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1 de 16
10 Livros essenciais da
literatura brasileira.
Tifany Alves
Aluísio Azevedo: O Cortiço
Autran Dourado: Ópera dos Mortos
Augusto de Campos: Viva Vaia
Caio Fernando Abreu: Morangos Mofados
Clarice Lispector: A Paixão Segundo G.H. / Laços
de Família
Erico Verissimo: O Tempo e o Vento
Graciliano Ramos: Vidas Secas
Luis Fernando Verissimo: O Analista de Bagé
Vinícius de Moraes: Nova Antologia Poética
Resumo
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para
acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir
atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira.
Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem
estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra
que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o
rompimento provisório de relações entre os dois.
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão
trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu
oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando
Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar
dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social reconhecida, freqüentar
ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja,
participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira.
Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de
como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso
do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata
Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos
os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o
título de barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar
as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora
ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se
transformar na Vila João Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do
comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza,
que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens
acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a
denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a
ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o
casamento de Romão.
Lista de personagens
Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de
tipos sociais. Os principais são:
João Romão: taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o
capitalista explorador.
Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela
trabalha como uma máquina.
Miranda: comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num
sobrado aburguesado, ao lado do cortiço. Jerônimo: português “cavouqueiro”,
trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho. Rita
Baiana: mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa
a mulher brasileira. Piedade: portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a
mulher europeia. Capoeira Firmo: mulato e companheiro que se envolve com Rita
Baiana.
Arraia-Miúda: representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e
pelo policial Alexandre.
Ópera dos Mortos é uma obra prima de rara e triste beleza escrita por Autran
Dourado. A história, a vida e a amplidão da condição humana no interior de Minas.
No sobrado da família Honório Cota restou a filha Rosalina, o imponente relógio-
armário parado na hora da morte de sua mãe, as flores de pano e a escrava Quiquina
que se encarrega de vendê-las pelas ruas da cidade por onde Rosalina raramente
aparece, sempre trancada entre as paredes sufocantes, as lembranças da família,
dos mortos e do passado até aparecer Juca Passarinho.
A monotonia, a solidão, a bebedeira a empurram para os braços de Juca, que a via o
dia inteiro como uma senhora encastelada em sua soberba, mas a noite a embriaguez
transforma em flor de encantos e sedução. Apesar da marcação cerrada da escrava
muda Quiquina a vigiá-la com os olhos, pois a boca não podia falar, a desgraça recai
sobre a sua menina.
Por ordem de Quiquina só resta a Juca Passarinho carregar o pequeno e macabro
embrulho na calada da noite para enterrar nas voçorocas, verdadeiras goelas
plantadas na terra que avistara pela primeira vez ao chegar na cidade. Mas a
coragem lhe falta e Juca Passarinho cava a terra vermelha do cemitério com as
próprias mãos, ali deixa o fruto do amor proibido antes de fugir daquela cidade, tão
sozinho como surgiu.
Rosalina passa a visitar o cemitério nas caladas da noite com seu vestido branco, sua
flor de pano no cabelo e sua cantilena triste assombra quem a ouve.
No final do romance, desfeitos os mistérios que envolvem a ensandecida e infeliz
cantilena, Rosalina é conduzida para longe da cidade para nunca mais voltar.
Duas palavras: "viva" e "vaia", escritas em disposições geométricas com duas cores
alternadas. Quando foi publicado em 1972, este poema foi foco de grande polêmica.
De um lado, os que o tomavam por genial. De outro, os que o consideravam um
presunçoso manifesto da imbecilidade artística. A despeito da contenda, a
composição tornou-se importante a ponto de Augusto de Campos empregá-la para
nomear a primeira coletânea de seus trabalhos, produzidos entre 1949 e 1979. A
obra se tornou a principal na carreira do autor por sua capacidade de sintetizar
alguns princípios fundamentais da poesia concreta e de atingir o impacto almejado
pelo movimento concretista. No livro estão algumas das criações mais relevantes do
autor. Uma delas, construída sobre a antítese entre "luxo" e "lixo", é provavelmente
a mais conhecida de todas. Também fazem parte Pluvial/Fluvial, Tudo Está Dito e os
popcretos, poemas feitos com recortes de textos impressos em jornais e revistas.
Ao lado de Décio Pignatari e o irmão, Haroldo, o paulistano Augusto de Campos,
nascido em 1931, foi gestor da nova vertente poética que se pretendia
revolucionária. Em Viva Vaia confluem Joyce, Mallarmé, Pound, Futurismo, Dadaísmo
e Surrealismo, entre outras referências. Os versos deveriam ser desmantelados em
suas unidades morfológicas, semânticas, sintáticas e léxicas. Para tanto, o poeta
contou com o auxílio do diagramador Júlio Plaza a fim de levar a cabo os recursos
visuais que julgava adequados à sociedade tecnológica e consumista que despontava
no Brasil pós-45.
É um livro que, do modo particular, retrata os sentimentos humanos. Ele fala sobre
as razões pelas quais alguém começa a amar outra ou achar que ama, da angústia pela
espera de alguém que venha te trazer a tal da felicidade, da solidão, das tentativas
de querer ser compreendido e ser correspondido pelo que sente, e do sentimento
sufocante que causa isso não acontecer. Morangos Mofados é então composto por
dezenove contos que trazem a história de casais comuns, vivendo crises ou tentando
se encontrar em meio ao que restou do amor. Um casal que há muito tempo vive
junto, mas que no fim acabam por descobrir que sentem atração por pessoas do
mesmo sexo, tanto ela quanto ele, mas ainda não encontram coragem de revelar isso
ao parceiro por simples costume de estar com o outro (conto: Os Sobreviventes).
