem também ser encontradas outras isoenzimas
patológicas, como a de Regan e Nagao, presentes
em processos neoplásticos. Os métodos emprega-
dos na separação estão baseados nas propriedades
físicas e químicas das isoenzimas: inibição quí-
mica, técnicas imunológicas, eletroforese e inati-
vação térmica.
DETERMINAÇÃO DA FOSFATASE
ALCALINA
Paciente. Deve permanecer em jejum por 8 h
antes d a coleta.
Amostra. Soro ou plasma heparinizado. Evitar
hemólise, pois os eritrócitos contém, aproxima-
damente, seis vezes mais fosfatase alcalina que o
soro. O ensaio deve ser realizado logo que possí-
vel após a coleta; em algumas horas a fosfatase
aumenta de 3 a 10% a 25 0
C. Os valores podem
estar 25% mais elevados após a ingestão de refe i-
ção rica em gorduras.
Interferências. Resultados falsamente elevados:
são encontrados em pacientes submetidos a trata-
mento com paracetamol, aspirina, agentes anti-
fúngicos, barbitúricos, difenilhidantoína, morfina,
anti-concepcionais orais e tiazidas.
Métodos. Como o substrato natural da fosfatase
alcalina é desconhecido, foram propostas várias
substâncias que o substituem na avaliação da ati-
vidade desta enzima. Deste modo, várias metodo-
logias foram propostas com o emprego de dife-
rentes substratos.
ββ-Glicerofosfato. Os primeiros ensaios publi-
cados quantificavam a liberação do fosfato inor-
gânico do substrato β-glicerolfosfato, após a ação
da enzima presente na amostra. Estes métodos
foram abandonados pela pouca sensibilidade e
prolongado período de incubação.
P-Nitrofenilfosfato. A atividade da enzima é
medida pela quantidade de fenol liberado do p-
nitrofenilfosfato após incubação com o soro, pos-
teriormente avaliado por diferentes métodos.
4-Nitrofenilfosfato. É o substrato mais usado
atualmente na avaliação da fosfatase alcalina. É
medido o produto liberado após a hidrólise, o 4-
nitrofenóxido que é proporcional à atividade da
fosfatase alcalina. A modificação proposta por
Bowers e McComb é a mais empregada atual-
mente.
αα-Naftol monofosfato. Mede a velocidade de
formação de α-naftol a 340 nm após incubação.
Valores de referência para a fosfatase alcalina
(4-nitrofenilfosfato – Bowers)
Adultos 20 a 105 U/L
Crianças de 0 a 3 meses 70 a 220 U/L
Crianças de 3 meses a 10 anos 60 a 150 U/L
Jovens de 10 a 15 anos 60 a 260 U/L
Bibliografia consultada
BELFIELD, A., GOLDBERG, D. M. Inhibition of the
nucleotidase effect os alkaline phosphatase by β -
glycerophosphate. Nature, 291:73-5, 1968.
BOWERS Jr., G.N., McCOMB, R.B. Measurement of total
alkaline phosphatase activity in human serum. Clin.
Chem., 26:1988-95, 1975.
KOAY, Evelyn S. C., WALMSLEY, Noel. A primer of
c hemical pathology. Singapore : World Scientific, 1996.
396 p.
POSEN, S., DOHERTY, E. Serum alkaline phosphatase in
clinical medicine. Adv. Clin. Chem., 22:163-245, 1981.
PRICE, C. P. Multiple forms of human serum alkaline
phosphatase: detection and quantitation. Ann. Clin.
Biochem., 30:355-72, 1993.
Enzimas 101
FOSFATASE ÁCIDA TOTAL E FRAÇÃO PROSTÁTICA
termo fosfatase ácida (FAC) designa um
grupo heterogênio não-específico de fosfata-
ses que exibem pH ótimo entre 4,5 e 7, e catali-
sam a hidrólise de monoéster ortofosfórico produ-
zindo um álcool e um grupo fosfato. A fosfatase
ácida é amplamente distribuída nos tecidos. A
maior atividade é encontrada na glândula prostá-
tica (1000 vezes maior que em outros tecidos),
células osteoblásticas do osso, fígado, b aço, rins,
eritrócitos e plaquetas. Em homens adultos, a
próstata contribui com quase a metade da enzima
presente no soro.
Em indivíduos do sexo masculino, a fração
prostática representa em torno de 50% da fosfa -
tase ácida total, sendo o restante provenie nte do
fígado e de desintegração das plaquetas e eritró-
citos. Para o sexo feminino é proveniente do fí -
gado, eritrócitos e plaquetas. Os níveis de fosfa -
tase ácida no soro apresentam importância clínica
no diagnóstico e monitorização do câncer prostá-
tico, em especial pelo emprego da fração prostá-
tica da fosfatase (FACP).
HIPERFOSFATESEMIA ÁCI DA
Carcinoma prostático. A principal finalidade
da determinação da fosfatase ácida prostática é o
diagnóstico e a monitorização do câncer prostá-
tico, particularmente, da forma metastisada. O
carcinoma prostático atinge principalmente ho-
mens acima de 50 anos e é classificado em quatro
estágios A, B, C e D (ver tabela 4.2) com relação
também as elevações do antígeno prostático esp e-
cífico (Ver marcadores tumorais). As elevações da
FAC prostática são encontradas ao redor de 60%
dos homens com câncer metastático da próstata
(estágio D). No entanto, enquando o câncer per-
manece localizado na glândula são encontrados
valores normais ou levemente aumentados da ati-
vidade da enzima.
Hipertrofia prostática benigna (HPB). É uma
ocorrência relativamente comum em homens
acima de 40 anos. O aumento da atividade é
possível pela regurgitação da enzima no soro por
compressão ou obstrução do sistema ductal pros-
tático como resultado da hipertrofia glandular. O
diagnóstico é realizado através de questionários
de sintomas, toque retal, dosagem de PSA, fluxo -
metria e estudo de fluxo de pressão. A etiopatoge-
nia da HPB ainda não está adequadamente escla -
recida.
Após cirurgia ou terapia anti -androgênica.
Os níveis vagarosamente retornam ao normal ou
com o subseqüente aumento caso o tratamento não
tenha obtido sucesso.
Palpação retal. A fosfatase ácida prostática no
soro, raramente eleva após a palpação. Entretanto,
elevações transitórias podem ocorrer após biópsia
da próstata, cistoscopia, infarto prostático (cau-
sado pelo ato de cateterização) e a bastante rara,
ruptura de cisto prostático.
Outros aumentos da fosfatase ácida total.
Pequenas a moderadas elevações são encontradas,
freqüentemente, nas enfermidades ósseas associa-
das aos osteoclastos: enfermidade de Paget (avan-
çada), hiperparatireoidismo com envolvimento
esquelético, invasão maligna do câncer de seio,
anemia hemolítica, anemia megaloblástica, mono-
nucleose, prostatite, policitemia vera, leucemia
mielocítica (e outras enfermidades hematológi-
cas), mieloma múltiplo, enfermidade de Niemann-
Pick e enfermidade de Gaucher (deficiência da
enzima glicerocerebrosidase).
DETERMI NAÇÃO DA FOSFATASE ÁCIDA
Paciente. Não é exigido preparo especial.
Amostra. Soro ou plasma heparinizado isento de
hemólise e não lipêmicos. Separar o soro ou
plasma dos eritrócitos logo que possível. A en-
zima é estabilizada na amostra por acidificação
(pH ao redor de 5,4). Isto é conseguido pela adi-
ção de 50 µL de ácido acético 5 mol/L (alternati-
O
102 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
vamente, juntar 10 mg de citrato dissódico monoi-
drato por mL de soro). Nestas condições a ativi-
dade enzimática é mantida por várias horas em
temperatura ambiente ou por uma semana no re -
frigerador.
Interferentes. Resultados falsamente aumenta-
dos: clofibrato. Resultados falsamente reduzidos:
etanol e estrogênio -terapia para o carcinoma de
próstata.
Métodos. Vários métodos foram desenvolvidos
para avaliar a atividade da fosfatase ácida. Devido
a importância da detectação do carcinoma prostá-
tico antes de metastizar, esforços tem sido reali-
zados no aumento da sensibilidade e especifici-
dade das medidas da enzima.
Primeiros métodos. Historicamente, muitos dos
ensaios desenvolvidos para medir a atividade da
fosfatase alcalina foram adaptados para a fosfa -
tase ácida utilizando os mesmos substratos mas
utilizando um tampão ácido.
O emprego do fenilfosfato em pH 4,9 é uma
modificação do método de King-Armstrong para a
fosfatase alcalina. Outras adaptações foram reali-
zadas com o β-glicerolfosfato ou 4-nitrofenilfos-
fato.
Timolftaleína monofosfato. É um substrato
auto-indicador com alto grau de especificidade
para a FACP. A timolftaleína liberada após a ação
da fosfatase, desenvolve cor em meio alcalino.
Fosfatases ácidas provenientes de outros tecidos,
reagem em grau bem menor com este substrato.
Este método é freqüentemente usado.
Inibição pelo L -tartarato. A inibição química
diferencia a fração prostática pelo uso de L-tarta-
rato. A fosfatase ácida total é determinada por
métodos correntes (são utilizados o 4 -nitrofosfato
ou α-naftil fosfato como substrato) e, em seguida,
a fração prostática é inibida pelo L-tartarato com
nova determinação da fosfatase ácida. A fração
prostática é calculada pela diferença entre as duas
determinações. Esta medida não é totalmente es -
pecífica para a FACP já que outras isoenzimas
mostram diferentes graus de inibição pelo L-tarta-
rato.
αα-Naftol fosfato. Os métodos que empregam o
α-naftol fosfato como substrato liberam o naftol –
pela ação da fosfastase ácida – que reage com o
Fast Red TR para formar um produto colorido.
Pouco usado atualmente.
Enzima imunoensaio. Os métodos imunológi-
cos estão ganhando força, principalmente na a u-
tomação, por sua especificidade para a FACP. Um
anticorpo monoclonal ligado a um suporte sólido
une-se a FAC prostática. Um segundo anticorpo
conjugado a uma enzima (ALP ou peroxidase)
liga-se a fosfatase ácida prostática; a a tividade da
enzima ligada é proporcional aos teores de FACP.
Outros métodos. Radioimunoensaio, cinética
fluoremétrica.
Valores de referência para a fosfastase ácida
prostática (Roy)
Adultos 0,5 a 1,9 U/L
Bibliografia consultada
BODANSKY, O. Acid phosphatase. Adv. Clin. Chem.,
1 5 :44-136, 1972.
CATALONA, W. J., SMITH, D. S., RATLIFF, T. L. et al.
Measurement of prostate-specific antigen in serum as a
screening test for prostate cancer. N. Engl. J. Med.,
324:1156-61, 1991.
CHAN, D. W. AND SOKOLL L. J. Prostate-specific Antigen:
Advances and Challenges. Clin Chem. 45:755-756, 1999.
EWEN, L. M., SPITZER, R. W. Improved determination of
prostatic acid phosphatase (sodium thymolphthalein
m onophsopahte substrate). Clin. Chem., 22:627-32,
1976.
MAYNE, Philip D., DAY, Andrew P. Workbook of clinical
chemistry: case presentation and data interpretation.
New York : Oxford University Press, 1994. 208 p.
ROY, A. V., BROWER, M.E. HAYDEN, J.E. Sodium
thymol phthalein monophosphato: A new acid
phosphatase substrate with gre ater specificity for the
prostatic a nzyme in serum. Clin. Chem., 17:1093-102,
1971.
TOWNSEND, R. M. Enzyme tests in disease of the
prost ate. Ann. Clin. Lab. Sci., 7:254-61, 1977.
Enzimas 103
Tabela 9.2. Classificação clínica do câncer prostático
Grau
clínico
Descrição, histologia e resultados do exame digital retal
e outros exames
Freqüência da
elevação da fosfatase
ácida prostática
Freqüência de
elevação do
PSA
A1 Microscópico, não palpável clinicamente com focos menores do
que 5% do tecido examinado
11% 67%
A2 Microscópico, não palpável clinicamente; com muitas áreas de
mais de5%
B1 Palpável, tumor macroscópico ≤1,5 cm de diâmetro em um
único lobo
22% 73%
B2 Palpável, tumor macroscópico >1,5 cm de diâmetro ou vários
nódulos em ambos os lobos
C1 Tumor com e xtensão extracapsular mas ainda clinicamente
localizado, palpável, estendendo -se até a vesícula seminal mas
ainda não fixado à parede pélvica
39% 80%
C2 Tumor com extensão extracapsular mas ainda clinicamente
localizado, palpável estendendo -se na vesícula seminal mas
fixado na parede pélvica
D1 Tumor metastático demonstrável limitado três nódulos pélvicos
ou menos
58% 88%
D2 Tumor metastático demonstrável com nódulos mais extensos ou
metástase extrapélvica (ex.: aos ossos)
Enzimas 104
AMINOTRANSFERASES (TRANSAMINASES)
s enzimas aspartato aminotransferase, AST
(transaminase glutâmica-oxalacética, GOT) e
alanina aminotransferase, ALT (transaminase
glutâmica-pinúvica, GPT) catalisam a transferê n-
cia reversível dos gru pos amino de um aminoácido
para o α-cetoglutarato, formando cetoácido e
ácido glutâmico. Estas reações requerem piridoxal
fosfato como coenzima:
Aspartato + α-cetoglutarato D oxalacetato + ácido glutâmico
Alanina + α-cetoglutarato D piruvato + ácido glutâmico
As reações catalisadas pelas aminotransferases
(transaminases) exercem papéis centrais tanto na
síntese como na degradação de aminoácidos. Além
disso, como estas reações envolvem a interconver-
são dos aminoácidos a piruvato ou ácidos dicarb o-
xílicos, atuam como uma ponte entre o metabo-
lismo dos aminoácidos e carboidratos.
As aminotransferases estão amplamente distri-
buídas nos tecidos humanos. As atividades mais
elevadas de AST (GOT) encontram-se no mio-
cárdio, fígado, músculo esquelético, com peque-
nas quantidades nos rins, pâncreas, baço, cérebro,
pulmões e eritrócitos.
AUMENTOS DAS AMINOTRANSFERASES
Desordens hepatocelulares. A AST (GOT) e
a ALT (TGP) são enzimas intracelulares presentes
em grandes quantidades no citoplasma dos hepa-
tócitos. Lesões ou destruição das células hepáticas
liberam estas enzimas para a circulação. A ALT
(GPT) é encontrada principalmente no citoplasma
do hepatócito, enquanto 80% da AST(GOT) está
presente na mitocôndria. Esta diferença tem auxi-
liado no diagnóstico e prognóstico de doenças
hepáticas. Em dano hepatocelular leve a forma
predominante no soro é citoplasmática, enquanto
em lesões graves há liberação da enzima mi-
tocondrial, elevando a relação AST/ALT.
§ Hepatite aguda. Os níveis de aminotransfera-
ses séricas elevam-se uma a duas semanas a n-
tes do início dos sintomas. Os aumentos podem
atingir até 100 vezes os limites superiores dos
valores de referência, apesar de níveis entre 20
e 50 vezes, serem os mais encontrados. As
atividades máximas ocorrem entre o 7 e 120
dia; declinando entre a terceira e quinta se-
mana, logo após o desaparecimento dos sinto-
mas. Na fase aguda da hepatite viral ou tóxica,
a ALT (GPT), geralmente, apresenta atividade
maior que a AST (GOT). A relação AST/ALT é
menor que 1. Geralmente, se encontram hiper-
bilirrubinemia e bilirrubinúria com pequena
elevação dos teores séricos da fosfatase alca-
lina.
§ Cirrose hepática. São detectados níveis até
cinco vezes os limites superiores dos valores
de referência, dependendo das condições do
progresso da destruição celular; nestes casos, a
atividade da AST (GOT) é maior que a ALT
(GTP). A disfunção hepatocelular provoca a
síntese prejudicada da albumina, além do pro -
longamento do tempo de protrombina, hiperbi-
lirrubinemia, teores de amônia elevadas e ure -
mia baixa. Aumentos das aminotransferases
semelhantes aos encontrados na cirrose, são
freqüentes na colestase extrahepática, carci-
noma de fígado, após ingestão de álcool, du-
rante o “delirium tremens” e após administra-
ção de certas drogas, tais como, opiatos, sali-
cilatos ou ampicilina. A relação AST/ALT
freqüentemente é ma ior que 1.
§ Mononucleose infecciosa. Pode ocorrer eleva-
ções de até 20 vezes os valores de referência,
com o envolvimento hepático.
§ Colestase extra -hepática aguda. Entre as vá-
rias causas estão: retenção de cálculos biliares,
carcinoma de cabeça de pâncreas e tumor dos
ductos biliares.
Infarto do miocárdio. Ao redor de 6 a 8 horas
após o infarto do miocárdio, a atividade sérica da
AST (GOT) começa a elevar, atingindo o pico
A
Enzimas 105
máximo (20 a 200 U/mL) entre 18 e 24 horas e,
progressivamente, retornando aos valores de refe-
rência ao redor do 5 0
dia. A AST (GOT) não altera
na angina pectoris, pericardite e enfermidade vas-
cular miocárdica.
Distrofia muscular progressiva e dermato-
miosite. Elevações de 4-8 vezes da AST (GOT)
e, ocasionalmente, da ALT (GPT), são encontra-
dos. Em geral, estão normais em outras enfermi-
dades musculares, especialmente as de origem
neurogênica.
Embolia pulmonar. Aumento de 2-3 vezes o
normal.
Pancreatite aguda. Provoca aumentos mode-
rados de duas a cinco vezes o normal.
Insuficiência cardíaca congestiva. Os níveis
de AST podem estar aumentados em graus de leve
a moderado, provavelmente, refletindo a necrose
hepática secundária ao suprimento sangüíneo in a-
dequado do fígado.
Outras desordens. A AST (GOT) apresenta
pequenos aumentos na gangrena, esmagamento
muscular, enfermidade hemolíticas, distrofia
muscular progressiva, dermatomiosite, colangite
(inflamação dos ductos biliares) e infecção por
parasitas.
DETERMINAÇÃO DAS TRANSAMINASES
Paciente: Não necessita cuidados especiais.
Amostra. Soro isento de hemólise, pois a ativ i-
dade das aminotransferases é maior nos eritróci-
tos. A atividade da enzima permanece inalterada
por 24 horas em temperatura ambiente e mais de
uma semana sob refrigeração.
Interferentes. Valores falsamente aumentados:
paracetamol, ampicilina, agentes anestésicos,
cloranfenicol, codeína, cumarínicos, dife nilhi-
dantoína, etanol, isoniazida, morfina, anticoncep-
cionais orais, sulfonamidas e tiazidas.
Métodos. Alguns métodos utilizados para a d e-
terminação da atividade das aminotransferases
baseiam-se na formação de cor entre o piruvato ou
oxaloacetato e a dinitrofenilhidrazina para formar
as hidrazonas correspondentes. A alcalinização da
mistura desenvolve cor proporcional à conversão
dos cetoácidos à hidroxiácidos. A dinitrofenilh i-
drazina também reage com o α-cetoglutarato pro-
vocando interferências. Estes métodos são obso-
letos.
Monitorização contínua. O piruvato ou oxalo-
acetato formados pela ação das aminotransferases
são acoplados a uma segunda reação onde o piru-
vato (pela ação da ALT) ou oxaloacetato (pela
ação da AST) são reduzidos pela NADH em rea-
ção catalisada pela lactato d esidrogenase (para a
ALT) ou malato desidrogenase (para a AST). A
transformação da NADH por oxidação à NAD+
é
monitorada em 340 nm. É adicionado piridoxal 5’-
fosfato para suplementar o teor de coenzima no
soro e assim desenvolver atividade máxima. Este
princípio é utilizado na tecnologia de química
seca (DT Vitros).
Valores de referência a 37 o C (U/L)
AST (GOT): 5 a 34
ALT (GTP): 6 a 37
Bibliografia consultada
BRUNS, D., SAVORY, J., TITHERADGE, A. et al.
Evaluati on of the IFCC-recommended procedure for
serum a spartate aminotransferase as modified for use
with the centrifugal analyzer. Clin. Chem., 27:156-9,
1981.
COHEN, J. A., KAPLAN, M. M. The SGOT/SGPT ratio na
indicador of alcoholic liver disease. Dig. Dis. Sci.,
2 4 :835-8, 1979.
KARMEN, S. A note on the spectrophotometric assay of
g l u t a m i c-oxalacetic transaminase in human bloodserum.
J. Clin. Invest., 34:131-3, 1955.
REITMAN, S., FRANKEL, S.A. A colorimetric method for the
determination of serum glutamic oxalacetic and glutamic
piruvic transaminases. Am. J. Clin. Path., 28:57-63,
1957.
106 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
GAMA-GLUTAMILTRANSFERASE
γ-glutamiltransferase (γ-GT) catalisa a trans-
ferência de um grupo γ-glutamil de um peptí-
dio para outro peptídio ou para um aminoácido
produzindo aminoácidos γ-glutamil e cistenil-
glicina. Está envolvida no transporte de aminoáci-
dos e peptídios através das membranas celulares,
na síntese protéica e na regulação dos níveis de
glutatião tecidual. A γ-GT é encontrada no fígado,
rim, intestino, próstata, pâncreas, cérebro e cora-
ção.
AUMENTOS NA ATIVIDADE DA γ-GT
Apesar da atividade enzimática ser maior no rim,
a enzima presente no soro é de origem, principal-
mente, do sistema hepatobiliar. No f ígado, a γ-GT
está localizada nos canalículos das células hepáti-
cas e, particularmente, nas células epiteliais que
revestem os ductos biliares. Deste modo, o princi-
pal valor clínico na avaliação da γ-GT é no estudo
das desordens hepatobiliares. O grau de elevação
é útil no diagnóstico diferencial entre as desor-
dens hepáticas e do trato biliar.
Obstrução intra-hepática e extra -hepática.
São observados os maiores aumentos (5-30 vezes
os limites superiores dos valores de referência)
nas colestases do trato biliar – processo patoló -
gico primário da cirrose biliar, colestase intra -
hepática e obstrução biliar extra -hepática. A γ-GT
é mais sensível e duradoura que a fosfatase alca-
lina, as transaminases e a nucleotidase, na
detectação de icterícia obstrutiva, colangite e
colecistite. Além disso, a γ-GT é útil na diferenci-
ação da fonte de elevação da fosfatase alcalina – a
γ-GT apresenta valores normais nas desordens
ósseas e durante a gravidez. A γ-GT é particular-
mente importante na avaliação do envolvimento
hepatobiliar em adolescentes, pois a atividade da
fosfatase alcalina está elevada durante o cresci-
mento ósseo.
Nas doenças hepatocelulares incluem também a
elevação das transaminases, bilirrubinas, tempo de
protrombina prolongado e hipoalbuminemia.
Enfermidades hepáticas induzidas pelo
álcool. A liberação da γ-GT no soro reflete os
efeitos tóxicos do álcool e drogas (ex.: fenitoína)
sobre as estruturas microssomiais das células h e-
páticas. A γ-GT é um indicador do alcoolismo,
particularmente, da forma ocult a. Em geral, as
elevações enzimáticas nos alcoólatras variam e n-
tre 2-3 vezes os valores de referência. Por outro
lado, a ingestão de álcool em ocasiões sociais não
aumenta, significativamente, a γ-GT. Estes en-
s aios são úteis no acompanhamento dos efeitos da
abstenção do álcool. Nestes casos, os níveis vol-
tam aos valores de referência em duas ou três
semanas, mas podem elevar novamente se o uso
do álcool é retomado. Em vista da susceptibili-
dade da indução enzimática, a interpretação da
γ-GT em qualquer caso, deve ser realizada à luz
dos efeitos de drogas e álcool. O diagnóstico do
uso de álcool pode ser complementado pelos se-
guintes testes:
§ Volume celular médio (VCM) dos eritrócitos. O
valor diagnóstico da γ-GT é aumentado quando
a macrocitose é encontra da pela medida do
VCM.
§ Tranferrina deficiente em carboidratos (CDT).
Em pacientes com doença induzida pelo álcool,
a transferrina plasmática tem um reduzido
conteúdo de carboidratos (ácido siálico). O
teor de CDT plasmático está aumentado em,
aproximadamente, 90% dos pacientes que inge-
rem mais de 60 g de álcool por dia.
§ Etanol sangüíneo.
Hepatite infeciosa. Aumentos de 2 a 5 vezes os
valores de referência; nestes casos a determinação
das aminotranferases (transaminases) é de maior
utilidade.
A
Enzimas 107
Neoplasmas. Primários ou secundários apre-
sentam atividade da γ-GT mais intensa e mais
