O documento resume o Canto IV dos Lusíadas de Camões, que apresenta o discurso do Velho do Restelo criticando a viagem de Vasco da Gama à Índia. O Velho representa aqueles que se opunham à expedição e aponta os perigos, mortes e sofrimento que trará. Apesar de contrariar o objetivo épico da obra, a inclusão desta voz crítica demonstra a complexidade do pensamento de Camões sobre a empreitada colonial portuguesa.
1. O Velho do Restelo - Canto IV Criticas e conselhos de Luís Vaz de Camões Feito por: Ana Batista nº5 Marta Janicas nº19 Disciplina: L. Portuguesa 2010/2011
3. Biografia Nasceu em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves) sendo filho de Simão Vaz de Camões e de Anna de Sá e Macedo. Viveu algum tempo em Coimbra onde terá frequentado aulas de Humanidades. Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boémia. Depois de ter sido preso devido a uma rixa, parte para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa onde terá escrito grande parte da sua obra. Ao regressar a Portugal naufragou na costa de Moçambique e fica aí falta de meios para poder regressar ao seu país. Só com a ajuda de Diogo do Couto que o encontrou é que regressou a Portugal em 1569.
4. Biografia Conseguiu publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Em recompensa, o Rei concede-lhe uma modesta pensão. Faleceu em Lisboa em 10 de Junho de 1580 e foi sepultado com os custos pagos por um amigo. O seu túmulo, que teria sido na cerca do Convento de Sant'Ana, em Lisboa, perdeu-se com o terramoto de 1755.
5. Canto IV – estrutura externa Versos: Oitavas 104 Estrofes “O velho do Restelo” da estrofe 90 a 104 Rima: cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos Métricas: decassílabo
9. Caracterização do Velho do Restelo "Mas um velho d'aspeito venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:” Um idoso de aspecto respeitável e de voz bem audível. Com sabedoria da experiencia de vida que tem, apresenta-se com uma atitude de descontentamento .
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13. O Velho do Restelo "Nestas e outras palavras que diziam De amor e de piedosa humanidade, Os velhos e os meninos os seguiam, Em quem menos esforço põe a idade. Os montes de mais perto respondiam, Quase movidos de alta piedade; A branca areia as lágrimas banhavam, Que em multidão com elas se igualavam. "Nós outros sem a vista alevantarmosNem a mãe, nem a esposa, neste estado, Por nos não magoarmos, ou mudarmos Do propósito firme começado, Determinei de assim nos embarcarmos Sem o despedimento costumado, Que, posto que é de amor usança boa, A quem se aparta, ou fica, mais magoa. 1ª e 2ª estrofe: a multidão vai-se despedindo. Vasco da Gama decide que embarcariam sem a despedida que é habito, porque, ainda que seja um bom costume porque mostra o amor das pessoas, faz sofrer a quem parte e a quem fica.
14. O Velho do Restelo "Mas um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: estrofe: descrição do velho do Restelo
15. O Velho do Restelo —"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas! — "Dura inquietação d'alma e da vida, Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida De fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo dina de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana! 1ª e 2ª estrofe: razões negativas para a viagem ser feita. Só trará perigos, mortes e dará origem adultérios. Fama e glória são palavras que só servem para enganar o povo.
16. O Velho do Restelo —"A que novos desastres determinas De levar estes reinos e esta gente? Que perigos, que mortes lhe destinas Debaixo dalgum nome preminente? Que promessas de reinos, e de minas D'ouro, que lhe farás tão facilmente? Que famas lhe prometerás? que histórias? Que triunfos, que palmas, que vitórias? — "Mas ó tu, geração daquele insano, Cujo pecado e desobediência, Não somente do reino soberano Te pôs neste desterro e triste ausência, Mas inda doutro estado mais que humano Da quieta e da simples inocência, Idade d'ouro, tanto te privou, Que na de ferro e d'armas te deitou: 1ª estrofe: pergunta que benefícios a viagem trará em troca da desgraça toda que se irá abater sobre o povo (mortes, desastres e perigos) e que promessas serão feitas para conseguir leva-los? 2ª estrofe: diz que o povo descende do insensato e demente (Adão) cujo pecado provocou não somente sua expulsão do paraíso, mas também privou-o do estado de paz e de inocência da idade de ouro e o colocou na idade do ferro e das guerras
17. O Velho do Restelo — "Já que nesta gostosa vaidade Tanto enlevas a leve fantasia, Já que à bruta crueza e feridade Puseste nome esforço e valentia, Já que prezas em tanta quantidade O desprezo da vida, que devia De ser sempre estimada, pois que já Temeu tanto perdê-la quem a dá: — "Não tens junto contigo o Ismaelita, Com quem sempre terás guerras sobejas? Não segue ele do Arábio a lei maldita, Se tu pela de Cristo só pelejas? Não tem cidades mil, terra infinita, Se terras e riqueza mais desejas? Não é ele por armas esforçado, Se queres por vitórias ser louvado? 1ª estrofe: dá o nome de esforço e valentia à violenta crueldade e que V. da Gama dá valor ao desprezo pela vida em vez de a amar e preservar. Refere-se também a Cristo, que receou a morte, na noite anterior à sua crucificação. 2ª estrofe: Já que quer perder a vida, pode ser com os Mouros e também enriquece o seu povo.
