2. Capítulo 2: Gêneros textuais no
ensino de Língua
Luiz Antônio Marcuschi
Aluna: Aline Horst
3. 2.1. O estudo dos gêneros não é novo, mas está na
moda
O estudo dos gêneros não é novo. O que hoje se tem é uma
nova visão do mesmo tema.
Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula
apenas à literatura, mas “para referir uma categoria
distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou
escrito, com os sem aspirações literárias”(p. 147)
4. Para Aristóteles há três elementos compondo o discurso:
aquele que fala;
aquilo sobre o que se fala e;
aquele a quem se fala.
Num discurso operam três tipos de ouvinte:
como espectador que olha o presente;
como assembléia que olha o futuro;
como juiz que julga sobre coisas passadas.
A esses três julgamentos associa três gêneros de discurso retórico:
discurso deliberativo;
discurso judiciário;
discurso demonstrativo (epidítico)
5. DISCURSO DELIBERATIVO:
aconselhar/desaconselhar, voltado para o futuro por
ser exortativo por natureza;
DISCURSO JUDICIÁRIO:
acusar ou defender e reflete-se sobre o passado;
DISCURSO DEMONSTRATIVO:
caráter epídico, ou seja, de elogio ou censura, situando-
se na ação presente.
6. Carolyn Miller (1984): gêneros são uma “forma
de ação social”. Um “artefato cultural”
importante como parte integrante da estrutura
comunicativa de nossa sociedade.
Objetivo hoje é distinguir as idéias de que gênero
é: uma categoria cultural, um esquema
cognitivo, uma forma de ação social, uma
estrutura textual, uma forma de organização
social, uma ação retórica.
7. 2.2. O estudo dos gêneros mostra o
funcionamento da sociedade
Charles Bazermann (2005: 19-46) trabalha a
noção de fato social: “é aquilo em que as
pessoas acreditam e passam a tomar como se
fosse verdade, agindo de acordo com essa
crença. Muitos fatos sociais são realidades
constituídas tão-somente pelo discurso
situado.”(p. 150)
8. Pergunta: Por que os membros de comunidades
discursivas específicas usam a língua da
maneira como o fazem?
Bhatia (1997: 629): “(...) há aí ações de ordem
comunicativa com estratégias convencionais para
atingir determinados objetivos”(p. 150). Cada gênero
textual tem um propósito bastante claro que o
determina e lhe dá uma esfera de circulação. A
variação dos entendimentos existentes é um
problema atual nos estudos de gêneros .
9. “Na realidade, o estudo dos gêneros textuais é hoje
uma fértil área interdisciplinar, com atenção
especial para a linguagem em funcionamento e
para as atividades culturais e sociais. Desde que
não concebamos os gêneros como modelos
estanques nem como estruturas rígidas, mas como
formas culturais e cognitivas de ação social
(Miller, 1984) corporificadas na linguagem, somos
levados a ver os gêneros como entidades dinâmicas,
cujos limites e demarcação se tornam fluidos” (p.
151)
10. 2.3. Algumas perspectivas para o
estudo dos gêneros
No Brasil:
1- linha bakhtiniana: com a perspectiva vygotskyana
socioconstrutivista da Escola de Genebra (Schneuwl/Dolz)
e com o interacionismo sociodiscursivo de Bronckart. (PUC-
SP)
2- “swalesiana”: linha da escola norte-americana mais formal e
influenciada por John Swales (1990).
3- sistêmico-funcional: Escola Australiana de Sydney,
alimentada pela teoria de Halliday com interesses na análise
lingüística dos gêneros.
4- mais geral: influência de Bakhtin, Adam, Bronckart,
Bazermann, Miller, Kress, Fairclough.
11. Perspectivas pelo mundo:
1- sócio-histórica e dialógica (Bakhtin);
2- comunicativa (Steger, Gülich, Bergmann, Berkenkotter);
3- sistêmico-funcional (Halliday): texto e contexto...;
4- sociorretórica de caráter etnográfico voltado para o ensino de segunda
língua (Swales, Bhatia): estágios na estrutura do gênero;
5- interacionista e sociodiscursiva de caráter psicolingüístico e atenção
didática voltada para a língua materna (Bronckart, Dolz,
Schneuwly): perspectiva geral de caráter psicolingüístico ligado ao
sociointeracionismo;
6- análise crítica (Fairclough, Kress): Gênero como tipo particular de
atividade social;
7- sociorretórica/sócio-histórica e cultural (Miller, Bazermann,
Freedman): gênero com atenção para a compreensão do funcionamento
social e histórico, bem como sua relação com o poder.
