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Carne e vapor
As chamas brilhavam, tremendo e balançando de um lado ao outro.
Por que será que as pessoas acham relaxante observar ao fogo?
O pensamento curioso repentinamente adentrou a mente de Shikamaru.
Isso deve ter começado há gerações atrás, quando as pessoas ainda aguardavam o início da civilização.
Naquela época, fogo era uma companhia constante.
O fogo iluminava as redondezas e afastava a escuridão à espreita. Protegia do frio e de invasões
inimigas. Também era usado como sinalizador: para achar a localização dos aliados e achar o caminho
para casa.
Anos e anos desse estilo de vida haviam sido cravados na genética do ser humano, e agora foi passado
para ele próprio, Shikamaru. Talvez por isso, agora sentado em frente das chamas, ele se sentia tão
tranquilo.
Esse sentimento foi passado como Determinação do Fogo, de Konoha.
De pai para filho. De filho para neto. De estudante para aluno. De amigo para amigo.
Todas essas pessoas estavam relacionadas por esse sentimento. Conectadas.
Talvez essa determinação do fogo começou como uma chama fraca que poderia ser apagada a qualquer
momento.
Mas mesmo assim, ela não desapareceu. Mesmo agora ela era passada de geração a geração e ainda
brilhava intensamente.
Foram essas conexões que fizeram a luz da chama tão relaxante. Não importa quanto tempo passasse,
todas as células de seu corpo estavam cravadas com as memórias daqueles que vieram antes, e
encontravam o descanso nas chamas trêmulas.
Os seres humanos usavam o fogo para cozinhar e sentavam ao redor das chamas, observando-as
enquanto comiam. Antes que sequer pudessem perceber, estavam reunidos em grupos familiares nas
primeiras tradições.
Antigamente e até mesmo agora, era um hábito que não havia mudado. Na verdade, naquele exato
momento, mesmo Shikamaru estava sentado em frente ao fogo compartilhando uma refeição com seu
melhor amigo, Chouji Akimichi.
Conversa. Risadas. O som dos talheres batendo. E sobretudo, o som da carne estalando ao ser assada.
Yakiniku Q.
Era o principal ponto de encontro para Shimakaru e todo o resto do Rookie 9.
Quando se imagina churrascarias assim, há de se pensar que só estariam cheias pela noite e nada movimentada
durante o dia. Yakiniku Q era uma exceção, sempre cheia fosse dia ou noite. A refeição era barata, e ainda mais, de
alta qualidade, então naturalmente era um lugar bem popular.
E isso significava naquele momento, em pleno horário de almoço, Yakiniku Q não era muito diferente de um campo
de batalha.
Pedidos estavam sendo feitos por todas as mesas, mais cerveja ou mais chá, ou mais talheres, todos atendidos
pelos garçons apressados. Eles perambulavam pelo restaurante circulando os clientes com rapidez. A churrascaria
estava agitada.
Shikamaru assistia de longe o estado frenético dos garçons enquanto punha um pedaço de carne na boca.
O vermelho intenso da carne parecia brilhar, a gordura reluzindo por cima como uma pérola. Uma prova que a
carne estava fresca. O som delicioso do estalar da carne se misturava ao cheiro apetitoso circulando por todo o
restaurante.
Shikamaru e Chouji então decidiram almoçar ali, no mesmo lugar de sempre.
A decisão tinha sido feita há apenas alguns momentos atrás.
Shikamaru seguia em direção ao mercado, para fazer algumas compras, e esbarrou em Chouji no meio do percurso.
Ali mesmo, iniciaram uma conversa.
Então Chouji disse: “Está quase na hora do almoço, que tal almoçarmos juntos?”, e então foram parar no Yakiniku
Q, onde estavam agora.
Shikamaru tinha a intenção de entrar em alguma loja rapidamente, comprar o que queria e sair na mesma
velocidade, mas Chouji sempre dava um jeito de acabarem assim, do jeito que estavam.
“Um almoço rápido!”, ele dizia. Até parece. Chouji nunca sentava num restaurante sem se dedicar totalmente a
comer tudo o que podia.
O pedaço de carne de Shikamaru estava começando a ficar bem assado e suculento. Ele o alcançou com os hashis e
virou o outro lado na grelha. A parte de baixo estava maravilhosamente passada.
Se a carne assasse por muito tempo, ficaria muito dura, borrachenta. Tinha que ser observada atentamente para
não passar do ponto.
A maioria das pessoas usava o instinto para assar seus pedaços de carne, mas um estudo recente havia provado que
tais pessoas geralmente acabavam deixando a carne assar por tempo demais.
... Ou pelo menos foi o que Chouji disse enquanto conversava com Shikamaru.
Mas Chouji, logo no meio de sua crítica àqueles que assavam demais, comeu um pedaço de carne que parecia
assado de menos.
Ele tinha uma tendência de comer a carne mais crua do que seria aconselhável. Shikamaru então decidiu que iria
deixar a sua carne assar um pouco mais.
O pedaço dele parecia pronto na grelha. Mas no mesmo momento que Shikamaru estava alcançando a grelha com
seus hashis, seu pedaço foi roubado diante de seus próprios olhos.
Chouji. Ele pegou o pedaço e enfiou na boca com uma expressão vocalizada de satisfação.
“Esse era... o meu pedaço...”
“Ahn? Ahhhh, desculpe Shikamaru, eu vi o pedaço assado e minhas mãos se moveram sozinhas...” Chouji parecia
arrependido.
“Bem, tranquilo. Tem muita carne ainda”
E pôs mais um pedaço de carne na grelha. Ele olhou para Chouji com um sorriso e disse:
“Melhor no estômago do que virando carvão na brasa, não é mesmo?”
Chouji sorriu de volta para o amigo e retornou o foco a mastigar o pedaço roubado em sua boca, ocasionalmente
adicionando um pouco de arroz.
“Essa carne é muito boa”, ele murmurou enquanto mastigava.
