Administração de medicamentos & interações medicamentosas em neonatologia
1. Hospital Universitário da USP
“Administração de medicamentos
& interações medicamentosas no
recém-nascido: Princípios
Científicos"
Curso de Especialização de Enfermagem do ICr - EEUSP
São Paulo, 29 de setembro de 2014.
Profa. Me. Sandra Brassica
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Distribuição hídrica nos compartimentos corporais
Neonato Criança Adulto
Peso (kg) 3,4 10,8 70
Água total (%) 78 60 58
(mL) 2650 6500 41000
Água extracelular (%) 45 27 17
(mL) 1530 2900 12000
Plasma sanguíneo (%) 4-5 4-5 4-5
(mL) 140 430 3000
Água intracelular (%) 34 35 40
(mL) 1160 3800 28400
RN prematuro: água total 85%.
Fatores individuais
6. Hospital Universitário da USP
Fatores individuais
• ↓[ ], qualidade e afinidade da ligação das proteínas
plasmáticas ; > fração de droga livre plasmática.
" bilirrubina ligada de forma reversível a albumina e
possibilidade de deslocamento pelo uso de fármacos com
alta afinidade à proteína plasmática.
7. Hospital Universitário da USP
¯ reações de oxidação, redução,
hidrólise, metilação e
hidroxilação (polar => apolar; +
-OH, -COOH, -NH2; perda da
atividade farmacológica) até por
volta do sexto mês de idade;
¯ reações de glucoronidação,
sulfatação e acetilação (=>
hidrossolúvel) até por volta do
terceiro ou quarto anos de
vida.
Fatores individuais
11. Hospital Universitário da USP
??
?
50% medicamentos utilizados em pediatria não são licenciados
para uso nessa faixa etária
(Yeung, 2007)
Características peculiares que podem predispor a ocorrência de EAM;
27. Hospital Universitário da USP
EUA: 44 a 98 MIL PESSOAS
MORREM/ANO/EA Evitáveis
(THE INSTITUTE OF MEDICINE -IOM-, 1999)
28. Hospital Universitário da USP
RAMs são causa de hospitalização, sendo as IM as maiores contribuintes.
Sessenta e oito a 70% das interações potenciais demandam atenção clínica
(KOHLER, 2000).
Estudos demonstram frequência variável de IMs na população adulta, 3 a
5% nos pacientes em uso de até 6 fármacos, chegando a 20% nos
pacientes em uso de 10 a 20 fármacos. Como evitar a ocorrência
de IMs e assegurar uma
farmacoterapia segura e
eficaz para essa faixa
etária?
Como garantir acesso a
informação atualizada e
de qualidade no ponto de
cuidado?
Estamos preparados para
o reconhecimento rápido
de EAMs?
29. Hospital Universitário da USP
Físico-químicas
Farmacocinéticas
Farmacodinâmicas
Alteração dos efeitos farmacodinâmicos/
farmacocinéticas
Diminuição ou ineficácia terapêutica
Toxicidade
Um retorno a teoria...
Quando as ações de um medicamento
são alteradas por outro
30. Hospital Universitário da USP
Interações físico-químicas
Mecanismos
óxido-redução, hidrólise, foto
decomposição,
fenômenos de adsorção,
precipitação e formação de
complexos,
neutralização ácido básica.
Precipitação, turvação,
floculação,
alterações na cor da mistura.
Atenção: a ausência dessas alterações não garante a inexistência de interação.
31. Hospital Universitário da USP
http://www.ismp.org
Este grupo de
medicamentos
está com
frequencia
associado a
ocorrência de IMs
físico-químicas
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Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Solubilidade
• Saturação
• Co-solvente
• Ácidos ou bases fracas
• Constante de dissociação
Interação com os recipientes
• Sorção
Reações entre medicamentos e solução
• Hidrólise
• Óxido-redução
• Fotólise
• Temperatura
33. Hospital Universitário da USP
Estabilidade depende da [ ] final da solução
Quanto maior concentração menor estabilidade
Escurecimento da solução e formação de cristais
1 ampola 5mL 125 mL SG5% 4 horas
1 ampola 5mL 75 mL SG5% 2 horas
1 ampola 5mL 25 mL SG5% 1 horas
34. Hospital Universitário da USP
Estabilidade das Infusões intravenosas
Conceito relativo a uma variável: o tempo
Uma Infusão Intravenosa é considerada estável até que
sua [ ] inicial decaia em, no máximo, 10%, ou seja,
100% 90%
É estável durante todo o intervalo de tempo que transcorre
até atingir 90% da sua [ ] inicial
35. Hospital Universitário da USP
Estabilidade das Infusões intravenosas
Sistema monofásico composto por:
Aditivo(s)
(medicamentos e eletrólitos)
Solução parenteral
(diluente) +
A preparação de Infusões Intravenosas implica na
alteração das características farmacotécnicas
iniciais de seus componentes
Uma vez que o medicamento tenha sido diluído em uma SP,
a “validade” descrita na embalagem não será mais a mesma!
36. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Exemplos de medicamentos que possuem co-solventes
• Diazepam
• Fenitoína
• Sulfametoxazol + trimetoprima
37. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Diazepam
Formulado na concentração 5 mg/mL, com veículo:
• 40% de propilenoglicol
• 10% de etanol
• 1,5% álcool benzílico
• água para injeção
A diluição pode resultar em
precipitação em função da [ ]
1:1 a 1:10 Precipitação visível
1:15 Turbidez
1:20 Precipitação após 6 a 8h
1:40 a 1:100 Sem precipitação por 24h!!!!!
38. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Heparina
(Mucopolissacarídeo
polissulfonado aniônico)
Aminoglicosídeos
(grandes cátions)
39. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Aditivos
Material de fabricação
dos recipientes
e dispositivos de
administração
Ao escolher os recipientes, considerar as
particularidades dos aditivos da
Infusão Intravenosa
40. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Possíveis interações
Aditivo extrai componente do
recipiente para a solução de infusão
(geralmente plastificantes tóxicos)
Ex.: ciclosporina, tenoposido x
plastificante de bolsas de PVC (DEHP)
(hepatotóxico)
Aditivo adere à parede do
recipiente (é retirado da solução)
pode não ocorrer o efeito
terapêutico desejado
Ex.: filgrastima x adesão à paredes
de PVC
41. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
• Interação entre:
– grupos funcionais da molécula do medicamento
– sítios de ligação nas superfícies dos recipientes.
Ex.: insulina, diazepam, filgrastima e a nitroglicerina
43. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Ampicilina
Máxima estabilidade em
intervalo de pH 5,5 – 7,5
Meio ácido e
neutro
• Este comportamento deve-se a sua estrutura de aminoácido:
• em pH ácido se encontra na forma catiônica;
• em pH básico na forma aniônica;
• pH 6,5 é o ponto isoelétrico;
Meio alcalino
É hidrolisada em ácido a-
aminobenzil-penamaldico e a-
aminobenzil-penilico
É hidrolisada em ácido a-
aminobenzil-peniloico
A diluição ideal para infusão é 30 mg/mL em SF (correr em até 1 h)
44. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Para inibir este processo, alguns
medicamentos são envasados em
atmosfera inerte (de nitrogênio)
46. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Evitar incidência de luz sobre o recipiente de
administração envolver em embalagem opaca
47. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade das infusões intravenosas
Geralmente soluções são mais estáveis sob refrigeração (2-8ºC)
• Estabilidade da cefazolina reconstituída:
– 24h à temperatura ambiente e 96h sob refrigeração
• Alguns medicamentos, contudo, não devem ser refrigerados
– Ex.: aciclovir (precipitação à baixas temperaturas)
50. Hospital Universitário da USP
Fatores que afetam a estabilidade de emulsões intravenosas
•pH,
•luz e temperatura,
•reações químicas,
•concentração,
•tempo,
•ordem de adtivação,
•Envase.
51. Hospital Universitário da USP
Cuidados especiais para TA > 25o C
(incubadoras, fototerapia)
Exposição à luz Oxidação peróxido lipídico
Citotoxidade
Esteatose hepática, hipertrigliceridemia, aumento
da resistência vascular pulmonar, doença
pulmonar crônica, etc.
53. Hospital Universitário da USP
Emulsões lipídicas
• As ELs endovenosas normalmente possuem pH entre 5,5-8.
