Galinhos é uma pequena cidade de 1.200 habitantes localizada em uma península a 160km de Natal, no Rio Grande do Norte. A região é caracterizada por suas praias desertas e águas mornas, dunas de areia, manguezais e vegetação nativa, além de uma paisagem contrastante entre a caatinga e o litoral. Apesar de estar se desenvolvendo o turismo, a localidade ainda preserva aspectos rústicos e uma vida tranquila diferente das grandes cidades.
1. CON
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Viagem
GALINHOS
Com espírito
de “aventura”
Embora haja muito a fazer para acomodar bem o
turismo, a praia potiguar oferece raro bem-estar aos
viajantes, comsuas belezas insólitas
TEXTO E FOTOS Fred Navarro
A distância de Natal a Galinhos
é de apenas 160 quilômetros para
noroeste, mas o tempo de percurso
a partir da capital do RN atinge
três horas com facilidade. Motivo:
a confusa e congestionada saída
norte da cidade. Com a inauguração,
prevista para 2013, do aeroporto
de São Gonçalo do Amarante,
haverá uma passagem “por fora”
tanto para os turistas quanto para
quem mora em Natal. Percorra esse
trajeto de 160 km com a paciência
de um monge em meditação,
porque há atrativos no caminho.
Primeiro: apesar de paralelos
ao litoral, a geografia e o elemento
humano predominantes ao longo
da RN-406 (em direção a Macau
e Mossoró e, depois, Fortaleza)
mesclam elementos do cerrado
e do sertão em dosagens bem
proporcionadas. Transpostos para
o agreste pernambucano ou para
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2. CONTRASTES
o sertão baiano, aqueles homens
e mulheres não destoariam
da paisagem. O tipo caboclo,
moreno e forte, acha-se presente
à beira da estrada, nos postos
de gasolina, nas lanchonetes
e onde quer que se pare.
Avançando rumo ao oeste sem
distanciar-se muito do litoral, ao
norte, a estrada deixa entrever, nas
margens, as típicas plantas baixas e
rasteiras que reinam longe das praias
nordestinas, uma vegetação escassa
que se estende irregularmente em
direção à praia e ao mar, convivendo
com raros coqueiros e variedades
diversas de cactáceas.
Na memória, vamos buscar um
antigo registro de Luís da Câmara
Cascudo: em algumas áreas do
Rio Grande do Norte, o sertão só
termina à beira-mar, o que é fato
singular, raríssimo, no Brasil,
escreveu o mestre potiguar.
Passamos pelos municípios de
Ceará-Mirim, João Câmara (e seus
periódicos tremores de terra) e
Jandaíra. Uma placa e um trevo,
15 km depois, apontam a RN-402,
rumo a Galinhos. Percorridos mais
30 quilômetros, lagunas e margens
de rios, repletos de salinas, com seus
flocos de espuma de sal ao sabor do
vento, destacam-se na paisagem e só
terminam num estacionamento em
Pratagil, num braço de mar que todo
mundo insiste em chamar de rio. Fim
da estrada e do continente. Os carros
ficam ali, só atravessam pessoas,
malas, objetos, mercadorias.
Galinhos está do outro lado, a 10
ou 12 minutos de barco. Se o visitante
estiver num buggy ou num veículo
de tração 4 x 4, terá de seguir alguns
quilômetros adiante para cruzar o
rio em áreas elevadas e chegar à
península, dependendo dos horários
de mudanças das marés.
Galinhos reúne belezas difíceis de
serem encontradas num só lugar, e esse
é o motivo do impacto à primeira vista.
Não há quem resista à mistura de praias
desertas, águas mornas, areias brancas
e finas, dunas de médio e grande
portes, morros e pirâmides de sal, rios
e manguezais sem fim, fauna e flora
intocadas, e um cotidiano de cidade
pequena do interior em que o principal
meio de transporte é uma charrete
rústica puxada por uma burrinha.
Lá, só há duas ou três ruas calçadas,
inclusive a da prefeitura. O resto da
cidade está erguido sobre o areal, que é
a continuidade da areia branca que fica
entre a praia e o rio.
O nome do lugar, diz a tradição,
teve sua origem nos pequenos peixesgalos (do gênero Selene, com o corpo
alto e comprimido) que habitam os
recifes da península, que fica na região
salineira chamada Costa Branca e
inclui a cidade e a praia de Galinhos
( 1.200 habitantes), a praia de Galos
(500 habitantes), e um assentamento
de 400 habitantes (IBGE, 2009).
Quase todos vivem da pesca, do
extrativismo (caju, coco e sisal), da
indústria do sal e, mais recentemente,
do comércio e do turismo. Esse último
dá os primeiros passos e tenta andar
com firmeza, esforçando-se para
aprimorar os serviços oferecidos
nas pousadas e ampliar as opções
de passeios para os visitantes.
Há muito para fazer, desde a
colocação de placas de sinalização
(por exemplo, uma atraente faixa
de praia, por trás do farol, tem
correntes marítimas perigosas) até
o reabastecimento do camarão,
prato de resistência do lugar, que
falta de repente no auge do verão, e
leva dias ou semanas até reaparecer
nos restaurantes e pousadas. A água
ainda é salobra, sem tratamento,
obrigando moradores e turistas
a fazer mágicas para tomar um
banho rápido com água mineral
depois do banho “normal”.
Ponha tudo isso na conta “aventura”
e se deixe levar pela beleza insólita,
única, do lugar.
A vegetação, à beira-mar ou
às margens dos rios, conta com
manguezais nativos e intocados, bem
próximos da cidade, meia hora de
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1 DUNAS
A 160 km de Natal, Galinhos caracterizase como uma praia com elementos
naturais de cerrado e caatinga
Nestas páginas
2 TRAVESSIA
O acesso mais comum para a localidade
são balsas e barcos que fazem translado
de Pratagil, no continente
3
TRANSPORTE
É possível acessar Galinhos de
carro, mas moradores e visitantes se
locomovem em charretes
4-5 PAISAGEM
Dunas, braços de mar e rio, salinas, faróis,
manguezais, vegetação nativa e intocada
são alguns dos atrativos do lugar
3
caminhada. Mais à frente, em áreas
isoladas da península, cactáceas e
pequenas plantas típicas do sertão
e da caatinga são encontradas
com facilidade: xique-xiques,
facheiros, catingueiras, faveleiros
e marmeleiros. Acredite: tudo isso
numa península, à beira-mar.
E, por toda parte, um espetáculo
visual que, às vezes, lembra um passeio
pelo Rio Paraguai, em pleno Pantanal:
isoladas ou em bandos, nos céus ou
sobre os rios e mangues, desfilam garças
brancas e azuis, marrecas, flamingos,
águias-pescadoras, maçaricos e gaivotas.
As dunas do André e do Capim,
principalmente, estão entre as
mais bonitas do Estado, e saibam
que a concorrência não é pequena.
Acessíveis pelo rio ou pela praia, são de
enorme impacto visual pela extensão,
altura e formas que o vento altera
arbitrariamente. Não há muito o que
falar sobre elas. É preciso vê-las.
FAROL DE CINEMA
E, por fim, um detalhe desses que
costumam fazer a diferença: Galinhos
tem um dos faróis mais charmosos
do Nordeste, com praias desertas
que se perdem de vista, à direita e
à esquerda. Detrás dele, uma lagoa
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4. 4
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temporária (chamada também de
gamboa ou maceió) faz a festa de
crianças e casais de namorados,
com as alterações constantes de
tamanho, formato e profundidade,
que ocorrem diariamente com
as mudanças das marés.
Em frente ao mar, pescadores
experientes protegem-se do sol e das
espumas de sal com exóticas roupas
plásticas. Barcos passam ao largo, a
caminho de Guamarés e de suas torres
de energia eólica, do outro lado, no
quase já esquecido continente.
A exemplo do que acontece em
Fernando de Noronha (a pouco mais
de 400 km, a nordeste dali), uma
estada em Galinhos faz as pessoas
esquecerem as coisas que em boa
hora deixaram para trás. Esses lugares
ainda meio escondidos, esquecidos
pelos mapas, onde o vento faz a curva,
atrás de caixa-pregos, costumam ser
carimbados de “um pedaço do paraíso”.
Não adianta resistir ao lugar-comum.
É exatamente isso o que eles são. É
exatamente isso o que Galinhos é.
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