precoce que outras enzimas hepáticas.
Esteatose hepática (fígado gorduroso). É a
mais comum das hepatopatias alcoólicas, mas
também é descrita em outros quadros, como: h e-
patites medicamentosas, gestação, nutrição pa-
renteral, corticoterapia, diabetes e nas desnutri-
ções protéicas. Pequenos aumentos (2 a 5 vezes o
valor superior de referência) ocorrem pela indução
das enzimas microssomiais pelo álcool. Nas outras
condições os aumentos são menores.
Drogas. A γ-GT está presente em grandes quan-
tidades no retículo endoplasmático liso e, por-
tanto, susceptível a indução de aumento da sua
atividade por drogas, tais como a fenitoína, warfa-
rina e fenobarb ital. Nestes casos, as elevações
atingem níveis 4 vezes maiores que os limites
superiores dos valores de referência.
Fibrose cística (mucoviscidose). Elevam a
γ-GT por complicações hepáticas decorre ntes.
Câncer prostático. São encontrados níveis mo-
deradamente elevados. Outros tipos de câncercom
metástase hepática também provocam aumentos da
enzima.
Outras condições. Lupus eritematoso sistêmico
e hipertireoidismo.
Atividade normal da enzima é encontrada em
enfermidades ósseas (enfermidade de Paget, neo-
plasma ósseo), em crianças acima de u m ano e em
mulheres grávidas saudáveis – condições em que
a fosfatase alcalina está aumentada. Apesar da
γ-GT ser encontrada no pâncreas e rins, a enzima
não eleva em desordens nestes órgãos a menos que
exista envolvimento hepático.
DETERMINAÇÃO DA γ-GT
Paciente. Deve permanecer em jejum por 8 ho-
ras, à exceção da ingestão de água. Além disso,
não deve ingerir álcool durante 24 horas antes da
prova.
Amostra. Soro sangüíneo. Estável por uma s e-
mana em temperatura ambiente. Quando conge-
lada é estável por 3 meses.
Métodos. Os primerios métodos de análise da
γ-GT empregavam o glutatião como substrato. O
desaparecimento do substrato ou a formação de
produto era detectada por cromatografia, mano-
metria ou absorvância em UV.
γγ-Glutamil-p-nitroanilina. O substrato mais
usado para a análise da γ-GT é a γ-glutamil-p-
nitroanilida. O resíduo γ-glutamil do substrato
doador é transferido para a glicilglicina, liberando
a p-nitroanilina, um produto cromogênico com
absorvância em 405-420 nm. Esta reação tanto
pode ser usada como método de monitorização
contínua como de ponto final. Em química seca
(DT Vitros) a alteração de reflexo é empregada
para calcular a atividade da enzima.
Interferências. Resultados falsamente elevados:
fenitoína, fenobarbital, glutemidina e metaqua-
lona.
Valores de referência (U/L)
Homens: 5 a 25
Mulheres 8 a 40
Bibliografia consultada
BERTELLI, M. S., CONCI, F. M. Álcool e fígado. Caxias do
Sul : EDUCS, 1997. 219 p.
Committtee on Enzymes of the Scandinavian Society for
Clinical Chemistry and Clinical Physiology:
Recommended method for the determination of γ-
glutamyl transf erase in blood. Scand. J. Clin. Lab.
Invest., 36:119-25, 1976.
IFCC Expert Panel on Enzymes: IFCC methods for the
measurement of t he catalytic concentration of enzymes.
IV: IFCC method for γ-glutamil transferase. J. Clin.
Chem. Clin. Biochem., 21:633-46, 1983.
LONDON, J. W., SHAW, L. M., THEODORSEN, L.,
STROME, J. H. Application of response surface
methodology to the assay of gamma-
glutamyltransferase. Clin. Chem., 28:1140-3, 1982.
ROSALKI, S. B. Gamma-glutamyl transpeptidase. Adv.
Clin. Chem., 17:53-107, 1975.
SMITH, A. F., BECKETT, G. J., WALKER, S. W., ERA, P. W. H.
Clinical biochemistry. 6 ed. London : Blackwell Science, 1998.
p. 110-123.
SZASZ, G. A kinetic photometric method for serum gamma-
glutamyl transpeptidase. Clin. Chem., 15:124-36, 1969.
108 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
LACTATO DESIDROGENASE
lactato desidrogenase (LD) é uma enzima da
classe das oxidorredutases que catalisa a
oxidação reversível do lactato a piruvato, em pre-
sença da coenzima NAD+
que atua como doador
ou aceptor de hidrogênio.
Lactato + NAD+
+ D Piruvato + NADH+
+ H+
A LD está presente no citoplasma de todas as
células do organismo. Sendo rica no miocárdio,
fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Os
níveis teciduais de LD são, aproximadamente, 500
vezes maiores do que os encontrados no soro e
lesões naqueles tecidos provocam elevações pla s-
máticas significantes desta enzima.
ISOENZIMAS DA LACTATO
DESIDROGENASE
Devido a presença da lactato desidrogenase em
vários tecidos, aumentos dos teores séricos da
mesma é um achado inespecífico. É possível obter
informações de maior significado clínico pela
separação da LD em suas cinco frações isoenzi-
máticas. As isoenzimas de LD são designadas de
acordo com sua mobilidade eletroforética. Cada
isoenzima é um tetrâmero formado por quatro
subunidades chamadas H para a cadeia polipeptí-
dica cardíaca e M para a cadeia polipeptídica
muscular esquelética. As cinco isoenzimas encon-
trados no soro são:
Tipo Percentagem Localização
LD-1 (HHHH) 14-26 Miocárdio e eritrócitos
LD-2 (HHHM) 29-39 Miocárdio e eritrócitos
LD-3 (HHMM) 20-26
Pulmão, linfócitos, baço,
pâncreas
LD-4 (HMMM) 8-16 Fígado, músc. esquelético
LD-5 (MMMM) 6-16 Fígado, músc. esquelético
A hemólise produzida durante a coleta e/ou
manipulação de sangue, eleva as frações LD -1 e
LD-2.
AUMENTOS NA ATIVIDADE DA LD
Infarto agudo do miocárdio. A LD no soro
aumenta 8 a 12 horas após o infarto do miocárdio,
atingindo o pico máximo entre 24-48 horas; estes
valores permanecem aumentados por 7 a 12 dias
(v. adiante).
Insuficiência cardíaca congestiva, mioca r-
dite, choque ou insuficiência circulatória.
A LD eleva mais do que 5 vezes os valores de
referência.
Anemia megaloblástica. A deficiência de fo-
lato ou vitamina B 1 2 provoca destruição das célu-
las precursoras dos eritrócitos na medula óssea e
aumenta, em até 50 vezes, a atividade da enzima
sérica por conta das isoenzimas LD -1 e LD-2 que
voltam ao normal após o tratamento.
Válvula cardíaca artificial. É uma causa de
hemólise que eleva as frações LD -1 e LD-2.
Enfermidade hepática. Os aumentos não são
tão efetivos como os das transaminases (amin o-
transferases):
§ Hepatite infecciosa tóxica com icterícia, pro-
voca aumento de até 10 vezes os valores de re -
ferência.
§ Hepatite viral, cirrose e icterícia obstrutiva,
apresentam níveis levemente aumentados: uma
ou duas vezes os valores superiores de referên-
cia.
Mononucleose infeciosa. Os teores séricos da
LD são geralmente altos, talvez porque a LD seja
liberada dos agregados das células mononucleares
imaturas do organismo.
Enfermidade renal. Especialmente necrose
tubular e pielonefrite. Entretanto estes aumentos
A
Enzimas 109
não estão correlacionados com a proteinúria e
outros parâmetros da enfermidade renal.
Doenças malignas. Mostram incrementos da
LD no soro, especialmente aquelas com metásta-
ses hepáticas. Elevações importantes são encon-
tradas n a enfermidade de Hodgkin, câncer abdo-
minal e pulmonar.
Distrofia muscular progressiva. Aumentos
moderados especialmente nos estágios iniciais e
médios da doença: eleva a fração LD -5.
Trauma muscular e exercícios muito inte n-
sos. Eleva principalmente a LD-5, dependendo da
extensão do trauma.
Embolia pulmonar. A isoenzima LD-3 está
elevada provavelmente pela grande destruição de
plaquetas após a formação do êmbolo.
Pneumocistose. Em pacientes portadores do
vírus da imunodeficiência adquirida. Esta suspeita
deve ser confirmada através dos caracteres clíni-
cos e dos níveis de hipoxemia dos gases arteriais.
CORRELAÇÃO CLÍNICA DAS ISOENZIMAS
DA LD
As isoenzimas apresentam alterações em várias
enfermidades que refletem a natureza dos tecidos
envolvidos.
Aumentos da LD -3 ocorrem com freqüência em
pacientes com vários tipos de carcinomas.
As isoenzimas LD -4 e LD-5 são encontradas,
fundamentalmente, no fígado e músculo esquelé -
tico, com o predomínio da fração LD -5. Assim
s endo, os níveis LD -5 são úteis na detectação de
desordens hepáticas – particularmente, distúrbios
intra-hepáticos – e desordens do músculo esquelé -
tico, como a distrofia muscular. Na suspeita de
enfermidade hepática, com LD total muito au-
mentada e quadro isoenzimático não-específico,
existe grande possibilidade da presença de câncer.
A LD pode formar complexos com imunoglo-
bulinas e revelar bandas atípicas na eletroforese.
O complexo com a IgA e IgG, geralmente migra
entre a LD-3 e LD-4. Este complexo macromole-
cular não está associado a nenhuma anormalidade
clínica específica.
No infarto do miocárdio tem-se os níveis da
fração LD-1 e LD-2 aumentados, as isoenzimas
das quais o miocárdio é particularmente rico (ver
adiante).
Além do lactato, a LD pode atuar sobre outros
substratos, tais como o α-hidroxibutirato. A subu-
nidade H tem afinidade maior pelo α-hidroxibuti-
rato do que as subunidades M. Isto permite o uso
deste substrato na medida da ativ idade da LD -l e
LD-2, que consistem quase inteiramente d e subu-
nidades H. Este ensaio é conhecido como a me-
dida da atividade da α-hidroxibutirato desidroge-
nase (α-HBD).
A α-HBD não é uma enzima distinta, é, isto
sim, representante da atividade da LD -1 e LD-2. A
atividade da α-HDB está aumentada naquelas
condições em que as frações LD -1 e LD-2 estão
elevadas. No infarto do mio cárdio, a atividade da
α-HBD é muito similar aquela da LD-l.
Foi proposto o cálculo da relação LD/ α-HBD
que, em adultos varia entre 1,2 a 1,6. Nas enfermi-
dades hepáticas parenquimais, a relação se situa
entre 1,6 a 2,5. No infarto do miocárdio, com
aumento da LD -1 e LD-2 a relação diminui para
0,8 a 1,2.
LACTATO DESIDROGENASE NA URINA
Elevações da atividade da LD na urina de três a
seis vezes os valo res de referência estão associa -
das com glomerulonefrite crônica, lupus eritema -
toso sistêmico, nefroesclerose diabética e câncer
de bexiga e rim. A determinação da LD na urina é
afetada pela presença de inibidores como a uréia e
pequenos peptídios e de possíveis inativações da
enzima sob condições de pH adversos na urina.
LACTATO DESIDROGENASE NO LCR
Em condições normais a atividade da LD no lí -
quido cefalorraquidiano (LCR) é bem menor do
que a encontrada no soro sangüíneo. A distribui-
ção is oenzimática é LD1 >LD3 >LD2 >LD4 >LD5 . No
entanto, estes valores podem aumentar e/ou modi-
110 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
ficar em presença de hemorragia ou lesão na bar-
reira cerebral sangüínea provocada por enfermida-
des que adicionam LD de origem sistêmica ao
LCR. Além disso, as isoenzimas da LD são libera -
das das células que se infiltram no LCR. Por
exemplo, na meningite bacteriana, a granulocitose
resultante produz elevações da LD -4 e LD-5, en-
quanto a meningite viral causa linfocitose que
provoca elevações da LD -1 e LD-3.
Alguns autores observaram aumentos na fração
LD-5 no LCR em presença de tumores metastati-
zados, enquanto em tumores cerebrais primários
mostram aumento em todas as frações. Em neo-
natais, elevações da LD s ão observadas em hemo r-
ragias intracraneanas e estão de forma significa-
tiva associadas com distúrbios neurológicos com
convulsões e hidroencefalia.
DETERMINAÇÃO DA LACTATO
DESIDROGENASE
Paciente. Não é exigido preparo especial.
Amostra. Soro ou plasma heparinizado ou LCR.
O soro e plasma devem estar completamente
isentos de hemólise, pois os eritrócitos contém
100-150 vezes mais LD. Estável por 24 h em tem-
peratura ambiente. Não refrigerar.
Interferentes. Resultados falsamente elevados:
ácido ascórbico, anfotericina B, barbitúricos, car-
bonato de lítio, clofibrato, carbutamina, cefalo -
tina, clonidina, cloridrato de clorpromazina, clori-
drato de procainamida, codeína, dextran, floxuri-
dina, hormônio tireóideo, lorazepam, meperidina,
mitramicina, morfina, niacina, nifedipina, propra-
nolol e metildopa. Resultados falsamente reduzi-
dos: esteróides anabólicos, androgênios oxalatos e
tiazidas.
Métodos. A atividade da lactato desidrogenase
pode ser avaliada em termos da velocidade de
transformação do piruvato a lactato. Após incuba-
ção, a quantidade de piruvato consumida é deter-
minada pela adição de dinitrofenilhidrazina para
formar um composto colorido (hidrazona) medido
fotometricamente. Esta metodologia está sendo
abandonada em detrimento aos ensaios “cinéti-
cos”. Em outro método colorimétrico, a NADH
formada reage com sais tetrazólicos para produzir
um composto colorido.
Piruvato à lactato. Muitos métodos medem a
interconversão de lactato/piruvato utilizando a
coenzima NAD+
e NADH medida em 340 nm. As
reações procedem do lactato → piruvato, ou de
modo inverso, piruvato → lactato. A velocidade
da reação reversa é três vezes mais rápida, permi-
tindo o emprego de reagentes mais baratos, amo s-
tras pequenas e menor tempo de incubação. En-
tretanto, a reação reversa é mais susceptível a
exaustão do substrato e a perda de linearidade. O
filme usado em química seca (DT Vitros) contêm
os reagentes para o emprego da conversão do
piruvato e NADH, em lactato e NAD+
.
Valores de referência para a
lactato desidrogenase (U/L)
Soro 95 a 225
Urina 42 a 98
Líquido cefalorraquid iano 7 a 30
Bibliografia consultada
CABAUD, P. G., WRÓBLEWSKI, F. Colorimetric
measurement of lactic dehydrogenase activity of body
fluids. Am. J. Clin. Path., 30:234-6, 1981.
CHATTERLY, S, SUN, T., LIEN, Y. Diagnostic value of
lactate dehydrogenase isoenzymes in cerebrospinal
fluid. J. Clin. Lab. Anal., 5:168-74, 1991.
STURK, A., SANDERS, G. T. B. Macro enzymes:
prevalence, composition, detection and clinical
relevance. J. Clin. Chem. Clin. Biochem., 28:65-81,
1990.
Working Group on Enzymes of the German Siciety for
Clini cal Chemistry: Proposal for standard methods for
the determination of enzyme concentrations in serum
and plasma at 37
o
C. Clin. Chem. Clin. Biochem.,
2 8 :805-8, 1990.
Enzimas 111
CREATINA QUINASE
enzima creatina quinase (CK) catalisa a fo s-
forilação reversível da creatina pela adeno-
sina trifosfato (ATP) com a formação de creatina
fosfato. A CK está associada com a geração de
ATP nos sistemas contráteis ou de transporte. A
função fisiológica predominante desta enzima
ocorre nas células musculares, onde está envol-
vida no armazenamento de creatina fosfato (com-
posto rico em energia). Cada ciclo de contração
muscular promove o consumo de ATP com forma-
ção de ADP.
A creatina quinase está amplamente distribuída
nos tecidos, com atividades mais elevadas no
músculo es quelético, cérebro e tecido cardíaco.
Quantidades menores são encontradas no rim,
diafragma, tireóide, placenta, bexiga, útero, pul-
mão, próstata, baço, reto, cólon, es tômago e
pâncreas. O fígado e eritrócitos são essencial-
mente desprovidos desta enzima.
ISOENZIMAS DA CREATINA QUINASE
A creatina quinase consiste de um dímero com-
posto de duas subunidades (B ou cérebro e M ou
muscular) que são separadas em três formas mole-
culares distintas:
§ CK-BB ou CK-1, encontrada predominante-
mente no cérebro. Raramente está presente no
sangue.
§ CK-MB ou CK-2, forma híbrida, predominante
no miocárdio.
§ CK-MM ou CK-3, predominante no músculo
esquelético.
Estas três isoenzimas são encontradas no
citosol ou associadas à estruturas miofibrilares. O
músculo esquelético contém quase inteiramente
CK-MM, com pequenas quantidades de CK-MB.
A maior atividade da CK no músculo cardíaco é
também atribuída a CK-MM com, aproximada-
mente, 20% de CK-MB. O soro normal contém ao
redor de 94-100% de CK-MM. A CK-MB está
confinada quase exclusivamente no tecido cardí-
aco. Níveis elevados de CK-MB são de grande
significado diagnóstico no infarto agudo do mi o-
cárdio. Existe uma quarta forma que difere das
frações anteriores, chamada CK-Mt, localizada no
espaço entre as membranas internas e externas das
mitocôndrias e corresponde a 15% da atividade da
CK total cardíaca.
A macro-CK está associada à imunoglobulinas
representando 0,8-1,6% da atividade da CK e não
está relacionada a nenhuma enfermidade especí-
fica. Nas lesões teciduais extensas com ruptura
das mitocôndrias, a CK-Mt pode ser detectada no
soro. Sua presença também não está relacionada a
nenhuma enfermidade especifíca, mas parece indi-
car doenças severas, como tumores malignos e
anormalidades cardíacas.
CORRELAÇÃO CLÍNICA DA CK
A atividade sérica da CK está sujeita a variações
fisiológicas que interagem e afetam a atividade da
enzima, tais como: sexo, idade, massa muscular,
atividade física e raça.
Enfermidades do músculo esquelético.
Como uma das principais localizações da creatina
quinase é o músculo esquelético, os níveis séricos
estão freqüentemente elevados nas lesões destes
tecidos.
§ Distrofia muscular progressiva, particular-
mente a de Duchene (distúrbio recessivo ligado
ao cromossomo X) apresenta atividade de CK
50 a 100 vezes os limites superiores dos valo-
res de referência. Apesar da CK total ser de
grande utilidade n estas desordens, não é uma
avaliação inteiramente específica já que eleva-
ções também são encontradas em outras anor-
malidades do músculo cardíaco e esquelético.
Em distrofias como a de Becker e a de Dreifuss
A
112 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
os níveis de CK sérica são normais ou leve-
mente aumentados.
§ Miosite viral e polimiosite apresentam valores
bastante elevados de CK; no entanto, doenças
musculares neurogênicas, como: miastenia
gravis, esclerose múltipla, poliomielite e pa-
rkinsonismo a atividade enzimática é normal.
§ Hipertermia maligna, uma enfermidade fami-
liar rara mas severa caracterizada por febres
altas, convulsões e choque e desencadeada pela
administração de anestesia geral. Muitos destes
pacientes apresentam evidências de miopatia.
Atividades bastante elevadas da CK são en-
contradas no estágio agudo pós-anestesia. P e-
quenos aumentos muitas vezes persistem e p o-
dem também ser detectados em parentes dos
pacientes afetados.
§ Polimiopatia necrosante, onde existe destru i-
ção do músculo devido ao infarto ou necrose
muscular, lesões por esmagamento, alcoolismo,
hipertermia maligna, exercícios intensos,
mioglobinúria recorrente, certas enfermidades
metabólicas hereditárias do músculo, viroses,
injeções intramusculares (os aumentos da CK
podem persistir por mais de 48 h) e
intervenções cirúrgicas.
§ Drogas, elevações em doses farmacológicas:
ácido aminocapróico, anfotericina B,
carbenoxolone, clofibrato, ciclopropano,
danazol, éter dietílico, dietilstilbrestol,
halotano, labetalol, lid ocaína, D-penicilina,
pindolol, stanozol, quin idina e succinilcolina.
Nos casos de abuso ou “overdose” como a
amitriptylina, anfetaminas, barbitúricos,
etanol, glutetimida, heroína, imipramina e
fenciclidina podem aumentar a atividade da
enzima dramaticamente.
§ Estados psicóticos agudos, os incrementos são,
provavelmente, provocados por anormalidades
do músculo esquelético.
Enfermidades cardíacas. São comuns os au-
mentos da atividade da CK em situações que en-
volvem o coração, apesar de nem todos os au-
mentos indicarem o envolvimento miocárdico.
§ Infarto do miocárd io, ver discussão das enzi-
mas no infarto do miocárdio (v. adiante).
§ Condições e procedimentos cardíacos, tais
como: angina pectoris, choque cardiogênico,
cirurgia cardíaca incluindo transplante, taqui-
cardia, cateterização cardíaca, arteriografia c o-
ronária, insuficiência cardíaca congestiva e a n-
gioplastia coronária percutânea transluminal
elevam em níveis moderados a CK total ou a
CK-2 (CK-MB), ou ambas; estas elevações p o-
dem mascarar subsequentes infartos do mi o-
cárdio.
§ Miocardite, promove aumentos marcantes da
CK-2 (CK-MB).
Enfermidades do sistema nervoso central.
Apesar da alta concentração de CK no tecido c e-
rebral, o soro raramente contém CK-1 (CK-BB).
Devido ao seu tamanho molecular (80.000), a
passagem através da membrana sangue-cérebro é
impedida.
§ Lesões no crânio com dano cerebral, nestes
casos, quantidades significantes de CK-1 (CK-
BB) podem ser detectadas no soro; a extensão
destes aumentos estão correlacionadas com a
severidade do dano e também com o prognós-
tico.
§ Enfermidade cardiovascular, n eurocirurgia e
isquemia cerebral aumentam a fração CK-3
(CK-MM). A isoenzima CK-1 não eleva.
§ Hemorragia subaracnóidea, paradoxalmente a
isoenzima CK-2 (CK-MB) pode ser detectada
freqüentemente nestes pacientes. Este achado
sugere comprometimento do miocárd io após
acidente cerebral.
§ Síndrome de Reye, (desordem da infância ca-
racterizada pelo inchamento agudo do cérebro
com infiltração gordurosa e disfunção hepática
sem icterícia), a CK total está aumentada em
Enzimas 113
até 70 vezes, principalmente a isoenzima CK-
1; a extensão total da elevação da CK parece
ser um indicador da severidade da encefalopa-
tia.
Enfermidades da tireóide. A atividade da CK
sérica demonstra uma relação inversa com a ativ i-
dade da tireóide.
§ Hipotireoidismo, a atividade da CK eleva em 5
vezes os limites superiores de referência, mas
os aumentos chegar a 50 vezes e são devidos
ao envolvimento do tecido muscular
(incremento na permeabilidade da membrana)
provavelmente, na redução da depuração de CK
como efeito do hipometabolismo; a principal
isoenzima presente é a CK-3 (CK-MM), apesar
de 13% da atividade da CK ser devida à fração
CK-2 (CK-MB), sugerindo um possível
envolvimento do miocárdio (de qualquer modo,
o hipotireoidismo predispõe à enfermidade car-
díaca isquêmica).
§ Hipertireoidismo, os aumentos da atividade da
CK tendem estar nos limites inferiores de valo-
res de referência.
DETERMINAÇÃO DA CREAT INA QUINASE
Paciente. Se a dosagem tiver por objetivo a ava-
liação de distúrbios da musculatura esquelética, o
paciente deve evitar exercícios vigorosos durante
24 h. Não ingerir álcool no dia anterior ao teste.
Suspender as drogas que afetam os resultados das
dosagens durante 24 h.
Amostra. Soro, plasma (heparinizado) isentos de
hemólise, LCR e líquido amniótico. Icterícia e
lipemia podem interferir em leituras de absorvân-
cias. Em refrigerador e no escuro, as amostras são
estáveis por uma semana. A –20 o
C conservam-se
por mais de um mês.
Interferências. Falsos resultados aumentados:
procedimentos invasivos e outros: cateterismo