• ¯ pH, o potencial eletrostático é reduzido, as forças de repulsão decrescem
e o sistema pode tornar-se instável (coalescência).
atração
repulsão
54. Hospital Universitário da USP
Emulsões lipídicas
• floculação/agregação dos lipossomas =
tamanhos dos mesmos = coalescência
• lipossomas ± 0,6μ de diâmetro
• lipossoma > 5μ = embolia gordurosa.
Pharmaceutical Research, v.23, 1959-69
Esse efeito é atenuado quando a glicose e os eletrólitos estão
diluídos no volume total da solução em água para injeção e com a
solução de aminoácidos, que exerce efeito “tampão” devido ao pH
que possuem.
55. Hospital Universitário da USP
Emulsões lipídicas
Figura 1 - Lipossomas de padrão normal EL 20% original, 0,6μ
(30.000 X).
Figura 2 - Lipossomas em coalescência após contato glicose 50%, 2,76μ
(30.000 X).
Rev Bras Nutr Clin 2007;22(1):45--53
56. Hospital Universitário da USP
Emulsões lipídicas
Figura 3 - Eletromicrografia de transmissão da NPT neonatos Ca
normal, heparina 0,2 UI/mL; T = 24h, 2,08 μ (50.000 X).
Figura 4- Eletromicrografia de transmissão da NPT básica,
neonatos, Ca elevado; T = 24h, 2,10μ (50.000 X).
Rev Bras Nutr Clin 2007;22(1):45--53
57. Hospital Universitário da USP
Possibilidade de separação de fases
- Desaparecimento das forças de repulsão
Quebra das micelas
ÓLEO
Cátion bivalente
água
ÓLEO
J pediatric gastroe nutrit, 8:491-495, 1989
58. Hospital Universitário da USP
Possibilidade de separação de fases
heparina
Partículas lipídicas
+ +
+ +
+ +
+ +
+ + + +
Separação de fases
Neutralização de cargas
negativas
(cátions divalentes x heparina)
JPEN, 22:311-14, 1998
60. Hospital Universitário da USP
RNPT, PN 650g, Patual 700 g, 20ddv.
Acessos: AVCDL + AVP.
Recebe:
1)Jejum
2)NPP 70 mL ev por acesso central em 24 horas
3)Ranitidina 3,5 mg ev 12/12h
4)Vancomicina 7 mg ev 24/24 horas
5)Meropenen 28 mg ev 12/12 horas
6)Anfotericina B lipossomal 3,5 mg em SG5% 2 mL em 2 horas
7)Fenobarbital 2,8 mg ev 24/24 horas
8)Fentanila 50 mcg em SF 2,4 ml ev por BIC 0,1 ml/h ou acm
9)Midazolam 5 mcg em SF 2,4 ml ev por BIC 0,1 ml/h ou acm
10)Dobutamina 12 mcg em SF 2,4 ml ev por BIC 0,1 ml/h ou acm
11) Dopamina 12 mg em SF 4,8 ml ev por BIC 0,2 ml/h ou acm
12) Albumina 3,5 g ev em 4 horas
13) Furosemida 0,4 mg ev após item 12
14) Controle de dextro 4/4 horas
15) Controle de diurese
16) Diluir medicamentos em menor volume possível
17) CCG
Análise do problema:
3 vias para administrar 11
medicamentos
2 necessitam de acesso
central
5 são de infusão contínua
62. Hospital Universitário da USP
Possíveis soluções
a) Determinar a quantidade e o tipo de acessos disponíveis.
b) Verificar todos os medicamentos que necessitam de acesso central para
administração e entre estes parear os que são compatíveis.
c) Reservar o acesso periférico para medicamentos que não necessitam de
acesso central, adminstrando-os em horários diferentes em caso de interação
físico-química.
AVCDL:
1 via: NPP + Fentanila + Dobutamina
2 Via: Midazolam + Anfotericina B lipossomal + Dopamina
AVP: Ranitidina, Vancomicina, Meropenen, Fenobarbital, Albumina e Furosemida
68. Hospital Universitário da USP
a ceftriaxona foi
introduzida no
mercado em 1984...
Por quantos anos
ignoramos tal EAM?
69. Hospital Universitário da USP
Há protocolos em nossas
instituições que alertam
para esta interação? São
conhecidos? Estão ao
alcance dos
colaboradores?
72. Hospital Universitário da USP
Concentrações usuais em
nossas UTIs
Comparação com 66 medicamentos utilizados
com frequencia
73. Hospital Universitário da USP
A compatibilidade variou em
função da concentração dos
medicamentos...