Tem aquele que vai ao encontro da pessoa que ama convicto de que será um encontro
perfeito, só que era apenas ilusão, pois o outro nem sabia do seu amor (conto: Além
do Ponto). Duas mulheres, de diferentes tipos, mas que a seu modo esperam pela
mesma coisa, o amor de alguém que as façam felizes (conto: Fotografias). O fim de
um casamento pela ausência da essência colorida e mágica que os uniu (conto:
Caixinha de Música). A incompreensão da amizade ou mesmo do que é diferente
(conto: Aqueles dois). E por fim, o conto título do romance, Morangos e Mofados,
falam do homem que sente um gosto de morango mofando na boca, e não sabe o
porquê, mas que no fim consegue superar sua própria angústia. A escrita prende o
leitor, mesmo que no inicio de alguns contos seja confuso entender, mas se tem
aquela expectativa de chegar ao final do e descobrir o que os personagens vão
fazer. São contos curtos, e que transmitem mensagens claras para quem estiver
atento nas entrelinhas. No mais, Morangos Mofados pode não entrar na lista dos
seus favoritos, mas é uma boa leitura e supera preconceitos que se possa ter se
apenas se restringir a lê-lo por causa do título, talvez pelo fato de que os casais
apresentados se aproximam bastante do real.
Em A Paixão Segundo G.H., o enredo trata de uma mulher, identificada apenas pelas
iniciais G.H., que - depois de demitir a empregada e tentar limpar o quarto desta -
relata a perda da individualidade após ter esmagado uma barata na porta de um
guarda-roupa.
No dia seguinte, ela narra a própria impotência de descrever o episódio. A história
se organiza em capítulos de seqüência sistemática - cada um começa com a mesma
frase que serve de fechamento ao anterior. A interrupção, assim, é elemento de
continuidade, numa representação simbólica do que é a experiência de G.H. Assim
como em outras obras de Clarice, em A Paixão Segundo G.H. os fluxos de consciência
permeiam o livro.
Espécie de romance-enigma, fornece o lugar de sujeito à linguagem, que constrói ao
redor de si um labirinto cuja saída está na essência do ser: trata-se de um longo
monólogo em primeira pessoa, que se dá pelo que a professora Emília Amaral, autora
de um estudo sobre o livro, chamou de "jorro turbilhante e ininterrupto de
linguagem". Um paradoxo, como muitos dos que permeiam a obra da escritora: as
palavras são, ao mesmo tempo, o que afasta o ser de sua essência, mas, ao mesmo
tempo, constitui a chave para atingi-la. Segundo a professora da USP Nádia Gotlib,
"é o exercício de linguagem como instrumento possível de se tocar no ponto que não
é tocável, de se atingir o segredo: desenterrar o pior e o melhor de nossa condição
humana, que já não é nem mais humana". Assim, a literatura de Clarice assume uma
estatura filosófica, aproximando-se, na visão de alguns, do existencialismo de Jean-
Paul Sartre. Diz a epígrafe da obra, de Bernard Berenson: "Uma vida plena pode ser
aquela que alcance uma identificação tão completa com o não-eu que não haja
nenhum eu para morrer".
Sem nome, G.H. identifica-se com todos os seres. Sua experiência, para o professor
Benedito Nunes, é multívoca. Entre suas vias possíveis está a mística, aberta a
múltiplos temas, como a linguagem e a arte, que se fundem na busca espiritual.
O momento maior de revelação se dá na cena mais famosa do romance. A barata,
após perder sua casca, expele a secreção branca que aparece como sua última
essência. G.H., então, a come. Estaria aí a renúncia que a personagem faz a seu
próprio ser como linguagem, que, logo após o ato, entrega-se ao silêncio.
A obra Laços de Família, lançada em 1960, constitui o ápice da carreira literária de
Clarice Lispector, além de constar do cânone literário nacional como um dos
melhores livros de contos da história da literatura brasileira. Suas treze narrativas
enfocam particularmente o universo da vida em família na classe média do Rio de
Janeiro.
Seus personagens parecem estar sempre encarcerados na coexistência familiar e
atados ao ambiente domiciliar por laços que não se desfazem, reféns de um
cotidiano monótono e indistinto. Clarice recorre à técnica do fluxo de consciência
para narrar suas histórias; através deste recurso o leitor pode estar ciente do que
se passa no interior das protagonistas dos contos.
Esta prática da autora a inclui no rol das criadoras de uma literatura considerada
psicológica ou introspectiva. Suas criaturas, sempre ansiosas para fugir de uma
existência padronizada e profundamente atrelada às convenções sociais, embora
presas a esta vida que flui inesgotavelmente de uma geração para outra, atingem
inesperadamente outra margem do existir, sua esfera enigmática, imprevista,
distinta da rotina humana. Ainda que não logrem compreender esta outra dimensão,
nada as impede de navegar em suas ondas.
Os contos de Clarice assumem um tom cético e desencantado com relação às
interações familiares, impregnadas de segundas intenções e de preocupações com as
aparências sociais. Por essa razão suas personagens só alcançam a si mesmas através
de referências externas; desta forma a procura da identidade percorre os mesmos
caminhos que atingem o outro, não necessariamente um ser humano, mas igualmente
um artefato ou um animal.
Seus contos mais célebres são Amor, Uma Galinha e Feliz Aniversário, embora
também se destaque Devaneio e Embriaguez duma rapariga. Na primeira história,
Devaneio e Embriaguez duma rapariga, a protagonista, uma portuguesa, passa
subitamente a criar devaneios interiores diante de um espelho, abrigando-se depois
embaixo da cama, o que assusta seu cônjuge. Com o retorno dos filhos para casa, a
rotina se instaura novamente, até a jovem senhora participar de um encontro entre
o esposo e seu patrão. Ela bebe além dos limites, mas se mantém protegida pelo
marido; sente o prazer da vida dentro de si e, ao se comparar a uma bela moça
presente no recinto, reassume sua auto-estima e a feminilidade, aceitando seu papel
de mulher e mãe.
