SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com o outro
RESUMO
No sexto capítulo do livro “Primeiras letras: alfabetização de jovens e adultos em
espaços populares” de Marlene de Carvalho, Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com
o outro, relata a história da experiência vivida por Shirléia Leandro da Silva ao entrar
no complexo de favelas da Maré e o impacto que ela teve. O objetivo deste trabalho é
fazer uma análise do texto no intuito de observar com mais clareza o trabalho de
alfabetização de jovens e adultos feito por Shirléia, com pessoas que moram em
complexos de favelas também chamados de territórios e que vivem cercados de má
fama e de interdições e por outro lado cheios de afetividade e vontade de viver, e que
vivem uma vida normal mesmo sem ter sido alfabetizados, porém envoltos a vergonha
de terem chego a uma certa idade sem ter tido a chance de ter sido alfabetizado,
avaliando assim o resultado obtido nesta luta e incansável missão. A metodologia
utilizada será a análise da leitura do texto proposto e a relação com outros textos. A
autora nos encoraja a ir a busca de adultos que não tiveram o prazer de terem sido
alfabetizados na idade certa e transmitir conhecimentos e transformar em cidadãos
alfabetizados cônscios de seus direitos.
Palavras-chave: Território, alfabetização, afetividade.
1. INTRODUÇÃO
O texto relata a árdua tarefa de Shirléia, uma estudante de ciências sociais que
sonhava ser professora, porém, acabou optando por sociologia. Por ter vivido em
bairros populares candidatou-se ao mestrado em Educação, suas experiências ajudou
bastante no ingresso do programa de alfabetização. O bairro da Maré, considerado
território de má fama e de embargos foi escolhido por Shirléia para colocar em prática
o programa de alfabetização.
O ato de alfabetizar já não é tão fácil, e quando temos a nossa frente pessoas
que passaram a vida sofrendo humilhações e desprezos por fazerem parte de
Complexo, de ambientes considerados Territórios demarcados por interdições se
tornam ainda mais tenebroso. Shirléia teve em suas mãos o direito de mudar essas
mentes levando a cada um o conhecimento e o prazer de poder escrever seu nome,
uma carta ao parente distante, mesmo receosos com a idade ou pelas críticas que
recebiam das próprias pessoas do Complexo, mas o que eles queriam na verdade era
serem alfabetizados. Nos bairros nobres, nos deparamos e até convivemos a cada dia
com pessoas que não tiveram o direito de ter recebido a alfabetização no tempo certo,
são pessoas que vivem por trás de um balcão de supermercado, uma banca de
verduras e frutas, etc. que trocaram de certa forma a escola pelo trabalho, por
questões sociais, políticas e econômicas.
Porém a partir do momento em que Shirléia entra no Complexo essas limitações
vão se desfazendo e vi dando lugar ao aprendizado e convivência social, pois ela
buscou interagir de certa forma para que toda barreira seja desfeita, levando os seus
alunos a conhecer espaços sociais e culturais o qual nunca teriam acesso.
2. EXPOSIÇÃO
2.1. Shirléia: O lugar do afeto no diálogo com o outro
Shirléia, estudante de ciências sociais que sonhava em ser professora e acabou
optando por sociologia. Por ter vivido em bairros populares, candidatou-se ao
mestrado em educação o qual ajudou bastante a utilização de suas experiências para
o ingresso no Programa de Alfabetização, no entanto o Bairro da Maré foi escolhido
por ela para a realização do Programa pela empatia que sentiu pelos moradores, um
Bairro considerado território de má fama e de interdições. A surpresa de Shirléia foi
tamanha ao ver que os outros analfabetos à sua volta eram pessoas comuns, onde o
analfabetismo era camuflado sempre que preciso o que enfatiza o valor simbólico da
alfabetização. Foram encontradas diversas dificuldades além do financeiro, a
resistência dos alunos em assistirem aula, porém com toda a dificuldade Shirléia
busca envolver os alunos em excursões por lugares que para eles eram
desconhecidos como o zoológico, cinema, teatro etc. que para Shirléia essa possível
convivência com essas pessoas foi de extrema importância e que trouxe para sua vida
não só uma experiência social, mas também espiritual. Contudo Shirléia pôde
perceber que era preciso dar importância não só ao ensino dos conteúdos escolares,
mas também dar ênfase a protuberância dos aspectos afetivos na vida escolar dos
alunos, principalmente na relação professor-aluno.
Diversos autores como: Fernandes (1991), Dantas (1992), Snyders (1993),
Freire (1994; 1999ª), Codo e Gazotti (1999) entre outros, afirmam que o afeto é
indispensável na atividade de ensinar, incluindo que as relações entre o ensinar e o
aprender são motivadas pelos desejos, pelas paixões e que é possível identificar
possibilidades afetivas favoráveis que facilitem a aprendizagem. Shirléia buscou esse
elemento importante na tentativa de dar oportunidade a um ensino e aprendizagem
competente visando um ambiente agradável em sala de aula, na obtenção e
naturalização de conhecimentos e elevação de autoestima.
2.2. Práticas Pedagógicas de Alfabetização e Letramento
Durante o Programa de Alfabetização, Shirléia baseou-se nos métodos de Paulo
Freire como também desenvolveu materiais didáticos produzidos por ela mesma para
ajudar na compreensão da leitura, relacionando a leitura com a realidade dos alunos.
Suas atividades eram feitas de caráter simples, mas objetivas. Shirléia colocava uma
palavra por folha acompanhada de uma ilustração em uma folha A4, e os alunos
observavam as imagens e as palavras e pensavam em si mesmo que já sabiam ler,
trazendo contudo motivação.
Para Paulo Freire a alfabetização está baseada nas experiências de vida das
pessoas. Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por
exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras
geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica
podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”,
“colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo
novas palavras e ampliando o repertório (Paulo Freire, 1964). Shirléia utilizava esse
método das palavras geradoras o qual surgiam das conversas e preocupação dos
alunos. A educadora estava a todo tempo incentivando para o interesse dos alunos na
leitura, tentando relacioná-la aos assuntos dos interesses cotidianos, mas a intenção
de Shirléia estava além da alfabetização, envolvendo os usos sociais da escrita,
incentivando a escrever cartas pessoais para parentes e amigos. “Era essa a minha
preocupação: eles lerem e escreverem outras coisas, não só no caderno, na sala de
aula”. (Shirléia, 2009)
As condições precárias do ambiente escolar e as fortes reclamações dos alunos,
levou Shirléia a incentivá-los a escrever uma carta à Pró-Reitoria de Extensão da
UFRJ, fazendo uma reclamação sobre tal situação, o qual obteve bons resultados pois
foram transferidos para uma sala de aula de escola municipal, contudo o desafio
enfrentado por Shirléia afinal, da maior parte dos alfabetizadores de jovens e adultos
era conduzir satisfatoriamente o ensino numa turma heterogênea, com pessoas
iniciantes na leitura e escrita e outras de nível intermediário, já com certo domínio do
código alfabético.
Para Shirléia, o Programa de Alfabetização teve um grande significado na sua
vida pessoal, pois trabalhava em uma empresa multinacional capitalista, o qual ela era
contra:
“Eu sou completamente contra o sistema capitalista, porque eu sou
uma das pessoas que sofrem com ele. E isso era um mal estar na
minha vida, ter que me violentar dessa forma, fazer uma coisa que
me fazia mal por causa do dinheiro.”(Shirléia)
E se viu trabalhando em uma coisa não pelo dinheiro, mas pela realização
pessoal, de cunho social e fazendo o que já havia sonhado há tantos anos atrás, que
era a educação, podendo ver na prática o que havia visto na teoria.
2.3. As contribuições de Emilia Ferreiro para os estudos em EJA
Emília Ferreiro e Ana Teberosky(1988), deixaram suas contribuições ao
elaborarem uma psicogênese da língua escrita apoiadas na psicologia construtivista
de Piaget e Vigotsky.
Em seus estudos, Emília Ferreiro distingue pistas e aspectos relevantes do
processo de aquisição da linguagem escrita por parte da criança, levando em
consideração os resultados de pesquisas que investigam os processos e estratégias
que a criança utiliza no início da alfabetização, fazendo a interpretação da escrita no
meio em que vivem. Ferreiro questiona a ideia de que a criança só aprende a ler por
meio da ação didática do professor, seguindo a ordem escolar de apresentação de
letras, sílabas, palavras, frases etc. Em suas pesquisas, ela demonstrou que a criança
pensa sobre a escrita e formula hipóteses sobre o que ela representa, há indícios de
que alguns adultos, quando estimulados a produzir escritas espontâneas, passam por
etapas análogas àquelas vividas pelas crianças. Contudo vemos que as contribuições
de Emília Ferreiro se fez presente nos trabalhos realizados por Shirléia com seus
alunos.
Alguns outros autores como: Alessandra Macedo e Maria Estela Campelo (2004,
p.1) consideraram que a apropriação da abordagem de Emília Ferreiro permite
entender melhor a lógica da escrita que os alunos produzem.
A constatação mais significativa do nosso trabalho é que as construções
científicas de Emília Ferreiro e colaboradores, relativas à alfabetização, têm contribuído
no trabalho docente de alfabetizar pessoas jovens e adultas. (Macedo; Campelo, 2004,
p.3).
Será de grande pertinência que alfabetizadores de jovens e adultos conheçam a
obra de Emília Ferreiro e deem continuidade aos estudos e as reflexões sobre a
importância de sua teoria para a formação docente.
CONCLUSÃO
No texto estudado vemos a árdua tarefa de Shirléia em tornar pessoas
alfabetizadas, e o prazer que a autora tem em realizar este trabalho, por ter sido um
de seus sonhos e agora estar colocando em prática o que só via em teorias.
Tomamos essa tarefa para os nossos dias, e vemos que não é diferente as
barreiras encontradas para educação em comunidades ou até mesmo em bairros e
pequenas cidades. Shirléia buscou em todo o seu programa de alfabetização
compreender a vida dos alunos conciliando o dia a dia com o aprendizado,
aprendendo com eles a afetividade e o respeito, quebrando uma grande barreira
construída em cima de preconceito e inibição por estarem sendo alfabetizados “fora da
idade”, sem lembrar que para aprender não tem idade e sim força de vontade.
O texto traz excelente aprendizado para todos os profissionais que visam a
educação de jovens e adultos que vivem em comunidades e que buscam vincular o
aprendizado com a cultura do ambiente de estudo, Paulo Freire traz uma boa
colocação em um de seus trabalhos no que diz respeito a educação e a cultura:
“A alfabetização e a educação são expressões culturais. Não se pode
desenvolver um trabalho de alfabetização fora do mundo da cultura, porque
a educação é por si mesma, uma dimensão da cultura” (FREIRE, MACEDO,
2006, p.33 e 34).
O texto mostra que o educador através de sua prática educativa e afetiva pode
transformar educandos inibidos e cobertos de preconceitos em pessoas cônscios de
seus direitos lhes dando oportunidade de obter uma nova visão de vida e a
possibilidade de reivindicarem pelos seus direitos com segurança e convicção.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Marlene. Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com o outro. In.
Primeiras letras: Alfabetização de jovens e adultos em espaços populares. Ed. São
Paulo: Ática, 2009.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra.
1981.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
47ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2013.
FREIRE, Paulo, MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da
palavra. Tradução Lourenço de Oliveira, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2011.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanaculturaafro
 