cardíaco (com lesão do miocárdio), choque elé -
trico, eletrocauterização, eletromiografia, injeções
intramusculares e massagem muscular recente.
Drogas: acetato de dexametasona, ácido aminoca-
próico, carbonato de lítio, clofibrato, cloreto de
succinilcolina, cloridrato de meperidina, codeína,
digoxina, etanol, fenobarbital, furosemida, glute-
timida, guanetidina, halotano, heroína, imipramina
e sulfato de morfina.
Métodos para a CK total. A determinação da
atividade da creatina quinase emprega produtos
formados na reação direta (creatina fosfato +
ADP) ou inversa (creatina + ATP). Tanto o ATP
como o ADP são medidos por reações específicas.
Método de Oliver-Rosalki. Os métodos mais
empregados utilizam a reação reversa, onde em
condições ótimas se desenvolve seis vezes mais
rapidamente que a reação direta. Olivier descreveu
uma seqüência de reações onde a transformação de
creatina fosfato em creatina e ATP, catalisada
pela creatina quinase é acoplada ao sistema hexo -
quinase/glicose 6 -fosfato desidrogenase/NADH. A
variação na absorvância em 340 nm é medida na
avaliação de CK. Rosalki incluiu um tiol ao rea-
gente para aumentar a atividade da CK mantendo
os grupos sulfidrílicos na forma reduzida. A modi-
ficação proposta por Szasz é sensível e apresenta
boa precisão e está livre da interferência exercida
pela adenilato quinase. Em química seca (DT
Vitros) o ativador N- acetilcisteína restaura a
atividade de CK que inicia a seqüência de reações
que culminam com a união da H2 O2 e o corante
leuco.
Valores de referência para a
creatina quinase (U/L)
Homens 15 a 160
Mulheres 15 a 130
DETERMINAÇÃO DAS ISOENZIMAS DA CK
A separação eletroforética das isoenzimas da CK,
foi um dos métodos mais empregados até recen-
temente. Os monômeros M e B possuem diferentes
cargas, o que permite a separação das diferentes
frações. Baseados na carga, também foram desen-
volvidos métodos que utilizam a cromatografia
trocadora de íons. Esta técnica está em desuso.
114 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Principalemnte para a CK-MB, foram desen-
volvidos vários métodos imunológicos, dentre os
quais, o de imunoinibição que utiliza anticorpos
CK-M anti-humano para inibir a CK-MM (ativi-
dade muscular). A atividade CK restante, que é
proporcional à atividade da CK -MB, catalisa a
formação da creatina e ATP a partir da creatina
fosfato e ADP. Estas reações são empregadas em
química seca (DT Vitros).
Ensaios de massa também são usados na de-
terminação da atividade da CK-MB. Anticorpos
contra a CK-MB são covalentemente ligados a
uma superfície sólida. A CK-MB da amostra reage
com o anticorpo formando um complexo antígeno-
anticorpo. Um segundo anticorpo conjugado com
outra enzima (ex.: fosfatase alcalina) é, então,
adicionado. Assim, forma -se um complexo anti-
corpo-CK-MB-anticorpo. Após a remoção de anti-
corpos não-ligados, um substrato é adicionado
para reagir com a enzima conjugada ao anticorpo
para formar um produto detectável, proporcional a
atividade da CK-MB presente na amostra.
Bibliografia consultada
GRIFFITHS, P. D. CK -MB: A valuable test? Ann. Clin.
Biochem., 23:238-42, 1986.
HORDER, M., ELSER, R. C., GERHARDT, W et al.
Approved recommendation on IFCC methods for the
measurement of catalytic concentration of enzymes: Part
7. IFCC method for creatine kinase. Eur. J. Clin. Chem.
Clin. Biochem., 29:435-56, 1991.
JONES, M. G. SWAMINATHAN, R. The clinical
biochemistry of creatine kinase. J. Int. Fed. Clin.
Chem., 2:108-14, 1990.
LANG, H., WURZBURG, U. Creatine kinase, na enzyme of
many forms. Clin. Chem., 28:1439-47, 1982.
ROSALKI, S. B. An improved procedure for serum creatine
phosphokinase determination. J. Lab. Clin. Med.,
6 9 :696-705, 1967.
ROSALKI, S. B. Low Serum Creatine Kinase Activity. Clin. Chem.,
44:905. 1998.
SZASZ, G., GRUPER, W., BERNT, E. Creatine kinase in
serum. I. Determination of optimum reaction conditions.
Clin. Chem., 22:650-6, 1976.
WU, A. H. B. Creatine kinase isoforms in schemic heart
disease. Clin. Chem., 35:7-13, 1989.
Enzimas 115
OUTRAS ENZIMAS
ALDOLASE
A aldolase (ALD) pertence a classe das liases
encontradas em todas as células do organismo,
mas presente em concentrações mais elevadas no
músculo esquelético, fígado e cérebro. Em virtude
da elevação da aldolase durante a doença ativa do
músculo esquelético, sua avaliação ajuda no
acompanhamento e evolução de certas doenças,
como a distrofia muscular progressiva.
É necessário pelo menos 30 minutos de re -
pouso antes da coleta da amostra para evitar a
interferência da atividade muscular. As amostras
devem ser livres de hemólise (os eritrócitos apre -
sentam 100 vezes mais atividade que o soro).
Valores de referência: recém-nascidos: <32
U/L; crianças: <16 U/L; adultos: 1,0 a 7,5 U/L (30
0
C).
Valores elevados. Doença do músculo esquelé-
tico, principalmente, na distrofia muscular de D u-
chenne, dermatomiosit e, polimiosite (no entanto
são encontrados valores normais na polimielite,
miastenia grave, esclerose múltipla e enfermid a-
des musculares de origem neurogênica), infarto do
miocárdio, hepatite viral aguda, triquinose, gan-
grena, tumores prostáticos, alguma s metástases
hepáticas, leucemia granulocítica, anemia mega-
loblástica, “delirium tremens” e drogas (acetato de
cortisona, e corticotrofina).
Valores reduzidos. clinicamente insignifican-
tes.
ISOCITRATO DESIDROGENASE
A isocitrato desidrogenase (ICD) é uma enzima
que catalisa a descarboxilação oxidativa do isoci-
trato a oxalossucinato e α-cetoglutarato no ciclo
de Krebs. É um indicador sensível de doença h e-
pática parenquimatosa.
Valores de referência: 2 a 13 U/L (37 0
C).
Valores elevados. Cirrose, hepatite (crônica),
infarto pulmonar grave, kwashiorkor, lesões he-
páticas infectadas por bactérias, metástases hepá-
ticas, mononucleose infecciosa, síndrome de Reye
e inflamação aguda do trato biliar.
Valores reduzidos. Necrose hepatocelular (ma-
ciça).
5’-NUCLEOTIDASE
Enzima da membrana plasmática que catalisa a
hidrólise da maioria dos ribonucleosídios 5’-mo-
nofosfato e desoxinucleosídios 5’-monofosfato em
nucleosídios correspondentes e ortofosfatos.
Trata-se de uma isoenzima da fosfatase alcalina
encontrada no parênquima hepático e nas células
do ductos biliares. Sua atividade sérica aumenta
de 2 a 6 vezes em doenças hepáticas que interfe-
rem com a secreção biliar (cálculo, cirrose biliar
etc.). A sua avaliação ajuda a estabelecer o dia-
gnóstico diferencial entre câncer ósseo e hepático,
visto que a 5’-nucleotidase raramente está elevada
no câncer ósseo. Quando acoplados com elevação
da fosfatase alcalina, os níveis de 5’-nucleotidase
indicam metástase hepática.
Valores de referência: 2 a 17 U/L;
Valores elevados. Alcoolismo, cirrose, ciru r-
gia, colestase fármaco-induzida, disfunção hepá-
tica, metástase hepática e obstrução extra -hepá-
tica;
Valores reduzidos. Hepatite.
116 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
COLINESTERASE
Duas enzimas tem a capacidade de hidrolizar ace-
tilcolina para formar colina e o ácido correspon-
dente. Uma é a acetilcolinesterase ou colineste-
rase I encontrada nos eritrócitos, pulmões e baço,
terminações nervosas e na matéria cinza do cére-
bro, mas não no plas ma. É responsável pela rápida
hidrólise da acetilcolina liberada nas terminações
nervosas para mediar a transmissão do impulso
nervoso através da sinapse.
A outra colinesterase é a acilcolina acilhidro -
lase usualmente denominada pseudocolinesterase
ou colinesterase II encontrada no fígado, matéria
branca do cérebro e soro; sua função biológica
não é conhecida.
A pseudocolinesterase é uma colinesterase
específica que hidrolisa tanto ésteres não-colina
como a acetilcolina. É encontrada em várias fo r-
mas e atua em inativar a acetilcolina. É sintetizada
no fígado e encontrada no plasma. A atividade de
enzima é inibida reversivelmente por inseticidas
contendo carbamato e irreversivelmente por inse-
ticidas organofosforados.
Alguns pacientes exibem apnéia prolo ngada
após administração de succinilcolina, um rela-
xante muscular. Esta droga é normalmente hidro-
lizada pela colinesterase plasmática. Entretanto,
ocasionalmente, a droga é ativa por períodos mais
longos, causando apnéia que perdura por várias
horas. Isto é ocasionado em razão do desequilíbrio
eletrolítico e desidratação. Mais de 50% dos paci-
entes sensíveis à succinilcolina tem anormalidades
geneticamente determinadas na enzima que levam
a atividades reduzidas no plasma.
Valores de referência: 3.500 a 8.500 U/L.
Valores aumentados. Alcoolismo, câncer de
mama, síndrome nefrótica, obesidade, hiperlip o-
proteinemia do tipo IV e psicose.
Valores reduzidos. Anemias, dermatomiosite,
desnutrição, doença renal crônica, embolia pul-
monar, gravidez tardia, infarto do miocárdio, in-
fecções agudas, intoxicação por inseticidas org a-
nofosforados, anticoncepcionais orais, estrogênios
e doenças hepáticas parenquimatosas.
Bibliografia consultada
BODANSKY, O., SCHWARTZ, M. K. 5’-Nucleotidase. Adv.
Clin. Chem., 15:44-136, 1972.
BROWN, S. S., KALOW, W., PILZ, W. et al. The plasma
cholinesterases: A new perspective. Adv. Clin. Chem.,
2 2 :1-123, 1981.
ELLIS, G., GOLDBERG, D. M., SPOONER, R. J., WARD, A.
M. Serum enzyme tests in diseases of the liver and
b i l i ary tree. Am. J. Clin. Path., 70:248-58, 1978.
Enzimas 117
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)
infarto do miocárdio consiste em necrose
irreversível do miocárdio, que resulta em
geral de trombose numa lesão pré -existente da
parede vascular ou rotura de uma placa
aterosclerótica em uma artéria coronária
importante. A princípio ocorre isquemia, e se esta
for grave e prolongada, segue-se o infarto do
miocárdio, cuja extensão depende da artéria
coronária obstruída, do grau de circulação
colateral e das exigências de oxigênio do tecido
suprido pela artéria.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a
tríade clássica para a confirmação diagnóstica é
formada por:
§ Dor no peito: pré -cordial.
§ Alterações eletrocardiográficas: em especial
com elevações do segmento ST e onda Q.
§ Elevações das enzimas cardioespecíficas.
A avaliação enzimática é uma rotina nos paci-
entes suspeitos de terem desenvolvido infarto
agudo do miocárdio. O infarto deve ser diferenci-
ado da angina pectóris, embolia pulmonar e insu-
ficiência cardíaca congestiva. Além disso, nem
todos os pacientes manifestam os mesmos sinto-
mas. De fato, os infartos silenciosos ocorrem em
aproximadamente 20% dos casos. Some -se a isto,
que as alterações eletrocardiográficas podem estar
ausentes ou serem inespecíficas. A s enzimas mais
utilizadas na investigação do infarto agudo do
miocárdio são: a creatina quinase (CK) e a lactato
desidrogenase (LD), também como suas isoenzi-
mas. A transaminase oxalacética (TGO) apresenta
menor uso. Para aumentar esta especificidade são
avaliadas também as isoenzimas da CK e LD.
Nesta seção, considera -se as alterações enzi-
máticas e algumas provas não-enzimáticas utiliza-
das para o diagnóstico do infarto do miocárdio e
as vantagens e desvantagens de cada tipo de me-
dida.
Após a instalação dos sintomas do infarto
agudo do miocárdio se observa, na maioria dos
pacientes, um período durante o qual é possível
detectar a elevação das enzimas liberadas pelo
tecido miocárdico lesado. Esta relação temporal é
particular para cada enzima e varia de um paciente
para outro, ainda que exista um modelo típico
(Figura 4.1). De modo geral, estas enzimas devem
estar elevadas na ocorrência do infarto agudo do
miocárdio (especificidade) e dentro dos valores
normais na ausência de infarto (sensibilidade).
Geralmente, a diferenciação do infarto pulmo-
nar é realizada prontamente, sendo a mesma ca-
racterizada pelos níveis elevados da LD e, usual-
mente, pelos valores normais de TGO(AST) e CK.
Em alguns pacientes com embolia pulmonar, ocor-
rem valores discretamente aumentados da
TGO(AST) pulmonar ao redor do terceiro ou
quarto dia após o acesso de dor no peito.
CK-MB
O miocárdio contém expressivas quantidades de
CK-MB. Em outros tecidos, a CK-MB é encon-
trada em pequenos teores. No miocárdio esta fra -
ção pode ser liberada para o soro em quantidades
significantes. A elevação da atividade plasmática
da CK-MB (igual ou maiores que 6% da CK total)
é o indicador mais específico de l esão miocárdica
(98-100% dos casos), particula rmente, de infarto
agudo do miocárdio. A CK-MB começa a elevar-
se em 4-8 horas a partir da dor precordial, atin -
gindo o máximo em 12-24 horas, retornando ao
normal, nos casos não complicados, em 48-72
horas. Pacientes que atingem o pico máximo rapi-
damente (8-12 h), tem melhor prognóstico do que
aqueles que demoram para alcançar o pico (24 h).
Atividade aumentada de CK-MB é também
encontrada em outras desordens cardíacas. Po r-
tanto, aumentos desta fração não são inteiramente
específicos para o infarto agudo do miocárdio
mas, provavelmente, refletem algum grau de lesão
isquêmica cardíaca. A especificidade para o in-
farto pode ser aumentada se os resultados forem
interpretados em associação com as isoenzimas da
lactato desidrogenase e se medida, seqüencia l-
O
118 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
mente, por períodos superiores a 48 horas para
detectar os aumentos e as reduções típicas das
enzimas encontradas nestes distúrbios. A angina
pectoris, choque cardiogênico, taquicardia, mi o-
cardite e insuficiência cardíaco-congestiva, ge-
ralmente, não elevam a CK total nem a CK-MB.
Outras situações como: injeções intramusculares,
traumatismos, cirurgias não-cardíacas e cateteris-
mos cardíacos a CK-MB permanece normal. Ocor-
rem elevações nos níveis séricos da CK-MB em
estados patológicos descritos na tabela 9.2.
T abela 9.2. Elevação da atividade sérica da CK-MB em
diversos estados patológicos
Infarto agudo do miocárdio
Angina severa (em alguns casos)
Fibrilação auricular crônica
Insuficiência coronária
Síndrome de aplastamento
Pericardite
Desfibrilação
Colo cação de marcapasso
Angiografia coronária
Cirurgia cardíaca de peito aberto
Massagem cardíaca externa ou ressuscitação cardiopul-
monar
Intoxicação por monóxido de carbono
Hipertermia maligna
Distrofia muscular como a de Duchenne
Polimiosite
Cirurgia ou infarto prostático
Dermatomiosite
Síndrome de Reye
Processos malignos
A fração CK-BB pode se transformar na CK-
MB, o que explica o aparecimento desta isoenzima
em pacientes com câncer de pulmão, desordens
cerebrais agudas e outros distúrbios.
LACTATO DESIDROGENASE
A atividade da LD total aumenta 8 a 12 h a partir
da dor precordial, atinge o máximo em 24 a 48 h e
permanece elevada por 7 ou mais dias. As eleva-
ções são três a quatro vezes o v alor de referência
superior, mas pode atingir até 10 vezes. A fração
LD-1 apresenta uma trajetória semelhante à LD
total, no entanto, devido a sua especificidade teci-
dual, a isoenzima tem maior utilidade diagnóstica.
Nos infartos com alterações eletrocard iográficas
evolutivas, com desenvolvimento de ondas Q
(transmural) a LD-1 excede 45% da atividade da
LD total, enquanto o infarto não-Q (subendo-
cárdico) geralmente apresenta valores menores do
que 45%. Uma causa comum de falsos-positivos
com LD-1 elevada é a presença de hemólise, tanto
por dificuldades na coleta, transporte ou separação
da amostra, como também em presença de válvula
cardíaca prostética.
O valor da relação LD-1/LD-2 depende do fato
que a LD-2 não aumenta após o infarto do mi o-
cárdio enquanto a LD-1 o faz. Além disso, a ativ i-
dade da LD -1 é geralmente menor do que a LD -2,
sendo que os aumentos da atividade eleva con-
sideravelmente após o infarto, com isso a LD -1
excede a LD-2. Ao redor de 80% de todos os in-
fartos do miocárdio mostram este tipo de relação.
Uma relação maior que 0,7 tem uma sensibilidade
diagnóstica de 99%. Deve ser enfatizado que o
infarto do miocárdio e a hemólise produzem exa-
tamente o mesmo efeito sobre a LD -1 e também
sobre os valores da relação LD -1/LD-2. Algumas
causas d e aumentos destas frações são mostradas
na tabela 9.3.
Tabela 9.3. Causas de aumento da relação LD-1/LD-2
Infarto agudo do miocárdio
Infarto renal agudo
Hemólise causada por
Válvulas cardíacas prostéticas
Anemias hemolíticas
Anemias megaloblásticas
Manipulação da amostra de sangue
Processos malignos
AMINOTRANSFERASES
(TRANSAMINASES)
A TGO (AST) aumenta 6-8 h após a dor, atingindo
o pico 18-24 h, retornando aos níveis normais em
4 ou 5 dias. A TGO não é específica do tecido
cardíaco e também aumenta em enfermidades do
Enzimas 119
fígado, pulmão e músculo esquelético. Os valores
do pico máximo são 5 a 10 vezes maiores que o
limite superior de referência.
No entanto, a sensibilidade combinada com a
especificidade tem mostrado que a TGO (AST) é
uma enzima cardíaca diagnosticamente redun-
dante. Deste modo, esta enzima está sendo grada-
tivamente abandonada no diagnóstico laboratorial
do infarto do miocárdio.
TESTES NÃO-ENZIMÁTICOS PARA O IAM
Mioglobina. É uma heme-proteína de ligação do
oxigênio presente no músculo esquelético e cardí-
aco. Constitui cerca de 2% da proteína total do
músculo e está localizada no citoplasma. Lesões
celulares durante o infarto agudo do mi ocárdio
liberam mioglobina na circulação sangüínea.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 1 2 3 4 5
Dias após a dor
Atividadeenzimática
CK-MB
LDH-1
TGO total
Figura 4.1. Modelo típico de alterações na atividade
enzimática após infarto do miocárdio não-complicado.
Os níveis de mioglobina em pacientes com
IAM elevam em torno de 2 horas após a dor pre-
cordial e seus picos são atingidos dentro de 6 -9 h
retornando ao normal em 24-36 h após o infarto.
O pequeno tamanho da molécula permite que a
mioglobina se desloque rapidamente na circulação
sangüínea sem utilizar o sistema linfático. Os
teores de mioglobina sofrem elevação nos se-
guintes casos:
§ Infarto agudo do miocárdio.
§ Cirurgia com coração aberto.
§ Exercício intenso.
§ Lesão do músculo esquelético.
§ Pacientes portadores genéticos ou com atrofia
muscular progres siva.
§ Deficiência renal grave.
§ Aplicação de injeção intramuscular (variável).
A mioglobina é dosada em 2-12 h após o IAM
e apresenta alta sensibilidade e especificidade
clínica. Entretanto, resultados falso-positivos
podem ocorrer como resultado de lesões no mús-
culo esquelético ou por insuficiência renal.
Troponinas. São proteínas contidas nas células
musculares do aparelho miofibrilar das células
que constituem o sarcômero, que é o núcleo básico
do aparato contrátil da fibra mu scular esquelética
e cardíaca. São compostas de múltiplas sub-
unidades: troponina I (subunidade inibidora da
actina), troponina C (subunidade ligada ao cálcio
e reguladora da contração) e troponina T
(subunidade ligada a miosina – tropomiosina). A
subunidade troponina I existe em três isoformas:
duas no músculo esquelético e uma no músculo
cardíaco.
As isoformas mais promissoras para o
diagnóstico do IAM são: a troponina T (cTnT) e a
troponina I (cTnI). Dados clínicos mostraram que
as troponinas são marcadores precoces do IAM,
sendo liberadas praticamente ao mesmo tempo que
a CK-MB, permanecendo elevadas por mais de
uma semana após o infarto.
120 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
A troponina I cardíaca aparece no plasma 4 -6 h
após o ataque do IAM, atingindo picos de con-
centração em 12-18 h após o infarto.
Na fase pre coce que sobrevem o ataque cardí-
aco, a cinética da liberação da troponina I é pró -
xima a da CK-MB. Todavia, as taxas de troponina
I no soro permanecem elevadas durante um perí -
odo mais longo (4 a 7 dias). Com isso o
acompanhamento do IAM é bem melhor atra vés da
troponina I.
A troponina T permanece anormal por 6 a 10
dias após o IAM, apresentando as outras
características semelhantes à troponina I.
TESTES ENZIMÁTICOS E O
ELETROCARDIOGRAMA
Em todos os indivíduos suspeitos de IAM são
recomendadas as medidas das atividades das enzimas
cardioespecíficas e de testes não-enzimáticos (quando
disponíveis) nas primeiras 48 h após o infarto. Em
muitos pacientes o eletrocardiograma (ECG) fornece
evidências inequívocas do infarto. Entretanto, muitas
vezes é possível encontrar dificuldades em interpretá-
los, especificamente na presença de arritmias, além do
que, o ECG não se apresenta sempre anormal em paci-
entes enfartados recentemente. Por outro lado, a
avaliação enzimática pode estabelecer uma indicação da
extensão do infarto e, assim, estabelecer prognósticos.
As enzimas plasmáticas e o ECG são comple-
mentares na investigação de pacientes suspeitos de IAM.
A cuidadosa análise das enzimas e do ECG (juntamente
com a história do paciente) reduzem sensivelmente os
erros cometidos neste diagnóstico. O valor dos testes
enzimáticos versus o ECG no IAM são comparados a
seguir:
Sensibilidade (%) Especificidade (%)
Eletrocardiograma 70 100
Enzimas séricas 95 90
Bibliografia consultada
ANDREOLI, T. E., CARPENTER, C. C. J., BENNETT, J. C.,
PLUM, F. Cecil: medicina interna básica. 4 ed. Rio de
Janeiro : Guanabara -Koogan, 1997. 965 p.
GOTO, I. Serum creatine phosphoquinase isoenzymes in
hipothyroidim, convulsions, myocardial ischaemia and
necrosis. Clin. Chem. Acta, 52:27-30, 1974.
HENRY, John Bernard. Diagnósticos clínicos &
tratamento por métodos laboratoriais. São Paulo :
Manole, 1995. 1678 p.
MERCATELLI, Claucus, PICCIARELLI, Fábio José,
LAUDARI, Humberto, AMOEDO, Telma Veiga.
Laboratório clínico: Tecnologia objetivando diretrizes
para o futuro diagnóstico. LAES, 105:50-64, 1997.
VUORI, J. SYRJALA, H., VAANANEN, H. K. Myoglobin/carbonic
anhydrase III ratio: highly specific and sensitive early indicatorfor
myocardial damage in acute myocardial infarction. Clin.Chem.,
42:107-9, 1996.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Patologia 08 degenerações - med resumos - arlindo netto
Patologia 08   degenerações - med resumos - arlindo nettoPatologia 08   degenerações - med resumos - arlindo netto
Patologia 08 degenerações - med resumos - arlindo nettoJucie Vasconcelos
 
