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Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente




- Na última safra, as lavouras brasileiras bateram o recorde de uso de
agrotóxicos. De acordo com informações do Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para a Defesa Agrícola (Sindage), mais de um bilhão de litros de
veneno foram usados na agricultura. Se confirmado o volume de vendas
estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim),
esse recorde pode ser superado. A entidade estima um crescimento de até 8%,
em relação ao período anterior.

O uso excessivo destas substâncias químicas está relacionado com o modelo
agrícola brasileiro, que se sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção
altamente mecanizada para a produção em larga escala. Para sustentar essa
lógica, empresas e produtores precisam usar sem qualquer controle os
agrotóxicos.

Mas para onde vai este veneno? Grande parte dele vai parar nos alimentos à
venda nos supermercados, nas feiras. Ou seja, vai parar na mesa da
população e, depois, no estômago.

Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
detectou no pimentão mais comum, vendido nos supermercados, substâncias
tóxicas no patamar de 64% além da quantidade permitida. Na cenoura e na
alface, foram encontrados 30% e 19% de agrotóxicos acima do recomendável
pelo órgão do governo. Vale lembrar que a quantidade limite de agrotóxicos e
produtos proibidos são diferentes para cada cultura, mas é certo afirmar que
estamos comento produtos envenenados.

Além da contaminação dos alimentos, os agrotóxicos estão se dispersando no
meio ambiente, seja na terra, água e até mesmo o ar. Muitos desses
agrotóxicos comercializados no Brasil, inclusive, formam banidos da União
Europeia (UE).

Uma operação da Anvisa, que durou aproximadamente dez meses e visitou
sete fábricas de agrotóxicos instaladas no Brasil, concluiu que seis delas
desrespeitavam as regras sanitárias e tiveram as linhas de produções fechadas
temporariamente. Entre as irregularidades encontradas, estão o uso de
matéria-prima vencida e adulteração da fórmula.

Para a gerente de normatização da Anvisa, Letícia Silva, as irregularidades
encontradas se tornam mais preocupantes, pois esses agentes químicos são
comercializados e estão se espalhando pelo meio ambiente.

“É bastante assustador. Principalmente quando pensamos que a água que
bebemos está contaminada. Há estudos que mostram que há resíduos de
agrotóxico na água da chuva e no ar. Um estudo feito pela Universidade
Federal do Mato Grosso constatou que há resíduos de agrotóxicos no ar
respirado em escolas da zona rural e até mesmo urbana, de municípios que
plantam soja. Está em xeque nossa possibilidade de decidir. Começa aparecer
indícios que toda uma cadeia alimentar está contaminada, desde a água, o
solo, até o ar.

Letícia Silva se refere ao estudo da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram medidos os efeitos do uso de
agrotóxicos em moradores de dois municípios produtores de grãos: Campo
Verde e Lucas do Rio Verde.

Foi constatado que os agrotóxicos estão até mesmo no sangue e na urina das
pessoas. O levantamento monitorou a água dos poços artesianos e identificou
a existência de resíduos de agrotóxicos em 32% das amostras analisadas.

Em 40% dos testes com a água da chuva, também foi identificada a presença
de venenos agrícolas. Nos testes com o ar, 11% das amostras continham
substâncias tóxicas, como o endossulfam, proibido pelo potencial cancerígeno.

O médico e professor da UFMT, Wanderlei Pignatti, relata a situação.

“Não existe uso seguro de agrotóxicos. Uso de agrotóxico deve ser
considerado como uma poluição intencional, por quê? As pragas das lavouras
que são as ervas daninhas, fungos e insetos, estão crescendo no meio da
plantação. Se eles estão crescendo, o fazendeiro poluiu aquele ambiente de
maneira intencional para tentar atingir as pragas. Com esta prática, ele polui o
ambiente de trabalho, todo o meio ambiente e inclusive polui o alimento que
está produzindo. Por isso o fazendeiro sabe que todo agrotóxico que ele
compra é nocivo.”

Contaminação parecida foi constada no município de Limoeiro do Norte (CE).
Agrotóxicos pulverizados por avião sobre as monoculturas estão contaminando
a água da região. De acordo com resultados parciais de pesquisa da
Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo menos sete tipos de venenos já
foram encontrados nas amostras de caixas d‟águas que abastecem
diretamente as torneiras da população. O morador do município e integrante da
Cáritas Diocesana, Diego Gradelha, afirma que o agrotóxico já está
contaminando até mesmo um aquífero.

“Já sabemos que há pelo menos setes princípios ativos de agrotóxico na água
que bebemos. O Aquífero Jandaíra, com águas a 100 metros de profundidade,
já está contaminado. O agrotóxico contamina o homem e a água. Mas existe
uma cegueira na administração pública em não fiscalizar e nem cobrar das
empresas provas que eles não contaminam.”

De acordo com o integrante dos Movimentos do Atingidos por Barragens (MAB)
do estado de Pernambuco, Celso Rodrigues dos Santos, a lógica de produção
das grandes empresas para a monocultura acabou sendo adotada pelos
pequenos agricultores, que usam excessivamente agrotóxicos para matar
qualquer praga que aparece nas plantações.
“Temos uma preocupação muito grande com esta questão dos inseticidas.
Quando aparece uma praga o pessoal nem respeita o tempo certo da colheita,
e para cultivar o produto "limpo", sem praga, já sai jogando muito agrotóxico.”

O solo está constituído por uma mistura variável de minerais, matéria orgânica
e água, capaz de sustentar a vida das plantas na superfície da terra. A
professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, explica que não
é possível separar os agrotóxicos da destruição do ambiente.

“As empresas chegam e já promovem o desmatamento, reduzindo a
biodiversidade que é fundamental para manter o equilíbrio do ecossistema, fato
que protege as lavouras contras as pragas. Em seguida entram com a
monocultura que nada mais é que a afirmação do oposto da biodiversidade.
Depois aplicam uma série de pratica de fertilização. E critérios de produtividade
por hectare são impostos à terra para estressar as plantas e produzir
rapidamente o fruto. Este modo de produzir é indutor da necessidade do uso de
agrotóxico. Com isto a terra está respondendo de forma muito dolorosa. No
Ceará, há três fazendas que interromperam a produção porque a terra não
produz mais.”

A preservação do meio ambiente, como da água, do solo, do ar e das chuvas,
deixa para todos os brasileiros a tarefa de discutir quem são os grandes
beneficiados e prejudicados pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras de
nosso país.

Reportagem: Danilo Augusto.

Março 2011.



O papel das grandes empresas no mercado dos agrotóxicos
) - Embora o Brasil ocupe a terceira posição no ranking dos maiores produtores
agrícolas do mundo, já é líder no consumo de agrotóxicos. Somente em 2009,
foram comercializados um bilhão de litros destes produtos. Dependendo do
volume de vendas estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria
Química (Abiquim), esse recorde pode ser superado. A entidade estima um
crescimento de até 8%, em relação ao período anterior.

Ainda de acordo com dados da Abiquim as empresas do ramo tiveram
faturamento líquido de US$18,2 bilhões com a produção de defensores
agrícolas, adubos e fertilizantes em 2010.

Para manter o nível de consumo, os fabricantes e fornecedores estão
financiando a produção agrícola. Este incentivo consiste em fornecer, aos
produtores insumos, as sementes, adubos, fertilizantes e pesticidas, além de
assistência técnica. O pagamento é efetuado após a colheita, que recebe parte
da produção.
Com isto, os produtores ficam reféns destas empresas. Um exemplo está na
região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, conhecida pela forte
presença da indústria fumageira. A integrante do Movimento dos Pequenos
Agricultores (MPA), Rosiele Cristiane, denuncia a exploração dos produtores
de fumo, que, por meio de contratos, tiram o controle do agricultor sobre a sua
produção.

“Antes de iniciar a safra, o orientador agrícola da empresa que presta a
assistência técnica, que vai à casa das pessoas, faz o contrato com as famílias.
Vê quantos pés de fumo eles querem plantar. Os agricultores assinam esse
contrato sem ler: há várias promissórias, em branco também. E este contrato
está dizendo que o agricultor não é dono do produto. Ele é o fiel depositário.
Isto dá à empresa o direito de buscar o fumo, se o agricultor não entregar. Nos
últimos anos, os agricultores estão esperando o melhor preço. Então, no início
da comercialização, eles não estão entregando o fumo. Eles esperam até maio,
junho, que é a melhor época para vender. Quando o fumo não é entregado
para a empresa, e ela tem contratos a honrar no exterior, eles usam dessas
artimanhas para buscar o fumo em casa”

A partir deste modelo de financiamento, a venda de defensivos agrícolas, no
Brasil, pode crescer de US$ 6,6 bilhões para US$ 8,5 bilhões em cinco anos.
No entanto, Rosiele alerta que a pressão das empresas já levou agricultores ao
suicídio.

“Eu sempre falo do caso da Dona Eva, que foi uma agricultora. A indústria
fumageira chegou à casa dela com o oficial de Justiça e a Polícia. Ela alegou
que não tinha nenhuma dívida vencida. Era mês de fevereiro, e a dívida dela só
venceria em maio. A empresa alegou ao juiz que ela estava desviando o
produto. Ela se sentiu tão humilhada que, no mesmo instante em que eles
carregavam o fumo do galpão, ela foi na varanda e se enforcou.”

O mercado mundial de agrotóxicos é dominado por seis empresas: Syngenta,
Bayer, Monsanto, Basf, Dow, DuPont e Nufarm. Este negócio mais de US$ 20
bilhões por ano. O lucro cresce com a comercialização dos organismos
geneticamente modificados: os transgênicos. As pesquisas na área da
biotecnologia permitiram, pela primeira vez na História, o patenteamento de um
ser vivo. Segundo o engenheiro agrônomo Horácio Martins, as plantas
deixaram de ser espécies vegetais para se tornarem unidades de produção de
moléculas.

“A maior parte das moléculas, que são desenvolvidas, não está na natureza.
Elas são criadas em laboratórios, e o custo de uma nova molécula, hoje, gira
em torno de US$ 250 milhões. Aquele novo germoplasma, o material genético
da semente, traz características e propriedades que outras sementes não têm.
Ele é inovador e permite, então, ser patenteado.”

A biotecnologia está nas mãos de empresas que controlam quatro áreas:
sementes, agroquímicos, farmacêutica e veterinária. Existem cerca de mil
princípios ativos de agrotóxicos, que, combinados, criam mais de dez mil
formulações. Cada uma dessas formulações gera lucro para as empresas.
Horácio Martins explica que as empresas exercem forte pressão sobre o poder
público para viabilizar suas atuações na cadeia produtiva.
“Eles têm a patente dos seus produtos, dos princípios ativos que, depois, são
combinados para gerar substâncias comerciais. A partir daí, pressionam os
governos para que façam legislação, normas internas e um marco regulatório
que vai controlar o uso daquela patente, daquele princípio ativo que ela mesma
fabricou. Enfim, fabrica o produto e cria regulamentação para controlar o seu
uso.”

A Monsanto controla 25% do mercado brasileiro de sementes de hortaliças,
que é estimado em 200 milhões de dólares anuais. O domínio das
transnacionais sobre a agricultura brasileira conta com apoio do Poder Público.
Isto se dá a partir dos investimentos públicos em infraestrutura, isenções
tributárias e legislações flexíveis para beneficiar as empresas.

No estado do Ceará, por exemplo, desde 1997, os agrotóxicos estão isentos do
pagamento de diversos tributos. A medida foi adotada depois de um decreto do
então governador Tasso Jereissati (PSDB).

A isenção é concedida até mesmo para produtos que foram proibidos em seus
países de origem. A integrante do Núcleo Tramas, da Universidade Federal do
Ceará (UFC), Maiana Maia, avalia que a política de incentivos gera impactos
negativos.