12. 2.4. Noção de gênero textual, tipo textual e
domínio discursivo
A comunicação verbal só é possível por algum
gênero textual;
Bronckart (1999; 103) “a apropriação dos gêneros é
um mecanismo fundamental de socialização, de
inserção prática nas atividades comunicativas
humanas” (p. 154)
13. Conceitos
Tipo textual: designa uma espécie de construção teórica
definida pela natureza lingüística de sua composição
(aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
lógicas, estilo). O tipo caracteriza-se muito mais como
seqüências lingüísticas (retóricas) do que como textos
materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os
tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias
conhecidas como: narração, argumentação, exposição,
descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar
tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar.
Quando predomina um modo num dado texto concreto,
dizemos que esse é um texto argumentativo ou narrativo
etc.
14. Gênero textual: são os textos que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam padrões sociocomunicativos
característicos definidos por composições funcionais,
objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na
integração de forças históricas, sociais, institucionais e
técnicas. São entidades empíricas em situações comunicativas
e se expressam em designações diversas, constituindo em
princípio listagens abertas. São formas textuais escritas ou
orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.
Exemplos: telefonema, sermão, carta pessoal, carta comercial,
resenha, cardápio de restaurante, bate-papo no computador...
15. Domínio discursivo: não abrange um gênero em
particular, mas dá origem a vários deles. São práticas
discursivas nas quais podemos identificar um
conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe são
próprios ou específicos como rotinas comunicativas
institucionalizadas e instauradoras de relações de
poder (discurso jurídico, discurso jornalístico,
discurso religioso etc.).
16. “Não se pode tratar o gênero de discurso
independentemente de sua realidade social e de
sua relação com as atividades humanas” (p. 155)
Gêneros e tipos não são opostos, não formam
uma dicotomia. São complementares e
integrados, formas constitutivas do texto em
funcionamento.
Carta pessoal: possui uma variedade de
seqüências tipológicas, em que predominam
descrições e exposições.
18. “Gêneros não são entidades formais, mas sim entidades
comunicativas em que predominam os aspectos relativos a
funções, propósitos, ações e conteúdos. A tipicidade de um
gênero vem de suas características funcionais e organização
retórica” (p. 159).
Carolyn Miller (1984): “os gêneros são formas verbais de ação
social estabilizadas e recorrentes em textos situados em
comunidades de práticas em domínios discursivos específicos.
Assim os gêneros de tornam propriedades inalienáveis dos
textos empíricos e servem de guia para os interlocutores,
dando inteligibilidade às ações retóricas. São entidades
dinâmicas, históricas, sociais, situadas, comunicativas,
orientadas para fins específicos, ligadas a determinadas
comunidades discursivas, ligadas a domínios discursivos,
recorrentes e estabilizadas em formatos mais os menos
claros”(p. 159).
19. Por serem sócio-históricos e variáveis, tornou-se
muito difícil fazer uma classificação de gêneros, o que
deixou de ser preocupação dos estudiosos. Hoje
procura-se explicar como eles se constituem e circulam
socialmente.
Maingueneau (2204) propôs uma divisão dos gêneros
em três grandes conjuntos partindo do seu regime de
generecidade:
20. Gêneros autorais: mantêm um caráter de autoria pelos
traços de estilo. Situam-se na literatura, no
jornalismo, na filosofia...
Gêneros rotineiros: comuns no dia-a-dia. Realizam-se
em entrevistas radiofônicas, consultas, médicas... Não
mudam muito de situação para situação e suas marcas
autorais de manifestam menos.
Gêneros conversacionais: gêneros de menor
estabilidade e sem organização temática previsível
como as conversações.
