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Relações de Governança Metropolitana: Contexto em Três Cidades
Globais Canadenses


Resumo: Este trabalho visa identificar algumas abordagens de governança territorial em três
metrópoles do Canadá: Toronto, Montreal e Vancouver. São expostos os aspectos estruturais e
institucionais metropolitanos, as atribuições do planejamento nas áreas metropolitanas, a
governança no governo local e as interrelações entre as esferas governamentais destas
metrópoles com os governos das províncias e federal. Por meio destes quadros comparativos
chega-se a interpretações e conclusões que realçam a compreensão das questões emergentes
na agenda metropolitana destas regiões.
1. Introdução

Com um complexo sistema de federalismo, que necessita uma cooperação em seus vários níveis
entre governos e instituições sociais, a governança no Canadá ultrapassou os limites da política
municipal. Algumas regiões metropolitanas passaram por processos de amalgamação e
anexação1, reforçando a agenda urbana canadense como escala regional e as discussões no que
se refere aos limites da fronteira metropolitana.

O Canadá tem uma população estimada (em 2010) de aproximadamente 33 milhões e meio de
pessoas, sendo o segundo maior país do mundo em extensão territorial. Três de suas principais
cidades, Toronto, Montreal e Vancouver, que comportam uma esfera de gestão metropolitana,
considerando suas áreas de jurisdição, concentram uma população crescente no país (a maior
parte provém da imigração). Estas três metrópoles detêm quase um quarto do contingente
populacional do país (23 %) com cerca de oito milhões de pessoas.
                                                        2
Esta pesquisa foca nas três “cidades globais”               canadenses no que se refere a: a) aspectos da
estrutura institucional metropolitana e jurisdição (antecedentes municípios envolvidos e
representatividade);       b)   atribuições     do   planejamento       territorial   (princípios,    objetivos    e
responsabilidades); c) articulações entre as esferas de ação governamental e d) o papel da
governança no governo local (forças de influência e parcerias), a fim de compreender melhor o
processo de governança metropolitana que ocorre em Toronto, Montreal e Vancouver no contexto
canadense.

O princípio da governança territorial lida com as relações das populações com o poder e na sua
capacidade de criar representações, a capacidade de atores públicos e privados construir um
consenso organizacional, envolvendo atores diferentes para definir objetivos e tarefas em comum,
para concordarem na contribuição de cada parceiro a fim de atingir os objetivos previamente
definidos e concordarem em uma visão comum para o futuro de seu território (DAVOUDI et al,
2008).




1
    Os termos amalgamação e anexação são usados no contexto urbano canadense. Amalgamação (amalgamation ou
merge) se refere à fusão de duas ou mais municipalidades como um todo em uma nova entidade.                 Anexação
(annexation) é a mudança das fronteiras de duas cidades, aumentando a base territorial de uma e reduzindo a de outra,
ou seja, tomando uma parte de uma municipalidade por outra. Para Fischler et al,(2004), a anexação ocorre quando um
município urbano em rápido crescimento requer mais espaço para desenvolvimento e “anexa” parte de municipalidades
rurais adjacentes. Segundo Boudreau et al (2009) os termos consolidação, aglutinação, fusão(merger) e amalgamação
se referem ao processo de redesenhar as fronteiras administrativas e políticas, pela eliminação das unidades menores
e as amarrando a uma entidade maior. Fusão (merger) é um termo preferido em Montreal, pois é a tradução direta do
termo em francês fusion.
2
    As três cidades globais canadenses, termo cunhado por Brenner; Keil, 2006 (apud BOUDREAU et al, 2009)
2. A governança territorial em pauta: discurso no contexto canadense

O Canadá é um estado federativo e tem 10 províncias e três territórios, onde as competências
dos governos federais e das províncias têm papéis complementares. Esta divisão de
responsabilidades entre as duas instâncias é delineada na Lei Constitucional (Constitutional Act)
de 1982 que incorpora a Lei da América do Norte Britânica de 1867 (British North American Act).
Enquanto há setores que se sobrepõem nestas instâncias, há outros que não se pensava na
época da Lei de 1867 até serem criados (como aeroportos e telecomunicações). Assim, as
províncias têm um poder exclusivo sobre todos os assuntos que inclui governo local, educação,
saúde e ordenamento do território (FISCHLER et al, 2004).

Segundo Smith e Oberlander (2006), na época da ordem constitucional do Canadá, três quartos
da população viviam em áreas rurais e de agricultura, quando o local era realmente local, no que
se referia a construção de escolas ou mantendo as vias públicas (exceto pelos “King’s highways”).
Conforme o censo decenal de 2001, 80% dos canadenses vivem em centros urbanos (acima de
10.000 pessoas). E 51% da população, de acordo com o mesmo censo de 2001, estão
concentradas em apenas quatro grandes regiões metropolitanas: a área estendida centrada em
Toronto do Greater Golden Horseshoe situada na parte sul da província de Ontário; Montreal e
entorno; o corredor Calgary–Edmonton e Vancouver – baixo continente (Lower Mainland) e parte
sul da Ilha de Vancouver.

Fischler et al (2004) afirmam que todas as autoridades locais e municipalidades3, assim como
qualquer outra unidade de governo sub-provincial, obtém seus poderes e jurisdição das
províncias e não são reconhecidas pela Constituição como entidades distintas e separadas de
outros níveis governamentais. As províncias estão livres para criar, alterar ou eliminar qualquer
aspecto dentro do sistema de seu governo local. Como cada província tem uma geografia, cultura
e tradições diferentes, os problemas e procedimentos em relação aos limites (fronteiriços) do
governo local variam por todo o país.

Young (2009) aponta que o governo municipal na federação canadense tem uma história de
sucesso, por ter governos locais estáveis que administram uma grande gama de serviços e
provêem bens públicos dentro de uma estrutura de responsabilidade democrática. O autor
considera que no sistema atual do país, mesmo com pressões e algumas mudanças substanciais,
a sua essência permanece inalterada – os governos das províncias controlam as municipalidades
e o que fazem4.

É interessante notar, quanto ao aspecto cultural, há dois mundos linguísticos no Canadá: os
francófonos relacionados à província de Quebec (onde se encontra Montreal), e todo o restante

3
    Cerca de 3.700 governos locais no Canadá.
4
    As municipalidades canadenses estão na posição de ser uma competência dos governos das províncias, “creatures of
the provinces” (YOUNG, 2009, p.107).
do país, anglófono (inclusive a província de Ontário, onde a cidade de Toronto está inserida). Isto
causa interpretações quanto aos termos metropolitano (metropolitain              em   Quebec)    e
regional(regional em Ontário) que remetem ao mesmo significado, ou seja, a coordenação de
cidades e seus subúrbios no entorno . Estas duas províncias dominantes estão presentes na
federação do Canadá, antes mesmo da Confederação de 1867, e apesar de fazerem parte do
mesmo sistema urbano continental norte-americano, variam radicalmente em suas economias
políticas, culturas políticas e debates ideológicos (BOUDREAU et al, 2007). São as duas
províncias mais populosas e urbanizadas do país.

Os temas de discussão relacionados à governança nas regiões metropolitanas incluem autores
como Meligrana (2004) e Sancton (2008) que tratam do ajuste dos limites da fronteira nestas
áreas e a questão da escala. O estabelecimento do governo metropolitano, como um distinto nível
de governo, dentro de um sistema multi-esfera (nacional, estado/província, metropolitano e local)
é um desafio enfrentado pelas três cidades, sendo Toronto e Vancouver mais consolidadas e
Montreal com mais dificuldades para efetivar a sua instituição metropolitana de governo. A
autonomia das cidades-região (como Sancton chama as regiões metropolitanas) e como os
limites destas unidades territoriais devem ser determinados – particularmente à luz das mudanças
demográficas urbanas, da expansão física das cidades, dos déficits de serviços e de infra-
estrutura e os desafios da governança multi-esfera – são alguns temas tratados por Sancton
(2008) .

A questão da autonomia governamental de uma metrópole “requer que haja um território
delimitado por fronteiras” e Sancton (2008, p.3) argumenta que a metrópole autônoma está
fracassada desde o início, pois as “fronteiras nunca serão estáticas, não serão aceitas por todos,
e sempre serão contestadas”. Assim o autor aponta que as fronteiras fatalmente limitam a
capacidade das cidades de terem um governo metropolitano, devido a número de problemas
práticos, mesmo que este governo autônomo fosse desejado. Um exemplo seria qual o processo
utilizado para determinar e negociar estes limites? O autor identifica vários critérios e cada um
leva para um resultado diferente e são dinâmicos.

Fischler et al (2004), afirmam que mesmo que os governos das províncias de Ontário e Quebec
tinham o poder de redesenhar as municipalidades, não o fizeram. Buscaram estabelecer
procedimentos onde municipalidades locais poderiam decidir ou ter acesso às revisões do status
quo territorial.