Risco na utilização de fontes de informação
que não trazem referência das
concentrações consideradas estáveis
74. Hospital Universitário da USP
Lembrar que as NPs para
pediatria e neonatologia
são personalizadas, ou
seja, visam atender as
necessidades
específicas desses
pacientes e que portanto
possuem composição
variável
75. Hospital Universitário da USP
Risco na padronização de fontes que não
refletem reais condições dos pacientes
76. Hospital Universitário da USP
Necessidade de atenção em relação a qualidade
metodológica dos trabalhos analisados
77. Hospital Universitário da USP
Casos como esses ocorrem em
nossas instituições?
Qual a melhor alternativa para
evitar este EAM?
78. Hospital Universitário da USP
Interações Farmacodinâmicas
• Seus efeitos finais são resultantes das ações farmacodinâmicas próprias de cada
agente terapêutico.
• Podem ocorrer em nível de receptores e estruturas intimamente associadas a eles, ou
ainda quando os fármacos agem em sistemas diferentes, mas o efeito de um deles é
alterado pelo efeito do outro.
79. Hospital Universitário da USP
• Podem ser sinérgicas ou antagônicas.
• Geralmente são previsíveis.
Ex:
• lamotrigina x carbamazepina ( toxicidade da carbamazepina sem aumentar
seu Ns ou de seu metabólito).
• furosemida x digoxina ( toxicidade da digoxina pela hipocalcemia provocada
pelo diurético de alça)
• rocurônio x amicacina (efeito bloqueador do aminoglicosídeo por efeito aditivo)
80. Hospital Universitário da USP
Interações Farmacocinéticas
• Interações em que um dos fármacos modifica a cinética de outro
administrado concomitantemente.
81. Hospital Universitário da USP
• São mais frequentes e promovem, muitas vezes, influência significativa sobre a terapêutica
medicamentosa.
• Podem ser classificadas baseando-se no seu mecanismo, ou seja, na fase farmacocinética em
que ocorre a interação.
• As interações de maior relevância clínica são aquelas relacionada às fases de distribuição e
metabolismo.
Alterações de pH (Inibidores
de bomba de prótons),
esvaziamento gástrico
(procinéticos), motilidade
intestinal (opíóides)
Farmacos que
competem com as
proteínas
plasmáticas
(fenitoína)
Indução (antiepiléticos:
fenobarbital, fenitiína e
carbamazepina;
benzodiazepínicos etc) e
inibição enzimática
(amiodarona, ARVs etc)
Alterações de pH por
fármacos ácidos ou
básicos
82. Hospital Universitário da USP
a) Absorção acelerada. b) Absorção retardada. c) Absorção diminuída. d) Absorção aumentada.
Adaptado de FLEISHER, 1999.
83. Hospital Universitário da USP
Na maioria dos casos (exceto pró-fármacos)
estas reações são responsáveis pela
transformação dos medicamentos em
compostos inativos que serão eliminados.
Medicamentos que alteram (inibam ou induzam) as
enzimas do citocromo P-450 acarretarão em maior
ou menor biodisponibilidade dos medicamentos.
Extraído de: Cullen Taniguchi & Peter Guengerich.
Metabolismo dos fármacos. Cap. 4. p 46-57.
84. Hospital Universitário da USP
Extraído de: Cullen Taniguchi & Peter Guengerich.
Metabolismo dos fármacos. Cap. 4. p 46-57.
85. Hospital Universitário da USP
Extraído de: Cullen Taniguchi & Peter Guengerich.
Metabolismo dos fármacos. Cap. 4. p 46-57.
86. Hospital Universitário da USP
Estratégias adotadas no HU-USP para diminuir a incidência
de EAMs por Ims:
a)Seleção criteriosa de medicamentos com base em evidências
b)Participação do farmacêutico na visita médica para discussão de
possíveis vantagens e desvantagens da terapia proposta
c)Revisão das prescrições
d)Orientações sobre preparo e administração de medicamentos
(integração com a equipe de enfermagem e disponibilização no ponto de
cuidado de orientações escritas)
e)Farmacêutico presente 24 horas
f)Farmacovigilância
“Nenhuma ferramenta é capaz de substituir a discussão
criteriosa do caso concreto e o julgamento profissional
apropriado “