21. O próprio autor mudou a classificação pela
inadequação do termo “rotineiro”. Ele defende que se
distinga:
- Regime de gêneros conversacionais
- Regime de gêneros instituídos (conteria
gêneros autorais e rotineiros)
“Todos os textos realizam um gênero e todos os
gêneros realizam seqüências tipológicas diversificadas
(...) os gêneros são em geral tipologicamente
heterogêneos”(p. 160). Exemplo: telefonema.
22. 2.5. Gêneros textuais como sistema
de controle social
“Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se
prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao
exercício de poder”(p. 161).
O aspecto discursivo vai muito além do objetivo de comunicação e de
informação. É muito mais uma forma de vida e uma forma de ação
(Wittgenstein).
A linguagem está presente na vivência cultural humana. Todos os nossos
textos situam-se nas vivências estabilizadas em gêneros. A língua é uma
atividade sociointerativa de caráter cognitivo, sistemática e instaurada
de ordens diversas na sociedade. O funcionamento de uma língua é um
processo de integração social. (p. 163)
23. 2.6. A questão da intergenericidade:
que nomes dar aos gêneros?
É difícil nomear cada gênero de texto, pois eles se
imbricam e interpenetram para constituírem
novos gêneros.
Gêneros são nomeados com base em alguns
critérios. Muitas vezes o nome surge em atenção
ao propósito comunicativo ou função.
24. Intergenericidade -> um gênero com a função de
outro;
Heterogeneidade tipológica -> um gênero com a
presença de vários tipos.
Na imprensa: contaminação de gêneros e
hibridização para chamar mais a atenção e motivar a
leitura.
Livro didático: constitui um todo feito de partes que
mantêm suas características. Autor defende a
posição de que o livro didático é um suporte e não um
gênero. (p.170)
25. Capítulo 2: Gêneros textuais no
ensino de Língua
Luiz Antônio Marcuschi
Aluna: Talita F. Barili
26. 2.7 A questão intercultural
“A escolha de um gênero que pode ser usado para servir a
uma certa função interativaem nossa cultura pode se
tornar inadequada numa situação cultural diferente. Um
sinólogo alemão, que trabalhava como intérprete em
encontros de negócios entre comerciantes chineses e
alemães, apontou a preferência dos comerciantes alemães
por contar piadas em negociações comerciais. Para os
chineses, é considerado inapropriado contar piadas
durante encontros de negócios, e as piadas não são
esperadas neste contexto.”
Da mesma forma, o uso de provérbios tanto na oralidade
como na escrita chinesa é um sintoma de boa educação.
27.
Um aspecto importante a tratar é o problema da
variedade cultural dentro de um mesmo país e como isso
deveria ser encarado pelo próprio livro didático.
Estes deveriam oferecer um ensino culturalmente
sensível, tendo em vista a pluralidade cultural. Não se
deveria privilegiar o urbanismo elitizado, mas frisar a
variação lingüística, social, temática, de costumes,
crenças valores etc.
A vivência cultural humana está envolta em linguagem e
todos os textos situam-se nessas vivências estabilizadas
simbolicamente. Isto é um convite claro para o ensino
situado em contextos reais da vida cotidiana.
28. 2.8 A questão do suporte de gêneros textuais
Equivocam-se os manuais quando falam no dicionário
como portador de gênero, pois ele próprio é um gênero.
Enquanto que a embalagem é um suporte e não um
gênero.
A idéia central é que o suporte não é neutro e o gênero
não fica indiferente a ele.
O suporte é imprescindível para que o gênero circule na
sociedade e deve ter alguma influência na natureza do
gênero suportado.
Suporte -> Um locus físico ou virtual com formato
específico que serve de base ou ambiente de
fixação do gênero materializado como texto.
29. − Suporte é um lugar (físico ou virtual)
− Suporte tem formato específico
− Suporte serve para fixar e mostrar o texto.
É muito difícil contemplar o contínuo que surge na relação
entre gênero, suporte e outros aspectos, pois não se trata
de fenômenos discretos e não se pode dizer onde um
acaba e outro começa.
Exemplo:
− Carta pessoal (GÊNERO) –> Papel-carta (SUPORTE) –> Tinta
(MATERIAL DA ESCRITA) -> Correios (SERVIÇO DE
TRANSPORTE)
30. Não é fácil estabelecer a mesma cadeia para todos os
gêneros, mas isso serve para pensar as unidades
componentes dessa cadeia.