Em Amor, Ana, esposa e mãe, sempre tão aparentemente serena e amorosa, sente
sua vida cotidiana se desmoronar quando, um dia, em sua tarefa rotineira de fazer
compras, depara-se com um cego que a incomoda ao mascar automaticamente seu
chiclete; quando o bonde freia subitamente, seus ovos se quebram e ela fica
conturbada. Decide então andar pelo Jardim Botânico e se deixa contagiar pela
beleza do lugar, que a lembra inesperadamente dos terrores infernais. O tempo
passa e ela fica presa neste lugar, refletindo sobre a loucura de sua vida rotineira,
enquanto o cego e sua atitude assumem outra conotação. Ela retoma sua vida, mas
agora detém um novo olhar sobre ela, impregnado de um incômodo persistente.
No conto Uma Galinha, uma ave destinada a servir de comida para a família que a
cria foge instintivamente para preservar sua existência, é furiosamente perseguida
pelo chefe da casa, inesperadamente põe um ovo, torna-se símbolo da feminilidade e,
anos depois, despojada de seu status sagrado, deixa de ser poupada e é consumida
por todos.
Na história Feliz Aniversário, D. Anita celebra seus 89 anos. Seus familiares aí se
encontram, mas não movidos por laços de amor, e sim por meras convenções sociais.
Nenhum afeto se manifesta, apenas emoções compulsórias e desprovidas de
naturalidade. Enojada deste comportamento, a protagonista cospe durante o evento,
mas seu ato é atribuído a sua faixa etária. Quando um dos filhos anuncia o retorno
da família no próximo ano, a personagem se sente vitoriosa, mais forte que seus
parentes, que suas atitudes vulgares.
A trilogia O Tempo e o Vento, do escritor Erico Verissimo, é considerada por muitos
a obra definitiva do estado do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do
Brasil. Dividida em O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962), o
romance representa a história do estado gaúcho, de 1680 até 1945 (fim do Estado
Novo), através da saga das famílias Terra e Cambará.
O Continente
A primeira parte de O Tempo e o Vento foi publicada em Porto Alegre no ano de
1949 e narra a formação do Estado do Rio Grande do Sul através das famílias Terra,
Cambará, Caré e Amaral. O ponto de partida é a chegada de uma mulher grávida na
colônia dos jesuítas e índios nas Missões. Esta mulher dará à luz o índio Pedro
Missioneiro, que depois de presenciar as lutas de Sepé Tiaraju através de visões e
ver os portugueses e espanhóis dizimarem as Missões Jesuíticas, conhecerá Ana
Terra, filha dos paulistas de Sorocaba Henriqueta e Maneco Terra, este filho de um
tropeiro que ficou encantado com o Rio Grande de São Pedro ao atravessá-lo para
comerciar mulas na Colônia do Sacramento e obtêm uma sesmaria na região do Rio
Pardo.
Ana Terra terá um filho com o índio, chamado Pedro Terra. Logo que seu pai
descobre sobre a gravidez, ele manda os irmãos de Ana matarem Pedro Missioneiro.
Quando castelhanos invadem a fazenda da família Terra, matam pai e irmãos da
moça e a violentam, mas ela conseguira esconder o filho, a cunhada e a sobrinha.
Partem para Santa Fé, onde se passará o resto da ação de O Tempo e o Vento. Lá
Pedro Terra cresce e tem uma filha, Bibiana Terra, que se apaixonará por um
forasteiro, o capitão Rodrigo Cambará. Ana Terra e o capitão Rodrigo são até hoje
considerados dois arquetipos da literatura brasileira.
Os sete capítulos de O continente podem ser lidos de diversas formas. Uma delas é
a história da formação da elite riograndense, que culminará na Revolução Federalista
de 1893/95. As lutas pela terra, as guerras internas (Farroupilha, Federalista) e
externas (Guerra do Paraguai, Guerra contra Rosas) marcam definitivamente a vida
e a personalidade daqueles gaúchos e ecoam de forma muito forte ainda hoje na
identidade do Rio Grande do Sul.
Do ponto de vista histórico-literário, O continente está inserido no chamado
Romance de 30, obras de cunha neo-realista que aliam a descrição denunciante do
Realismo às investigações psicológicas das personagens e liberdades lingüísticas do
narrador, frutos do Modernismo. Assim como O continente, muitas dessas obras são
de cunho regionalista.
Os dois volumes de O continente são os mais lidos e conhecidos da trilogia. Parte de
seu conteúdo teve adaptações para o cinema e a televisão. O sucesso do personagem
Capitão Rodrigo nas telas levou a Editora Globo a publicar em separado o capítulo da
obra a ele dedicado, Um certo Capitão Rodrigo.
O Retrato
A história se passa em Santa Fé no início do século XX, então iniciando timidamente
seu processo de urbanização, ainda marcada pela cultura rural.
Toda a história é marcada pelo contraste entre o Dr. Rodrigo Cambará, homônimo do
capitão, homem da cidade, de um lado, e o Coronel Licurgo, seu pai, homem do campo,
de outro. Como mediador desse conflito, aparece seu irmão Toríbio.
O próprio Dr. Rodrigo é um personagem marcado pelos contrastes. Formado em
Medicina, adquiriu em Porto Alegre, onde estudou, o gosto por uma vida sofisticada.
Ao chegar a Santa Fé, vestia ternos elegantes, trazia na bagagem iguarias e vinhos
franceses e um gramofone e na mente projetos de vida grandiosos. Mas
frequentemente esse verniz se rompia e se revelava o típico macho gaúcho, com
acessos de violência e de um incontido desejo sexual.
O homem confiante e superior que se julgava vai, então, cedendo aos poucos o lugar
para o homem amoral em que acaba se transformando. Erico explora bem esse
contraste ao fazer recorrentes comprarações entre o retrato, pendurado nas
paredes do Sobrado, que fixa o Dr. Rodrigo idealizado por si mesmo no seu apogeu, e
o homem em que ele vai se transformando.