Outro tema em discussão se refere às amalgamações ocorridas no Canadá. Para Boudreau et al
(2009) a amalgamação foi vista como uma solução mágica para a governança municipal moderna
e se tornaram uma característica cultural canadense quando comparada a soluções de
fragmentação contínua ao sul da fronteira (Estados Unidos). Tanto a amalgamação quanto a
fragmentação, os autores afirmam, foram soluções implementadas em nome da austeridade fiscal
e do neoliberalismo.
3 Formação da estrutura institucional metropolitana

3.1 Antecedentes

3.1.1 Toronto

Toronto, a principal cidade global do Canadá e mais populosa, produz 20% do PIB. É uma cidade
onde o seu centro urbano predomina nas ações metropolitanas e não nos subúrbios. Está
inserida em uma área bem maior que a região metropolitana, o Greater Golden Horseshoe5, na
parte sul da província de Ontário.

Em 1954 formou-se a municipalidade regional Metropolitan Toronto (Metro Toronto) com 13
governos de esfera local. Foi um passo de grande visão para a época quando o governo da
província de Ontário promulgou o Ato Municipal da Região Metropolitana de Toronto, que
estabelecia o primeiro sistema federativo vertical de governança municipal na América do Norte
(SMITH, 2007). Este corpo regional tinha responsabilidade pelo planejamento, financiamento e
implementação de uma infra-estrutura e serviços. Seu controle era sobre decisões de
planejamento quanto ao uso do território, transporte e rede de esgotamento sanitário. Em 1967,
os 13 municípios originais foram consolidados em apenas seis municípios, através de
amalgamações, dentro dos limites jurisdicionais do Metro Toronto, e alguns serviços como serviço
social e segurança foram transferidos ao nível metropolitano (GOLDEN; SLACK, 2006, p.32-34).

Em 1998 ocorreu uma amalgamação, quando se consolidou o Metropolitan Toronto, a nova
“mega-city” com seis governos locais constitutivos e uma estrutura de conselhos comunitários.
Segundo Golden e Slack (2006), esta reestruturação não foi resultado de uma iniciativa local, mas
foi imposto pelo governo da província por meio do Bill 103, the City of Toronto Act, 1996.

Para Boudreau et al (2009), a amalgamação de Toronto foi a única forma desta cidade assumir
suas novas responsabilidades para com o bem estar e custos sociais. Smith (2007) considera que
a razão dada para esta amalgamação foi menos desperdício, evitar a duplicação de serviços,
mais eficiência nos custos e menos burocratas6. Brinco (2009, p.239) aponta que a criação da
nova Cidade de Toronto despertou uma forte oposição tanto da parte da população como dos
políticos locais e que mesmo após o resultado dos referendos realizados, apontando para uma
formal rejeição à proposta da fusão, o governo da província impôs o seu intento resultando em
uma imposição da nova estrutura governamental. A área metropolitana é denominada de Greater
Toronto Area - GTA e foi estabelecido um conselho com 44 conselheiros e o prefeito de Toronto.

5
    Para compreender a criação desta região e o planejamento para seu desenvolvimento, a referência á a Lei de 2005,
Places to Grow Act, onde é exposta a visão até 2031, do governo de Ontário para esta região, a fim de “construir
comunidades mais fortalecidas e prósperas, pelo gerenciamento do crescimento desta região até 2031 (MINISTRY OF
PUBLIC INFRASTRUCTURE RENEWAL, 2006).
6
    Smith (2007) aponta que esta redução de custos não ocorreu e que há indícios que a amalgamação tenha
desencadeado uma escalada de custos, bem como o aumento no número de servidores.
3.1.2 Montreal

A cidade de Montreal engloba a maior porção da ilha de Montreal sendo o mais importante
município da região, com 1,5 milhão de habitantes. A cidade tem um dos índices mais altos de
pobreza do país (FONTAN et al, 2009). Montreal perdeu seu status de primazia no sistema
urbano canadense nos anos 1970 para Toronto. Hoje é um grande centro financeiro e de alta
tecnologia e está ligada às redes globais francófonas (BOUDREAU et al, 2007).

O Montreal Urban Community- MUC foi criado em 1970. Em 2000 ocorreu uma fusão de 28
municípios da Ilha de Montreal imposta pelo governo da província de Quebec. Em 2006, 15
municípios da Ilha, mais um, saíram da fusão, de-amalgamaram (demerged), depois de um
referendo, e assim um número de municípios da fusão recuperaram sua independência, apesar
de estarem dominados pela instituição do conselho que abrange a ilha.

Portanto a ilha é governada como uma unidade e os subúrbios fora desta estão fragmentados em
um grande número de municípios (aproximadamente 80), agrupados sob regiões que se
estendem bem além dos limites da área metropolitana Existe um conselho de abrangência
metropolitana, a Comunidade Metropolitana de Montreal (CMM – Communauté Métropolitaine de
Montréal) – que tem pouco poder e atua como observador e consultor de políticas em uma escala
de esfera metropolitana (SHEARMUR; MOTTE, 2009). A CMM teve início com o Partido
Quebecois, com o intuito de cortar as despesas, partilhando o ônus fiscal, mais sensível aos
interesses da cidade central. Smith (2007) aponta algumas questões que levaram a criação da
CMM: a grande discrepância entre os serviços municipais, padrões e taxas tanto na IIha de
Montreal, como na região. Montreal gostaria de ter uma fatia maior das taxas suburbanas e
assim convenceu o governo de Quebec para que fizesse a fusão.

Hoje a estrutura metropolitana de Montreal conta com um conselho, a Comunidade Metropolitana
de Montreal- CMM, com 64 conselheiros, o prefeito da cidade de Montreal, 19 conselhos distritais
(borough councils), com 39 conselheiros e um prefeito eleito para cada bairro.

3.1.3 Vancouver

Uma cidade internacional, Vancouver é a terceira maior metrópole do Canadá, com uma área
urbana de rápido crescimento. O porto de Vancouver é o segundo mais movimentado da América
do Norte e o mais movimentado da costa oeste das Américas. A base econômica do Lower
Mainland é cada vez mais orientada para o setor de serviços, com serviços corporativos e
pessoais,incluindo setores como turismo e a industria cinematográfica (SMITH;OBERLAND,
2006).

No início da década de 1900 foram criados conselhos e distritos com propósitos específicos para
o sistema de esgoto e drenagem, água, hospitais e planejamento, com o mínimo envolvimento da
província (de British Columbia). Em 1911, Vancouver e três municípios adjacentes formam um
Conselho. Entre 1965 e 1967 foi criado um sistema distrital regional (de duas esferas, voluntário)
para toda a província. O Distrito Regional da Grande Vancouver (GVRD- Greater Vancouver
Regional District), renomeado Metro Vancouver em 2007, foi criado em 1967.

3.2 Criação das instituições metropolitanas

A tabela 1, mostra o nome da instituição metropolitana referente a cada uma da três cidades, ano
de criação, número de municípios e sua representatividade.As três áreas metropolitanas tem suas
agências, conselhos e comissões que preenchem funções especializadas.

Tabela 1- Municípios envolvidos e representatividade

Região             Municípios            Representatividade                Órgãos e agências da própria
metropolitan       envolvidos                                              região metropolitana
a e ano de
criação
GTA        –       6 governos locais     1 prefeito e 44 conselheiros      -Greater           Toronto
Greater            constituintes                                           Transportation
Toronto                                                                    Authority(GTTA)      2006
Area- 1998                                                                 ;Metrolinx.em 2007
CMM          -     82                    1      prefeito       e      64   -Secrétariat
Communaut          municipalidades       conselheiros.19 conselhos    de   d’agglomération (2007)
é                  em cinco regiões      bairros e 39 conselheiros    de
                                                                           -5              comissões
Métropolitain      administrativas       bairros.19     prefeitos     de
                                                                           correspondentes          às
e          de                            bairros(LE BLANC, 2007)
                                                                           5regiões administrativas
Montréal     -
                                         Dois corpos: Conselho e
2001                                                                       -Agriculture         Advisor
                                         Comitê Executivo (Conselho
                                                                           Committee
                                         da aglomeração tem 15
                                         membros(eleitos do Conselho       Agence metropolitaine de
                                         do CMM), mais 14 prefeitos(       transport(AMT)
                                         e mais um representante
                                         adicional) e é dirigido pelo
                                         Prefeito de Montreal. O
                                         Comitê Executivo tem 8
                                         membros.
GVRD      -         20                   Conselho    de     diretores:     -    Água,    esgoto e
Greater            municipalidades e     Prefeitos e conselheiros da       drenagem(Greater
Vancouver          duas áreas não        região                            Vancouver Sewage and
Regional           incorporadas                                            Drainage System)
District    -                                                              -Água( Greater Vancouver
1965.    Em                                                                Water System)
2007,
                                                                           -Habitação(Metro
mudança do
                                                                           Vancouver        Housing
nome para
                                                                           Corporation)
Metro
          7
Vancouver .                                                                -Transporte(Greater
                                                                           Vancouver Transportation
                                                                           Authority- Translick,1998)


Fonte: Boudreau et al, 2007. Le Blanc, 2007.Smith; Oberlander, 2006. Schoemaker, 2007. Smith, 2007.