Shikamaru o encarou, se perguntando se Chouji havia notado a infelicidade do comentário.
“Assar carne com grelha de carvão é muito difícil pra amadores” Chouji continuou. “Então se você quer assar muita
carne e comer muita carne, as grelhas movidas a gás são as melhores. A churrascaria escolheu um ótimo método”.
Pois é, Chouji não tinha notado mesmo. O seu comentário tinha sido apenas sobre o bom método da churrascaria.
Enquanto ele falava, engolia mais arroz. Àquela altura o pote de arroz iria ficar vazio muito rápido.
De alguma forma Shikamaru conseguiu em algum momento chamar a atenção de um garçom apressado e pedir por
mais uma porção de arroz.
Algo bom sobre o apetite imenso de Chouji era assistir. Assistí-lo comer de alguma forma fazia Shimakaru se sentir
cheio, mesmo que não tivesse comido muito e mesmo que seu pedaço de carne tivesse sido roubado.
Era por conta disso que ele sempre acabava fazendo certeza de que Chouji estava comendo bem. No fim das
contas, acabou dando seu segundo pedaço de carne pro amigo também.
Chouji manejou os hashis com destreza absurda e o pedaço desapareceu num piscar de olhos. Um por um, fileiras
de carne quase cruas desapareceram dentro de sua boca.
Chouji parecia extremamente feliz depois de comer tanta carne. Ele estava ficando cada vez mais orgulhoso das
suas proezas em rodízios.
Carne, arroz, carne, arroz, carne, carne, carne... Chouji comia sem parar, e enquanto Shikamaru assistia o
espetáculo, ele concluiu que a expressão orgulhosa no rosto do amigo era pelo seu cavanhaque.
De uns tempos pra cá, a aparência de Chouji tinha mudado um pouco.
A primeira coisa que as pessoas olhavam quando viam Chouji era o cavanhaque. Não estava longo demais, nem
nada assim, mas bem preservado e curto. Mas isso não era tudo. O cabelo de Chouji estava um pouco mais curto e
elegantemente penteado para trás. Dava um ar de limpeza e elegância num sentido geral.
Sem sombra de dúvidas. Era a barba. Quando combinada com o cabelo dele e todas as outras mudanças, Chouji
parecia um adulto respeitável, até mesmo pra Shikamaru que o conhecia por anos. Por isso Chouji tinha uma
aparência mais digna mesmo comendo tanto.
“Talvez eu deva deixar crescer um cavanhaque também...” Shikamaru murmurou enquanto se encostava na
cadeira.
“Ahn? Por quê?” Chouji momentaneamente interrompeu sua comilança frenética.
Por mais que ele parece perdido na comida, Chouji sempre escutava atenciosamente tudo o que Shikamaru dizia.
Shikamaru percebeu e continuou:
“Diferente de você, eu não mudei nada desde que era uma criança, não é verdade?” Ele disse, pegando no rabo-de-
cavalo no topo da cabeça.
Shikamaru sempre usou esse estilo de cabelo, desde pequeno. Era um rabo-de-cavalo simples, o cabelo longo
amarrado no topo da cabeça. Não é como se ele se preocupasse muito em manter o cabelo assim. Mas para alguém
preguiçoso como ele, era o jeito mais fácil.
Se tivesse que haver algo que definisse sua determinação, seria em manter sua aparência o mais simples e fácil
possível.
Mas também não era como se ele estivesse determinado a manter as coisas mais fáceis a qualquer custo. Então
também não se podia falar a mesma coisa da determinação dele em manter as coisas simples. As coisas só eram
assim porque ele não se importava muito.
Shikamaru não conseguia entender como as pessoas faziam de tudo pela aparência, pessoas que se preocupavam
tanto em escolher as roupas certas ou aparência certa. Ele pensava que os melhores tipos de roupa eram aqueles
que se pode usar em qualquer hora, qualquer lugar, do tipo que permite fazer tudo confortavelmente, como assistir
as nuvens ou cochilar.
Quando era menor, Shikamaru costumava pensar: “Se eu pudesse, gostaria de passar todos os dias sentado na
frente do fogo assistindo as chamas”.
Uma criança assim era obviamente diferente das outras que se importavam mais com o que a sociedade ou mundo
pensavam delas. Então não era exatamente uma surpresa ele não ligar pra roupas ou cabelo.
Mas ver como o seu melhor amigo de tantos anos estava parecendo um adulto não respeitável deixou Shikamaru
um tanto pensativo.
Shikamaru tornou-se chuunin bem jovem, e sucessivamente envolveu-se em vários trabalhos de administração da
vila. Por exemplo, ele recebeu o cargo de supervisionador no exame chuunin, e isso o fez comparecer um grande
número de reuniões, relações políticas, e naturalmente, em todas essas reuniões, ele estava cercado por pessoas
mais velhas que ele.
Por conta dessa exposição a tarefas sérias tão cedo, Shikamaru sempre se pegava pensando: “Aja como um adulto”
ou “Pense como um adulto”, ou “Você tem que ser convicto como um adulto seria”.
Shikamaru já tinha todas as características possíveis de um adulto, mas naquele momento ele simplesmente
começou a se comparar: ele, que não havia mudado nada na aparência desde pequeno, e Chouji, que parecia
maduro e respeitável. E isso resultou no seu comentário sobre deixar crescer um cavanhaque.
“Todo mundo diz que eu não mudei nada quando me veem...” Shikamaru resmungou, ainda comendo.
Chouji olhou para ele e pendeu a cabeça para o lado em confusão.
“Mas quando eles dizem isso devem pensar no seu cabelo, não?” Chouji pausou, olhando pro seu prato vazio. “Ahh,
tiazinha, mais uma porção, por favor!”
Após fazer seu pedido, Chouji limpou a boca e olhou de volta para Shikamaru. “Na minha opinião você mudou
muito desde antigamente”
“Sério?” Shikamaru perguntou. “Eu pareço um adulto?’