Os grandes acontecimentos do século passam ao longe, chegam pelo telégrafo e
pelos jornais, e pouco influem na vida das pessoas, a não ser como motivo de
discussões políticas e filosóficas. Ao contrário de O continente, onde os
personagens são protagonistas da História, aqui eles são espectadores
desinteressados.
O Arquipelago
A última parte da trilogia foi lançada onze anos após O Retrato, quando os meios
literários já não mais esperavam a continuação de O Tempo e o Vento, devido à
frágil saúde de Erico, convalescente de um ataque cardíaco.
Aqui, parte da ação transcorre no Rio de Janeiro, então a capital do país, com o Dr.
Rodrigo Cambará eleito deputado federal. Assim, os personagens principais não são
mais espectadores dos fatos nacionais, mas participam diretamente deles. Ao longo
do romance, aparecem vários personagens reais, como Getúlio Vargas, Osvaldo
Aranha, Luís Carlos Prestes, que contracenam com os personagens criados pelo
autor. Isso confere à história uma dinâmica especial.
Novamente, no seio da família Cambará, desenrolam-se as contradições de uma
época marcada por uma radical revolução de costumes, sob a influência do cinema
americano. Na família Cambará e suas relações, há desde comunistas a oportunistas.
No meio deles, assumindo uma postura crítica e não engajada, aparece Floriano,
alter ego do próprio Erico.
O autor inova ainda ao introduzir um capítulo narrado por uma personagem feminina,
Sílvia, que apresenta os personagens de O Arquipélago sob um ângulo diferente.
"Vidas Secas", de Graciliano Ramos, conta a história de Fabiano e de sua família de
retirantes. O homem é acompanhado por sua mulher, Sinhá Vitória, pelos filhos não
nomeados, chamados apenas de menino mais velho e menino mais novo, pela cachorra
(esta sim, batizada ironicamente de Baleia, ou seja aquela que anda livremente pelo
mar) e pelo papagaio.
O nordestino que vive na seca é retratado com sua fome e a necessidade de migrar
pelo sertão. As personagens pouco se comunicam e, por incrível que pareça, a
cachorra Baleia aparece mais humanizada que os próprios homens.
Poucos personagens, em toda a história da literatura brasileira, alcançaram a
repercussão e a admiração popular como o analista de Bagé, que se declara
"freudiano de colá decalco” e "mais ortodoxo do que rótulo de Maizena”. Apenas oito
meses depois que Luis Fernando Verissimo lançou O Analista de Bagé, em 1981, a
obra atingiu a marca da 50a edição e de 160 mil exemplares vendidos.
Irônicos e diretos, com algumas pitadas de reflexão social, os textos de O Analista
de Bagé trazem à tona os bastidores do consultório de um hilário psicanalista
gaúcho, que faz uso de conhecimentos pseudocientíficos aliados à sabedoria popular
dos pampas para auxiliar seus pacientes a resolver seus anseios. O analista sempre
os recepciona com um quente chimarrão ("pra clarear a urina e as idéias”), de
bombachas e "pé no chão”, e até recorre a técnicas mais heterodoxas, para
dinamizar a sessão. Por exemplo, não concebe mais que o paciente fale enquanto o
analista cochila. Também inventou a análise em grupo com gaiteiro, "pra indiada se
soltá”. Não hesita em utilizar métodos ainda menos convencionais, como joelhaços,
em alguns casos mais recalcitrantes. E costuma recorrer aos bons préstimos de sua
benévola assistente, Lindaura, a que "recebe e dá”.
Politicamente correto? Nem pensar! É do choque entre a fala e os costumes
regionais e a sociedade pretensamente moderna e científica que deriva grande parte
da graça das crônicas, nas quais se percebe também uma crítica velada aos falsos
valores morais, à política e ao machismo. Como em todos os textos de Verissimo, a
linguagem é muito clara, direta, coloquial, beirando o estilo jornalístico, mas sem que
se abra mão do estilo humorístico inconfundível. O autor é mestre na criação do
diálogo ágil e de tipos antológicos. Além do analista, podem ser citados a Mulher do
Silva e a Velhinha de Taubaté, uma boa senhora que passa grande parte de seus dias
numa cadeira de balanço assistindo ao Brasil pela televisão e é (ou era, pois acabou
morrendo de desgosto diante do quadro político do país, em 2005) "o último bastião
da credulidade nacional”.
Nascido em 1936, filho do escritor Erico Verissimo, Luis Fernando é gaúcho de
Porto Alegre e um dos mais conhecidos cronistas contemporâneos do país. Cursou o
Instituto Porto Alegre e a Theodore Roosevelt High School, em Washington.
Começou a carreira na imprensa em 1966, trabalhando no jornal Zero Hora. Foi
tradutor, redator publicitário e quase se dedicou a tocar saxofone. No início da
década de 70, passou a trabalhar na Folha da Manhã, jornal que viria a se tornar
Folha de S.Paulo. Em 1973 lançou seu primeiro livro, O Popular, uma coleção de
crônicas e charges. Daí em diante, o sucesso editorial cresceu vertiginosamente.
Vieram os êxitos de O Amor Brasileiro (1977), O Analista de Bagé e O Gigolô das
Palavras (1982). O autor se tornou ainda mais conhecido pelo público quando passou a
assinar uma página na revista Veja, em 1982. Seus livros estão entre os mais
vendidos do Brasil.
A antiga Antologia poética de Vinicius de Moraes data de 1954. Foi organizada pelo
próprio autor (com a ajuda de amigos, principalmente Manuel Bandeira), que a
atualizou em 1967, mantendo sua estrutura.
Esta Nova antologia poética vem assinada pelos poetas Antonio Cicero e Eucanaã
Ferraz, e foi lançada originalmente em 2003. Os organizadores reviram conceitos,
refizeram a estrutura e montaram uma seleção criteriosa, lançando um olhar
renovado sobre a obra viniciana.
Tanto a crítica especializada quanto o público reconheceram de imediato que na nova
antologia a poesia de Vinicius de Moraes mostra-se mais livre, mais moderna, mais
densa e, simultaneamente, mais leve. O volume foi um sucesso imediato, e logo
passou a ser editado também na Companhia de Bolso.
Ele passa a fazer parte, agora, do novo projeto editorial das obras de Vinicius de
Moraes, e traz, entre outras novidades, um belo caderno de imagens com diversas
fotos inéditas, reprodução de manuscritos e documentos raros. Fechando o volume,
o leitor encontrará uma seleção de textos críticos, entre eles a orelha da "velha"
Antologia poética, assinada por Rubem Braga, seguindo-se uma cronologia da vida e
da obra deste que é um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

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  • 1. 10 Livros essenciais da literatura brasileira. Tifany Alves Aluísio Azevedo: O Cortiço Autran Dourado: Ópera dos Mortos Augusto de Campos: Viva Vaia Caio Fernando Abreu: Morangos Mofados Clarice Lispector: A Paixão Segundo G.H. / Laços de Família
  • 2. Erico Verissimo: O Tempo e o Vento Graciliano Ramos: Vidas Secas Luis Fernando Verissimo: O Analista de Bagé Vinícius de Moraes: Nova Antologia Poética Resumo O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os dois. Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar
  • 3. dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa. No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos. A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos. O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão. O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado. Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão. Lista de personagens Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Os principais são: João Romão: taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador. Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina. Miranda: comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço. Jerônimo: português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho. Rita Baiana: mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa a mulher brasileira. Piedade: portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher europeia. Capoeira Firmo: mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana. Arraia-Miúda: representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.
  • 4. Ópera dos Mortos é uma obra prima de rara e triste beleza escrita por Autran Dourado. A história, a vida e a amplidão da condição humana no interior de Minas. No sobrado da família Honório Cota restou a filha Rosalina, o imponente relógio- armário parado na hora da morte de sua mãe, as flores de pano e a escrava Quiquina que se encarrega de vendê-las pelas ruas da cidade por onde Rosalina raramente aparece, sempre trancada entre as paredes sufocantes, as lembranças da família, dos mortos e do passado até aparecer Juca Passarinho. A monotonia, a solidão, a bebedeira a empurram para os braços de Juca, que a via o dia inteiro como uma senhora encastelada em sua soberba, mas a noite a embriaguez transforma em flor de encantos e sedução. Apesar da marcação cerrada da escrava muda Quiquina a vigiá-la com os olhos, pois a boca não podia falar, a desgraça recai sobre a sua menina. Por ordem de Quiquina só resta a Juca Passarinho carregar o pequeno e macabro embrulho na calada da noite para enterrar nas voçorocas, verdadeiras goelas plantadas na terra que avistara pela primeira vez ao chegar na cidade. Mas a coragem lhe falta e Juca Passarinho cava a terra vermelha do cemitério com as próprias mãos, ali deixa o fruto do amor proibido antes de fugir daquela cidade, tão sozinho como surgiu. Rosalina passa a visitar o cemitério nas caladas da noite com seu vestido branco, sua flor de pano no cabelo e sua cantilena triste assombra quem a ouve. No final do romance, desfeitos os mistérios que envolvem a ensandecida e infeliz cantilena, Rosalina é conduzida para longe da cidade para nunca mais voltar.
  • 5. Duas palavras: "viva" e "vaia", escritas em disposições geométricas com duas cores alternadas. Quando foi publicado em 1972, este poema foi foco de grande polêmica. De um lado, os que o tomavam por genial. De outro, os que o consideravam um presunçoso manifesto da imbecilidade artística. A despeito da contenda, a composição tornou-se importante a ponto de Augusto de Campos empregá-la para nomear a primeira coletânea de seus trabalhos, produzidos entre 1949 e 1979. A obra se tornou a principal na carreira do autor por sua capacidade de sintetizar alguns princípios fundamentais da poesia concreta e de atingir o impacto almejado pelo movimento concretista. No livro estão algumas das criações mais relevantes do autor. Uma delas, construída sobre a antítese entre "luxo" e "lixo", é provavelmente a mais conhecida de todas. Também fazem parte Pluvial/Fluvial, Tudo Está Dito e os popcretos, poemas feitos com recortes de textos impressos em jornais e revistas. Ao lado de Décio Pignatari e o irmão, Haroldo, o paulistano Augusto de Campos, nascido em 1931, foi gestor da nova vertente poética que se pretendia revolucionária. Em Viva Vaia confluem Joyce, Mallarmé, Pound, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo, entre outras referências. Os versos deveriam ser desmantelados em suas unidades morfológicas, semânticas, sintáticas e léxicas. Para tanto, o poeta contou com o auxílio do diagramador Júlio Plaza a fim de levar a cabo os recursos visuais que julgava adequados à sociedade tecnológica e consumista que despontava no Brasil pós-45.