“Num contexto em que estas substâncias provocam danos ao meio ambiente,
danos à saúde da população, o Estado barateia o custo destes produtos,
incentivando o uso de modo que os custos sociais são 'externados' pelo
sistema público de saúde e pelo sistema público da previdência. Por exemplo,
quando o Estado aplica uma política de taxação do cigarro, do álcool, para
inibir o uso destas substâncias – porque são consideradas agressivas – e para
poder adquirir recursos para financiar o sistema público, uma vez que vai
cuidar dos danos, esta lógica ele não aplica para os agrotóxicos”.

Maiana considera que a sobrevivência dos pequenos agricultores depende de
um enfrentamento do modelo sustentado na produção em latifúndios para
exportação do agronegócio.

“As populações do entorno destes empreendimentos acabam ficando muito
vulneráveis, porque elas encontram um Estado que não tem capacidade de
fiscalizar. A partir disto, a gente percebe que o embate não é só com as
empresas. Existe também um embate que precisa ser feito com estas políticas
públicas que beneficiam este tipo de modelo de desenvolvimento.”

Há mais de uma década, a região do Baixo Jaguaribe, no Ceará, está marcada
pela produção de frutas em latifúndios por meio da irrigação. Destaque para os
monocultivos de banana, melão, abacaxi e mamão.

A expansão das áreas cultivadas representou um aumento de quase 1.000%
do uso de agrotóxicos, na região, em quatro anos. Apenas em 2009, foram
utilizadas quase 6,5 mil toneladas de produtos químicos.

O impacto na saúde e no meio ambiente foi instantâneo. A Universidade
Federal do Ceará detectou, no último ano, a presença de 22 princípios ativos
de agrotóxicos na água fornecida para as comunidades que vivem na região.
Maia denuncia que, com a falta de monitoramento, vigilância e fiscalização, os
resíduos já chegaram ao subsolo.

“Na região do Alto Jaguaribe, fizemos uma coleta ambiental que detectou a
contaminação por agrotóxicos no Aquífero Jandaíra. Quando a gente foi
esmiuçando esta questão, a gente se deparou com uma legislação do Estado,
em que se permite a poluição. Existe uma portaria, nº 518, do Ministério da
Saúde, que estabelece valores máximos permitidos de venenos em águas
consideradas próprias para consumo humano. Então, a água que as pessoas
bebem pode ter veneno. O Estado estabelece isto”.

O Baixo Jaguaribe recebeu, em dez anos, uma chuva de mais de quatro
bilhões de litros de calda tóxica. Todo dia uma área de quase três mil hectares
é banhada com agrotóxicos. A pulverização é feita por meio de aviões. A
população teme os efeitos crônicos para a saúde. Os animais domésticos não
estão resistindo, ficam doentes e morrem.

Reportagem: Jorge Américo.

Março de 2011.


Mercado dos agrotóxicos, legislação e irregularidades



- O Brasil é o principal destino de agrotóxicos proibidos no exterior, segundo
dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Pelo menos dez variedades
vendidas livremente aos agricultores, no Brasil, não circulam na União
Europeia e Estados Unidos. Para fabricantes e fornecedores, os riscos de
prejuízo são mínimos. Desde 2002, apenas quatro produtos foram barrados
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Um exemplo é o endossulfam, uma substância considerada altamente tóxica e
associada a problemas reprodutivos. Por isso é vetado em 45 países. No
entanto, a comissão formada pela Anvisa, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
(Ibama) e Ministério da Agricultura decidiu que o produto será banido somente
em 2013. Em 2009, o Brasil importou mais de duas mil toneladas do
endossulfam, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior. Para a gerente
de normatização da Avisa, Letícia Silva, isso é resultado da pressão das
empresas.

“A pressão sempre é no sentido de avaliar mais rápido determinado produto,
para que ele possa chegar ao mercado mais depressa e passar à frente de
outras empresas. No caso de reavaliação, existe pressão para o produto não
ser reavaliado. Isto significa poder tirá-lo do mercado. Isso ocorreu tanto no
âmbito político, com tentativas de sustar a reavaliação toxicológica iniciada pela
Anvisa, como também no âmbito judicial. As empresas ingressaram com três
ações diferentes para impedir a reavaliação daqueles 14 produtos agrotóxicos
que Anvisa colocou em avaliação em 2008.”
A pressão das empresas passa por diversas instituições. Em 2010, as
empresas Shell e Basf conseguiram reverter uma condenação bilionária, que
indenizava ex-funcionários de uma fábrica de agrotóxicos de Paulínia, que
ficaram doentes por conta do contato com os produtos químicos. A presidente
do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande
do Sul, Regina Miranda, avalia que a legislação está sofrendo modificações a
partir dos interesses das empresas.

“A regulamentação não é clara. E ela vem mudando progressivamente, numa
postura de criar essa confusão dos legisladores para judiciar o uso irregular.
Numa hora, o agrotóxico é proibido, mas liberam o genérico dele, que recebe
outro nome científico e é liberado, mas o nome comercial é proibido. Existe
uma confusão em tudo isso. Pouca capacidade do Estado de acompanhar,
regular e capacitar agricultores para o uso. Então, ele contamina o trabalhador
da indústria que fabrica, contamina o agricultor que o utiliza, no solo, e as
pessoas que bebem água contaminada e comem os alimentos com
agrotóxicos.”

Um total de 2.195 marcas de agrotóxicos estão registradas no Brasil. Segundo
o sindicato do setor, 400 toneladas de produtos sem registro já foram
apreendidas desde 2001. O comércio ilegal movimenta R$ 500 milhões por
ano.

Letícia Silva, da Anvisa, explica como é o processo de adulteração, a partir do
exemplo da empresa israelense Milenia, autuada, em 2009, por fabricar
agrotóxicos com formulação diferente da permitida.

“Ela buscou o registro com uma formulação. Aquela formulação colocava o
produto como extremamente tóxico. Ela apresentou uma nova formulação e
obteve o registro do produto como „classe 3‟, que é medianamente tóxico. Era
um produto utilizado na cultura do fumo, um antibrotante, inibidor de
crescimento. Nós tínhamos coletado o produto no mercado e o submetido a
uma análise. O INC, da Polícia Federal, constatou que a formulação do produto
não era a mesma que havia sido registrado. Quando chegamos [na linha de
produção], constatamos que ela tinha adulterado a fórmula e estava produzindo
uma fórmula sem registro, que é um produto „classe 1‟, extremamente tóxico”.

O monocultivo é o principal destino dos agrotóxicos. O integrante do
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Frei Sérgio Görgen afirma que a
política de crédito beneficia a monocultura e impõe dificuldades para a
produção diversificada.

“Uma única cultura agrícola em uma enorme extensão é induzida pelo crédito,
pelos insumos, pela rede de compra e pela indústria. Você quase não
consegue sair disso. E quando é soja, é só transgênica, não tem semente
convencional. Não tem insumo para manejo de cultivo convencional. Então, o
agricultor é obrigado a fazer. E se um assentamento estiver numa região
dessas, a maioria ou produzirá soja ou estará fora do mercado. Há uma
indução forçada, uma pressão do modelo econômico e político do país para
que o monocultivo tome conta de algumas regiões.”
O uso dos agrotóxicos está ligado também ao comércio dos transgênicos.
Dados do primeiro semestre de 2010 do Ministério da Agricultura apontam que,
de cada quatro variedades de milho lançadas no mercado, três são
transgênicas.

As novas variedades de sementes transgênicas surgiram com a promessa de
reduzir o consumo de agrotóxicos. Para o coordenador do Greenpeace Iran
Magno, o processo foi inverso.

“A promessa era a de que as sementes transgênicas trariam benefícios ao
meio ambiente, porque diminuiriam o uso de agrotóxicos. Mas o que está
surgindo - e é um fenômeno que já acontece no Brasil- o uso intensivo de
glifosato estimulou o desenvolvimento de algumas ervas daninhas resistentes a
este produto, as superervas; e os produtores estão utilizando agrotóxicos cada
vez mais agressivos ao ambiente e à saúde. Na região Sul, por exemplo, há
agricultores utilizando o 24-D, que é um dos ingredientes do „Agente Laranja‟.
Então, o surgimento destas superervas já enterrou as promessas de que os
transgênicos iam trazer benefícios ao meio ambiente e à economia do produtor.
Eles estão comprando mais agrotóxicos e utilizando os mais agressivos.”

Para a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Raquel Rigotto,
nem mesmo os grandes produtores suportam o alto custo dos agrotóxicos.

“O preço dos venenos tem sido um custo importante para as empresas. Hoje,
elas já começam a se interessar por tecnologias de agricultura orgânica, não
por princípio ético de respeito à natureza, mas por causa do custo dos
agrotóxicos nos processos de produção dela. Na produção de abacaxi, este
custo é de 45%. A reversão desse quadro depende da imposição de limites
para esse modelo produtivo. E estes limites devem ser colocados pelo Estado.”

Pesquisas apontam que a disponibilidade de nutrientes fundamentais para a
saúde é menor em alimentos produzidos com agrotóxicos. Além disso, o
organismo humano não é capaz de eliminar os resíduos ingeridos. A atriz
Priscila Camargo considera que o problema não pode ser encarado com
naturalidade.

“Nós estamos consumindo, segundo pesquisadores importantes – gente da
maior seriedade –, cinco litros de agrotóxicos por ano, cada pessoa. Já pensou
em você ficar tomando um lixo químico? A situação é muito grave. Eu fiquei
muito impressionada com as informações. A população não tem acesso a isto,
porque a grande imprensa não divulga. Nós temos direito a um alimento de
qualidade, temos direito a um alimento natural, a uma água natural, como Deus
fez.”

Reportagem: Jorge Américo.

Março de 2011.
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
- Na última safra, as lavouras brasileiras bateram o recorde de uso de
agrotóxicos. De acordo com informações do Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para a Defesa Agrícola (Sindage), mais de um bilhão de litros de
veneno foram usados na agricultura. Se confirmado o volume de vendas
estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim),
esse recorde pode ser superado. A entidade estima um crescimento de até 8%,
em relação ao período anterior.

O uso excessivo destas substâncias químicas está relacionado com o modelo
agrícola brasileiro, que se sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção
altamente mecanizada para a produção em larga escala. Para sustentar essa
lógica, empresas e produtores precisam usar sem qualquer controle os
agrotóxicos.

Mas para onde vai este veneno? Grande parte dele vai parar nos alimentos à
venda nos supermercados, nas feiras. Ou seja, vai parar na mesa da
população e, depois, no estômago.

Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
detectou no pimentão mais comum, vendido nos supermercados, substâncias
tóxicas no patamar de 64% além da quantidade permitida. Na cenoura e na
alface, foram encontrados 30% e 19% de agrotóxicos acima do recomendável
pelo órgão do governo. Vale lembrar que a quantidade limite de agrotóxicos e
produtos proibidos são diferentes para cada cultura, mas é certo afirmar que
estamos comento produtos envenenados.

Além da contaminação dos alimentos, os agrotóxicos estão se dispersando no
meio ambiente, seja na terra, água e até mesmo o ar. Muitos desses
agrotóxicos comercializados no Brasil, inclusive, formam banidos da União
Europeia (UE).

Uma operação da Anvisa, que durou aproximadamente dez meses e visitou
sete fábricas de agrotóxicos instaladas no Brasil, concluiu que seis delas
desrespeitavam as regras sanitárias e tiveram as linhas de produções fechadas
temporariamente. Entre as irregularidades encontradas, estão o uso de
matéria-prima vencida e adulteração da fórmula.

Para a gerente de normatização da Anvisa, Letícia Silva, as irregularidades
encontradas se tornam mais preocupantes, pois esses agentes químicos são
comercializados e estão se espalhando pelo meio ambiente.

“É bastante assustador. Principalmente quando pensamos que a água que
bebemos está contaminada. Há estudos que mostram que há resíduos de
agrotóxico na água da chuva e no ar. Um estudo feito pela Universidade
Federal do Mato Grosso constatou que há resíduos de agrotóxicos no ar
respirado em escolas da zona rural e até mesmo urbana, de municípios que
plantam soja. Está em xeque nossa possibilidade de decidir. Começa aparecer
indícios que toda uma cadeia alimentar está contaminada, desde a água, o
solo, até o ar.

Letícia Silva se refere ao estudo da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram medidos os efeitos do uso de
agrotóxicos em moradores de dois municípios produtores de grãos: Campo
Verde e Lucas do Rio Verde.
Foi constatado que os agrotóxicos estão até mesmo no sangue e na urina das
pessoas. O levantamento monitorou a água dos poços artesianos e identificou
a existência de resíduos de agrotóxicos em 32% das amostras analisadas.

Em 40% dos testes com a água da chuva, também foi identificada a presença
de venenos agrícolas. Nos testes com o ar, 11% das amostras continham
substâncias tóxicas, como o endossulfam, proibido pelo potencial cancerígeno.

O médico e professor da UFMT, Wanderlei Pignatti, relata a situação.

“Não existe uso seguro de agrotóxicos. Uso de agrotóxico deve ser
considerado como uma poluição intencional, por quê? As pragas das lavouras
que são as ervas daninhas, fungos e insetos, estão crescendo no meio da
plantação. Se eles estão crescendo, o fazendeiro poluiu aquele ambiente de
maneira intencional para tentar atingir as pragas. Com esta prática, ele polui o
ambiente de trabalho, todo o meio ambiente e inclusive polui o alimento que
está produzindo. Por isso o fazendeiro sabe que todo agrotóxico que ele
compra é nocivo.”

Contaminação parecida foi constada no município de Limoeiro do Norte (CE).
Agrotóxicos pulverizados por avião sobre as monoculturas estão contaminando
a água da região. De acordo com resultados parciais de pesquisa da
Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo menos sete tipos de venenos já
foram encontrados nas amostras de caixas d‟águas que abastecem
diretamente as torneiras da população. O morador do município e integrante da
Cáritas Diocesana, Diego Gradelha, afirma que o agrotóxico já está
contaminando até mesmo um aquífero.

“Já sabemos que há pelo menos setes princípios ativos de agrotóxico na água
que bebemos. O Aquífero Jandaíra, com águas a 100 metros de profundidade,
já está contaminado. O agrotóxico contamina o homem e a água. Mas existe
uma cegueira na administração pública em não fiscalizar e nem cobrar das
empresas provas que eles não contaminam.”

De acordo com o integrante dos Movimentos do Atingidos por Barragens (MAB)
do estado de Pernambuco, Celso Rodrigues dos Santos, a lógica de produção
das grandes empresas para a monocultura acabou sendo adotada pelos
pequenos agricultores, que usam excessivamente agrotóxicos para matar
qualquer praga que aparece nas plantações.

“Temos uma preocupação muito grande com esta questão dos inseticidas.
Quando aparece uma praga o pessoal nem respeita o tempo certo da colheita,
e para cultivar o produto "limpo", sem praga, já sai jogando muito agrotóxico.”

O solo está constituído por uma mistura variável de minerais, matéria orgânica
e água, capaz de sustentar a vida das plantas na superfície da terra. A
professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, explica que não
é possível separar os agrotóxicos da destruição do ambiente.

“As empresas chegam e já promovem o desmatamento, reduzindo a
biodiversidade que é fundamental para manter o equilíbrio do ecossistema, fato
que protege as lavouras contras as pragas. Em seguida entram com a
monocultura que nada mais é que a afirmação do oposto da biodiversidade.
Depois aplicam uma série de pratica de fertilização. E critérios de produtividade
por hectare são impostos à terra para estressar as plantas e produzir
rapidamente o fruto. Este modo de produzir é indutor da necessidade do uso de
agrotóxico. Com isto a terra está respondendo de forma muito dolorosa. No
Ceará, há três fazendas que interromperam a produção porque a terra não
produz mais.”

A preservação do meio ambiente, como da água, do solo, do ar e das chuvas,
deixa para todos os brasileiros a tarefa de discutir quem são os grandes
beneficiados e prejudicados pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras de
nosso país.

Reportagem: Danilo Augusto.

Março 2011.
Impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do campo
- Pesquisas médicas apontam que os agrotóxicos prejudicam a saúde das
pessoas que trabalham com essas substâncias químicas. Os agrotóxicos estão
entre os principais agentes tóxicos no país, com índices abaixo apenas de
medicamentos, animais peçonhentos e produtos sanitários. Esse impacto pode
ser definido de forma mais evidente a partir dos chamados efeitos agudos nos
trabalhadores, mas há também os efeitos crônicos.

De acordo com dados de 2007, do Sistema Nacional de Informações Tóxico-
Farmacológicas (Sinitox), 28% dos mais de 8 mil casos de contaminação estão
relacionados a circunstâncias profissionais. São Paulo e Rio Grande do Sul
estão nas primeiras posições. Os índices são elevados também na Bahia e em
Santa Catarina. A Sinitox também apontou que foram registrados, no país,
mais de 19 mil casos de intoxicação por agrotóxico.

O médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),
Wanderlei Antonio Pignati, enumera as doenças causadas pelos agrotóxicos
nos trabalhadores.

“São agravos, na saúde, agudos e crônicos. Intoxicações agudas e crônicas,
má formação fetal de mulheres gestantes, neoplasia (que causa câncer),
distúrbios endócrinos (na tiroide, suprarrenal, e alguns mimetizam diabetes),
distúrbios neurológicos, distúrbios respiratórias (vários são irritantes
pulmonares)”

A juventude está entre os principais afetados. O produto Adicarbe, mais
conhecido no campo como “chumbinho”, é desviado para os centros urbanos
para ser usado como raticida. O produto glifosato, aplicado no cultivo de soja
transgênica, apresenta Classe 1 de contaminação, o que significa um índice
elevado de intoxicação, sendo que a cultura da soja, onde o glifosato é
aplicado, é responsável por 51% do uso de agrotóxicos no país.

Há, no Brasil, cerca de 451 produtos ativos e 1,4 mil produtos no mercado,
cada um com nocividade específica. Os especialista admitem que é difícil
desvendar o nexo entre a doença e o produto que a causou. Um dos
problemas é a chamada subnotificação das ocorrências, que acontece porque
os empresários não reconhecem o vínculo entre a doença do trabalhador e a
sua causa. Por isso, os dados de intoxicação são ainda maiores.

No Mato Grosso, o médico Pignati realiza estudos comparando dados
epidemiológicos das regiões do estado com diferentes níveis de utilização de
agrotóxicos. Nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma
incidência três vezes maior de intoxicação aguda.

“Analisando por regiões o sistema de notificação de intoxicação aguda da
secretaria municipal, estadual e do Ministério da Saúde, percebemos que onde
a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarreia,
vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares, além de
doenças subcrônicas que aparecem um mês ou dois meses depois da
exposição, de tipo neurológico e psiquiátrico, como a depressão. Há
agrotóxicos que causam irritação ocular e auditiva. Outros dão lesão
neurológica, com hemiplegia, neurite da coluna neurológica cervical”.

De acordo com Gilberto Salviano da Silva, assessor da Secretaria de Saúde do
Trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT), há uma política de
saúde do trabalhador mais consistente entre os trabalhadores urbanos. Mas os
casos de acidentes e doenças na zona rural ainda têm menor notificação.

“O que notamos é que todas as normas em saúde do trabalhador têm sido
focadas no trabalhador da cidade, então existem normas mais presentes e
avançadas no setor da metalurgia, no setor financeiro, químico, da construção
civil, e nem por isso, com estas normas, se conseguiu diminuir o número de
acidentes de trabalho no Brasil; temos que entender que sempre foram
subnotificados. Temos o problema dos empresários que negam as doenças e
não comunicam.”

Salviano entende que o índice de notificações é insuficiente. Desde abril de
2007, começou a aumentar devido ao novo modelo de concessão de
benefícios do INSS, denominado como Nexo Técnico Epidemiológico da
Previdência Social (Netep).

Dessa forma, tem aumentado o número de registros de acidentes e doenças no
Brasil. De acordo com o assessor da CUT, em 2006 foram registrados 510 mil
acidentes. Em 2008, as estatísticas apontavam para quase 750 mil acidentes
de trabalho.

“Essa subnotificação de doenças dificulta a visibilidade sobre o que acontece
no local de trabalho. E o setor rural, isso é muito evidente, a ausência das
informações, doenças e mortes por consequência do agrotóxico dificulta as
ações de políticas públicas; esta subnotificação, no campo, é parecida com a
da cidade. Os empresários negam que os trabalhadores fiquem doentes no
campo. O serviço médico não está preparado para o diagnóstico; às vezes, os
trabalhadores se contaminam ou morrem, e aparecem outras doenças. Então,
as dificuldades, no campo, têm sido maiores”

Para a prevenção dos acidentes, Salviano compara as ações realizadas contra
o uso do material amianto na construção civil. Hoje o amianto está proibido em
uma série de estados do Brasil, por meio da articulação internacional com
entidades contrárias ao uso deste material.

“Começar a chamar a atenção civil e criminal daqueles que fabricam produtos
que provocam impacto no meio-ambiente, morte e doença dos trabalhadores,
caminho possível para fazer valer a justiça social”

O uso de agrotóxicos provoca efeitos graves na saúde humana, como o
desequilíbrio do sistema endócrino, infertilidade masculina, más formações e
abortos, efeitos nas crianças e doenças nos sistema nervoso.

Nas terras da Chapada do Apodi e do Tabuleiro das Russas, no baixo vale do
Jaguaribe, no Ceará, as pessoas vivem sob o regime de trabalho de empresas
produtoras de abacaxi. Os cultivos são ao redor dos locais de moradia. Se uma
área recebe oito pulverizações por ano, mais de 4,5 milhões de litros de caldas
tóxicas foram lançadas sobre as comunidades nos últimos dez anos.

Todas as noites, 82 mil litros de agrotóxicos são jogados sobre 1,3 mil hectares
de cultivo de abacaxi. Do total de trabalhadores pesquisados na região, 53% já
têm marcas da exposição diária a agrotóxicos.

Os impactos para a saúde dos trabalhadores do campo, pelo uso dos
agrotóxicos, evidenciam a necessidade de um debate sobre o tema no amplo
conjunto da sociedade. O integrante do setor de Saúde do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), André Rocha, propõe um modelo de
produção baseado na saúde ambiental.

“Saúde ambiental é uma área da saúde [que analisa] as interferências do
homem no meio ambiente... como o meio influi na saúde humana, [como se dá]
essa relação entre saúde e meio ambiente. Nós, do MST, nos dividimos em
dois eixos: produção saudável e do saneamento ecológico/habitação saudável.
Nossos locais de vivência e centros de formação. Construir espaços saudáveis,
produção saudável. Cada bioma é uma realidade específica, um trabalho
específico, mas o da produção saudável, produzir a soberania alimentar e
consequentemente ter saúde questão contra os transgênicos, agrotóxicos”.

Reportagem: Pedro Carrano.

Março de 2011.
Contaminação dos alimentos e a saúde pública
- Um ditado indiano diz que a gente é aquilo que come. A alimentação sempre
ocupou lugar de destaque desde as sociedades milenares. As pessoas
comiam para satisfazer as necessidades do corpo, mas também da mente. A
comida também se encarregou de perpetuar culturas de povos, passando
receitas e costumes de geração para geração, até os dias de hoje.

No entanto, se a gente é o que come, não temos muito o que comemorar. Em
nome da correria do dia-a-dia, a alimentação variada de antigamente, com
legumes, verduras e frutas, tudo cozido e até mesmo plantado em casa, deu
lugar a pães, bolachas, comidas instantâneas e enlatados.
O resultado dos novos maus hábitos foi comprovado em agosto de 2010. O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa em que
mostra que a obesidade já é uma epidemia no país. Desde a década de 70, o
déficit de alimentação diminuiu, mas o excesso e a obesidade estouraram.
Tanto que o IBGE estima que, se for mantido o ritmo de crescimento de
pessoas acima do peso, em apenas 10 anos o Brasil terá se igualado aos
Estados Unidos.

Ou seja, o brasileiro está comendo mais, no entanto, com menos qualidade,
como explica a nutricionista Regina Miranda, presidente do Conselho de
Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul (Consea).

“Há exemplo do trigo, batata, derivados de trigo como pão e macarrão, são
dominante numa dieta diária. Isso, sem sombra de dúvida, empobreceu a
alimentação”.

A má alimentação não se restringe apenas a ter uma dieta empobrecida e com
pouca variedade por causa da dita falta de tempo. Também é consequência de
um novo padrão alimentar que vem sendo imposto com a industrialização dos
alimentos. As pessoas têm comida barata à disposição, mas com pouco valor
nutritivo, carregado de açúcar, sal, conservantes e gordura hidrogenada. A
mudança na alimentação, embora atinja toda a sociedade, é mais perversa
entre os mais pobres, analisa Regina.

“O que faz com que as pessoas muito pobres, que têm uma renda baixa,
acabam mais destes alimentos porque são mais baratos. Alimentam maior
número de pessoas durante o mês. O resultado disso tudo uma humanidade
obesa. É um sistema que obesifica as pessoas, que adoecem muito de
doenças relacionadas a maus hábitos alimentares como diabetes, pressão alta,
cardiopatia”

Neste novo padrão, a comida deixou de ser um alimento e passou a ser tratada
como uma mercadoria, vendida aos consumidores, à população. Quem nunca
escolheu, no supermercado, a laranja maior, mais lustrosa, a mais bonita? São
essas as características que definem o valor nutricional dos alimentos? Há
prateiras específicas até mesmo para as crianças, com bolachas e salgadinhos
com carinhas e diversos sabores.

Para a nutricionista Regina Miranda, não é a aparência o que deve contar na
hora de optarmos por uma alimentação mais saudável, e sim a sua essência.

“Não comemos mais alimentos, comemos mercadoria. Aquilo que vou comer
estão embutidos outros valores em troca que não são necessariamente
importantes para a minha saúde. Tem valor como uma mercadoria que tem que
gerar lucro, tem que ter tempo de prateleira, estar maquiada”.

Muitas vezes, a comida mais bonita e que pode parecer mais apetitosa aos
olhos não é necessariamente a melhor para a nossa saúde. Isso porque para
deixarem o alimento com essa “boa” aparência, os agricultores usaram
agrotóxicos na hora de plantar e produzir. Em 2009, o Brasil ultrapassou os
Estados Unidos e se tornou o líder mundial no uso de veneno agrícola. Foram
consumidos 1 bilhão de litros por ano no país. É como se cada brasileiro
consumisse, em média, 5 litros de veneno por ano.

A pesquisadora Rosany Bochner coordena o Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Ligado à Fundação Oswaldo Cruz, o
sistema centraliza e divulga os casos de envenenamento e intoxicação
registrados na rede nacional. Os casos mais registrados pelo sistema são de
efeito agudo, que ocorre quando a pessoa apresenta reações logo após a
intoxicação.

No entanto, os casos crônicos, em que os efeitos aparecem após a exposição
por um longo período aos agrotóxicos, são em grande maioria e não se
restringem mais aos agricultores, que lidam diretamente com o veneno. De
acordo com Rosany, atinge toda a população, apesar das dificuldades para
comprovar que doenças que hoje afetam a população, como câncer, estão
relacionadas aos venenos agrícolas.

“Há 10 anos, com certeza não tinha o consumo que se tem hoje. E se você
olhar em termos de câncer e tudo mais, essas doenças aumentaram bastante.
Se olhar o mapa das doenças hoje, vê que algumas diminuíram com
saneamento, vacinas e com algumas coisas que foram feitas. E outras que
vêm aumentando. Até porque a vida média aumentou. Mas a questão do
câncer chama muito a atenção. Não sei se é uma coincidência, mas se ouve
muito”.

Ainda há os problemas ambientais, como lembra o integrante da coordenação
nacional da Via Campesina, João Pedro Stedile.

“Afetam o meio ambiente porque destroem os micronutrientes do solo,
contaminam a água do lençol freático, evaporam e voltam com as chuvas. E
finalmente, se incorporam com os alimentos e as pessoas que consomem
estes alimentos acabam ingerindo pequenas doses permanentes de veneno
que vão se acumulando no seu organismo e que afeta, em primeiro lugar, o
sistema neurológico e, em segundo lugar pode degenerar as células e se
transformar em câncer”

Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) constatou que
mais de 64% das amostras de pimentão analisadas pelo Programa de Análise
de Resíduos de Agrotóxicos apontam quantidade de resíduo tóxico acima do
permitido. A Anvisa também encontrou , em todos os alimentos analisados,
resíduos de agrotóxicos que não são permitidos no Brasil justamente por serem
altamente prejudiciais.

A pesquisadora Rosany Bochner, da Fundação Oswaldo Cruz, desmistifica a
ideia de que a quantidade de agrotóxicos utilizada é proporcional à escala de
grãos produzidos no país.

 “Em várias coisas ele [Brasil] não é o maior produtor. É uma ilusão achar que o
Brasil é o maior produtor de grãos e que precisaria ser o maior consumidor [de
agrotóxicos]. E o Brasil passou de segundo para primeiro, não se iluda, foi
exatamente quando os outros países proibiram o uso de alguns produtos e nós
não. Logicamente que se tinha uma oferta muito grande de produtos que
vieram para cá. Com certeza vieram com preço menor, que se começou a
consumir mais”

João Pedro Stedile responsabiliza o agronegócio e as grandes empresas por
impor esse modo de produção, baseado no uso de venenos químicos. Ele
sugere, por exemplo, a indenização das pessoas que sofreram com os efeitos
dos agrotóxicos.

“Espero que algum dia, inclusive, tenhamos leis suficientes não só para proibir
o uso do veneno, mas para exigir que estas empresas indenizem as famílias
que tenham pacientes com enfermidades decorrentes dos venenos agrícolas”

Reportagem: Raquel Casiraghi.

Março de 2011.
A campanha nacional contra o uso de agrotóxicos
- Mais de 20 entidades da sociedade civil brasileira, movimentos sociais,
entidades ambientalistas e grupos de pesquisadores lançaram uma campanha
nacional, de caráter permanente, contra o uso dos agrotóxicos no Brasil.

A campanha pretende abrir um debate com a população sobre a falta de
fiscalização, uso, consumo e venda de agrotóxicos, a contaminação dos solos
e das águas e denunciar os impactos dos venenos na saúde dos
trabalhadores, das comunidades rurais e dos consumidores nas cidades.

O secretário-executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Denis
Monteiro, apresenta os objetivos da campanha.

“A primeira questão é que nós precisamos estabelecer uma coalizão, uma
convergência ampla dos movimentos da área da saúde, da agricultura,
comunicação e direito, para fazer a denúncia permanente desse modelo
baseado no uso de agrotóxicos e transgênicos que tornou o Brasil campeão
mundial do uso de agrotóxicos; e os impactos são gravíssimos na saúde dos
trabalhadores, no meio ambiente, na contaminação das águas. ‟‟

Segundo Monteiro, além do caráter de denúncia, a campanha pretende
também apresentar à sociedade o modelo proposto pelas entidades, mais
saudável, baseado na pequena agricultura.

“Outro campo de articulação é mostrar para a sociedade e avançar na
construção de outro modelo de agricultura, baseado na agricultura familiar,
camponesa, em toda sua diversidade, dos povos e comunidades tradicionais,
assentamentos de reforma agrária, e que este modelo sim pode produzir
alimentos com fartura, alimentos de qualidade, com diversidade e sem uso de
agrotóxicos. Temos estudos que mostram que a agroecologia é viável, produz
em quantidade e em qualidade, e o local para a agroecologia acontecer são as
áreas da agricultura familiar. Então outro campo de articulação importante é
avançar na construção destas experiências em agroecologia que a gente já
vem construindo, multiplicá-las pelo país, mostrando que este é o futuro da
agricultura, e não vai ter futuro para o planeta se a gente não construir este
modelo alternativo ao modelo que está aí‟‟

Monteiro aponta ainda que a atuação no âmbito das políticas públicas também
se constituirá em um eixo importante da campanha.

“A Anvisa tem um trabalho de análise de resíduos de agrotóxicos e alimentos,
que precisa ser ampliado para mais culturas, ter aumentada sua abrangência;
está também fazendo reavaliações de agrotóxicos que têm um impacto terrível
na saúde, propondo restrição ao uso e banimento de produtos. Por outro lado,
precisamos avançar nas políticas direcionadas à agricultura familiar, para que
elas possam fomentar o resgate da biodiversidade, o resgate das sementes
crioulas, possam fortalecer as experiências de comercialização direta dos
agricultores familiares com os agricultores. O Programa Nacional de
Alimentação Escolar precisa ser efetivado, uma alimentação de melhor
qualidade nas escolas, que o dinheiro público usado para alimentação escolar
seja destinado à compra da agricultura familiar – a lei aprovada ano passado
obriga que no mínimo 30% seja destinado para a compra da agricultura
familiar; temos que lutar para que esta conquista seja efetivada.‟‟

Para o integrante da Via Campesina Brasil e da coordenação do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, a campanha
pretende propor projetos de lei, portarias e iniciativas legais e jurídicas para
impedir a expansão dos agrotóxicos.

“Seria uma boa iniciativa que os municípios começassem a legislar, porque é
possível que as câmaras proíbam o uso de determinado veneno no seu
município, e que a própria população fiscalize. Mas isso não basta ser iniciativa
do vereador, é preciso que toda a sociedade se mobilize para garantir,
inclusive, que o comércio não venda, que os fazendeiros não usem e que,
afinal, nós vamos criando territórios livres de agrotóxicos, e vocês vão ver
como a qualidade de vida vai melhorar muito nesses municípios.”

Stedile ainda avalia a natureza do uso dos agrotóxicos no Brasil e suas graves
consequências.

“Nós estamos aplicando um bilhão de litros por ano, e isso representa, em
média, cinco litros de veneno por pessoa. Não há parâmetro similar em
qualquer outra sociedade do planeta, nem sequer nos Estados Unidos, que são
a matriz indutora de toda a utilização de venenos na agricultura a partir da
Segunda Guerra Mundial.”

Para Stedile, a redução e a eventual erradicação do uso de agrotóxicos
dependem, fundamentalmente, da conscientização da população.

“Então nós esperamos que, daqui para diante, possamos congregar este
conjunto de forças sociais, desde os movimentos sociais, dos trabalhadores,
dos pesquisadores, dos médicos, das universidades, dos institutos de ciência,
para fazermos uma grande articulação nacional e, de fato, conseguirmos
paulatinamente ir diminuindo o consumo de venenos, até chegarmos, quiçá,
em médio prazo, à eliminação total do uso de agrotóxicos na agricultura
brasileira – o que seria uma grande conquista para toda a sociedade. Para que
se tenha uma idéia, eu acho que a campanha contra os agrotóxicos é muito
parecida com a campanha contra o fumo, porque no fundo o tabaco também
usa muito agrotóxico, o tabaco é um veneno, causa gravíssimos problemas de
saúde para a população, e somente de uns dez anos pra cá é que a sociedade
brasileira começou a se conscientizar e fazer uma campanha contra o cigarro.
E nós conseguimos reduzir: 30% da população eram fumantes e, hoje, só 12%
são fumantes‟‟

De acordo com Letícia Silva, da Anvisa, é preciso que a campanha consiga
promover uma grande consulta junto à sociedade brasileira sobre o tema.