“Sim. Talvez porque você foi a tantas reuniões importantes da União Shinobi. Comparado a você antigamente, seu
rosto mudou muito. Eu acho que você parece mais compenetrado e capaz agora. Eu que estou afirmando isso,
então é verdade”.
Chouji tinha dado a ele seu selo de aprovação.
“Agora que você disse, muita gente diz que eu pareço muito com meu pai”.
Talvez Shikamaru só não tenha percebido isso antes porque ele olhava pro seu próprio rosto no espelho todos os
dias.
Ainda assim, ele não podia deixar de pensar que talvez um cavanhaque o fizesse parecer mais maduro...
Shikamaru pôs a mão em seu queixo barbeado e continuou a pensar sobre o assunto. Enquanto o fazia, o pedido de
Chouji chegou à mesa.
Era um prato enorme, mas muitas pessoas ficariam horrorizadas em saber que aquela porção não era pros dois. Era
toda para Chouji. Isso causava muita surpresa nos outros antigamente. Mas nos dias atuais os garçons e clientes
regulares da churrascaria já estavam acostumados ao apetite de Chouji, então era algo relativamente normal.
Quando viemos aqui pela primeira vez, também pedimos essa porção enorme...
Os pensamentos de Shikamaru viajaram pra quando ele ainda era um genin.
O seu time estava celebrando a primeira missão – muito bem sucedida.
E desde então, depois de cada missão, eles iam ao Yakiniku Q.
Os quatro sentavam na mesma mesa e sempre cada um em seu mesmo lugar.
~
Ino estava gritando com Chouji.
“EI?!” Ela reclamou, “Chouji, você comeu o meu pedaço!”
“Cala a boca...” Shikamaru resmungava pelo barulho.
Péssima decisão. Ino imediatamente virou-se para Shikamaru com os olhos flamejando de raiva. “Como assim ‘ cala
a boca’? É A MINHA CARNE! Então você tá dizendo que assar o meu pedaço?!”
Agora ele era o alvo da fúria. Aquilo era ridículo.
“Como assim?” Shikamaru reclamou, pondo a carne na grelha. “Por que sou eu que vai ter que assar tudo de novo?
Argh, que problemático...”
Por que as mulheres eram tão encrenqueiras? Shikamaru pensou enquanto virava as carnes.
Para começar, tinha a mulher mais próxima dele: a mãe. Ela era mais encrenqueira que as outras mulheres, num
nível absurdo.
O que no mundo fez o pai dele olhar pra uma mulher tão assustadora e pensar: “Eu vou casar com ela”? Shikamaru
não conseguia entender de jeito nenhum.
“Está bom pra você?”
A carne estava quase no ponto. Com o comentário de Shikamaru, Ino alcançou o pedaço com os hashis, um ar de
satisfação ao redor.
Mas o pedaço repentinamente desapareceu.
Não foi nenhum fantasma ou fenômeno sobrenatural. Foi Chouji. Ino então largou os hashis na mesa e começou a
gritar:
“Foi de propósito, não foi?!” Ela berrou. “Você fez de propósito!”
“Ah-Eu só- Eu vi a carne, aí...” Chouji gaguejava.
“Não ache que vai escapar dessa com desculpinhas vazias!”
Ino segurou Chouji pelo colar da camisa, ainda gritando. Estupefato como estava, ele não conseguiu largar da tigela
ou dos hashis. Shikamaru resmugou que iria acabar grelhando a carne de todo mundo de novo de qualquer forma e
começou a por mais carne na grelha.
Era uma cena comum para o time. Mas também...
Tinha uma pessoa assistindo alegremente.
Asuma.
~
Shikamaru voltou para o presente e olhou para o lugar onde Asuma costumava sentar.
Shikamaru, Chouji, Ino e Asuma. Os quatro tinham o hábito de comer naquela churrascaria depois de cada missão e
sentar ao redor daquela mesma mesa.
Antigamente Shikamaru costumava pensar que seria assim para sempre.
Era absurdo pensar em todos jovens para sempre, mas de alguma forma, um Shikamaru mais jovem imaginava
assim. Ele só não imaginava como ficaria adulto.
Mas o tempo passou para todos.
Ino ficou mais feminine. O apetite de Chouji não mudou nada, mas ele agora tinha um cavanhaque. Até Shikamaru
tinha mudado sem perceber. E Asuma... não estava mais entre eles.
Os quatro não podiam mais se encontrar novamente.
Aquela churrascaria, aqueles mesmos lugares, tudo estava encharcado de lembranças daqueles tempos felizes que
Shikamaru não podia reviver.
Foi por conta dessas lembranças que ele continuou indo à churrascaria, mesmo agora.
Toda vez que Shikamaru sentia o cheiro familiar da carne assando, ele podia jurar que o cheiro de tabaco estava
circulando também.
Asuma era um adulto.
Sua barba sempre cheirava a tabaco por conta dos infinitos cigarros. Não importava a situação, ele sempre estava
calmo. Calmo e tranquilo.
Asuma viajou por muitos lugares quando jovem, então ele tinha muito conhecimento, e suas habilidades como
shinobi eram ainda melhores. Ele era como um pai, e também como um irmão mais velho. Ele sempre pagava a
conta do churrasco para todo o time.
Parando pra pensar, ele sempre ficava meio pálido olhando o apetite voraz de Chouji, e freneticamente conferia a
carteira para ter certeza que tinha o suficiente.
Hoje em dia, Shikamaru e os outros pagavam por suas próprias refeições, com o dinheiro que ganhavam eles
mesmos.
Shikamaru se perguntava se ele tinha sido capaz de se tornar um adulto ao menos um pouco parecido com Asuma.
Shikamaru tomou o menu em mãos, virando as páginas e calculando quanto ele e Chouji teriam de pagar. Seria
muito caro bancar Chouji sozinho. Se eles dividissem a quantia, então dava para pagar confortavelmente.