Proteína - Ovalbumina
Proteína - OvalbuminaProteína - Ovalbumina
Proteína - OvalbuminaTBQ-RLORC
 
Estudo das Enzimas Cardíacas
Estudo das Enzimas CardíacasEstudo das Enzimas Cardíacas
Estudo das Enzimas Cardíacasprofsempre
 
doencas da medula supra renal
doencas da medula supra renaldoencas da medula supra renal
doencas da medula supra renaljessicabehrens
 
Distúrbios da medula da suprarrenal
Distúrbios da medula da suprarrenalDistúrbios da medula da suprarrenal
Distúrbios da medula da suprarrenalGomes Cumbe
 
Módulo iii órgãos linfáticos
Módulo iii órgãos linfáticosMódulo iii órgãos linfáticos
Módulo iii órgãos linfáticosJohn Rock
 
Tecido Hematopoiético (sanguineo)
Tecido Hematopoiético (sanguineo) Tecido Hematopoiético (sanguineo)
Tecido Hematopoiético (sanguineo) IFRO
 
Histo II - Tec. Sanguíneo e Hematopoese
Histo II - Tec. Sanguíneo e HematopoeseHisto II - Tec. Sanguíneo e Hematopoese
Histo II - Tec. Sanguíneo e HematopoesePedro Guarnier
 
Biologia_Tecido Sanguíneo
Biologia_Tecido SanguíneoBiologia_Tecido Sanguíneo
Biologia_Tecido SanguíneoThais Pinheiro
 
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1krirocha
 
ICSA29 - Proteínas plasmáticas
ICSA29 - Proteínas plasmáticasICSA29 - Proteínas plasmáticas
ICSA29 - Proteínas plasmáticasRicardo Portela
 

La actualidad más candente (20)

Patologia 08 degenerações - med resumos - arlindo netto
Patologia 08   degenerações - med resumos - arlindo nettoPatologia 08   degenerações - med resumos - arlindo netto
Patologia 08 degenerações - med resumos - arlindo netto
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Hematopoiese
HematopoieseHematopoiese
Hematopoiese
 
tecido hematopoiético
 tecido hematopoiético tecido hematopoiético
tecido hematopoiético
 
Proteína - Ovalbumina
Proteína - OvalbuminaProteína - Ovalbumina
Proteína - Ovalbumina
 
Estudo das Enzimas Cardíacas
Estudo das Enzimas CardíacasEstudo das Enzimas Cardíacas
Estudo das Enzimas Cardíacas
 
Tecido sanguineo
Tecido sanguineoTecido sanguineo
Tecido sanguineo
 
doencas da medula supra renal
doencas da medula supra renaldoencas da medula supra renal
doencas da medula supra renal
 
Aula 6 - B
Aula 6 - BAula 6 - B
Aula 6 - B
 
Bioquímica
BioquímicaBioquímica
Bioquímica
 
Distúrbios da medula da suprarrenal
Distúrbios da medula da suprarrenalDistúrbios da medula da suprarrenal
Distúrbios da medula da suprarrenal
 
Módulo iii órgãos linfáticos
Módulo iii órgãos linfáticosMódulo iii órgãos linfáticos
Módulo iii órgãos linfáticos
 
Tecido Hematopoiético (sanguineo)
Tecido Hematopoiético (sanguineo) Tecido Hematopoiético (sanguineo)
Tecido Hematopoiético (sanguineo)
 
Eritroblasto
EritroblastoEritroblasto
Eritroblasto
 
Histo II - Tec. Sanguíneo e Hematopoese
Histo II - Tec. Sanguíneo e HematopoeseHisto II - Tec. Sanguíneo e Hematopoese
Histo II - Tec. Sanguíneo e Hematopoese
 
Sangue e hematopoiese
Sangue e hematopoieseSangue e hematopoiese
Sangue e hematopoiese
 
O Sangue
O SangueO Sangue
O Sangue
 
Biologia_Tecido Sanguíneo
Biologia_Tecido SanguíneoBiologia_Tecido Sanguíneo
Biologia_Tecido Sanguíneo
 
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1
A importa ncia dos exames bioqui micos na pra_tica-1
 
ICSA29 - Proteínas plasmáticas
ICSA29 - Proteínas plasmáticasICSA29 - Proteínas plasmáticas
ICSA29 - Proteínas plasmáticas
 

Destacado (17)

Enzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos geraisEnzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos gerais
 
Avaliacao laboratorial da funcao endocrina
Avaliacao laboratorial da funcao endocrinaAvaliacao laboratorial da funcao endocrina
Avaliacao laboratorial da funcao endocrina
 
1 c
1  c1  c
1 c
 
Aula 5 - B
Aula 5 - BAula 5 - B
Aula 5 - B
 
Bioquimica clinica roteiro
Bioquimica clinica   roteiroBioquimica clinica   roteiro
Bioquimica clinica roteiro
 
BIOQUIMICA CLINICA
BIOQUIMICA CLINICABIOQUIMICA CLINICA
BIOQUIMICA CLINICA
 
Exames laboratoriais
Exames laboratoriaisExames laboratoriais
Exames laboratoriais
 
Exames Bioquímicos
Exames BioquímicosExames Bioquímicos
Exames Bioquímicos
 
Bioenergetica
BioenergeticaBioenergetica
Bioenergetica
 
1ª Aula Bioquimica - http://bio-quimica.blogspot.com
1ª Aula Bioquimica - http://bio-quimica.blogspot.com1ª Aula Bioquimica - http://bio-quimica.blogspot.com
1ª Aula Bioquimica - http://bio-quimica.blogspot.com
 
Avaliação em cardiologia
Avaliação em cardiologiaAvaliação em cardiologia
Avaliação em cardiologia
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Enzimas bioquimica
Enzimas bioquimicaEnzimas bioquimica
Enzimas bioquimica
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Exames Laboratoriais
Exames LaboratoriaisExames Laboratoriais
Exames Laboratoriais
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Ap. fundamentos bioquímica
Ap. fundamentos bioquímicaAp. fundamentos bioquímica
Ap. fundamentos bioquímica
 

Similar a Bioq.clinica enzimas

Backup of Sheila .docx
Backup of Sheila .docxBackup of Sheila .docx
Backup of Sheila .docxDercio17
 
Trabalho de bioquímica
Trabalho de bioquímicaTrabalho de bioquímica
Trabalho de bioquímicaSpowkein
 
Doença de Gaucher
Doença de GaucherDoença de Gaucher
Doença de GaucherFilipe Leal
 
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxFunção hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxARMSTRONGEMANUELDEME
 
Controle de metabolismo
Controle de metabolismo Controle de metabolismo
Controle de metabolismo Emanuel Fraca
 
Sheila pdf.pdf
Sheila pdf.pdfSheila pdf.pdf
Sheila pdf.pdfDercio17
 
Slides de Aula - Unidade II.pdf
Slides de Aula - Unidade II.pdfSlides de Aula - Unidade II.pdf
Slides de Aula - Unidade II.pdfBrunoMatson1
 
Bioquimica%20do%20sangue[1]
Bioquimica%20do%20sangue[1]Bioquimica%20do%20sangue[1]
Bioquimica%20do%20sangue[1]Joao Solitary
 
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxFunção hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxBrunoaguiar97
 

Similar a Bioq.clinica enzimas (20)

Bioq.clinica enzimas
Bioq.clinica   enzimasBioq.clinica   enzimas
Bioq.clinica enzimas
 
enzimologia clínica
enzimologia clínicaenzimologia clínica
enzimologia clínica
 
Backup of Sheila .docx
Backup of Sheila .docxBackup of Sheila .docx
Backup of Sheila .docx
 
Sangue
SangueSangue
Sangue
 
Trabalho de bioquímica
Trabalho de bioquímicaTrabalho de bioquímica
Trabalho de bioquímica
 
As células justaglomerulares
As células justaglomerularesAs células justaglomerulares
As células justaglomerulares
 
Doença de Gaucher
Doença de GaucherDoença de Gaucher
Doença de Gaucher
 
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxFunção hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
 
Proteínas
 Proteínas Proteínas
Proteínas
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Controle de metabolismo
Controle de metabolismo Controle de metabolismo
Controle de metabolismo
 
Sheila pdf.pdf
Sheila pdf.pdfSheila pdf.pdf
Sheila pdf.pdf
 
Estudo dirigido
Estudo dirigidoEstudo dirigido
Estudo dirigido
 
Enzimas
EnzimasEnzimas
Enzimas
 
Resumo hemato
Resumo hematoResumo hemato
Resumo hemato
 
Slides de Aula - Unidade II.pdf
Slides de Aula - Unidade II.pdfSlides de Aula - Unidade II.pdf
Slides de Aula - Unidade II.pdf
 
Bioquimica%20do%20sangue[1]
Bioquimica%20do%20sangue[1]Bioquimica%20do%20sangue[1]
Bioquimica%20do%20sangue[1]
 
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptxFunção hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
Função hepática - marcadores bioquímicos da função hepática.pptx
 
sistema hepatobiliar
sistema hepatobiliarsistema hepatobiliar
sistema hepatobiliar
 
Portfolio enzimas
Portfolio enzimasPortfolio enzimas
Portfolio enzimas
 

Último

FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirIedaGoethe
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASEdinardo Aguiar
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxconcelhovdragons
 
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptx
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptxDoutrina Deus filho e Espírito Santo.pptx
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptxThye Oliver
 
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...LizanSantos1
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxDeyvidBriel
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 anoAdelmaTorres2
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 

Último (20)

FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
 
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptx
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptxDoutrina Deus filho e Espírito Santo.pptx
Doutrina Deus filho e Espírito Santo.pptx
 