“Não sei o tempo: quando colocamos a possibilidade de retirada de um produto
agrotóxico do mercado, muitas vezes a gente recebe poucas manifestações
favoráveis à retirada daquele produto no mercado, e muitas manifestações pela
manutenção do produto no mercado. Então acho que a primeira coisa, a mais
simples – e que independe até de uma grande mobilização – são as
organizações da sociedade mostrarem o que estão pensando a respeito,
mostrar o seu desejo com relação aos produtos agrotóxicos. Querem realmente
que sejam controlados? Que produtos precisariam ser banidos, quais estão
causando intoxicação? “

A campanha nacional contra o uso de agrotóxicos também promoverá
iniciativas ligadas à educação – com a produção de cartilhas para as escolas –
e realizará seminários regionais e audiências públicas.

Reportagem: Maria Mello.

Março de 2011.

Acesse a versão em texto das reportagens e baixe o arquivo em MP3 da
sério especial " Os perigos dos agrotóxicos no Brasil."
http://www.radioagencianp.com.br/9576-A-campanha-nacional-contra-o-
uso-de-agrotoxicos

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Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde

  • 1. Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente - Na última safra, as lavouras brasileiras bateram o recorde de uso de agrotóxicos. De acordo com informações do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (Sindage), mais de um bilhão de litros de veneno foram usados na agricultura. Se confirmado o volume de vendas estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), esse recorde pode ser superado. A entidade estima um crescimento de até 8%, em relação ao período anterior. O uso excessivo destas substâncias químicas está relacionado com o modelo agrícola brasileiro, que se sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção altamente mecanizada para a produção em larga escala. Para sustentar essa lógica, empresas e produtores precisam usar sem qualquer controle os agrotóxicos. Mas para onde vai este veneno? Grande parte dele vai parar nos alimentos à venda nos supermercados, nas feiras. Ou seja, vai parar na mesa da população e, depois, no estômago. Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou no pimentão mais comum, vendido nos supermercados, substâncias tóxicas no patamar de 64% além da quantidade permitida. Na cenoura e na alface, foram encontrados 30% e 19% de agrotóxicos acima do recomendável pelo órgão do governo. Vale lembrar que a quantidade limite de agrotóxicos e produtos proibidos são diferentes para cada cultura, mas é certo afirmar que estamos comento produtos envenenados. Além da contaminação dos alimentos, os agrotóxicos estão se dispersando no meio ambiente, seja na terra, água e até mesmo o ar. Muitos desses agrotóxicos comercializados no Brasil, inclusive, formam banidos da União Europeia (UE). Uma operação da Anvisa, que durou aproximadamente dez meses e visitou sete fábricas de agrotóxicos instaladas no Brasil, concluiu que seis delas desrespeitavam as regras sanitárias e tiveram as linhas de produções fechadas temporariamente. Entre as irregularidades encontradas, estão o uso de matéria-prima vencida e adulteração da fórmula. Para a gerente de normatização da Anvisa, Letícia Silva, as irregularidades encontradas se tornam mais preocupantes, pois esses agentes químicos são comercializados e estão se espalhando pelo meio ambiente. “É bastante assustador. Principalmente quando pensamos que a água que bebemos está contaminada. Há estudos que mostram que há resíduos de agrotóxico na água da chuva e no ar. Um estudo feito pela Universidade Federal do Mato Grosso constatou que há resíduos de agrotóxicos no ar
  • 2. respirado em escolas da zona rural e até mesmo urbana, de municípios que plantam soja. Está em xeque nossa possibilidade de decidir. Começa aparecer indícios que toda uma cadeia alimentar está contaminada, desde a água, o solo, até o ar. Letícia Silva se refere ao estudo da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram medidos os efeitos do uso de agrotóxicos em moradores de dois municípios produtores de grãos: Campo Verde e Lucas do Rio Verde. Foi constatado que os agrotóxicos estão até mesmo no sangue e na urina das pessoas. O levantamento monitorou a água dos poços artesianos e identificou a existência de resíduos de agrotóxicos em 32% das amostras analisadas. Em 40% dos testes com a água da chuva, também foi identificada a presença de venenos agrícolas. Nos testes com o ar, 11% das amostras continham substâncias tóxicas, como o endossulfam, proibido pelo potencial cancerígeno. O médico e professor da UFMT, Wanderlei Pignatti, relata a situação. “Não existe uso seguro de agrotóxicos. Uso de agrotóxico deve ser considerado como uma poluição intencional, por quê? As pragas das lavouras que são as ervas daninhas, fungos e insetos, estão crescendo no meio da plantação. Se eles estão crescendo, o fazendeiro poluiu aquele ambiente de maneira intencional para tentar atingir as pragas. Com esta prática, ele polui o ambiente de trabalho, todo o meio ambiente e inclusive polui o alimento que está produzindo. Por isso o fazendeiro sabe que todo agrotóxico que ele compra é nocivo.” Contaminação parecida foi constada no município de Limoeiro do Norte (CE). Agrotóxicos pulverizados por avião sobre as monoculturas estão contaminando a água da região. De acordo com resultados parciais de pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo menos sete tipos de venenos já foram encontrados nas amostras de caixas d‟águas que abastecem diretamente as torneiras da população. O morador do município e integrante da Cáritas Diocesana, Diego Gradelha, afirma que o agrotóxico já está contaminando até mesmo um aquífero. “Já sabemos que há pelo menos setes princípios ativos de agrotóxico na água que bebemos. O Aquífero Jandaíra, com águas a 100 metros de profundidade, já está contaminado. O agrotóxico contamina o homem e a água. Mas existe uma cegueira na administração pública em não fiscalizar e nem cobrar das empresas provas que eles não contaminam.” De acordo com o integrante dos Movimentos do Atingidos por Barragens (MAB) do estado de Pernambuco, Celso Rodrigues dos Santos, a lógica de produção das grandes empresas para a monocultura acabou sendo adotada pelos pequenos agricultores, que usam excessivamente agrotóxicos para matar qualquer praga que aparece nas plantações.
  • 3. “Temos uma preocupação muito grande com esta questão dos inseticidas. Quando aparece uma praga o pessoal nem respeita o tempo certo da colheita, e para cultivar o produto "limpo", sem praga, já sai jogando muito agrotóxico.” O solo está constituído por uma mistura variável de minerais, matéria orgânica e água, capaz de sustentar a vida das plantas na superfície da terra. A professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, explica que não é possível separar os agrotóxicos da destruição do ambiente. “As empresas chegam e já promovem o desmatamento, reduzindo a biodiversidade que é fundamental para manter o equilíbrio do ecossistema, fato que protege as lavouras contras as pragas. Em seguida entram com a monocultura que nada mais é que a afirmação do oposto da biodiversidade. Depois aplicam uma série de pratica de fertilização. E critérios de produtividade por hectare são impostos à terra para estressar as plantas e produzir rapidamente o fruto. Este modo de produzir é indutor da necessidade do uso de agrotóxico. Com isto a terra está respondendo de forma muito dolorosa. No Ceará, há três fazendas que interromperam a produção porque a terra não produz mais.” A preservação do meio ambiente, como da água, do solo, do ar e das chuvas, deixa para todos os brasileiros a tarefa de discutir quem são os grandes beneficiados e prejudicados pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras de nosso país. Reportagem: Danilo Augusto. Março 2011. O papel das grandes empresas no mercado dos agrotóxicos ) - Embora o Brasil ocupe a terceira posição no ranking dos maiores produtores agrícolas do mundo, já é líder no consumo de agrotóxicos. Somente em 2009, foram comercializados um bilhão de litros destes produtos. Dependendo do volume de vendas estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), esse recorde pode ser superado. A entidade estima um crescimento de até 8%, em relação ao período anterior. Ainda de acordo com dados da Abiquim as empresas do ramo tiveram faturamento líquido de US$18,2 bilhões com a produção de defensores agrícolas, adubos e fertilizantes em 2010. Para manter o nível de consumo, os fabricantes e fornecedores estão financiando a produção agrícola. Este incentivo consiste em fornecer, aos produtores insumos, as sementes, adubos, fertilizantes e pesticidas, além de assistência técnica. O pagamento é efetuado após a colheita, que recebe parte da produção.
  • 4. Com isto, os produtores ficam reféns destas empresas. Um exemplo está na região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, conhecida pela forte presença da indústria fumageira. A integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Rosiele Cristiane, denuncia a exploração dos produtores de fumo, que, por meio de contratos, tiram o controle do agricultor sobre a sua produção. “Antes de iniciar a safra, o orientador agrícola da empresa que presta a assistência técnica, que vai à casa das pessoas, faz o contrato com as famílias. Vê quantos pés de fumo eles querem plantar. Os agricultores assinam esse contrato sem ler: há várias promissórias, em branco também. E este contrato está dizendo que o agricultor não é dono do produto. Ele é o fiel depositário. Isto dá à empresa o direito de buscar o fumo, se o agricultor não entregar. Nos últimos anos, os agricultores estão esperando o melhor preço. Então, no início da comercialização, eles não estão entregando o fumo. Eles esperam até maio, junho, que é a melhor época para vender. Quando o fumo não é entregado para a empresa, e ela tem contratos a honrar no exterior, eles usam dessas artimanhas para buscar o fumo em casa” A partir deste modelo de financiamento, a venda de defensivos agrícolas, no Brasil, pode crescer de US$ 6,6 bilhões para US$ 8,5 bilhões em cinco anos. No entanto, Rosiele alerta que a pressão das empresas já levou agricultores ao suicídio. “Eu sempre falo do caso da Dona Eva, que foi uma agricultora. A indústria fumageira chegou à casa dela com o oficial de Justiça e a Polícia. Ela alegou que não tinha nenhuma dívida vencida. Era mês de fevereiro, e a dívida dela só venceria em maio. A empresa alegou ao juiz que ela estava desviando o produto. Ela se sentiu tão humilhada que, no mesmo instante em que eles carregavam o fumo do galpão, ela foi na varanda e se enforcou.” O mercado mundial de agrotóxicos é dominado por seis empresas: Syngenta, Bayer, Monsanto, Basf, Dow, DuPont e Nufarm. Este negócio mais de US$ 20 bilhões por ano. O lucro cresce com a comercialização dos organismos geneticamente modificados: os transgênicos. As pesquisas na área da biotecnologia permitiram, pela primeira vez na História, o patenteamento de um ser vivo. Segundo o engenheiro agrônomo Horácio Martins, as plantas deixaram de ser espécies vegetais para se tornarem unidades de produção de moléculas. “A maior parte das moléculas, que são desenvolvidas, não está na natureza. Elas são criadas em laboratórios, e o custo de uma nova molécula, hoje, gira em torno de US$ 250 milhões. Aquele novo germoplasma, o material genético da semente, traz características e propriedades que outras sementes não têm. Ele é inovador e permite, então, ser patenteado.” A biotecnologia está nas mãos de empresas que controlam quatro áreas: sementes, agroquímicos, farmacêutica e veterinária. Existem cerca de mil princípios ativos de agrotóxicos, que, combinados, criam mais de dez mil formulações. Cada uma dessas formulações gera lucro para as empresas. Horácio Martins explica que as empresas exercem forte pressão sobre o poder público para viabilizar suas atuações na cadeia produtiva.