  • 6. É um livro que, do modo particular, retrata os sentimentos humanos. Ele fala sobre as razões pelas quais alguém começa a amar outra ou achar que ama, da angústia pela espera de alguém que venha te trazer a tal da felicidade, da solidão, das tentativas de querer ser compreendido e ser correspondido pelo que sente, e do sentimento sufocante que causa isso não acontecer. Morangos Mofados é então composto por dezenove contos que trazem a história de casais comuns, vivendo crises ou tentando se encontrar em meio ao que restou do amor. Um casal que há muito tempo vive junto, mas que no fim acabam por descobrir que sentem atração por pessoas do mesmo sexo, tanto ela quanto ele, mas ainda não encontram coragem de revelar isso ao parceiro por simples costume de estar com o outro (conto: Os Sobreviventes). Tem aquele que vai ao encontro da pessoa que ama convicto de que será um encontro perfeito, só que era apenas ilusão, pois o outro nem sabia do seu amor (conto: Além do Ponto). Duas mulheres, de diferentes tipos, mas que a seu modo esperam pela mesma coisa, o amor de alguém que as façam felizes (conto: Fotografias). O fim de um casamento pela ausência da essência colorida e mágica que os uniu (conto: Caixinha de Música). A incompreensão da amizade ou mesmo do que é diferente (conto: Aqueles dois). E por fim, o conto título do romance, Morangos e Mofados, falam do homem que sente um gosto de morango mofando na boca, e não sabe o porquê, mas que no fim consegue superar sua própria angústia. A escrita prende o leitor, mesmo que no inicio de alguns contos seja confuso entender, mas se tem aquela expectativa de chegar ao final do e descobrir o que os personagens vão fazer. São contos curtos, e que transmitem mensagens claras para quem estiver atento nas entrelinhas. No mais, Morangos Mofados pode não entrar na lista dos seus favoritos, mas é uma boa leitura e supera preconceitos que se possa ter se apenas se restringir a lê-lo por causa do título, talvez pelo fato de que os casais
  • 7. apresentados se aproximam bastante do real. Em A Paixão Segundo G.H., o enredo trata de uma mulher, identificada apenas pelas iniciais G.H., que - depois de demitir a empregada e tentar limpar o quarto desta - relata a perda da individualidade após ter esmagado uma barata na porta de um guarda-roupa. No dia seguinte, ela narra a própria impotência de descrever o episódio. A história se organiza em capítulos de seqüência sistemática - cada um começa com a mesma frase que serve de fechamento ao anterior. A interrupção, assim, é elemento de continuidade, numa representação simbólica do que é a experiência de G.H. Assim como em outras obras de Clarice, em A Paixão Segundo G.H. os fluxos de consciência permeiam o livro. Espécie de romance-enigma, fornece o lugar de sujeito à linguagem, que constrói ao redor de si um labirinto cuja saída está na essência do ser: trata-se de um longo monólogo em primeira pessoa, que se dá pelo que a professora Emília Amaral, autora de um estudo sobre o livro, chamou de "jorro turbilhante e ininterrupto de linguagem". Um paradoxo, como muitos dos que permeiam a obra da escritora: as palavras são, ao mesmo tempo, o que afasta o ser de sua essência, mas, ao mesmo tempo, constitui a chave para atingi-la. Segundo a professora da USP Nádia Gotlib, "é o exercício de linguagem como instrumento possível de se tocar no ponto que não é tocável, de se atingir o segredo: desenterrar o pior e o melhor de nossa condição humana, que já não é nem mais humana". Assim, a literatura de Clarice assume uma estatura filosófica, aproximando-se, na visão de alguns, do existencialismo de Jean- Paul Sartre. Diz a epígrafe da obra, de Bernard Berenson: "Uma vida plena pode ser aquela que alcance uma identificação tão completa com o não-eu que não haja nenhum eu para morrer". Sem nome, G.H. identifica-se com todos os seres. Sua experiência, para o professor
  • 8. Benedito Nunes, é multívoca. Entre suas vias possíveis está a mística, aberta a múltiplos temas, como a linguagem e a arte, que se fundem na busca espiritual. O momento maior de revelação se dá na cena mais famosa do romance. A barata, após perder sua casca, expele a secreção branca que aparece como sua última essência. G.H., então, a come. Estaria aí a renúncia que a personagem faz a seu próprio ser como linguagem, que, logo após o ato, entrega-se ao silêncio. A obra Laços de Família, lançada em 1960, constitui o ápice da carreira literária de Clarice Lispector, além de constar do cânone literário nacional como um dos melhores livros de contos da história da literatura brasileira. Suas treze narrativas enfocam particularmente o universo da vida em família na classe média do Rio de Janeiro. Seus personagens parecem estar sempre encarcerados na coexistência familiar e atados ao ambiente domiciliar por laços que não se desfazem, reféns de um cotidiano monótono e indistinto. Clarice recorre à técnica do fluxo de consciência para narrar suas histórias; através deste recurso o leitor pode estar ciente do que se passa no interior das protagonistas dos contos. Esta prática da autora a inclui no rol das criadoras de uma literatura considerada psicológica ou introspectiva. Suas criaturas, sempre ansiosas para fugir de uma existência padronizada e profundamente atrelada às convenções sociais, embora presas a esta vida que flui inesgotavelmente de uma geração para outra, atingem inesperadamente outra margem do existir, sua esfera enigmática, imprevista, distinta da rotina humana. Ainda que não logrem compreender esta outra dimensão, nada as impede de navegar em suas ondas. Os contos de Clarice assumem um tom cético e desencantado com relação às
  • 9. interações familiares, impregnadas de segundas intenções e de preocupações com as aparências sociais. Por essa razão suas personagens só alcançam a si mesmas através de referências externas; desta forma a procura da identidade percorre os mesmos caminhos que atingem o outro, não necessariamente um ser humano, mas igualmente um artefato ou um animal. Seus contos mais célebres são Amor, Uma Galinha e Feliz Aniversário, embora também se destaque Devaneio e Embriaguez duma rapariga. Na primeira história, Devaneio e Embriaguez duma rapariga, a protagonista, uma portuguesa, passa subitamente a criar devaneios interiores diante de um espelho, abrigando-se depois embaixo da cama, o que assusta seu cônjuge. Com o retorno dos filhos para casa, a rotina se instaura novamente, até a jovem senhora participar de um encontro entre o esposo e seu patrão. Ela bebe além dos limites, mas se mantém protegida pelo marido; sente o prazer da vida dentro de si e, ao se comparar a uma bela moça presente no recinto, reassume sua auto-estima e a feminilidade, aceitando seu papel de mulher e mãe. Em Amor, Ana, esposa e mãe, sempre tão aparentemente serena e amorosa, sente sua vida cotidiana se desmoronar quando, um dia, em sua tarefa rotineira de fazer compras, depara-se com um cego que a incomoda ao mascar automaticamente seu chiclete; quando o bonde freia subitamente, seus ovos se quebram e ela fica conturbada. Decide então andar pelo Jardim Botânico e se deixa contagiar pela beleza do lugar, que a lembra inesperadamente dos terrores infernais. O tempo passa e ela fica presa neste lugar, refletindo sobre a loucura de sua vida rotineira, enquanto o cego e sua atitude assumem outra conotação. Ela retoma sua vida, mas agora detém um novo olhar sobre ela, impregnado de um incômodo persistente. No conto Uma Galinha, uma ave destinada a servir de comida para a família que a cria foge instintivamente para preservar sua existência, é furiosamente perseguida pelo chefe da casa, inesperadamente põe um ovo, torna-se símbolo da feminilidade e, anos depois, despojada de seu status sagrado, deixa de ser poupada e é consumida por todos. Na história Feliz Aniversário, D. Anita celebra seus 89 anos. Seus familiares aí se encontram, mas não movidos por laços de amor, e sim por meras convenções sociais. Nenhum afeto se manifesta, apenas emoções compulsórias e desprovidas de naturalidade. Enojada deste comportamento, a protagonista cospe durante o evento, mas seu ato é atribuído a sua faixa etária. Quando um dos filhos anuncia o retorno da família no próximo ano, a personagem se sente vitoriosa, mais forte que seus parentes, que suas atitudes vulgares.