Atividade escrita Alfabetização e Linguistica
Atividade escrita Alfabetização e LinguisticaAtividade escrita Alfabetização e Linguistica
Atividade escrita Alfabetização e LinguisticaAmanda Freitas
 
A oralidade e a escrita prof roberta scheibe1
A oralidade e a escrita   prof roberta scheibe1A oralidade e a escrita   prof roberta scheibe1
A oralidade e a escrita prof roberta scheibe1Roberta Scheibe
 
Eventos de Letramento
Eventos de LetramentoEventos de Letramento
Eventos de LetramentoLicaraujo
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramentoSimone Everton
 
A importância do letramento
A importância do letramentoA importância do letramento
A importância do letramentoCristina Rigolo
 
Reunião de 15 de março.
Reunião de 15 de março.Reunião de 15 de março.
Reunião de 15 de março.anadarc
 
Alfabetização slides
Alfabetização slidesAlfabetização slides
Alfabetização slidesAVM
 
Eles tem a cara preta
Eles tem a cara preta Eles tem a cara preta
Eles tem a cara preta culturaafro
 
Atividades de alfabetizacao_2014 saep doc
Atividades de alfabetizacao_2014 saep docAtividades de alfabetizacao_2014 saep doc
Atividades de alfabetizacao_2014 saep docNuberlndianubia
 