Ah, cara, eu devia comer um pouco mais enquanto posso…
Shikamaru observou Chouji comendo ferozmente, e pegou alguns pedaços para si mesmo.
“... chomp, chomp, chomp... Tiazinha, outra porção!” Chouji chamou, a boca cheia de chomp- não, er, de carne.
Chouji eventualmente parou de comer, por enquanto, pelo menos. Ele parecia satisfeito, engolindo um copo de chá
de uma vez só. Quando tinha certeza que Chouji estava respirando de novo, Shikamaru disse:
“Então, sobre aquela conversa de antes, o que você vai fazer?”
“Ahn? Sobremesa?”
A gente nem falou de sobremesa, Chouji.
“... Os presentes de casamento de Naruto e Hinata”.
“Ah, certo, isso”.
Shikamaru suspirou. Chouji tinha esquecido?
Em primeiro lugar, Shikamaru saiu de casa na intenção de comprar o presente de casamento. Ele esbarrou em
Chouji por acidente, e então eles começaram a discutir o que deveriam dar como presente.
Shikamaru ainda estava indeciso no que daria como presente. Afinal, ele tinha que pensar em algo que Naruto e
Hinata ambos gostariam de ganhar, e ele estava sem muitas ideias.
Ele não só não tinha muita experiência com presentes de casamentos, ele não tinha experiência em dar presentes
num contexto geral.
Nesse caso, era melhor ele conversar com alguém que não negligenciaria frivolidades sociais como esta. Nessa linha
de pensamento, era melhor ouvir a opinião de uma mulher. Portanto, ele decidiu visitar Ino.
Floricultura dos Yamanaka. Esse era o nome da floricultura que a família de Ino tinha.
Quando Shikamaru foi discutir o assunto com ela, Ino imediatamente começou a gabar-se por já ter escolhido o
presente. Como esperado de Ino. Ela era muito bem informada quando se tratava do que estava na moda no
cenário mundial.
Como esperado de alguém do meu time, Shikamaru pensou, e se sentiu aliviado.
“Ahn? Não vou te deixar me copiar, pode dar no pé”.
E então, mesmo que eles fossem companheiros que enfrentaram batalhas mortais juntos, Shikamaru foi
imediatamente abandonado.
Depois disso...
“Desisto...” Shikamaru resmungou enquanto rodava pela vila, observando as lojas. Ele esbarrou em Chouji numa
das interseções, e desde então estava no lugar de agora, Yakiniku Q.
Mas aparentemente Chouji tinha esquecido de tudo comendo churrasco. Até mesmo agora, ele estava tomando
sorvete. Quando foi que ele pediu sorvete? Shikamaru nem tinha percebido. Chouji às vezes ia um pouco além da
compreensão humana.
E honestamente, quando se tratava de procurar presentes, a opinião de Chouji não era tão confiável quanto a de
Ino.
Entretanto, enquanto Shikamaru se preocupava com os presentes, Chouji parecia perfeitamente tranquilo.
“Na verdade, eu já sei mais ou menos o que vou dar...”
A resposta de Chouji foi tão inesperada que Shikamaru pulou em seu assento.
“Você sabe mesmo?! O que vai dar?!”
“Sim”, Chouji disse, pegando um pequeno pedado de papel retangular. “Eu vou dar isso aqui pra eles”
Chouji deslizou o item por cima da mesa e Shikamaru pegou antes que pudesse ficar molhado.
“Isso é...”
Shikamaru não conseguia acreditar. Era um vale-refeição para Ryotei, um dos restaurantes mais caros de Konoha.
“Adultos jovens como nós geralmente não gostam de lugares assim”, Chouji disse, com um sorriso. “Mas já que é
um presente de casamento, talvez dê certo”.
Era exatamente como Chouji disse. O restaurante era extremamente formal e extremamente caro, muitas pessoas
como eles não iam lá. Mas um vale-refeição num lugar como aquele, como um presente de casamento, era
brilhante.
Era uma chance para o casal ir a um lugar que não costumavam ir sempre, e era um presente de casamento bem
pensado já que os dois noivos poderiam aproveitar. Não tinha como haver presente mais brilhante que aquele.
Mas enquanto era um presente maravilhoso, como Chouji conseguiu desistir de um vale-refeição como aquele?
Chouji, é você mesmo...? Você se tornou um adulto mais maduro do que eu pensei...
Shikamaru olhava para o ticket elegante em mãos e então para o rosto de Chouji enquanto este tomava
alegremente o sorvete. Ele estava chocado.
Chouji continuou a tomar o sorvete sem perceber o olhar do amigo. Logo em seguida, começou a tomar outra
porção.
“E veio numa boa hora” Chouji disse enquanto lambia o sorvete. “Essa refeição pra três pessoas...”.
No começo, Shikamaru não entendeu o significado das palavras de Chouji. Mais um tempo se passou e a ficha caiu.
Uma gota de suor apareceu em sua testa.
“Você não tá pensando...” Shikamaru perguntou estranhamente, chocado com o entendimento. “Você não vai
comer... com... eles, né...?”
Chouji o olhou e começou a rir. “Claro que não. Mesmo sendo eu, não sou capaz de interromper o encontro de dois
recém-casados”.
“E-entendi... isso seria meio...”
“Eu vou pedir ao dono pra comer em mesas separadas”.
“... Você tá falando sério?”
Sem pensar muito, Shikamaru olhou para o teto. O ventilador estava girando sem parar como sempre.
O ventilador de teto continuava a girar em silencio. Um paralelo a Chouji, que continuava a tomar o sorvete
determinada, mas silenciosamente.
Em pouco tempo, o horário do almoço já havia terminado e os clientes na churrascaria começaram a ir embora. A
paz havia retornado ao Yakiniku Q.
Escutando ao leve barulho do ventilador na agora quieta churrascaria, Shikamaru continuou a se preocupar com o
presente.
Um vale-refeição de alta qualidade.