O suporte firma ou apresenta o texto para que se torne
acessível de certo modo e, não deve ser confundido com o
contexto nem com a situação, nem com o canal em si, nem
com a natureza do serviço prestado. O suporte não é
neutro e o gênero não fica indiferente a ele.
O outdoor, durante muito tempo foi classificado como
gênero porém, hoje é claramente identificado como
suporte público para vários gêneros, com preferência
para publicidades, anúncios, propagadas,
comunicados, convites, declarações, editais.
31. Tipos de SUPORTE:
• Convencionais -> típicos ou característicos, produzidos
para esta finalidade.
Livro Telefone
Livro didático Quadro de
avisos
Jornal (diário) Outdoor
Revista (semanal/mensal) Encarte
Revista Científica (boletins e Folder
anais)
Rádio Luminosos
Televisão Faixas
32. • Incidentais -> podem trazer textos, mas não são
destinados a esse fim de modo sistemático nem
na atividade comunicativa regular.
Embalagens Paradas de Ônibus
Muros Estações de Metrô
Roupas Calçadas
Corpo Humano Fachadas
Paredes Janelas de Ônibus
Pára-choques e pára-lamas (Meios de Transporte em
de caminhão geral)
33. Serviços em função da atividade comunicativa
Não devem ser situados entre os suportes textuais, sejam
os incidentais ou convencionais, mas sim como
SERVIÇOS.
− Correios
− (Programa de) E-mail
− Mala-direta
− Internet
− Homepage e site
34. 2.9 Análise dos gêneros na oralidade
A relevância da investigação dos gêneros textuais reside
no fato de serem usados pelos participantes da
comunicação lingüística como parte integrante de seu
conhecimento comum.
Um gênero seria uma noção cotidiana usada pelos
falantes que se apóiam em características gerais e
situações rotineiras para identificá-lo. Tudo indica que
existe um saber social comum pelo qual os falantes se
orientam em suas decisões acerca do gênero de texto
que estão produzindo ou que devem produzir em cada
contexto comunicativo.
35. Os falantes lançam mão de conhecimentos de três
grandes sistemas cognitivos (que agem
interativamente) para processar seus textos:
- Saber lingüístico
- Saber enciclopédico
- Saber interacional
Com base nestes conhecimentos os interlocutores
especificam o gênero de texto que estão sendo
produzidos durante sua fala.
Os gêneros são modelos comunicativos – servem muitas
vezes para criar uma expectativa no interlocutor e
prepará-lo para determinada reação.
36. Os interlocutores seguem em geral três critérios para
designarem seus textos:
− Canal / meio de comunicação
− Critérios formais
− Natureza do conteúdo
A máxima da adequação tipológica – deveria haver, em
cada gênero textual, uma relação estreita entre:
− Natureza da informação
− Tipo de situação
− Relação entre os participantes
− Natureza dos objetivos
37. Os gêneros textuais não são fruto de invenções individuais,
mas formas socialmente maturadas em práticas
comunicativas na ação linguageira.
Também poderia ser estabelecida uma certa correlação
entre gêneros textuais e formas de condução dos tópicos
discursivos. Assim, no caso de um debate ou de uma
conferência caberiam observações do tipo:
− “Gostei porque ele se ateve ao tema do começo ao fim.”
− “Não gostei porque ele divagou demais e toda hora entrava em
outros temas.”
No entanto, já não se poderia dizer o mesmo a respeito
de uma conversa realizada durante um encontro casual
num bar da esquina.
38. E, como os gêneros textuais não só refletem, mas
constituem as práticas sociais, é de supor que
também haja variações culturalmente marcadas
quanto às formas produzidas, já que as culturas
são diversas em sua constituição.
39. 2.10 A análise de gêneros textuais
na relação fala e escrita
Os gêneros textuais ancoram na sociedade e nos
costumes e ao mesmo tempo são parte dessa sociedade
e organizam os costumes, podem variar de cultura para
cultura.
Os gêneros são apreendidos no curso de nossas vidas
como membros de alguma comunidade.
Os gêneros são padrões comunicativos socialmente
utilizados, que funcionam como uma espécie de modelo
comunicativo global que representa um conhecimento
social localizado em situações concretas.
40. Sociedades tipicamente orais desenvolvem certos gêneros
que se perdem em outras tipicamente escritas e
penetradas pelo alto desenvolvimento tecnológico.
- Ex: cantos medicinais, benzeções das rezadeiras,
lamentos das carpideiras.
Tudo isso surge naquelas sociedades como práticas
culturais rotineiras, tal como editorial de um jornal diário
ou uma bula de remédio em nossas sociedades.
O gráfico a seguir representa as mesclagens dos gêneros
na relação fala-escrita, considerando-se as condições de
produção (concepção) e recepção oral e escrita
(aspecto medial, gráfico ou fônico).
41. +
• Em (A) – o domínio tipicamente
falado quanto ao meio e quanto à
Concepção (oral) concepção, que é a produção
original. Em (C), o domínio
A B
escrito.Tanto (B) quanto
Meio Meio (D) seriam domínios
(sonoro) (gráficos)
mistos das mesclagens de
modalidades.
D C – Exemplos:
Concepção • (A) Conversação espontânea;
(escrita)
• (C) Texto científico;
Concepção = aponta para a • (D) Noticiário de TV;
natureza do meio em que o texto
• (B) Entrevista publicada
foi originalmente expresso ou
exteriorizado. na Veja
42. 2.11 Domínios discursivos e gêneros textuais na oralidade
Domínio discursivo – uma esfera da vida social ou
institucional na qual se dão práticas que organizam
formas de comunicação e respectivas estratégias de
compreensão.
Os domínios discursivos produzem modelos de ação
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de
geração para geração com propósitos e efeitos definidos
e claros.
Pelas distintas práticas sociais desenvolvidas nos
diversos domínios discursivos que sabemos que nosso
comportamento discursivo num circo não pode ser o
mesmo que numa igreja (por exemplo)
43. Os domínios discursivos operam como enquadres globais de
superordenação comunicativa, subordinando práticas
sociodiscursivas orais e escritas que resultam nos gêneros.
Há domínios discursivos mais produtivos em diversidade de
formas textuais e outros mais resistentes.
- Ver quadro p. 194 - 196
Parece que hoje há mais gêneros textuais na escrita do que na
fala, mas se a análise for feita em outras culturas,
possivelmente essa situação se inverteria totalmente.
44. Capítulo 2: Gêneros textuais no
ensino de Língua
Luiz Antônio Marcuschi
Aluna: Luciane H. Oliveira
45. 2.12. Distribuição dos gêneros no
continuum da relação fala-escrita
*
No círculo intermediário estão alguns gêneros
intermodais, que são de difícil localização em uma ou
outra modalidade. * pág.197
46. 2.13. Os gêneros emergentes na
Crystal escreveu em seu e o ensino
mídia virtual livro A linguagem e a
internet, sobre “o papel da linguagem na internet e o
efeito da internet na linguagem”. Para ele três
aspectos podem ser frisados:
Linguagem: pontuação minimalista, ortografia
bizarra, abundância de abreviaturas não
convencionais, estruturas frasais pouco ortodoxas e
escrita semi-alfabética.
Natureza enunciativa: integram-se mais semioses
que o usual.
Gêneros realizados: transmuta alguns gêneros
existentes e desenvolve alguns novos. Todos os
47.
Ainda segundo Crystal(2001), o discurso
eletrônico pode ser considerado ainda em estado
selvagem e indomado sob o ponto lingüístico e
organizacional. Estado de anonimato dos bate-
papos favorece o lado instintivo, desde a
escolha do apelido até as decisões lingüísticas,
estilísticas e liberalidades quanto ao conteúdo.
A comunicação mediada por computador abrange
todos os formatos de comunicação e os respectivos
gêneros que emergem nesse contexto. Analisa de modo
particular, um conjunto específico de novos gêneros
textuais, desenvolvidos no contexto da mídia virtual.
48. É importante tratar esses gêneros textuais por , pelo
menos, quatro aspectos:
gêneros em franco desenvolvimento e fase de fixação
cada vez mais generalizados.
apresentam peculiaridades formais próprias, não
obstante terem contrastes em gêneros prévios.
oferecem a possibilidade de se rever alguns conceitos
tradicionais a respeito da textualidade.
mudam sensivelmente nossa relação com a oralidade
e a escrita, o que nos obriga a repensá-la.
49. Listagem de gêneros textuais emergentes no domínio
da mídia virtual:
e-mail e-mail educacional
aula chat
chat em aberto
vídeoconferência
chat reservado interativa
chat agendado lista de discussão
chat privado endereço eletrônico
entrevista com convidado weblog
…
50.
Os gêneros textuais mais utilizados são os e-mails,
chats, listas de discussão e weblogs. Em todos eles a
comunicação se dá pela linguagem escrita, mas a
escrita tende a ser mais informal, menor monitoração
e cobrança pela fluidez do meio e rapidez do tempo.
Embora haja um sistema lingüístico subjacente a
cada língua, ele não impede a variação. As variações
não são aleatórias, mas sistemáticas, no caso dos
usos lingüísticos.
51. Todos os gêneros aqui tratados dizem respeito a
interações entre os indivíduos, mesmo sendo relações
em geral virtuais. Diante de tudo isso, é possível
indagar-se:
QUE TIPO DE PRÁTICA SOCIAL EMERGE COM
AS NOVAS FORMAS DE DISCURSO VIRTUAL
PELA INTERNET?
Podemos chamar de letramento digital, como
foi inicialmente sugerido?
52. Os gráficos 1 e 2 trazem uma relação que tenta
eliminar a visão dicotômica e ao mesmo tempo mostra
que há uma certa diferença entre o ambiente
sonoro/impresso e o meio digital.
Comunicação assíncrona
Cartas
impressas
memorandos
Interação
Interação um a um
em grupo
conferências
Interação face a face
Comunicação síncrona
53. Há uma ordem muito clara entre os gêneros na
comunicação digital mediada por computador e sua
relação se dá de forma não aleatória e sua criação
obedece a critérios bastante rigorosos.
54. Considerando apenas a natureza das relações entre os
participantes e os gêneros aqui vistos, podemos dizer
que ali se dão interações entre indivíduos no seguinte
leque geral:
55. 2.14. A QUESTÃO DOS GÊNEROS E O
ENSINO DA LÍNGUA
Será que há algum gênero ideal para tratamento em
sala de aula?
Existem gêneros mais importantes que outros?
Há gêneros mais adequados à leitura do que outros
e há outros que são mais adequados à produção, pois
em determinados momentos somos confrontados
apenas com um consumo receptivo e em outros casos
temos que produzir os textos.
56. devido ao papel que a escrita desempenha em nossa
sociedade: nas tarefas do dia-a-dia, no comércio, na
indústria e produção do conhecimento. Tudo isso
tende a diversificar de maneira acentuada as formas
textuais utilizadas.
Além da diversidade textual, ainda temos a visão de
Bakhtin(1979) que aponta os gêneros textuais como
esquemas de compreensão e facilitação da ação
comunicativa interpessoal.
A distribuição da produção discursiva em gêneros
tem como correlato a própria organização da
sociedade, o que nos leva ao núcleo da perspectiva
57. 2.15. Visão dos PCNs a respeito da
questão dos gêneros
língua falada e língua escrita não se opõem de forma
dicotômica, nem são produções em situações polares.
LF e LE se dão relacionadas ao contexto do contínuo
dos generos textuais.
Circulam na escola a respeito da relação entre a
modalidade oral e a escrita a idéia de que a escrita é
mera transposição da fala, ou tratar as especificidades
de cada modalidade como polaridades.
Parece que fala e escrita se oporiam, pelo interesse
pedagógico, como se a fala fosse a vernacular, a forma de
comunicação espontânea e a escrita, a forma culta
referente à norma padrão e socialmente prestigiada.
58. Preconceitos que a escola deveria se livrar:
existe uma única forma certa de falar.
a fala certa é a de determinada região.
a fala certa se aproxima do padrão da escrita.
o brasileiro fala mal.
é preciso consertar a fala do aluno para evitar que
ele escreva errado.
A escola deveria evitá-las mostrando que há diversas
formas de se expressar de acordo com as situações, os
contextos e os interlocutores.