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhos
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhosAlfabetização e letramento caminhos e descaminhos
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhosNaysa Taboada
 
história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanaculturaafro
 

Mais procurados (19)

Alfabetizaçao e letramento
Alfabetizaçao e letramentoAlfabetizaçao e letramento
Alfabetizaçao e letramento
 
Jornal Francisco Lima
Jornal Francisco Lima  Jornal Francisco Lima
Jornal Francisco Lima
 
história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africana
 
Atividade escrita Alfabetização e Linguistica
Atividade escrita Alfabetização e LinguisticaAtividade escrita Alfabetização e Linguistica
Atividade escrita Alfabetização e Linguistica
 
A oralidade e a escrita prof roberta scheibe1
A oralidade e a escrita   prof roberta scheibe1A oralidade e a escrita   prof roberta scheibe1
A oralidade e a escrita prof roberta scheibe1
 
Portifólio pronto
Portifólio prontoPortifólio pronto
Portifólio pronto
 
Eventos de Letramento
Eventos de LetramentoEventos de Letramento
Eventos de Letramento
 
Alfabetizacao livro
Alfabetizacao livroAlfabetizacao livro
Alfabetizacao livro
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramento
 
Programação _ Atividade Curricular
Programação _ Atividade Curricular Programação _ Atividade Curricular
Programação _ Atividade Curricular
 
A importância do letramento
A importância do letramentoA importância do letramento
A importância do letramento
 
Reunião de 15 de março.
Reunião de 15 de março.Reunião de 15 de março.
Reunião de 15 de março.
 
Projeto
ProjetoProjeto
Projeto
 
Alfabetização slides
Alfabetização slidesAlfabetização slides
Alfabetização slides
 
Eles tem a cara preta
Eles tem a cara preta Eles tem a cara preta
Eles tem a cara preta
 
Atividades de alfabetizacao_2014 saep doc
Atividades de alfabetizacao_2014 saep docAtividades de alfabetizacao_2014 saep doc
Atividades de alfabetizacao_2014 saep doc
 
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhos
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhosAlfabetização e letramento caminhos e descaminhos
Alfabetização e letramento caminhos e descaminhos
 
história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africana
 
Apostila de alfabetizacao palmas
Apostila de alfabetizacao   palmasApostila de alfabetizacao   palmas
Apostila de alfabetizacao palmas
 

Semelhante a Shirléia e o lugar do afeto na alfabetização

Paulo freire e a educação à distância
Paulo freire e a educação à distânciaPaulo freire e a educação à distância
Paulo freire e a educação à distânciaMargareth Desmarais
 
A criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escritaA criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escritatlfleite
 
Paulo Freire e suas contribuições para a didática
Paulo Freire e suas contribuições para a didáticaPaulo Freire e suas contribuições para a didática
Paulo Freire e suas contribuições para a didáticaandreapaula2014
 
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantililesor
 
Portfolio simone
Portfolio simonePortfolio simone
Portfolio simoneCarol Costa
 
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadores
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadoresIi reunião alfabetização_eixos_norteadores
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadoresRosemary Batista
 
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...luzirrege
 
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...luzirrege
 
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdf
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdfRECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdf
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdfGeovanaVieiradeSouza
 
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaisMetodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaiscefaprodematupa
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...Centro de Estudos Imedep
 
Teoria e prática educativa na área da alfabetização
Teoria e prática educativa na área da alfabetizaçãoTeoria e prática educativa na área da alfabetização
Teoria e prática educativa na área da alfabetizaçãoElisa Maria Gomide
 

Semelhante a Shirléia e o lugar do afeto na alfabetização (20)

Paulo freire
Paulo freire Paulo freire
Paulo freire
 
Paulo freire e a educação à distância
Paulo freire e a educação à distânciaPaulo freire e a educação à distância
Paulo freire e a educação à distância
 
A criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escritaA criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escrita
 
Paulo Freire e suas contribuições para a didática
Paulo Freire e suas contribuições para a didáticaPaulo Freire e suas contribuições para a didática
Paulo Freire e suas contribuições para a didática
 
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil
1254836029 oxmundoxsurdoxinfantil
 
Portfolio simone
Portfolio simonePortfolio simone
Portfolio simone
 
A criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escritaA criança na fase inicial da escrita
A criança na fase inicial da escrita
 
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadores
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadoresIi reunião alfabetização_eixos_norteadores
Ii reunião alfabetização_eixos_norteadores
 
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...
A L F A B E T I Z A% C3%87% C3%83 O%20 E%20 L E T R A M E N T O%20 N A%20 E D...
 