Esse foi o presente que Chouji havia preparado. Definitivamente não tinha nada ruim a respeito do presente.
Mas...
Mas enquanto não tinha um lado ruim, por que pra três pessoas? O restaurante Ryotei deveria ter pensado na
frequência com a qual os casais iam sozinhos, querendo mais privacidade – amantes sem interrupções. O
restaurante não tinha pensado nisso? Se era pra três pessoas, claro que pessoas como Chouji acabariam indo
junto...!
Shikamaru criticava internamente as políticas de um restaurante que nunca foi com uma expressão de desgosto.
Na mente dele, ele imaginava Naruto e Hinata se arrumando um pouco mais para a chance de comer num
restaurante refinado.
E então, na mesa de trás, Chouji. Pedindo uma segunda porção da comida enquanto observava atentamente os
recém-casados.
... Isso funcionaria mesmo...?
Não, naquele momento, o presente de Chouji estava bom. Era um presente bem típico de Chouji de qualquer
forma. Agora, o problema maior era o de Shikamaru, que não tinha pensado em nada. Ele tinha que devotar seus
pensamentos a uma boa ideia de presente.
Shikamaru se endireitou na cadeira, e silenciosamente fechou os olhos.
Whenever Shikamaru was thinking deeply about something –for example, his next move in his favourite game of
shougi, or a complicated strategy in the middle of a mission– he had the habit of sitting in a certain way as he
thought. He didn’t purposely try to get into that position. It happened naturally. It was the position that he could
think best in.
On that note, nobody would’ve ever expected Shikamaru to end up resorting to his thinking position in the middle
of Yakiniku Q. He himself hadn’t even expected that things would come to this.
Shikamaru gathered his thoughts inside his head. Something that would be suitable as wedding
present…several possibilities and options floated across his mind.
Konoha hiden-3

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  • 1. Carne e vapor As chamas brilhavam, tremendo e balançando de um lado ao outro. Por que será que as pessoas acham relaxante observar ao fogo? O pensamento curioso repentinamente adentrou a mente de Shikamaru. Isso deve ter começado há gerações atrás, quando as pessoas ainda aguardavam o início da civilização. Naquela época, fogo era uma companhia constante. O fogo iluminava as redondezas e afastava a escuridão à espreita. Protegia do frio e de invasões inimigas. Também era usado como sinalizador: para achar a localização dos aliados e achar o caminho para casa. Anos e anos desse estilo de vida haviam sido cravados na genética do ser humano, e agora foi passado para ele próprio, Shikamaru. Talvez por isso, agora sentado em frente das chamas, ele se sentia tão tranquilo. Esse sentimento foi passado como Determinação do Fogo, de Konoha. De pai para filho. De filho para neto. De estudante para aluno. De amigo para amigo. Todas essas pessoas estavam relacionadas por esse sentimento. Conectadas. Talvez essa determinação do fogo começou como uma chama fraca que poderia ser apagada a qualquer momento. Mas mesmo assim, ela não desapareceu. Mesmo agora ela era passada de geração a geração e ainda brilhava intensamente. Foram essas conexões que fizeram a luz da chama tão relaxante. Não importa quanto tempo passasse, todas as células de seu corpo estavam cravadas com as memórias daqueles que vieram antes, e encontravam o descanso nas chamas trêmulas. Os seres humanos usavam o fogo para cozinhar e sentavam ao redor das chamas, observando-as enquanto comiam. Antes que sequer pudessem perceber, estavam reunidos em grupos familiares nas primeiras tradições. Antigamente e até mesmo agora, era um hábito que não havia mudado. Na verdade, naquele exato momento, mesmo Shikamaru estava sentado em frente ao fogo compartilhando uma refeição com seu melhor amigo, Chouji Akimichi. Conversa. Risadas. O som dos talheres batendo. E sobretudo, o som da carne estalando ao ser assada. Yakiniku Q. Era o principal ponto de encontro para Shimakaru e todo o resto do Rookie 9. Quando se imagina churrascarias assim, há de se pensar que só estariam cheias pela noite e nada movimentada durante o dia. Yakiniku Q era uma exceção, sempre cheia fosse dia ou noite. A refeição era barata, e ainda mais, de alta qualidade, então naturalmente era um lugar bem popular. E isso significava naquele momento, em pleno horário de almoço, Yakiniku Q não era muito diferente de um campo de batalha. Pedidos estavam sendo feitos por todas as mesas, mais cerveja ou mais chá, ou mais talheres, todos atendidos pelos garçons apressados. Eles perambulavam pelo restaurante circulando os clientes com rapidez. A churrascaria estava agitada. Shikamaru assistia de longe o estado frenético dos garçons enquanto punha um pedaço de carne na boca.