  • 10. A trilogia O Tempo e o Vento, do escritor Erico Verissimo, é considerada por muitos a obra definitiva do estado do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do Brasil. Dividida em O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962), o romance representa a história do estado gaúcho, de 1680 até 1945 (fim do Estado Novo), através da saga das famílias Terra e Cambará. O Continente A primeira parte de O Tempo e o Vento foi publicada em Porto Alegre no ano de 1949 e narra a formação do Estado do Rio Grande do Sul através das famílias Terra, Cambará, Caré e Amaral. O ponto de partida é a chegada de uma mulher grávida na colônia dos jesuítas e índios nas Missões. Esta mulher dará à luz o índio Pedro Missioneiro, que depois de presenciar as lutas de Sepé Tiaraju através de visões e ver os portugueses e espanhóis dizimarem as Missões Jesuíticas, conhecerá Ana Terra, filha dos paulistas de Sorocaba Henriqueta e Maneco Terra, este filho de um tropeiro que ficou encantado com o Rio Grande de São Pedro ao atravessá-lo para comerciar mulas na Colônia do Sacramento e obtêm uma sesmaria na região do Rio Pardo. Ana Terra terá um filho com o índio, chamado Pedro Terra. Logo que seu pai descobre sobre a gravidez, ele manda os irmãos de Ana matarem Pedro Missioneiro. Quando castelhanos invadem a fazenda da família Terra, matam pai e irmãos da moça e a violentam, mas ela conseguira esconder o filho, a cunhada e a sobrinha. Partem para Santa Fé, onde se passará o resto da ação de O Tempo e o Vento. Lá Pedro Terra cresce e tem uma filha, Bibiana Terra, que se apaixonará por um
  • 11. forasteiro, o capitão Rodrigo Cambará. Ana Terra e o capitão Rodrigo são até hoje considerados dois arquetipos da literatura brasileira. Os sete capítulos de O continente podem ser lidos de diversas formas. Uma delas é a história da formação da elite riograndense, que culminará na Revolução Federalista de 1893/95. As lutas pela terra, as guerras internas (Farroupilha, Federalista) e externas (Guerra do Paraguai, Guerra contra Rosas) marcam definitivamente a vida e a personalidade daqueles gaúchos e ecoam de forma muito forte ainda hoje na identidade do Rio Grande do Sul. Do ponto de vista histórico-literário, O continente está inserido no chamado Romance de 30, obras de cunha neo-realista que aliam a descrição denunciante do Realismo às investigações psicológicas das personagens e liberdades lingüísticas do narrador, frutos do Modernismo. Assim como O continente, muitas dessas obras são de cunho regionalista. Os dois volumes de O continente são os mais lidos e conhecidos da trilogia. Parte de seu conteúdo teve adaptações para o cinema e a televisão. O sucesso do personagem Capitão Rodrigo nas telas levou a Editora Globo a publicar em separado o capítulo da obra a ele dedicado, Um certo Capitão Rodrigo. O Retrato A história se passa em Santa Fé no início do século XX, então iniciando timidamente seu processo de urbanização, ainda marcada pela cultura rural. Toda a história é marcada pelo contraste entre o Dr. Rodrigo Cambará, homônimo do capitão, homem da cidade, de um lado, e o Coronel Licurgo, seu pai, homem do campo, de outro. Como mediador desse conflito, aparece seu irmão Toríbio. O próprio Dr. Rodrigo é um personagem marcado pelos contrastes. Formado em Medicina, adquiriu em Porto Alegre, onde estudou, o gosto por uma vida sofisticada. Ao chegar a Santa Fé, vestia ternos elegantes, trazia na bagagem iguarias e vinhos franceses e um gramofone e na mente projetos de vida grandiosos. Mas frequentemente esse verniz se rompia e se revelava o típico macho gaúcho, com acessos de violência e de um incontido desejo sexual. O homem confiante e superior que se julgava vai, então, cedendo aos poucos o lugar para o homem amoral em que acaba se transformando. Erico explora bem esse contraste ao fazer recorrentes comprarações entre o retrato, pendurado nas paredes do Sobrado, que fixa o Dr. Rodrigo idealizado por si mesmo no seu apogeu, e o homem em que ele vai se transformando. Os grandes acontecimentos do século passam ao longe, chegam pelo telégrafo e pelos jornais, e pouco influem na vida das pessoas, a não ser como motivo de discussões políticas e filosóficas. Ao contrário de O continente, onde os personagens são protagonistas da História, aqui eles são espectadores desinteressados. O Arquipelago
  • 12. A última parte da trilogia foi lançada onze anos após O Retrato, quando os meios literários já não mais esperavam a continuação de O Tempo e o Vento, devido à frágil saúde de Erico, convalescente de um ataque cardíaco. Aqui, parte da ação transcorre no Rio de Janeiro, então a capital do país, com o Dr. Rodrigo Cambará eleito deputado federal. Assim, os personagens principais não são mais espectadores dos fatos nacionais, mas participam diretamente deles. Ao longo do romance, aparecem vários personagens reais, como Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Luís Carlos Prestes, que contracenam com os personagens criados pelo autor. Isso confere à história uma dinâmica especial. Novamente, no seio da família Cambará, desenrolam-se as contradições de uma época marcada por uma radical revolução de costumes, sob a influência do cinema americano. Na família Cambará e suas relações, há desde comunistas a oportunistas. No meio deles, assumindo uma postura crítica e não engajada, aparece Floriano, alter ego do próprio Erico. O autor inova ainda ao introduzir um capítulo narrado por uma personagem feminina, Sílvia, que apresenta os personagens de O Arquipélago sob um ângulo diferente.