  • 5. “Eles têm a patente dos seus produtos, dos princípios ativos que, depois, são combinados para gerar substâncias comerciais. A partir daí, pressionam os governos para que façam legislação, normas internas e um marco regulatório que vai controlar o uso daquela patente, daquele princípio ativo que ela mesma fabricou. Enfim, fabrica o produto e cria regulamentação para controlar o seu uso.” A Monsanto controla 25% do mercado brasileiro de sementes de hortaliças, que é estimado em 200 milhões de dólares anuais. O domínio das transnacionais sobre a agricultura brasileira conta com apoio do Poder Público. Isto se dá a partir dos investimentos públicos em infraestrutura, isenções tributárias e legislações flexíveis para beneficiar as empresas. No estado do Ceará, por exemplo, desde 1997, os agrotóxicos estão isentos do pagamento de diversos tributos. A medida foi adotada depois de um decreto do então governador Tasso Jereissati (PSDB). A isenção é concedida até mesmo para produtos que foram proibidos em seus países de origem. A integrante do Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Maiana Maia, avalia que a política de incentivos gera impactos negativos. “Num contexto em que estas substâncias provocam danos ao meio ambiente, danos à saúde da população, o Estado barateia o custo destes produtos, incentivando o uso de modo que os custos sociais são 'externados' pelo sistema público de saúde e pelo sistema público da previdência. Por exemplo, quando o Estado aplica uma política de taxação do cigarro, do álcool, para inibir o uso destas substâncias – porque são consideradas agressivas – e para poder adquirir recursos para financiar o sistema público, uma vez que vai cuidar dos danos, esta lógica ele não aplica para os agrotóxicos”. Maiana considera que a sobrevivência dos pequenos agricultores depende de um enfrentamento do modelo sustentado na produção em latifúndios para exportação do agronegócio. “As populações do entorno destes empreendimentos acabam ficando muito vulneráveis, porque elas encontram um Estado que não tem capacidade de fiscalizar. A partir disto, a gente percebe que o embate não é só com as empresas. Existe também um embate que precisa ser feito com estas políticas públicas que beneficiam este tipo de modelo de desenvolvimento.” Há mais de uma década, a região do Baixo Jaguaribe, no Ceará, está marcada pela produção de frutas em latifúndios por meio da irrigação. Destaque para os monocultivos de banana, melão, abacaxi e mamão. A expansão das áreas cultivadas representou um aumento de quase 1.000% do uso de agrotóxicos, na região, em quatro anos. Apenas em 2009, foram utilizadas quase 6,5 mil toneladas de produtos químicos. O impacto na saúde e no meio ambiente foi instantâneo. A Universidade Federal do Ceará detectou, no último ano, a presença de 22 princípios ativos de agrotóxicos na água fornecida para as comunidades que vivem na região.
  • 6. Maia denuncia que, com a falta de monitoramento, vigilância e fiscalização, os resíduos já chegaram ao subsolo. “Na região do Alto Jaguaribe, fizemos uma coleta ambiental que detectou a contaminação por agrotóxicos no Aquífero Jandaíra. Quando a gente foi esmiuçando esta questão, a gente se deparou com uma legislação do Estado, em que se permite a poluição. Existe uma portaria, nº 518, do Ministério da Saúde, que estabelece valores máximos permitidos de venenos em águas consideradas próprias para consumo humano. Então, a água que as pessoas bebem pode ter veneno. O Estado estabelece isto”. O Baixo Jaguaribe recebeu, em dez anos, uma chuva de mais de quatro bilhões de litros de calda tóxica. Todo dia uma área de quase três mil hectares é banhada com agrotóxicos. A pulverização é feita por meio de aviões. A população teme os efeitos crônicos para a saúde. Os animais domésticos não estão resistindo, ficam doentes e morrem. Reportagem: Jorge Américo. Março de 2011. Mercado dos agrotóxicos, legislação e irregularidades - O Brasil é o principal destino de agrotóxicos proibidos no exterior, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Pelo menos dez variedades vendidas livremente aos agricultores, no Brasil, não circulam na União Europeia e Estados Unidos. Para fabricantes e fornecedores, os riscos de prejuízo são mínimos. Desde 2002, apenas quatro produtos foram barrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um exemplo é o endossulfam, uma substância considerada altamente tóxica e associada a problemas reprodutivos. Por isso é vetado em 45 países. No entanto, a comissão formada pela Anvisa, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e Ministério da Agricultura decidiu que o produto será banido somente em 2013. Em 2009, o Brasil importou mais de duas mil toneladas do endossulfam, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior. Para a gerente de normatização da Avisa, Letícia Silva, isso é resultado da pressão das empresas. “A pressão sempre é no sentido de avaliar mais rápido determinado produto, para que ele possa chegar ao mercado mais depressa e passar à frente de outras empresas. No caso de reavaliação, existe pressão para o produto não ser reavaliado. Isto significa poder tirá-lo do mercado. Isso ocorreu tanto no âmbito político, com tentativas de sustar a reavaliação toxicológica iniciada pela Anvisa, como também no âmbito judicial. As empresas ingressaram com três ações diferentes para impedir a reavaliação daqueles 14 produtos agrotóxicos que Anvisa colocou em avaliação em 2008.”
  • 7. A pressão das empresas passa por diversas instituições. Em 2010, as empresas Shell e Basf conseguiram reverter uma condenação bilionária, que indenizava ex-funcionários de uma fábrica de agrotóxicos de Paulínia, que ficaram doentes por conta do contato com os produtos químicos. A presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul, Regina Miranda, avalia que a legislação está sofrendo modificações a partir dos interesses das empresas. “A regulamentação não é clara. E ela vem mudando progressivamente, numa postura de criar essa confusão dos legisladores para judiciar o uso irregular. Numa hora, o agrotóxico é proibido, mas liberam o genérico dele, que recebe outro nome científico e é liberado, mas o nome comercial é proibido. Existe uma confusão em tudo isso. Pouca capacidade do Estado de acompanhar, regular e capacitar agricultores para o uso. Então, ele contamina o trabalhador da indústria que fabrica, contamina o agricultor que o utiliza, no solo, e as pessoas que bebem água contaminada e comem os alimentos com agrotóxicos.” Um total de 2.195 marcas de agrotóxicos estão registradas no Brasil. Segundo o sindicato do setor, 400 toneladas de produtos sem registro já foram apreendidas desde 2001. O comércio ilegal movimenta R$ 500 milhões por ano. Letícia Silva, da Anvisa, explica como é o processo de adulteração, a partir do exemplo da empresa israelense Milenia, autuada, em 2009, por fabricar agrotóxicos com formulação diferente da permitida. “Ela buscou o registro com uma formulação. Aquela formulação colocava o produto como extremamente tóxico. Ela apresentou uma nova formulação e obteve o registro do produto como „classe 3‟, que é medianamente tóxico. Era um produto utilizado na cultura do fumo, um antibrotante, inibidor de crescimento. Nós tínhamos coletado o produto no mercado e o submetido a uma análise. O INC, da Polícia Federal, constatou que a formulação do produto não era a mesma que havia sido registrado. Quando chegamos [na linha de produção], constatamos que ela tinha adulterado a fórmula e estava produzindo uma fórmula sem registro, que é um produto „classe 1‟, extremamente tóxico”. O monocultivo é o principal destino dos agrotóxicos. O integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Frei Sérgio Görgen afirma que a política de crédito beneficia a monocultura e impõe dificuldades para a produção diversificada. “Uma única cultura agrícola em uma enorme extensão é induzida pelo crédito, pelos insumos, pela rede de compra e pela indústria. Você quase não consegue sair disso. E quando é soja, é só transgênica, não tem semente convencional. Não tem insumo para manejo de cultivo convencional. Então, o agricultor é obrigado a fazer. E se um assentamento estiver numa região dessas, a maioria ou produzirá soja ou estará fora do mercado. Há uma indução forçada, uma pressão do modelo econômico e político do país para que o monocultivo tome conta de algumas regiões.”
  • 8. O uso dos agrotóxicos está ligado também ao comércio dos transgênicos. Dados do primeiro semestre de 2010 do Ministério da Agricultura apontam que, de cada quatro variedades de milho lançadas no mercado, três são transgênicas. As novas variedades de sementes transgênicas surgiram com a promessa de reduzir o consumo de agrotóxicos. Para o coordenador do Greenpeace Iran Magno, o processo foi inverso. “A promessa era a de que as sementes transgênicas trariam benefícios ao meio ambiente, porque diminuiriam o uso de agrotóxicos. Mas o que está surgindo - e é um fenômeno que já acontece no Brasil- o uso intensivo de glifosato estimulou o desenvolvimento de algumas ervas daninhas resistentes a este produto, as superervas; e os produtores estão utilizando agrotóxicos cada vez mais agressivos ao ambiente e à saúde. Na região Sul, por exemplo, há agricultores utilizando o 24-D, que é um dos ingredientes do „Agente Laranja‟. Então, o surgimento destas superervas já enterrou as promessas de que os transgênicos iam trazer benefícios ao meio ambiente e à economia do produtor. Eles estão comprando mais agrotóxicos e utilizando os mais agressivos.” Para a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Raquel Rigotto, nem mesmo os grandes produtores suportam o alto custo dos agrotóxicos. “O preço dos venenos tem sido um custo importante para as empresas. Hoje, elas já começam a se interessar por tecnologias de agricultura orgânica, não por princípio ético de respeito à natureza, mas por causa do custo dos agrotóxicos nos processos de produção dela. Na produção de abacaxi, este custo é de 45%. A reversão desse quadro depende da imposição de limites para esse modelo produtivo. E estes limites devem ser colocados pelo Estado.” Pesquisas apontam que a disponibilidade de nutrientes fundamentais para a saúde é menor em alimentos produzidos com agrotóxicos. Além disso, o organismo humano não é capaz de eliminar os resíduos ingeridos. A atriz Priscila Camargo considera que o problema não pode ser encarado com naturalidade. “Nós estamos consumindo, segundo pesquisadores importantes – gente da maior seriedade –, cinco litros de agrotóxicos por ano, cada pessoa. Já pensou em você ficar tomando um lixo químico? A situação é muito grave. Eu fiquei muito impressionada com as informações. A população não tem acesso a isto, porque a grande imprensa não divulga. Nós temos direito a um alimento de qualidade, temos direito a um alimento natural, a uma água natural, como Deus fez.” Reportagem: Jorge Américo. Março de 2011. Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente - Na última safra, as lavouras brasileiras bateram o recorde de uso de agrotóxicos. De acordo com informações do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (Sindage), mais de um bilhão de litros de
  • 9. veneno foram usados na agricultura. Se confirmado o volume de vendas estimado em 2010 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), esse recorde pode ser superado. A entidade estima um crescimento de até 8%, em relação ao período anterior. O uso excessivo destas substâncias químicas está relacionado com o modelo agrícola brasileiro, que se sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção altamente mecanizada para a produção em larga escala. Para sustentar essa lógica, empresas e produtores precisam usar sem qualquer controle os agrotóxicos. Mas para onde vai este veneno? Grande parte dele vai parar nos alimentos à venda nos supermercados, nas feiras. Ou seja, vai parar na mesa da população e, depois, no estômago. Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou no pimentão mais comum, vendido nos supermercados, substâncias tóxicas no patamar de 64% além da quantidade permitida. Na cenoura e na alface, foram encontrados 30% e 19% de agrotóxicos acima do recomendável pelo órgão do governo. Vale lembrar que a quantidade limite de agrotóxicos e produtos proibidos são diferentes para cada cultura, mas é certo afirmar que estamos comento produtos envenenados. Além da contaminação dos alimentos, os agrotóxicos estão se dispersando no meio ambiente, seja na terra, água e até mesmo o ar. Muitos desses agrotóxicos comercializados no Brasil, inclusive, formam banidos da União Europeia (UE). Uma operação da Anvisa, que durou aproximadamente dez meses e visitou sete fábricas de agrotóxicos instaladas no Brasil, concluiu que seis delas desrespeitavam as regras sanitárias e tiveram as linhas de produções fechadas temporariamente. Entre as irregularidades encontradas, estão o uso de matéria-prima vencida e adulteração da fórmula. Para a gerente de normatização da Anvisa, Letícia Silva, as irregularidades encontradas se tornam mais preocupantes, pois esses agentes químicos são comercializados e estão se espalhando pelo meio ambiente. “É bastante assustador. Principalmente quando pensamos que a água que bebemos está contaminada. Há estudos que mostram que há resíduos de agrotóxico na água da chuva e no ar. Um estudo feito pela Universidade Federal do Mato Grosso constatou que há resíduos de agrotóxicos no ar respirado em escolas da zona rural e até mesmo urbana, de municípios que plantam soja. Está em xeque nossa possibilidade de decidir. Começa aparecer indícios que toda uma cadeia alimentar está contaminada, desde a água, o solo, até o ar. Letícia Silva se refere ao estudo da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram medidos os efeitos do uso de agrotóxicos em moradores de dois municípios produtores de grãos: Campo Verde e Lucas do Rio Verde.