7
    Em 2008 o ministério de serviços comunitários da província não “permitiu” esta mudança de nome, preferindo “Metro
Vancouver Regional District”. Mesmo assim o nome Metro Vancouver continua, apesar do não reconhecimento formal
provincial (SMITH; STEWART, 2009, p.290).
A tabela 2 mostra a densidade populacional em cada uma das três regiões metropolitanas.


Tabela 2 - População e área (2001)
Região metropolitana                 População(milhões    Área(km2)       Densidade(hab/km2)
                                     de habitantes)
GTA – Greater Toronto Area           4,682,897            5,902,74        793.3
CMM          -     Communauté        3,426,350            4,07.35         846,6
Métropolitaine de Montréal
GVRD - Greater          Vancouver    1,986,965            2,878.52        690,3
Regional District

Fonte: CMM, 2006. Metrovancouver. Toronto City Planning, 2007.



4 Atribuições do planejamento: princípios, objetivos e responsabilidades

4.1 Toronto

O Plano Estratégico do Conselho é o plano oficial de Toronto, sendo consolidado em agosto de
2007. Tem a sustentabilidade como conceito central, baseada na equidade social e inclusão,
proteção do meio-ambiente, boa governança e formação da cidade. O conceito de
sustentabildade, segundo este plano, encoraja o processo de tomada de decisões de longo prazo,
sendo democrático, participatório e respeitoso para com todas as partes interessadas. O Plano
tem recomendações para um período de 30 anos, em vez de se planejar para o ano fiscal
seguinte ou a mudança do Conselho.

Este plano tem quatro diretrizes de princípios básicos onde são estabelecidos os eixos para os
benefícios que Toronto possa vir a ter: uma cidade de diversidade e oportunidade; uma cidade de
beleza; uma cidade de conectividade e uma cidade de liderança e administração (TORONTO
CITY PLANNING, 2007).

O Metro Toronto é responsável pelo tratamento de esgoto, água, principais rodovias regionais,
transporte   público,    assistência    social,   policiamento,     ambulância,   parques   regionais   e
planejamento regional. As municipalidades mantém sua autonomia e são responsáveis por ruas
locais, recreação, parques locais, centros comunitários, coleta de lixo Há outros serviços
compartilhados com o Metro como remoção de neve, moradia para idosos, creches e limpeza de
ruas (SMITH, 2007).

4.2 Montreal

Em setembro de 2003 o Conselho da CMM adotou um documento de visão estratégica para o
desenvolvimento econômico, social e ambiental da área metropolitana. Esta visão delineou como
se tornaria a CMM pelo ano de 2006, se forem tomadas determinadas ações. Ressalta quatro
eixos: uma comunidade competitiva, uma comunidade atrativa, uma comunidade interdependente
e uma comunidade responsável (CMM, 2005).

Em 2005 foi aprovado o Plano de Desenvolvimento Econômico com o fim de “tornar Montreal uma
das mais competitivas áreas metropolitanas da América do Norte” (CMM, 2005). A CMM
estabelece em seu plano, quatro objetivos que se referem a: 1) prover uma visão comum e
compartilhada, seguida de um plano de desenvolvimento econômico consistente e uso do solo e
um plano de desenvolvimento a fim de tornar a região internacionalmente competitiva; 2)
assegurar um desenvolvimento harmônico e equitativo, através do território da CMM provendo um
ambiente de qualidade de vida para os cidadãos da região; 3) estabelecer um sistema financeiro
real baseado nas fontes de renda diversas a fim de financiar atividades metropolitanas e
atividades municipais em setores específicos.; 4) harmonizar as políticas e programas           de
organização regional e governamental com as atividades da CMM (CMM, 2005).

A CMM tem jurisdição sobre os seguintes itens: planejamento territorial; desenvolvimento
econômico; promoção das artes e cultura; habitação social e acessível; instalações, infra-
estrutura, serviços e atividades de importância metropolitana; transporte público e rede de vias
arteriais metropolitana; planejamento de resíduos sólidos; qualidade do ar e águas residuais.Inclui
a proteção dos espaços azuis e verdes (CMM, 2006).

4.3 Vancouver

O LRSP - Livable Region Strategic Plan é a estratégia de crescimento da região de Vancouver
aprovada em 1996. Sua autoridade repousa em sua posição como um pacto para o
desenvolvimento aprovadas por unanimidade pelas municipalidades, em vez de quaisquer
incentivos específicos, os desincentivos ou outra política (policy teeth) com a capacidade de
garantir seu cumprimento. Em 2005, o GVRD fez uma revisão do LRSP.

De acordo com Smith e Oberlander (2006) a região tem um histórico de sustentabilidade em seu
planejamento o que deve em parte sua história de sucesso como instituição metropolitana.Uma
delas é o Sustainable Region Initiative (SRI) adotada pelo MetroVancouver em 2002 como “um
arcabouço para a tomada de decisões ,assim como um mecanismo pelo qual os princípios da
sustentabilidade podem mudar idéias em ações”(METROVANCOUVER, s.d.).

O Metro Vancouver está empenhado em: prestação de serviços de utilidade essenciais (água
potável, tratamento de esgoto, reciclagem e eliminação do lixo) economicamente e eficazmente
numa base regional, manter e melhorar a qualidade de vida na região, através da gestão e
planejamento do crescimento e desenvolvimento e proteção da qualidade do ar e espaços verdes
(METROVANCOUVER, s.d.).
5 Articulações: relações entre as esferas governamentais

5.1 Governo federal e as municipalidades

O governo federal do Canadá não exerce nenhum papel de supervisão sobre os governos locais.
Há situações em que o governo federal assina contratos com as municipalidades, havendo
acordo quanto às responsabilidades financeiras e gerenciais (YOUNG, 2009, p.119). Devido a
problemas de reestruturação, tensão fiscal e pressões demográficas, as municipalidades
canadenses exigiram apoio e reconhecimento do governo federal. Ao que este respondeu com
iniciativas como programas para construção de infraestrutura, com fundos dos três níveis de
governo, em 1993. Iniciativas no triênio 2003-2006, quanto ao sistema de trânsito, taxas de venda
federais, assim como assuntos que se referem aos sem-teto, aborígenes urbanos, economia
social e pobreza, envolveram o nível federal, municipal e grupos comunitários (YOUNG, 2009,
p.123-4).



5.2 Instituições metropolitanas com as municipalidades e província

A expandida cidade de Toronto é ainda pequena para gerenciar o transporte regional e o
planejamento do uso do solo, assim é gerenciada pela província. Para Smith (2007) o governo
Metro Toronto é geralmente visto como um modelo de sucesso de coordenação intermunicipal,
tendo conseguido o objetivo do seu mandato: lidar com os assuntos de água e esgotos, construir
novas escolas, construir rodovias e melhorar transporte público, fornecer de maneira justa os
serviços sociais na região e estabelecer o planejamento regional. Por outro lado, a criação da
Comissão Metro com eleição direta em 1988 houve uma distância das municipalidades,
resultando na diminuição da cooperação intermunicipal. Assim, o crescimento da Área da Grande
Toronto diminuiu a importância do governo Metro. Young (2009) aponta para a criação do Office
of Greater Toronto Area pelo governo de Ontário bem como planejamento de políticas para a área
do Greater Golden Horseshoe que inclui o Censo Metropolitano de Área de Toronto dentre outros.

Vemos que em Ontário a abordagem das relações entre província e municípios não é uniforme.
Uma grande mudança foi a aprovação de uma nova legislação para a cidade de Toronto, o
Stronger City of Toronto for a Stronger Ontario Act que trata a maior cidade da província de
maneira diferenciada, tendo seu próprio regime de governo. Esta legislação criada em 2005, de
acordo com Siegel (2009, p.25) confere a cidade de Toronto um maior poder que anteriormente,
para legislar, aumentar as receitas e se organizar para a prestação de serviços 8.




8
    Com essa legislação a cidade ganha uma nova autonomia para estabelecer horário para abertura e fechamento de
bares e comércio, maior controle sobre a aparência e design de edifícios(como cobertura verde), licença e legislação
para empresas e taxar impostos sobre álcool,tabaco e divertimentos” (BOUDREAU et al, 2009, p.81).
Em Montreal o núcleo da cidade faz parte do Conseil d’Agglomération que proporciona serviços
importantes para todas as municipalidades da ilha, bem como a Comunidade Metropolitana de
Montreal(CMM), que cobre toda a conurbação de Montreal e é responsável pelo transporte,
infraestrutura, promoção e planejamento.

O GVRD encoraja a cooperação intermunicipal e é flexível quanto à opção das municipalidades
para funções particulares (YOUNG, 2009). O governo da província intervém em Vancouver
quanto as Olimpíadas de Inverno 2010 e quanto ao interesse na infraestrutura do Pacific
Getaway.