  • 2. O vermelho intenso da carne parecia brilhar, a gordura reluzindo por cima como uma pérola. Uma prova que a carne estava fresca. O som delicioso do estalar da carne se misturava ao cheiro apetitoso circulando por todo o restaurante. Shikamaru e Chouji então decidiram almoçar ali, no mesmo lugar de sempre. A decisão tinha sido feita há apenas alguns momentos atrás. Shikamaru seguia em direção ao mercado, para fazer algumas compras, e esbarrou em Chouji no meio do percurso. Ali mesmo, iniciaram uma conversa. Então Chouji disse: “Está quase na hora do almoço, que tal almoçarmos juntos?”, e então foram parar no Yakiniku Q, onde estavam agora. Shikamaru tinha a intenção de entrar em alguma loja rapidamente, comprar o que queria e sair na mesma velocidade, mas Chouji sempre dava um jeito de acabarem assim, do jeito que estavam. “Um almoço rápido!”, ele dizia. Até parece. Chouji nunca sentava num restaurante sem se dedicar totalmente a comer tudo o que podia. O pedaço de carne de Shikamaru estava começando a ficar bem assado e suculento. Ele o alcançou com os hashis e virou o outro lado na grelha. A parte de baixo estava maravilhosamente passada. Se a carne assasse por muito tempo, ficaria muito dura, borrachenta. Tinha que ser observada atentamente para não passar do ponto. A maioria das pessoas usava o instinto para assar seus pedaços de carne, mas um estudo recente havia provado que tais pessoas geralmente acabavam deixando a carne assar por tempo demais. ... Ou pelo menos foi o que Chouji disse enquanto conversava com Shikamaru. Mas Chouji, logo no meio de sua crítica àqueles que assavam demais, comeu um pedaço de carne que parecia assado de menos. Ele tinha uma tendência de comer a carne mais crua do que seria aconselhável. Shikamaru então decidiu que iria deixar a sua carne assar um pouco mais. O pedaço dele parecia pronto na grelha. Mas no mesmo momento que Shikamaru estava alcançando a grelha com seus hashis, seu pedaço foi roubado diante de seus próprios olhos. Chouji. Ele pegou o pedaço e enfiou na boca com uma expressão vocalizada de satisfação. “Esse era... o meu pedaço...” “Ahn? Ahhhh, desculpe Shikamaru, eu vi o pedaço assado e minhas mãos se moveram sozinhas...” Chouji parecia arrependido. “Bem, tranquilo. Tem muita carne ainda” E pôs mais um pedaço de carne na grelha. Ele olhou para Chouji com um sorriso e disse: “Melhor no estômago do que virando carvão na brasa, não é mesmo?” Chouji sorriu de volta para o amigo e retornou o foco a mastigar o pedaço roubado em sua boca, ocasionalmente adicionando um pouco de arroz. “Essa carne é muito boa”, ele murmurou enquanto mastigava. Shikamaru o encarou, se perguntando se Chouji havia notado a infelicidade do comentário.
  • 3. “Assar carne com grelha de carvão é muito difícil pra amadores” Chouji continuou. “Então se você quer assar muita carne e comer muita carne, as grelhas movidas a gás são as melhores. A churrascaria escolheu um ótimo método”. Pois é, Chouji não tinha notado mesmo. O seu comentário tinha sido apenas sobre o bom método da churrascaria. Enquanto ele falava, engolia mais arroz. Àquela altura o pote de arroz iria ficar vazio muito rápido. De alguma forma Shikamaru conseguiu em algum momento chamar a atenção de um garçom apressado e pedir por mais uma porção de arroz. Algo bom sobre o apetite imenso de Chouji era assistir. Assistí-lo comer de alguma forma fazia Shimakaru se sentir cheio, mesmo que não tivesse comido muito e mesmo que seu pedaço de carne tivesse sido roubado. Era por conta disso que ele sempre acabava fazendo certeza de que Chouji estava comendo bem. No fim das contas, acabou dando seu segundo pedaço de carne pro amigo também. Chouji manejou os hashis com destreza absurda e o pedaço desapareceu num piscar de olhos. Um por um, fileiras de carne quase cruas desapareceram dentro de sua boca. Chouji parecia extremamente feliz depois de comer tanta carne. Ele estava ficando cada vez mais orgulhoso das suas proezas em rodízios. Carne, arroz, carne, arroz, carne, carne, carne... Chouji comia sem parar, e enquanto Shikamaru assistia o espetáculo, ele concluiu que a expressão orgulhosa no rosto do amigo era pelo seu cavanhaque. De uns tempos pra cá, a aparência de Chouji tinha mudado um pouco. A primeira coisa que as pessoas olhavam quando viam Chouji era o cavanhaque. Não estava longo demais, nem nada assim, mas bem preservado e curto. Mas isso não era tudo. O cabelo de Chouji estava um pouco mais curto e elegantemente penteado para trás. Dava um ar de limpeza e elegância num sentido geral. Sem sombra de dúvidas. Era a barba. Quando combinada com o cabelo dele e todas as outras mudanças, Chouji parecia um adulto respeitável, até mesmo pra Shikamaru que o conhecia por anos. Por isso Chouji tinha uma aparência mais digna mesmo comendo tanto. “Talvez eu deva deixar crescer um cavanhaque também...” Shikamaru murmurou enquanto se encostava na cadeira. “Ahn? Por quê?” Chouji momentaneamente interrompeu sua comilança frenética. Por mais que ele parece perdido na comida, Chouji sempre escutava atenciosamente tudo o que Shikamaru dizia. Shikamaru percebeu e continuou: “Diferente de você, eu não mudei nada desde que era uma criança, não é verdade?” Ele disse, pegando no rabo-de- cavalo no topo da cabeça. Shikamaru sempre usou esse estilo de cabelo, desde pequeno. Era um rabo-de-cavalo simples, o cabelo longo amarrado no topo da cabeça. Não é como se ele se preocupasse muito em manter o cabelo assim. Mas para alguém preguiçoso como ele, era o jeito mais fácil. Se tivesse que haver algo que definisse sua determinação, seria em manter sua aparência o mais simples e fácil possível. Mas também não era como se ele estivesse determinado a manter as coisas mais fáceis a qualquer custo. Então também não se podia falar a mesma coisa da determinação dele em manter as coisas simples. As coisas só eram assim porque ele não se importava muito. Shikamaru não conseguia entender como as pessoas faziam de tudo pela aparência, pessoas que se preocupavam tanto em escolher as roupas certas ou aparência certa. Ele pensava que os melhores tipos de roupa eram aqueles