18. O Velho do Restelo — "Deixas criar às portas o inimigo, Por ires buscar outro de tão longe, Por quem se despovoe o Reino antigo, Se enfraqueça e se vá deitando a longe? Buscas o incerto e incógnito perigo Por que a fama te exalte e te lisonge, Chamando-te senhor, com larga cópia, Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia? — "Ó maldito o primeiro que no mundo Nas ondas velas pôs em seco lenho, Dino da eterna pena do profundo, Se é justa a justa lei, que sigo e tenho! Nunca juízo algum alto e profundo, Nem cítara sonora, ou vivo engenho, Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e glória. 1ª estrofe: ainda não terminou com um inimigo e já parte há procura de outro. O objecto a quem se dirige o Velho vai mudando no decorrer do discurso. 2ª estrofe: amaldiçoa o homem que fez o primeiro barco como merecedor do inferno se houver justiça em que acredita. E com o criador do primeiro barco, morra a sua fama, a sua reputação e a sua glória.
19. O Velho do Restelo — "Trouxe o filho de Jápeto do Céu O fogo que ajuntou ao peito humano, Fogo que o mundo em armas acendeu Em mortes, em desonras (grande engano). Quanto melhor nos fora, Prometeu, E quanto para o mundo menos dano, Que a tua estátua ilustre não tivera Fogo de altos desejos, que a movera! — "Não cometera o moço miserando O carro alto do pai, nem o ar vazio O grande Arquiteto co'o filho, dando Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio. Nenhum cometimento alto e nefando, Por fogo, ferro, água, calma e frio, Deixa intentado a humana geração. Mísera sorte, estranha condição!" — 16ª e 17ª estrofe: Afirma que o fogo que o filho de Jápeto acendeu em armas, em mortes, em desonras e por isso, um grande erro dar o fogo à humanidade. Refere a Faeton ou Faetonte, filho de Apolo, o deus Sol, que foi imprudente e caiu com o carro do pai no rio Eridano e Dédalo que, com cera e penas, construiu asas para si e para seu filho Ícaro que, descuidado, voou rumo ao sol e acabou caindo no mar. O filho de Jápeto era Prometeu, o titã que roubou o fogo aos deuses e o deu aos homens. Prometeu trouxe o fogo do Olimpo escondido em uma estátua humana. Foi condenado a ficar preso num rochedo enquanto uma águia lhe comia as entranhas.
20. Anticlímax “A fala do Velho destrói ponto por ponto e mina por dentro o fim orgânico dos Lusíadas, que é cantar a façanha do Capitão, o nome de Aviz, a nobreza guerreira e a máquina mercantil lusitana envolvida no projecto. (…) A viagem e todo o desígnio que ela enfeixa aparecem como um desastre para a sociedade portuguesa: o campo despovoado, a pobreza envergonhada ou mendiga, os homens válidos dispersos ou mortos, e, por toda parte, adultérios e orfandades. A mudança radical de perspectiva (que dos olhos do Capitão passa para os do Velho do Restelo) dá a medida da força espiritual de um Camões ideológico e contra-ideológico, contraditório e vivo. (…) No largar da aventura marítima e colonizadora o seu maior escritor orgânico se faria uma consciência perplexa: “Mísera sorte! Estranha condição!” ” inDialética da Colonização de Alfredo Bosi O poeta admite, portanto, no momento de ápice de sua narrativa, o instante tão sonhado em que a esquadra de Vasco da Gama inicia sua viagem, uma voz contrária à aventura que pretende glorificar.