6 A governança no governo local

6.1 Forças de influência e parcerias

Para Young (2009, p.115) existe uma tendência clara, mas contestada para contratação de
serviços e a formação de parcerias público-privadas. Apesar dos governos locais terem
autonomia para isto, há uma regulação por parte das províncias para isto, quanto a qualificação e
treinamento dos profissionais.

6.1.1 Toronto

Antes da amalgamação de 1997 havia uma clara divisão entre a parte central de Toronto – que
tinha uma cultura participativa (130 comitês, numerosas reuniões públicas,forças-tarefa, consultas
públicas).Esta cultura participativa contrastava com o clima político nos subúrbios, conhecidos
por apoiarem o governo conservativo provincial. Com a política institucional e territorial de 1997-8
(da amalgamação)modificou profundamente o clima sócio-político de Toronto, abrindo caminho
para uma nova elite sócio-política neoliberal, cujos olhos se volvem para o crescimento e
competitividade internacional, mas também abriu as portas para as críticas da esquerda ao
regime reformista (Boudreau, 2005).Daí as forças de resistência contra e a favor da amalgamação
.

6.1.2 Montreal

As elites econômicas não dominam a agenda da cidade-região. O domínio é do governo
provincial. Há uma concorrência feroz entre as elites associadas à área central ( a própria cidade
de Montreal) e as municipalidades suburbanas. Brinco (2009) aponta para o fato da
transformação da estrutura produtiva, com a perda de importância dos setores tradicionais e a
ascensão dos segmentos modernos alavancados pelas novas tecnologias, ter acarretado
desdobramentos significativos no território, com o fortalecimento das municipalidades da periferia.
6.1.3 Vancouver

Há uma ênfase nas publicações do GVRD de um equilíbrio entre esforços em conjunto e
autonomia (ARTIBISE et al, 2004, p.207) .É colocada a questão dos interesses dos parceiros
individuais e coletivos, a resolução dos problemas através do diálogo, do desenvolvimento e
consenso regional, e da colaboração das ações(KELLAS, 2007). Por toda a sua história e com
mandatos de planos que vão desde o poder hierárquico da legislação até nenhum poder através
de um papel consultivo, o GVRD sempre confiou mais em processos informais do que em
relacionamentos legais. Fazendo isto, desenvolveu uma função de planejamento com nenhum
poder formal, mas de grande influência “(ARTIBISE et al, 2004, p.209-10).



7 Conclusão e considerações finais

Observa-se que as relações intergovernamentais no Canadá têm as articulações provincial-
municipal de um lado e federal-provincial de outro. O governo federal canadense não tem poder
de influência em cidades maiores e não há incentivos a relações federais-municipais fixas. Há,
porém um “ministro político” nomeado para cada província pelo governo federal que lida
diretamente com as questões de cada uma destas três metrópoles.

De acordo com Young (2009), na teoria, os governos das províncias têm completa autoridade
sobre os governos locais. Na prática, raramente os estatutos municipais podem modificar. Quanto
às decisões municipais sobre planejamento, uso do solo e outros assuntos podem se recorrer às
agências provinciais ou a ministérios e cortes provinciais ou federais.

Quanto à institucionalização das amalgamações tanto da CMM – Comunidade Metropolitana de
Montreal, quanto da GTA- Greater Toronto Area, foi de cima para baixo, ou seja, topdown, pelos
governos provinciais. Aprende-se a lição de que “forçar aglutinação municipal não é popular e
produtivo” pois “o custo per capita tende a aumentar e não diminuir a partir de um certo tamanho
da cidade” (SMITH, 2007).

Entretanto, houve um avanço quanto às iniciativas em Toronto no que se refere a legislação
Stronger City of Toronto Act de 2005, pois mostra um sentimento de parceria maior que o de
paternalismo exercido anteriormente pela província.O governo Metro Toronto foi tido como
modelo de sucesso de coordenação intermunicipal. Smith (2007) descreve que conseguiu o
objetivo do seu mandato: lidar com os assuntos de água e esgotos, construir novas escolas,
construir rodovias e melhorar transporte público, fornecer de maneira justa os serviços sociais na
região, estabelecer o planejamento regional. Mas que distante das municipalidades a partir da
criação da Comissão Metro com eleição direta em 1988, o que resultou na diminuição da
cooperação intermunicipal. Com o crescimento da Área da Grande Toronto diminuiu a importância
do governo Metro e, portanto a região da Grande Toronto se torna em alguns casos muito
pequena ou muito grande, havendo a necessidade de iniciativas por parte da província de Ontário
ou cooperação intermunicipal quanto aos problemas regionais.

Quanto a Montreal, a CMM é ainda recente, envolvendo um grande número de municipalidades.
Esta instituição metropolitana tem segundo Brinco (2009) um escasso poder executivo e uma
pequena representatividade, o que tem dificultado sobremaneira o cumprimento de sua missão.A
Comunidade Metropolitana de Montreal        carece da necessária representatividade política, do
poder executivo(a força política do prefeito de Montreal é fraca) e dos recursos financeiros para
cobrir tal missão.

Há uma articulação entre as esferas verticais de governo. Nas regiões metropolitanas a questão
da escala responde de diferentes formas. De acordo com Young (2009, p.111) a autoridade
regional flexível que existe na Greater Vancouver Regional District (GVRD) mostra que apesar da
cidade de Vancouver em si ter 23,5% da população da sua área metropolitana (CMA- Census
Metropolitan Area), a GVRD gerencia o abastecimento de água, esgoto, parques e resíduos
sólidos e o planejamento para o transporte regional, uso do solo e qualidade do ar. Grande parte
do sucesso do GVRD se deve a natureza de sua constituição (abastecimento de água, drenagem
e esgoto) e a sua consolidação durante seu gerenciamento (planejamento, revisão, publicação de
relatos anuais). A questão da cooperação voluntária com a de Vancouver tem falhas, pois há uma
falta de perspectiva regional e a divisão de custos na região se torna limitada.

Vimos que as três metrópoles de um mesmo país têm histórias e culturas distintas e formas
diferentes de estabelecerem suas instituições metropolitanas. Houve um certo avanço de uma
década para cá na articulação entre as esferas de governos para a resolução dos problemas
metropolitanos o que é uma das faces da governança.Em trabalhos futuros há a necessidade de
se compreender melhor uma outra face – a cooperação entre as esferas de governo, identificando
os atores e analisando o seu papel e seus interesses na governança urbana.



8 Referências bibliográficas

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  • 1. Relações de Governança Metropolitana: Contexto em Três Cidades Globais Canadenses Resumo: Este trabalho visa identificar algumas abordagens de governança territorial em três metrópoles do Canadá: Toronto, Montreal e Vancouver. São expostos os aspectos estruturais e institucionais metropolitanos, as atribuições do planejamento nas áreas metropolitanas, a governança no governo local e as interrelações entre as esferas governamentais destas metrópoles com os governos das províncias e federal. Por meio destes quadros comparativos chega-se a interpretações e conclusões que realçam a compreensão das questões emergentes na agenda metropolitana destas regiões.
  • 2. 1. Introdução Com um complexo sistema de federalismo, que necessita uma cooperação em seus vários níveis entre governos e instituições sociais, a governança no Canadá ultrapassou os limites da política municipal. Algumas regiões metropolitanas passaram por processos de amalgamação e anexação1, reforçando a agenda urbana canadense como escala regional e as discussões no que se refere aos limites da fronteira metropolitana. O Canadá tem uma população estimada (em 2010) de aproximadamente 33 milhões e meio de pessoas, sendo o segundo maior país do mundo em extensão territorial. Três de suas principais cidades, Toronto, Montreal e Vancouver, que comportam uma esfera de gestão metropolitana, considerando suas áreas de jurisdição, concentram uma população crescente no país (a maior parte provém da imigração). Estas três metrópoles detêm quase um quarto do contingente populacional do país (23 %) com cerca de oito milhões de pessoas. 2 Esta pesquisa foca nas três “cidades globais” canadenses no que se refere a: a) aspectos da estrutura institucional metropolitana e jurisdição (antecedentes municípios envolvidos e representatividade); b) atribuições do planejamento territorial (princípios, objetivos e responsabilidades); c) articulações entre as esferas de ação governamental e d) o papel da governança no governo local (forças de influência e parcerias), a fim de compreender melhor o processo de governança metropolitana que ocorre em Toronto, Montreal e Vancouver no contexto canadense. O princípio da governança territorial lida com as relações das populações com o poder e na sua capacidade de criar representações, a capacidade de atores públicos e privados construir um consenso organizacional, envolvendo atores diferentes para definir objetivos e tarefas em comum, para concordarem na contribuição de cada parceiro a fim de atingir os objetivos previamente definidos e concordarem em uma visão comum para o futuro de seu território (DAVOUDI et al, 2008). 1 Os termos amalgamação e anexação são usados no contexto urbano canadense. Amalgamação (amalgamation ou merge) se refere à fusão de duas ou mais municipalidades como um todo em uma nova entidade. Anexação (annexation) é a mudança das fronteiras de duas cidades, aumentando a base territorial de uma e reduzindo a de outra, ou seja, tomando uma parte de uma municipalidade por outra. Para Fischler et al,(2004), a anexação ocorre quando um município urbano em rápido crescimento requer mais espaço para desenvolvimento e “anexa” parte de municipalidades rurais adjacentes. Segundo Boudreau et al (2009) os termos consolidação, aglutinação, fusão(merger) e amalgamação se referem ao processo de redesenhar as fronteiras administrativas e políticas, pela eliminação das unidades menores e as amarrando a uma entidade maior. Fusão (merger) é um termo preferido em Montreal, pois é a tradução direta do termo em francês fusion. 2 As três cidades globais canadenses, termo cunhado por Brenner; Keil, 2006 (apud BOUDREAU et al, 2009)
  • 3. 2. A governança territorial em pauta: discurso no contexto canadense O Canadá é um estado federativo e tem 10 províncias e três territórios, onde as competências dos governos federais e das províncias têm papéis complementares. Esta divisão de responsabilidades entre as duas instâncias é delineada na Lei Constitucional (Constitutional Act) de 1982 que incorpora a Lei da América do Norte Britânica de 1867 (British North American Act). Enquanto há setores que se sobrepõem nestas instâncias, há outros que não se pensava na época da Lei de 1867 até serem criados (como aeroportos e telecomunicações). Assim, as províncias têm um poder exclusivo sobre todos os assuntos que inclui governo local, educação, saúde e ordenamento do território (FISCHLER et al, 2004). Segundo Smith e Oberlander (2006), na época da ordem constitucional do Canadá, três quartos da população viviam em áreas rurais e de agricultura, quando o local era realmente local, no que se referia a construção de escolas ou mantendo as vias públicas (exceto pelos “King’s highways”). Conforme o censo decenal de 2001, 80% dos canadenses vivem em centros urbanos (acima de 10.000 pessoas). E 51% da população, de acordo com o mesmo censo de 2001, estão concentradas em apenas quatro grandes regiões metropolitanas: a área estendida centrada em Toronto do Greater Golden Horseshoe situada na parte sul da província de Ontário; Montreal e entorno; o corredor Calgary–Edmonton e Vancouver – baixo continente (Lower Mainland) e parte sul da Ilha de Vancouver. Fischler et al (2004) afirmam que todas as autoridades locais e municipalidades3, assim como qualquer outra unidade de governo sub-provincial, obtém seus poderes e jurisdição das províncias e não são reconhecidas pela Constituição como entidades distintas e separadas de outros níveis governamentais. As províncias estão livres para criar, alterar ou eliminar qualquer aspecto dentro do sistema de seu governo local. Como cada província tem uma geografia, cultura e tradições diferentes, os problemas e procedimentos em relação aos limites (fronteiriços) do governo local variam por todo o país. Young (2009) aponta que o governo municipal na federação canadense tem uma história de sucesso, por ter governos locais estáveis que administram uma grande gama de serviços e provêem bens públicos dentro de uma estrutura de responsabilidade democrática. O autor considera que no sistema atual do país, mesmo com pressões e algumas mudanças substanciais, a sua essência permanece inalterada – os governos das províncias controlam as municipalidades e o que fazem4. É interessante notar, quanto ao aspecto cultural, há dois mundos linguísticos no Canadá: os francófonos relacionados à província de Quebec (onde se encontra Montreal), e todo o restante 3 Cerca de 3.700 governos locais no Canadá. 4 As municipalidades canadenses estão na posição de ser uma competência dos governos das províncias, “creatures of the provinces” (YOUNG, 2009, p.107).
  • 4. do país, anglófono (inclusive a província de Ontário, onde a cidade de Toronto está inserida). Isto causa interpretações quanto aos termos metropolitano (metropolitain em Quebec) e regional(regional em Ontário) que remetem ao mesmo significado, ou seja, a coordenação de cidades e seus subúrbios no entorno . Estas duas províncias dominantes estão presentes na federação do Canadá, antes mesmo da Confederação de 1867, e apesar de fazerem parte do mesmo sistema urbano continental norte-americano, variam radicalmente em suas economias políticas, culturas políticas e debates ideológicos (BOUDREAU et al, 2007). São as duas províncias mais populosas e urbanizadas do país. Os temas de discussão relacionados à governança nas regiões metropolitanas incluem autores como Meligrana (2004) e Sancton (2008) que tratam do ajuste dos limites da fronteira nestas áreas e a questão da escala. O estabelecimento do governo metropolitano, como um distinto nível de governo, dentro de um sistema multi-esfera (nacional, estado/província, metropolitano e local) é um desafio enfrentado pelas três cidades, sendo Toronto e Vancouver mais consolidadas e Montreal com mais dificuldades para efetivar a sua instituição metropolitana de governo. A autonomia das cidades-região (como Sancton chama as regiões metropolitanas) e como os limites destas unidades territoriais devem ser determinados – particularmente à luz das mudanças demográficas urbanas, da expansão física das cidades, dos déficits de serviços e de infra- estrutura e os desafios da governança multi-esfera – são alguns temas tratados por Sancton (2008) . A questão da autonomia governamental de uma metrópole “requer que haja um território delimitado por fronteiras” e Sancton (2008, p.3) argumenta que a metrópole autônoma está fracassada desde o início, pois as “fronteiras nunca serão estáticas, não serão aceitas por todos, e sempre serão contestadas”. Assim o autor aponta que as fronteiras fatalmente limitam a capacidade das cidades de terem um governo metropolitano, devido a número de problemas práticos, mesmo que este governo autônomo fosse desejado. Um exemplo seria qual o processo utilizado para determinar e negociar estes limites? O autor identifica vários critérios e cada um leva para um resultado diferente e são dinâmicos. Fischler et al (2004), afirmam que mesmo que os governos das províncias de Ontário e Quebec tinham o poder de redesenhar as municipalidades, não o fizeram. Buscaram estabelecer procedimentos onde municipalidades locais poderiam decidir ou ter acesso às revisões do status quo territorial. Outro tema em discussão se refere às amalgamações ocorridas no Canadá. Para Boudreau et al (2009) a amalgamação foi vista como uma solução mágica para a governança municipal moderna e se tornaram uma característica cultural canadense quando comparada a soluções de fragmentação contínua ao sul da fronteira (Estados Unidos). Tanto a amalgamação quanto a fragmentação, os autores afirmam, foram soluções implementadas em nome da austeridade fiscal e do neoliberalismo.
  • 5. 3 Formação da estrutura institucional metropolitana 3.1 Antecedentes 3.1.1 Toronto Toronto, a principal cidade global do Canadá e mais populosa, produz 20% do PIB. É uma cidade onde o seu centro urbano predomina nas ações metropolitanas e não nos subúrbios. Está inserida em uma área bem maior que a região metropolitana, o Greater Golden Horseshoe5, na parte sul da província de Ontário. Em 1954 formou-se a municipalidade regional Metropolitan Toronto (Metro Toronto) com 13 governos de esfera local. Foi um passo de grande visão para a época quando o governo da província de Ontário promulgou o Ato Municipal da Região Metropolitana de Toronto, que estabelecia o primeiro sistema federativo vertical de governança municipal na América do Norte (SMITH, 2007). Este corpo regional tinha responsabilidade pelo planejamento, financiamento e implementação de uma infra-estrutura e serviços. Seu controle era sobre decisões de planejamento quanto ao uso do território, transporte e rede de esgotamento sanitário. Em 1967, os 13 municípios originais foram consolidados em apenas seis municípios, através de amalgamações, dentro dos limites jurisdicionais do Metro Toronto, e alguns serviços como serviço social e segurança foram transferidos ao nível metropolitano (GOLDEN; SLACK, 2006, p.32-34). Em 1998 ocorreu uma amalgamação, quando se consolidou o Metropolitan Toronto, a nova “mega-city” com seis governos locais constitutivos e uma estrutura de conselhos comunitários. Segundo Golden e Slack (2006), esta reestruturação não foi resultado de uma iniciativa local, mas foi imposto pelo governo da província por meio do Bill 103, the City of Toronto Act, 1996. Para Boudreau et al (2009), a amalgamação de Toronto foi a única forma desta cidade assumir suas novas responsabilidades para com o bem estar e custos sociais. Smith (2007) considera que a razão dada para esta amalgamação foi menos desperdício, evitar a duplicação de serviços, mais eficiência nos custos e menos burocratas6. Brinco (2009, p.239) aponta que a criação da nova Cidade de Toronto despertou uma forte oposição tanto da parte da população como dos políticos locais e que mesmo após o resultado dos referendos realizados, apontando para uma formal rejeição à proposta da fusão, o governo da província impôs o seu intento resultando em uma imposição da nova estrutura governamental. A área metropolitana é denominada de Greater Toronto Area - GTA e foi estabelecido um conselho com 44 conselheiros e o prefeito de Toronto. 5 Para compreender a criação desta região e o planejamento para seu desenvolvimento, a referência á a Lei de 2005, Places to Grow Act, onde é exposta a visão até 2031, do governo de Ontário para esta região, a fim de “construir comunidades mais fortalecidas e prósperas, pelo gerenciamento do crescimento desta região até 2031 (MINISTRY OF PUBLIC INFRASTRUCTURE RENEWAL, 2006). 6 Smith (2007) aponta que esta redução de custos não ocorreu e que há indícios que a amalgamação tenha desencadeado uma escalada de custos, bem como o aumento no número de servidores.
  • 6. 3.1.2 Montreal A cidade de Montreal engloba a maior porção da ilha de Montreal sendo o mais importante município da região, com 1,5 milhão de habitantes. A cidade tem um dos índices mais altos de pobreza do país (FONTAN et al, 2009). Montreal perdeu seu status de primazia no sistema urbano canadense nos anos 1970 para Toronto. Hoje é um grande centro financeiro e de alta tecnologia e está ligada às redes globais francófonas (BOUDREAU et al, 2007). O Montreal Urban Community- MUC foi criado em 1970. Em 2000 ocorreu uma fusão de 28 municípios da Ilha de Montreal imposta pelo governo da província de Quebec. Em 2006, 15 municípios da Ilha, mais um, saíram da fusão, de-amalgamaram (demerged), depois de um referendo, e assim um número de municípios da fusão recuperaram sua independência, apesar de estarem dominados pela instituição do conselho que abrange a ilha. Portanto a ilha é governada como uma unidade e os subúrbios fora desta estão fragmentados em um grande número de municípios (aproximadamente 80), agrupados sob regiões que se estendem bem além dos limites da área metropolitana Existe um conselho de abrangência metropolitana, a Comunidade Metropolitana de Montreal (CMM – Communauté Métropolitaine de Montréal) – que tem pouco poder e atua como observador e consultor de políticas em uma escala de esfera metropolitana (SHEARMUR; MOTTE, 2009). A CMM teve início com o Partido Quebecois, com o intuito de cortar as despesas, partilhando o ônus fiscal, mais sensível aos interesses da cidade central. Smith (2007) aponta algumas questões que levaram a criação da CMM: a grande discrepância entre os serviços municipais, padrões e taxas tanto na IIha de Montreal, como na região. Montreal gostaria de ter uma fatia maior das taxas suburbanas e assim convenceu o governo de Quebec para que fizesse a fusão. Hoje a estrutura metropolitana de Montreal conta com um conselho, a Comunidade Metropolitana de Montreal- CMM, com 64 conselheiros, o prefeito da cidade de Montreal, 19 conselhos distritais (borough councils), com 39 conselheiros e um prefeito eleito para cada bairro. 3.1.3 Vancouver Uma cidade internacional, Vancouver é a terceira maior metrópole do Canadá, com uma área urbana de rápido crescimento. O porto de Vancouver é o segundo mais movimentado da América do Norte e o mais movimentado da costa oeste das Américas. A base econômica do Lower Mainland é cada vez mais orientada para o setor de serviços, com serviços corporativos e pessoais,incluindo setores como turismo e a industria cinematográfica (SMITH;OBERLAND, 2006). No início da década de 1900 foram criados conselhos e distritos com propósitos específicos para o sistema de esgoto e drenagem, água, hospitais e planejamento, com o mínimo envolvimento da província (de British Columbia). Em 1911, Vancouver e três municípios adjacentes formam um Conselho. Entre 1965 e 1967 foi criado um sistema distrital regional (de duas esferas, voluntário)
  • 7. para toda a província. O Distrito Regional da Grande Vancouver (GVRD- Greater Vancouver Regional District), renomeado Metro Vancouver em 2007, foi criado em 1967. 3.2 Criação das instituições metropolitanas A tabela 1, mostra o nome da instituição metropolitana referente a cada uma da três cidades, ano de criação, número de municípios e sua representatividade.As três áreas metropolitanas tem suas agências, conselhos e comissões que preenchem funções especializadas. Tabela 1- Municípios envolvidos e representatividade Região Municípios Representatividade Órgãos e agências da própria metropolitan envolvidos região metropolitana a e ano de criação GTA – 6 governos locais 1 prefeito e 44 conselheiros -Greater Toronto Greater constituintes Transportation Toronto Authority(GTTA) 2006 Area- 1998 ;Metrolinx.em 2007 CMM - 82 1 prefeito e 64 -Secrétariat Communaut municipalidades conselheiros.19 conselhos de d’agglomération (2007) é em cinco regiões bairros e 39 conselheiros de -5 comissões Métropolitain administrativas bairros.19 prefeitos de correspondentes às e de bairros(LE BLANC, 2007) 5regiões administrativas Montréal - Dois corpos: Conselho e 2001 -Agriculture Advisor Comitê Executivo (Conselho Committee da aglomeração tem 15 membros(eleitos do Conselho Agence metropolitaine de do CMM), mais 14 prefeitos( transport(AMT) e mais um representante adicional) e é dirigido pelo Prefeito de Montreal. O Comitê Executivo tem 8 membros. GVRD - 20 Conselho de diretores: - Água, esgoto e Greater municipalidades e Prefeitos e conselheiros da drenagem(Greater Vancouver duas áreas não região Vancouver Sewage and Regional incorporadas Drainage System) District - -Água( Greater Vancouver 1965. Em Water System) 2007, -Habitação(Metro mudança do Vancouver Housing nome para Corporation) Metro 7 Vancouver . -Transporte(Greater Vancouver Transportation Authority- Translick,1998) Fonte: Boudreau et al, 2007. Le Blanc, 2007.Smith; Oberlander, 2006. Schoemaker, 2007. Smith, 2007. 7 Em 2008 o ministério de serviços comunitários da província não “permitiu” esta mudança de nome, preferindo “Metro Vancouver Regional District”. Mesmo assim o nome Metro Vancouver continua, apesar do não reconhecimento formal provincial (SMITH; STEWART, 2009, p.290).
  • 8. A tabela 2 mostra a densidade populacional em cada uma das três regiões metropolitanas. Tabela 2 - População e área (2001) Região metropolitana População(milhões Área(km2) Densidade(hab/km2) de habitantes) GTA – Greater Toronto Area 4,682,897 5,902,74 793.3 CMM - Communauté 3,426,350 4,07.35 846,6 Métropolitaine de Montréal GVRD - Greater Vancouver 1,986,965 2,878.52 690,3 Regional District Fonte: CMM, 2006. Metrovancouver. Toronto City Planning, 2007. 4 Atribuições do planejamento: princípios, objetivos e responsabilidades 4.1 Toronto O Plano Estratégico do Conselho é o plano oficial de Toronto, sendo consolidado em agosto de 2007. Tem a sustentabilidade como conceito central, baseada na equidade social e inclusão, proteção do meio-ambiente, boa governança e formação da cidade. O conceito de sustentabildade, segundo este plano, encoraja o processo de tomada de decisões de longo prazo, sendo democrático, participatório e respeitoso para com todas as partes interessadas. O Plano tem recomendações para um período de 30 anos, em vez de se planejar para o ano fiscal seguinte ou a mudança do Conselho. Este plano tem quatro diretrizes de princípios básicos onde são estabelecidos os eixos para os benefícios que Toronto possa vir a ter: uma cidade de diversidade e oportunidade; uma cidade de beleza; uma cidade de conectividade e uma cidade de liderança e administração (TORONTO CITY PLANNING, 2007). O Metro Toronto é responsável pelo tratamento de esgoto, água, principais rodovias regionais, transporte público, assistência social, policiamento, ambulância, parques regionais e planejamento regional. As municipalidades mantém sua autonomia e são responsáveis por ruas locais, recreação, parques locais, centros comunitários, coleta de lixo Há outros serviços compartilhados com o Metro como remoção de neve, moradia para idosos, creches e limpeza de ruas (SMITH, 2007). 4.2 Montreal Em setembro de 2003 o Conselho da CMM adotou um documento de visão estratégica para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da área metropolitana. Esta visão delineou como se tornaria a CMM pelo ano de 2006, se forem tomadas determinadas ações. Ressalta quatro
  • 9. eixos: uma comunidade competitiva, uma comunidade atrativa, uma comunidade interdependente e uma comunidade responsável (CMM, 2005). Em 2005 foi aprovado o Plano de Desenvolvimento Econômico com o fim de “tornar Montreal uma das mais competitivas áreas metropolitanas da América do Norte” (CMM, 2005). A CMM estabelece em seu plano, quatro objetivos que se referem a: 1) prover uma visão comum e compartilhada, seguida de um plano de desenvolvimento econômico consistente e uso do solo e um plano de desenvolvimento a fim de tornar a região internacionalmente competitiva; 2) assegurar um desenvolvimento harmônico e equitativo, através do território da CMM provendo um ambiente de qualidade de vida para os cidadãos da região; 3) estabelecer um sistema financeiro real baseado nas fontes de renda diversas a fim de financiar atividades metropolitanas e atividades municipais em setores específicos.; 4) harmonizar as políticas e programas de organização regional e governamental com as atividades da CMM (CMM, 2005). A CMM tem jurisdição sobre os seguintes itens: planejamento territorial; desenvolvimento econômico; promoção das artes e cultura; habitação social e acessível; instalações, infra- estrutura, serviços e atividades de importância metropolitana; transporte público e rede de vias arteriais metropolitana; planejamento de resíduos sólidos; qualidade do ar e águas residuais.Inclui a proteção dos espaços azuis e verdes (CMM, 2006). 4.3 Vancouver O LRSP - Livable Region Strategic Plan é a estratégia de crescimento da região de Vancouver aprovada em 1996. Sua autoridade repousa em sua posição como um pacto para o desenvolvimento aprovadas por unanimidade pelas municipalidades, em vez de quaisquer incentivos específicos, os desincentivos ou outra política (policy teeth) com a capacidade de garantir seu cumprimento. Em 2005, o GVRD fez uma revisão do LRSP. De acordo com Smith e Oberlander (2006) a região tem um histórico de sustentabilidade em seu planejamento o que deve em parte sua história de sucesso como instituição metropolitana.Uma delas é o Sustainable Region Initiative (SRI) adotada pelo MetroVancouver em 2002 como “um arcabouço para a tomada de decisões ,assim como um mecanismo pelo qual os princípios da sustentabilidade podem mudar idéias em ações”(METROVANCOUVER, s.d.). O Metro Vancouver está empenhado em: prestação de serviços de utilidade essenciais (água potável, tratamento de esgoto, reciclagem e eliminação do lixo) economicamente e eficazmente numa base regional, manter e melhorar a qualidade de vida na região, através da gestão e planejamento do crescimento e desenvolvimento e proteção da qualidade do ar e espaços verdes (METROVANCOUVER, s.d.).
  • 10. 5 Articulações: relações entre as esferas governamentais 5.1 Governo federal e as municipalidades O governo federal do Canadá não exerce nenhum papel de supervisão sobre os governos locais. Há situações em que o governo federal assina contratos com as municipalidades, havendo acordo quanto às responsabilidades financeiras e gerenciais (YOUNG, 2009, p.119). Devido a problemas de reestruturação, tensão fiscal e pressões demográficas, as municipalidades canadenses exigiram apoio e reconhecimento do governo federal. Ao que este respondeu com iniciativas como programas para construção de infraestrutura, com fundos dos três níveis de governo, em 1993. Iniciativas no triênio 2003-2006, quanto ao sistema de trânsito, taxas de venda federais, assim como assuntos que se referem aos sem-teto, aborígenes urbanos, economia social e pobreza, envolveram o nível federal, municipal e grupos comunitários (YOUNG, 2009, p.123-4). 5.2 Instituições metropolitanas com as municipalidades e província A expandida cidade de Toronto é ainda pequena para gerenciar o transporte regional e o planejamento do uso do solo, assim é gerenciada pela província. Para Smith (2007) o governo Metro Toronto é geralmente visto como um modelo de sucesso de coordenação intermunicipal, tendo conseguido o objetivo do seu mandato: lidar com os assuntos de água e esgotos, construir novas escolas, construir rodovias e melhorar transporte público, fornecer de maneira justa os serviços sociais na região e estabelecer o planejamento regional. Por outro lado, a criação da Comissão Metro com eleição direta em 1988 houve uma distância das municipalidades, resultando na diminuição da cooperação intermunicipal. Assim, o crescimento da Área da Grande Toronto diminuiu a importância do governo Metro. Young (2009) aponta para a criação do Office of Greater Toronto Area pelo governo de Ontário bem como planejamento de políticas para a área do Greater Golden Horseshoe que inclui o Censo Metropolitano de Área de Toronto dentre outros. Vemos que em Ontário a abordagem das relações entre província e municípios não é uniforme. Uma grande mudança foi a aprovação de uma nova legislação para a cidade de Toronto, o Stronger City of Toronto for a Stronger Ontario Act que trata a maior cidade da província de maneira diferenciada, tendo seu próprio regime de governo. Esta legislação criada em 2005, de acordo com Siegel (2009, p.25) confere a cidade de Toronto um maior poder que anteriormente, para legislar, aumentar as receitas e se organizar para a prestação de serviços 8. 8 Com essa legislação a cidade ganha uma nova autonomia para estabelecer horário para abertura e fechamento de bares e comércio, maior controle sobre a aparência e design de edifícios(como cobertura verde), licença e legislação para empresas e taxar impostos sobre álcool,tabaco e divertimentos” (BOUDREAU et al, 2009, p.81).
  • 11. Em Montreal o núcleo da cidade faz parte do Conseil d’Agglomération que proporciona serviços importantes para todas as municipalidades da ilha, bem como a Comunidade Metropolitana de Montreal(CMM), que cobre toda a conurbação de Montreal e é responsável pelo transporte, infraestrutura, promoção e planejamento. O GVRD encoraja a cooperação intermunicipal e é flexível quanto à opção das municipalidades para funções particulares (YOUNG, 2009). O governo da província intervém em Vancouver quanto as Olimpíadas de Inverno 2010 e quanto ao interesse na infraestrutura do Pacific Getaway. 6 A governança no governo local 6.1 Forças de influência e parcerias Para Young (2009, p.115) existe uma tendência clara, mas contestada para contratação de serviços e a formação de parcerias público-privadas. Apesar dos governos locais terem autonomia para isto, há uma regulação por parte das províncias para isto, quanto a qualificação e treinamento dos profissionais. 6.1.1 Toronto Antes da amalgamação de 1997 havia uma clara divisão entre a parte central de Toronto – que tinha uma cultura participativa (130 comitês, numerosas reuniões públicas,forças-tarefa, consultas públicas).Esta cultura participativa contrastava com o clima político nos subúrbios, conhecidos por apoiarem o governo conservativo provincial. Com a política institucional e territorial de 1997-8 (da amalgamação)modificou profundamente o clima sócio-político de Toronto, abrindo caminho para uma nova elite sócio-política neoliberal, cujos olhos se volvem para o crescimento e competitividade internacional, mas também abriu as portas para as críticas da esquerda ao regime reformista (Boudreau, 2005).Daí as forças de resistência contra e a favor da amalgamação . 6.1.2 Montreal As elites econômicas não dominam a agenda da cidade-região. O domínio é do governo provincial. Há uma concorrência feroz entre as elites associadas à área central ( a própria cidade de Montreal) e as municipalidades suburbanas. Brinco (2009) aponta para o fato da transformação da estrutura produtiva, com a perda de importância dos setores tradicionais e a ascensão dos segmentos modernos alavancados pelas novas tecnologias, ter acarretado desdobramentos significativos no território, com o fortalecimento das municipalidades da periferia.
  • 12. 6.1.3 Vancouver Há uma ênfase nas publicações do GVRD de um equilíbrio entre esforços em conjunto e autonomia (ARTIBISE et al, 2004, p.207) .É colocada a questão dos interesses dos parceiros individuais e coletivos, a resolução dos problemas através do diálogo, do desenvolvimento e consenso regional, e da colaboração das ações(KELLAS, 2007). Por toda a sua história e com mandatos de planos que vão desde o poder hierárquico da legislação até nenhum poder através de um papel consultivo, o GVRD sempre confiou mais em processos informais do que em relacionamentos legais. Fazendo isto, desenvolveu uma função de planejamento com nenhum poder formal, mas de grande influência “(ARTIBISE et al, 2004, p.209-10). 7 Conclusão e considerações finais Observa-se que as relações intergovernamentais no Canadá têm as articulações provincial- municipal de um lado e federal-provincial de outro. O governo federal canadense não tem poder de influência em cidades maiores e não há incentivos a relações federais-municipais fixas. Há, porém um “ministro político” nomeado para cada província pelo governo federal que lida diretamente com as questões de cada uma destas três metrópoles. De acordo com Young (2009), na teoria, os governos das províncias têm completa autoridade sobre os governos locais. Na prática, raramente os estatutos municipais podem modificar. Quanto às decisões municipais sobre planejamento, uso do solo e outros assuntos podem se recorrer às agências provinciais ou a ministérios e cortes provinciais ou federais. Quanto à institucionalização das amalgamações tanto da CMM – Comunidade Metropolitana de Montreal, quanto da GTA- Greater Toronto Area, foi de cima para baixo, ou seja, topdown, pelos governos provinciais. Aprende-se a lição de que “forçar aglutinação municipal não é popular e produtivo” pois “o custo per capita tende a aumentar e não diminuir a partir de um certo tamanho da cidade” (SMITH, 2007). Entretanto, houve um avanço quanto às iniciativas em Toronto no que se refere a legislação Stronger City of Toronto Act de 2005, pois mostra um sentimento de parceria maior que o de paternalismo exercido anteriormente pela província.O governo Metro Toronto foi tido como modelo de sucesso de coordenação intermunicipal. Smith (2007) descreve que conseguiu o objetivo do seu mandato: lidar com os assuntos de água e esgotos, construir novas escolas, construir rodovias e melhorar transporte público, fornecer de maneira justa os serviços sociais na região, estabelecer o planejamento regional. Mas que distante das municipalidades a partir da criação da Comissão Metro com eleição direta em 1988, o que resultou na diminuição da cooperação intermunicipal. Com o crescimento da Área da Grande Toronto diminuiu a importância do governo Metro e, portanto a região da Grande Toronto se torna em alguns casos muito
  • 13. pequena ou muito grande, havendo a necessidade de iniciativas por parte da província de Ontário ou cooperação intermunicipal quanto aos problemas regionais. Quanto a Montreal, a CMM é ainda recente, envolvendo um grande número de municipalidades. Esta instituição metropolitana tem segundo Brinco (2009) um escasso poder executivo e uma pequena representatividade, o que tem dificultado sobremaneira o cumprimento de sua missão.A Comunidade Metropolitana de Montreal carece da necessária representatividade política, do poder executivo(a força política do prefeito de Montreal é fraca) e dos recursos financeiros para cobrir tal missão. Há uma articulação entre as esferas verticais de governo. Nas regiões metropolitanas a questão da escala responde de diferentes formas. De acordo com Young (2009, p.111) a autoridade regional flexível que existe na Greater Vancouver Regional District (GVRD) mostra que apesar da cidade de Vancouver em si ter 23,5% da população da sua área metropolitana (CMA- Census Metropolitan Area), a GVRD gerencia o abastecimento de água, esgoto, parques e resíduos sólidos e o planejamento para o transporte regional, uso do solo e qualidade do ar. Grande parte do sucesso do GVRD se deve a natureza de sua constituição (abastecimento de água, drenagem e esgoto) e a sua consolidação durante seu gerenciamento (planejamento, revisão, publicação de relatos anuais). A questão da cooperação voluntária com a de Vancouver tem falhas, pois há uma falta de perspectiva regional e a divisão de custos na região se torna limitada. Vimos que as três metrópoles de um mesmo país têm histórias e culturas distintas e formas diferentes de estabelecerem suas instituições metropolitanas. Houve um certo avanço de uma década para cá na articulação entre as esferas de governos para a resolução dos problemas metropolitanos o que é uma das faces da governança.Em trabalhos futuros há a necessidade de se compreender melhor uma outra face – a cooperação entre as esferas de governo, identificando os atores e analisando o seu papel e seus interesses na governança urbana. 8 Referências bibliográficas ARTIBISE.F.J; CAMERON, K;SEELIG,J.H. Metropolitan Organization in Greater Vancouver: “Do it yourself” Regional Government. In:PHARES, Donald (ed). Metropolitan Governance without Metropolitan Government?, 2004, p.209-210. BOUDREAU, J.-A. Toronto’s Reformist Regime, Municipal Amalgamation and Participatory Democracy. In: BOOTH, Philip; JOUVE, Bernard(eds.). Metropolitan Democracies: Transformations of the State and urban Policy in Canada, France and Great Britain.Ashgate,2005, p. 99-116. BOUDREAU, J.-A; HAMEL, P; JOUVE, B; KEIL,R. New State Spaces in Canada: Metropolitanization in Montreal and Toronto Compared. Urban Geography, v.28, n. 1, p. 30-53, 2007.
  • 14. BOUDREAU, J-A; KEIL, R; YOUNG, D. Changing Toronto: governing urban neoliberalism. Toronto: University of Toronto Press, 2009. BRINCO, Ricardo. Gestão metropolitana no Canadá: um estudo de casos. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 30, n.1, p. 229-256, maio 2009. CMM, Communauté Métropolitaine de Montréal. Charting Our International Future: A Competitive Metropolitan Montreal Region. Economic Development Plan. February, 2005. Disponível em: < http://www.cmm.qc.ca/pde/documents/pde05_english.pdf> Acesso: 7 de fevereiro de 2010. CMM, Communauté Métropolitaine de Montréal. Site oficial. 2006. Disponível em: <http://www.cmm.qc.ca/index.php?id=333>. Acesso: 27 de janeiro de 2010. DAVOUDI, S; EVANS, N; GOVERNA, F; SANTANGELO, M. Territorial governance in the making: Approaches, methodologies, practices. Boletín de la A.G.E, n.46, 2008. FISCHLER,R; MELIGRANA,J; WOLFE, J.M. Canadian Experiences of Local Government Boundary Reform: A Comparison of Quebec and Ontario . In: MELIGRANA, John(ed.).Redrawing Local Government Boundaries: an international study of politics, procedures and decisions. Vancouver: UBC Press, 2004, p.75-105. FONTAN, Jean-Marc;HAMEL,Pierre;MORIN, Richard; SHRAGGE, Eric. Community Organizations and Local Governance in a Metropolitan Region. Urban Affairs Review. 2009, v. 44, n.6, p. 832- 857. GOLDEN,Ann; SLACK,Enid. Urban Governance Reform in Toronto. In: RAZIN, E; SMITH, P.J. (eds.).Metropolitan Governing: Canadian Cases, Comparative Lessons. Jerusalem: The Hebrew University Magnes Press, 2006, p.29-74. KELLAS, Hugh. Gerenciamento Metropolitano na Metro Vancouver. Apresentação no workshop Mecanismos de governança metropolitana para colaboração institucional e participação da sociedade civil. Projeto Novos Consórcios Públicos para Governança Metropolitana. Vancouver,14-17 de outubro de 2007. Disponível em < http://www.chs.ubc.ca/consortia/events/eventsP-20071014.html>. Acesso: 21 de fevereiro de 2010. LE BLANC, Marie-france. Two Tales of Municipal Reorganization: Toronto's and Montreal's Diverging Paths Toward Regional Governance and Social Sustainability. Canadian Journal of Political Science. Toronto: Sep 2006. V. 39, n. 3; p. 571-591. MELIGRANA, John. “Introduction” .In: MELIGRANA, John (Ed.). Re-Drawing Local Government Boundaries: An International Study of Politics, Procedures and Decisions Vancouver: UBC Press, 2004.
  • 15. METROVANCOUVER.Site.Disponível em: <http://www.metrovancouver.org/Pages/default.aspx>. Acesso: 27 de janeiro de 2010. MINISTRY OF PUBLIC INFRASTRUCTURE RENEWAL, Ontario. Growth Plan for the Greater Golden Horseshoe. Places to Grow Act, 2005. Queen’s Printer for Ontario, 2006. SANCTON, Andrew. The Limits of Boundaries: Why City-regions Cannot be Self-Governing. Montreal: McGill-Queen’s University Press, 2008. SCHOEMAKER, Heather. Sociedade Civil dentro da Governança Metropolitana: Metro Vancouver, Relações Corporativas. Apresentação no workshop Mecanismos de governança metropolitana para colaboração institucional e participação da sociedade civil. Projeto Novos Consórcios Públicos para Governança Metropolitana. Vancouver, 14-17 de outubro de 2007. Disponível em < http://www.chs.ubc.ca/consortia/events/eventsP-20071014.html>. Acesso: 21 de fevereiro de 2010. SHEARMUR, Richard; MOTTE, Benjamin. Weak Ties that Bind: Do Commutes Bind Montreal's Central and Suburban Economies? Urban Affairs Review, v.44, n.4, p. 490, 2009. SIEGEL, David. Ontario. In: SANCTON, Andrew; YOUNG, Robert (eds.). Foundations of Governance: Municipal Government in Canada’s Provinces. Toronto: University of Toronto Press, 2009. p. 20-69. SMITH, Deming. Colaboração intermunicipal por meio do agrupamento forçado: um resumo das experiências recentes em Toronto e Montreal. Apresentação no workshop Mecanismos de governança metropolitana para colaboração institucional e participação da sociedade civil. Projeto Novos Consórcios Públicos para Governança Metropolitana. Vancouver, 14-17 de outubro de 2007. Disponível em < http://www.chs.ubc.ca/consortia/events/eventsP-20071014.html>. Acesso: 21 de fevereiro de 2010. SMITH, P.J; OBERLANDER, H.P. Greater Vancouver: l’exception canadienne metropolitaine. In: RAZIN, E; SMITH, P.J. (eds.). Metropolitan Governing: Canadian Cases, Comparative Lessons. Jerusalem: The Hebrew University Magnes Press, 2006, p.147-183. SMITH, P.J; STEWART,K. British Columbia. In: SANCTON, A; YOUNG, R. (eds.). Foundations of Governance: Municipal Governments in Canada’s Provinces. Toronto: University of Toronto Press, 2009, p. 282-313. TORONTO CITY PLANNING. Toronto Official Plan. Chief Planner Ted Tyndorf. Consolidated August 2007, City of Toronto. YOUNG, Robert. Canada. In: STEYTLER, Nico (ed.). Local Government and Metropolitan Regions in Federal Systems. A Global Dialogue on Federalism, v.6, McGill- Queens University Press, 2009,p.106-135.