  • 10. Foi constatado que os agrotóxicos estão até mesmo no sangue e na urina das pessoas. O levantamento monitorou a água dos poços artesianos e identificou a existência de resíduos de agrotóxicos em 32% das amostras analisadas. Em 40% dos testes com a água da chuva, também foi identificada a presença de venenos agrícolas. Nos testes com o ar, 11% das amostras continham substâncias tóxicas, como o endossulfam, proibido pelo potencial cancerígeno. O médico e professor da UFMT, Wanderlei Pignatti, relata a situação. “Não existe uso seguro de agrotóxicos. Uso de agrotóxico deve ser considerado como uma poluição intencional, por quê? As pragas das lavouras que são as ervas daninhas, fungos e insetos, estão crescendo no meio da plantação. Se eles estão crescendo, o fazendeiro poluiu aquele ambiente de maneira intencional para tentar atingir as pragas. Com esta prática, ele polui o ambiente de trabalho, todo o meio ambiente e inclusive polui o alimento que está produzindo. Por isso o fazendeiro sabe que todo agrotóxico que ele compra é nocivo.” Contaminação parecida foi constada no município de Limoeiro do Norte (CE). Agrotóxicos pulverizados por avião sobre as monoculturas estão contaminando a água da região. De acordo com resultados parciais de pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo menos sete tipos de venenos já foram encontrados nas amostras de caixas d‟águas que abastecem diretamente as torneiras da população. O morador do município e integrante da Cáritas Diocesana, Diego Gradelha, afirma que o agrotóxico já está contaminando até mesmo um aquífero. “Já sabemos que há pelo menos setes princípios ativos de agrotóxico na água que bebemos. O Aquífero Jandaíra, com águas a 100 metros de profundidade, já está contaminado. O agrotóxico contamina o homem e a água. Mas existe uma cegueira na administração pública em não fiscalizar e nem cobrar das empresas provas que eles não contaminam.” De acordo com o integrante dos Movimentos do Atingidos por Barragens (MAB) do estado de Pernambuco, Celso Rodrigues dos Santos, a lógica de produção das grandes empresas para a monocultura acabou sendo adotada pelos pequenos agricultores, que usam excessivamente agrotóxicos para matar qualquer praga que aparece nas plantações. “Temos uma preocupação muito grande com esta questão dos inseticidas. Quando aparece uma praga o pessoal nem respeita o tempo certo da colheita, e para cultivar o produto "limpo", sem praga, já sai jogando muito agrotóxico.” O solo está constituído por uma mistura variável de minerais, matéria orgânica e água, capaz de sustentar a vida das plantas na superfície da terra. A professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, explica que não é possível separar os agrotóxicos da destruição do ambiente. “As empresas chegam e já promovem o desmatamento, reduzindo a biodiversidade que é fundamental para manter o equilíbrio do ecossistema, fato que protege as lavouras contras as pragas. Em seguida entram com a
  • 11. monocultura que nada mais é que a afirmação do oposto da biodiversidade. Depois aplicam uma série de pratica de fertilização. E critérios de produtividade por hectare são impostos à terra para estressar as plantas e produzir rapidamente o fruto. Este modo de produzir é indutor da necessidade do uso de agrotóxico. Com isto a terra está respondendo de forma muito dolorosa. No Ceará, há três fazendas que interromperam a produção porque a terra não produz mais.” A preservação do meio ambiente, como da água, do solo, do ar e das chuvas, deixa para todos os brasileiros a tarefa de discutir quem são os grandes beneficiados e prejudicados pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras de nosso país. Reportagem: Danilo Augusto. Março 2011. Impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do campo - Pesquisas médicas apontam que os agrotóxicos prejudicam a saúde das pessoas que trabalham com essas substâncias químicas. Os agrotóxicos estão entre os principais agentes tóxicos no país, com índices abaixo apenas de medicamentos, animais peçonhentos e produtos sanitários. Esse impacto pode ser definido de forma mais evidente a partir dos chamados efeitos agudos nos trabalhadores, mas há também os efeitos crônicos. De acordo com dados de 2007, do Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas (Sinitox), 28% dos mais de 8 mil casos de contaminação estão relacionados a circunstâncias profissionais. São Paulo e Rio Grande do Sul estão nas primeiras posições. Os índices são elevados também na Bahia e em Santa Catarina. A Sinitox também apontou que foram registrados, no país, mais de 19 mil casos de intoxicação por agrotóxico. O médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati, enumera as doenças causadas pelos agrotóxicos nos trabalhadores. “São agravos, na saúde, agudos e crônicos. Intoxicações agudas e crônicas, má formação fetal de mulheres gestantes, neoplasia (que causa câncer), distúrbios endócrinos (na tiroide, suprarrenal, e alguns mimetizam diabetes), distúrbios neurológicos, distúrbios respiratórias (vários são irritantes pulmonares)” A juventude está entre os principais afetados. O produto Adicarbe, mais conhecido no campo como “chumbinho”, é desviado para os centros urbanos para ser usado como raticida. O produto glifosato, aplicado no cultivo de soja transgênica, apresenta Classe 1 de contaminação, o que significa um índice elevado de intoxicação, sendo que a cultura da soja, onde o glifosato é aplicado, é responsável por 51% do uso de agrotóxicos no país. Há, no Brasil, cerca de 451 produtos ativos e 1,4 mil produtos no mercado, cada um com nocividade específica. Os especialista admitem que é difícil desvendar o nexo entre a doença e o produto que a causou. Um dos
  • 12. problemas é a chamada subnotificação das ocorrências, que acontece porque os empresários não reconhecem o vínculo entre a doença do trabalhador e a sua causa. Por isso, os dados de intoxicação são ainda maiores. No Mato Grosso, o médico Pignati realiza estudos comparando dados epidemiológicos das regiões do estado com diferentes níveis de utilização de agrotóxicos. Nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma incidência três vezes maior de intoxicação aguda. “Analisando por regiões o sistema de notificação de intoxicação aguda da secretaria municipal, estadual e do Ministério da Saúde, percebemos que onde a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarreia, vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares, além de doenças subcrônicas que aparecem um mês ou dois meses depois da exposição, de tipo neurológico e psiquiátrico, como a depressão. Há agrotóxicos que causam irritação ocular e auditiva. Outros dão lesão neurológica, com hemiplegia, neurite da coluna neurológica cervical”. De acordo com Gilberto Salviano da Silva, assessor da Secretaria de Saúde do Trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT), há uma política de saúde do trabalhador mais consistente entre os trabalhadores urbanos. Mas os casos de acidentes e doenças na zona rural ainda têm menor notificação. “O que notamos é que todas as normas em saúde do trabalhador têm sido focadas no trabalhador da cidade, então existem normas mais presentes e avançadas no setor da metalurgia, no setor financeiro, químico, da construção civil, e nem por isso, com estas normas, se conseguiu diminuir o número de acidentes de trabalho no Brasil; temos que entender que sempre foram subnotificados. Temos o problema dos empresários que negam as doenças e não comunicam.” Salviano entende que o índice de notificações é insuficiente. Desde abril de 2007, começou a aumentar devido ao novo modelo de concessão de benefícios do INSS, denominado como Nexo Técnico Epidemiológico da Previdência Social (Netep). Dessa forma, tem aumentado o número de registros de acidentes e doenças no Brasil. De acordo com o assessor da CUT, em 2006 foram registrados 510 mil acidentes. Em 2008, as estatísticas apontavam para quase 750 mil acidentes de trabalho. “Essa subnotificação de doenças dificulta a visibilidade sobre o que acontece no local de trabalho. E o setor rural, isso é muito evidente, a ausência das informações, doenças e mortes por consequência do agrotóxico dificulta as ações de políticas públicas; esta subnotificação, no campo, é parecida com a da cidade. Os empresários negam que os trabalhadores fiquem doentes no campo. O serviço médico não está preparado para o diagnóstico; às vezes, os trabalhadores se contaminam ou morrem, e aparecem outras doenças. Então, as dificuldades, no campo, têm sido maiores” Para a prevenção dos acidentes, Salviano compara as ações realizadas contra o uso do material amianto na construção civil. Hoje o amianto está proibido em
  • 13. uma série de estados do Brasil, por meio da articulação internacional com entidades contrárias ao uso deste material. “Começar a chamar a atenção civil e criminal daqueles que fabricam produtos que provocam impacto no meio-ambiente, morte e doença dos trabalhadores, caminho possível para fazer valer a justiça social” O uso de agrotóxicos provoca efeitos graves na saúde humana, como o desequilíbrio do sistema endócrino, infertilidade masculina, más formações e abortos, efeitos nas crianças e doenças nos sistema nervoso. Nas terras da Chapada do Apodi e do Tabuleiro das Russas, no baixo vale do Jaguaribe, no Ceará, as pessoas vivem sob o regime de trabalho de empresas produtoras de abacaxi. Os cultivos são ao redor dos locais de moradia. Se uma área recebe oito pulverizações por ano, mais de 4,5 milhões de litros de caldas tóxicas foram lançadas sobre as comunidades nos últimos dez anos. Todas as noites, 82 mil litros de agrotóxicos são jogados sobre 1,3 mil hectares de cultivo de abacaxi. Do total de trabalhadores pesquisados na região, 53% já têm marcas da exposição diária a agrotóxicos. Os impactos para a saúde dos trabalhadores do campo, pelo uso dos agrotóxicos, evidenciam a necessidade de um debate sobre o tema no amplo conjunto da sociedade. O integrante do setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), André Rocha, propõe um modelo de produção baseado na saúde ambiental. “Saúde ambiental é uma área da saúde [que analisa] as interferências do homem no meio ambiente... como o meio influi na saúde humana, [como se dá] essa relação entre saúde e meio ambiente. Nós, do MST, nos dividimos em dois eixos: produção saudável e do saneamento ecológico/habitação saudável. Nossos locais de vivência e centros de formação. Construir espaços saudáveis, produção saudável. Cada bioma é uma realidade específica, um trabalho específico, mas o da produção saudável, produzir a soberania alimentar e consequentemente ter saúde questão contra os transgênicos, agrotóxicos”. Reportagem: Pedro Carrano. Março de 2011. Contaminação dos alimentos e a saúde pública - Um ditado indiano diz que a gente é aquilo que come. A alimentação sempre ocupou lugar de destaque desde as sociedades milenares. As pessoas comiam para satisfazer as necessidades do corpo, mas também da mente. A comida também se encarregou de perpetuar culturas de povos, passando receitas e costumes de geração para geração, até os dias de hoje. No entanto, se a gente é o que come, não temos muito o que comemorar. Em nome da correria do dia-a-dia, a alimentação variada de antigamente, com legumes, verduras e frutas, tudo cozido e até mesmo plantado em casa, deu lugar a pães, bolachas, comidas instantâneas e enlatados.
