Este documento discute vários tipos de corrimentos vaginais, incluindo vaginose bacteriana, candidíase vulvovaginal e tricomoníase. Ele fornece definições, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento para cada condição. Além disso, discute aspectos anatômicos e exames que podem ajudar no diagnóstico, como pH vaginal e exame microscópico.
2. Definição
Anormalidade, em quantidade ou no aspecto
físico, do conteúdo vaginal, que se exterioriza
através dos órgãos genitais externos. Pode ser
um sintoma referido pela paciente ou apenas um
sinal identificado pelo ginecologista.
Pode ser decorrente do exagero das secreções
normais ou em virtude de exsudato inflamatório.
Leucorréia = Corrimento?
3.
4. Secreção vaginal fisiológica
Muco cervical, células vaginais e cervicais
esfoliadas, secreções das glândulas de Bartholin
e Skene, transudato vaginal, pequena quantidade
de leucócitos, e microorganismos da flora vaginal.
Cor branca ou transparente.
pH ácido (abaixo de 4,5).
Volume variável.
Odor.
5. Pausa para a Anatomia
Vestíbulo Vulvar:
região anatômica limitada pelos pequenos
lábios, o clitóris e a fúrcula da vulva. Compreende:
- Meato urinário
- Orifício externo da vagina
- Pequenas glândulas vestibulares,
parauretrais ou de Skene
- Grande glândula vestibular, de Bartholin ou
de Duvarney
6.
7. Diagnóstico
1. Anamnese:
-história patológica pregressa e doenças
familiares
- estado geral
- medicamentos de uso recente
- vida sexual, parceiro
- hábitos higiênicos
- profissão, tipo de trabalho
- história ginecológica e obstétrica e
tratamentos ginecológicos prévios.
8. 2. Exame Genital: examinar aspectos vulvares
em relação a:
- Higiene
- Lacerações e escoriações (prurido/
permanência de vulva molhada)
- Aumento das glândulas vestibulares
* Mácula de Sänger
- Aumento da secreção que flui através da
vagina: avaliar características do corrimento
- Observação do trofismo vulvar
9. Coleta de material do colo
uterino
Alguns exames devem ser realizados nesse
momento para esclarecimento do corrimento:
* Citologia a fresco: na grande maioria dos casos,
consegue-se identificar o agente causal.
* Citologia corada: esfregaço corado pelos
métodos de Papanicolaou, Shorr ou Giemsa.
* Coloração pelo Gram: de fácil realização e baixo
custo; muito útil no diagnóstico de gonococcia.
* Culturas: de rotina quando há suspeita de
gonococcia e Chlamydia. Em outros corrimentos, o
exame direto a fresco e/ou corado é superior e de
menor custo.
10. * Determinação do pH vaginal: Gardnerella vaginalis
tem preferência por pH elevado e Candida albicans pelo
pH ácido.
* Teste das aminas: mistura de solução de hidróxido
de potássio a 10% com uma gota de secreção vaginal.
Muito útil para pesquisa de germes anaeróbios e
Gardnerella vaginalis. Positivo quando há odor de
peixe, gerado pela liberação de putrescina e
cadaverina.
* Colposcopia: complemento à propedêutica
empregada.
Toque uni ou bidigital
11. Vulvovaginites
Em geral, termo utilizado para representar
o principal motivo da maioria das consultas
ginecológicas : o corrimento.
Processo inflamatório e/ou infeccioso que
acomete o trato genital inferior, ou seja,
envolve a vulva, paredes vaginais e o
epitélio escamoso estratificado do colo
uterino (ectocérvice).
14. Tipos
Não – Infecciosa:
- Vaginite atrófica
- Vaginite alérgica
- Corpo estranho
- Vaginite inflamatória descamativa (secundária
a estróide)
- Doença do colágeno, síndrome de Behçet,
pênfigo
95% dos casos: candidíase, tricomoníase e
vaginose bacteriana
15. Vaginose Bacteriana
É um conjunto de sinais e sintomas resultante de
um desequilíbrio da flora vaginal, que culmina
com uma diminuição dos lactobacilos e um
crescimento polimicrobiano (aumento da ordem
de 100 a 1000 vezes) de bactérias anaeróbias
(Prevotella sp., Bacteroides sp., Mobiluncus sp.,
Peptoestreptococcus sp.), Gardnerella vaginalis e
Mycoplasma hominis.