A questão não é de correção da forma,
mas de sua adequação às circunstâncias
de uso, ou seja, de utilização adequada
da linguagem.
59. 2.16. GÊNEROS TEXTUAIS NA LÍNGUA
FALADA E ESCRITA DE ACORDO COM OS
PCNS
Não se faz uma distinção sistemática entre tipos
textuais e gêneros textuais.
Consideram-se apenas os gêneros com realização
lingüística mais formais e não os mais praticados nas
atividades lingüísticas cotidianas.
Confusão entre oralidade e escrita, não há clareza
quanto a critérios que seriam usados para estabelecer
essas distinções.
60. Quadro I – p 40
Gêneros previstos para a prática de
compreensão de textos
61. Quadro 2 – p 43
Gêneros previstos para a prática de
produção de textos
LINGUAGEM ORAL LINGUAGEM ESCRITA
Conto
LITERÁRIOS LITERÁRIOS
Poema
Notícia
Entrevista
Editorial
DE IMPRENSA Debate DE IMPRENSA
Carta do leitor
Depoimento
Entrevista
Relatório de
Exposição
experiência
DE DIVULGAÇÃO DE DIVULGAÇÃO
Seminário
CIENTÍFICA CIENTÍFICA Esquema e resumo de
artigos ou verbetes de
Debate
enciclopédia
62. Os PCNs não negam que tenham mais gêneros, mas
estes não são lembrados. Por que não trabalhar
telefonemas, conversações espontâneas, consultas,
discussões, etc? Por que não analisar formulários,
cartas, bilhetes, documentos, receitas, bulas,
anúncios, horóscopos, diários, atas de condomínios,
ia
etc para a escrita? r-se-
deve ões, m ç
a orde o s. No
s dest n teúd s
plano d e co e ctiva
para e não resp ue
é qu
e
e itual om suas s do q
to c on c os c ante
O fa el s rt
a o nív pr oces impo
erar as e mais ífico
s.
op t égi s são c
estra açõe s espe
plific e údo
exem cont
63. 2.17. Os gêneros textuais na sala de
aula: as ‘seqüências didáticas’
Dolz e Schneuwly desenvolvem a noção de gênero
concebido como instrumento de comunicação, que se
realiza empiricamente em textos.
Schneuwly chamou os gêneros textuais de mega-
instrumentos. Como se acham sempre ancorados em
alguma situação concreta, particularmente os orais,
os autores julgam plausível partir de situações claras
para trabalhar a oralidade.
Seguem a posição bakhtiniana de que “ Para
possibilitar a comunicação , toda sociedade elabora formas
relativamente estáveis de textos que funcionam como
intermediários entre o enunciador e o destinatário, a saber,
gêneros.”
64. Segundo os autores, “o gênero é um instrumento semiótico
constituído de signos organizados de maneira regular; este
instrumento é complexo e compreende níveis diferentes; é por isso
que o chamamos por vezes mega-instrumento, para dizer que se trata
de um conjunto articulado de instrumentos à moda de uma usina;
mas, fundamentalmente, trata-se de um instrumento que permite
realizar uma ação numa situação particular. E aprender a falar é
apropriar-se de instrumentos para falar em situações discursivas
diversas, isto é, apropriar-se de gêneros.”
Dimensões essenciais do gêneros segundo Bakhtin:
1. Os conteúdos que se tornam decidíveis no gênero.
2. A estrutura comunicativa particular do textos que
pertencem ao gênero.
3. As configurações específicas de unidades lingüísticas
como traços da posição enunciativa do enunciador e de
tipos discursivos que formam essa estrutura.
65. Modelo de trabalho em seqüências didáticas de
Joaquim Dolz, Michèle Noverraz e Bernard
Schnewly para o ensino de gêneros nas séries
fundamentais.
Os procedimentos têm um caráter modular e levam em
conta tanto a escrita como a oralidade .
O trabalho distribui-se ao longo de todas as séries do
ensino fundamental.
A idéia central é de que devem criar situações reais com
contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e
no detalhe a situação concreta de produção textual
incluindo sua circulação, ou seja, com atenção para o
processo de relação entre produtores e receptores.