  • 14. O resultado dos novos maus hábitos foi comprovado em agosto de 2010. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa em que mostra que a obesidade já é uma epidemia no país. Desde a década de 70, o déficit de alimentação diminuiu, mas o excesso e a obesidade estouraram. Tanto que o IBGE estima que, se for mantido o ritmo de crescimento de pessoas acima do peso, em apenas 10 anos o Brasil terá se igualado aos Estados Unidos. Ou seja, o brasileiro está comendo mais, no entanto, com menos qualidade, como explica a nutricionista Regina Miranda, presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul (Consea). “Há exemplo do trigo, batata, derivados de trigo como pão e macarrão, são dominante numa dieta diária. Isso, sem sombra de dúvida, empobreceu a alimentação”. A má alimentação não se restringe apenas a ter uma dieta empobrecida e com pouca variedade por causa da dita falta de tempo. Também é consequência de um novo padrão alimentar que vem sendo imposto com a industrialização dos alimentos. As pessoas têm comida barata à disposição, mas com pouco valor nutritivo, carregado de açúcar, sal, conservantes e gordura hidrogenada. A mudança na alimentação, embora atinja toda a sociedade, é mais perversa entre os mais pobres, analisa Regina. “O que faz com que as pessoas muito pobres, que têm uma renda baixa, acabam mais destes alimentos porque são mais baratos. Alimentam maior número de pessoas durante o mês. O resultado disso tudo uma humanidade obesa. É um sistema que obesifica as pessoas, que adoecem muito de doenças relacionadas a maus hábitos alimentares como diabetes, pressão alta, cardiopatia” Neste novo padrão, a comida deixou de ser um alimento e passou a ser tratada como uma mercadoria, vendida aos consumidores, à população. Quem nunca escolheu, no supermercado, a laranja maior, mais lustrosa, a mais bonita? São essas as características que definem o valor nutricional dos alimentos? Há prateiras específicas até mesmo para as crianças, com bolachas e salgadinhos com carinhas e diversos sabores. Para a nutricionista Regina Miranda, não é a aparência o que deve contar na hora de optarmos por uma alimentação mais saudável, e sim a sua essência. “Não comemos mais alimentos, comemos mercadoria. Aquilo que vou comer estão embutidos outros valores em troca que não são necessariamente importantes para a minha saúde. Tem valor como uma mercadoria que tem que gerar lucro, tem que ter tempo de prateleira, estar maquiada”. Muitas vezes, a comida mais bonita e que pode parecer mais apetitosa aos olhos não é necessariamente a melhor para a nossa saúde. Isso porque para deixarem o alimento com essa “boa” aparência, os agricultores usaram agrotóxicos na hora de plantar e produzir. Em 2009, o Brasil ultrapassou os
  • 15. Estados Unidos e se tornou o líder mundial no uso de veneno agrícola. Foram consumidos 1 bilhão de litros por ano no país. É como se cada brasileiro consumisse, em média, 5 litros de veneno por ano. A pesquisadora Rosany Bochner coordena o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Ligado à Fundação Oswaldo Cruz, o sistema centraliza e divulga os casos de envenenamento e intoxicação registrados na rede nacional. Os casos mais registrados pelo sistema são de efeito agudo, que ocorre quando a pessoa apresenta reações logo após a intoxicação. No entanto, os casos crônicos, em que os efeitos aparecem após a exposição por um longo período aos agrotóxicos, são em grande maioria e não se restringem mais aos agricultores, que lidam diretamente com o veneno. De acordo com Rosany, atinge toda a população, apesar das dificuldades para comprovar que doenças que hoje afetam a população, como câncer, estão relacionadas aos venenos agrícolas. “Há 10 anos, com certeza não tinha o consumo que se tem hoje. E se você olhar em termos de câncer e tudo mais, essas doenças aumentaram bastante. Se olhar o mapa das doenças hoje, vê que algumas diminuíram com saneamento, vacinas e com algumas coisas que foram feitas. E outras que vêm aumentando. Até porque a vida média aumentou. Mas a questão do câncer chama muito a atenção. Não sei se é uma coincidência, mas se ouve muito”. Ainda há os problemas ambientais, como lembra o integrante da coordenação nacional da Via Campesina, João Pedro Stedile. “Afetam o meio ambiente porque destroem os micronutrientes do solo, contaminam a água do lençol freático, evaporam e voltam com as chuvas. E finalmente, se incorporam com os alimentos e as pessoas que consomem estes alimentos acabam ingerindo pequenas doses permanentes de veneno que vão se acumulando no seu organismo e que afeta, em primeiro lugar, o sistema neurológico e, em segundo lugar pode degenerar as células e se transformar em câncer” Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) constatou que mais de 64% das amostras de pimentão analisadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos apontam quantidade de resíduo tóxico acima do permitido. A Anvisa também encontrou , em todos os alimentos analisados, resíduos de agrotóxicos que não são permitidos no Brasil justamente por serem altamente prejudiciais. A pesquisadora Rosany Bochner, da Fundação Oswaldo Cruz, desmistifica a ideia de que a quantidade de agrotóxicos utilizada é proporcional à escala de grãos produzidos no país. “Em várias coisas ele [Brasil] não é o maior produtor. É uma ilusão achar que o Brasil é o maior produtor de grãos e que precisaria ser o maior consumidor [de agrotóxicos]. E o Brasil passou de segundo para primeiro, não se iluda, foi
  • 16. exatamente quando os outros países proibiram o uso de alguns produtos e nós não. Logicamente que se tinha uma oferta muito grande de produtos que vieram para cá. Com certeza vieram com preço menor, que se começou a consumir mais” João Pedro Stedile responsabiliza o agronegócio e as grandes empresas por impor esse modo de produção, baseado no uso de venenos químicos. Ele sugere, por exemplo, a indenização das pessoas que sofreram com os efeitos dos agrotóxicos. “Espero que algum dia, inclusive, tenhamos leis suficientes não só para proibir o uso do veneno, mas para exigir que estas empresas indenizem as famílias que tenham pacientes com enfermidades decorrentes dos venenos agrícolas” Reportagem: Raquel Casiraghi. Março de 2011. A campanha nacional contra o uso de agrotóxicos - Mais de 20 entidades da sociedade civil brasileira, movimentos sociais, entidades ambientalistas e grupos de pesquisadores lançaram uma campanha nacional, de caráter permanente, contra o uso dos agrotóxicos no Brasil. A campanha pretende abrir um debate com a população sobre a falta de fiscalização, uso, consumo e venda de agrotóxicos, a contaminação dos solos e das águas e denunciar os impactos dos venenos na saúde dos trabalhadores, das comunidades rurais e dos consumidores nas cidades. O secretário-executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Denis Monteiro, apresenta os objetivos da campanha. “A primeira questão é que nós precisamos estabelecer uma coalizão, uma convergência ampla dos movimentos da área da saúde, da agricultura, comunicação e direito, para fazer a denúncia permanente desse modelo baseado no uso de agrotóxicos e transgênicos que tornou o Brasil campeão mundial do uso de agrotóxicos; e os impactos são gravíssimos na saúde dos trabalhadores, no meio ambiente, na contaminação das águas. ‟‟ Segundo Monteiro, além do caráter de denúncia, a campanha pretende também apresentar à sociedade o modelo proposto pelas entidades, mais saudável, baseado na pequena agricultura. “Outro campo de articulação é mostrar para a sociedade e avançar na construção de outro modelo de agricultura, baseado na agricultura familiar, camponesa, em toda sua diversidade, dos povos e comunidades tradicionais, assentamentos de reforma agrária, e que este modelo sim pode produzir alimentos com fartura, alimentos de qualidade, com diversidade e sem uso de agrotóxicos. Temos estudos que mostram que a agroecologia é viável, produz em quantidade e em qualidade, e o local para a agroecologia acontecer são as áreas da agricultura familiar. Então outro campo de articulação importante é avançar na construção destas experiências em agroecologia que a gente já vem construindo, multiplicá-las pelo país, mostrando que este é o futuro da
  • 17. agricultura, e não vai ter futuro para o planeta se a gente não construir este modelo alternativo ao modelo que está aí‟‟ Monteiro aponta ainda que a atuação no âmbito das políticas públicas também se constituirá em um eixo importante da campanha. “A Anvisa tem um trabalho de análise de resíduos de agrotóxicos e alimentos, que precisa ser ampliado para mais culturas, ter aumentada sua abrangência; está também fazendo reavaliações de agrotóxicos que têm um impacto terrível na saúde, propondo restrição ao uso e banimento de produtos. Por outro lado, precisamos avançar nas políticas direcionadas à agricultura familiar, para que elas possam fomentar o resgate da biodiversidade, o resgate das sementes crioulas, possam fortalecer as experiências de comercialização direta dos agricultores familiares com os agricultores. O Programa Nacional de Alimentação Escolar precisa ser efetivado, uma alimentação de melhor qualidade nas escolas, que o dinheiro público usado para alimentação escolar seja destinado à compra da agricultura familiar – a lei aprovada ano passado obriga que no mínimo 30% seja destinado para a compra da agricultura familiar; temos que lutar para que esta conquista seja efetivada.‟‟ Para o integrante da Via Campesina Brasil e da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, a campanha pretende propor projetos de lei, portarias e iniciativas legais e jurídicas para impedir a expansão dos agrotóxicos. “Seria uma boa iniciativa que os municípios começassem a legislar, porque é possível que as câmaras proíbam o uso de determinado veneno no seu município, e que a própria população fiscalize. Mas isso não basta ser iniciativa do vereador, é preciso que toda a sociedade se mobilize para garantir, inclusive, que o comércio não venda, que os fazendeiros não usem e que, afinal, nós vamos criando territórios livres de agrotóxicos, e vocês vão ver como a qualidade de vida vai melhorar muito nesses municípios.” Stedile ainda avalia a natureza do uso dos agrotóxicos no Brasil e suas graves consequências. “Nós estamos aplicando um bilhão de litros por ano, e isso representa, em média, cinco litros de veneno por pessoa. Não há parâmetro similar em qualquer outra sociedade do planeta, nem sequer nos Estados Unidos, que são a matriz indutora de toda a utilização de venenos na agricultura a partir da Segunda Guerra Mundial.” Para Stedile, a redução e a eventual erradicação do uso de agrotóxicos dependem, fundamentalmente, da conscientização da população. “Então nós esperamos que, daqui para diante, possamos congregar este conjunto de forças sociais, desde os movimentos sociais, dos trabalhadores, dos pesquisadores, dos médicos, das universidades, dos institutos de ciência, para fazermos uma grande articulação nacional e, de fato, conseguirmos paulatinamente ir diminuindo o consumo de venenos, até chegarmos, quiçá, em médio prazo, à eliminação total do uso de agrotóxicos na agricultura brasileira – o que seria uma grande conquista para toda a sociedade. Para que
  • 18. se tenha uma idéia, eu acho que a campanha contra os agrotóxicos é muito parecida com a campanha contra o fumo, porque no fundo o tabaco também usa muito agrotóxico, o tabaco é um veneno, causa gravíssimos problemas de saúde para a população, e somente de uns dez anos pra cá é que a sociedade brasileira começou a se conscientizar e fazer uma campanha contra o cigarro. E nós conseguimos reduzir: 30% da população eram fumantes e, hoje, só 12% são fumantes‟‟ De acordo com Letícia Silva, da Anvisa, é preciso que a campanha consiga promover uma grande consulta junto à sociedade brasileira sobre o tema. “Não sei o tempo: quando colocamos a possibilidade de retirada de um produto agrotóxico do mercado, muitas vezes a gente recebe poucas manifestações favoráveis à retirada daquele produto no mercado, e muitas manifestações pela manutenção do produto no mercado. Então acho que a primeira coisa, a mais simples – e que independe até de uma grande mobilização – são as organizações da sociedade mostrarem o que estão pensando a respeito, mostrar o seu desejo com relação aos produtos agrotóxicos. Querem realmente que sejam controlados? Que produtos precisariam ser banidos, quais estão causando intoxicação? “ A campanha nacional contra o uso de agrotóxicos também promoverá iniciativas ligadas à educação – com a produção de cartilhas para as escolas – e realizará seminários regionais e audiências públicas. Reportagem: Maria Mello. Março de 2011. Acesse a versão em texto das reportagens e baixe o arquivo em MP3 da sério especial " Os perigos dos agrotóxicos no Brasil." http://www.radioagencianp.com.br/9576-A-campanha-nacional-contra-o- uso-de-agrotoxicos