  • 4. que se pode usar em qualquer hora, qualquer lugar, do tipo que permite fazer tudo confortavelmente, como assistir as nuvens ou cochilar. Quando era menor, Shikamaru costumava pensar: “Se eu pudesse, gostaria de passar todos os dias sentado na frente do fogo assistindo as chamas”. Uma criança assim era obviamente diferente das outras que se importavam mais com o que a sociedade ou mundo pensavam delas. Então não era exatamente uma surpresa ele não ligar pra roupas ou cabelo. Mas ver como o seu melhor amigo de tantos anos estava parecendo um adulto não respeitável deixou Shikamaru um tanto pensativo. Shikamaru tornou-se chuunin bem jovem, e sucessivamente envolveu-se em vários trabalhos de administração da vila. Por exemplo, ele recebeu o cargo de supervisionador no exame chuunin, e isso o fez comparecer um grande número de reuniões, relações políticas, e naturalmente, em todas essas reuniões, ele estava cercado por pessoas mais velhas que ele. Por conta dessa exposição a tarefas sérias tão cedo, Shikamaru sempre se pegava pensando: “Aja como um adulto” ou “Pense como um adulto”, ou “Você tem que ser convicto como um adulto seria”. Shikamaru já tinha todas as características possíveis de um adulto, mas naquele momento ele simplesmente começou a se comparar: ele, que não havia mudado nada na aparência desde pequeno, e Chouji, que parecia maduro e respeitável. E isso resultou no seu comentário sobre deixar crescer um cavanhaque. “Todo mundo diz que eu não mudei nada quando me veem...” Shikamaru resmungou, ainda comendo. Chouji olhou para ele e pendeu a cabeça para o lado em confusão. “Mas quando eles dizem isso devem pensar no seu cabelo, não?” Chouji pausou, olhando pro seu prato vazio. “Ahh, tiazinha, mais uma porção, por favor!” Após fazer seu pedido, Chouji limpou a boca e olhou de volta para Shikamaru. “Na minha opinião você mudou muito desde antigamente” “Sério?” Shikamaru perguntou. “Eu pareço um adulto?’ “Sim. Talvez porque você foi a tantas reuniões importantes da União Shinobi. Comparado a você antigamente, seu rosto mudou muito. Eu acho que você parece mais compenetrado e capaz agora. Eu que estou afirmando isso, então é verdade”. Chouji tinha dado a ele seu selo de aprovação. “Agora que você disse, muita gente diz que eu pareço muito com meu pai”. Talvez Shikamaru só não tenha percebido isso antes porque ele olhava pro seu próprio rosto no espelho todos os dias. Ainda assim, ele não podia deixar de pensar que talvez um cavanhaque o fizesse parecer mais maduro... Shikamaru pôs a mão em seu queixo barbeado e continuou a pensar sobre o assunto. Enquanto o fazia, o pedido de Chouji chegou à mesa. Era um prato enorme, mas muitas pessoas ficariam horrorizadas em saber que aquela porção não era pros dois. Era toda para Chouji. Isso causava muita surpresa nos outros antigamente. Mas nos dias atuais os garçons e clientes regulares da churrascaria já estavam acostumados ao apetite de Chouji, então era algo relativamente normal. Quando viemos aqui pela primeira vez, também pedimos essa porção enorme... Os pensamentos de Shikamaru viajaram pra quando ele ainda era um genin.
  • 5. O seu time estava celebrando a primeira missão – muito bem sucedida. E desde então, depois de cada missão, eles iam ao Yakiniku Q. Os quatro sentavam na mesma mesa e sempre cada um em seu mesmo lugar. ~ Ino estava gritando com Chouji. “EI?!” Ela reclamou, “Chouji, você comeu o meu pedaço!” “Cala a boca...” Shikamaru resmungava pelo barulho. Péssima decisão. Ino imediatamente virou-se para Shikamaru com os olhos flamejando de raiva. “Como assim ‘ cala a boca’? É A MINHA CARNE! Então você tá dizendo que assar o meu pedaço?!” Agora ele era o alvo da fúria. Aquilo era ridículo. “Como assim?” Shikamaru reclamou, pondo a carne na grelha. “Por que sou eu que vai ter que assar tudo de novo? Argh, que problemático...” Por que as mulheres eram tão encrenqueiras? Shikamaru pensou enquanto virava as carnes. Para começar, tinha a mulher mais próxima dele: a mãe. Ela era mais encrenqueira que as outras mulheres, num nível absurdo. O que no mundo fez o pai dele olhar pra uma mulher tão assustadora e pensar: “Eu vou casar com ela”? Shikamaru não conseguia entender de jeito nenhum. “Está bom pra você?” A carne estava quase no ponto. Com o comentário de Shikamaru, Ino alcançou o pedaço com os hashis, um ar de satisfação ao redor. Mas o pedaço repentinamente desapareceu. Não foi nenhum fantasma ou fenômeno sobrenatural. Foi Chouji. Ino então largou os hashis na mesa e começou a gritar: “Foi de propósito, não foi?!” Ela berrou. “Você fez de propósito!” “Ah-Eu só- Eu vi a carne, aí...” Chouji gaguejava. “Não ache que vai escapar dessa com desculpinhas vazias!” Ino segurou Chouji pelo colar da camisa, ainda gritando. Estupefato como estava, ele não conseguiu largar da tigela ou dos hashis. Shikamaru resmugou que iria acabar grelhando a carne de todo mundo de novo de qualquer forma e começou a por mais carne na grelha. Era uma cena comum para o time. Mas também... Tinha uma pessoa assistindo alegremente. Asuma. ~ Shikamaru voltou para o presente e olhou para o lugar onde Asuma costumava sentar.