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...
Alfabetiza%C3%87%C3%83 O%20 E%20 Letramento%20 Na%20 Educa%C3%87%C3%83 O%20 D...
 
LITERATURA
LITERATURALITERATURA
LITERATURA
 
Patativa Cora Coragem
Patativa Cora CoragemPatativa Cora Coragem
Patativa Cora Coragem
 
Patativa Cora Coragem
Patativa Cora CoragemPatativa Cora Coragem
Patativa Cora Coragem
 
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdf
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdfRECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdf
RECURSO EDUCACIONAL PAULO FREIRE.pdf
 
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaisMetodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Um recurso alfabetizador para a Educação de Jovens e A...
 
Poster (cora coralina)
Poster (cora coralina)Poster (cora coralina)
Poster (cora coralina)
 
Teoria e prática educativa na área da alfabetização
Teoria e prática educativa na área da alfabetizaçãoTeoria e prática educativa na área da alfabetização
Teoria e prática educativa na área da alfabetização
 
Jogos tcc pós
Jogos tcc pósJogos tcc pós
Jogos tcc pós
 
Slide didática
Slide didáticaSlide didática
Slide didática
 

Último

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Regência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfRegência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfmirandadudu08
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfProva uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfArthurRomanof1
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaaulasgege
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Susana Stoffel
 

Último (20)

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Regência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfRegência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdf
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfProva uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
 