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 

Bioq.clinica enzimas

  • 1. VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Enzimas Volume 9
  • 2. ENZIMAS s enzimas são proteínas com propriedades catalisadoras sobre as reações que ocorrem nos sistemas biológicos. Elas tem um elevado grau de especificidade sobre seus substratos acelerando reações específicas sem serem alteradas ou con- sumidas durante o processo. O estudo das enzimas tem imensa importância clínica. Em algumas do- enças as atividades de certas enzimas são medi- das, principalmente, no plasma sangüíneo, eritró - citos ou tecidos. Todas as enzimas presentes no corpo humano s ão sintetizadas intracelularmente. Três casos se destacam: Enzimas plasma-específicas. Enzimas ativas no plasma utilizadas no mecanismo de coagulação sangüínea e fibrinólise. Ex.: pró -coagulantes: trombina, fator XII, fator X e outros. Enzimas secretadas. São secretadas gera l- mente na forma inativa e após ativação atuam em locais extracelulares. Os exemplos mais óbvios são as proteases ou hidrolases produzidas no sis- tema digestório. Ex.: lipase, α-amilase, tripsino- gênio, fosfatase ácida prostática e antígeno pros- tático específico. Muitas são encontradas no san- gue. Enzimas celulares. Normalmente apresentam baixos teores séricos, mas os níveis aumentam quando são liberadas a partir de tecidos lesados por alguma doença. Isto permite inferir a localiza- ção e a natureza das variações patológicas em alguns órgãos, tais como: fígado, pâncreas e mi o- cárdio. A elevação da atividade sérica depende do conteúdo de enzima do tecido envolvido, da ex- tensão e do tipo de necrose. São exemplos de e n- zimas celulares as transaminases, lactato desidro- genases etc. As meias -vidas das enzimas teciduais após liberação no plasma apresentam grande variabili- dade – nos casos de enzimas medidas com propó- sitos diagnósticos e prognósticos, podem variar desde algumas horas até semanas. Em condições normais as atividades enzimáticas permanecem constantes, refletindo o equilíbrio entre estes pro- cessos. Modificações nos níveis de atividade e n- zimática ocorrem em situações onde este balanço é alterado. As elevações na atividade enzimática são devi- das: Aumento na liberação de enzimas para o plasma é conseqüência de: § Lesão celular extensa, as lesões celulares são geralmente causadas por isquemia ou toxinas celulares, por exemplo: na elevação da ativ i- dade da isoenzima CK-MB após infarto do miocárdio. § Proliferação celular e aumento na renovação celular, por exemplo: aumentos na fosfatase alcalina pela elevação da atividade osteoblás- tica durante o crescimento ou restauração ó s- sea após fraturas. § Aumento na síntese enzimática, por exemplo: marcada elevação na atividade da γ-glutamil transferase após a ingestão de álcool. § Obstrução de ductos – afeta as enzimas nor- malmente encontradas nas secreções exócri- nas, por exemplo: a amilase e a lipase no suco pancreático. Estas enzimas podem regurgitar para a corrente circulatória se o ducto pancre - ático-biliar estiver bloqueado. A
  • 3. 92 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Redução da remoção de enzimas do plasma devido à insuficiência renal. Afeta as enzimas excretadas na urina, por exemplo: a amilase pode estar elevada na insuficiência renal. A redução nos níveis de atividade enzimática são menos comuns e ocorrem na: § Síntese enzimática reduzida, por exemplo: colinesterase baixa na insuficiência hepática severa pela redução do número de hepatócitos. § Deficiência congênita de enzimas, por exe m- plo: baixa atividade da enzima fosfatase alc a- lina plasmática na hipofosfatasemia congênita. § Variantes enzimáticas inerentes com baixa atividade biológica, por exemplo, variantes anormais da colinesterase. A utilidade diagnóstica da medida das enzimas plasmáticas reside no fato que as alterações em suas atividades fornecem indicadores sensíveis de lesão ou proliferação celular. Estas modificações ajudam a detectar e, em alguns casos, localizar a lesão tecidual, monitorar o tratamento e o pro- gresso da doença. No entanto, muitas vezes falta especificidade, isto é, existem dificuldades em relacionar a atividade enzimática aumentada com os tecidos lesados. Isto porque as enzimas não estão confinadas a tecidos ou orgãos específicos, pois estão grandemente distrib uídas e suas ativ i- dades podem refletir desordens envolvendo vários tecidos. Na prática, a falta de especificidade é parc i- almente superada pela medida de vários parâme- tros (que incluem várias enzimas). Como as con- centrações relativas das enzimas variam consid e- ravelmente em diferentes tecidos, é possível, pelo menos em parte, identificar a origem de algumas enzimas. Por exemplo, apesar das enzimas transaminases ALT (GTP) e AST (GOT) serem igualmente abundantes no tecido hepático, a AST (GOT) apresenta concentração 20 vezes maior que a ALT (GTP) no músculo cardíaco. A determin a- ção simultânea das duas enzimas fornece uma clara indicação da provável localização da lesão tecidual. A especificidade enzimática pode tam- bém ser aumentada pela análise das formas isoen- zimáticas de algumas enzimas como na lactato desidrogenase. A seleção de quais enzimas medir com propó- sitos diagnósticos e prognósticos depende de vá- rios fatores. As principais enzimas de uso clínico, juntamente com seus tecidos de origem e aplica- ções clínicas são listadas na tabela 9.1. Tabela 9.1 Distribuição de algumas enzimas de importância diagnóstica Enzima Principal fonte Principais aplicações clínicas Amilase Glândulas salivares, pâncreas, ovários Enfermidade pancreática Aminotransferases (transa- minases) Fígado, músculo esquelético, coração, rim, eritrócitos Doenças do parênquima hepático, infarto do miocárdio, doença muscular Antígeno prostático específico Próstata Carcinoma de próstata Creatina quinase Músculo esquelético, cérebr o, coração, músculo liso Infarto do miocárdio, enfermidades musculares Fosfatase ácida Próstata, eritrócitos Carcinoma da próstata Fosfatase alcalina Fígado, osso, mucosa intestinal, placenta, rim Doenças ósseas, enfermidades hepáticas γ-Glutamiltransferase Fígado, rim Enfermidade hepatobiliar, alcoolismo Lactato desidrogenase Coração, fígado, músculo esquelético, eritró- citos, plaquetas, nódulos linfáticos Infarto do miocárdio, hemólise, doenças do parênquima hepático Lipase Pâncreas Enfermidade pancreática
  • 4. Enzimas 93 AMILASE amilase é uma enzima da classe das hidrolases que catalisa o desdobramento do amido e glicogênio ingeridos na dieta. O amido é a forma de armazenamento para a glicose nos vegetais, sendo constituído por uma mistura de amilose (amido não- ramificado) e amilopectina (amido ramificado). A estrutura do glicogênio é similar ao da amilopectina, com maior número de ramificações. A α-amilase catalisa a hidrólise das ligações α-l, 4 da amilose, amilopectina e glicogênio, liberando maltose e isomaltose. Não hidrolisa as ligações α-1,6. A amilase sérica é secretada, fundamental- mente, pelas glândulas salivares (forma S) e cé- lulas acinares do pâncreas (forma P). É secretada no trato intestinal por meio do ducto pancreático. As glândulas salivares secretam a amilase que inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos na boca e esôfago. Esta ação é desativada pelo conteúdo ácido do estômago. No intestino, a ação da amilase pancreática é favorecida pelo meio alcalino presente no duodeno. A atividade amilá- sica é também encontrada no sêmem, testículos, ovários, tubos de Fallopio, músculo estriado, pul- mões e tecido adiposo. A amilase tem massa mo- lecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, fa- cilmente, filtrada pelo glomérulo renal. HIPERAMILASEMIA Pancreatite aguda. Constitui um distúrbio i n- flamatório agudo do pâncreas associado a edema, intumescência e quantidades variadas de autodis- gestão, necrose e, em alguns casos, hemorragia. Os níveis de amilasemia aumentam após 2 -12 h do início do episódio de dor abdominal que é cons- tante, intenso e de localização epigástrica com irradiação posterior para o dorso. A atividade amilásica retorna ao normal entre o terceiro e o quarto dia. Os valores máximos são quatro a seis vezes maiores do que os valores de referência e são atingidos entre 12-72 h. A magnitude da ele- vação não se correlaciona com a severidade do envolvimento pancreático. Por outro lado, 20% de todos os casos de pancreatite apresentam amilase normal (ex.: muitas pancreatites associadas com hiperlipemia). Outros testes laboratoriais, como a medida da amilase urinária, depuração da amilase, avaliação das isoenzimas da amilase e a medida da lipase sérica, quando empregados em conjunto com a avaliação da amilasemia, aumentam consi- deravelmente a especificidade no diagnóstico da pancreatite aguda. Apesar de menor utilidade no diagnóstico da pancreatite, a amilase urinária está freqüentemente aumentada, atingindo valores mais elevados e que persistem por períodos maiores. Além da determinação da amilasemia outros sinais freqüentes são utilizados para avaliar a pancre atite aguda: § No momento do diagnóstico: contagem de leucócitos >16.000/mm3 ; glicemia >200 mg/dL; lactato desidrogenase >2 x normal; ALT (GTP) > 6 x normal. § Durante as primeiras 48 horas: diminuição do hematócrito >10%; cálcio sérico <8 mg/dL; pO2 arterial <60 mm/Hg. Outras causas de hiperamilasemia pancre- ática: § Complicações da pancreatite aguda, tais como: pseudocisto complicadas por hemorragia, ascites e efusão pleural. § Lesões traumáticas do pâncreas, incluindo trauma cirúrgico e investigações radiográficas. § Carcinoma de pâncreas, com obstrução dos ductos pancreáticos. § Abscesso pancreático, onde a amilasemia au- menta ocasionalmente. Hiperamilasemia não-pancreática: § Insuficiência renal por declínio da depuração. Os aumentos são proporcionais à extensão do comprometimento renal. A
  • 5. 94 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações § Neoplasias de pulmão e ovário. § Síndrome de Meigs (associação de ascite, efu- são pleural e fibro ma de ovário). § Lesões das glândulas salivares, caxumba ou cirurgia maxilofacial. § Macroamilasemia, encontradas em 1-2% da população como resultado da combinação da molécula de amilase com imunoglobulinas (IgA e IgG) ou outras proteínas plasmáticas normais o u anormais para formar um complexo muito grande para ser filtrado pelo glomérulo; neste evento não ocorre amilasúria aumentada e não indica doença. Hiperamilasemia por desordens de origem complexa. Com mecanismos desconhecidos ou incertos: § Doença do trato biliar como a colecistite aguda com aumentos de até quatro vezes os valores de referência . § Eventos intra -abdominais (não pancreáticos) tais como: úlcera péptica perfurada, obstrução intestinal, infarto mesentérico, peritonite, apendicite aguda, gravidez ectópica rompida, aneurismas aórticos e oclusão mesentérica. § Trauma cerebral, a causa da elevação é incerta, mas pode estar associada com trauma das glâ ndulas salivares e/ou abdominais; isto é , dependente de outros órgãos atingidos. § Queimaduras e choques tra umáticos. § Hipermilasemia pós-operatória, ocorre em 20% dos pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas – incluindo procedimentos extra -ab- dominais. § Cetoacidose diabética,a hiperamilasemia está presente em 80% destes pacientes sendo mais freqüente quando os teores de glicemia são >500 mg/dL (a fonte de amilase é incerta). § Transplante renal, um quinto dos transplanta- dos renais apresentam hiperamilasemia. § Alcoolismo agudo. § Pneumonia e enfermidades não-neoplásicas. § Drogas (opiatos, heroína) por constrição d o esfíncter de Oddi e ductos pancreáticos, com a conseqüente elevação da pressão intraductal, provocando regurgitação da amilase para o soro. AMILASE URINÁRIA A hiperamilasúria reflete as elevações séricas da amilase. A atividade da amilase urinária é deter- minada em amostras de urina de uma hora (nestes casos o paciente deve esvaziar completamente a bexiga e desprezar esta urina; todas as urinas c o- lhidas na hora seguinte são reservadas) ou de 24 horas. Na pancreatite aguda a reabsorção tubular da amilase está reduzida, provavelmente secundá- ria a competição com outras proteínas de baixa massa molecular. A hiperamilasúria ocorre tam- bém em quase todas as situações que elevam a amilase sérica. DEPURAÇÃO DA AMILASE A relação·entre a depuração renal da amilase e a depuração da creatinina é útil no diagnóstico dife- rencial da pancreatite aguda. Nesta patologia, a depuração renal da amilase é, geralmente, maior do que a depuração da creatinina causando eleva- ção na relação. O mecanismo responsável por este aumento na depuração é, em parte, atribuído a um distúrbio na reabsorção tubular da amilase (e de outras proteínas de baixa massa molecular) na pancreatite aguda. A fórmula empregada para a depuração é: %100 (mg/dL)urinanacreat.soronoAmilase (mg/dL)soronocreat.(U/dL)urinanaAmilase =× × ×
  • 6. Enzimas 95 As determinações de amilase e creatinina séricas são realizadas em amostras obtidas ao mesmo tempo da coleta de urina. A comparação das duas depurações permite corrigir as alterações na velo- cidade de filtração glomerular, condição esta tam- bém encontrada na insuficiência renal severa. Normalmente, os valores da relação variam entre 1 a 4%, enquanto na pancreatite aguda, fre- qüentemente, estão entre 7 e 15%. No entanto, esta relação não é específica, pois apresenta ele- vações na cetoacidose diabética, queimaduras extensas, perfuração duodenal, mieloma, circula- ção extracorpórea e grandes doses intravenosas de corticoesteróides. A relação é normalizada após a atividade da amilase no sangue e urina voltarem aos valores de referência. O cálculo desta relação permite diferenciar a macroamilasemia de outras causas de hiperamilasemia. Em função do tama- nho do complexo de macroamilase sua depuração renal é reduzida, fornecendo em valores abaixo de 1%. DETERMINAÇÃO DA AMILASE Paciente. Não é exigida preparação especial. Amostra. Soro sem hemólise e não-lipêmico. A atividade amilásica necessita de cálcio e cloretos como cofatores. Assim, anticoagulantes quelantes como o citrato, oxalato e EDTA são impróprios para estas amo stras. Urina colhida no período de 1 h ou no período de 24 h sem conservantes. A amilase é uma enzima bastante estável. No soro e urina (livre de contaminação bacteriana) a amilase é estável por uma semana em temperatura amb i- ente ou por vários meses sob refrigeração. Interferentes. Resultados falsamente aumenta- dos: ácido aminossalicílico, ácido etacrínico, grandes quantidades de etanol, aspirina, analgés i- cos narcóticos, anticoncepcionais orais, colinérg i- cos, contrastes radiográficos, corticoesteróides, pancreozimina, furosemida, rifampina e tiazídicos. Resultados falsamente reduzidos: glicose e fluore- tos. Métodos. A amilase é determinada por diferentes métodos. Os principais são: sacarogênicos, amilo- clásticos, cromolíticos e técnicas de monitoração contínua. Amiloclásticos (Iodométricos). A avaliação amiloclástica (iodométrica) está baseada na capa- cidade do iodo formar cor azul intensa com o amido. Após a ação da amilase sobre um substrato de amido em tempo determinado, a cor azul é medida fornecendo a quantidade de polissacarídio remanescente. O método de Van Loon modificado por Caraway além de empregar um substrato rela - tivamente estável é eficiente e rápido. Sacarogênicos. Nestes métodos, o substrato de polissacarídio é hidrolizado pela ação da ami lase com formação de monossacarídios e dissacarídios. O dissacarídio (maltose) forma glicose pela ação de uma maltase. A quantidade de glicose produ- zida indica a atividade amilásica. As unidades Somogyi obtidas neste método expressam o nú- mero de mg de glicose liberada após incubação. A quantidade de glicose já existente na amostra deve ser considerada ao empregar estes métodos. É bastante empregado em automação. Ensaios cromolíticos. Utilizam um substrato de amido ligado a um corante, formando um com- plexo insolúvel. Após a ação da amilase são pro- duzidos pequenos fragmentos de corante-substrato solúveis em água medidos fotometricamente. Este método é facilmente automatizado. Monitoração contínua. Sistemas enzimáticos- acoplados são empregados para determinar a ati- vidade enzimática por técnica de monitoração contínua na modificação na absorvância do NAD+ medida em 340 nm. Outros métodos. Raramente empregados para este propósito são os métodos turbidimétricos, nefelométricos e de polarização fluorescente. Valores de referência para a amilase Soro de adultos 60 a 160 U/dL (Somogyi) Urina 1500 a 1800 U/d (Somogyi) ou 70-275 U/h Líquido duodenal 50.000 a 80.000 Ud/L (Somogyi)
  • 7. 96 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Bibliografia consultada CARAWAY, W.T. A stable starch substrate for the determ i nation of amylase in serum and other body fluids. Am. J. Clin. Pathol., 32:97-9, 1959. VAN LOON, E.J., LIKINS, M.R., SEGER, A. J. Photometric method for blood amylase by use of starch-iodine color. Am. J. Clin. Path., 22:1134-6, 1952. WONG, E.C.C., BUTCH, A. W., ROSENBLUM, J.L. et al. The clinical chemistry laboratory and acute pancreatitis. Clin. Chem., 39:234-43, 1993.
  • 8. Enzimas 97 LIPASE E TRIPSINA lipase é uma enzima altamente específica que catalisa a hidrólise dos ésteres de glic erol de ácidos graxos de cadeia longa (triglicerídios) em presença de sais biliares e um cofator chamado colipase. As ligações éster, nos átomos de carbono 1 e 3 são preferentemente rompidas, produzindo dois mol de ácidos graxos de cadeia longa e um mol de 2-acilmonoglicerídio por mol de triglicerídio hidrolizado. Tanto a lipase como a colipase são sintetizadas pelas células acinares do pâncreas. A lipase também é encontrada na mu - cosa intestinal, leucócitos, células do tecido adi- poso, língua e leite. HIPERLIPASEMIA A medida da atividade da lipase no soro, plasma, líquido ascítico e pleural, é usada exclusivamente para o diagnóstico de desordens pancreáticas, geralmente, pancreatite aguda. Os níveis de lipase são normais nos casos de envolvimento de glâ n- dulas salivares. Pancreatite aguda. A atividade da lipase au- menta entre 4 a 8 horas, após o início do quadro atingindo o pico máximo em 24 horas. Os valores voltam ao normal entre 8 e 14 dias. Os aumentos da lipase geralmente são paralelo s àqueles da amilase, entretanto, tais aumentos podem ocorrer antes ou após as elevações da amilase. Na pancre- atite aguda pode-se encontrar normoamilasemia em 20% dos pacientes (em casos de hiperlipemia) mas com hiperlipasemia. A atividade lipásica não é necessariamente proporcional à severidade do ataque. Complicações da pancreatite aguda. A pan- creatite aguda pode produzir líquido ascítico ou líquido pleural, ou ambos. Acima de 50% dos pacientes com pancreatite aguda severa desenvol- vem pseudocisto, cuja presença é supeitada quando não há melhora clínica em uma semana após o ataque. Metade dos pacientes com pseudo- cisto mostram elevações na lipase sérica. Pancreatite crônica. A lipase sérica também é utilizada no diagnóstico da pancreatite crônica; apesar da destruição das células acinares nos últ i- mos estágios da enfermidade resulta em diminui- ção na quantidade da enzima na circulação. Desordens intra-abdominais agudas. As vezes o diagnóstico da pancreatite é dificultado por outras desordens intra -abdominais com acha- dos clínicos similares: úlceras duodenais ou gás- tricas perfuradas, obstrução intestinal mesenté- rica e colecistite aguda. Enfermidade renal aguda ou crônica. Nestes casos o aumento da atividade lipásica não é tão freqüente nem tão pronunciada como a atividade da amilase. Obstrução do ducto pancreático. A obstru- ção do ducto pancreático por cálculo ou carcinoma de pâncreas pode elevar a atividade da lipase sé- rica, dependendo da localização da obstrução e a quantidade de tecido lesado. DETERMI NAÇÃO DA LIPASE Paciente. Não é exigido cuidados especiais. Amostra. Soro isento de hemólise. É estável por uma semana no refrigerador ou por vários meses a -20 0 C. Interferentes. Resultados falsamente aumenta- dos: codeína, heparina, morfina, betanecol, colan- giopan-creatografia retrógrada endoscópica. Métodos. Essencial para a compreensão da me- todologia usada na avaliação da lipase é o fato desta enzima atuar na interface éster-água. Deste modo, os substratos para o ensaio devem ser emulsões. A velocidade de reação aumenta com a A
  • 9. 98 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações dispersão da emulsão. O emprego de substratos onde a interface éster-água é inapropriada, per- mite a ação de outras enzimas, tais como: éster carboxílico hidrolase, aril-éster hidrolase e lipase lipoprotéica. Substratos que empregam triglicerí- dios de ácidos graxos de cadeia curta, também permitem falsas reações lipásicas. Titulometria. Os primeiros métodos práticos para a medida da lipase empregavam uma emulsão tamponada de azeite de oliva como substrato. O soro a ser testado era incubado por 24 h com o substrato e os ácidos graxos liberados eram titula- dos com hidróxido de sódio a 0,05 M, usando a fenolftaleína como indicador. Turbidimetria ou nefelometria. São métodos simples e rápidos que monitoram a redução da turvação de uma emulsão de azeite de oliva como resultado da ação da lipase sobre o substrato. Enzimáticos. A lipase hidroliza o substrato contendo triglicerídios produzindo glicerol livre que é quantificado por diferentes métodos. Valores de referência para a lipase Adultos 0,1 a 1,0 Ud Cherry-Crandall ou 28 a 280 U/L (internacionais) TRIPSINA A tripsina é uma enzima proteolítica produzida no pâncreas, na forma precursora de tripsinogênio inativo. O tripsinogênio é convertido em tripsina no duodeno pela enteroquinase. A ativação do tripsinogênio no duodeno, em lugar de intra -pan- creática, evita a autodisgestão proteolítica do pân- creas. A tripsina está presente nas fezes de crian- ças pequenas, com redução dos teores em crianças maiores e em adultos, em virtude da destruição da tripsina por bactérias intestinais. A ausência de tripsina nas fezes é encontrada em pacientes com insuficiência pancreática, fibrose cística (avan- çada), má absorção em crianças, e pancreatite (crônica). Bibliografia consultada CALBREATH, Donald F., CIULLA, Anna P. Clinical c hemistry. 2 ed. Philadelphia : Saunders, 1991. 468 p. CHERRY, I.S., CRANDALL Jr., L. A. The specificity of pancreatic lipase: Its appearance in the blood after pancreatic injury. Am. J. Physiol., 100:266-73, 1932. CLAVIEN, P. A., BURGAN, S., MOOSSA, A. R. Serum enzymes and other laboratory tests in acute pancreatitis. Br. J. Surg., 76:1234-43, 1989. FASSATI, P., PONTI, M., PARIS, P. et al. Kinetic colorimetric assay of lipase in seru m. Clin. Chem, 3 8 :211-5, 1992. KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA, Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry: interpretation and technoques. Baltimore : Williams & Wilkins, 1995. 514 p. KUROOKA, S., KITAMURA, T. Properties of serum lipase i n patients with various pancreatic diseases. J. Biochem., 8 4 :1459-66, 1978. REITZ, B., GUIBAULT, G. G. Fluorometric method for m e asuring serum lipase activity. Clin. Chem., 21:1788- 90, 1975. TIETZ, N. W., ASTLES, J.R., SHUEY, D.F. Lipase activity measurement in serum by a continuos-monitoring pH- stat technique - an– update. Clin. Chem., 35:1688-93, 1989.