Epidemiologia: É a principal causa de corrimento
vaginal. Incide em aproximadamente 45% das
mulheres.
16. Quadro clínico:
- Cerca de metade das mulheres é assintomática
- Não há processo inflamatório (presença de
sintomas inflamatórios como dispareunia, irritação
vulvar e disúria é exceção).
- Corrimento vaginal é fluido, homogêneo,
branco-acinzentado ou amarelado, normalmente em
pequena quantidade e não aderente, e pode formar
microbolhas.
17.
18. Sintoma típico: queixa de odor fétido,
semelhante a “peixe podre”, o qual piora após o
coito ou durante a menstruação, condições na qual
o pH vaginal se eleva.
19. Diagnóstico: Baseado na presença de 3 dos 4
critérios de Amsel.
- Corrimento acinzentado ou branco-
acinzentado, homogêneo, fino.
- pH vaginal > 4,5 (presente em 80 a 90% das
VB).
- Teste das Aminas ou Teste de odor da
secreção vaginal (Whiff-test)
- Visualização de Clue Cells ou células guia no
exame microscópico a fresco da secreção vaginal.
20. Clue Cells
Células epiteliais vaginais com sua membrana
recoberta por bactérias, que aderem à membrana
celular e tornam o seu contorno granuloso e
impreciso.
21. Tratamento:
* Segundo o CDC 2006:
Regimes recomendados:
1. Metronidazol 500 mg VO de 12/12h por 7 dias
2.Metronidazol gel, 075%, um aplicador cheio (5g),
via vaginal, por 5 dias.
3. Creme de Clindamicina, 2%, um aplicador cheio
(5g), à noite, por 7 dias.
Regimes alternativos:
1. Clindamicina 300mg, VO, 12/12h por 7 dias.
2. Òvulos de Clindamicina 100mg, via vaginal, à
noite, por 3 dias.
22. * Segundo o Ministério da Saúde 2006:
1ª Opção:
1- Metronidazol 400-500 mg
VO de 12/12h por 7 dias
2ª Opção:
1- Metronidazol 2g VO dose única.
2- Metronidazol gel, 075%, um aplicador cheio
(5g), via vaginal, por 5 dias.
3- Clindamicina 300 mg, VO, 12/12h por 7 dias
4- Creme de Clindamicina, 2%, um aplicador
cheio (5g), à noite, por 7 dias.
23. Acompanhamento: desnecessário se os sintomas se
resolvem. Só indicado em mulheres com múltiplas
recorrências.
Abordagem da VB e HIV: Tratamento de soropositivas
é igual ao de soronegativas. A VB, entretanto, parece
mais persistente nas HIV positivas.
Alergia ou intolerância à terapia recomendada:
nesse caso, usa-se, preferencialmente, o creme de
Clindamicina vaginal.
Gravidez: gestantes com doença sintomática devem
ser tratadas para diminuição dos efeitos perinatais. O
uso de Metronidazol é seguro (sem efeitos
teratogênicos ou mutagênicos em recém-natos, mas
seu uso ainda é evitado no primeiro trimestre da
gestação).
24. Candidíase Vulvovaginal
É a segunda causa mais comum de corrimento vaginal.
É uma infecção da vulva e da vagina causada por um
fungo comensal gram-positivo, saprófita, que habita a
mucosa vaginal e digestiva e que, sob determinadas
condições , multiplica-se por esporulação, tornando-se
patogênico.
Na maioria dos casos, a espécie C. albicans está
envolvida. Entretanto, em 15 a 20% dos casos, outras
espécies, como a C. glabrata e a C. tropicalis, podem
produzir idênticas manifestações clínicas.
A via sexual não é a principal forma de transmissão na
candidíase, visto que os organismos a ela relacionados
podem fazer parte da flora endógena. Contudo,
embora não seja a principal, pode ocorrer.
25. Quadro clínico: Depende do grau de infecção e da
localização do tecido inflamado.