Seqüência didática = conjunto de atividades escolares
organizadas, de maneira sistemática, em torno de um
gênero textual ou escrito .
66. A finalidade de trabalhar com
seqüências didáticas é proporcionar ao
aluno um procedimento de realizar
todas as tarefas e etapas para a
produção de um gênero.
Esquema de seqüência didática
Apresentação Produção Produção
Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
da situação inicial final
67. Procedimentos envolvidos no modelo de
seqüências didáticas.
1. Apresentação da situação
1. Tarefa a ser desenvolvida pelos alunos. Define-se a
modalidade: oral ou escrita.
2. Qual gênero a ser produzido, para quem ele é
produzido, qual sua modalidade, a forma q terá a
produção(rádio, televisão, papel, jornal etc.
3. Conteúdos a serem desenvolvidos, devem ter relação
com o gênero a ser trabalhado. De que área se trata e
sobre o que falarão, Apresentar exemplares do genero
a ser realizado. Ler ou ouvir textos do mesmo
genero. Os alunos podem discutir sobre a questão. O
primeiro encontro com o genero pode ter o
acompanhamento do professor para discutir aspectos
68. ser individual ou coletiva. É avaliada pelo professor recebendo
nota ou conceito.
2. Pode ser um esboço geral, posteriormente serão feitos os ajustes
até a produção final. É o primeiro contato com o gênero.
3. Os Módulos
1. Podem ser vários, até que se tenha treinado suficientemente a
elaboração final do texto. Não são fixos, mas seguem uma
seqüência do mais complexo ao mais simples para, no final,
voltar ao mais complexo que é a produção textual.
2. Primeiro trabalham-se os problemas que surgiram na produção
inicial. Ex.: Como foi a representação da situação de
comunicação? Como foi a elaboração dos conteúdos?
Planejamento do texto? Realização do texto?
3. Pode-se fazer atividades de observação e análise de textos. (p
216)
4. Num terceiro módulo, o aluno deve adquirir a linguagem
técnica para se expressar sobre o que está fazendo. Elaborar
69. 4. Produção final
1. O aluno põe em prática o que aprendeu ao longo
dos módulos, após análise da produção inicial.A
avaliação deve levar em conta tanto os progressos
do aluno como tudo o que lhe falta para chegar a
uma produção efetiva de seu texto segundo o
gênero pretendido.
70. dicotômicos.
Observaçõestextual é os procedimentos apresentados.
A produção sobre considerada uma atividade que se situa em
contextos da vida cotidiana e os textos são produzidos para alguém
com algum objetivo.
Ensina-se a produzir textos e, em conseqüência de uma
conscientização do processo, aprende-se também algo a respeito da
teoria do texto e do gênero.
As produções consideram as características de cada gênero e suas
necessidades.
A estratégia da modularidade com que é desenvolvido o trabalho
situa as ações no contexto da realidade e não naturaliza o trabalho
com a língua.
A produção do aluno é valorizada.
A modularidade permite que os casos de insucesso sejam
retrabalhados e recebam atenção especial sem que isso ocasione
transtornos.
A oralidade e a escrita devem ser tratadas de forma clara e o centro
da atenção é o gênero. Há textos que se prestam para um trabalho
mais efetivo na oralidade e outros na escrita.
71. Uma perspectiva textual
1. Questões gramaticais: problema da organização da
frase, tempos verbais, coordenação e subordinação,
pontuação, paragrafação e assim por diante.
2. Questões de ortografia: não deve sobrepor-se ao
trabalho efetivo com a produção textual, mas os
problemas de pontuação podem ser tratados dentro
dos módulos.
74. 2.18. A Proposta de Bronckart
Os textos são um objeto legítimo de estudo e que a
análise de seus níveis de organização permite trabalhar
a maioria dos problemas relativos à língua em todos os
aeus aspectos.
Para elaborar uma série didatica para trabalhar
generos textuais, Bronckart sugere uma atividade de
quatro fases:
1. Elaborar um modelo didático. (p 222)
2. Identificar as capacidades adquiridas (p 222)
3. Elaborar e produzir atividades de produção ( 222)
4. Avaliar as novas capacidades adquiridas (p 222)
(ver modelo didático – p 223)