  • 10. Enzimas 99 FOSFATASE ALCALINA fosfatase alcalina (FA) pertence a um grupo de enzimas relativamente inespecíficas, que catalisam a hidrólise de vários fosfomonoésteres em pH alcalino. O pH ótimo da reação in vitro está ao redor de 10, mas depende da natureza e concentração do substrato empregado. A fosfatase alcalina está amplamente distribu- ída nos tecidos humanos, notadamente na mucosa intestinal, fígado (canalículos biliares), túbulos renais, baço, ossos (osteoblastos) e placenta. A forma predominante no soro em adultos normais origina-se, principalmente, do fígado e esqueleto. Apesar da exata função metabólica da enzima ser desconhecida, parece estar associada com o trans- porte lipídico no intestino e com processos de calcificação óssea. No fígado, a fosfatase alcalina está localizada na membrana celular que une a borda sinusoidal das células parenquimais aos canalículos biliares. Nos ossos a atividade da fosfatase alcalina está confinada aos osteoblastos onde ocorre a forma- ção óssea. HIPERFOSFATASEMIA ALCALINA Obstrução intrahepática. Como a fosfatase alcalina está localizada nas membranas de reves- timento dos canalículos biliares, e enzima está elevada nas desordens do trato biliar. Pelo imp e- dimento do fluxo biliar, a FA sérica atinge 2-3 vezes os valores de referência (podendo chegar a 10-15 vezes), dependendo do grau de estase biliar. Estes aumentos são devidos, fundamentalmente, ao: (a) incremento na síntese da enzima, (b) reten- ção de ácidos biliares no fígado, que solubilizam a fosfatase alcalina e a removem da membrana plasmática dos hepatócitos, e (c) regurgitação da enzima para a circulação pelo impedimento da excreção. As elevações ocorrem em: § Lesões expansivas, carcinoma hepatocelular primário, metástases, abscessos e granuloma . § Hepatite viral e cirrose, apresentam pequenas elevações nos níveis séricos da FA. § Outras desordens, mononucleose in fecciosa, colangite e cirrose portal. Obstrução extrahepática. A atividade eleva 3 a 10 vezes os valores de referência na obstrução parcial ou total do colédoco. Encontrados nos cálculos biliares e câncer de cabeça de pâncreas. Enfermidades ósseas. Aumentos na atividade da FA ocorrem em pacientes com doenças ósseas caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica. § Doença de Paget (osteíte deformante), como resultado da ação das células osteoblásticas na tentativa de reconstrução óssea que está sendo reabsorvida pela atividade não-controlada dos osteoclastos. A FA atinge de 10 a 25 vezes o limite superor dos valores de referência. § Osteomalácia e raquitismo, apresentam peque- nos aumentos (2 a 4 vezes) de FA, que declinam após terapia com vitamina D. § Hiperparatireoidismo primário e secundário, incrementos pequenos de FA refletem a pre- sença e a extensão do envolvimento ósseo. § Tumores ósseos osteoblásticos primários ou secundários, com valores bastante elevados. § Fraturas ósseas, pequenos aumentos de FA. § Outras desordens, pancreatite aguda e crônica, insuficiência renal crônica, septicemia ex- trahepática, infecções bacterianas intra -abdo- minais, síndrome de Fanconi, tirotoxicose e hi- perfosfatemia transiente benigna em cria nças. Algumas drogas como: cloropromazina, estro - gênios e progesterona. A
  • 11. 100 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Gravidez. Aumentos da FA de 2-3 vezes são observados no terceiro trimestre de gravidez; a enzima adicional é de origem placentária. Au- mentos ou reduções inexplicáveis da FA, predi- zem complicações na gravidez, tais como, hiper- tensão ou pré-eclampsia. ISOENZIMAS DA FOSFATASE ALCALINA As principais isoenzimas da fosfatase alcalina encontradas no soro são provenientes do fígado, ossos, intestino e placenta. Apresentam consid e- rável heterogeneidade inter e intratecidual, sendo seu estudo um indicativo da origem da elevação. Podem também ser encontradas outras isoenzimas patológicas, como a de Regan e Nagao, presentes em processos neoplásticos. Os métodos emprega- dos na separação estão baseados nas propriedades físicas e químicas das isoenzimas: inibição quí- mica, técnicas imunológicas, eletroforese e inati- vação térmica. DETERMINAÇÃO DA FOSFATASE ALCALINA Paciente. Deve permanecer em jejum por 8 h antes d a coleta. Amostra. Soro ou plasma heparinizado. Evitar hemólise, pois os eritrócitos contém, aproxima- damente, seis vezes mais fosfatase alcalina que o soro. O ensaio deve ser realizado logo que possí- vel após a coleta; em algumas horas a fosfatase aumenta de 3 a 10% a 25 0 C. Os valores podem estar 25% mais elevados após a ingestão de refe i- ção rica em gorduras. Interferências. Resultados falsamente elevados: são encontrados em pacientes submetidos a trata- mento com paracetamol, aspirina, agentes anti- fúngicos, barbitúricos, difenilhidantoína, morfina, anti-concepcionais orais e tiazidas. Métodos. Como o substrato natural da fosfatase alcalina é desconhecido, foram propostas várias substâncias que o substituem na avaliação da ati- vidade desta enzima. Deste modo, várias metodo- logias foram propostas com o emprego de dife- rentes substratos. ββ-Glicerofosfato. Os primeiros ensaios publi- cados quantificavam a liberação do fosfato inor- gânico do substrato β-glicerolfosfato, após a ação da enzima presente na amostra. Estes métodos foram abandonados pela pouca sensibilidade e prolongado período de incubação. P-Nitrofenilfosfato. A atividade da enzima é medida pela quantidade de fenol liberado do p- nitrofenilfosfato após incubação com o soro, pos- teriormente avaliado por diferentes métodos. 4-Nitrofenilfosfato. É o substrato mais usado atualmente na avaliação da fosfatase alcalina. É medido o produto liberado após a hidrólise, o 4- nitrofenóxido que é proporcional à atividade da fosfatase alcalina. A modificação proposta por Bowers e McComb é a mais empregada atual- mente. αα-Naftol monofosfato. Mede a velocidade de formação de α-naftol a 340 nm após incubação. Valores de referência para a fosfatase alcalina (4-nitrofenilfosfato – Bowers) Adultos 20 a 105 U/L Crianças de 0 a 3 meses 70 a 220 U/L Crianças de 3 meses a 10 anos 60 a 150 U/L Jovens de 10 a 15 anos 60 a 260 U/L Bibliografia consultada BELFIELD, A., GOLDBERG, D. M. Inhibition of the nucleotidase effect os alkaline phosphatase by β - glycerophosphate. Nature, 291:73-5, 1968. BOWERS Jr., G.N., McCOMB, R.B. Measurement of total alkaline phosphatase activity in human serum. Clin. Chem., 26:1988-95, 1975. KOAY, Evelyn S. C., WALMSLEY, Noel. A primer of c hemical pathology. Singapore : World Scientific, 1996. 396 p. POSEN, S., DOHERTY, E. Serum alkaline phosphatase in clinical medicine. Adv. Clin. Chem., 22:163-245, 1981. PRICE, C. P. Multiple forms of human serum alkaline phosphatase: detection and quantitation. Ann. Clin. Biochem., 30:355-72, 1993.
  • 12. Enzimas 101 FOSFATASE ÁCIDA TOTAL E FRAÇÃO PROSTÁTICA termo fosfatase ácida (FAC) designa um grupo heterogênio não-específico de fosfata- ses que exibem pH ótimo entre 4,5 e 7, e catali- sam a hidrólise de monoéster ortofosfórico produ- zindo um álcool e um grupo fosfato. A fosfatase ácida é amplamente distribuída nos tecidos. A maior atividade é encontrada na glândula prostá- tica (1000 vezes maior que em outros tecidos), células osteoblásticas do osso, fígado, b aço, rins, eritrócitos e plaquetas. Em homens adultos, a próstata contribui com quase a metade da enzima presente no soro. Em indivíduos do sexo masculino, a fração prostática representa em torno de 50% da fosfa - tase ácida total, sendo o restante provenie nte do fígado e de desintegração das plaquetas e eritró- citos. Para o sexo feminino é proveniente do fí - gado, eritrócitos e plaquetas. Os níveis de fosfa - tase ácida no soro apresentam importância clínica no diagnóstico e monitorização do câncer prostá- tico, em especial pelo emprego da fração prostá- tica da fosfatase (FACP). HIPERFOSFATESEMIA ÁCI DA Carcinoma prostático. A principal finalidade da determinação da fosfatase ácida prostática é o diagnóstico e a monitorização do câncer prostá- tico, particularmente, da forma metastisada. O carcinoma prostático atinge principalmente ho- mens acima de 50 anos e é classificado em quatro estágios A, B, C e D (ver tabela 4.2) com relação também as elevações do antígeno prostático esp e- cífico (Ver marcadores tumorais). As elevações da FAC prostática são encontradas ao redor de 60% dos homens com câncer metastático da próstata (estágio D). No entanto, enquando o câncer per- manece localizado na glândula são encontrados valores normais ou levemente aumentados da ati- vidade da enzima. Hipertrofia prostática benigna (HPB). É uma ocorrência relativamente comum em homens acima de 40 anos. O aumento da atividade é possível pela regurgitação da enzima no soro por compressão ou obstrução do sistema ductal pros- tático como resultado da hipertrofia glandular. O diagnóstico é realizado através de questionários de sintomas, toque retal, dosagem de PSA, fluxo - metria e estudo de fluxo de pressão. A etiopatoge- nia da HPB ainda não está adequadamente escla - recida. Após cirurgia ou terapia anti -androgênica. Os níveis vagarosamente retornam ao normal ou com o subseqüente aumento caso o tratamento não tenha obtido sucesso. Palpação retal. A fosfatase ácida prostática no soro, raramente eleva após a palpação. Entretanto, elevações transitórias podem ocorrer após biópsia da próstata, cistoscopia, infarto prostático (cau- sado pelo ato de cateterização) e a bastante rara, ruptura de cisto prostático. Outros aumentos da fosfatase ácida total. Pequenas a moderadas elevações são encontradas, freqüentemente, nas enfermidades ósseas associa- das aos osteoclastos: enfermidade de Paget (avan- çada), hiperparatireoidismo com envolvimento esquelético, invasão maligna do câncer de seio, anemia hemolítica, anemia megaloblástica, mono- nucleose, prostatite, policitemia vera, leucemia mielocítica (e outras enfermidades hematológi- cas), mieloma múltiplo, enfermidade de Niemann- Pick e enfermidade de Gaucher (deficiência da enzima glicerocerebrosidase). DETERMI NAÇÃO DA FOSFATASE ÁCIDA Paciente. Não é exigido preparo especial. Amostra. Soro ou plasma heparinizado isento de hemólise e não lipêmicos. Separar o soro ou plasma dos eritrócitos logo que possível. A en- zima é estabilizada na amostra por acidificação (pH ao redor de 5,4). Isto é conseguido pela adi- ção de 50 µL de ácido acético 5 mol/L (alternati- O
  • 13. 102 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações vamente, juntar 10 mg de citrato dissódico monoi- drato por mL de soro). Nestas condições a ativi- dade enzimática é mantida por várias horas em temperatura ambiente ou por uma semana no re - frigerador. Interferentes. Resultados falsamente aumenta- dos: clofibrato. Resultados falsamente reduzidos: etanol e estrogênio -terapia para o carcinoma de próstata. Métodos. Vários métodos foram desenvolvidos para avaliar a atividade da fosfatase ácida. Devido a importância da detectação do carcinoma prostá- tico antes de metastizar, esforços tem sido reali- zados no aumento da sensibilidade e especifici- dade das medidas da enzima. Primeiros métodos. Historicamente, muitos dos ensaios desenvolvidos para medir a atividade da fosfatase alcalina foram adaptados para a fosfa - tase ácida utilizando os mesmos substratos mas utilizando um tampão ácido. O emprego do fenilfosfato em pH 4,9 é uma modificação do método de King-Armstrong para a fosfatase alcalina. Outras adaptações foram reali- zadas com o β-glicerolfosfato ou 4-nitrofenilfos- fato. Timolftaleína monofosfato. É um substrato auto-indicador com alto grau de especificidade para a FACP. A timolftaleína liberada após a ação da fosfatase, desenvolve cor em meio alcalino. Fosfatases ácidas provenientes de outros tecidos, reagem em grau bem menor com este substrato. Este método é freqüentemente usado. Inibição pelo L -tartarato. A inibição química diferencia a fração prostática pelo uso de L-tarta- rato. A fosfatase ácida total é determinada por métodos correntes (são utilizados o 4 -nitrofosfato ou α-naftil fosfato como substrato) e, em seguida, a fração prostática é inibida pelo L-tartarato com nova determinação da fosfatase ácida. A fração prostática é calculada pela diferença entre as duas determinações. Esta medida não é totalmente es - pecífica para a FACP já que outras isoenzimas mostram diferentes graus de inibição pelo L-tarta- rato. αα-Naftol fosfato. Os métodos que empregam o α-naftol fosfato como substrato liberam o naftol – pela ação da fosfastase ácida – que reage com o Fast Red TR para formar um produto colorido. Pouco usado atualmente. Enzima imunoensaio. Os métodos imunológi- cos estão ganhando força, principalmente na a u- tomação, por sua especificidade para a FACP. Um anticorpo monoclonal ligado a um suporte sólido une-se a FAC prostática. Um segundo anticorpo conjugado a uma enzima (ALP ou peroxidase) liga-se a fosfatase ácida prostática; a a tividade da enzima ligada é proporcional aos teores de FACP. Outros métodos. Radioimunoensaio, cinética fluoremétrica. Valores de referência para a fosfastase ácida prostática (Roy) Adultos 0,5 a 1,9 U/L Bibliografia consultada BODANSKY, O. Acid phosphatase. Adv. Clin. Chem., 1 5 :44-136, 1972. CATALONA, W. J., SMITH, D. S., RATLIFF, T. L. et al. Measurement of prostate-specific antigen in serum as a screening test for prostate cancer. N. Engl. J. Med., 324:1156-61, 1991. CHAN, D. W. AND SOKOLL L. J. Prostate-specific Antigen: Advances and Challenges. Clin Chem. 45:755-756, 1999. EWEN, L. M., SPITZER, R. W. Improved determination of prostatic acid phosphatase (sodium thymolphthalein m onophsopahte substrate). Clin. Chem., 22:627-32, 1976. MAYNE, Philip D., DAY, Andrew P. Workbook of clinical chemistry: case presentation and data interpretation. New York : Oxford University Press, 1994. 208 p. ROY, A. V., BROWER, M.E. HAYDEN, J.E. Sodium thymol phthalein monophosphato: A new acid phosphatase substrate with gre ater specificity for the prostatic a nzyme in serum. Clin. Chem., 17:1093-102, 1971. TOWNSEND, R. M. Enzyme tests in disease of the prost ate. Ann. Clin. Lab. Sci., 7:254-61, 1977.
  • 14. Enzimas 103 Tabela 9.2. Classificação clínica do câncer prostático Grau clínico Descrição, histologia e resultados do exame digital retal e outros exames Freqüência da elevação da fosfatase ácida prostática Freqüência de elevação do PSA A1 Microscópico, não palpável clinicamente com focos menores do que 5% do tecido examinado 11% 67% A2 Microscópico, não palpável clinicamente; com muitas áreas de mais de5% B1 Palpável, tumor macroscópico ≤1,5 cm de diâmetro em um único lobo 22% 73% B2 Palpável, tumor macroscópico >1,5 cm de diâmetro ou vários nódulos em ambos os lobos C1 Tumor com e xtensão extracapsular mas ainda clinicamente localizado, palpável, estendendo -se até a vesícula seminal mas ainda não fixado à parede pélvica 39% 80% C2 Tumor com extensão extracapsular mas ainda clinicamente localizado, palpável estendendo -se na vesícula seminal mas fixado na parede pélvica D1 Tumor metastático demonstrável limitado três nódulos pélvicos ou menos 58% 88% D2 Tumor metastático demonstrável com nódulos mais extensos ou metástase extrapélvica (ex.: aos ossos)
  • 15. Enzimas 104 AMINOTRANSFERASES (TRANSAMINASES) s enzimas aspartato aminotransferase, AST (transaminase glutâmica-oxalacética, GOT) e alanina aminotransferase, ALT (transaminase glutâmica-pinúvica, GPT) catalisam a transferê n- cia reversível dos gru pos amino de um aminoácido para o α-cetoglutarato, formando cetoácido e ácido glutâmico. Estas reações requerem piridoxal fosfato como coenzima: Aspartato + α-cetoglutarato D oxalacetato + ácido glutâmico Alanina + α-cetoglutarato D piruvato + ácido glutâmico As reações catalisadas pelas aminotransferases (transaminases) exercem papéis centrais tanto na síntese como na degradação de aminoácidos. Além disso, como estas reações envolvem a interconver- são dos aminoácidos a piruvato ou ácidos dicarb o- xílicos, atuam como uma ponte entre o metabo- lismo dos aminoácidos e carboidratos. As aminotransferases estão amplamente distri- buídas nos tecidos humanos. As atividades mais elevadas de AST (GOT) encontram-se no mio- cárdio, fígado, músculo esquelético, com peque- nas quantidades nos rins, pâncreas, baço, cérebro, pulmões e eritrócitos. AUMENTOS DAS AMINOTRANSFERASES Desordens hepatocelulares. A AST (GOT) e a ALT (TGP) são enzimas intracelulares presentes em grandes quantidades no citoplasma dos hepa- tócitos. Lesões ou destruição das células hepáticas liberam estas enzimas para a circulação. A ALT (GPT) é encontrada principalmente no citoplasma do hepatócito, enquanto 80% da AST(GOT) está presente na mitocôndria. Esta diferença tem auxi- liado no diagnóstico e prognóstico de doenças hepáticas. Em dano hepatocelular leve a forma predominante no soro é citoplasmática, enquanto em lesões graves há liberação da enzima mi- tocondrial, elevando a relação AST/ALT. § Hepatite aguda. Os níveis de aminotransfera- ses séricas elevam-se uma a duas semanas a n- tes do início dos sintomas. Os aumentos podem atingir até 100 vezes os limites superiores dos valores de referência, apesar de níveis entre 20 e 50 vezes, serem os mais encontrados. As atividades máximas ocorrem entre o 7 e 120 dia; declinando entre a terceira e quinta se- mana, logo após o desaparecimento dos sinto- mas. Na fase aguda da hepatite viral ou tóxica, a ALT (GPT), geralmente, apresenta atividade maior que a AST (GOT). A relação AST/ALT é menor que 1. Geralmente, se encontram hiper- bilirrubinemia e bilirrubinúria com pequena elevação dos teores séricos da fosfatase alca- lina. § Cirrose hepática. São detectados níveis até cinco vezes os limites superiores dos valores de referência, dependendo das condições do progresso da destruição celular; nestes casos, a atividade da AST (GOT) é maior que a ALT (GTP). A disfunção hepatocelular provoca a síntese prejudicada da albumina, além do pro - longamento do tempo de protrombina, hiperbi- lirrubinemia, teores de amônia elevadas e ure - mia baixa. Aumentos das aminotransferases semelhantes aos encontrados na cirrose, são freqüentes na colestase extrahepática, carci- noma de fígado, após ingestão de álcool, du- rante o “delirium tremens” e após administra- ção de certas drogas, tais como, opiatos, sali- cilatos ou ampicilina. A relação AST/ALT freqüentemente é ma ior que 1. § Mononucleose infecciosa. Pode ocorrer eleva- ções de até 20 vezes os valores de referência, com o envolvimento hepático. § Colestase extra -hepática aguda. Entre as vá- rias causas estão: retenção de cálculos biliares, carcinoma de cabeça de pâncreas e tumor dos ductos biliares. Infarto do miocárdio. Ao redor de 6 a 8 horas após o infarto do miocárdio, a atividade sérica da AST (GOT) começa a elevar, atingindo o pico A
  • 16. Enzimas 105 máximo (20 a 200 U/mL) entre 18 e 24 horas e, progressivamente, retornando aos valores de refe- rência ao redor do 5 0 dia. A AST (GOT) não altera na angina pectoris, pericardite e enfermidade vas- cular miocárdica. Distrofia muscular progressiva e dermato- miosite. Elevações de 4-8 vezes da AST (GOT) e, ocasionalmente, da ALT (GPT), são encontra- dos. Em geral, estão normais em outras enfermi- dades musculares, especialmente as de origem neurogênica. Embolia pulmonar. Aumento de 2-3 vezes o normal. Pancreatite aguda. Provoca aumentos mode- rados de duas a cinco vezes o normal. Insuficiência cardíaca congestiva. Os níveis de AST podem estar aumentados em graus de leve a moderado, provavelmente, refletindo a necrose hepática secundária ao suprimento sangüíneo in a- dequado do fígado. Outras desordens. A AST (GOT) apresenta pequenos aumentos na gangrena, esmagamento muscular, enfermidade hemolíticas, distrofia muscular progressiva, dermatomiosite, colangite (inflamação dos ductos biliares) e infecção por parasitas. DETERMINAÇÃO DAS TRANSAMINASES Paciente: Não necessita cuidados especiais. Amostra. Soro isento de hemólise, pois a ativ i- dade das aminotransferases é maior nos eritróci- tos. A atividade da enzima permanece inalterada por 24 horas em temperatura ambiente e mais de uma semana sob refrigeração. Interferentes. Valores falsamente aumentados: paracetamol, ampicilina, agentes anestésicos, cloranfenicol, codeína, cumarínicos, dife nilhi- dantoína, etanol, isoniazida, morfina, anticoncep- cionais orais, sulfonamidas e tiazidas. Métodos. Alguns métodos utilizados para a d e- terminação da atividade das aminotransferases baseiam-se na formação de cor entre o piruvato ou oxaloacetato e a dinitrofenilhidrazina para formar as hidrazonas correspondentes. A alcalinização da mistura desenvolve cor proporcional à conversão dos cetoácidos à hidroxiácidos. A dinitrofenilh i- drazina também reage com o α-cetoglutarato pro- vocando interferências. Estes métodos são obso- letos. Monitorização contínua. O piruvato ou oxalo- acetato formados pela ação das aminotransferases são acoplados a uma segunda reação onde o piru- vato (pela ação da ALT) ou oxaloacetato (pela ação da AST) são reduzidos pela NADH em rea- ção catalisada pela lactato d esidrogenase (para a ALT) ou malato desidrogenase (para a AST). A transformação da NADH por oxidação à NAD+ é monitorada em 340 nm. É adicionado piridoxal 5’- fosfato para suplementar o teor de coenzima no soro e assim desenvolver atividade máxima. Este princípio é utilizado na tecnologia de química seca (DT Vitros). Valores de referência a 37 o C (U/L) AST (GOT): 5 a 34 ALT (GTP): 6 a 37 Bibliografia consultada BRUNS, D., SAVORY, J., TITHERADGE, A. et al. Evaluati on of the IFCC-recommended procedure for serum a spartate aminotransferase as modified for use with the centrifugal analyzer. Clin. Chem., 27:156-9, 1981. COHEN, J. A., KAPLAN, M. M. The SGOT/SGPT ratio na indicador of alcoholic liver disease. Dig. Dis. Sci., 2 4 :835-8, 1979. KARMEN, S. A note on the spectrophotometric assay of g l u t a m i c-oxalacetic transaminase in human bloodserum. J. Clin. Invest., 34:131-3, 1955. REITMAN, S., FRANKEL, S.A. A colorimetric method for the determination of serum glutamic oxalacetic and glutamic piruvic transaminases. Am. J. Clin. Path., 28:57-63, 1957.