  • 6. Shikamaru, Chouji, Ino e Asuma. Os quatro tinham o hábito de comer naquela churrascaria depois de cada missão e sentar ao redor daquela mesma mesa. Antigamente Shikamaru costumava pensar que seria assim para sempre. Era absurdo pensar em todos jovens para sempre, mas de alguma forma, um Shikamaru mais jovem imaginava assim. Ele só não imaginava como ficaria adulto. Mas o tempo passou para todos. Ino ficou mais feminine. O apetite de Chouji não mudou nada, mas ele agora tinha um cavanhaque. Até Shikamaru tinha mudado sem perceber. E Asuma... não estava mais entre eles. Os quatro não podiam mais se encontrar novamente. Aquela churrascaria, aqueles mesmos lugares, tudo estava encharcado de lembranças daqueles tempos felizes que Shikamaru não podia reviver. Foi por conta dessas lembranças que ele continuou indo à churrascaria, mesmo agora. Toda vez que Shikamaru sentia o cheiro familiar da carne assando, ele podia jurar que o cheiro de tabaco estava circulando também. Asuma era um adulto. Sua barba sempre cheirava a tabaco por conta dos infinitos cigarros. Não importava a situação, ele sempre estava calmo. Calmo e tranquilo. Asuma viajou por muitos lugares quando jovem, então ele tinha muito conhecimento, e suas habilidades como shinobi eram ainda melhores. Ele era como um pai, e também como um irmão mais velho. Ele sempre pagava a conta do churrasco para todo o time. Parando pra pensar, ele sempre ficava meio pálido olhando o apetite voraz de Chouji, e freneticamente conferia a carteira para ter certeza que tinha o suficiente. Hoje em dia, Shikamaru e os outros pagavam por suas próprias refeições, com o dinheiro que ganhavam eles mesmos. Shikamaru se perguntava se ele tinha sido capaz de se tornar um adulto ao menos um pouco parecido com Asuma. Shikamaru tomou o menu em mãos, virando as páginas e calculando quanto ele e Chouji teriam de pagar. Seria muito caro bancar Chouji sozinho. Se eles dividissem a quantia, então dava para pagar confortavelmente. Ah, cara, eu devia comer um pouco mais enquanto posso… Shikamaru observou Chouji comendo ferozmente, e pegou alguns pedaços para si mesmo. “... chomp, chomp, chomp... Tiazinha, outra porção!” Chouji chamou, a boca cheia de chomp- não, er, de carne. Chouji eventualmente parou de comer, por enquanto, pelo menos. Ele parecia satisfeito, engolindo um copo de chá de uma vez só. Quando tinha certeza que Chouji estava respirando de novo, Shikamaru disse: “Então, sobre aquela conversa de antes, o que você vai fazer?” “Ahn? Sobremesa?” A gente nem falou de sobremesa, Chouji. “... Os presentes de casamento de Naruto e Hinata”.
  • 7. “Ah, certo, isso”. Shikamaru suspirou. Chouji tinha esquecido? Em primeiro lugar, Shikamaru saiu de casa na intenção de comprar o presente de casamento. Ele esbarrou em Chouji por acidente, e então eles começaram a discutir o que deveriam dar como presente. Shikamaru ainda estava indeciso no que daria como presente. Afinal, ele tinha que pensar em algo que Naruto e Hinata ambos gostariam de ganhar, e ele estava sem muitas ideias. Ele não só não tinha muita experiência com presentes de casamentos, ele não tinha experiência em dar presentes num contexto geral. Nesse caso, era melhor ele conversar com alguém que não negligenciaria frivolidades sociais como esta. Nessa linha de pensamento, era melhor ouvir a opinião de uma mulher. Portanto, ele decidiu visitar Ino. Floricultura dos Yamanaka. Esse era o nome da floricultura que a família de Ino tinha. Quando Shikamaru foi discutir o assunto com ela, Ino imediatamente começou a gabar-se por já ter escolhido o presente. Como esperado de Ino. Ela era muito bem informada quando se tratava do que estava na moda no cenário mundial. Como esperado de alguém do meu time, Shikamaru pensou, e se sentiu aliviado. “Ahn? Não vou te deixar me copiar, pode dar no pé”. E então, mesmo que eles fossem companheiros que enfrentaram batalhas mortais juntos, Shikamaru foi imediatamente abandonado. Depois disso... “Desisto...” Shikamaru resmungou enquanto rodava pela vila, observando as lojas. Ele esbarrou em Chouji numa das interseções, e desde então estava no lugar de agora, Yakiniku Q. Mas aparentemente Chouji tinha esquecido de tudo comendo churrasco. Até mesmo agora, ele estava tomando sorvete. Quando foi que ele pediu sorvete? Shikamaru nem tinha percebido. Chouji às vezes ia um pouco além da compreensão humana. E honestamente, quando se tratava de procurar presentes, a opinião de Chouji não era tão confiável quanto a de Ino. Entretanto, enquanto Shikamaru se preocupava com os presentes, Chouji parecia perfeitamente tranquilo. “Na verdade, eu já sei mais ou menos o que vou dar...” A resposta de Chouji foi tão inesperada que Shikamaru pulou em seu assento. “Você sabe mesmo?! O que vai dar?!” “Sim”, Chouji disse, pegando um pequeno pedado de papel retangular. “Eu vou dar isso aqui pra eles” Chouji deslizou o item por cima da mesa e Shikamaru pegou antes que pudesse ficar molhado. “Isso é...” Shikamaru não conseguia acreditar. Era um vale-refeição para Ryotei, um dos restaurantes mais caros de Konoha. “Adultos jovens como nós geralmente não gostam de lugares assim”, Chouji disse, com um sorriso. “Mas já que é um presente de casamento, talvez dê certo”.
  • 8. Era exatamente como Chouji disse. O restaurante era extremamente formal e extremamente caro, muitas pessoas como eles não iam lá. Mas um vale-refeição num lugar como aquele, como um presente de casamento, era brilhante. Era uma chance para o casal ir a um lugar que não costumavam ir sempre, e era um presente de casamento bem pensado já que os dois noivos poderiam aproveitar. Não tinha como haver presente mais brilhante que aquele. Mas enquanto era um presente maravilhoso, como Chouji conseguiu desistir de um vale-refeição como aquele? Chouji, é você mesmo...? Você se tornou um adulto mais maduro do que eu pensei... Shikamaru olhava para o ticket elegante em mãos e então para o rosto de Chouji enquanto este tomava alegremente o sorvete. Ele estava chocado. Chouji continuou a tomar o sorvete sem perceber o olhar do amigo. Logo em seguida, começou a tomar outra porção. “E veio numa boa hora” