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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
1 
Walter Teixeira Lima Junior 
Amanda Luiza S. Pereira 
Rafael Vergili 
Projeto neofluxo: 
atuação eleitoral do Astroturfing 
no fluxo informativo na Web
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
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CAPA: Rodrigo Rojas 
EDITORAÇÃO: Cláudia Mª Arantes de Assis Saar 
REVISÃO: Luiz Antonio Ferreira Nazareth Junior 
L628p Lima Junior, Walter Teixeira 
Projeto Neofluxo: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo 
informativo na WEB / Walter Teixeira Lima Junior, Amanda 
Luiza Silva Pereira, Rafael Vergili. São Paulo: [s.n.], 2014. 
190 p. 
Livro do projeto de pesquisa Neofluxo financiado pelo 
CNPq - Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência 
Cognitiva do Programa de Pós-Graduação em Comunicação 
Social da Universidade Metodista de São Paulo. 
Bibliografia 
ISBN 978-85-918033-0-9 
1. Projeto Neofluxo 2. Tecnologia 3. Comunicação 4. 
Ciência cognitiva 5. Astroturfing 6. Banco de dados 7. Cabos 
virtuais I. Pereira, Amanda Luiza Silva II. Vergili, Rafael III. 
TECCCOG IV. Título 
CDD 302.2 
Agradecimentos 
Ao CNPq, pelo apoio financeiro para que o projeto Neofluxo 
se tornasse viável entre os anos de 2010 e 2012. 
Aos pesquisadores que participaram da elaboração do pro-jeto 
enviado ao CNPq: Diólia de Carvalho Graziano e Liráucio 
Girardi Júnior. 
Na parte estrutural, ao Maurício Maia, por desenvolver o 
software para coletar os dados fundamentais para o projeto, bem 
como pela colaboração no curso Hacking Journalism no Neo-fluxo. 
Dhiego Piroto Calado, que contribuiu com a normalização 
dos dados coletados e auxílio técnico na busca de padrões espe-cíficos. 
E Fábio Luís Pereira, que solucionou diversos bugs que 
surgiram no decorrer do processo e, em especial, na fase final do 
projeto. 
Aos participantes do Seminário de Pesquisadores do Neo-fluxo, 
momento em que diversos problemas metodológicos foram 
discutidos e resolvidos. Entre os presentes, destaque para: Cris-tiano 
Sant’Ana, Daniel Paiva, Douglas de Souza Soares, Erica 
Peroni e Helena Navarrete. 
Aos responsáveis pela capa, diagramação e revisão geral do 
e-book: Rodrigo Rojas, Cláudia Maria Arantes de Assis Saar e 
Luiz Antonio Ferreira Nazareth Junior, respectivamente. 
Aos pesquisadores que colaboraram intensamente em diver-sas 
etapas do projeto, como a elaboração da metodologia, pesqui-sa 
bibliográfica, além da coleta e análise de dados: André Rosa, 
Camila Zanqueta, Carolina Ribeiro Pietoso, Caru Schwingel, Di-ego 
Sieg, Jeferson de Carvalho, Mariana Pascutti e Tiago César 
2 3
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Agostinho. 
Enfim, de maneira geral, agradecemos (Walter Teixeira Lima 
Junior, Amanda Luiza dos Santos Pereira e Rafael Vergili) a todos 
os integrantes do antigo grupo de pesquisa Teccred (Tecnologia, 
Comunicação e Cultura de Rede), instalado na Faculdade Cásper 
Líbero, precursor do atual Tecccog (Tecnologia, Comunicação e 
Ciência Cognitiva), na Universidade Metodista de São Paulo, e 
interessados na temática, que, direta ou indiretamente, contribuí-ram 
para que os objetivos do projeto fossem atingidos e a presen-te 
obra pudesse ser redigida. 
Sumário 
Prefácio.......................................................................................9 
Introdução...............................................................................16 
Capítulo 1 - Agenda Setting e correlações 
conceituais no projeto Neofluxo .............................................21 
Opinião Pública, Esfera Pública e 
Deliberação............................................................................ 22 
Agendamento da mídia e Fluxo de comunicação 
em dois estágios......................................................................26 
Astroturfing..............................................................................30 
Capítulo 2 - Metodologia Interdisciplinar do 
Projeto Neofluxo .....................................................................34 
Procedimentos metodológicos da primeira 
fase do Projeto........................................................................35 
Critérios para definição de palavras-chave/ 
expressões no primeiro turno........................................39 
Informações sobre as bases de dados 
constituídas a partir dos canais oficiais dos 
candidatos no primeiro turno ..................................................41 
4 5
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Problemas no monitoramento de canais oficiais e 
coleta de palavras-chave.........................................................43 
Mudanças nos procedimentos metodológicos 
para o segundo turno e possíveis soluções 
para projetos futuros................................................................44 
Aperfeiçoamento dos procedimentos 
para coleta de palavras-chave................................................45 
Verificação de palavras-chave mais citadas 
em todo o período Eleitoral ....................................................47 
Procedimentos adotados na segunda fase 
do projeto para a identificação de Astrotufings........................49 
Capítulo 3 - Apresentação de resultados 
de agendamento de Astroturfings............................................52 
Resultados: Dilma Rousseff.....................................................52 
Resultados: José Serra............................................................69 
Resultados: Marina Silva..........................................................82 
Considerações finais................................................................94 
Referências ..........................................................................100 
Apêndices.............................................................................105 
Apêndices 
1. Apêndice A - Palavras-chave mais 
citadas na análise da candidata Dilma 
Rousseff (PT).......................................................................105 
2. Apêndice B - Palavras-chave mais 
citadas na análise do candidato José 
Serra (PSDB)........................................................................143 
3. Apêndice C - Palavras-chave mais 
citadas na análise da candidata Marina 
Silva (PV) .............................................................................183 
6 7
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Prefácio 
Antes da campanha eleitoral para presidente da República 
esquentar, em 2010, a mídia já apostava em um uso diferenciado 
da Internet em relação às últimas eleições, especialmente a partir 
da percepção de que Barack Obama se beneficiou de ferramentas 
online em 2008. “Ferramentas como o my.barackobama.com 
ajudaram a organizar eventos reais e revolucionaram a captação 
de recursos para a campanha, que atingiu US$ 500 milhões com 
3,2 milhões de doadores”, lembra o G11, apresentando ainda uma 
opinião do especialista Gil Giardelli: políticos e partidos ainda 
não sabem usar a Internet. “A campanha está caminhando para ter 
profissionais trabalhando para criar embates”. 
O texto salienta a presença dos pré-candidatos à presidência 
no Twitter, bem como ações preliminares. O PT comemorava 
uma parceria internacional: a consultoria Blue State Digital, 
que disponibilizaria um software para identificar os militantes 
mais engajados – dado que foi esquecido durante a campanha. 
Paralelamente, a campanha de Dilma Rousseff recrutou o 
ativista do projeto Software Livre Brasil, Marcelo Branco, como 
responsável pelas redes sociais e pela plataforma colaborativa 
Dilma na Rede – mas sem interferência nos conteúdos oficiais 
compartilhados em blogs ou sites oficiais. Lembra ainda os 
hábitos notívagos do candidato do PSDB, José Serra, acostumado 
a postar em seu perfil durante a madrugada. Apresenta também 
o publicitário Sérgio Caruso, então responsável pela campanha 
tucana, declarando que “o principal objetivo é gerar conversas”. 
1 “Avanço da internet condiciona campanha de presidenciáveis”. 27/05/2010, 12h46. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/05/avanco-da- 
internet-condiciona-campanha-de-presidenciaveis.html>. Acesso em: 23 dez. 2012 
8 9
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“Gerar conversas”, “divulgar a agenda” e “refletir a 
campanha”: estas eram as possibilidades elencadas pelos 
observadores deste movimento. Um levantamento preliminar 
realizado pela consultoria E. Life em maio de 2010 concluiu, a 
partir de postagens e conexões entre perfis, os presidenciáveis 
poderiam “atingir até 5 milhões de usuários em uma semana”2. 
Simultaneamente à divulgação dos dados, o presidente da E.Life, 
Alessandro Barbosa Lima, ponderava que esta constatação 
quantitativa talvez não fosse tão relevante. “O poder de 
multiplicação das mensagens nas redes sociais é enorme, mas 
não se pode considerar nenhum resultado de pesquisa no Twitter 
como conclusivo no resultado das eleições”. 
A coordenadora de redes sociais de José Serra foi Soninha 
Francine. Segundo a declaração de Marcelo Branco durante 
participação no MediaOn3, a presença dela amenizou o clima bélico 
da campanha tucana: “Antes de a Soninha entrar na campanha do 
Serra, a situação era pior, com o disparo de correntes de e-mails 
de dentro da própria campanha. Depois isso melhorou um pouco, 
mas tivemos práticas condenáveis”. 
A visão de que políticos e partidos desconhecem as 
ferramentas, somada à distância da população brasileira da 
web, mascararam estratégias em mídias sociais em adjetivos 
como “aventureiros” ou “confusos”. A começar com o próprio 
Marcelo Branco, que criou constrangimentos com a coordenação 
da campanha ao externar posturas contrárias a do núcleo central, 
2 “No Twitter, presidenciáveis atingem até 5 milhões de usuários em 7 dias”. 
03/06/2010, 12h14. Disponível em: <http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/ 
noticia/2010/06/no-twitter-presidenciaveis-atingem-ate-5-milhoes-de-usuarios-em-7- 
dias.html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
3 “MediaOn: baixaria na campanha presidencial esquenta debate”. 10/11/2012, 13h47. 
Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/mediaon-baixaria-na-campanha-presidencial- 
esquenta-debate,d8181bafdc2ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD. 
html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
além de reclamar o fato de não ser consultado sobre assuntos 
relacionados à presença de Dilma Rousseff na Internet4. “Do 
confronto das candidaturas adversárias, sobram acusações de 
baixarias a uso de robôs para amplificar mensagens de apoio. As 
críticas são até amenas perto do fogo amigo que Branco recebe 
de políticos do PT”.5 Branco também questionou os critérios e 
filtros para que palavras-chave ficassem entre as mais populares – 
os chamados trending topics. Ainda assim, terminou a campanha 
como um dos responsáveis pela organização dos debates no 
Twitter, comemorando ainda o fato de ter, muitas vezes, pautado 
a mídia.6 
Em julho de 2010, a Revista Época7 descreveu dois episódios 
pontuais nesse sentido. Um deles cometido pela pré-candidata 
Marina Silva, “que por não saber como funciona o retweet 
[quando um usuário reenvia a mensagem de outro], entrou em 
uma discussão religiosa com alguns usuários”. O segundo, mais 
agressivo, relata a mudança de identidade de um perfil com 30 mil 
followers, que de uma hora para outra, passou a representar um 
candidato a deputado federal. O episódio reforçou boatos sobre a 
venda de contas populares, isto é, com muitos seguidores. 
As denúncias de mau uso da rede foram além, constatando a 
4 “Após sucessivas gafes, Marcelo Branco será mantido na coordenação de Dilma 
com poder esvaziado”. 23/07/2010, 0h00. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/ 
eleicoes-2010/apos-sucessivas-gafes-marcelo-branco-sera-mantido-na-coordenacao-de- 
dilma-com-poder-esvaziado-5010135>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
5 “Guerrilheiro da internet petista incomoda caciques”, 23/08/2010, 0h00. Disponível 
em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2308201009.htm>. Acesso em: 23 
dez. 2012. 
6 “Estrategista faz balanço da campanha de Dilma nas redes sociais”. 02/11/2012. 
Disponível em: <http://eleicoesnarede.blog.terra.com.br/2010/11/01/estrategista-faz-balanco- 
da-campanha-de-dilma-pela-twitcam>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
7 “Políticos apanham do Twitter”. 08/07/2010, 16h40. Disponível em: <http:// 
revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI153750-18176,00.html>. Acesso em: 23 
dez. 2012. 
10 11
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
venda de mensagens8. Durante um dos debates entre candidatos 
na TV, “usuários com muitos seguidores receberiam dinheiro de 
candidatos para detonar adversários”. Um artigo de O Estado 
de S. Paulo, assinado por Gabriel Rossi e Aldo Fornazieri, 
resumiu as ações dos candidatos na Internet a um “debate de 
surdos”, pautado por troca de acusações mentirosas e ausência 
de uma etiqueta digital, ignorando a combinação da potência do 
meio com a qualidade do conteúdo. Mais do que isso, revelam 
desconhecimento a respeito da presença do eleitor na rede, quem 
ele influencia, por quem é influenciado, como utiliza tecnologias, 
que ações específicas deveriam ser usadas para cada nicho etc. 
A largada desta campanha se demonstra, até aqui, 
bastante estéril e imatura. Uma análise feita durante 
um período de dois meses nos possibilitou aferir, por 
exemplo, a quantidade e a qualidade das citações de 
determinadas marcas e nomes – no caso, dos candidatos 
– nas redes sociais. Já foi possível constatar a falta de 
qualificação do debate e dos conteúdos políticos e os 
ataques gratuitos que vicejam na web.9 
Ao final do primeiro turno, ficou a sensação de que candidatos 
“descobriram e abandonaram a internet”, como apontou texto da 
Revista Época10. “Alguns apareceram na web apenas para não 
parecerem obsoletos. Outros acreditaram que seriam salvos do 
8 “Contra a lei eleitoral, tuítes pagos chegam às Eleições 2010”. 27/08/2010, 09h02. 
Disponível em <http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2010/08/27/uso-de- 
tuites-pagos-por-candidatos-exige-atencao-redobrada-do-internauta-eleitor.jhtm>. 
Acesso em: 23 dez. 2012. 
9 “A internet e as eleições”. 24/07/2010, 0h00. Disponível em <http://www.estadao. 
com.br/noticias/impresso,a-internet-e-as-eleicoes,585417,0.htm>. Acesso em: 23 dez. 
2012. 
10 “As eleições na web”. 01/10/2010, 20h57. Disponível em: <http://revistaepoca. 
globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI176429-18176,00-AS+ELEICOES+NA+WEB. 
html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
anonimato do pouco tempo televisivo. A web não influenciou 
decisivamente as eleições brasileiras – principalmente a 
presidencial –, mas o uso livre de sites como o YouTube e o 
Twitter não pode ser ignorado”. De acordo com o texto, foi Serra 
quem melhor usou a ferramenta, falando de forma pessoal e 
respondendo a perguntas dos seus seguidores; mesmo assim, foi 
Dilma, quem liderou as pesquisas. Indício da força da televisão, 
segundo a reportagem. 
A força da televisão ficou óbvia após o início do 
horário gratuito eleitoral. O distanciamento da petista 
Dilma Rousseff na liderança das pesquisas só veio 
depois do início da campanha televisiva. A televisão 
também influenciou a internet: depois de aparecer em 
um debate, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda, 
virou trending topic no Twitter (a lista de assuntos 
mais comentados no site). A campanha de Plínio – que 
tem apenas 1% das intenções de voto e via de regra é 
candidato apenas para divulgar o PSOL – foi uma das 
mais comentadas na rede. 
Se a questão envolvendo arrecadações ou mesmo engajamento 
de eleitores não foi o que se esperava na campanha presidencial 
na Internet, por outro lado candidatos a eleições legislativas, 
como a candidata a deputada federal Jandira Feghali, souberam 
aproveitar a ferramenta11. O volume de mensagens postadas no 
Twitter também foi útil para compreender a reação dos usuários, 
indicando tendências positivas ou negativas12. 
11 “Candidatos reforçam atuação na internet na reta final da campanha”. 01/10/10/ 
0h00. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/eleicoes-2010/candidatos-reforcam-atuacao- 
na-internet-na-reta-final-da-campanha-4987140>. Acesso em: 23 dez.2012. 
12 “Engajamento político na rede reflete resultado das urnas”. 06/10/2010, 
11h14. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/planoseideias/2010/10/06/ 
engajamento-politico-na-rede-reflete-resultado-das-urnas/>. Acesso em: 23 dez.2012. 
12 13
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A Internet também foi decisiva para a terceira colocação 
de Marina Silva, mesmo tendo usado o serviço de uma forma 
burocrática. Em artigo publicado no blog do jornalista Ricardo 
Noblat13, a especialista Risoletta Miranda chamou o “sprint” de 
Marina, na reta final, de “tsunami digital verde” – além disso, 
destacou as menções feitas por celebridades e perfis noticiosos, o 
que contribuiu para a exposição de informações no Twitter diante 
de milhões de usuários. 
A articulação ao redor da candidata aproveitou o “Movimento 
Marina Silva”, criado em 2007 por ativistas que defendiam sua 
candidatura. Retomada a partir da campanha, seus simpatizantes 
organizaram eventos online como um “twitaço”, em 20 de julho14. 
A hashtag da ação foi decidida por meio de uma votação no Orkut, 
surpreendendo a própria candidata e indicando movimentações 
descentralizadas. 
“Não tem campanha mais feliz na web do que a de Marina. 
Ela não usa a internet para fazer ataques a nenhum outro candidato, 
é uma campanha muito propositiva”, afirmou o coordenador da 
campanha digital de Marina Silva, Caio Túlio Costa, em um 
encontro envolvendo ainda Marcelo Branco e Sérgio Caruso. 
Neste evento, em agosto de 2010, os três concordaram: não é 
possível repetir no Brasil o fenômeno Obama15. 
Em encontros semelhantes, bem como em artigos publicados 
13 “A Tsunami digital do 1° turno”. 05/10/2010, 4h46. Disponível em: <http://oglobo. 
globo.com/pais/noblat/posts/2010/10/05/a-tsunami-digital-do-1-turno-330030.asp>. 
Acesso em: 23 dez. 2012. 
14 “Marina tenta usar o Twitter para alavancar campanha”. 20/07/2012, 17h01. 
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/javoto/posts/2010/07/20/marina-tenta-usar- 
twitter-para-alavancar-campanha-309660.asp>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
15 “Assessores para web dizem que não dá para repetir fenômeno Obama”. 
12/08/2010, 17h28. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/ 
noticias/0,,OI4620195-EI15315,00-Assessores+para+web+dizem+que+nao+da+para+ 
repetir+fenomeno+Obama.html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 
após as eleições, Caio Túlio Costa concluiu que a Internet foi 
fundamental para que houvesse segundo turno nas eleições 
presidenciais. Não é tarefa simples criar uma conexão entre dados 
quantitativos do Twitter e o resultado das urnas, mas há uma 
coincidência comemorada pelos aliados da ex-senadora: 60% 
dos votos que Marina Silva conquistou se concentraram nas 100 
cidades com maior audiência na Internet16. 
André Rosa de Oliveira 
Jornalista. Docente nos cursos de Comunicação Social 
das Faculdades Integradas Rio Branco. Doutorando pela 
Universidade Metodista de São Paulo. 
16 “Internet garantiu 3º lugar de Marina nas eleições, diz consultor”. 14/04/2011, 
12h51. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2011/04/14/ 
internet-garantiu-3%C2%BA-lugar-de-marina-nas-eleicoes-diz-consultor>. Acesso 
em: 23 dez. 2012. 
14 15
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
Introdução 
O interesse sobre o papel da Web em atividades político-partidárias 
foi intensificado pelo resultado favorável a Barack 
Obama na disputa presidencial estadunidense de 2008, gerando 
inúmeros debates sobre participação, democracia e engajamento, 
dentre outros. 
Particularmente na articulação entre política e comunicação, 
a discussão acerca da relação entre velhos e novos meios também 
foi acentuada, sabendo-se que: 
A influência dos Meios de Comunicação de Massa 
(MCM) sobre o voto do eleitorado brasileiro nas 
eleições majoritárias e proporcionais tem sido objeto de 
intenso estudo e pesquisa nos últimos anos. Estruturada 
por tecnologias broadcasting, essa configuração de 
espaço midiático funciona como palco importante para 
a discussão na esfera pública de temas de relevância 
social [...] (LIMA JUNIOR, 2011, p. 138). 
Apontando o caso da campanha online de Barack Obama 
como positivo em função da combinação de diversas ferramentas, 
no estudo “Politics 2.0”: a campanha online de Barack Obama 
em 2008 concluiu-se também que: 
[...] não se destacou exatamente pelo pioneirismo 
em geral, apenas pelo pioneirismo político. Todas as 
práticas usadas por sua equipe já haviam sido testadas 
com sucesso por anunciantes via publicidade digital. O 
grande diferencial da campanha democrata, entretanto, 
foi a amplitude das ações [...] (GOMES et al., 2009, p. 
39). 
Nesse sentido, cabe destacar que as condições comunicativas 
pertinentes à conjuntura comunicacional estruturada pelos 
diferentes tipos de meios possuem particularidades, as quais 
são, minimamente, relativas à imbricação com política e, por 
conseguinte, relacionadas a aspectos contextuais macro como, 
por exemplo, fatores sociais, econômicos e tecnológicos. 
Antes mesmo do período eleitoral, havia muita expectativa e 
dúvida sobre as campanhas presidenciais online de 2010 no Brasil, 
bem como a relação das atividades na Web com as veiculações 
em MCM. 
O que foi possível acompanhar desde o início dos debates 
anteriores ao período eleitoral dizia respeito à coordenação das 
atividades online, sendo Marcelo Branco, Soninha e Juliano 
Spyer para Dilma, Serra e Marina respectivamente, e a alguns 
elementos das estratégias: mobilização da militância partidária no 
caso de Dilma, a utilização do Twitter pelo próprio candidato no 
caso de Serra e o site Movimento Marina1. 
Com o objetivo de compreender melhor as circunstâncias 
comunicacionais contíguas às campanhas online surgiu o projeto 
de pesquisa aplicada Observatório de Mídias Sociais Conectadas 
denominado Neofluxo2, elaborado pelo Grupo de Pesquisa 
Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva (Tecccog)3 
e aprovado em junho de 2010 pelo Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)4. 
Por meio de softwares produzidos e/ou combinados, o projeto 
se dedicou aos seguintes propósitos interdependentes, verificando: 
1 <http://www.movimentomarinasilva.org.br>. 
2 A metodologia interdisciplinar completa do Projeto Neofluxo pode ser observada 
mais detalhadamente no segundo capítulo do presente e-book. 
3 Anteriormente Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede (Teccred). 
4 Processo 37 AC 401509/2010-9 e o edital MCT/CNPq/MEC/CAPES nº 02/2010. 
16 17
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
(1) se mensagens dos programas televisivos dos principais 
candidatos à presidência eram utilizadas como parâmetro para 
os processos comunicativos sustentados pelo Twitter, avaliando 
também as estratégias de tais candidatos na plataforma específica, 
e (2) se havia ação de Astroturfings (usuários especializados 
que se passam por usuários comuns, por exemplo) vinculados a 
partidos ou candidatos particulares. 
A partir da elaboração de critérios valor-notícia para seleção 
de palavras-chave foi possível rastrear, coletar e armazenar as 
participações de usuários cadastrados no Twitter, formando-se 
um Banco de Dados com mais de 20 milhões de mensagens. 
O Twitter foi escolhido não só pela sua adoção por eleitores, 
candidatos e membros de campanha, mas também em função 
de seu dinamismo e de sua versatilidade no que diz respeito à 
apropriação para compartilhamento e difusão de informações, 
bem como para criação de programas independentes que possam, 
por exemplo, executar varreduras e coletas de dados publicados 
em perfis abertos5. 
Seguindo essa mesma lógica, todos os dados armazenados 
foram disponibilizados para visualização, cruzamento e 
pesquisas através da possibilidade da construção de APIs 
(Application Programming Interface - Interface de Programação 
de Aplicações)6. 
5 http://www.neofluxo.net/projeto.php#textos3 
6 http://www.neofluxo.net/api.php. Além da divulgação do projeto pelo site, da 
criação do sistema de APIS, do curso Hacking Jornalism no Neofluxo e do Seminário 
dos Pesquisadores do Neofluxo, houveram as seguintes publicações/apresentações de 
trabalho: 
- LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. NEOFLUXO: Jornalismo, base de dados e a 
construção da esfera pública interconectada. Galáxia, São Paulo, n. 21, p. 137-149, 
jun. 2011. 
- LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. Neofluxo: Jornalismo, base de dados e a construção 
da esfera pública interconectada. XXXIV Intercom, Recife, 2011. Disponível em: < 
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/R6-2733-1.pdf >. 
No que tange ao fluxo, tanto as palavras-chave, quanto 
o material coletado a partir das fontes oficiais dos candidatos 
serviram de subsídio para a efetivação de um mapeamento em 
que se verificava o ponto de partida das mensagens, ou seja, o 
caminho percorrido por elas e sua distribuição pelo Twitter7. 
Os dados armazenados foram analisados à luz do 
arcabouço teórico abarcado no primeiro capítulo deste e-book, 
especificamente Opinião Pública, Esfera Pública, Deliberação, 
Agendamento (Agenda-setting), Fluxo de comunicação em dois 
estágios (Two Steps Flow of communication) e Astroturfings. 
No segundo capítulo, aborda-se a metodologia que alicerçou 
o projeto, com detalhes da elaboração dos critérios valor-notícia 
utilizados na coleta e dos parâmetros de seleção dos dados, além 
da evolução de procedimentos metodológicos utilizados no 
segundo turno da eleição. 
O terceiro capítulo apresenta os resultados referentes ao 
agendamento, em uma comparação entre a propaganda eleitoral 
e o fluxo no Twitter dos três principais candidatos à Presidência 
da República no ano de 2010, além da identificação de possíveis 
Astroturfings. 
Nas Considerações Finais, a partir dos resultados alcançados, 
são expostas as conclusões obtidas e apresentadas as formas de 
divulgação que foram utilizadas no decorrer do processo para 
disseminar as informações de interesse público. 
Ainda que as alterações tecnológicas que contextualizam a 
temática deste estudo sejam extremamente dinâmicas, mais do 
que descrever as condições comunicacionais, o que há de mais 
- SOSTER, D.A; LIMA JUNIOR, W. T. Neofluxo: Jornalismo e base de dados. 
In:_____. Jornalismo digital: audiovisual, convergência e colaboração. Santa Cruz do 
Sul: Edunisc, 2011. 
7 http://www.neofluxo.net/projeto.php#textos2 
18 19
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
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importante nesta pesquisa é o questionamento, sustentado por 
dados, de máximas pouco produtivas para a perspectiva científica 
na Pesquisa em Comunicação e a indicação dos desafios a serem 
superados para a identificação de fluxos comunicacionais. 
CAPÍTULO 1 – AGENDA-SETTING E 
CORRELAÇÕES CONCEITUAIS NO PROJETO 
NEOFLUXO 
A análise de mensagens oriundas dos programas televisivos 
dos três principais candidatos e a identificação de usuários do 
Twitter que buscaram influenciar os fluxos comunicacionais da 
plataforma são articuladas, de maneira central, pela hipótese da 
Agenda-setting. 
Contextualizada pela interface comunicação-política, tal 
hipótese se entrelaça diretamente com a Two Steps Flow e se 
atualiza com a agregação da noção de Astroturfing e da sua 
imbricação com as tecnologias de comunicação digitais. 
Neste capítulo abordam-se, inicialmente, os aspectos 
conceituais de Opinião Pública, Esfera Pública e Deliberação, uma 
vez que influenciam as reflexões pertinentes ao Neofluxo, ainda 
que não tenham sido conceitos diretamente operacionalizados. 
Na sequência, retomam-se as hipóteses Agenda-setting e 
Two steps flow of communication em sua relação de atualização 
a partir da noção de Astroturfing, esclarecendo-se como tais 
conceitos foram operacionalizados no projeto. 
20 21
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
Opinião Pública, Esfera Pública e Deliberação 
Como apresentado mais detalhadamente no texto “Web 
e Política: entre a possibilidade de manifestações de grupos 
marginalizados e o reforço de discurso das lideranças políticas”, 
por Mariana Rezende dos Passos e Rafael Vergili (2014), com o 
surgimento da imprensa, propulsionada pela invenção da prensa 
de Gutenberg, a disseminação de informações de tornou mais 
intensa. O embate de opiniões relativas aos assuntos pertinentes 
à sociedade se dava em cafés e bares, de modo que: 
Uma imprensa que se desenvolvia a partir da politização 
do público e cuja discussão ela apenas prolongava 
continuou a ser por inteiro uma instituição desse 
mesmo público: ativa como uma espécie de mediador 
e potenciador, não mais apenas um mero órgão de 
transporte de informações e ainda não um instrumento 
da cultura consumista (HABERMAS, 1984, p. 215- 
216). 
Ao mesmo tempo em que a mídia de massa teria sido 
responsável pela transposição das barreiras de espaço e tempo, 
também depende da geração de lucro e, por isso, “[...] a própria 
imprensa se torna manipulável à medida que ela se comercializa” 
(HABERMAS, 1984, p. 217). Complementarmente à publicidade, 
se encerra na valorização da estética e ao preparo dos consumidores 
para receber uma cultura de massa (HABERMAS, 1984). 
Nesse panorama, a Esfera pública se apresenta como “uma 
rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de 
posição e opiniões, nela os fluxos comunicacionais são filtrados 
e sintetizados a ponto de se condensarem em opiniões públicas 
enfeixadas em temas específicos” (HABERMAS, 1997, p. 92). 
Dessa maneira, a Esfera pública pode ser compreendida como 
uma estrutura comunicacional que é subsidiada por interações 
privadas para promover a exposição de diferentes pontos de 
vista, cuja troca espontânea e recíproca de razões, deve resultar 
em entendimento, visto que “para preencher sua função, que 
consiste em captar e tematizar os problemas da sociedade como 
um todo, a esfera pública política tem que se formar a partir dos 
contextos comunicacionais das pessoas virtualmente atingidas” 
(HABERMAS, 1997, p. 97). 
Entrelaçada à Esfera pública, a Opinião pública se alinha 
aos debates no espaço público (SAVIGNY, 2002), uma vez que 
se constitui pelos processos comunicacionais e diálogos entre 
pessoas. Trata-se, então, de contínua mediação entre o público e o 
privado para formar um entendimento mais amplo do que aqueles 
que são derivados dos dilemas individuais e, portanto, passível de 
ser ampliado aos diferentes espaços de debate (ESTEVES, 2010; 
SPLICHAL, 1999). 
A obtenção deste entendimento mais amplo depende 
diretamente da contínua abertura dos diálogos para que novas 
razões sejam incluídas, o que, por conseguinte, só é possível por 
meio de liberdade de expressão, acesso universal às informações 
e inclusão de todos os membros, sem distinções socioculturais 
(SAVIGNY, 2002). 
Sabendo-se que as noções de Esfera pública e de Opinião 
pública não podem ser abarcadas somente pelos espaços e meios 
que colaboram para sua formação, se faz necessário considerar, 
tendo em vista o Twitter, que há alterações: o relacionamento 
entre políticos, partidos e eleitores se modifica em larga medida 
em função da topologia das redes e do advento da Web, já que 
22 23
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
os usuários/membros se encontram inseridos em um ambiente de 
informação livre e igualmente distribuída. 
Incluindo o ambiente Web em suas estratégias, políticos e 
partidos encontram diversos novos desafios, dentre os quais se 
destaca a superação de sua estruturação hierárquica, incompatível, 
em determinadas condições, com a das redes sociais, que não 
foram desenvolvidas para a inserção de perfis organizacionais 
(LOVINK, 2006). 
No período de campanha eleitoral, sendo o objetivo final o 
direcionamento do voto, o relacionamento busca gerar reputação 
ao político e ao partido, utilizando de perfis pessoais e de partidos. 
As avaliações dos eleitores sobre determinado político sofrem 
rápidas variações, frequentemente alicerçadas pela imagem dos 
candidatos construída no desenvolvimento da campanha, isto é, 
pelo “[...] conjunto de ideias que uma pessoa tem ou assimila 
a respeito de um objeto, e que forma na sua consciência um 
entendimento particular sobre tal objeto, seja ele um fato, uma 
pessoa ou uma instituição” (VAZ, 1995, p. 53). 
As constantes pesquisas de intenção de voto durante períodos 
eleitorais evidenciam adesões a determinados candidatos de 
maneira pontual e sem consistência. A falta de solidez pode se 
dar pela falta de fortalecimento da reputação de candidatos, 
enfatizando-se que Reputação se “diferencia de imagem por ser 
construída ao longo do tempo e por não ser simplesmente uma 
percepção em um determinado período” (ARGENTI, 2006, 
p. 97). Por isso, o privilégio de ações pontuais e periódicas em 
detrimento do investimento em relacionamento de longo prazo 
dificulta a adesão e a consolidação de uma identidade8. 
8 A identidade reflete-se na imagem e reputação que alguém deseja passar, uma vez 
que está associada a princípios e valores que identificam uma pessoa ou organização e 
as diferenciam de suas concorrentes, baseando-se apenas nas crenças e características 
Observando que “falar em reputação significa focar em 
algo mais duradouro, para um reflexo de identidade da empresa 
[no caso, do partido ou candidato]” (CARVALHO, 2011, p. 
130), identifica-se a necessidade de um esforço ininterrupto de 
relacionamento, ainda que tal ação não seja garantia de voto, 
mas de familiaridade (ROSA, 2007; MACNAMARA, 2010) 
suficiente para a composição da reputação, isto é, para a formação 
de opiniões, argumentos e convicções de outras pessoas sobre 
determinado candidato que tenha alcançado credibilidade e/ou 
reconhecimento (ALMEIDA, 2005; JABLIN, 2001; IASBECK, 
2007). 
No entanto, esse relacionamento não acomoda por completo 
a reputação, porque “a formação da opinião, desatrelada das 
decisões, realiza-se em uma rede pública e inclusiva de esferas 
que se sobrepõem umas às outras, cujas fronteiras reais, sociais 
e temporais são fluidas” (HABERMAS, 1997, p. 32), ou seja, 
abrange também a relação entre os eleitores. 
Neste ponto, é inserida a ideia de Deliberação, compreendida 
como um constante processo de negociação das razões e 
opiniões que não resulta, necessariamente, em um consenso 
entre interlocutores. Mesmo após uma decisão temporária, se 
faz necessária a continuidade do debate para que cada vez mais 
indivíduos possam ser incluídos, tanto para se expressarem, 
quanto para entenderem melhor as questões debatidas. Em outras 
palavras, diz respeito ao embate entre os diferentes pontos de 
vista e não ao consenso. 
Isso porque o objetivo é ampliar a compreensão de 
determinado tema ou amenizar o dissenso entre os falantes e 
ouvintes (HABERMAS, 2004). Na proposta do autor (2004), 
internas, independentemente do ambiente externo (CAPRIOTTI, 2005). 
24 25
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trata-se de preservar os interesses públicos por meio da ação 
comunicativa e argumentação. 
Nesse contexto, a mídia, como importante elemento 
de publicidade, gera visibilidade a diversos assuntos e pode 
influenciar a opinião de grande parte da audiência, ao destacar, 
por exemplo, um ponto de vista em detrimento de outro. Então, 
a deliberação mediada reduz as restrições de debate a pequenos 
grupos presenciais, mas é importante ponderar que antes de 
potencializar a esfera pública, os meios de comunicação são 
empresas e, por conseguinte, possuem interesses particulares 
(WESSLER; SCHULTZ, 2007). 
Savigny (2002), por exemplo, argumenta que os veículos 
mais chamam a atenção e persuadem o público, do que informam 
e propulsionam debates, dentro de uma lógica em que se deve 
utilizar a mensagem correta, para as pessoas indicadas, por 
meio dos veículos de comunicação adequados, com o objetivo 
de influenciar a opinião de indivíduos em relação às questões 
políticas. É nessa perspectiva que cabe inserir a Agenda-setting 
em sua relação com o Two steps flow of communication e no 
contexto do projeto Neofluxo especificamente. 
Agendamento da mídia e Fluxo de comunicação em 
dois estágios 
Resumidamente, pode-se dizer que Agenda-setting 
(Agendamento) se baseia em: 
[...] uma relação casual entre as agendas noticiosa 
e pública, quer quanto aos temas mais relevantes, 
quer acerca da sua importância relativa. Trata-se 
de um efeito não-intencional do processo de 
construção da atualidade informativa na configuração 
do ambiente político em que se forma a opinião 
pública. Ao excluírem, incluírem e hierarquizarem 
os acontecimentos diários, os jornalistas orientam 
a atenção do público para os assuntos destacados: a 
agenda dos meios de comunicação torna-se a agenda 
pública (BORGES, 2010, p. 137). 
Outros efeitos, como o enquadramento (Framing) podem 
derivar-se, também, desse agendamento. Ao seguir, em geral, 
interesses econômicos, a mídia atua como fórum para o debate e – 
ao enquadrar questões que serão debatidas e como serão discutidas 
– participa como um dos principais atores da discussão, já que 
pode condicionar a interpretação dos fatos por parte significativa 
das pessoas (MCCOMBS, 2006; PORTO, 2004). 
Pode-se considerar que apesar de a mídia não transformar 
automaticamente a opinião dos indivíduos, influencia na ênfase de 
comentários e conversações sobre conteúdos e formatos, quando 
se trata de questões políticas, a aceitação do agendamento deve-se 
mais ao interesse em julgamento coletivo do que em agregação de 
preferências privadas (YOUNG, 2001). 
Em uma perspectiva otimista, pode-se dizer que a Web possui 
potencial de influenciar positivamente processos democráticos, 
devido à sua topologia e seu consequente afastamento do 
exercício de poder9. Por outro lado, é preciso considerar que 
como as informações não têm filtragem, elas são frágeis, sem 
credibilidade, o que pode comprometer o debate, por ser baseado 
9 Galloway (2004) explica que o exercício de poder, tal como concebido pelo viés 
social não corresponde ao controle que diz respeito à Internet. 
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em informações não estruturadas. 
Voltando-se à reflexão teórica sobre a Comunicação 
Social, Martino (2000, p. 104) atribui a manutenção do modelo 
lasswelliano do processo comunicacional a dois fatores 
específicos: “a necessidade de fornecer um status científico à 
pesquisa em comunicação” e “a capacidade de organizar e dar 
unidade aos diversos aspectos da questão”. 
A despeito de ser objeto de críticas, justamente o modelo 
de Lasswell propulsionou o desenvolvimento de diversos estudos 
circunscritos pelo domínio da Comunicação, dentre os quais, no 
mesmo contexto das noções recortadas no item anterior, têm-se as 
pesquisas sobre os Efeitos. 
Os Efeitos, percebidos inicialmente como ilimitados10, 
deslocam-se para a noção de limitados a partir do trabalho The 
People’s Choice (LAZARSFELD, BERELSON; GOUDET, 
1968), publicado originalmente em 1944. Delimitado pela 
influência da mídia no âmbito de decisões políticas e eleitorais, 
os autores (1968) constataram que os meios possuíam menor 
capacidade de influência do que o Líder de opinião, que constitui a 
figura sobre a qual se ergueu a hipótese do Fluxo de comunicação 
em dois estágios (Two steps flow of communication). 
A proposta de Lazarsfeld, Berelson e Goudet (1968) possui 
continuidades diversas, dentre as quais se destaca a elaboração 
conceitual de Merton (1968) sobre o Líder de opinião, cuja 
caracterização se dá em função da área de influência, resultando na 
subdivisão Líder de opinião local e Líder de opinião cosmopolita. 
Além da continuidade da conceituação de Líder de opinião, 
cabe notar também que: 
10 À exemplo da Teoria da Espiral do Silêncio (NOELLE-NEUMANN, 1995). 
O termo influência dos mass media assume o lugar de 
manipulação ou de persuasão. Essa influência midiática 
compartilha seus efeitos com outras influências, como 
as comunitárias, isto é, ela passa a ser encarada como 
apenas uma parte em um todo social. Portanto, os 
mass media são apenas um elemento da dinâmica de 
formação da opinião pública, gerada também pela 
influência pessoal [...] (MIRANDA, 2005, p. 28). 
Mesmo concordando-se que o Fluxo de comunicação 
em dois estágios é a primeira proposta a deslocar o modelo de 
análise Comunicacional de Lasswell, com um argumento que 
foi corroborado mesmo após a consolidação do meio televisão, 
observa-se que: 
[...] os dados que apoiavam esta perspectiva tinham 
sido produzidos ainda na época de ouro do rádio 
americano, portanto, antes da televisão ter se tornado 
o principal meio de comunicação de massa e as 
campanhas eleitorais terem assumido uma forma 
dominantemente midiática. A centralidade dos meios 
eletrônicos no sistema de comunicação e as novas 
formas de comunicação política demandavam novos 
modelos de investigação e a obtenção de novos dados 
que permitissem o reexame da questão dos efeitos da 
mídia na audiência e no eleitor (AZEVEDO, 2004, p. 
42-43). 
A hipótese da Agenda da Mídia (Agenda-setting), cujo 
desenvolvimento está diretamente relacionado ao ambiente 
científico da área e, por conseguinte, à proposta do Fluxo 
comunicacional em dois estágios, parte do princípio de que há 
intenção de persuasão por parte dos meios que selecionam e 
enquadram os conteúdos e as mensagens. 
Faz-se um parêntese para esclarecer a opção de utilizar- 
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se das duas hipóteses, explicando que no entendimento que 
fundamenta o Neofluxo, apesar da sinalização de Azevedo (2004) 
sobre o ambiente de desenvolvimento da Agenda da Mídia, ela 
é complementar ao Fluxo de comunicação em dois estágios, na 
medida em que reafirma os Efeitos limitados, guardando-se as 
devidas diferenças entre ambos os estudos11. 
Frente à Agenda da Mídia tem-se também a Agenda do 
Público, identificada em McCombs e Shaw (1972), dentro da qual 
um dos elementos de análise relevante é destacado sucintamente 
da seguinte forma: 
[...] levando-se em conta que o agendamento se 
dá necessariamente no tempo, verificou-se que se 
estabelece uma verdadeira correlação entre a agenda 
da mídia e a do receptor, mas também a agenda do 
receptor pode e acaba influenciando a agenda da mídia. 
Mais do que isso, descobriu-se que também havia um 
interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, 
chegando-se mesmo a perceber que a mídia impressa 
possui certa hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto 
no que toca ao agendamento do receptor em geral 
(HOHLFELDT, 1997, p. 47-48). 
Astroturfing 
A obra “Para entender as mídias sociais”, organizada por Ana 
Brambilla (2011), é um exemplo das mais frequentes concepções 
acerca da atualidade da comunicação em ambientes digitais. Nela, 
é possível identificar a constante atenção dos diferentes autores 
11 Argumentação sustentada por McCombs (1996). 
à centralidade dos indivíduos como participantes do processo 
comunicativo nas redes, caracterizando-as como sociais. 
Em função disso, percebe-se também que atuações não 
legítimas ou que se orientem por interesses políticos e econômicos 
particulares são repudiadas. Nesse sentido, a estrutura técnica e 
tecnológica das redes possui menor importância que seu caráter 
humano, cuja qualidade é conferir autenticidade às informações 
que são compartilhadas. Dessa maneira, o termo Astroturfing é 
fundamental, visto que: 
[...] é um termo derivado da palavra inglesa “astroturf”, 
que significa grama artificial. Podemos dizer, 
interpretando grosseiramente, que é algo que parece, 
mas não é. Criado pelo, então, senador estadunidense 
Lloyd Bentsen, em 1985, o termo surgiu na mente 
do político porque ele recebia inúmeras cartas sobre 
questões envolvendo o debate sobre empresas de 
seguro. Bentsen percebeu que grande parte das cartas 
não era escrita pelos eleitores e, sim, pelos interessados 
no tema: as empresas de seguro (LIMA JUNIOR, 
2012). 
Assim, o termo original (Astroturf) surgiu sem preocupações 
com enquadramentos teóricos e, pelo menos desde 2005, com a 
ação do Wal-Mart (FERNANDO, 2007) e, sequencialmente, o 
constrangimento da Sony12 e o documentário Astroturf Wars13, 
tem sido amplamente difundido e apropriado pelos indivíduos. 
Com a variação, Astroturfing14 (LIMA JUNIOR, 2012), busca-se 
demarcar a observação ao sentido conceitual da compreensão 
12 All I Want for Xmas is a PSP. Disponível em: <http://www.youtube.com/ 
watch?v=0G0LlXv-nyI>. Acesso em: 20 dez. 2012. 
13 Astroturf Wars. Disponível em: <http://astroturfwars.com/>. Acesso em: 20 dez. 
2012. 
14 É comum identificar textos mais atuais utilizando-se também da variação proposta. 
30 31
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
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do fenômeno, especificamente, no ambiente digital, visto que 
como premissa, tem-se que o processo comunicativo que se dá a 
partir da estrutura das redes sociais baseadas em Internet possui 
características diferentes como, por exemplo, a possibilidade de 
ser simultâneo ou assíncrono. 
Essa prática faz com que interesses privados sejam 
confundidos com assuntos relacionados ao bem estar público 
e, por consequência, ganhe apoio de pessoas que nem estavam 
inicialmente vinculadas à ação, uma vez que, de acordo com 
Daniel Reis Silva (2013, p. 7), “o interesse privado de pessoas 
privadas se passa por um interesse público através da própria 
encenação da existência de um público lhe dando suporte, e essa 
encenação acaba por se confundir e influenciar a opinião pública”. 
Ao se disfarçarem de pessoas comuns, “como nós”, os 
Astroturfings demonstram opiniões de um público “encenado” e 
acabam por receber solidariedade de outros usuários, tendo, assim, 
a possibilidade de alterar enquadramentos, crenças e percepções 
sobre determinados temas. Nas palavras de Silva (2013): 
A encenação configura um “modo de ver coletivo” 
da situação, convocando os sujeitos a tomar um 
posicionamento alinhado dentro das possibilidades 
oferecidas por aquele público por meio da sua ação. 
A encenação indica um caminho para que os sujeitos 
possam também manifestar sua opinião (devidamente 
reforçada) sobre aquele assunto ou questão (SILVA, 
2013, p. 23). 
No caso deste projeto, a utilização do termo Astroturfing está 
vinculada à articulação teórica entre as hipóteses de Agendamento 
e Fluxo de comunicação em dois estágios, contextualizadas pelas 
questões de Opinião pública, Esfera pública e Deliberação nas 
condições do ambiente digital. 
Os aspectos destas condições do ambiente digital não são 
pormenorizados neste item porque são centrais aos próximos 
capítulos. A mesma situação se repete com Astroturfing, ao passo 
que é por meio da construção da noção em sua articulação com 
referencial apresentado que se deu a formulação da metodologia 
do trabalho. 
32 33
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CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA 
INTERDISCIPLINAR DO PROJETO NEOFLUXO 
O Projeto “Neofluxo”, idealizado pelo Grupo de Pesquisa 
Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede (Teccred), do 
Programa de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, foi iniciado, 
como brevemente explicado na introdução desta obra, com 
apoio financeiro do CNPq, no primeiro semestre de 2010. Sua 
conclusão ocorreu no segundo semestre de 2012, pelos mesmos 
pesquisadores, agora filiados ao Grupo de Pesquisa Comunicação, 
Tecnologia e Ciência Cognitiva (Tecccog), da Universidade 
Metodista de São Paulo. 
Definiu-se como objetivo principal a identificação do 
comportamento de fluxos informacionais nas redes sociais 
conectadas no decorrer da disputa eleitoral para a Presidência da 
República de 2010. Sendo necessário, para isso, de maneira geral, 
o monitoramento e análise de fontes oficiais (Facebook, Flickr, 
Twitter, YouTube e site de campanha) dos seguintes postulantes 
ao cargo de presidente: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) 
e Marina Silva (PV)15. 
Além disso, foram traçados os seguintes objetivos 
específicos: mapear como acontecem os fluxos informativos entre 
os canais oficiais dos candidatos e o Twitter (ponto de partida, 
caminho percorrido e redistribuição da mensagem); medir os 
15 Ressalta-se, todavia, que a proposta inicial era calcada no monitoramento somente 
dos dois principais candidatos à Presidência que despontavam como favoritos em 
pesquisas de opinião e acabaram chegando ao segundo turno do processo eleitoral, no 
caso Dilma Rousseff e José Serra. No entanto, a tendência de crescimento nas pesquisas 
de intenção de voto, especialmente nas semanas finais do primeiro turno, fez com que 
informações da campanha de Marina Silva fossem coletadas e armazenadas nos bancos 
de dados – em software próprio, desenvolvido pelo Teccred, para este fim. 
níveis de relação direta entre as mensagens emitidas pelos canais 
oficiais dos candidatos à Presidência e o conteúdo divulgado por 
outros usuários no Twitter; e identificar a presença e influência 
de astroturfings16 (ação artificial de indivíduos que se passam por 
usuários comuns, disseminando boatos, mentiras ou informações 
vantajosas de determinados candidatos a outros usuários se 
passando por eleitores que não possuem relação direta com o 
partido ou postulante ao cargo de presidente) no processo de troca 
e disseminação de mensagens. 
A metodologia interdisciplinar completa adotada para a 
coleta de dados do Observatório de Mídias Sociais Conectadas 
(Neofluxo) poderá ser observada mais detalhadamente no 
decorrer do presente capítulo, sendo o próximo item dedicado aos 
procedimentos utilizados na primeira fase do projeto. 
Procedimentos metodológicos da primeira fase do 
projeto 
Para constituir as bases de dados utilizadas com o 
propósito de atingir os já mencionados objetivos do projeto, 
diversas reuniões presenciais, na Faculdade Cásper Líbero, foram 
realizadas nos seis meses que antecederam a campanha eleitoral 
dos candidatos, definindo-se, assim, a metodologia que seria 
utilizada, especialmente no primeiro turno da eleição presidencial. 
16 Optou-se pelo uso do termo Astroturfing, em detrimento de termos que possuem 
sentido parecido, mas possuem conotação positiva, no caso do seeder, ou negativa, no 
que se refere ao troll, justamente porque o termo Astroturfing carrega menos juízo de 
valor agregado à nomenclatura. 
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Como brevemente citado no item anterior, uma das principais 
fases para o sucesso do projeto seria coletar adequadamente os 
dados de fontes oficiais (Facebook, Flickr, Twitter, YouTube e 
site de campanha) dos candidatos à presidência (Dilma Rousseff/ 
PT, José Serra/PSDB e Marina Silva/PV)17, além de mensagens 
de usuários do Twitter (rede social definida como norteadora 
da análise, devido à sua característica fundamental de agregar 
palavras-chave em Trending Topics, além das possibilidades de 
replicação de conteúdo por retweet, ou curtas respostas com tema 
similar ao conteúdo original, por reply)18. 
Antes da avaliação dos canais oficiais, todavia, era necessário 
definir parâmetros a serem inseridos no software desenvolvido 
pelo Teccred19 para a captura de informações de redes dos 
candidatos. Para isso, definiu-se que dois pesquisadores ficariam 
responsáveis por identificar, selecionar e registrar palavras-chave 
em cada dia (no primeiro turno de terça-feira, quinta-feira e 
sábado, e, no segundo turno, todos os dias, de domingo a domingo) 
em que o horário eleitoral televisivo noturno (a maior vitrine da 
campanha no país), de cada candidato, fosse transmitido. Faz-se 
17 Pelos motivos já expostos na nota de rodapé número 15, o tempo de monitoramento 
dos canais oficiais de Dilma e Serra foi superior ao de Marina Silva. Enquanto as 
propagandas dos dois primeiros candidatos foram analisadas no período de 11 de 
setembro a 03 de outubro de 2010 (primeiro turno) e, posteriormente, de 08 de outubro 
a 29 de outubro (segundo turno), Marina Silva só teve suas propagandas avaliadas entre 
os dias 23 de setembro e 03 de outubro. 
18 Além dos motivos expostos no parágrafo, devido à dimensão dos dados capturados 
pelo sistema, não foi possível determinar a relação entre as amostras selecionadas no 
horário eleitoral gratuito de cada candidato à Presidência da República e as mensagens 
coletadas em outras redes sociais conectadas (Facebook, Flickr e YouTube), fato que 
remeteria a uma avaliação técnica e automatizada que não estava prevista na proposta 
inicial (semântica das mensagens). 
19 O software foi desenvolvido por integrantes do grupo Teccred e conseguia capturar 
palavras-chave de canais oficiais dos candidatos ou de qualquer usuário do Facebook, 
Flickr, Twitter e YouTube que mencionassem as expressões, inclusive com nome 
(nickname), data e horário da postagem. 
necessário considerar que o Agendamento foi tomado como de 
mídia, em função da coleta de dados relacionada aos programas 
de televisão, cuja execução se deu, exclusivamente, por meio da 
recepção da propaganda política. 
Com o propósito de agilizar e padronizar o processo, os 
pesquisadores responsáveis (previamente definidos com datas 
e horários a serem seguidos) podiam preencher formulário on-line 
ou impresso (ver figura 1), obrigatoriamente fazendo uma 
breve descrição da propaganda política, para possíveis consultas 
futuras, além de relatar, no máximo, dez palavras-chave, evitando-se 
o uso de artigos e caracteres especiais (acento, cedilha, entre 
outras) na menção de expressões20, e sempre estipulando o “peso” 
21 da palavra de forma numérica (de 1 a 10), considerando 10 a 
mais importante. 
20 Em vez de escrever, por exemplo, “liderança na pesquisa”, escrevia-se “lideranca 
pesquisa” (intencionalmente sem cedilha). Em alguns casos, as expressões podiam ficar 
sem sentido, mas o recurso ampliava as possibilidades de captura de palavras-chave 
pelo software desenvolvido. 
21 A explicação sobre o critério adotado para o “peso” de cada palavra-chave/expressão 
identificada no horário eleitoral gratuito será detalhada posteriormente neste capítulo. 
36 37
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Data: Horário: 
Dilma José Serra 
Categorias Palvras-chave 
Peso Pala-vras- 
chave 
Peso 
Continuidade 
Repetição 
Polêmica/ Conflito 
Novidade 
Dramatização 
Súmula 
(Descrição/ contextualização) 
Figura 1: Formulário utilizado por pesquisadores para preenchimento de palavras-chave 
Fonte: Produção própria do grupo Teccred 
A opção pelo preenchimento do formulário on-line ou 
impresso ficava a critério de cada pesquisador responsável, desde 
que todas as informações registradas fossem transferidas para o 
software do grupo Teccred até quinze minutos após o término do 
horário eleitoral gratuito. O prazo foi estipulado, em especial, uma 
vez que o processo de replicação do conteúdo disseminado na 
propaganda política, principalmente pelas características das redes 
sociais conectadas, ocorre simultaneamente à sua transmissão 
televisiva. Demorar mais de quinze minutos para iniciar o sistema 
de indexação de palavras-chave dos canais oficiais poderia 
significar perder milhares de dados que poderiam comprovar a 
inter-relação entre fluxos informacionais dos candidatos e dos 
públicos, ou, até mesmo, a presença de stroturfings na campanha22. 
22 Quanto mais rápido as palavras-chave são inseridas no software, mais veloz é a 
ativação do sistema para captura de expressões nas redes sociais e, por consequência, 
Critérios para definição de palavras-chave/expressões 
no primeiro turno 
E como foram estabelecidos os critérios para a definição 
das palavras-chave de cada horário eleitoral gratuito? Para 
defini-los, pesquisadores do grupo Teccred fizeram uma mescla 
entre duas escalas de valores-notícia. De acordo com Galtung 
e Ruge (1965), os primeiros que mencionaram os valores-notícia 
dentro do conceito de noticiabilidade, a escala de valores 
seria: Frequência (semelhança com o tempo do veículo de 
comunicação); Amplitude; Clareza (ou falta de ambiguidade); 
Significância (“tradução cultural”); Consonância (inserir o “novo” 
numa história “velha”); Inesperado; Continuidade; Composição 
(equilíbrio numa diversidade de assuntos); Referências a 
nações de elite; Referências a pessoas de elite (proeminência); 
Personalização; e Negatividade (“bad news is good news”). Já 
para Ericson, Baranek e Chan (1987), os critérios seriam, em 
ordem: Simplificação (similar ao conceito de clareza de Galtung 
e Ruge); Dramatização (“visualização”); Personalização; 
Continuidade (“comunicabilidade” entre os fatos); Consonância 
(“eterna repetição” de fatos previsíveis); Inesperado; e Infração 
(de leis). 
Da junção e adaptação dos dois conceitos supracitados, o 
grupo de pesquisadores do Teccred desenvolveu a seguinte ordem 
de critério para escolha das palavras: Continuidade, Repetição, 
Polêmica/Conflito; Novidade; e Dramatização. 
Nesse sentido, foi definido que a Continuidade, por expor 
maior é o número de dados coletados. Além disso, aproveita-se o momento em que 
o programa eleitoral acabou de ser transmitido e capturam-se as opiniões que estão 
intrinsecamente ligadas à propaganda política. 
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
valores implícitos e explícitos, seria o único critério com peso 
dobrado. Ou seja, que prevaleceria sobre qualquer outro critério 
em caso de mais de dez expressões importantes terem sido citadas 
no decorrer de um único dia de horário eleitoral gratuito. Isso 
porque esse critério se caracterizaria pela frequência do termo por 
dias subsequentes de propaganda eleitoral do mesmo candidato, 
o que demonstraria o desejo do postulante ao cargo de presidente 
em insistir em temática similar. 
A Repetição, por sua vez, teria relação com a frequência com 
que um assunto seria abordado no mesmo dia de horário eleitoral 
gratuito. A Polêmica/Conflito teria como base um ataque pessoal 
a outro candidato ou a abordagem de uma questão polêmica 
na propaganda política. A Novidade representaria o ineditismo 
de um termo, o que poderia representar o novo rumo para uma 
campanha. 
Os três elementos citados no parágrafo anterior envolveriam 
valores explícitos e, portanto, se sobressairiam frente à 
Dramatização, fundamentalmente ligada a valores enviesados, 
sob o ponto de vista do espectador, uma vez que se relacionaria 
com testemunhos de cidadãos, geralmente abraçando ou chorando 
por determinado candidato. 
Ao assumir a ordem dos critérios acima, e tendo o limite 
de dez palavras-chave por programa, em caso de equivalência 
entre expressões de mesmo peso (todas, com exceção do 
critério de Continuidade), a ordem seguida seria a mesma citada 
anteriormente. Ou seja, uma expressão que, por exemplo, se 
enquadrasse como Polêmica prevaleceria sobre uma baseada 
na Dramatização. E, nesse sentido, o sistema seria atualizado a 
cada programa e as palavras substituídas nessa ordem de valor, de 
acordo com o que fora mencionado. Para verificar a relação direta 
entre propaganda eleitoral (agendamento) e conteúdo disseminado 
no Twitter, as palavras/expressões só eram consideradas na 
rede social conectada se, e somente se, atreladas a um termo de 
identificação do candidato (nome, sobrenome ou ambos). 
Informações sobre as bases de dados constituídas a 
partir dos canais oficiais dos candidatos no primeiro 
turno 
Ao término da coleta de informações sobre os canais oficiais 
dos candidatos foram constituídas onze bases de dados diferentes, 
o que possibilitou, posteriormente, elevado número de inter-relações 
e aumentou a confiabilidade dos resultados. 
A primeira base de dados foi formada por todas as atualizações 
provenientes dos canais oficiais da candidata Dilma Rousseff 
na Web. Desconsiderando filtragens realizadas posteriormente 
(sem mencionar as palavras-chave definidas por pesquisadores 
do Teccred), a atual presidente, durante o primeiro turno (de 
11 de setembro de 2010 a 03 de outubro de 2010), possuía: 56 
atualizações no Twitter, 155 no site oficial, 274 no Facebook, 224 
no YouTube e 636 no Flickr. 
No mesmo período de coleta, a segunda base de dados 
foi composta por todas as atualizações dos canais oficiais do 
candidato José Serra na Web, apresentando o seguinte número de 
atualizações: 276 no Twitter, 725 no Facebook, 196 no YouTube 
e 341 no Flickr. 
A terceira base de dados levava em consideração os canais 
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
oficiais de Marina Silva, no período entre 23 de setembro de 2010 
e 03 de outubro de 2010, o que representou: 222 atualizações no 
Twitter, 43 no site oficial, 67 no Facebook, 68 no YouTube e 326 
no Flickr. 
A quarta (Dilma), a quinta (Serra) e a sexta (Marina) base 
de dados levavam em consideração as palavras-chave geradas 
de maneira automatizada a partir dos canais oficiais dos próprios 
candidatos, sem interferência dos pesquisadores. Essas bases de 
dados continham sub-tabelas divididas por datas (os mesmos dias 
dos respectivos programas televisivos), em que cada uma das 
sub-tabelas possuía dez palavras-chave relacionadas. 
A sétima (Dilma), a oitava (Serra) e a nona (Marina) base de 
dados podiam ser consideradas as mais importantes do primeiro 
turno, uma vez que tinham como premissa as informações 
coletadas com apoio na metodologia detalhada anteriormente: 
palavras-chave definidas por pesquisadores do Teccred, com 
apoio nos horários eleitorais gratuitos televisivos. 
Como complemento, ainda foram gerados, no período de 11 
de setembro de 2010 a 03 de outubro de 2010, mais duas bases 
de dados, focadas exclusivamente na captura de mensagens do 
Twitter que possuíssem as palavras “Dilma” (51.625 menções) ou 
“Serra” (36.939 menções). 
Problemas no monitoramento de canais oficiais e 
coleta de palavras-chave 
Após a conclusão do primeiro turno, chegou o momento 
de avaliar como as atividades do grupo de pesquisa tinham sido 
realizadas e identificar maneiras de aprimorar o sistema de coleta 
de palavras-chave para o segundo turno da eleição presidencial, 
disputado por Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). 
Foram, então, identificadas quatro falhas principais 
cometidas no decorrer do primeiro turno, especialmente no que 
tange ao agendamento: (1) Critérios distintos na determinação 
de palavras-chave; (2) Número diverso de “itens” coletados; (3) 
Preenchimento incompleto de campos do sistema (software); e 
(4) Lista de palavras-chave mais repetidas no período não ser 
gerada automaticamente pelo sistema. 
O primeiro problema possuía relação com a coleta de palavras-chave/ 
expressões ter sido realizada por muitos pesquisadores. 
Como cada um se caracteriza por bagagem cultural, posição 
política e arcabouço teórico distintos, foram percebidas diferenças 
nos critérios de análise do programa eleitoral e exposição dos 
termos coletados. Alguns pesquisadores optaram, em cada 
“item”23, por exemplo, por coletar apenas uma palavra e outros 
preferiram coletar frases. 
Além da questão referente ao número de palavras por “item” 
coletado, indicado anteriormente, o segundo problema teve 
ligação com diferenças no número de expressões inseridas no 
sistema. Determinados pesquisadores introduziram cinco itens, 
outros sete e, alguns, dez, impossibilitando a padronização da 
23 O termo “item” será utilizado como a expressão total inserida no sistema. No caso, 
eram introduzidos até dez “itens” por programa. 
42 43
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
coleta. 
O preenchimento incompleto de todos os campos solicitados 
pelo sistema é o terceiro problema identificado. Alguns 
pesquisadores não incluíram, por exemplo, a descrição de cada 
programa eleitoral, o que dificultou análises posteriores, fazendo 
com o que a propaganda política (gravada diariamente pelo 
grupo) tivesse que ser assistida novamente para identificar a linha 
de raciocínio seguida no momento da coleta pelo pesquisador. 
Por fim, o quarto problema teve relação com o fato de 
palavras-chave mais usadas em todo o período eleitoral (critério 
de Continuidade), ou separadamente, apenas no primeiro e apenas 
no segundo turno, não formarem uma lista automática, fazendo 
com que o trabalho tivesse que ser realizado de forma manual. 
Alguns dos problemas foram solucionados no decorrer 
do projeto, com auxílio da tecnologia, especialmente durante 
o segundo turno da eleição presidencial. Outros, no entanto, 
tiveram que ser resolvidos manualmente, em um trabalho braçal, 
deixando lições para projetos futuros, que poderão ser observadas 
no próximo item do capítulo. 
Mudanças nos procedimentos metodológicos para 
o segundo turno e possíveis soluções para projetos 
futuros 
Para aprimorar a coleta de palavras-chave no segundo 
turno e destacar a importância de identificação de Astroturfings 
nas eleições presidenciais de 2010, alguns procedimentos 
metodológicos sofreram mudanças, especialmente com base 
nas experiências vivenciadas na primeira fase do projeto. Diante 
disso, são apresentadas, nos próximos itens, essas mudanças, 
algumas falhas cometidas no primeiro turno e as correções de 
curso para que os resultados pudessem ser obtidos. 
Aperfeiçoamento dos procedimentos para coleta de 
palavras-chave 
Além da metodologia baseada na identificação de palavras-chave 
do horário eleitoral usada no primeiro turno, foi adicionada 
uma segunda camada de identificação de palavras-chave, dessa 
vez com base na “homepage”, “últimas notícias” e “hotsite 
especial sobre a eleição” dos quatro principais portais de notícias 
brasileiro: UOL, Terra, IG e G1. 
Na busca por solucionar mais alguns dos problemas 
mencionados anteriormente, definiu-se com clareza o registro de 
exatos cinco temas para cada candidato, sendo estes compostos 
por apenas uma palavra (Exemplo: Saneamento). 
Aprimorou-se, também, o sistema para preenchimento dos 
formulários, que passou a ser diário e com participação de apenas 
dois pesquisadores, que se alternavam a cada dia, reduzindo 
parte do primeiro problema citado no item anterior, a respeito da 
variedade de formações, posições políticas e arcabouços teóricos 
identificadas no primeiro turno. A atualização do software facilitou 
a visualização da Continuidade de palavras-chave, uma vez que 
expressões inseridas no dia anterior permaneciam visíveis para o 
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
próximo pesquisador responsável pela coleta. Se, por exemplo, 
o tema “aborto” tivesse sido debatido nos três dias anteriores, a 
palavra seria mantida como a mais importante do dia, devido à 
“Continuidade do tema”, sendo necessário apenas preencher mais 
quatro campos. 
O horário para análise dos portais também foi bem delimitado: 
entre 17h e 18h45, tendo que ser postadas as palavras-chave no 
sistema pontualmente às 19h. Outros dois pesquisadores ficavam 
responsáveis pela validação das expressões às 19h10. 
Apesar de todos os aperfeiçoamentos no sistema e na 
metodologia empregada, alguns ensinamentos devem ser levados 
em consideração em projetos futuros. O cronograma de escala 
de pessoas responsáveis pela coleta de expressões dos programas 
televisivos, por exemplo, precisa ser elaborado com antecedência, 
com um número reduzido de pesquisadores comprometidos24, 
se possível em contato direto (Skype, Hangout ou telefone) no 
momento da coleta, para facilitar a padronização. 
No que tange ao sistema, a quantidade de palavras-chave por 
“item” coletado precisa ser definida com precisão antes mesmo 
do início da campanha, sem deixar margens individuais para os 
pesquisadores. O software, inclusive, deveria ativar a indexação 
apenas quando todos os campos estivessem concluídos, o que 
evitaria a ausência de preenchimento do resumo do horário 
eleitoral gratuito ou a discrepância entre o número de palavras- 
24 Por determinados imprevistos (devidamente justificados) ocorridos durante a 
execução do projeto, alguns pesquisadores não puderam fazer a coleta de palavras-chave 
nos dias previamente acertados. Porém, em projetos futuros, caso o número de pessoas 
responsáveis por tal tarefa seja menor, é possível fazer com que a alternância, em caso 
de imprevistos, ocorra somente entre os dois ou três pesquisadores responsáveis. No 
caso do Projeto Neofluxo, especialmente no primeiro turno, mais de seis pesquisadores 
participaram da coleta, muitos em caráter emergencial, avisados menos de dez minutos 
antes do início do programa eleitoral. Deve-se, portanto, estipular um prazo mínimo 
para que o outro pesquisador torne-se o responsável pela tarefa. 
chave inseridas por cada pesquisador. 
Além disso, em detrimento do uso de senha coletiva, deveria 
ser possível realizar cadastro inicial no sistema com geração de 
senhas individuais, possibilitando a identificação de quem entrou 
no sistema e realizou alterações, com horário, data e nome do 
usuário. Por fim, como citado brevemente no item anterior, o 
sistema precisaria fazer a somatória de palavras-chave de maneira 
automática, já tendo embutido em sua configuração os critérios 
“valores-notícia” (Continuidade, Repetição, Polêmica/ Conflito, 
Novidade e Dramatização) determinados previamente. Isso 
evitaria possíveis falhas humanas derivadas da criação de tabelas 
e adoção de novos procedimentos metodológicos para soma de 
expressões citadas nos programas televisivos, como as que serão 
apresentadas a seguir. 
Verificação de palavras-chave mais citadas em todo 
o período eleitoral 
Diante da impossibilidade de cálculo automático das 
palavras-chave mais citadas pelo software usado pelo Teccred, 
foi necessário adotar uma nova metodologia para hierarquizar 
as expressões mencionadas de maneira mais constante. Para 
isso, foram elaboradas tabelas e priorizaram-se palavras-chave 
que se enquadravam em três critérios (Exemplo: Continuidade, 
Repetição e Polêmica). Em seguida, expressões que possuíam 
dois critérios (Continuidade e Repetição; Continuidade e 
Polêmica). E, por fim, os caracterizados em apenas um critério 
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(Continuidade, Polêmica ou Novidade). 
Em caso de equivalência no número de palavras-chave 
mencionadas, foi considerado o menor intervalo de tempo 
(dias) entre as duas primeiras expressões (menor intervalo 
na Continuidade/Repetição das palavras). Em caso de nova 
equivalência, considerou-se o intervalo entre a segunda e a 
terceira. E, por fim, a ordem alfabética. 
Outro critério adotado refere-se às similaridades em 
palavras-chave. Expressões com significado parecido, em 
alguns casos, foram consideradas como sinônimos25. No caso de 
“lideranca pesquisa” (“lideranca”, propositalmente sem cedilha) e 
“pesquisas confirmam Dilma”, por exemplo, optou-se por definir 
a palavra-chave como “pesquisa”, uma vez que representariam 
uma Continuidade no conteúdo emitido. Além disso, por 
características do sistema, e para aprimorar a coleta de dados, em 
nenhum caso foi utilizada acentuação nas palavras/expressões. 
A descrição de cada propaganda política de Dilma, Marina 
e Serra, assim como as palavras-chave mencionadas diariamente 
e a implantação dos critérios supracitados para o cálculo 
de expressões mais usadas no período eleitoral, podem ser 
visualizadas, textualmente e em forma de tabela, nos Apêndices 
A, B e C. 
Procedimentos adotados na segunda fase do projeto 
25 Devido à experiência adquirida na primeira fase do projeto, observou-se que o 
número elevado de palavras-chave por espaço de inserção aumentava o campo 
semântico, paradoxalmente diminuindo o número de capturas de mensagens do Twitter, 
o que prejudicava o futuro cruzamento de dados. Nesse sentido, tentou-se restringir ao 
máximo o número de expressões parecidas e sinônimos, com o propósito de que cada 
campo fosse preenchido por apenas uma ou duas palavras, mesmo que não tivessem 
sentido em um primeiro momento (Exemplo: “Serra foi o melhor Ministro da Saúde” 
ficaria “saude”, sem acento). 
para a identificação de Astrotufings 
Ainda na segunda fase do projeto, aumentou-se a importância 
de identificar-se a ação artificial de indivíduos que alterassem 
(ou tentassem alterar) o fluxo comunicacional no Twitter, os 
Astroturfings. 
Observa-se, nesse sentido, que Lazarsfeld teve seu modelo do 
fluxo comunicacional em dois estágios criticado do ponto de vista 
metodológico, dentre outras coisas, por atribuir um peso maior e 
não verificado ao Líder de opinião. No caso deste projeto, a ideia 
não é medir o peso do líder, mas saber se houve a tentativa de 
liderança formada falsamente. Esperava-se, portanto, encontrar 
lideranças orgânicas, as quais precisariam ser diferenciadas das 
inorgânicas, isto é, do Astroturfing. 
O parâmetro inicial e elaborado a partir de pesquisa 
exploratória demanda que, no mínimo, exista um perfil criado 
para uso no desenvolvimento da campanha. Portanto, fez-se 
necessário analisar a data de criação, de exclusão ou de inatividade 
dos perfis, considerando o universo concebido pela indexação 
dos termos utilizados em relação ao Agendamento e os três tipos 
possíveis de mensagens do Twitter. 
Se originalmente o Líder de opinião exercia uma influência 
linear sobre os seguidores, a hipótese secundária do projeto era de 
que a produção do falseamento deveria ser construída a partir da 
simulação dessa influência, criando-se uma espécie de reputação 
para o líder. 
Mesmo com a adesão de um seguidor “real”, a manutenção 
da posição do Astroturfing só seria viabilizada pela manutenção 
de sua rede, o que implicaria na proximidade dos laços, com 
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um maior (se não único) fluxo direto e unilateral do líder para 
os seguidores, especialmente os falseados, bem como no não 
aprofundamento da rede. Neste caso, o líder é “um igual”, do 
ponto de vista da sua relevância em outras redes, diferenciando-se 
de indivíduos como, por exemplo, o apresentador de televisão 
Luciano Huck, que possui milhões de seguidores. 
Em contrapartida, em complemento à hipótese secundária, 
os líderes orgânicos seriam aqueles com a rede mais expansiva, 
profunda e de laços mais fracos, dado que sua opinião é objeto de 
interesse dos seguidores em função da sua posição específica que 
pode ser (a) especialização política e eleitoral (e, portanto, o perfil 
oficial não é tomado, em nenhuma hipótese, como Astroturfing); 
(b) da sua leitura antecipada, rápida do agendamento midiático 
e/ou visibilidade midiática (Luciano Huck, por exemplo, e fakes 
proeminentes). 
No âmbito do projeto, a liderança formada pela ação 
do Astroturfing relaciona-se direta ou indiretamente com o 
agendamento da mídia, em função do direcionamento da 
indexação pelas palavras/expressões. Tendo em vista o referencial 
observado, a correlação se repetiria no caso do Líder de opinião, 
em sua concepção tradicional, uma vez que, também direta ou 
indiretamente, a Agenda da Mídia seria de seu interesse. 
Para operacionalizar a totalidade das condições de 
Astroturfing, seria necessária a execução de identificação e de 
monitoramento de perfis de três tipos mencionados: indivíduos 
com visibilidade midiática, fakes proeminentes e Líder de opinião 
orgânico. Entretanto, na elaboração da metodologia, especialmente 
na fase de coleta de dados (primeira fase), esta atividade não foi 
planejada e, portanto, inviabilizou-se tal verificação. 
Para superar tal barreira, foram estabelecidos os seguintes 
índices de Astroturfing: (a) perfis indexados a partir das palavras/ 
expressões; (b) data de criação do perfil a partir de 11 de setembro 
de 2010, coincidindo com a data do primeiro tweet, retweet ou 
reply; (c) perfil inexistente (No people results for) ou inatividade 
a partir de novembro de 2010. 
Considerando os critérios (a) e (b), chegou-se a delimitação 
de 21 perfis, dos quais foram excluídos sete, pois são perfis que 
se mantiveram ativos até dezembro de 2012. Todos os 14 perfis 
restantes enquadram-se no critério (c). Esses e outros resultados 
poderão ser observados no próximo capítulo da presente obra. 
CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DE 
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RESULTADOS DE AGENDAMENTO E 
ASTROTURFINGS 
As duas preocupações básicas do Projeto diziam respeito 
ao Agendamento e aos Astroturfigns, de modo que em relação à 
primeira buscou-se identificar mensagens oriundas dos programas 
televisivos dos três candidatos (Dilma, Serra e Marina) como 
parâmetro para os processos comunicativos no Twitter. 
A propósito da identificação de Astroturfing, vinculada 
diretamente ao Fluxo de comunicação em dois estágios, 
procuraram-se perfis que se enquadrassem nos critérios indicados 
no capítulo anterior, buscando também possíveis relações entre 
tais perfis. 
Ainda que existam aspectos pertinentes às duas linhas, 
para os fins deste capítulo, optou-se por separar os resultados de 
modo que os três primeiros subtópicos se referem à verificação 
de Agendamento (subdividido, portanto, pelos candidatos), e o 
último subitem aos índices de Astroturfing. 
Resultados: Dilma Rousseff 
Como mencionado no capítulo anterior, as palavras-chave 
foram concatenadas de modo que termos similares 
foram agrupados como parte de uma mesma categoria/termo e 
hierarquizadas, em primeiro lugar, de acordo com a quantidade 
de critérios atribuídos à palavra gerando-se um peso com variação 
de 1 a 3, em seguida o intervalo na continuidade/repetição e, 
finalmente, ordem alfabética. 
A tabela 1 abaixo é uma simplificação da tabela exposta no 
Apêndice A, referente às palavras-chave relacionadas à candidata 
Dilma Rousseff. 
Tabela 1 – Agendamento Dilma Rousseff 
Termos hierarquizados 
PAC 3 10 
Emprego 3 7 
Petróleo 3 4 
Economia 3 3 
Pré-sal 2 10 
Lula 2 7 
Brasil seguir mudando 2 6 
UPA 2 5 
Luz 2 4 
Pesquisa 2 4 
Petróbras 2 4 
Primeira mulher 2 4 
Continuidade 2 3 
Minha casa, Minha vida 2 3 
Miséria/Pobreza 2 3 
Trabalho 2 3 
Bolsa família 2 2 
PRONAF 2 2 
Inflação 1 2 
Aborto 1 1 
Bolinha de papel 1 1 
Paulo Preto 1 1 
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Nesta simplificação, o número de dias nos quais o termo ou 
seus sinônimos foram diretamente mencionados na propaganda 
é considerado em detrimento do intervalo na continuidade/ 
repetição. 
Cabe acentuar que as temáticas relativas ao desenvolvimento 
econômico (à exceção de Inflação, possivelmente em razão da 
tendência negativa), foram mais centrais do que temas polêmicos 
que abrangiam, especialmente, o candidato concorrente José 
Serra, como, por exemplo, o debate sobre aborto e o episódio 
“Bolinha de papel”. 
O principal termo da propaganda televisiva não se configurou 
como central no Twitter, como é possível observar na figura 2 
abaixo. 
Figura 2 – PAC 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Ao todo foram somente 2.205 mensagens em todo o período 
eleitoral, dentre as quais os retweets são mais relevantes na 
medida em que proporcionalmente, referindo-se apenas aos 
tweets correlatos ao PAC, o percentual foi de 118, 45%, dada sua 
relevância durante o primeiro turno. 
As situações de aumento do número de mensagens no 
Twitter foram observadas duas vezes: no primeiro turno, em data 
na qual a propaganda televisiva mencionou o termo diretamente 
e, no segundo, coincidindo com a veiculação de propaganda que 
abordou com maior ênfase a temática, ainda que tais ocasiões 
não tenham sido as únicas de agendamento pela propaganda da 
candidata. 
O termo “Emprego” e suas variações com relações mais 
evidentes no contexto do Agendamento da propaganda televisiva 
estão demonstradas na figura 3, inserida abaixo. 
Figura 3 – Emprego 
Tweet 
Retweet 
Reply 
O número total de mensagens foi de 2.388, levemente maior 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
do que em PAC e suas variações. Tal como no caso anterior, o 
aumento do número de mensagens coincide com o Agendamento 
da propaganda televisiva. Entretanto, com mais relevância no 
segundo turno, no qual, diferentemente do primeiro turno, o 
número de tweets, e não de retweets, é maior. 
54 55
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NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
Na figura 4, relativa ao termo “Petróleo”, identifica-se que 
apenas no segundo turno o aumento do número de mensagens 
ocorreu ao mesmo tempo do Agendamento. 
180 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Figura 4 – Petróleo 
“Economia” e suas variações foram mencionadas em 1.314 
mensagens no total, dentre as quais o número de retweets é, ao final 
do período pesquisa, mais significativo do que dos outros tipos 
de mensagens. Em relação à Agenda da propaganda televisiva, 
no segundo turno a coincidência com o aumento do número de 
mensagens no Twitter, demonstrado na figura 5, é mais evidente. 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Figura 5 – Economia 
A figura 6, aborda o número de mensagens e as 
proporções entre os tipos em relação ao termo “Pré-Sal” e seus 
sinônimos. 
Figura 6 – Pré-Sal 
1200 
1000 
800 
600 
400 
200 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
56 57
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No caso de Pré-sal o aumento do número de mensagens só 
acontece no subperíodo que sinaliza o final da campanha, não 
coincidindo com o Agendamento da propaganda televisiva de 
modo tão evidente quanto às palavras/expressões anteriormente 
analisadas. Além disso, percebe-se, novamente, a preponderância 
de retweet. 
O termo “Lula”, abrangido na figura 7, foi o mais mencionado 
em mensagens no Twitter, em um total de 89.886 menções diretas. 
Figura 7 – Lula 
5000 
4500 
4000 
3500 
3000 
2500 
2000 
1500 
1000 
500 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Comparando “Lula” e suas variações com as palavras 
analisadas até aqui, podem ser identificadas duas diferenças 
relevantes: o tipo de mensagem reply é mais relevante do que 
nos outros casos, acompanhando os outros tipos. Além disso, 
apesar de o aumento no número de mensagens no fim do período 
eleitoral acompanhar a tendência de intensificação do debate, 
há um curto período durante o segundo turno que apresenta um 
novo aumento, mas que não corresponde ao Agendamento da 
propaganda televisiva. 
Em relação à expressão “Brasil seguir mudando”, a figura 
8 demonstra os três tipos de mensagens no decorrer do período 
eleitoral. 
Figura 8 – Brasil seguir mudando 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Neste caso não há nenhum aumento relevante no número 
de mensagens que corresponda ao Agendamento da propaganda 
televisiva. O aumento significativo ocorre apenas no período 
final da campanha, especificamente os oito últimos dias, com 
preponderância do tipo tweet: 382 (tweet), 139 (retweet) e 50 
(reply). 
À propósito do termo “UPA” e suas variações, acompanha-se 
os tipos de mensagens na figura 9. 
Figura 9 – UPA 
30 
25 
20 
15 
10 
5 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
É possível notar que as variações são irrelevantes e que os 
aumentos mais significativos no número de mensagens se deram 
58 59
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
em duas situações: a primeira mais evidente com a proximidade 
do fim da campanha e a segunda coincidindo com Agendamento 
da propaganda televisiva do segundo turno. No período total, o 
tipo retweet é mais frequente. 
O termo “Luz”, agregando todas as variações coletadas, é 
demonstrado na figura 10 abaixo. 
Figura 10 – Luz 
800 
700 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
A respeito do termo “Luz”, observou-se que as primeiras 
mensagens que o mencionam ocorreram um dia antes do 
Agendamento da propaganda televisiva, havendo aumento de 
mensagens abordando a temática coincidente com a veiculação 
da propaganda. 
No período total, o tipo de mensagem mais frequente é 
retweet. Essa característica se repete no caso da palavra “Pesquisa” 
e suas variações, tal como é possível verificar na figura 11. 
Figura 11 – Pesquisa 
2500 
2000 
1500 
1000 
500 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Neste caso, também se observa aumento do número de 
mensagens coincidindo com o período de Agendamento da 
propaganda televisiva, ainda que com início em um dia antes. 
A tendência de maior relevância de retweets, especialmente nos 
últimos dias do período eleitoral se repete. 
O aumento do número de mensagens ao final do período 
eleitoral com maior expressividade de retweets também ocorreu 
no caso do termo “Petrobrás”, tal como indicado na figura 12. 
Figura 12 – Petrobrás 
1200 
1000 
800 
600 
400 
200 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
As mensagens incluindo o termo também aumentaram 
significativamente antes do primeiro Agendamento da propaganda 
60 61
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televisiva do primeiro turno e estava em decadência no segundo 
Agendamento do primeiro turno. A mesma dinâmica situacional 
se repetiu no segundo turno. 
Também mais expressiva ao final do período eleitoral, a 
expressão “Primeira mulher” foi mencionada nos três tipos de 
mensagem como de mensagens, tal como demonstrado na figura 
13. 
Figura 13 – Primeira mulher 
900 
800 
700 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Os dados sugerem Agendamento no início do período 
de coleta, entretanto, o aumento do número de mensagens é 
consistente apenas com a situação de final de campanha, quando 
se observa também maior número do tipo tweet. A mesma 
dinâmica se repetiu em relação à expressão “Minha casa, Minha 
vida”, como demonstrado na figura 14. 
Figura 14 – Minha casa, Minha vida 
25 
20 
15 
10 
5 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Já no caso do termo Continuidade, exposto na figura 15, os 
períodos em que há aumento de mensagens com preponderância 
do tipo retweet são mais próximos do Agendamento da 
propaganda televisiva, enquanto os períodos em que o tipo tweet 
é mais evidente são os mesmos nos quais não se identificou 
Agendamento. 
Figura 15 – Continuidade 
200 
180 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Considerando os termos “Miséria” e “Pobreza”, bem como 
suas variações, observa-se coincidência com o Agendamento da 
propaganda televisiva no inicio e no fim do período de estudo, 
como indicado na figura 16. 
62 63
NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 
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Figura 16 – Miséria/Pobreza 
180 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Sobre “Miséria/Pobreza” é possível verificar que há 
predominância do tipo retweet, caso diverso no termo “Trabalho” 
abaixo abordado na figura 17. 
Figura 17 – Trabalho 
180 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Neste caso há coincidência com Agendamento da propaganda 
televisiva no primeiro e no segundo turno, considerando-se que 
no segundo turno há também a questão da proximidade com o 
término do período eleitoral, quando foi mantida maior relevância 
do tipo tweet. 
A preponderância do tipo tweet é observada na minoria 
dos casos, sendo comum que o número de retweets seja mais 
significativo, como na expressão “Bolsa família” e no termo 
“PRONAF”, abordados respectivamente na figura 18 e figura 19. 
Figura 18 – Bolsa família 
Figura 19 – PRONAF 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
12 
10 
8 
6 
4 
2 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Há correspondência entre Agendamento e aumento do 
número de mensagens, principalmente retweet em relação à 
“PRONAF”. Já no que tange a expressão “Bolsa família”, o 
64 65
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número de mensagens não apresentou queda significativa durante 
a totalidade do período pesquisado e, por conseguinte, não se 
identificou relação direta com o Agendamento da propaganda 
televisiva, diferentemente do termo “Inflação” e suas variações, 
apresentado na figura 20. 
Figura 20 – Inflação 
45 
40 
35 
30 
25 
20 
15 
10 
5 
0 
500 
450 
400 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
Tweet 
Retweet 
Reply 0 
Exceto pelo período que demarca o fim da campanha eleitoral, 
os aumentos mais significativos do número de mensagens 
coincidem com o Agendamento da propaganda televisiva e 
preponderância do tipo retweet. Períodos nos quais os outros 
tipos são mais evidentes não são os que apresentam aumento mais 
relevante, bem como não correspondem aos Agendamentos. 
A característica de aumento dos outros tipos e não de retweet 
não coincidindo com o Agendamento é importante, visto sua 
particularidade de relação com o termo “Inflação”. 
Outros termos com características peculiares, além do 
enquadramento em polêmica, considerando as palavras e 
expressões relativas à candidata Dilma Rousseff são “Aborto” e 
“Bolinha de papel”, como demonstrado na figura 21 e na figura 
22, respectivamente. 
Figura 21 – Aborto 
Figura 22 – Bolinha de papel 
50 
Tweet 
Retweet 
Reply 
450 
400 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
As mensagens relativas ao termo “Aborto” foram constantes 
66 67
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durante todo o período de pesquisa e o aumento mais significativo, 
apesar de coincidir com o Agendamento da propaganda televisiva, 
também corresponde ao período de encerramento da campanha. 
Sobre “Bolinha de papel”, ainda que o aumento do número 
de mensagens tenha acontecido ao final da campanha, também 
corresponde ao Agendamento da propaganda televisiva e do 
próprio acontecimento indicado pela expressão, diferenciando-se 
de “Aborto” pelo maior número de retweet. 
Finalizando-se as palavras/expressões relacionadas à 
candidata Dilma Rousseff, tem-se a menção a “Paulo Preto”, 
exposta na figura 23. 
Figura 23 – Paulo Preto 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Para “Paulo Preto”, o aumento mais significativo do número 
de mensagens coincide com o Agendamento da propaganda 
televisiva, observando-se sutil preponderância do tipo retweet. 
Resultados: José Serra 
Seguindo-se o padrão aplicado aos resultados referentes à 
candidata Dilma Rousseff, também para os relativos ao candidato 
José Serra apresenta-se a tabela 2, que se constitui simplificação 
da tabela exposta no Apêndice B. 
Tabela 2 – Agendamento José Serra 
Termos hierarquizados Peso Frequência 
Erenice 3 3 
Saúde 2 9 
Obras 2 7 
Experiente/Experiência 2 6 
Ministro 2 5 
Salário mínimo 2 5 
Educação 2 4 
Escândalo 2 4 
Privatização 2 4 
Zé Dirceu 2 3 
Genérico 1 7 
Acelera 1 4 
Metrô 1 4 
Desemprego 1 4 
Competente 1 2 
Ensino técnico 1 2 
Segundo turno 1 2 
Seguro desemprego 1 2 
Serra do bem 1 2 
68 69
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A palavra Erenice e suas variações tiveram agendamento no 
início do período de estudo, correspondendo ao maior aumento 
no número de mensagens, dentro do qual foram identificadas 986 
mensagens incluindo “Erenice” e 209 implicando as variações. 
Em ambos os casos, a preponderância por tipo de mensagem 
é retweet, seguido de tweet e, em menor número, reply, como 
demonstrado pela figura 24. 
Figura 24 – Erenice 
800 
700 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
As mensagens sobre o termo “Saúde” e suas variações são 
apresentadas na figura 25, abaixo. 
Figura 25 – Saúde 
800 
700 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Exceto por um dia, o termo “Saúde” permeou a propaganda 
televisiva e o Twitter por todo o período estudado, apresentando 
aumentos mais expressivos do número de mensagens, com ênfase 
no tipo reply, ao final do período eleitoral. 
A relevância do tipo reply na fase final do período eleitoral 
não se repetiu no caso do termo “Obra”, para o qual houve 
preponderância de retweet, tal como pode ser observado na figura 
26. 
70 71
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Figura 26 – Obras 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
A data na qual se identificou o maior número de mensagens 
relativas ao termo (327 mensagens), coincide com o último 
Agendamento da propaganda televisiva, bem como os tipos 
retweet e tweet são mais significativos, sendo 165 e 146 
mensagens respectivamente. Apesar de corresponder ao período 
de encerramento da campanha, foram cerca de 200 mensagens a 
mais, comparadas com data mais próxima do final do período de 
coleta, na qual não houve Agendamento. Sobre “Experiente” e 
variações, apresenta-se a figura 27. 
Figura 27 – Experiente/Experiência 
450 
400 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
O aumento do número de mensagens que incluíam o termo 
“Experiente” ou variações não ocorreu de modo que seja possível 
relacioná-lo diretamente com o Agendamento da propaganda 
televisiva. Como em alguns casos anteriores, o aumento do 
número de mensagens mais relevante ocorreu ao final do período 
de campanha. O mesmo aconteceu no caso do termo “Ministro”, 
demonstrado na figura 28. 
Figura 28 – Ministro 
400 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Seguindo-se para a expressão “Salário Mínimo” e respectivas 
72 73
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variações há a figura 29, abaixo demonstrada. 
Figura 29 – Salário mínimo 
180 
160 
140 
120 
100 
80 
60 
40 
20 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Nas datas em que foram identificados os maiores números de 
mensagens há coincidência com o Agendamento da propaganda 
televisiva, excetuando-se o período de encerramento da campanha. 
O tipo tweet esteve equilibrado com retweet quando do primeiro 
Agendamento, e replys tiveram pouca oscilação no decorrer de 
todo o período eleitoral. 
Os termos “Educação” e “Privatização” guardam algumas 
similaridades e por isso são apresentados abaixo, na figura 30 e 
na figura 31, respectivamente. 
Figura 30 – Educação 
Figura 31 – Privatização 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
600 
500 
400 
300 
200 
100 
0 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Tweet 
Retweet 
Reply 
Apesar de aumentos mais significativos no número de 
mensagens terem ocorrido no período de encerramento da 
campanha, também coincidem com as datas dos últimos 
Agendamentos da propaganda televisiva. Diferentemente de 
74 75
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Projeto Neofluxo: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na Web

  • 1. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web 1 Walter Teixeira Lima Junior Amanda Luiza S. Pereira Rafael Vergili Projeto neofluxo: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na Web
  • 2. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web CAPA: Rodrigo Rojas EDITORAÇÃO: Cláudia Mª Arantes de Assis Saar REVISÃO: Luiz Antonio Ferreira Nazareth Junior L628p Lima Junior, Walter Teixeira Projeto Neofluxo: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na WEB / Walter Teixeira Lima Junior, Amanda Luiza Silva Pereira, Rafael Vergili. São Paulo: [s.n.], 2014. 190 p. Livro do projeto de pesquisa Neofluxo financiado pelo CNPq - Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. Bibliografia ISBN 978-85-918033-0-9 1. Projeto Neofluxo 2. Tecnologia 3. Comunicação 4. Ciência cognitiva 5. Astroturfing 6. Banco de dados 7. Cabos virtuais I. Pereira, Amanda Luiza Silva II. Vergili, Rafael III. TECCCOG IV. Título CDD 302.2 Agradecimentos Ao CNPq, pelo apoio financeiro para que o projeto Neofluxo se tornasse viável entre os anos de 2010 e 2012. Aos pesquisadores que participaram da elaboração do pro-jeto enviado ao CNPq: Diólia de Carvalho Graziano e Liráucio Girardi Júnior. Na parte estrutural, ao Maurício Maia, por desenvolver o software para coletar os dados fundamentais para o projeto, bem como pela colaboração no curso Hacking Journalism no Neo-fluxo. Dhiego Piroto Calado, que contribuiu com a normalização dos dados coletados e auxílio técnico na busca de padrões espe-cíficos. E Fábio Luís Pereira, que solucionou diversos bugs que surgiram no decorrer do processo e, em especial, na fase final do projeto. Aos participantes do Seminário de Pesquisadores do Neo-fluxo, momento em que diversos problemas metodológicos foram discutidos e resolvidos. Entre os presentes, destaque para: Cris-tiano Sant’Ana, Daniel Paiva, Douglas de Souza Soares, Erica Peroni e Helena Navarrete. Aos responsáveis pela capa, diagramação e revisão geral do e-book: Rodrigo Rojas, Cláudia Maria Arantes de Assis Saar e Luiz Antonio Ferreira Nazareth Junior, respectivamente. Aos pesquisadores que colaboraram intensamente em diver-sas etapas do projeto, como a elaboração da metodologia, pesqui-sa bibliográfica, além da coleta e análise de dados: André Rosa, Camila Zanqueta, Carolina Ribeiro Pietoso, Caru Schwingel, Di-ego Sieg, Jeferson de Carvalho, Mariana Pascutti e Tiago César 2 3
  • 3. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Agostinho. Enfim, de maneira geral, agradecemos (Walter Teixeira Lima Junior, Amanda Luiza dos Santos Pereira e Rafael Vergili) a todos os integrantes do antigo grupo de pesquisa Teccred (Tecnologia, Comunicação e Cultura de Rede), instalado na Faculdade Cásper Líbero, precursor do atual Tecccog (Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva), na Universidade Metodista de São Paulo, e interessados na temática, que, direta ou indiretamente, contribuí-ram para que os objetivos do projeto fossem atingidos e a presen-te obra pudesse ser redigida. Sumário Prefácio.......................................................................................9 Introdução...............................................................................16 Capítulo 1 - Agenda Setting e correlações conceituais no projeto Neofluxo .............................................21 Opinião Pública, Esfera Pública e Deliberação............................................................................ 22 Agendamento da mídia e Fluxo de comunicação em dois estágios......................................................................26 Astroturfing..............................................................................30 Capítulo 2 - Metodologia Interdisciplinar do Projeto Neofluxo .....................................................................34 Procedimentos metodológicos da primeira fase do Projeto........................................................................35 Critérios para definição de palavras-chave/ expressões no primeiro turno........................................39 Informações sobre as bases de dados constituídas a partir dos canais oficiais dos candidatos no primeiro turno ..................................................41 4 5
  • 4. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Problemas no monitoramento de canais oficiais e coleta de palavras-chave.........................................................43 Mudanças nos procedimentos metodológicos para o segundo turno e possíveis soluções para projetos futuros................................................................44 Aperfeiçoamento dos procedimentos para coleta de palavras-chave................................................45 Verificação de palavras-chave mais citadas em todo o período Eleitoral ....................................................47 Procedimentos adotados na segunda fase do projeto para a identificação de Astrotufings........................49 Capítulo 3 - Apresentação de resultados de agendamento de Astroturfings............................................52 Resultados: Dilma Rousseff.....................................................52 Resultados: José Serra............................................................69 Resultados: Marina Silva..........................................................82 Considerações finais................................................................94 Referências ..........................................................................100 Apêndices.............................................................................105 Apêndices 1. Apêndice A - Palavras-chave mais citadas na análise da candidata Dilma Rousseff (PT).......................................................................105 2. Apêndice B - Palavras-chave mais citadas na análise do candidato José Serra (PSDB)........................................................................143 3. Apêndice C - Palavras-chave mais citadas na análise da candidata Marina Silva (PV) .............................................................................183 6 7
  • 5. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Prefácio Antes da campanha eleitoral para presidente da República esquentar, em 2010, a mídia já apostava em um uso diferenciado da Internet em relação às últimas eleições, especialmente a partir da percepção de que Barack Obama se beneficiou de ferramentas online em 2008. “Ferramentas como o my.barackobama.com ajudaram a organizar eventos reais e revolucionaram a captação de recursos para a campanha, que atingiu US$ 500 milhões com 3,2 milhões de doadores”, lembra o G11, apresentando ainda uma opinião do especialista Gil Giardelli: políticos e partidos ainda não sabem usar a Internet. “A campanha está caminhando para ter profissionais trabalhando para criar embates”. O texto salienta a presença dos pré-candidatos à presidência no Twitter, bem como ações preliminares. O PT comemorava uma parceria internacional: a consultoria Blue State Digital, que disponibilizaria um software para identificar os militantes mais engajados – dado que foi esquecido durante a campanha. Paralelamente, a campanha de Dilma Rousseff recrutou o ativista do projeto Software Livre Brasil, Marcelo Branco, como responsável pelas redes sociais e pela plataforma colaborativa Dilma na Rede – mas sem interferência nos conteúdos oficiais compartilhados em blogs ou sites oficiais. Lembra ainda os hábitos notívagos do candidato do PSDB, José Serra, acostumado a postar em seu perfil durante a madrugada. Apresenta também o publicitário Sérgio Caruso, então responsável pela campanha tucana, declarando que “o principal objetivo é gerar conversas”. 1 “Avanço da internet condiciona campanha de presidenciáveis”. 27/05/2010, 12h46. Disponível em: <http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/05/avanco-da- internet-condiciona-campanha-de-presidenciaveis.html>. Acesso em: 23 dez. 2012 8 9
  • 6. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web “Gerar conversas”, “divulgar a agenda” e “refletir a campanha”: estas eram as possibilidades elencadas pelos observadores deste movimento. Um levantamento preliminar realizado pela consultoria E. Life em maio de 2010 concluiu, a partir de postagens e conexões entre perfis, os presidenciáveis poderiam “atingir até 5 milhões de usuários em uma semana”2. Simultaneamente à divulgação dos dados, o presidente da E.Life, Alessandro Barbosa Lima, ponderava que esta constatação quantitativa talvez não fosse tão relevante. “O poder de multiplicação das mensagens nas redes sociais é enorme, mas não se pode considerar nenhum resultado de pesquisa no Twitter como conclusivo no resultado das eleições”. A coordenadora de redes sociais de José Serra foi Soninha Francine. Segundo a declaração de Marcelo Branco durante participação no MediaOn3, a presença dela amenizou o clima bélico da campanha tucana: “Antes de a Soninha entrar na campanha do Serra, a situação era pior, com o disparo de correntes de e-mails de dentro da própria campanha. Depois isso melhorou um pouco, mas tivemos práticas condenáveis”. A visão de que políticos e partidos desconhecem as ferramentas, somada à distância da população brasileira da web, mascararam estratégias em mídias sociais em adjetivos como “aventureiros” ou “confusos”. A começar com o próprio Marcelo Branco, que criou constrangimentos com a coordenação da campanha ao externar posturas contrárias a do núcleo central, 2 “No Twitter, presidenciáveis atingem até 5 milhões de usuários em 7 dias”. 03/06/2010, 12h14. Disponível em: <http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/ noticia/2010/06/no-twitter-presidenciaveis-atingem-ate-5-milhoes-de-usuarios-em-7- dias.html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 3 “MediaOn: baixaria na campanha presidencial esquenta debate”. 10/11/2012, 13h47. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/mediaon-baixaria-na-campanha-presidencial- esquenta-debate,d8181bafdc2ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD. html>. Acesso em: 23 dez. 2012. além de reclamar o fato de não ser consultado sobre assuntos relacionados à presença de Dilma Rousseff na Internet4. “Do confronto das candidaturas adversárias, sobram acusações de baixarias a uso de robôs para amplificar mensagens de apoio. As críticas são até amenas perto do fogo amigo que Branco recebe de políticos do PT”.5 Branco também questionou os critérios e filtros para que palavras-chave ficassem entre as mais populares – os chamados trending topics. Ainda assim, terminou a campanha como um dos responsáveis pela organização dos debates no Twitter, comemorando ainda o fato de ter, muitas vezes, pautado a mídia.6 Em julho de 2010, a Revista Época7 descreveu dois episódios pontuais nesse sentido. Um deles cometido pela pré-candidata Marina Silva, “que por não saber como funciona o retweet [quando um usuário reenvia a mensagem de outro], entrou em uma discussão religiosa com alguns usuários”. O segundo, mais agressivo, relata a mudança de identidade de um perfil com 30 mil followers, que de uma hora para outra, passou a representar um candidato a deputado federal. O episódio reforçou boatos sobre a venda de contas populares, isto é, com muitos seguidores. As denúncias de mau uso da rede foram além, constatando a 4 “Após sucessivas gafes, Marcelo Branco será mantido na coordenação de Dilma com poder esvaziado”. 23/07/2010, 0h00. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/ eleicoes-2010/apos-sucessivas-gafes-marcelo-branco-sera-mantido-na-coordenacao-de- dilma-com-poder-esvaziado-5010135>. Acesso em: 23 dez. 2012. 5 “Guerrilheiro da internet petista incomoda caciques”, 23/08/2010, 0h00. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2308201009.htm>. Acesso em: 23 dez. 2012. 6 “Estrategista faz balanço da campanha de Dilma nas redes sociais”. 02/11/2012. Disponível em: <http://eleicoesnarede.blog.terra.com.br/2010/11/01/estrategista-faz-balanco- da-campanha-de-dilma-pela-twitcam>. Acesso em: 23 dez. 2012. 7 “Políticos apanham do Twitter”. 08/07/2010, 16h40. Disponível em: <http:// revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI153750-18176,00.html>. Acesso em: 23 dez. 2012. 10 11
  • 7. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web venda de mensagens8. Durante um dos debates entre candidatos na TV, “usuários com muitos seguidores receberiam dinheiro de candidatos para detonar adversários”. Um artigo de O Estado de S. Paulo, assinado por Gabriel Rossi e Aldo Fornazieri, resumiu as ações dos candidatos na Internet a um “debate de surdos”, pautado por troca de acusações mentirosas e ausência de uma etiqueta digital, ignorando a combinação da potência do meio com a qualidade do conteúdo. Mais do que isso, revelam desconhecimento a respeito da presença do eleitor na rede, quem ele influencia, por quem é influenciado, como utiliza tecnologias, que ações específicas deveriam ser usadas para cada nicho etc. A largada desta campanha se demonstra, até aqui, bastante estéril e imatura. Uma análise feita durante um período de dois meses nos possibilitou aferir, por exemplo, a quantidade e a qualidade das citações de determinadas marcas e nomes – no caso, dos candidatos – nas redes sociais. Já foi possível constatar a falta de qualificação do debate e dos conteúdos políticos e os ataques gratuitos que vicejam na web.9 Ao final do primeiro turno, ficou a sensação de que candidatos “descobriram e abandonaram a internet”, como apontou texto da Revista Época10. “Alguns apareceram na web apenas para não parecerem obsoletos. Outros acreditaram que seriam salvos do 8 “Contra a lei eleitoral, tuítes pagos chegam às Eleições 2010”. 27/08/2010, 09h02. Disponível em <http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2010/08/27/uso-de- tuites-pagos-por-candidatos-exige-atencao-redobrada-do-internauta-eleitor.jhtm>. Acesso em: 23 dez. 2012. 9 “A internet e as eleições”. 24/07/2010, 0h00. Disponível em <http://www.estadao. com.br/noticias/impresso,a-internet-e-as-eleicoes,585417,0.htm>. Acesso em: 23 dez. 2012. 10 “As eleições na web”. 01/10/2010, 20h57. Disponível em: <http://revistaepoca. globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI176429-18176,00-AS+ELEICOES+NA+WEB. html>. Acesso em: 23 dez. 2012. anonimato do pouco tempo televisivo. A web não influenciou decisivamente as eleições brasileiras – principalmente a presidencial –, mas o uso livre de sites como o YouTube e o Twitter não pode ser ignorado”. De acordo com o texto, foi Serra quem melhor usou a ferramenta, falando de forma pessoal e respondendo a perguntas dos seus seguidores; mesmo assim, foi Dilma, quem liderou as pesquisas. Indício da força da televisão, segundo a reportagem. A força da televisão ficou óbvia após o início do horário gratuito eleitoral. O distanciamento da petista Dilma Rousseff na liderança das pesquisas só veio depois do início da campanha televisiva. A televisão também influenciou a internet: depois de aparecer em um debate, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda, virou trending topic no Twitter (a lista de assuntos mais comentados no site). A campanha de Plínio – que tem apenas 1% das intenções de voto e via de regra é candidato apenas para divulgar o PSOL – foi uma das mais comentadas na rede. Se a questão envolvendo arrecadações ou mesmo engajamento de eleitores não foi o que se esperava na campanha presidencial na Internet, por outro lado candidatos a eleições legislativas, como a candidata a deputada federal Jandira Feghali, souberam aproveitar a ferramenta11. O volume de mensagens postadas no Twitter também foi útil para compreender a reação dos usuários, indicando tendências positivas ou negativas12. 11 “Candidatos reforçam atuação na internet na reta final da campanha”. 01/10/10/ 0h00. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/eleicoes-2010/candidatos-reforcam-atuacao- na-internet-na-reta-final-da-campanha-4987140>. Acesso em: 23 dez.2012. 12 “Engajamento político na rede reflete resultado das urnas”. 06/10/2010, 11h14. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/planoseideias/2010/10/06/ engajamento-politico-na-rede-reflete-resultado-das-urnas/>. Acesso em: 23 dez.2012. 12 13
  • 8. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web A Internet também foi decisiva para a terceira colocação de Marina Silva, mesmo tendo usado o serviço de uma forma burocrática. Em artigo publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat13, a especialista Risoletta Miranda chamou o “sprint” de Marina, na reta final, de “tsunami digital verde” – além disso, destacou as menções feitas por celebridades e perfis noticiosos, o que contribuiu para a exposição de informações no Twitter diante de milhões de usuários. A articulação ao redor da candidata aproveitou o “Movimento Marina Silva”, criado em 2007 por ativistas que defendiam sua candidatura. Retomada a partir da campanha, seus simpatizantes organizaram eventos online como um “twitaço”, em 20 de julho14. A hashtag da ação foi decidida por meio de uma votação no Orkut, surpreendendo a própria candidata e indicando movimentações descentralizadas. “Não tem campanha mais feliz na web do que a de Marina. Ela não usa a internet para fazer ataques a nenhum outro candidato, é uma campanha muito propositiva”, afirmou o coordenador da campanha digital de Marina Silva, Caio Túlio Costa, em um encontro envolvendo ainda Marcelo Branco e Sérgio Caruso. Neste evento, em agosto de 2010, os três concordaram: não é possível repetir no Brasil o fenômeno Obama15. Em encontros semelhantes, bem como em artigos publicados 13 “A Tsunami digital do 1° turno”. 05/10/2010, 4h46. Disponível em: <http://oglobo. globo.com/pais/noblat/posts/2010/10/05/a-tsunami-digital-do-1-turno-330030.asp>. Acesso em: 23 dez. 2012. 14 “Marina tenta usar o Twitter para alavancar campanha”. 20/07/2012, 17h01. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/javoto/posts/2010/07/20/marina-tenta-usar- twitter-para-alavancar-campanha-309660.asp>. Acesso em: 23 dez. 2012. 15 “Assessores para web dizem que não dá para repetir fenômeno Obama”. 12/08/2010, 17h28. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/ noticias/0,,OI4620195-EI15315,00-Assessores+para+web+dizem+que+nao+da+para+ repetir+fenomeno+Obama.html>. Acesso em: 23 dez. 2012. após as eleições, Caio Túlio Costa concluiu que a Internet foi fundamental para que houvesse segundo turno nas eleições presidenciais. Não é tarefa simples criar uma conexão entre dados quantitativos do Twitter e o resultado das urnas, mas há uma coincidência comemorada pelos aliados da ex-senadora: 60% dos votos que Marina Silva conquistou se concentraram nas 100 cidades com maior audiência na Internet16. André Rosa de Oliveira Jornalista. Docente nos cursos de Comunicação Social das Faculdades Integradas Rio Branco. Doutorando pela Universidade Metodista de São Paulo. 16 “Internet garantiu 3º lugar de Marina nas eleições, diz consultor”. 14/04/2011, 12h51. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2011/04/14/ internet-garantiu-3%C2%BA-lugar-de-marina-nas-eleicoes-diz-consultor>. Acesso em: 23 dez. 2012. 14 15
  • 9. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Introdução O interesse sobre o papel da Web em atividades político-partidárias foi intensificado pelo resultado favorável a Barack Obama na disputa presidencial estadunidense de 2008, gerando inúmeros debates sobre participação, democracia e engajamento, dentre outros. Particularmente na articulação entre política e comunicação, a discussão acerca da relação entre velhos e novos meios também foi acentuada, sabendo-se que: A influência dos Meios de Comunicação de Massa (MCM) sobre o voto do eleitorado brasileiro nas eleições majoritárias e proporcionais tem sido objeto de intenso estudo e pesquisa nos últimos anos. Estruturada por tecnologias broadcasting, essa configuração de espaço midiático funciona como palco importante para a discussão na esfera pública de temas de relevância social [...] (LIMA JUNIOR, 2011, p. 138). Apontando o caso da campanha online de Barack Obama como positivo em função da combinação de diversas ferramentas, no estudo “Politics 2.0”: a campanha online de Barack Obama em 2008 concluiu-se também que: [...] não se destacou exatamente pelo pioneirismo em geral, apenas pelo pioneirismo político. Todas as práticas usadas por sua equipe já haviam sido testadas com sucesso por anunciantes via publicidade digital. O grande diferencial da campanha democrata, entretanto, foi a amplitude das ações [...] (GOMES et al., 2009, p. 39). Nesse sentido, cabe destacar que as condições comunicativas pertinentes à conjuntura comunicacional estruturada pelos diferentes tipos de meios possuem particularidades, as quais são, minimamente, relativas à imbricação com política e, por conseguinte, relacionadas a aspectos contextuais macro como, por exemplo, fatores sociais, econômicos e tecnológicos. Antes mesmo do período eleitoral, havia muita expectativa e dúvida sobre as campanhas presidenciais online de 2010 no Brasil, bem como a relação das atividades na Web com as veiculações em MCM. O que foi possível acompanhar desde o início dos debates anteriores ao período eleitoral dizia respeito à coordenação das atividades online, sendo Marcelo Branco, Soninha e Juliano Spyer para Dilma, Serra e Marina respectivamente, e a alguns elementos das estratégias: mobilização da militância partidária no caso de Dilma, a utilização do Twitter pelo próprio candidato no caso de Serra e o site Movimento Marina1. Com o objetivo de compreender melhor as circunstâncias comunicacionais contíguas às campanhas online surgiu o projeto de pesquisa aplicada Observatório de Mídias Sociais Conectadas denominado Neofluxo2, elaborado pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva (Tecccog)3 e aprovado em junho de 2010 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)4. Por meio de softwares produzidos e/ou combinados, o projeto se dedicou aos seguintes propósitos interdependentes, verificando: 1 <http://www.movimentomarinasilva.org.br>. 2 A metodologia interdisciplinar completa do Projeto Neofluxo pode ser observada mais detalhadamente no segundo capítulo do presente e-book. 3 Anteriormente Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede (Teccred). 4 Processo 37 AC 401509/2010-9 e o edital MCT/CNPq/MEC/CAPES nº 02/2010. 16 17
  • 10. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web (1) se mensagens dos programas televisivos dos principais candidatos à presidência eram utilizadas como parâmetro para os processos comunicativos sustentados pelo Twitter, avaliando também as estratégias de tais candidatos na plataforma específica, e (2) se havia ação de Astroturfings (usuários especializados que se passam por usuários comuns, por exemplo) vinculados a partidos ou candidatos particulares. A partir da elaboração de critérios valor-notícia para seleção de palavras-chave foi possível rastrear, coletar e armazenar as participações de usuários cadastrados no Twitter, formando-se um Banco de Dados com mais de 20 milhões de mensagens. O Twitter foi escolhido não só pela sua adoção por eleitores, candidatos e membros de campanha, mas também em função de seu dinamismo e de sua versatilidade no que diz respeito à apropriação para compartilhamento e difusão de informações, bem como para criação de programas independentes que possam, por exemplo, executar varreduras e coletas de dados publicados em perfis abertos5. Seguindo essa mesma lógica, todos os dados armazenados foram disponibilizados para visualização, cruzamento e pesquisas através da possibilidade da construção de APIs (Application Programming Interface - Interface de Programação de Aplicações)6. 5 http://www.neofluxo.net/projeto.php#textos3 6 http://www.neofluxo.net/api.php. Além da divulgação do projeto pelo site, da criação do sistema de APIS, do curso Hacking Jornalism no Neofluxo e do Seminário dos Pesquisadores do Neofluxo, houveram as seguintes publicações/apresentações de trabalho: - LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. NEOFLUXO: Jornalismo, base de dados e a construção da esfera pública interconectada. Galáxia, São Paulo, n. 21, p. 137-149, jun. 2011. - LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. Neofluxo: Jornalismo, base de dados e a construção da esfera pública interconectada. XXXIV Intercom, Recife, 2011. Disponível em: < http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/R6-2733-1.pdf >. No que tange ao fluxo, tanto as palavras-chave, quanto o material coletado a partir das fontes oficiais dos candidatos serviram de subsídio para a efetivação de um mapeamento em que se verificava o ponto de partida das mensagens, ou seja, o caminho percorrido por elas e sua distribuição pelo Twitter7. Os dados armazenados foram analisados à luz do arcabouço teórico abarcado no primeiro capítulo deste e-book, especificamente Opinião Pública, Esfera Pública, Deliberação, Agendamento (Agenda-setting), Fluxo de comunicação em dois estágios (Two Steps Flow of communication) e Astroturfings. No segundo capítulo, aborda-se a metodologia que alicerçou o projeto, com detalhes da elaboração dos critérios valor-notícia utilizados na coleta e dos parâmetros de seleção dos dados, além da evolução de procedimentos metodológicos utilizados no segundo turno da eleição. O terceiro capítulo apresenta os resultados referentes ao agendamento, em uma comparação entre a propaganda eleitoral e o fluxo no Twitter dos três principais candidatos à Presidência da República no ano de 2010, além da identificação de possíveis Astroturfings. Nas Considerações Finais, a partir dos resultados alcançados, são expostas as conclusões obtidas e apresentadas as formas de divulgação que foram utilizadas no decorrer do processo para disseminar as informações de interesse público. Ainda que as alterações tecnológicas que contextualizam a temática deste estudo sejam extremamente dinâmicas, mais do que descrever as condições comunicacionais, o que há de mais - SOSTER, D.A; LIMA JUNIOR, W. T. Neofluxo: Jornalismo e base de dados. In:_____. Jornalismo digital: audiovisual, convergência e colaboração. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011. 7 http://www.neofluxo.net/projeto.php#textos2 18 19
  • 11. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web importante nesta pesquisa é o questionamento, sustentado por dados, de máximas pouco produtivas para a perspectiva científica na Pesquisa em Comunicação e a indicação dos desafios a serem superados para a identificação de fluxos comunicacionais. CAPÍTULO 1 – AGENDA-SETTING E CORRELAÇÕES CONCEITUAIS NO PROJETO NEOFLUXO A análise de mensagens oriundas dos programas televisivos dos três principais candidatos e a identificação de usuários do Twitter que buscaram influenciar os fluxos comunicacionais da plataforma são articuladas, de maneira central, pela hipótese da Agenda-setting. Contextualizada pela interface comunicação-política, tal hipótese se entrelaça diretamente com a Two Steps Flow e se atualiza com a agregação da noção de Astroturfing e da sua imbricação com as tecnologias de comunicação digitais. Neste capítulo abordam-se, inicialmente, os aspectos conceituais de Opinião Pública, Esfera Pública e Deliberação, uma vez que influenciam as reflexões pertinentes ao Neofluxo, ainda que não tenham sido conceitos diretamente operacionalizados. Na sequência, retomam-se as hipóteses Agenda-setting e Two steps flow of communication em sua relação de atualização a partir da noção de Astroturfing, esclarecendo-se como tais conceitos foram operacionalizados no projeto. 20 21
  • 12. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Opinião Pública, Esfera Pública e Deliberação Como apresentado mais detalhadamente no texto “Web e Política: entre a possibilidade de manifestações de grupos marginalizados e o reforço de discurso das lideranças políticas”, por Mariana Rezende dos Passos e Rafael Vergili (2014), com o surgimento da imprensa, propulsionada pela invenção da prensa de Gutenberg, a disseminação de informações de tornou mais intensa. O embate de opiniões relativas aos assuntos pertinentes à sociedade se dava em cafés e bares, de modo que: Uma imprensa que se desenvolvia a partir da politização do público e cuja discussão ela apenas prolongava continuou a ser por inteiro uma instituição desse mesmo público: ativa como uma espécie de mediador e potenciador, não mais apenas um mero órgão de transporte de informações e ainda não um instrumento da cultura consumista (HABERMAS, 1984, p. 215- 216). Ao mesmo tempo em que a mídia de massa teria sido responsável pela transposição das barreiras de espaço e tempo, também depende da geração de lucro e, por isso, “[...] a própria imprensa se torna manipulável à medida que ela se comercializa” (HABERMAS, 1984, p. 217). Complementarmente à publicidade, se encerra na valorização da estética e ao preparo dos consumidores para receber uma cultura de massa (HABERMAS, 1984). Nesse panorama, a Esfera pública se apresenta como “uma rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões, nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos” (HABERMAS, 1997, p. 92). Dessa maneira, a Esfera pública pode ser compreendida como uma estrutura comunicacional que é subsidiada por interações privadas para promover a exposição de diferentes pontos de vista, cuja troca espontânea e recíproca de razões, deve resultar em entendimento, visto que “para preencher sua função, que consiste em captar e tematizar os problemas da sociedade como um todo, a esfera pública política tem que se formar a partir dos contextos comunicacionais das pessoas virtualmente atingidas” (HABERMAS, 1997, p. 97). Entrelaçada à Esfera pública, a Opinião pública se alinha aos debates no espaço público (SAVIGNY, 2002), uma vez que se constitui pelos processos comunicacionais e diálogos entre pessoas. Trata-se, então, de contínua mediação entre o público e o privado para formar um entendimento mais amplo do que aqueles que são derivados dos dilemas individuais e, portanto, passível de ser ampliado aos diferentes espaços de debate (ESTEVES, 2010; SPLICHAL, 1999). A obtenção deste entendimento mais amplo depende diretamente da contínua abertura dos diálogos para que novas razões sejam incluídas, o que, por conseguinte, só é possível por meio de liberdade de expressão, acesso universal às informações e inclusão de todos os membros, sem distinções socioculturais (SAVIGNY, 2002). Sabendo-se que as noções de Esfera pública e de Opinião pública não podem ser abarcadas somente pelos espaços e meios que colaboram para sua formação, se faz necessário considerar, tendo em vista o Twitter, que há alterações: o relacionamento entre políticos, partidos e eleitores se modifica em larga medida em função da topologia das redes e do advento da Web, já que 22 23
  • 13. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web os usuários/membros se encontram inseridos em um ambiente de informação livre e igualmente distribuída. Incluindo o ambiente Web em suas estratégias, políticos e partidos encontram diversos novos desafios, dentre os quais se destaca a superação de sua estruturação hierárquica, incompatível, em determinadas condições, com a das redes sociais, que não foram desenvolvidas para a inserção de perfis organizacionais (LOVINK, 2006). No período de campanha eleitoral, sendo o objetivo final o direcionamento do voto, o relacionamento busca gerar reputação ao político e ao partido, utilizando de perfis pessoais e de partidos. As avaliações dos eleitores sobre determinado político sofrem rápidas variações, frequentemente alicerçadas pela imagem dos candidatos construída no desenvolvimento da campanha, isto é, pelo “[...] conjunto de ideias que uma pessoa tem ou assimila a respeito de um objeto, e que forma na sua consciência um entendimento particular sobre tal objeto, seja ele um fato, uma pessoa ou uma instituição” (VAZ, 1995, p. 53). As constantes pesquisas de intenção de voto durante períodos eleitorais evidenciam adesões a determinados candidatos de maneira pontual e sem consistência. A falta de solidez pode se dar pela falta de fortalecimento da reputação de candidatos, enfatizando-se que Reputação se “diferencia de imagem por ser construída ao longo do tempo e por não ser simplesmente uma percepção em um determinado período” (ARGENTI, 2006, p. 97). Por isso, o privilégio de ações pontuais e periódicas em detrimento do investimento em relacionamento de longo prazo dificulta a adesão e a consolidação de uma identidade8. 8 A identidade reflete-se na imagem e reputação que alguém deseja passar, uma vez que está associada a princípios e valores que identificam uma pessoa ou organização e as diferenciam de suas concorrentes, baseando-se apenas nas crenças e características Observando que “falar em reputação significa focar em algo mais duradouro, para um reflexo de identidade da empresa [no caso, do partido ou candidato]” (CARVALHO, 2011, p. 130), identifica-se a necessidade de um esforço ininterrupto de relacionamento, ainda que tal ação não seja garantia de voto, mas de familiaridade (ROSA, 2007; MACNAMARA, 2010) suficiente para a composição da reputação, isto é, para a formação de opiniões, argumentos e convicções de outras pessoas sobre determinado candidato que tenha alcançado credibilidade e/ou reconhecimento (ALMEIDA, 2005; JABLIN, 2001; IASBECK, 2007). No entanto, esse relacionamento não acomoda por completo a reputação, porque “a formação da opinião, desatrelada das decisões, realiza-se em uma rede pública e inclusiva de esferas que se sobrepõem umas às outras, cujas fronteiras reais, sociais e temporais são fluidas” (HABERMAS, 1997, p. 32), ou seja, abrange também a relação entre os eleitores. Neste ponto, é inserida a ideia de Deliberação, compreendida como um constante processo de negociação das razões e opiniões que não resulta, necessariamente, em um consenso entre interlocutores. Mesmo após uma decisão temporária, se faz necessária a continuidade do debate para que cada vez mais indivíduos possam ser incluídos, tanto para se expressarem, quanto para entenderem melhor as questões debatidas. Em outras palavras, diz respeito ao embate entre os diferentes pontos de vista e não ao consenso. Isso porque o objetivo é ampliar a compreensão de determinado tema ou amenizar o dissenso entre os falantes e ouvintes (HABERMAS, 2004). Na proposta do autor (2004), internas, independentemente do ambiente externo (CAPRIOTTI, 2005). 24 25
  • 14. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web trata-se de preservar os interesses públicos por meio da ação comunicativa e argumentação. Nesse contexto, a mídia, como importante elemento de publicidade, gera visibilidade a diversos assuntos e pode influenciar a opinião de grande parte da audiência, ao destacar, por exemplo, um ponto de vista em detrimento de outro. Então, a deliberação mediada reduz as restrições de debate a pequenos grupos presenciais, mas é importante ponderar que antes de potencializar a esfera pública, os meios de comunicação são empresas e, por conseguinte, possuem interesses particulares (WESSLER; SCHULTZ, 2007). Savigny (2002), por exemplo, argumenta que os veículos mais chamam a atenção e persuadem o público, do que informam e propulsionam debates, dentro de uma lógica em que se deve utilizar a mensagem correta, para as pessoas indicadas, por meio dos veículos de comunicação adequados, com o objetivo de influenciar a opinião de indivíduos em relação às questões políticas. É nessa perspectiva que cabe inserir a Agenda-setting em sua relação com o Two steps flow of communication e no contexto do projeto Neofluxo especificamente. Agendamento da mídia e Fluxo de comunicação em dois estágios Resumidamente, pode-se dizer que Agenda-setting (Agendamento) se baseia em: [...] uma relação casual entre as agendas noticiosa e pública, quer quanto aos temas mais relevantes, quer acerca da sua importância relativa. Trata-se de um efeito não-intencional do processo de construção da atualidade informativa na configuração do ambiente político em que se forma a opinião pública. Ao excluírem, incluírem e hierarquizarem os acontecimentos diários, os jornalistas orientam a atenção do público para os assuntos destacados: a agenda dos meios de comunicação torna-se a agenda pública (BORGES, 2010, p. 137). Outros efeitos, como o enquadramento (Framing) podem derivar-se, também, desse agendamento. Ao seguir, em geral, interesses econômicos, a mídia atua como fórum para o debate e – ao enquadrar questões que serão debatidas e como serão discutidas – participa como um dos principais atores da discussão, já que pode condicionar a interpretação dos fatos por parte significativa das pessoas (MCCOMBS, 2006; PORTO, 2004). Pode-se considerar que apesar de a mídia não transformar automaticamente a opinião dos indivíduos, influencia na ênfase de comentários e conversações sobre conteúdos e formatos, quando se trata de questões políticas, a aceitação do agendamento deve-se mais ao interesse em julgamento coletivo do que em agregação de preferências privadas (YOUNG, 2001). Em uma perspectiva otimista, pode-se dizer que a Web possui potencial de influenciar positivamente processos democráticos, devido à sua topologia e seu consequente afastamento do exercício de poder9. Por outro lado, é preciso considerar que como as informações não têm filtragem, elas são frágeis, sem credibilidade, o que pode comprometer o debate, por ser baseado 9 Galloway (2004) explica que o exercício de poder, tal como concebido pelo viés social não corresponde ao controle que diz respeito à Internet. 26 27
  • 15. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web em informações não estruturadas. Voltando-se à reflexão teórica sobre a Comunicação Social, Martino (2000, p. 104) atribui a manutenção do modelo lasswelliano do processo comunicacional a dois fatores específicos: “a necessidade de fornecer um status científico à pesquisa em comunicação” e “a capacidade de organizar e dar unidade aos diversos aspectos da questão”. A despeito de ser objeto de críticas, justamente o modelo de Lasswell propulsionou o desenvolvimento de diversos estudos circunscritos pelo domínio da Comunicação, dentre os quais, no mesmo contexto das noções recortadas no item anterior, têm-se as pesquisas sobre os Efeitos. Os Efeitos, percebidos inicialmente como ilimitados10, deslocam-se para a noção de limitados a partir do trabalho The People’s Choice (LAZARSFELD, BERELSON; GOUDET, 1968), publicado originalmente em 1944. Delimitado pela influência da mídia no âmbito de decisões políticas e eleitorais, os autores (1968) constataram que os meios possuíam menor capacidade de influência do que o Líder de opinião, que constitui a figura sobre a qual se ergueu a hipótese do Fluxo de comunicação em dois estágios (Two steps flow of communication). A proposta de Lazarsfeld, Berelson e Goudet (1968) possui continuidades diversas, dentre as quais se destaca a elaboração conceitual de Merton (1968) sobre o Líder de opinião, cuja caracterização se dá em função da área de influência, resultando na subdivisão Líder de opinião local e Líder de opinião cosmopolita. Além da continuidade da conceituação de Líder de opinião, cabe notar também que: 10 À exemplo da Teoria da Espiral do Silêncio (NOELLE-NEUMANN, 1995). O termo influência dos mass media assume o lugar de manipulação ou de persuasão. Essa influência midiática compartilha seus efeitos com outras influências, como as comunitárias, isto é, ela passa a ser encarada como apenas uma parte em um todo social. Portanto, os mass media são apenas um elemento da dinâmica de formação da opinião pública, gerada também pela influência pessoal [...] (MIRANDA, 2005, p. 28). Mesmo concordando-se que o Fluxo de comunicação em dois estágios é a primeira proposta a deslocar o modelo de análise Comunicacional de Lasswell, com um argumento que foi corroborado mesmo após a consolidação do meio televisão, observa-se que: [...] os dados que apoiavam esta perspectiva tinham sido produzidos ainda na época de ouro do rádio americano, portanto, antes da televisão ter se tornado o principal meio de comunicação de massa e as campanhas eleitorais terem assumido uma forma dominantemente midiática. A centralidade dos meios eletrônicos no sistema de comunicação e as novas formas de comunicação política demandavam novos modelos de investigação e a obtenção de novos dados que permitissem o reexame da questão dos efeitos da mídia na audiência e no eleitor (AZEVEDO, 2004, p. 42-43). A hipótese da Agenda da Mídia (Agenda-setting), cujo desenvolvimento está diretamente relacionado ao ambiente científico da área e, por conseguinte, à proposta do Fluxo comunicacional em dois estágios, parte do princípio de que há intenção de persuasão por parte dos meios que selecionam e enquadram os conteúdos e as mensagens. Faz-se um parêntese para esclarecer a opção de utilizar- 28 29
  • 16. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web se das duas hipóteses, explicando que no entendimento que fundamenta o Neofluxo, apesar da sinalização de Azevedo (2004) sobre o ambiente de desenvolvimento da Agenda da Mídia, ela é complementar ao Fluxo de comunicação em dois estágios, na medida em que reafirma os Efeitos limitados, guardando-se as devidas diferenças entre ambos os estudos11. Frente à Agenda da Mídia tem-se também a Agenda do Público, identificada em McCombs e Shaw (1972), dentro da qual um dos elementos de análise relevante é destacado sucintamente da seguinte forma: [...] levando-se em conta que o agendamento se dá necessariamente no tempo, verificou-se que se estabelece uma verdadeira correlação entre a agenda da mídia e a do receptor, mas também a agenda do receptor pode e acaba influenciando a agenda da mídia. Mais do que isso, descobriu-se que também havia um interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, chegando-se mesmo a perceber que a mídia impressa possui certa hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto no que toca ao agendamento do receptor em geral (HOHLFELDT, 1997, p. 47-48). Astroturfing A obra “Para entender as mídias sociais”, organizada por Ana Brambilla (2011), é um exemplo das mais frequentes concepções acerca da atualidade da comunicação em ambientes digitais. Nela, é possível identificar a constante atenção dos diferentes autores 11 Argumentação sustentada por McCombs (1996). à centralidade dos indivíduos como participantes do processo comunicativo nas redes, caracterizando-as como sociais. Em função disso, percebe-se também que atuações não legítimas ou que se orientem por interesses políticos e econômicos particulares são repudiadas. Nesse sentido, a estrutura técnica e tecnológica das redes possui menor importância que seu caráter humano, cuja qualidade é conferir autenticidade às informações que são compartilhadas. Dessa maneira, o termo Astroturfing é fundamental, visto que: [...] é um termo derivado da palavra inglesa “astroturf”, que significa grama artificial. Podemos dizer, interpretando grosseiramente, que é algo que parece, mas não é. Criado pelo, então, senador estadunidense Lloyd Bentsen, em 1985, o termo surgiu na mente do político porque ele recebia inúmeras cartas sobre questões envolvendo o debate sobre empresas de seguro. Bentsen percebeu que grande parte das cartas não era escrita pelos eleitores e, sim, pelos interessados no tema: as empresas de seguro (LIMA JUNIOR, 2012). Assim, o termo original (Astroturf) surgiu sem preocupações com enquadramentos teóricos e, pelo menos desde 2005, com a ação do Wal-Mart (FERNANDO, 2007) e, sequencialmente, o constrangimento da Sony12 e o documentário Astroturf Wars13, tem sido amplamente difundido e apropriado pelos indivíduos. Com a variação, Astroturfing14 (LIMA JUNIOR, 2012), busca-se demarcar a observação ao sentido conceitual da compreensão 12 All I Want for Xmas is a PSP. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=0G0LlXv-nyI>. Acesso em: 20 dez. 2012. 13 Astroturf Wars. Disponível em: <http://astroturfwars.com/>. Acesso em: 20 dez. 2012. 14 É comum identificar textos mais atuais utilizando-se também da variação proposta. 30 31
  • 17. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web do fenômeno, especificamente, no ambiente digital, visto que como premissa, tem-se que o processo comunicativo que se dá a partir da estrutura das redes sociais baseadas em Internet possui características diferentes como, por exemplo, a possibilidade de ser simultâneo ou assíncrono. Essa prática faz com que interesses privados sejam confundidos com assuntos relacionados ao bem estar público e, por consequência, ganhe apoio de pessoas que nem estavam inicialmente vinculadas à ação, uma vez que, de acordo com Daniel Reis Silva (2013, p. 7), “o interesse privado de pessoas privadas se passa por um interesse público através da própria encenação da existência de um público lhe dando suporte, e essa encenação acaba por se confundir e influenciar a opinião pública”. Ao se disfarçarem de pessoas comuns, “como nós”, os Astroturfings demonstram opiniões de um público “encenado” e acabam por receber solidariedade de outros usuários, tendo, assim, a possibilidade de alterar enquadramentos, crenças e percepções sobre determinados temas. Nas palavras de Silva (2013): A encenação configura um “modo de ver coletivo” da situação, convocando os sujeitos a tomar um posicionamento alinhado dentro das possibilidades oferecidas por aquele público por meio da sua ação. A encenação indica um caminho para que os sujeitos possam também manifestar sua opinião (devidamente reforçada) sobre aquele assunto ou questão (SILVA, 2013, p. 23). No caso deste projeto, a utilização do termo Astroturfing está vinculada à articulação teórica entre as hipóteses de Agendamento e Fluxo de comunicação em dois estágios, contextualizadas pelas questões de Opinião pública, Esfera pública e Deliberação nas condições do ambiente digital. Os aspectos destas condições do ambiente digital não são pormenorizados neste item porque são centrais aos próximos capítulos. A mesma situação se repete com Astroturfing, ao passo que é por meio da construção da noção em sua articulação com referencial apresentado que se deu a formulação da metodologia do trabalho. 32 33
  • 18. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA INTERDISCIPLINAR DO PROJETO NEOFLUXO O Projeto “Neofluxo”, idealizado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede (Teccred), do Programa de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, foi iniciado, como brevemente explicado na introdução desta obra, com apoio financeiro do CNPq, no primeiro semestre de 2010. Sua conclusão ocorreu no segundo semestre de 2012, pelos mesmos pesquisadores, agora filiados ao Grupo de Pesquisa Comunicação, Tecnologia e Ciência Cognitiva (Tecccog), da Universidade Metodista de São Paulo. Definiu-se como objetivo principal a identificação do comportamento de fluxos informacionais nas redes sociais conectadas no decorrer da disputa eleitoral para a Presidência da República de 2010. Sendo necessário, para isso, de maneira geral, o monitoramento e análise de fontes oficiais (Facebook, Flickr, Twitter, YouTube e site de campanha) dos seguintes postulantes ao cargo de presidente: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV)15. Além disso, foram traçados os seguintes objetivos específicos: mapear como acontecem os fluxos informativos entre os canais oficiais dos candidatos e o Twitter (ponto de partida, caminho percorrido e redistribuição da mensagem); medir os 15 Ressalta-se, todavia, que a proposta inicial era calcada no monitoramento somente dos dois principais candidatos à Presidência que despontavam como favoritos em pesquisas de opinião e acabaram chegando ao segundo turno do processo eleitoral, no caso Dilma Rousseff e José Serra. No entanto, a tendência de crescimento nas pesquisas de intenção de voto, especialmente nas semanas finais do primeiro turno, fez com que informações da campanha de Marina Silva fossem coletadas e armazenadas nos bancos de dados – em software próprio, desenvolvido pelo Teccred, para este fim. níveis de relação direta entre as mensagens emitidas pelos canais oficiais dos candidatos à Presidência e o conteúdo divulgado por outros usuários no Twitter; e identificar a presença e influência de astroturfings16 (ação artificial de indivíduos que se passam por usuários comuns, disseminando boatos, mentiras ou informações vantajosas de determinados candidatos a outros usuários se passando por eleitores que não possuem relação direta com o partido ou postulante ao cargo de presidente) no processo de troca e disseminação de mensagens. A metodologia interdisciplinar completa adotada para a coleta de dados do Observatório de Mídias Sociais Conectadas (Neofluxo) poderá ser observada mais detalhadamente no decorrer do presente capítulo, sendo o próximo item dedicado aos procedimentos utilizados na primeira fase do projeto. Procedimentos metodológicos da primeira fase do projeto Para constituir as bases de dados utilizadas com o propósito de atingir os já mencionados objetivos do projeto, diversas reuniões presenciais, na Faculdade Cásper Líbero, foram realizadas nos seis meses que antecederam a campanha eleitoral dos candidatos, definindo-se, assim, a metodologia que seria utilizada, especialmente no primeiro turno da eleição presidencial. 16 Optou-se pelo uso do termo Astroturfing, em detrimento de termos que possuem sentido parecido, mas possuem conotação positiva, no caso do seeder, ou negativa, no que se refere ao troll, justamente porque o termo Astroturfing carrega menos juízo de valor agregado à nomenclatura. 34 35
  • 19. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Como brevemente citado no item anterior, uma das principais fases para o sucesso do projeto seria coletar adequadamente os dados de fontes oficiais (Facebook, Flickr, Twitter, YouTube e site de campanha) dos candidatos à presidência (Dilma Rousseff/ PT, José Serra/PSDB e Marina Silva/PV)17, além de mensagens de usuários do Twitter (rede social definida como norteadora da análise, devido à sua característica fundamental de agregar palavras-chave em Trending Topics, além das possibilidades de replicação de conteúdo por retweet, ou curtas respostas com tema similar ao conteúdo original, por reply)18. Antes da avaliação dos canais oficiais, todavia, era necessário definir parâmetros a serem inseridos no software desenvolvido pelo Teccred19 para a captura de informações de redes dos candidatos. Para isso, definiu-se que dois pesquisadores ficariam responsáveis por identificar, selecionar e registrar palavras-chave em cada dia (no primeiro turno de terça-feira, quinta-feira e sábado, e, no segundo turno, todos os dias, de domingo a domingo) em que o horário eleitoral televisivo noturno (a maior vitrine da campanha no país), de cada candidato, fosse transmitido. Faz-se 17 Pelos motivos já expostos na nota de rodapé número 15, o tempo de monitoramento dos canais oficiais de Dilma e Serra foi superior ao de Marina Silva. Enquanto as propagandas dos dois primeiros candidatos foram analisadas no período de 11 de setembro a 03 de outubro de 2010 (primeiro turno) e, posteriormente, de 08 de outubro a 29 de outubro (segundo turno), Marina Silva só teve suas propagandas avaliadas entre os dias 23 de setembro e 03 de outubro. 18 Além dos motivos expostos no parágrafo, devido à dimensão dos dados capturados pelo sistema, não foi possível determinar a relação entre as amostras selecionadas no horário eleitoral gratuito de cada candidato à Presidência da República e as mensagens coletadas em outras redes sociais conectadas (Facebook, Flickr e YouTube), fato que remeteria a uma avaliação técnica e automatizada que não estava prevista na proposta inicial (semântica das mensagens). 19 O software foi desenvolvido por integrantes do grupo Teccred e conseguia capturar palavras-chave de canais oficiais dos candidatos ou de qualquer usuário do Facebook, Flickr, Twitter e YouTube que mencionassem as expressões, inclusive com nome (nickname), data e horário da postagem. necessário considerar que o Agendamento foi tomado como de mídia, em função da coleta de dados relacionada aos programas de televisão, cuja execução se deu, exclusivamente, por meio da recepção da propaganda política. Com o propósito de agilizar e padronizar o processo, os pesquisadores responsáveis (previamente definidos com datas e horários a serem seguidos) podiam preencher formulário on-line ou impresso (ver figura 1), obrigatoriamente fazendo uma breve descrição da propaganda política, para possíveis consultas futuras, além de relatar, no máximo, dez palavras-chave, evitando-se o uso de artigos e caracteres especiais (acento, cedilha, entre outras) na menção de expressões20, e sempre estipulando o “peso” 21 da palavra de forma numérica (de 1 a 10), considerando 10 a mais importante. 20 Em vez de escrever, por exemplo, “liderança na pesquisa”, escrevia-se “lideranca pesquisa” (intencionalmente sem cedilha). Em alguns casos, as expressões podiam ficar sem sentido, mas o recurso ampliava as possibilidades de captura de palavras-chave pelo software desenvolvido. 21 A explicação sobre o critério adotado para o “peso” de cada palavra-chave/expressão identificada no horário eleitoral gratuito será detalhada posteriormente neste capítulo. 36 37
  • 20. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Data: Horário: Dilma José Serra Categorias Palvras-chave Peso Pala-vras- chave Peso Continuidade Repetição Polêmica/ Conflito Novidade Dramatização Súmula (Descrição/ contextualização) Figura 1: Formulário utilizado por pesquisadores para preenchimento de palavras-chave Fonte: Produção própria do grupo Teccred A opção pelo preenchimento do formulário on-line ou impresso ficava a critério de cada pesquisador responsável, desde que todas as informações registradas fossem transferidas para o software do grupo Teccred até quinze minutos após o término do horário eleitoral gratuito. O prazo foi estipulado, em especial, uma vez que o processo de replicação do conteúdo disseminado na propaganda política, principalmente pelas características das redes sociais conectadas, ocorre simultaneamente à sua transmissão televisiva. Demorar mais de quinze minutos para iniciar o sistema de indexação de palavras-chave dos canais oficiais poderia significar perder milhares de dados que poderiam comprovar a inter-relação entre fluxos informacionais dos candidatos e dos públicos, ou, até mesmo, a presença de stroturfings na campanha22. 22 Quanto mais rápido as palavras-chave são inseridas no software, mais veloz é a ativação do sistema para captura de expressões nas redes sociais e, por consequência, Critérios para definição de palavras-chave/expressões no primeiro turno E como foram estabelecidos os critérios para a definição das palavras-chave de cada horário eleitoral gratuito? Para defini-los, pesquisadores do grupo Teccred fizeram uma mescla entre duas escalas de valores-notícia. De acordo com Galtung e Ruge (1965), os primeiros que mencionaram os valores-notícia dentro do conceito de noticiabilidade, a escala de valores seria: Frequência (semelhança com o tempo do veículo de comunicação); Amplitude; Clareza (ou falta de ambiguidade); Significância (“tradução cultural”); Consonância (inserir o “novo” numa história “velha”); Inesperado; Continuidade; Composição (equilíbrio numa diversidade de assuntos); Referências a nações de elite; Referências a pessoas de elite (proeminência); Personalização; e Negatividade (“bad news is good news”). Já para Ericson, Baranek e Chan (1987), os critérios seriam, em ordem: Simplificação (similar ao conceito de clareza de Galtung e Ruge); Dramatização (“visualização”); Personalização; Continuidade (“comunicabilidade” entre os fatos); Consonância (“eterna repetição” de fatos previsíveis); Inesperado; e Infração (de leis). Da junção e adaptação dos dois conceitos supracitados, o grupo de pesquisadores do Teccred desenvolveu a seguinte ordem de critério para escolha das palavras: Continuidade, Repetição, Polêmica/Conflito; Novidade; e Dramatização. Nesse sentido, foi definido que a Continuidade, por expor maior é o número de dados coletados. Além disso, aproveita-se o momento em que o programa eleitoral acabou de ser transmitido e capturam-se as opiniões que estão intrinsecamente ligadas à propaganda política. 38 39
  • 21. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web valores implícitos e explícitos, seria o único critério com peso dobrado. Ou seja, que prevaleceria sobre qualquer outro critério em caso de mais de dez expressões importantes terem sido citadas no decorrer de um único dia de horário eleitoral gratuito. Isso porque esse critério se caracterizaria pela frequência do termo por dias subsequentes de propaganda eleitoral do mesmo candidato, o que demonstraria o desejo do postulante ao cargo de presidente em insistir em temática similar. A Repetição, por sua vez, teria relação com a frequência com que um assunto seria abordado no mesmo dia de horário eleitoral gratuito. A Polêmica/Conflito teria como base um ataque pessoal a outro candidato ou a abordagem de uma questão polêmica na propaganda política. A Novidade representaria o ineditismo de um termo, o que poderia representar o novo rumo para uma campanha. Os três elementos citados no parágrafo anterior envolveriam valores explícitos e, portanto, se sobressairiam frente à Dramatização, fundamentalmente ligada a valores enviesados, sob o ponto de vista do espectador, uma vez que se relacionaria com testemunhos de cidadãos, geralmente abraçando ou chorando por determinado candidato. Ao assumir a ordem dos critérios acima, e tendo o limite de dez palavras-chave por programa, em caso de equivalência entre expressões de mesmo peso (todas, com exceção do critério de Continuidade), a ordem seguida seria a mesma citada anteriormente. Ou seja, uma expressão que, por exemplo, se enquadrasse como Polêmica prevaleceria sobre uma baseada na Dramatização. E, nesse sentido, o sistema seria atualizado a cada programa e as palavras substituídas nessa ordem de valor, de acordo com o que fora mencionado. Para verificar a relação direta entre propaganda eleitoral (agendamento) e conteúdo disseminado no Twitter, as palavras/expressões só eram consideradas na rede social conectada se, e somente se, atreladas a um termo de identificação do candidato (nome, sobrenome ou ambos). Informações sobre as bases de dados constituídas a partir dos canais oficiais dos candidatos no primeiro turno Ao término da coleta de informações sobre os canais oficiais dos candidatos foram constituídas onze bases de dados diferentes, o que possibilitou, posteriormente, elevado número de inter-relações e aumentou a confiabilidade dos resultados. A primeira base de dados foi formada por todas as atualizações provenientes dos canais oficiais da candidata Dilma Rousseff na Web. Desconsiderando filtragens realizadas posteriormente (sem mencionar as palavras-chave definidas por pesquisadores do Teccred), a atual presidente, durante o primeiro turno (de 11 de setembro de 2010 a 03 de outubro de 2010), possuía: 56 atualizações no Twitter, 155 no site oficial, 274 no Facebook, 224 no YouTube e 636 no Flickr. No mesmo período de coleta, a segunda base de dados foi composta por todas as atualizações dos canais oficiais do candidato José Serra na Web, apresentando o seguinte número de atualizações: 276 no Twitter, 725 no Facebook, 196 no YouTube e 341 no Flickr. A terceira base de dados levava em consideração os canais 40 41
  • 22. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web oficiais de Marina Silva, no período entre 23 de setembro de 2010 e 03 de outubro de 2010, o que representou: 222 atualizações no Twitter, 43 no site oficial, 67 no Facebook, 68 no YouTube e 326 no Flickr. A quarta (Dilma), a quinta (Serra) e a sexta (Marina) base de dados levavam em consideração as palavras-chave geradas de maneira automatizada a partir dos canais oficiais dos próprios candidatos, sem interferência dos pesquisadores. Essas bases de dados continham sub-tabelas divididas por datas (os mesmos dias dos respectivos programas televisivos), em que cada uma das sub-tabelas possuía dez palavras-chave relacionadas. A sétima (Dilma), a oitava (Serra) e a nona (Marina) base de dados podiam ser consideradas as mais importantes do primeiro turno, uma vez que tinham como premissa as informações coletadas com apoio na metodologia detalhada anteriormente: palavras-chave definidas por pesquisadores do Teccred, com apoio nos horários eleitorais gratuitos televisivos. Como complemento, ainda foram gerados, no período de 11 de setembro de 2010 a 03 de outubro de 2010, mais duas bases de dados, focadas exclusivamente na captura de mensagens do Twitter que possuíssem as palavras “Dilma” (51.625 menções) ou “Serra” (36.939 menções). Problemas no monitoramento de canais oficiais e coleta de palavras-chave Após a conclusão do primeiro turno, chegou o momento de avaliar como as atividades do grupo de pesquisa tinham sido realizadas e identificar maneiras de aprimorar o sistema de coleta de palavras-chave para o segundo turno da eleição presidencial, disputado por Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Foram, então, identificadas quatro falhas principais cometidas no decorrer do primeiro turno, especialmente no que tange ao agendamento: (1) Critérios distintos na determinação de palavras-chave; (2) Número diverso de “itens” coletados; (3) Preenchimento incompleto de campos do sistema (software); e (4) Lista de palavras-chave mais repetidas no período não ser gerada automaticamente pelo sistema. O primeiro problema possuía relação com a coleta de palavras-chave/ expressões ter sido realizada por muitos pesquisadores. Como cada um se caracteriza por bagagem cultural, posição política e arcabouço teórico distintos, foram percebidas diferenças nos critérios de análise do programa eleitoral e exposição dos termos coletados. Alguns pesquisadores optaram, em cada “item”23, por exemplo, por coletar apenas uma palavra e outros preferiram coletar frases. Além da questão referente ao número de palavras por “item” coletado, indicado anteriormente, o segundo problema teve ligação com diferenças no número de expressões inseridas no sistema. Determinados pesquisadores introduziram cinco itens, outros sete e, alguns, dez, impossibilitando a padronização da 23 O termo “item” será utilizado como a expressão total inserida no sistema. No caso, eram introduzidos até dez “itens” por programa. 42 43
  • 23. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web coleta. O preenchimento incompleto de todos os campos solicitados pelo sistema é o terceiro problema identificado. Alguns pesquisadores não incluíram, por exemplo, a descrição de cada programa eleitoral, o que dificultou análises posteriores, fazendo com o que a propaganda política (gravada diariamente pelo grupo) tivesse que ser assistida novamente para identificar a linha de raciocínio seguida no momento da coleta pelo pesquisador. Por fim, o quarto problema teve relação com o fato de palavras-chave mais usadas em todo o período eleitoral (critério de Continuidade), ou separadamente, apenas no primeiro e apenas no segundo turno, não formarem uma lista automática, fazendo com que o trabalho tivesse que ser realizado de forma manual. Alguns dos problemas foram solucionados no decorrer do projeto, com auxílio da tecnologia, especialmente durante o segundo turno da eleição presidencial. Outros, no entanto, tiveram que ser resolvidos manualmente, em um trabalho braçal, deixando lições para projetos futuros, que poderão ser observadas no próximo item do capítulo. Mudanças nos procedimentos metodológicos para o segundo turno e possíveis soluções para projetos futuros Para aprimorar a coleta de palavras-chave no segundo turno e destacar a importância de identificação de Astroturfings nas eleições presidenciais de 2010, alguns procedimentos metodológicos sofreram mudanças, especialmente com base nas experiências vivenciadas na primeira fase do projeto. Diante disso, são apresentadas, nos próximos itens, essas mudanças, algumas falhas cometidas no primeiro turno e as correções de curso para que os resultados pudessem ser obtidos. Aperfeiçoamento dos procedimentos para coleta de palavras-chave Além da metodologia baseada na identificação de palavras-chave do horário eleitoral usada no primeiro turno, foi adicionada uma segunda camada de identificação de palavras-chave, dessa vez com base na “homepage”, “últimas notícias” e “hotsite especial sobre a eleição” dos quatro principais portais de notícias brasileiro: UOL, Terra, IG e G1. Na busca por solucionar mais alguns dos problemas mencionados anteriormente, definiu-se com clareza o registro de exatos cinco temas para cada candidato, sendo estes compostos por apenas uma palavra (Exemplo: Saneamento). Aprimorou-se, também, o sistema para preenchimento dos formulários, que passou a ser diário e com participação de apenas dois pesquisadores, que se alternavam a cada dia, reduzindo parte do primeiro problema citado no item anterior, a respeito da variedade de formações, posições políticas e arcabouços teóricos identificadas no primeiro turno. A atualização do software facilitou a visualização da Continuidade de palavras-chave, uma vez que expressões inseridas no dia anterior permaneciam visíveis para o 44 45
  • 24. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web próximo pesquisador responsável pela coleta. Se, por exemplo, o tema “aborto” tivesse sido debatido nos três dias anteriores, a palavra seria mantida como a mais importante do dia, devido à “Continuidade do tema”, sendo necessário apenas preencher mais quatro campos. O horário para análise dos portais também foi bem delimitado: entre 17h e 18h45, tendo que ser postadas as palavras-chave no sistema pontualmente às 19h. Outros dois pesquisadores ficavam responsáveis pela validação das expressões às 19h10. Apesar de todos os aperfeiçoamentos no sistema e na metodologia empregada, alguns ensinamentos devem ser levados em consideração em projetos futuros. O cronograma de escala de pessoas responsáveis pela coleta de expressões dos programas televisivos, por exemplo, precisa ser elaborado com antecedência, com um número reduzido de pesquisadores comprometidos24, se possível em contato direto (Skype, Hangout ou telefone) no momento da coleta, para facilitar a padronização. No que tange ao sistema, a quantidade de palavras-chave por “item” coletado precisa ser definida com precisão antes mesmo do início da campanha, sem deixar margens individuais para os pesquisadores. O software, inclusive, deveria ativar a indexação apenas quando todos os campos estivessem concluídos, o que evitaria a ausência de preenchimento do resumo do horário eleitoral gratuito ou a discrepância entre o número de palavras- 24 Por determinados imprevistos (devidamente justificados) ocorridos durante a execução do projeto, alguns pesquisadores não puderam fazer a coleta de palavras-chave nos dias previamente acertados. Porém, em projetos futuros, caso o número de pessoas responsáveis por tal tarefa seja menor, é possível fazer com que a alternância, em caso de imprevistos, ocorra somente entre os dois ou três pesquisadores responsáveis. No caso do Projeto Neofluxo, especialmente no primeiro turno, mais de seis pesquisadores participaram da coleta, muitos em caráter emergencial, avisados menos de dez minutos antes do início do programa eleitoral. Deve-se, portanto, estipular um prazo mínimo para que o outro pesquisador torne-se o responsável pela tarefa. chave inseridas por cada pesquisador. Além disso, em detrimento do uso de senha coletiva, deveria ser possível realizar cadastro inicial no sistema com geração de senhas individuais, possibilitando a identificação de quem entrou no sistema e realizou alterações, com horário, data e nome do usuário. Por fim, como citado brevemente no item anterior, o sistema precisaria fazer a somatória de palavras-chave de maneira automática, já tendo embutido em sua configuração os critérios “valores-notícia” (Continuidade, Repetição, Polêmica/ Conflito, Novidade e Dramatização) determinados previamente. Isso evitaria possíveis falhas humanas derivadas da criação de tabelas e adoção de novos procedimentos metodológicos para soma de expressões citadas nos programas televisivos, como as que serão apresentadas a seguir. Verificação de palavras-chave mais citadas em todo o período eleitoral Diante da impossibilidade de cálculo automático das palavras-chave mais citadas pelo software usado pelo Teccred, foi necessário adotar uma nova metodologia para hierarquizar as expressões mencionadas de maneira mais constante. Para isso, foram elaboradas tabelas e priorizaram-se palavras-chave que se enquadravam em três critérios (Exemplo: Continuidade, Repetição e Polêmica). Em seguida, expressões que possuíam dois critérios (Continuidade e Repetição; Continuidade e Polêmica). E, por fim, os caracterizados em apenas um critério 46 47
  • 25. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web (Continuidade, Polêmica ou Novidade). Em caso de equivalência no número de palavras-chave mencionadas, foi considerado o menor intervalo de tempo (dias) entre as duas primeiras expressões (menor intervalo na Continuidade/Repetição das palavras). Em caso de nova equivalência, considerou-se o intervalo entre a segunda e a terceira. E, por fim, a ordem alfabética. Outro critério adotado refere-se às similaridades em palavras-chave. Expressões com significado parecido, em alguns casos, foram consideradas como sinônimos25. No caso de “lideranca pesquisa” (“lideranca”, propositalmente sem cedilha) e “pesquisas confirmam Dilma”, por exemplo, optou-se por definir a palavra-chave como “pesquisa”, uma vez que representariam uma Continuidade no conteúdo emitido. Além disso, por características do sistema, e para aprimorar a coleta de dados, em nenhum caso foi utilizada acentuação nas palavras/expressões. A descrição de cada propaganda política de Dilma, Marina e Serra, assim como as palavras-chave mencionadas diariamente e a implantação dos critérios supracitados para o cálculo de expressões mais usadas no período eleitoral, podem ser visualizadas, textualmente e em forma de tabela, nos Apêndices A, B e C. Procedimentos adotados na segunda fase do projeto 25 Devido à experiência adquirida na primeira fase do projeto, observou-se que o número elevado de palavras-chave por espaço de inserção aumentava o campo semântico, paradoxalmente diminuindo o número de capturas de mensagens do Twitter, o que prejudicava o futuro cruzamento de dados. Nesse sentido, tentou-se restringir ao máximo o número de expressões parecidas e sinônimos, com o propósito de que cada campo fosse preenchido por apenas uma ou duas palavras, mesmo que não tivessem sentido em um primeiro momento (Exemplo: “Serra foi o melhor Ministro da Saúde” ficaria “saude”, sem acento). para a identificação de Astrotufings Ainda na segunda fase do projeto, aumentou-se a importância de identificar-se a ação artificial de indivíduos que alterassem (ou tentassem alterar) o fluxo comunicacional no Twitter, os Astroturfings. Observa-se, nesse sentido, que Lazarsfeld teve seu modelo do fluxo comunicacional em dois estágios criticado do ponto de vista metodológico, dentre outras coisas, por atribuir um peso maior e não verificado ao Líder de opinião. No caso deste projeto, a ideia não é medir o peso do líder, mas saber se houve a tentativa de liderança formada falsamente. Esperava-se, portanto, encontrar lideranças orgânicas, as quais precisariam ser diferenciadas das inorgânicas, isto é, do Astroturfing. O parâmetro inicial e elaborado a partir de pesquisa exploratória demanda que, no mínimo, exista um perfil criado para uso no desenvolvimento da campanha. Portanto, fez-se necessário analisar a data de criação, de exclusão ou de inatividade dos perfis, considerando o universo concebido pela indexação dos termos utilizados em relação ao Agendamento e os três tipos possíveis de mensagens do Twitter. Se originalmente o Líder de opinião exercia uma influência linear sobre os seguidores, a hipótese secundária do projeto era de que a produção do falseamento deveria ser construída a partir da simulação dessa influência, criando-se uma espécie de reputação para o líder. Mesmo com a adesão de um seguidor “real”, a manutenção da posição do Astroturfing só seria viabilizada pela manutenção de sua rede, o que implicaria na proximidade dos laços, com 48 49
  • 26. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web um maior (se não único) fluxo direto e unilateral do líder para os seguidores, especialmente os falseados, bem como no não aprofundamento da rede. Neste caso, o líder é “um igual”, do ponto de vista da sua relevância em outras redes, diferenciando-se de indivíduos como, por exemplo, o apresentador de televisão Luciano Huck, que possui milhões de seguidores. Em contrapartida, em complemento à hipótese secundária, os líderes orgânicos seriam aqueles com a rede mais expansiva, profunda e de laços mais fracos, dado que sua opinião é objeto de interesse dos seguidores em função da sua posição específica que pode ser (a) especialização política e eleitoral (e, portanto, o perfil oficial não é tomado, em nenhuma hipótese, como Astroturfing); (b) da sua leitura antecipada, rápida do agendamento midiático e/ou visibilidade midiática (Luciano Huck, por exemplo, e fakes proeminentes). No âmbito do projeto, a liderança formada pela ação do Astroturfing relaciona-se direta ou indiretamente com o agendamento da mídia, em função do direcionamento da indexação pelas palavras/expressões. Tendo em vista o referencial observado, a correlação se repetiria no caso do Líder de opinião, em sua concepção tradicional, uma vez que, também direta ou indiretamente, a Agenda da Mídia seria de seu interesse. Para operacionalizar a totalidade das condições de Astroturfing, seria necessária a execução de identificação e de monitoramento de perfis de três tipos mencionados: indivíduos com visibilidade midiática, fakes proeminentes e Líder de opinião orgânico. Entretanto, na elaboração da metodologia, especialmente na fase de coleta de dados (primeira fase), esta atividade não foi planejada e, portanto, inviabilizou-se tal verificação. Para superar tal barreira, foram estabelecidos os seguintes índices de Astroturfing: (a) perfis indexados a partir das palavras/ expressões; (b) data de criação do perfil a partir de 11 de setembro de 2010, coincidindo com a data do primeiro tweet, retweet ou reply; (c) perfil inexistente (No people results for) ou inatividade a partir de novembro de 2010. Considerando os critérios (a) e (b), chegou-se a delimitação de 21 perfis, dos quais foram excluídos sete, pois são perfis que se mantiveram ativos até dezembro de 2012. Todos os 14 perfis restantes enquadram-se no critério (c). Esses e outros resultados poderão ser observados no próximo capítulo da presente obra. CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DE 50 51
  • 27. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web RESULTADOS DE AGENDAMENTO E ASTROTURFINGS As duas preocupações básicas do Projeto diziam respeito ao Agendamento e aos Astroturfigns, de modo que em relação à primeira buscou-se identificar mensagens oriundas dos programas televisivos dos três candidatos (Dilma, Serra e Marina) como parâmetro para os processos comunicativos no Twitter. A propósito da identificação de Astroturfing, vinculada diretamente ao Fluxo de comunicação em dois estágios, procuraram-se perfis que se enquadrassem nos critérios indicados no capítulo anterior, buscando também possíveis relações entre tais perfis. Ainda que existam aspectos pertinentes às duas linhas, para os fins deste capítulo, optou-se por separar os resultados de modo que os três primeiros subtópicos se referem à verificação de Agendamento (subdividido, portanto, pelos candidatos), e o último subitem aos índices de Astroturfing. Resultados: Dilma Rousseff Como mencionado no capítulo anterior, as palavras-chave foram concatenadas de modo que termos similares foram agrupados como parte de uma mesma categoria/termo e hierarquizadas, em primeiro lugar, de acordo com a quantidade de critérios atribuídos à palavra gerando-se um peso com variação de 1 a 3, em seguida o intervalo na continuidade/repetição e, finalmente, ordem alfabética. A tabela 1 abaixo é uma simplificação da tabela exposta no Apêndice A, referente às palavras-chave relacionadas à candidata Dilma Rousseff. Tabela 1 – Agendamento Dilma Rousseff Termos hierarquizados PAC 3 10 Emprego 3 7 Petróleo 3 4 Economia 3 3 Pré-sal 2 10 Lula 2 7 Brasil seguir mudando 2 6 UPA 2 5 Luz 2 4 Pesquisa 2 4 Petróbras 2 4 Primeira mulher 2 4 Continuidade 2 3 Minha casa, Minha vida 2 3 Miséria/Pobreza 2 3 Trabalho 2 3 Bolsa família 2 2 PRONAF 2 2 Inflação 1 2 Aborto 1 1 Bolinha de papel 1 1 Paulo Preto 1 1 52 53
  • 28. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Nesta simplificação, o número de dias nos quais o termo ou seus sinônimos foram diretamente mencionados na propaganda é considerado em detrimento do intervalo na continuidade/ repetição. Cabe acentuar que as temáticas relativas ao desenvolvimento econômico (à exceção de Inflação, possivelmente em razão da tendência negativa), foram mais centrais do que temas polêmicos que abrangiam, especialmente, o candidato concorrente José Serra, como, por exemplo, o debate sobre aborto e o episódio “Bolinha de papel”. O principal termo da propaganda televisiva não se configurou como central no Twitter, como é possível observar na figura 2 abaixo. Figura 2 – PAC 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply Ao todo foram somente 2.205 mensagens em todo o período eleitoral, dentre as quais os retweets são mais relevantes na medida em que proporcionalmente, referindo-se apenas aos tweets correlatos ao PAC, o percentual foi de 118, 45%, dada sua relevância durante o primeiro turno. As situações de aumento do número de mensagens no Twitter foram observadas duas vezes: no primeiro turno, em data na qual a propaganda televisiva mencionou o termo diretamente e, no segundo, coincidindo com a veiculação de propaganda que abordou com maior ênfase a temática, ainda que tais ocasiões não tenham sido as únicas de agendamento pela propaganda da candidata. O termo “Emprego” e suas variações com relações mais evidentes no contexto do Agendamento da propaganda televisiva estão demonstradas na figura 3, inserida abaixo. Figura 3 – Emprego Tweet Retweet Reply O número total de mensagens foi de 2.388, levemente maior 350 300 250 200 150 100 50 0 do que em PAC e suas variações. Tal como no caso anterior, o aumento do número de mensagens coincide com o Agendamento da propaganda televisiva. Entretanto, com mais relevância no segundo turno, no qual, diferentemente do primeiro turno, o número de tweets, e não de retweets, é maior. 54 55
  • 29. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Na figura 4, relativa ao termo “Petróleo”, identifica-se que apenas no segundo turno o aumento do número de mensagens ocorreu ao mesmo tempo do Agendamento. 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Figura 4 – Petróleo “Economia” e suas variações foram mencionadas em 1.314 mensagens no total, dentre as quais o número de retweets é, ao final do período pesquisa, mais significativo do que dos outros tipos de mensagens. Em relação à Agenda da propaganda televisiva, no segundo turno a coincidência com o aumento do número de mensagens no Twitter, demonstrado na figura 5, é mais evidente. 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply Figura 5 – Economia A figura 6, aborda o número de mensagens e as proporções entre os tipos em relação ao termo “Pré-Sal” e seus sinônimos. Figura 6 – Pré-Sal 1200 1000 800 600 400 200 0 Tweet Retweet Reply 56 57
  • 30. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web No caso de Pré-sal o aumento do número de mensagens só acontece no subperíodo que sinaliza o final da campanha, não coincidindo com o Agendamento da propaganda televisiva de modo tão evidente quanto às palavras/expressões anteriormente analisadas. Além disso, percebe-se, novamente, a preponderância de retweet. O termo “Lula”, abrangido na figura 7, foi o mais mencionado em mensagens no Twitter, em um total de 89.886 menções diretas. Figura 7 – Lula 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Tweet Retweet Reply Comparando “Lula” e suas variações com as palavras analisadas até aqui, podem ser identificadas duas diferenças relevantes: o tipo de mensagem reply é mais relevante do que nos outros casos, acompanhando os outros tipos. Além disso, apesar de o aumento no número de mensagens no fim do período eleitoral acompanhar a tendência de intensificação do debate, há um curto período durante o segundo turno que apresenta um novo aumento, mas que não corresponde ao Agendamento da propaganda televisiva. Em relação à expressão “Brasil seguir mudando”, a figura 8 demonstra os três tipos de mensagens no decorrer do período eleitoral. Figura 8 – Brasil seguir mudando 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Neste caso não há nenhum aumento relevante no número de mensagens que corresponda ao Agendamento da propaganda televisiva. O aumento significativo ocorre apenas no período final da campanha, especificamente os oito últimos dias, com preponderância do tipo tweet: 382 (tweet), 139 (retweet) e 50 (reply). À propósito do termo “UPA” e suas variações, acompanha-se os tipos de mensagens na figura 9. Figura 9 – UPA 30 25 20 15 10 5 0 Tweet Retweet Reply É possível notar que as variações são irrelevantes e que os aumentos mais significativos no número de mensagens se deram 58 59
  • 31. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web em duas situações: a primeira mais evidente com a proximidade do fim da campanha e a segunda coincidindo com Agendamento da propaganda televisiva do segundo turno. No período total, o tipo retweet é mais frequente. O termo “Luz”, agregando todas as variações coletadas, é demonstrado na figura 10 abaixo. Figura 10 – Luz 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply A respeito do termo “Luz”, observou-se que as primeiras mensagens que o mencionam ocorreram um dia antes do Agendamento da propaganda televisiva, havendo aumento de mensagens abordando a temática coincidente com a veiculação da propaganda. No período total, o tipo de mensagem mais frequente é retweet. Essa característica se repete no caso da palavra “Pesquisa” e suas variações, tal como é possível verificar na figura 11. Figura 11 – Pesquisa 2500 2000 1500 1000 500 0 Tweet Retweet Reply Neste caso, também se observa aumento do número de mensagens coincidindo com o período de Agendamento da propaganda televisiva, ainda que com início em um dia antes. A tendência de maior relevância de retweets, especialmente nos últimos dias do período eleitoral se repete. O aumento do número de mensagens ao final do período eleitoral com maior expressividade de retweets também ocorreu no caso do termo “Petrobrás”, tal como indicado na figura 12. Figura 12 – Petrobrás 1200 1000 800 600 400 200 0 Tweet Retweet Reply As mensagens incluindo o termo também aumentaram significativamente antes do primeiro Agendamento da propaganda 60 61
  • 32. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web televisiva do primeiro turno e estava em decadência no segundo Agendamento do primeiro turno. A mesma dinâmica situacional se repetiu no segundo turno. Também mais expressiva ao final do período eleitoral, a expressão “Primeira mulher” foi mencionada nos três tipos de mensagem como de mensagens, tal como demonstrado na figura 13. Figura 13 – Primeira mulher 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply Os dados sugerem Agendamento no início do período de coleta, entretanto, o aumento do número de mensagens é consistente apenas com a situação de final de campanha, quando se observa também maior número do tipo tweet. A mesma dinâmica se repetiu em relação à expressão “Minha casa, Minha vida”, como demonstrado na figura 14. Figura 14 – Minha casa, Minha vida 25 20 15 10 5 0 Tweet Retweet Reply Já no caso do termo Continuidade, exposto na figura 15, os períodos em que há aumento de mensagens com preponderância do tipo retweet são mais próximos do Agendamento da propaganda televisiva, enquanto os períodos em que o tipo tweet é mais evidente são os mesmos nos quais não se identificou Agendamento. Figura 15 – Continuidade 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Considerando os termos “Miséria” e “Pobreza”, bem como suas variações, observa-se coincidência com o Agendamento da propaganda televisiva no inicio e no fim do período de estudo, como indicado na figura 16. 62 63
  • 33. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Figura 16 – Miséria/Pobreza 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Sobre “Miséria/Pobreza” é possível verificar que há predominância do tipo retweet, caso diverso no termo “Trabalho” abaixo abordado na figura 17. Figura 17 – Trabalho 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Neste caso há coincidência com Agendamento da propaganda televisiva no primeiro e no segundo turno, considerando-se que no segundo turno há também a questão da proximidade com o término do período eleitoral, quando foi mantida maior relevância do tipo tweet. A preponderância do tipo tweet é observada na minoria dos casos, sendo comum que o número de retweets seja mais significativo, como na expressão “Bolsa família” e no termo “PRONAF”, abordados respectivamente na figura 18 e figura 19. Figura 18 – Bolsa família Figura 19 – PRONAF 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply 12 10 8 6 4 2 0 Tweet Retweet Reply Há correspondência entre Agendamento e aumento do número de mensagens, principalmente retweet em relação à “PRONAF”. Já no que tange a expressão “Bolsa família”, o 64 65
  • 34. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web número de mensagens não apresentou queda significativa durante a totalidade do período pesquisado e, por conseguinte, não se identificou relação direta com o Agendamento da propaganda televisiva, diferentemente do termo “Inflação” e suas variações, apresentado na figura 20. Figura 20 – Inflação 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 500 450 400 350 300 250 200 150 100 Tweet Retweet Reply 0 Exceto pelo período que demarca o fim da campanha eleitoral, os aumentos mais significativos do número de mensagens coincidem com o Agendamento da propaganda televisiva e preponderância do tipo retweet. Períodos nos quais os outros tipos são mais evidentes não são os que apresentam aumento mais relevante, bem como não correspondem aos Agendamentos. A característica de aumento dos outros tipos e não de retweet não coincidindo com o Agendamento é importante, visto sua particularidade de relação com o termo “Inflação”. Outros termos com características peculiares, além do enquadramento em polêmica, considerando as palavras e expressões relativas à candidata Dilma Rousseff são “Aborto” e “Bolinha de papel”, como demonstrado na figura 21 e na figura 22, respectivamente. Figura 21 – Aborto Figura 22 – Bolinha de papel 50 Tweet Retweet Reply 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply As mensagens relativas ao termo “Aborto” foram constantes 66 67
  • 35. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web durante todo o período de pesquisa e o aumento mais significativo, apesar de coincidir com o Agendamento da propaganda televisiva, também corresponde ao período de encerramento da campanha. Sobre “Bolinha de papel”, ainda que o aumento do número de mensagens tenha acontecido ao final da campanha, também corresponde ao Agendamento da propaganda televisiva e do próprio acontecimento indicado pela expressão, diferenciando-se de “Aborto” pelo maior número de retweet. Finalizando-se as palavras/expressões relacionadas à candidata Dilma Rousseff, tem-se a menção a “Paulo Preto”, exposta na figura 23. Figura 23 – Paulo Preto 350 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply Para “Paulo Preto”, o aumento mais significativo do número de mensagens coincide com o Agendamento da propaganda televisiva, observando-se sutil preponderância do tipo retweet. Resultados: José Serra Seguindo-se o padrão aplicado aos resultados referentes à candidata Dilma Rousseff, também para os relativos ao candidato José Serra apresenta-se a tabela 2, que se constitui simplificação da tabela exposta no Apêndice B. Tabela 2 – Agendamento José Serra Termos hierarquizados Peso Frequência Erenice 3 3 Saúde 2 9 Obras 2 7 Experiente/Experiência 2 6 Ministro 2 5 Salário mínimo 2 5 Educação 2 4 Escândalo 2 4 Privatização 2 4 Zé Dirceu 2 3 Genérico 1 7 Acelera 1 4 Metrô 1 4 Desemprego 1 4 Competente 1 2 Ensino técnico 1 2 Segundo turno 1 2 Seguro desemprego 1 2 Serra do bem 1 2 68 69
  • 36. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web A palavra Erenice e suas variações tiveram agendamento no início do período de estudo, correspondendo ao maior aumento no número de mensagens, dentro do qual foram identificadas 986 mensagens incluindo “Erenice” e 209 implicando as variações. Em ambos os casos, a preponderância por tipo de mensagem é retweet, seguido de tweet e, em menor número, reply, como demonstrado pela figura 24. Figura 24 – Erenice 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply As mensagens sobre o termo “Saúde” e suas variações são apresentadas na figura 25, abaixo. Figura 25 – Saúde 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply Exceto por um dia, o termo “Saúde” permeou a propaganda televisiva e o Twitter por todo o período estudado, apresentando aumentos mais expressivos do número de mensagens, com ênfase no tipo reply, ao final do período eleitoral. A relevância do tipo reply na fase final do período eleitoral não se repetiu no caso do termo “Obra”, para o qual houve preponderância de retweet, tal como pode ser observado na figura 26. 70 71
  • 37. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web Figura 26 – Obras 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply A data na qual se identificou o maior número de mensagens relativas ao termo (327 mensagens), coincide com o último Agendamento da propaganda televisiva, bem como os tipos retweet e tweet são mais significativos, sendo 165 e 146 mensagens respectivamente. Apesar de corresponder ao período de encerramento da campanha, foram cerca de 200 mensagens a mais, comparadas com data mais próxima do final do período de coleta, na qual não houve Agendamento. Sobre “Experiente” e variações, apresenta-se a figura 27. Figura 27 – Experiente/Experiência 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply O aumento do número de mensagens que incluíam o termo “Experiente” ou variações não ocorreu de modo que seja possível relacioná-lo diretamente com o Agendamento da propaganda televisiva. Como em alguns casos anteriores, o aumento do número de mensagens mais relevante ocorreu ao final do período de campanha. O mesmo aconteceu no caso do termo “Ministro”, demonstrado na figura 28. Figura 28 – Ministro 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Tweet Retweet Reply Seguindo-se para a expressão “Salário Mínimo” e respectivas 72 73
  • 38. NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web NEOFLUXO: atuação eleitoral do Astroturfing no fluxo informativo na web variações há a figura 29, abaixo demonstrada. Figura 29 – Salário mínimo 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tweet Retweet Reply Nas datas em que foram identificados os maiores números de mensagens há coincidência com o Agendamento da propaganda televisiva, excetuando-se o período de encerramento da campanha. O tipo tweet esteve equilibrado com retweet quando do primeiro Agendamento, e replys tiveram pouca oscilação no decorrer de todo o período eleitoral. Os termos “Educação” e “Privatização” guardam algumas similaridades e por isso são apresentados abaixo, na figura 30 e na figura 31, respectivamente. Figura 30 – Educação Figura 31 – Privatização 250 200 150 100 50 0 600 500 400 300 200 100 0 Tweet Retweet Reply Tweet Retweet Reply Apesar de aumentos mais significativos no número de mensagens terem ocorrido no período de encerramento da campanha, também coincidem com as datas dos últimos Agendamentos da propaganda televisiva. Diferentemente de 74 75