- Prurido vulvovaginal (principal sintoma e de
intensidade variável)
- Queimação vulvovaginal
- Dor à micção (disúria)
- Dispareunia
- Hiperemia e edema vulvar
- Escoriações de coçadura
- Fissuras e maceração da vulva
- Vagina e colo recobertos por placas brancas
ou branco-acinzentadas, aderidas à mucosa
29. Diagnóstico Clínico
Diagnóstico laboratorial:
- Teste do pH vaginal menor ou igual a 4,5;
- Exame direto a fresco com KOH a 10%:
solução adstringente que mostra com facilidade a
presença de psudo-hifas na secreção vaginal (em
cerca de 70% dos casos).
- Bacterioscopia pelo gram: Também mostra as
psudo-hifas coradas fortemente pelo gram.
- Cultura com antibiograma: nos casos rebeldes.
30.
31. Tratamento:
* Segundo o CDC 2006:
1. Butoconazol creme a 2% - 1 aplicador
(5g) via vaginal em dose única.
2. Clotrimazol creme a 1% - 1 aplicador (5g)
via vaginal por 7 a 14 noites.
3. Miconazol creme a 2% - 1 aplicador (5g)
via vaginal por 7 noites
4. Nistatina 100.000 UI – 1 aplicador via
vaginal por 14 noites
5. Tioconazol creme a 6,5% -
1 aplicador (5g) via vaginal em dose única.
6. Terconazol creme a 0,4% -
1 aplicador (5g) via vaginal por 7 noites.
7. Fluconazol 150 mg VO dose única.
32. *Segundo o Ministério da Saúde 2006:
1ª Opção:
1. Miconazol creme a 2% - 1 aplicador (5g) via
vaginal por 7 noites.
2. Clotrimazol creme a 1% - 1 aplicador (5g) via
vaginal por 6 a 12 noites.
3. Clotrimazol óvulos 100 mg – 1 aplicador via
vaginal por 7 noites.
4. Tioconazol creme a 6,5%, 1 aplicador via
vaginal em dose única.
5. Tioconazol óvulos 300 mg, 1 aplicador via
vaginal em dose única.
6. Nistatina 100.000 UI – 1 aplicador via vaginal
por 14 noites.
2ª Opção:
1. Fluconazol 150 mg VO dose única
2. Itraconazol 200 mg VO 12/12h por 1 dia
3. Cetoconazol 400 mg VO por 5 dias
33. Acompanhamento: Desnecessário se os
sintomas forem resolvidos. Indicado apenas no
caso de persistência dos sintomas ou nos casos de
recorrência dos sintomas nos 2 primeiros meses
após o aparecimento inicial dos sintomas.
Interações Medicamentosas: podem ocorrer
quando os agentes azólicos são administrados com
outras drogas, em especial antagonistas do canal
de cálcio, agentes hipoglicemiantes orais,
cisaprida, ciclosporina, entre outros.
34. Tricomoníase
Causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis
Homens são, em geral, assintomáticos, enquanto
mulheres, em sua maioria, são sintomáticas.
Relacionada à atividade sexual desprotegida.
35. Quadro clínico:
- Corrimento
- Prurido vulvar intenso
- Hiperemia e edema de vulva e vagina
- Disúria, polaciúria e dor suprapúbica
36. Principal queixa: corrimento abundante,
amarelo ou amarelo-esverdeado, mal cheiroso e
bolhoso.
37. Duas observações importantes
1. Tricomoníase pode alterar resultado de citologia
oncótica.
2. Tricomoníase apresenta um achado peculiar:
Colpite focal ou difusa “Colo em framboesa”.
38. Diagnóstico:
- Anamnese e achados ao exame físico
- Exame a fresco
- pH vaginal
- Teste de Whiff
Tratamento:
- Metronidazol 2g, VO, dose única.
- Tinidazol 2g, VO, dose única.
45. Bibliografia
Atualização terapêutica 2007: manual prático de
diagnóstico e tratamento / Felício Cintra do Prado, Jairo
de Almeida Ramos, José Ribeiro do Vale ; editora Durval
Rosa Borges, Hanna A. Rotschild.
-- 23. ed. – São Paulo : Artes Médicas, 2007.
Freitas, Fernando … [et al ]. Rotinas em ginecologia – 5ª
ed. – Porto Alegre: Artmed, 2006.
Halbe, Hans Wolfgang. Tratado de ginecologia - 2ª ed. –
São Paulo: Roca, 1993.
http://www.aids.gov.br