Shirléia e o lugar do afeto na alfabetização

  • 1. Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com o outro RESUMO No sexto capítulo do livro “Primeiras letras: alfabetização de jovens e adultos em espaços populares” de Marlene de Carvalho, Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com o outro, relata a história da experiência vivida por Shirléia Leandro da Silva ao entrar no complexo de favelas da Maré e o impacto que ela teve. O objetivo deste trabalho é fazer uma análise do texto no intuito de observar com mais clareza o trabalho de alfabetização de jovens e adultos feito por Shirléia, com pessoas que moram em complexos de favelas também chamados de territórios e que vivem cercados de má fama e de interdições e por outro lado cheios de afetividade e vontade de viver, e que vivem uma vida normal mesmo sem ter sido alfabetizados, porém envoltos a vergonha de terem chego a uma certa idade sem ter tido a chance de ter sido alfabetizado, avaliando assim o resultado obtido nesta luta e incansável missão. A metodologia utilizada será a análise da leitura do texto proposto e a relação com outros textos. A autora nos encoraja a ir a busca de adultos que não tiveram o prazer de terem sido alfabetizados na idade certa e transmitir conhecimentos e transformar em cidadãos alfabetizados cônscios de seus direitos. Palavras-chave: Território, alfabetização, afetividade. 1. INTRODUÇÃO O texto relata a árdua tarefa de Shirléia, uma estudante de ciências sociais que sonhava ser professora, porém, acabou optando por sociologia. Por ter vivido em bairros populares candidatou-se ao mestrado em Educação, suas experiências ajudou bastante no ingresso do programa de alfabetização. O bairro da Maré, considerado território de má fama e de embargos foi escolhido por Shirléia para colocar em prática o programa de alfabetização. O ato de alfabetizar já não é tão fácil, e quando temos a nossa frente pessoas que passaram a vida sofrendo humilhações e desprezos por fazerem parte de Complexo, de ambientes considerados Territórios demarcados por interdições se tornam ainda mais tenebroso. Shirléia teve em suas mãos o direito de mudar essas mentes levando a cada um o conhecimento e o prazer de poder escrever seu nome, uma carta ao parente distante, mesmo receosos com a idade ou pelas críticas que recebiam das próprias pessoas do Complexo, mas o que eles queriam na verdade era serem alfabetizados. Nos bairros nobres, nos deparamos e até convivemos a cada dia com pessoas que não tiveram o direito de ter recebido a alfabetização no tempo certo,
  • 2. são pessoas que vivem por trás de um balcão de supermercado, uma banca de verduras e frutas, etc. que trocaram de certa forma a escola pelo trabalho, por questões sociais, políticas e econômicas. Porém a partir do momento em que Shirléia entra no Complexo essas limitações vão se desfazendo e vi dando lugar ao aprendizado e convivência social, pois ela buscou interagir de certa forma para que toda barreira seja desfeita, levando os seus alunos a conhecer espaços sociais e culturais o qual nunca teriam acesso. 2. EXPOSIÇÃO 2.1. Shirléia: O lugar do afeto no diálogo com o outro Shirléia, estudante de ciências sociais que sonhava em ser professora e acabou optando por sociologia. Por ter vivido em bairros populares, candidatou-se ao mestrado em educação o qual ajudou bastante a utilização de suas experiências para o ingresso no Programa de Alfabetização, no entanto o Bairro da Maré foi escolhido por ela para a realização do Programa pela empatia que sentiu pelos moradores, um Bairro considerado território de má fama e de interdições. A surpresa de Shirléia foi tamanha ao ver que os outros analfabetos à sua volta eram pessoas comuns, onde o analfabetismo era camuflado sempre que preciso o que enfatiza o valor simbólico da alfabetização. Foram encontradas diversas dificuldades além do financeiro, a resistência dos alunos em assistirem aula, porém com toda a dificuldade Shirléia busca envolver os alunos em excursões por lugares que para eles eram desconhecidos como o zoológico, cinema, teatro etc. que para Shirléia essa possível convivência com essas pessoas foi de extrema importância e que trouxe para sua vida não só uma experiência social, mas também espiritual. Contudo Shirléia pôde perceber que era preciso dar importância não só ao ensino dos conteúdos escolares, mas também dar ênfase a protuberância dos aspectos afetivos na vida escolar dos alunos, principalmente na relação professor-aluno. Diversos autores como: Fernandes (1991), Dantas (1992), Snyders (1993), Freire (1994; 1999ª), Codo e Gazotti (1999) entre outros, afirmam que o afeto é indispensável na atividade de ensinar, incluindo que as relações entre o ensinar e o aprender são motivadas pelos desejos, pelas paixões e que é possível identificar possibilidades afetivas favoráveis que facilitem a aprendizagem. Shirléia buscou esse elemento importante na tentativa de dar oportunidade a um ensino e aprendizagem competente visando um ambiente agradável em sala de aula, na obtenção e naturalização de conhecimentos e elevação de autoestima. 2.2. Práticas Pedagógicas de Alfabetização e Letramento