  • 13. "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, conta a história de Fabiano e de sua família de retirantes. O homem é acompanhado por sua mulher, Sinhá Vitória, pelos filhos não nomeados, chamados apenas de menino mais velho e menino mais novo, pela cachorra (esta sim, batizada ironicamente de Baleia, ou seja aquela que anda livremente pelo mar) e pelo papagaio. O nordestino que vive na seca é retratado com sua fome e a necessidade de migrar pelo sertão. As personagens pouco se comunicam e, por incrível que pareça, a cachorra Baleia aparece mais humanizada que os próprios homens.
  • 14. Poucos personagens, em toda a história da literatura brasileira, alcançaram a repercussão e a admiração popular como o analista de Bagé, que se declara "freudiano de colá decalco” e "mais ortodoxo do que rótulo de Maizena”. Apenas oito meses depois que Luis Fernando Verissimo lançou O Analista de Bagé, em 1981, a obra atingiu a marca da 50a edição e de 160 mil exemplares vendidos. Irônicos e diretos, com algumas pitadas de reflexão social, os textos de O Analista de Bagé trazem à tona os bastidores do consultório de um hilário psicanalista gaúcho, que faz uso de conhecimentos pseudocientíficos aliados à sabedoria popular dos pampas para auxiliar seus pacientes a resolver seus anseios. O analista sempre os recepciona com um quente chimarrão ("pra clarear a urina e as idéias”), de bombachas e "pé no chão”, e até recorre a técnicas mais heterodoxas, para dinamizar a sessão. Por exemplo, não concebe mais que o paciente fale enquanto o analista cochila. Também inventou a análise em grupo com gaiteiro, "pra indiada se soltá”. Não hesita em utilizar métodos ainda menos convencionais, como joelhaços, em alguns casos mais recalcitrantes. E costuma recorrer aos bons préstimos de sua benévola assistente, Lindaura, a que "recebe e dá”. Politicamente correto? Nem pensar! É do choque entre a fala e os costumes regionais e a sociedade pretensamente moderna e científica que deriva grande parte da graça das crônicas, nas quais se percebe também uma crítica velada aos falsos valores morais, à política e ao machismo. Como em todos os textos de Verissimo, a
  • 15. linguagem é muito clara, direta, coloquial, beirando o estilo jornalístico, mas sem que se abra mão do estilo humorístico inconfundível. O autor é mestre na criação do diálogo ágil e de tipos antológicos. Além do analista, podem ser citados a Mulher do Silva e a Velhinha de Taubaté, uma boa senhora que passa grande parte de seus dias numa cadeira de balanço assistindo ao Brasil pela televisão e é (ou era, pois acabou morrendo de desgosto diante do quadro político do país, em 2005) "o último bastião da credulidade nacional”. Nascido em 1936, filho do escritor Erico Verissimo, Luis Fernando é gaúcho de Porto Alegre e um dos mais conhecidos cronistas contemporâneos do país. Cursou o Instituto Porto Alegre e a Theodore Roosevelt High School, em Washington. Começou a carreira na imprensa em 1966, trabalhando no jornal Zero Hora. Foi tradutor, redator publicitário e quase se dedicou a tocar saxofone. No início da década de 70, passou a trabalhar na Folha da Manhã, jornal que viria a se tornar Folha de S.Paulo. Em 1973 lançou seu primeiro livro, O Popular, uma coleção de crônicas e charges. Daí em diante, o sucesso editorial cresceu vertiginosamente. Vieram os êxitos de O Amor Brasileiro (1977), O Analista de Bagé e O Gigolô das Palavras (1982). O autor se tornou ainda mais conhecido pelo público quando passou a assinar uma página na revista Veja, em 1982. Seus livros estão entre os mais vendidos do Brasil.
  • 16. A antiga Antologia poética de Vinicius de Moraes data de 1954. Foi organizada pelo próprio autor (com a ajuda de amigos, principalmente Manuel Bandeira), que a atualizou em 1967, mantendo sua estrutura. Esta Nova antologia poética vem assinada pelos poetas Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz, e foi lançada originalmente em 2003. Os organizadores reviram conceitos, refizeram a estrutura e montaram uma seleção criteriosa, lançando um olhar renovado sobre a obra viniciana. Tanto a crítica especializada quanto o público reconheceram de imediato que na nova antologia a poesia de Vinicius de Moraes mostra-se mais livre, mais moderna, mais densa e, simultaneamente, mais leve. O volume foi um sucesso imediato, e logo passou a ser editado também na Companhia de Bolso. Ele passa a fazer parte, agora, do novo projeto editorial das obras de Vinicius de Moraes, e traz, entre outras novidades, um belo caderno de imagens com diversas fotos inéditas, reprodução de manuscritos e documentos raros. Fechando o volume, o leitor encontrará uma seleção de textos críticos, entre eles a orelha da "velha" Antologia poética, assinada por Rubem Braga, seguindo-se uma cronologia da vida e da obra deste que é um dos maiores poetas brasileiros do século XX.