  • 17. 106 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações GAMA-GLUTAMILTRANSFERASE γ-glutamiltransferase (γ-GT) catalisa a trans- ferência de um grupo γ-glutamil de um peptí- dio para outro peptídio ou para um aminoácido produzindo aminoácidos γ-glutamil e cistenil- glicina. Está envolvida no transporte de aminoáci- dos e peptídios através das membranas celulares, na síntese protéica e na regulação dos níveis de glutatião tecidual. A γ-GT é encontrada no fígado, rim, intestino, próstata, pâncreas, cérebro e cora- ção. AUMENTOS NA ATIVIDADE DA γ-GT Apesar da atividade enzimática ser maior no rim, a enzima presente no soro é de origem, principal- mente, do sistema hepatobiliar. No f ígado, a γ-GT está localizada nos canalículos das células hepáti- cas e, particularmente, nas células epiteliais que revestem os ductos biliares. Deste modo, o princi- pal valor clínico na avaliação da γ-GT é no estudo das desordens hepatobiliares. O grau de elevação é útil no diagnóstico diferencial entre as desor- dens hepáticas e do trato biliar. Obstrução intra-hepática e extra -hepática. São observados os maiores aumentos (5-30 vezes os limites superiores dos valores de referência) nas colestases do trato biliar – processo patoló - gico primário da cirrose biliar, colestase intra - hepática e obstrução biliar extra -hepática. A γ-GT é mais sensível e duradoura que a fosfatase alca- lina, as transaminases e a nucleotidase, na detectação de icterícia obstrutiva, colangite e colecistite. Além disso, a γ-GT é útil na diferenci- ação da fonte de elevação da fosfatase alcalina – a γ-GT apresenta valores normais nas desordens ósseas e durante a gravidez. A γ-GT é particular- mente importante na avaliação do envolvimento hepatobiliar em adolescentes, pois a atividade da fosfatase alcalina está elevada durante o cresci- mento ósseo. Nas doenças hepatocelulares incluem também a elevação das transaminases, bilirrubinas, tempo de protrombina prolongado e hipoalbuminemia. Enfermidades hepáticas induzidas pelo álcool. A liberação da γ-GT no soro reflete os efeitos tóxicos do álcool e drogas (ex.: fenitoína) sobre as estruturas microssomiais das células h e- páticas. A γ-GT é um indicador do alcoolismo, particularmente, da forma ocult a. Em geral, as elevações enzimáticas nos alcoólatras variam e n- tre 2-3 vezes os valores de referência. Por outro lado, a ingestão de álcool em ocasiões sociais não aumenta, significativamente, a γ-GT. Estes en- s aios são úteis no acompanhamento dos efeitos da abstenção do álcool. Nestes casos, os níveis vol- tam aos valores de referência em duas ou três semanas, mas podem elevar novamente se o uso do álcool é retomado. Em vista da susceptibili- dade da indução enzimática, a interpretação da γ-GT em qualquer caso, deve ser realizada à luz dos efeitos de drogas e álcool. O diagnóstico do uso de álcool pode ser complementado pelos se- guintes testes: § Volume celular médio (VCM) dos eritrócitos. O valor diagnóstico da γ-GT é aumentado quando a macrocitose é encontra da pela medida do VCM. § Tranferrina deficiente em carboidratos (CDT). Em pacientes com doença induzida pelo álcool, a transferrina plasmática tem um reduzido conteúdo de carboidratos (ácido siálico). O teor de CDT plasmático está aumentado em, aproximadamente, 90% dos pacientes que inge- rem mais de 60 g de álcool por dia. § Etanol sangüíneo. Hepatite infeciosa. Aumentos de 2 a 5 vezes os valores de referência; nestes casos a determinação das aminotranferases (transaminases) é de maior utilidade. A
  • 18. Enzimas 107 Neoplasmas. Primários ou secundários apre- sentam atividade da γ-GT mais intensa e mais precoce que outras enzimas hepáticas. Esteatose hepática (fígado gorduroso). É a mais comum das hepatopatias alcoólicas, mas também é descrita em outros quadros, como: h e- patites medicamentosas, gestação, nutrição pa- renteral, corticoterapia, diabetes e nas desnutri- ções protéicas. Pequenos aumentos (2 a 5 vezes o valor superior de referência) ocorrem pela indução das enzimas microssomiais pelo álcool. Nas outras condições os aumentos são menores. Drogas. A γ-GT está presente em grandes quan- tidades no retículo endoplasmático liso e, por- tanto, susceptível a indução de aumento da sua atividade por drogas, tais como a fenitoína, warfa- rina e fenobarb ital. Nestes casos, as elevações atingem níveis 4 vezes maiores que os limites superiores dos valores de referência. Fibrose cística (mucoviscidose). Elevam a γ-GT por complicações hepáticas decorre ntes. Câncer prostático. São encontrados níveis mo- deradamente elevados. Outros tipos de câncercom metástase hepática também provocam aumentos da enzima. Outras condições. Lupus eritematoso sistêmico e hipertireoidismo. Atividade normal da enzima é encontrada em enfermidades ósseas (enfermidade de Paget, neo- plasma ósseo), em crianças acima de u m ano e em mulheres grávidas saudáveis – condições em que a fosfatase alcalina está aumentada. Apesar da γ-GT ser encontrada no pâncreas e rins, a enzima não eleva em desordens nestes órgãos a menos que exista envolvimento hepático. DETERMINAÇÃO DA γ-GT Paciente. Deve permanecer em jejum por 8 ho- ras, à exceção da ingestão de água. Além disso, não deve ingerir álcool durante 24 horas antes da prova. Amostra. Soro sangüíneo. Estável por uma s e- mana em temperatura ambiente. Quando conge- lada é estável por 3 meses. Métodos. Os primerios métodos de análise da γ-GT empregavam o glutatião como substrato. O desaparecimento do substrato ou a formação de produto era detectada por cromatografia, mano- metria ou absorvância em UV. γγ-Glutamil-p-nitroanilina. O substrato mais usado para a análise da γ-GT é a γ-glutamil-p- nitroanilida. O resíduo γ-glutamil do substrato doador é transferido para a glicilglicina, liberando a p-nitroanilina, um produto cromogênico com absorvância em 405-420 nm. Esta reação tanto pode ser usada como método de monitorização contínua como de ponto final. Em química seca (DT Vitros) a alteração de reflexo é empregada para calcular a atividade da enzima. Interferências. Resultados falsamente elevados: fenitoína, fenobarbital, glutemidina e metaqua- lona. Valores de referência (U/L) Homens: 5 a 25 Mulheres 8 a 40 Bibliografia consultada BERTELLI, M. S., CONCI, F. M. Álcool e fígado. Caxias do Sul : EDUCS, 1997. 219 p. Committtee on Enzymes of the Scandinavian Society for Clinical Chemistry and Clinical Physiology: Recommended method for the determination of γ- glutamyl transf erase in blood. Scand. J. Clin. Lab. Invest., 36:119-25, 1976. IFCC Expert Panel on Enzymes: IFCC methods for the measurement of t he catalytic concentration of enzymes. IV: IFCC method for γ-glutamil transferase. J. Clin. Chem. Clin. Biochem., 21:633-46, 1983. LONDON, J. W., SHAW, L. M., THEODORSEN, L., STROME, J. H. Application of response surface methodology to the assay of gamma- glutamyltransferase. Clin. Chem., 28:1140-3, 1982. ROSALKI, S. B. Gamma-glutamyl transpeptidase. Adv. Clin. Chem., 17:53-107, 1975. SMITH, A. F., BECKETT, G. J., WALKER, S. W., ERA, P. W. H. Clinical biochemistry. 6 ed. London : Blackwell Science, 1998. p. 110-123. SZASZ, G. A kinetic photometric method for serum gamma- glutamyl transpeptidase. Clin. Chem., 15:124-36, 1969.
  • 19. 108 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações LACTATO DESIDROGENASE lactato desidrogenase (LD) é uma enzima da classe das oxidorredutases que catalisa a oxidação reversível do lactato a piruvato, em pre- sença da coenzima NAD+ que atua como doador ou aceptor de hidrogênio. Lactato + NAD+ + D Piruvato + NADH+ + H+ A LD está presente no citoplasma de todas as células do organismo. Sendo rica no miocárdio, fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Os níveis teciduais de LD são, aproximadamente, 500 vezes maiores do que os encontrados no soro e lesões naqueles tecidos provocam elevações pla s- máticas significantes desta enzima. ISOENZIMAS DA LACTATO DESIDROGENASE Devido a presença da lactato desidrogenase em vários tecidos, aumentos dos teores séricos da mesma é um achado inespecífico. É possível obter informações de maior significado clínico pela separação da LD em suas cinco frações isoenzi- máticas. As isoenzimas de LD são designadas de acordo com sua mobilidade eletroforética. Cada isoenzima é um tetrâmero formado por quatro subunidades chamadas H para a cadeia polipeptí- dica cardíaca e M para a cadeia polipeptídica muscular esquelética. As cinco isoenzimas encon- trados no soro são: Tipo Percentagem Localização LD-1 (HHHH) 14-26 Miocárdio e eritrócitos LD-2 (HHHM) 29-39 Miocárdio e eritrócitos LD-3 (HHMM) 20-26 Pulmão, linfócitos, baço, pâncreas LD-4 (HMMM) 8-16 Fígado, músc. esquelético LD-5 (MMMM) 6-16 Fígado, músc. esquelético A hemólise produzida durante a coleta e/ou manipulação de sangue, eleva as frações LD -1 e LD-2. AUMENTOS NA ATIVIDADE DA LD Infarto agudo do miocárdio. A LD no soro aumenta 8 a 12 horas após o infarto do miocárdio, atingindo o pico máximo entre 24-48 horas; estes valores permanecem aumentados por 7 a 12 dias (v. adiante). Insuficiência cardíaca congestiva, mioca r- dite, choque ou insuficiência circulatória. A LD eleva mais do que 5 vezes os valores de referência. Anemia megaloblástica. A deficiência de fo- lato ou vitamina B 1 2 provoca destruição das célu- las precursoras dos eritrócitos na medula óssea e aumenta, em até 50 vezes, a atividade da enzima sérica por conta das isoenzimas LD -1 e LD-2 que voltam ao normal após o tratamento. Válvula cardíaca artificial. É uma causa de hemólise que eleva as frações LD -1 e LD-2. Enfermidade hepática. Os aumentos não são tão efetivos como os das transaminases (amin o- transferases): § Hepatite infecciosa tóxica com icterícia, pro- voca aumento de até 10 vezes os valores de re - ferência. § Hepatite viral, cirrose e icterícia obstrutiva, apresentam níveis levemente aumentados: uma ou duas vezes os valores superiores de referên- cia. Mononucleose infeciosa. Os teores séricos da LD são geralmente altos, talvez porque a LD seja liberada dos agregados das células mononucleares imaturas do organismo. Enfermidade renal. Especialmente necrose tubular e pielonefrite. Entretanto estes aumentos A
  • 20. Enzimas 109 não estão correlacionados com a proteinúria e outros parâmetros da enfermidade renal. Doenças malignas. Mostram incrementos da LD no soro, especialmente aquelas com metásta- ses hepáticas. Elevações importantes são encon- tradas n a enfermidade de Hodgkin, câncer abdo- minal e pulmonar. Distrofia muscular progressiva. Aumentos moderados especialmente nos estágios iniciais e médios da doença: eleva a fração LD -5. Trauma muscular e exercícios muito inte n- sos. Eleva principalmente a LD-5, dependendo da extensão do trauma. Embolia pulmonar. A isoenzima LD-3 está elevada provavelmente pela grande destruição de plaquetas após a formação do êmbolo. Pneumocistose. Em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência adquirida. Esta suspeita deve ser confirmada através dos caracteres clíni- cos e dos níveis de hipoxemia dos gases arteriais. CORRELAÇÃO CLÍNICA DAS ISOENZIMAS DA LD As isoenzimas apresentam alterações em várias enfermidades que refletem a natureza dos tecidos envolvidos. Aumentos da LD -3 ocorrem com freqüência em pacientes com vários tipos de carcinomas. As isoenzimas LD -4 e LD-5 são encontradas, fundamentalmente, no fígado e músculo esquelé - tico, com o predomínio da fração LD -5. Assim s endo, os níveis LD -5 são úteis na detectação de desordens hepáticas – particularmente, distúrbios intra-hepáticos – e desordens do músculo esquelé - tico, como a distrofia muscular. Na suspeita de enfermidade hepática, com LD total muito au- mentada e quadro isoenzimático não-específico, existe grande possibilidade da presença de câncer. A LD pode formar complexos com imunoglo- bulinas e revelar bandas atípicas na eletroforese. O complexo com a IgA e IgG, geralmente migra entre a LD-3 e LD-4. Este complexo macromole- cular não está associado a nenhuma anormalidade clínica específica. No infarto do miocárdio tem-se os níveis da fração LD-1 e LD-2 aumentados, as isoenzimas das quais o miocárdio é particularmente rico (ver adiante). Além do lactato, a LD pode atuar sobre outros substratos, tais como o α-hidroxibutirato. A subu- nidade H tem afinidade maior pelo α-hidroxibuti- rato do que as subunidades M. Isto permite o uso deste substrato na medida da ativ idade da LD -l e LD-2, que consistem quase inteiramente d e subu- nidades H. Este ensaio é conhecido como a me- dida da atividade da α-hidroxibutirato desidroge- nase (α-HBD). A α-HBD não é uma enzima distinta, é, isto sim, representante da atividade da LD -1 e LD-2. A atividade da α-HDB está aumentada naquelas condições em que as frações LD -1 e LD-2 estão elevadas. No infarto do mio cárdio, a atividade da α-HBD é muito similar aquela da LD-l. Foi proposto o cálculo da relação LD/ α-HBD que, em adultos varia entre 1,2 a 1,6. Nas enfermi- dades hepáticas parenquimais, a relação se situa entre 1,6 a 2,5. No infarto do miocárdio, com aumento da LD -1 e LD-2 a relação diminui para 0,8 a 1,2. LACTATO DESIDROGENASE NA URINA Elevações da atividade da LD na urina de três a seis vezes os valo res de referência estão associa - das com glomerulonefrite crônica, lupus eritema - toso sistêmico, nefroesclerose diabética e câncer de bexiga e rim. A determinação da LD na urina é afetada pela presença de inibidores como a uréia e pequenos peptídios e de possíveis inativações da enzima sob condições de pH adversos na urina. LACTATO DESIDROGENASE NO LCR Em condições normais a atividade da LD no lí - quido cefalorraquidiano (LCR) é bem menor do que a encontrada no soro sangüíneo. A distribui- ção is oenzimática é LD1 >LD3 >LD2 >LD4 >LD5 . No entanto, estes valores podem aumentar e/ou modi-
  • 21. 110 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações ficar em presença de hemorragia ou lesão na bar- reira cerebral sangüínea provocada por enfermida- des que adicionam LD de origem sistêmica ao LCR. Além disso, as isoenzimas da LD são libera - das das células que se infiltram no LCR. Por exemplo, na meningite bacteriana, a granulocitose resultante produz elevações da LD -4 e LD-5, en- quanto a meningite viral causa linfocitose que provoca elevações da LD -1 e LD-3. Alguns autores observaram aumentos na fração LD-5 no LCR em presença de tumores metastati- zados, enquanto em tumores cerebrais primários mostram aumento em todas as frações. Em neo- natais, elevações da LD s ão observadas em hemo r- ragias intracraneanas e estão de forma significa- tiva associadas com distúrbios neurológicos com convulsões e hidroencefalia. DETERMINAÇÃO DA LACTATO DESIDROGENASE Paciente. Não é exigido preparo especial. Amostra. Soro ou plasma heparinizado ou LCR. O soro e plasma devem estar completamente isentos de hemólise, pois os eritrócitos contém 100-150 vezes mais LD. Estável por 24 h em tem- peratura ambiente. Não refrigerar. Interferentes. Resultados falsamente elevados: ácido ascórbico, anfotericina B, barbitúricos, car- bonato de lítio, clofibrato, carbutamina, cefalo - tina, clonidina, cloridrato de clorpromazina, clori- drato de procainamida, codeína, dextran, floxuri- dina, hormônio tireóideo, lorazepam, meperidina, mitramicina, morfina, niacina, nifedipina, propra- nolol e metildopa. Resultados falsamente reduzi- dos: esteróides anabólicos, androgênios oxalatos e tiazidas. Métodos. A atividade da lactato desidrogenase pode ser avaliada em termos da velocidade de transformação do piruvato a lactato. Após incuba- ção, a quantidade de piruvato consumida é deter- minada pela adição de dinitrofenilhidrazina para formar um composto colorido (hidrazona) medido fotometricamente. Esta metodologia está sendo abandonada em detrimento aos ensaios “cinéti- cos”. Em outro método colorimétrico, a NADH formada reage com sais tetrazólicos para produzir um composto colorido. Piruvato à lactato. Muitos métodos medem a interconversão de lactato/piruvato utilizando a coenzima NAD+ e NADH medida em 340 nm. As reações procedem do lactato → piruvato, ou de modo inverso, piruvato → lactato. A velocidade da reação reversa é três vezes mais rápida, permi- tindo o emprego de reagentes mais baratos, amo s- tras pequenas e menor tempo de incubação. En- tretanto, a reação reversa é mais susceptível a exaustão do substrato e a perda de linearidade. O filme usado em química seca (DT Vitros) contêm os reagentes para o emprego da conversão do piruvato e NADH, em lactato e NAD+ . Valores de referência para a lactato desidrogenase (U/L) Soro 95 a 225 Urina 42 a 98 Líquido cefalorraquid iano 7 a 30 Bibliografia consultada CABAUD, P. G., WRÓBLEWSKI, F. Colorimetric measurement of lactic dehydrogenase activity of body fluids. Am. J. Clin. Path., 30:234-6, 1981. CHATTERLY, S, SUN, T., LIEN, Y. Diagnostic value of lactate dehydrogenase isoenzymes in cerebrospinal fluid. J. Clin. Lab. Anal., 5:168-74, 1991. STURK, A., SANDERS, G. T. B. Macro enzymes: prevalence, composition, detection and clinical relevance. J. Clin. Chem. Clin. Biochem., 28:65-81, 1990. Working Group on Enzymes of the German Siciety for Clini cal Chemistry: Proposal for standard methods for the determination of enzyme concentrations in serum and plasma at 37 o C. Clin. Chem. Clin. Biochem., 2 8 :805-8, 1990.
  • 22. Enzimas 111 CREATINA QUINASE enzima creatina quinase (CK) catalisa a fo s- forilação reversível da creatina pela adeno- sina trifosfato (ATP) com a formação de creatina fosfato. A CK está associada com a geração de ATP nos sistemas contráteis ou de transporte. A função fisiológica predominante desta enzima ocorre nas células musculares, onde está envol- vida no armazenamento de creatina fosfato (com- posto rico em energia). Cada ciclo de contração muscular promove o consumo de ATP com forma- ção de ADP. A creatina quinase está amplamente distribuída nos tecidos, com atividades mais elevadas no músculo es quelético, cérebro e tecido cardíaco. Quantidades menores são encontradas no rim, diafragma, tireóide, placenta, bexiga, útero, pul- mão, próstata, baço, reto, cólon, es tômago e pâncreas. O fígado e eritrócitos são essencial- mente desprovidos desta enzima. ISOENZIMAS DA CREATINA QUINASE A creatina quinase consiste de um dímero com- posto de duas subunidades (B ou cérebro e M ou muscular) que são separadas em três formas mole- culares distintas: § CK-BB ou CK-1, encontrada predominante- mente no cérebro. Raramente está presente no sangue. § CK-MB ou CK-2, forma híbrida, predominante no miocárdio. § CK-MM ou CK-3, predominante no músculo esquelético. Estas três isoenzimas são encontradas no citosol ou associadas à estruturas miofibrilares. O músculo esquelético contém quase inteiramente CK-MM, com pequenas quantidades de CK-MB. A maior atividade da CK no músculo cardíaco é também atribuída a CK-MM com, aproximada- mente, 20% de CK-MB. O soro normal contém ao redor de 94-100% de CK-MM. A CK-MB está confinada quase exclusivamente no tecido cardí- aco. Níveis elevados de CK-MB são de grande significado diagnóstico no infarto agudo do mi o- cárdio. Existe uma quarta forma que difere das frações anteriores, chamada CK-Mt, localizada no espaço entre as membranas internas e externas das mitocôndrias e corresponde a 15% da atividade da CK total cardíaca. A macro-CK está associada à imunoglobulinas representando 0,8-1,6% da atividade da CK e não está relacionada a nenhuma enfermidade especí- fica. Nas lesões teciduais extensas com ruptura das mitocôndrias, a CK-Mt pode ser detectada no soro. Sua presença também não está relacionada a nenhuma enfermidade especifíca, mas parece indi- car doenças severas, como tumores malignos e anormalidades cardíacas. CORRELAÇÃO CLÍNICA DA CK A atividade sérica da CK está sujeita a variações fisiológicas que interagem e afetam a atividade da enzima, tais como: sexo, idade, massa muscular, atividade física e raça. Enfermidades do músculo esquelético. Como uma das principais localizações da creatina quinase é o músculo esquelético, os níveis séricos estão freqüentemente elevados nas lesões destes tecidos. § Distrofia muscular progressiva, particular- mente a de Duchene (distúrbio recessivo ligado ao cromossomo X) apresenta atividade de CK 50 a 100 vezes os limites superiores dos valo- res de referência. Apesar da CK total ser de grande utilidade n estas desordens, não é uma avaliação inteiramente específica já que eleva- ções também são encontradas em outras anor- malidades do músculo cardíaco e esquelético. Em distrofias como a de Becker e a de Dreifuss A
  • 23. 112 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações os níveis de CK sérica são normais ou leve- mente aumentados. § Miosite viral e polimiosite apresentam valores bastante elevados de CK; no entanto, doenças musculares neurogênicas, como: miastenia gravis, esclerose múltipla, poliomielite e pa- rkinsonismo a atividade enzimática é normal. § Hipertermia maligna, uma enfermidade fami- liar rara mas severa caracterizada por febres altas, convulsões e choque e desencadeada pela administração de anestesia geral. Muitos destes pacientes apresentam evidências de miopatia. Atividades bastante elevadas da CK são en- contradas no estágio agudo pós-anestesia. P e- quenos aumentos muitas vezes persistem e p o- dem também ser detectados em parentes dos pacientes afetados. § Polimiopatia necrosante, onde existe destru i- ção do músculo devido ao infarto ou necrose muscular, lesões por esmagamento, alcoolismo, hipertermia maligna, exercícios intensos, mioglobinúria recorrente, certas enfermidades metabólicas hereditárias do músculo, viroses, injeções intramusculares (os aumentos da CK podem persistir por mais de 48 h) e intervenções cirúrgicas. § Drogas, elevações em doses farmacológicas: ácido aminocapróico, anfotericina B, carbenoxolone, clofibrato, ciclopropano, danazol, éter dietílico, dietilstilbrestol, halotano, labetalol, lid ocaína, D-penicilina, pindolol, stanozol, quin idina e succinilcolina. Nos casos de abuso ou “overdose” como a amitriptylina, anfetaminas, barbitúricos, etanol, glutetimida, heroína, imipramina e fenciclidina podem aumentar a atividade da enzima dramaticamente. § Estados psicóticos agudos, os incrementos são, provavelmente, provocados por anormalidades do músculo esquelético. Enfermidades cardíacas. São comuns os au- mentos da atividade da CK em situações que en- volvem o coração, apesar de nem todos os au- mentos indicarem o envolvimento miocárdico. § Infarto do miocárd io, ver discussão das enzi- mas no infarto do miocárdio (v. adiante). § Condições e procedimentos cardíacos, tais como: angina pectoris, choque cardiogênico, cirurgia cardíaca incluindo transplante, taqui- cardia, cateterização cardíaca, arteriografia c o- ronária, insuficiência cardíaca congestiva e a n- gioplastia coronária percutânea transluminal elevam em níveis moderados a CK total ou a CK-2 (CK-MB), ou ambas; estas elevações p o- dem mascarar subsequentes infartos do mi o- cárdio. § Miocardite, promove aumentos marcantes da CK-2 (CK-MB). Enfermidades do sistema nervoso central. Apesar da alta concentração de CK no tecido c e- rebral, o soro raramente contém CK-1 (CK-BB). Devido ao seu tamanho molecular (80.000), a passagem através da membrana sangue-cérebro é impedida. § Lesões no crânio com dano cerebral, nestes casos, quantidades significantes de CK-1 (CK- BB) podem ser detectadas no soro; a extensão destes aumentos estão correlacionadas com a severidade do dano e também com o prognós- tico. § Enfermidade cardiovascular, n eurocirurgia e isquemia cerebral aumentam a fração CK-3 (CK-MM). A isoenzima CK-1 não eleva. § Hemorragia subaracnóidea, paradoxalmente a isoenzima CK-2 (CK-MB) pode ser detectada freqüentemente nestes pacientes. Este achado sugere comprometimento do miocárd io após acidente cerebral. § Síndrome de Reye, (desordem da infância ca- racterizada pelo inchamento agudo do cérebro com infiltração gordurosa e disfunção hepática sem icterícia), a CK total está aumentada em
  • 24. Enzimas 113 até 70 vezes, principalmente a isoenzima CK- 1; a extensão total da elevação da CK parece ser um indicador da severidade da encefalopa- tia. Enfermidades da tireóide. A atividade da CK sérica demonstra uma relação inversa com a ativ i- dade da tireóide. § Hipotireoidismo, a atividade da CK eleva em 5 vezes os limites superiores de referência, mas os aumentos chegar a 50 vezes e são devidos ao envolvimento do tecido muscular (incremento na permeabilidade da membrana) provavelmente, na redução da depuração de CK como efeito do hipometabolismo; a principal isoenzima presente é a CK-3 (CK-MM), apesar de 13% da atividade da CK ser devida à fração CK-2 (CK-MB), sugerindo um possível envolvimento do miocárdio (de qualquer modo, o hipotireoidismo predispõe à enfermidade car- díaca isquêmica). § Hipertireoidismo, os aumentos da atividade da CK tendem estar nos limites inferiores de valo- res de referência. DETERMINAÇÃO DA CREAT INA QUINASE Paciente. Se a dosagem tiver por objetivo a ava- liação de distúrbios da musculatura esquelética, o paciente deve evitar exercícios vigorosos durante 24 h. Não ingerir álcool no dia anterior ao teste. Suspender as drogas que afetam os resultados das dosagens durante 24 h. Amostra. Soro, plasma (heparinizado) isentos de hemólise, LCR e líquido amniótico. Icterícia e lipemia podem interferir em leituras de absorvân- cias. Em refrigerador e no escuro, as amostras são estáveis por uma semana. A –20 o C conservam-se por mais de um mês. Interferências. Falsos resultados aumentados: procedimentos invasivos e outros: cateterismo cardíaco (com lesão do miocárdio), choque elé - trico, eletrocauterização, eletromiografia, injeções intramusculares e massagem muscular recente. Drogas: acetato de dexametasona, ácido aminoca- próico, carbonato de lítio, clofibrato, cloreto de succinilcolina, cloridrato de meperidina, codeína, digoxina, etanol, fenobarbital, furosemida, glute- timida, guanetidina, halotano, heroína, imipramina e sulfato de morfina. Métodos para a CK total. A determinação da atividade da creatina quinase emprega produtos formados na reação direta (creatina fosfato + ADP) ou inversa (creatina + ATP). Tanto o ATP como o ADP são medidos por reações específicas. Método de Oliver-Rosalki. Os métodos mais empregados utilizam a reação reversa, onde em condições ótimas se desenvolve seis vezes mais rapidamente que a reação direta. Olivier descreveu uma seqüência de reações onde a transformação de creatina fosfato em creatina e ATP, catalisada pela creatina quinase é acoplada ao sistema hexo - quinase/glicose 6 -fosfato desidrogenase/NADH. A variação na absorvância em 340 nm é medida na avaliação de CK. Rosalki incluiu um tiol ao rea- gente para aumentar a atividade da CK mantendo os grupos sulfidrílicos na forma reduzida. A modi- ficação proposta por Szasz é sensível e apresenta boa precisão e está livre da interferência exercida pela adenilato quinase. Em química seca (DT Vitros) o ativador N- acetilcisteína restaura a atividade de CK que inicia a seqüência de reações que culminam com a união da H2 O2 e o corante leuco. Valores de referência para a creatina quinase (U/L) Homens 15 a 160 Mulheres 15 a 130 DETERMINAÇÃO DAS ISOENZIMAS DA CK A separação eletroforética das isoenzimas da CK, foi um dos métodos mais empregados até recen- temente. Os monômeros M e B possuem diferentes cargas, o que permite a separação das diferentes frações. Baseados na carga, também foram desen- volvidos métodos que utilizam a cromatografia trocadora de íons. Esta técnica está em desuso.
  • 25. 114 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Principalemnte para a CK-MB, foram desen- volvidos vários métodos imunológicos, dentre os quais, o de imunoinibição que utiliza anticorpos CK-M anti-humano para inibir a CK-MM (ativi- dade muscular). A atividade CK restante, que é proporcional à atividade da CK -MB, catalisa a formação da creatina e ATP a partir da creatina fosfato e ADP. Estas reações são empregadas em química seca (DT Vitros). Ensaios de massa também são usados na de- terminação da atividade da CK-MB. Anticorpos contra a CK-MB são covalentemente ligados a uma superfície sólida. A CK-MB da amostra reage com o anticorpo formando um complexo antígeno- anticorpo. Um segundo anticorpo conjugado com outra enzima (ex.: fosfatase alcalina) é, então, adicionado. Assim, forma -se um complexo anti- corpo-CK-MB-anticorpo. Após a remoção de anti- corpos não-ligados, um substrato é adicionado para reagir com a enzima conjugada ao anticorpo para formar um produto detectável, proporcional a atividade da CK-MB presente na amostra. Bibliografia consultada GRIFFITHS, P. D. CK -MB: A valuable test? Ann. Clin. Biochem., 23:238-42, 1986. HORDER, M., ELSER, R. C., GERHARDT, W et al. Approved recommendation on IFCC methods for the measurement of catalytic concentration of enzymes: Part 7. IFCC method for creatine kinase. Eur. J. Clin. Chem. Clin. Biochem., 29:435-56, 1991. JONES, M. G. SWAMINATHAN, R. The clinical biochemistry of creatine kinase. J. Int. Fed. Clin. Chem., 2:108-14, 1990. LANG, H., WURZBURG, U. Creatine kinase, na enzyme of many forms. Clin. Chem., 28:1439-47, 1982. ROSALKI, S. B. An improved procedure for serum creatine phosphokinase determination. J. Lab. Clin. Med., 6 9 :696-705, 1967. ROSALKI, S. B. Low Serum Creatine Kinase Activity. Clin. Chem., 44:905. 1998. SZASZ, G., GRUPER, W., BERNT, E. Creatine kinase in serum. I. Determination of optimum reaction conditions. Clin. Chem., 22:650-6, 1976. WU, A. H. B. Creatine kinase isoforms in schemic heart disease. Clin. Chem., 35:7-13, 1989.
  • 26. Enzimas 115 OUTRAS ENZIMAS ALDOLASE A aldolase (ALD) pertence a classe das liases encontradas em todas as células do organismo, mas presente em concentrações mais elevadas no músculo esquelético, fígado e cérebro. Em virtude da elevação da aldolase durante a doença ativa do músculo esquelético, sua avaliação ajuda no acompanhamento e evolução de certas doenças, como a distrofia muscular progressiva. É necessário pelo menos 30 minutos de re - pouso antes da coleta da amostra para evitar a interferência da atividade muscular. As amostras devem ser livres de hemólise (os eritrócitos apre - sentam 100 vezes mais atividade que o soro). Valores de referência: recém-nascidos: <32 U/L; crianças: <16 U/L; adultos: 1,0 a 7,5 U/L (30 0 C). Valores elevados. Doença do músculo esquelé- tico, principalmente, na distrofia muscular de D u- chenne, dermatomiosit e, polimiosite (no entanto são encontrados valores normais na polimielite, miastenia grave, esclerose múltipla e enfermid a- des musculares de origem neurogênica), infarto do miocárdio, hepatite viral aguda, triquinose, gan- grena, tumores prostáticos, alguma s metástases hepáticas, leucemia granulocítica, anemia mega- loblástica, “delirium tremens” e drogas (acetato de cortisona, e corticotrofina). Valores reduzidos. clinicamente insignifican- tes. ISOCITRATO DESIDROGENASE A isocitrato desidrogenase (ICD) é uma enzima que catalisa a descarboxilação oxidativa do isoci- trato a oxalossucinato e α-cetoglutarato no ciclo de Krebs. É um indicador sensível de doença h e- pática parenquimatosa. Valores de referência: 2 a 13 U/L (37 0 C). Valores elevados. Cirrose, hepatite (crônica), infarto pulmonar grave, kwashiorkor, lesões he- páticas infectadas por bactérias, metástases hepá- ticas, mononucleose infecciosa, síndrome de Reye e inflamação aguda do trato biliar. Valores reduzidos. Necrose hepatocelular (ma- ciça). 5’-NUCLEOTIDASE Enzima da membrana plasmática que catalisa a hidrólise da maioria dos ribonucleosídios 5’-mo- nofosfato e desoxinucleosídios 5’-monofosfato em nucleosídios correspondentes e ortofosfatos. Trata-se de uma isoenzima da fosfatase alcalina encontrada no parênquima hepático e nas células do ductos biliares. Sua atividade sérica aumenta de 2 a 6 vezes em doenças hepáticas que interfe- rem com a secreção biliar (cálculo, cirrose biliar etc.). A sua avaliação ajuda a estabelecer o dia- gnóstico diferencial entre câncer ósseo e hepático, visto que a 5’-nucleotidase raramente está elevada no câncer ósseo. Quando acoplados com elevação da fosfatase alcalina, os níveis de 5’-nucleotidase indicam metástase hepática. Valores de referência: 2 a 17 U/L; Valores elevados. Alcoolismo, cirrose, ciru r- gia, colestase fármaco-induzida, disfunção hepá- tica, metástase hepática e obstrução extra -hepá- tica; Valores reduzidos. Hepatite.
  • 27. 116 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações COLINESTERASE Duas enzimas tem a capacidade de hidrolizar ace- tilcolina para formar colina e o ácido correspon- dente. Uma é a acetilcolinesterase ou colineste- rase I encontrada nos eritrócitos, pulmões e baço, terminações nervosas e na matéria cinza do cére- bro, mas não no plas ma. É responsável pela rápida hidrólise da acetilcolina liberada nas terminações nervosas para mediar a transmissão do impulso nervoso através da sinapse. A outra colinesterase é a acilcolina acilhidro - lase usualmente denominada pseudocolinesterase ou colinesterase II encontrada no fígado, matéria branca do cérebro e soro; sua função biológica não é conhecida. A pseudocolinesterase é uma colinesterase específica que hidrolisa tanto ésteres não-colina como a acetilcolina. É encontrada em várias fo r- mas e atua em inativar a acetilcolina. É sintetizada no fígado e encontrada no plasma. A atividade de enzima é inibida reversivelmente por inseticidas contendo carbamato e irreversivelmente por inse- ticidas organofosforados. Alguns pacientes exibem apnéia prolo ngada após administração de succinilcolina, um rela- xante muscular. Esta droga é normalmente hidro- lizada pela colinesterase plasmática. Entretanto, ocasionalmente, a droga é ativa por períodos mais longos, causando apnéia que perdura por várias horas. Isto é ocasionado em razão do desequilíbrio eletrolítico e desidratação. Mais de 50% dos paci- entes sensíveis à succinilcolina tem anormalidades geneticamente determinadas na enzima que levam a atividades reduzidas no plasma. Valores de referência: 3.500 a 8.500 U/L. Valores aumentados. Alcoolismo, câncer de mama, síndrome nefrótica, obesidade, hiperlip o- proteinemia do tipo IV e psicose. Valores reduzidos. Anemias, dermatomiosite, desnutrição, doença renal crônica, embolia pul- monar, gravidez tardia, infarto do miocárdio, in- fecções agudas, intoxicação por inseticidas org a- nofosforados, anticoncepcionais orais, estrogênios e doenças hepáticas parenquimatosas. Bibliografia consultada BODANSKY, O., SCHWARTZ, M. K. 5’-Nucleotidase. Adv. Clin. Chem., 15:44-136, 1972. BROWN, S. S., KALOW, W., PILZ, W. et al. The plasma cholinesterases: A new perspective. Adv. Clin. Chem., 2 2 :1-123, 1981. ELLIS, G., GOLDBERG, D. M., SPOONER, R. J., WARD, A. M. Serum enzyme tests in diseases of the liver and b i l i ary tree. Am. J. Clin. Path., 70:248-58, 1978.
  • 28. Enzimas 117 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) infarto do miocárdio consiste em necrose irreversível do miocárdio, que resulta em geral de trombose numa lesão pré -existente da parede vascular ou rotura de uma placa aterosclerótica em uma artéria coronária importante. A princípio ocorre isquemia, e se esta for grave e prolongada, segue-se o infarto do miocárdio, cuja extensão depende da artéria coronária obstruída, do grau de circulação colateral e das exigências de oxigênio do tecido suprido pela artéria. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a tríade clássica para a confirmação diagnóstica é formada por: § Dor no peito: pré -cordial. § Alterações eletrocardiográficas: em especial com elevações do segmento ST e onda Q. § Elevações das enzimas cardioespecíficas. A avaliação enzimática é uma rotina nos paci- entes suspeitos de terem desenvolvido infarto agudo do miocárdio. O infarto deve ser diferenci- ado da angina pectóris, embolia pulmonar e insu- ficiência cardíaca congestiva. Além disso, nem todos os pacientes manifestam os mesmos sinto- mas. De fato, os infartos silenciosos ocorrem em aproximadamente 20% dos casos. Some -se a isto, que as alterações eletrocardiográficas podem estar ausentes ou serem inespecíficas. A s enzimas mais utilizadas na investigação do infarto agudo do miocárdio são: a creatina quinase (CK) e a lactato desidrogenase (LD), também como suas isoenzi- mas. A transaminase oxalacética (TGO) apresenta menor uso. Para aumentar esta especificidade são avaliadas também as isoenzimas da CK e LD. Nesta seção, considera -se as alterações enzi- máticas e algumas provas não-enzimáticas utiliza- das para o diagnóstico do infarto do miocárdio e as vantagens e desvantagens de cada tipo de me- dida. Após a instalação dos sintomas do infarto agudo do miocárdio se observa, na maioria dos pacientes, um período durante o qual é possível detectar a elevação das enzimas liberadas pelo tecido miocárdico lesado. Esta relação temporal é particular para cada enzima e varia de um paciente para outro, ainda que exista um modelo típico (Figura 4.1). De modo geral, estas enzimas devem estar elevadas na ocorrência do infarto agudo do miocárdio (especificidade) e dentro dos valores normais na ausência de infarto (sensibilidade). Geralmente, a diferenciação do infarto pulmo- nar é realizada prontamente, sendo a mesma ca- racterizada pelos níveis elevados da LD e, usual- mente, pelos valores normais de TGO(AST) e CK. Em alguns pacientes com embolia pulmonar, ocor- rem valores discretamente aumentados da TGO(AST) pulmonar ao redor do terceiro ou quarto dia após o acesso de dor no peito. CK-MB O miocárdio contém expressivas quantidades de CK-MB. Em outros tecidos, a CK-MB é encon- trada em pequenos teores. No miocárdio esta fra - ção pode ser liberada para o soro em quantidades significantes. A elevação da atividade plasmática da CK-MB (igual ou maiores que 6% da CK total) é o indicador mais específico de l esão miocárdica (98-100% dos casos), particula rmente, de infarto agudo do miocárdio. A CK-MB começa a elevar- se em 4-8 horas a partir da dor precordial, atin - gindo o máximo em 12-24 horas, retornando ao normal, nos casos não complicados, em 48-72 horas. Pacientes que atingem o pico máximo rapi- damente (8-12 h), tem melhor prognóstico do que aqueles que demoram para alcançar o pico (24 h). Atividade aumentada de CK-MB é também encontrada em outras desordens cardíacas. Po r- tanto, aumentos desta fração não são inteiramente específicos para o infarto agudo do miocárdio mas, provavelmente, refletem algum grau de lesão isquêmica cardíaca. A especificidade para o in- farto pode ser aumentada se os resultados forem interpretados em associação com as isoenzimas da lactato desidrogenase e se medida, seqüencia l- O
  • 29. 118 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações mente, por períodos superiores a 48 horas para detectar os aumentos e as reduções típicas das enzimas encontradas nestes distúrbios. A angina pectoris, choque cardiogênico, taquicardia, mi o- cardite e insuficiência cardíaco-congestiva, ge- ralmente, não elevam a CK total nem a CK-MB. Outras situações como: injeções intramusculares, traumatismos, cirurgias não-cardíacas e cateteris- mos cardíacos a CK-MB permanece normal. Ocor- rem elevações nos níveis séricos da CK-MB em estados patológicos descritos na tabela 9.2. T abela 9.2. Elevação da atividade sérica da CK-MB em diversos estados patológicos Infarto agudo do miocárdio Angina severa (em alguns casos) Fibrilação auricular crônica Insuficiência coronária Síndrome de aplastamento Pericardite Desfibrilação Colo cação de marcapasso Angiografia coronária Cirurgia cardíaca de peito aberto Massagem cardíaca externa ou ressuscitação cardiopul- monar Intoxicação por monóxido de carbono Hipertermia maligna Distrofia muscular como a de Duchenne Polimiosite Cirurgia ou infarto prostático Dermatomiosite Síndrome de Reye Processos malignos A fração CK-BB pode se transformar na CK- MB, o que explica o aparecimento desta isoenzima em pacientes com câncer de pulmão, desordens cerebrais agudas e outros distúrbios. LACTATO DESIDROGENASE A atividade da LD total aumenta 8 a 12 h a partir da dor precordial, atinge o máximo em 24 a 48 h e permanece elevada por 7 ou mais dias. As eleva- ções são três a quatro vezes o v alor de referência superior, mas pode atingir até 10 vezes. A fração LD-1 apresenta uma trajetória semelhante à LD total, no entanto, devido a sua especificidade teci- dual, a isoenzima tem maior utilidade diagnóstica. Nos infartos com alterações eletrocard iográficas evolutivas, com desenvolvimento de ondas Q (transmural) a LD-1 excede 45% da atividade da LD total, enquanto o infarto não-Q (subendo- cárdico) geralmente apresenta valores menores do que 45%. Uma causa comum de falsos-positivos com LD-1 elevada é a presença de hemólise, tanto por dificuldades na coleta, transporte ou separação da amostra, como também em presença de válvula cardíaca prostética. O valor da relação LD-1/LD-2 depende do fato que a LD-2 não aumenta após o infarto do mi o- cárdio enquanto a LD-1 o faz. Além disso, a ativ i- dade da LD -1 é geralmente menor do que a LD -2, sendo que os aumentos da atividade eleva con- sideravelmente após o infarto, com isso a LD -1 excede a LD-2. Ao redor de 80% de todos os in- fartos do miocárdio mostram este tipo de relação. Uma relação maior que 0,7 tem uma sensibilidade diagnóstica de 99%. Deve ser enfatizado que o infarto do miocárdio e a hemólise produzem exa- tamente o mesmo efeito sobre a LD -1 e também sobre os valores da relação LD -1/LD-2. Algumas causas d e aumentos destas frações são mostradas na tabela 9.3. Tabela 9.3. Causas de aumento da relação LD-1/LD-2 Infarto agudo do miocárdio Infarto renal agudo Hemólise causada por Válvulas cardíacas prostéticas Anemias hemolíticas Anemias megaloblásticas Manipulação da amostra de sangue Processos malignos AMINOTRANSFERASES (TRANSAMINASES) A TGO (AST) aumenta 6-8 h após a dor, atingindo o pico 18-24 h, retornando aos níveis normais em 4 ou 5 dias. A TGO não é específica do tecido cardíaco e também aumenta em enfermidades do
  • 30. Enzimas 119 fígado, pulmão e músculo esquelético. Os valores do pico máximo são 5 a 10 vezes maiores que o limite superior de referência. No entanto, a sensibilidade combinada com a especificidade tem mostrado que a TGO (AST) é uma enzima cardíaca diagnosticamente redun- dante. Deste modo, esta enzima está sendo grada- tivamente abandonada no diagnóstico laboratorial do infarto do miocárdio. TESTES NÃO-ENZIMÁTICOS PARA O IAM Mioglobina. É uma heme-proteína de ligação do oxigênio presente no músculo esquelético e cardí- aco. Constitui cerca de 2% da proteína total do músculo e está localizada no citoplasma. Lesões celulares durante o infarto agudo do mi ocárdio liberam mioglobina na circulação sangüínea. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 1 2 3 4 5 Dias após a dor Atividadeenzimática CK-MB LDH-1 TGO total Figura 4.1. Modelo típico de alterações na atividade enzimática após infarto do miocárdio não-complicado. Os níveis de mioglobina em pacientes com IAM elevam em torno de 2 horas após a dor pre- cordial e seus picos são atingidos dentro de 6 -9 h retornando ao normal em 24-36 h após o infarto. O pequeno tamanho da molécula permite que a mioglobina se desloque rapidamente na circulação sangüínea sem utilizar o sistema linfático. Os teores de mioglobina sofrem elevação nos se- guintes casos: § Infarto agudo do miocárdio. § Cirurgia com coração aberto. § Exercício intenso. § Lesão do músculo esquelético. § Pacientes portadores genéticos ou com atrofia muscular progres siva. § Deficiência renal grave. § Aplicação de injeção intramuscular (variável). A mioglobina é dosada em 2-12 h após o IAM e apresenta alta sensibilidade e especificidade clínica. Entretanto, resultados falso-positivos podem ocorrer como resultado de lesões no mús- culo esquelético ou por insuficiência renal. Troponinas. São proteínas contidas nas células musculares do aparelho miofibrilar das células que constituem o sarcômero, que é o núcleo básico do aparato contrátil da fibra mu scular esquelética e cardíaca. São compostas de múltiplas sub- unidades: troponina I (subunidade inibidora da actina), troponina C (subunidade ligada ao cálcio e reguladora da contração) e troponina T (subunidade ligada a miosina – tropomiosina). A subunidade troponina I existe em três isoformas: duas no músculo esquelético e uma no músculo cardíaco. As isoformas mais promissoras para o diagnóstico do IAM são: a troponina T (cTnT) e a troponina I (cTnI). Dados clínicos mostraram que as troponinas são marcadores precoces do IAM, sendo liberadas praticamente ao mesmo tempo que a CK-MB, permanecendo elevadas por mais de uma semana após o infarto.
  • 31. 120 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações A troponina I cardíaca aparece no plasma 4 -6 h após o ataque do IAM, atingindo picos de con- centração em 12-18 h após o infarto. Na fase pre coce que sobrevem o ataque cardí- aco, a cinética da liberação da troponina I é pró - xima a da CK-MB. Todavia, as taxas de troponina I no soro permanecem elevadas durante um perí - odo mais longo (4 a 7 dias). Com isso o acompanhamento do IAM é bem melhor atra vés da troponina I. A troponina T permanece anormal por 6 a 10 dias após o IAM, apresentando as outras características semelhantes à troponina I. TESTES ENZIMÁTICOS E O ELETROCARDIOGRAMA Em todos os indivíduos suspeitos de IAM são recomendadas as medidas das atividades das enzimas cardioespecíficas e de testes não-enzimáticos (quando disponíveis) nas primeiras 48 h após o infarto. Em muitos pacientes o eletrocardiograma (ECG) fornece evidências inequívocas do infarto. Entretanto, muitas vezes é possível encontrar dificuldades em interpretá- los, especificamente na presença de arritmias, além do que, o ECG não se apresenta sempre anormal em paci- entes enfartados recentemente. Por outro lado, a avaliação enzimática pode estabelecer uma indicação da extensão do infarto e, assim, estabelecer prognósticos. As enzimas plasmáticas e o ECG são comple- mentares na investigação de pacientes suspeitos de IAM. A cuidadosa análise das enzimas e do ECG (juntamente com a história do paciente) reduzem sensivelmente os erros cometidos neste diagnóstico. O valor dos testes enzimáticos versus o ECG no IAM são comparados a seguir: Sensibilidade (%) Especificidade (%) Eletrocardiograma 70 100 Enzimas séricas 95 90 Bibliografia consultada ANDREOLI, T. E., CARPENTER, C. C. J., BENNETT, J. C., PLUM, F. Cecil: medicina interna básica. 4 ed. Rio de Janeiro : Guanabara -Koogan, 1997. 965 p. GOTO, I. Serum creatine phosphoquinase isoenzymes in hipothyroidim, convulsions, myocardial ischaemia and necrosis. Clin. Chem. Acta, 52:27-30, 1974. HENRY, John Bernard. Diagnósticos clínicos & tratamento por métodos laboratoriais. São Paulo : Manole, 1995. 1678 p. MERCATELLI, Claucus, PICCIARELLI, Fábio José, LAUDARI, Humberto, AMOEDO, Telma Veiga. Laboratório clínico: Tecnologia objetivando diretrizes para o futuro diagnóstico. LAES, 105:50-64, 1997. VUORI, J. SYRJALA, H., VAANANEN, H. K. Myoglobin/carbonic anhydrase III ratio: highly specific and sensitive early indicatorfor myocardial damage in acute myocardial infarction. Clin.Chem., 42:107-9, 1996.