  • 3. Durante o Programa de Alfabetização, Shirléia baseou-se nos métodos de Paulo Freire como também desenvolveu materiais didáticos produzidos por ela mesma para ajudar na compreensão da leitura, relacionando a leitura com a realidade dos alunos. Suas atividades eram feitas de caráter simples, mas objetivas. Shirléia colocava uma palavra por folha acompanhada de uma ilustração em uma folha A4, e os alunos observavam as imagens e as palavras e pensavam em si mesmo que já sabiam ler, trazendo contudo motivação. Para Paulo Freire a alfabetização está baseada nas experiências de vida das pessoas. Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório (Paulo Freire, 1964). Shirléia utilizava esse método das palavras geradoras o qual surgiam das conversas e preocupação dos alunos. A educadora estava a todo tempo incentivando para o interesse dos alunos na leitura, tentando relacioná-la aos assuntos dos interesses cotidianos, mas a intenção de Shirléia estava além da alfabetização, envolvendo os usos sociais da escrita, incentivando a escrever cartas pessoais para parentes e amigos. “Era essa a minha preocupação: eles lerem e escreverem outras coisas, não só no caderno, na sala de aula”. (Shirléia, 2009) As condições precárias do ambiente escolar e as fortes reclamações dos alunos, levou Shirléia a incentivá-los a escrever uma carta à Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, fazendo uma reclamação sobre tal situação, o qual obteve bons resultados pois foram transferidos para uma sala de aula de escola municipal, contudo o desafio enfrentado por Shirléia afinal, da maior parte dos alfabetizadores de jovens e adultos era conduzir satisfatoriamente o ensino numa turma heterogênea, com pessoas iniciantes na leitura e escrita e outras de nível intermediário, já com certo domínio do código alfabético. Para Shirléia, o Programa de Alfabetização teve um grande significado na sua vida pessoal, pois trabalhava em uma empresa multinacional capitalista, o qual ela era contra: “Eu sou completamente contra o sistema capitalista, porque eu sou uma das pessoas que sofrem com ele. E isso era um mal estar na minha vida, ter que me violentar dessa forma, fazer uma coisa que me fazia mal por causa do dinheiro.”(Shirléia) E se viu trabalhando em uma coisa não pelo dinheiro, mas pela realização pessoal, de cunho social e fazendo o que já havia sonhado há tantos anos atrás, que era a educação, podendo ver na prática o que havia visto na teoria.
  • 4. 2.3. As contribuições de Emilia Ferreiro para os estudos em EJA Emília Ferreiro e Ana Teberosky(1988), deixaram suas contribuições ao elaborarem uma psicogênese da língua escrita apoiadas na psicologia construtivista de Piaget e Vigotsky. Em seus estudos, Emília Ferreiro distingue pistas e aspectos relevantes do processo de aquisição da linguagem escrita por parte da criança, levando em consideração os resultados de pesquisas que investigam os processos e estratégias que a criança utiliza no início da alfabetização, fazendo a interpretação da escrita no meio em que vivem. Ferreiro questiona a ideia de que a criança só aprende a ler por meio da ação didática do professor, seguindo a ordem escolar de apresentação de letras, sílabas, palavras, frases etc. Em suas pesquisas, ela demonstrou que a criança pensa sobre a escrita e formula hipóteses sobre o que ela representa, há indícios de que alguns adultos, quando estimulados a produzir escritas espontâneas, passam por etapas análogas àquelas vividas pelas crianças. Contudo vemos que as contribuições de Emília Ferreiro se fez presente nos trabalhos realizados por Shirléia com seus alunos. Alguns outros autores como: Alessandra Macedo e Maria Estela Campelo (2004, p.1) consideraram que a apropriação da abordagem de Emília Ferreiro permite entender melhor a lógica da escrita que os alunos produzem. A constatação mais significativa do nosso trabalho é que as construções científicas de Emília Ferreiro e colaboradores, relativas à alfabetização, têm contribuído no trabalho docente de alfabetizar pessoas jovens e adultas. (Macedo; Campelo, 2004, p.3). Será de grande pertinência que alfabetizadores de jovens e adultos conheçam a obra de Emília Ferreiro e deem continuidade aos estudos e as reflexões sobre a importância de sua teoria para a formação docente. CONCLUSÃO No texto estudado vemos a árdua tarefa de Shirléia em tornar pessoas alfabetizadas, e o prazer que a autora tem em realizar este trabalho, por ter sido um de seus sonhos e agora estar colocando em prática o que só via em teorias. Tomamos essa tarefa para os nossos dias, e vemos que não é diferente as barreiras encontradas para educação em comunidades ou até mesmo em bairros e pequenas cidades. Shirléia buscou em todo o seu programa de alfabetização compreender a vida dos alunos conciliando o dia a dia com o aprendizado,
  • 5. aprendendo com eles a afetividade e o respeito, quebrando uma grande barreira construída em cima de preconceito e inibição por estarem sendo alfabetizados “fora da idade”, sem lembrar que para aprender não tem idade e sim força de vontade. O texto traz excelente aprendizado para todos os profissionais que visam a educação de jovens e adultos que vivem em comunidades e que buscam vincular o aprendizado com a cultura do ambiente de estudo, Paulo Freire traz uma boa colocação em um de seus trabalhos no que diz respeito a educação e a cultura: “A alfabetização e a educação são expressões culturais. Não se pode desenvolver um trabalho de alfabetização fora do mundo da cultura, porque a educação é por si mesma, uma dimensão da cultura” (FREIRE, MACEDO, 2006, p.33 e 34). O texto mostra que o educador através de sua prática educativa e afetiva pode transformar educandos inibidos e cobertos de preconceitos em pessoas cônscios de seus direitos lhes dando oportunidade de obter uma nova visão de vida e a possibilidade de reivindicarem pelos seus direitos com segurança e convicção. REFERÊNCIAS CARVALHO, Marlene. Shirléia: o lugar do afeto no diálogo com o outro. In. Primeiras letras: Alfabetização de jovens e adultos em espaços populares. Ed. São Paulo: Ática, 2009. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1981. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 47ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2013. FREIRE, Paulo, MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Tradução Lourenço de Oliveira, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2011.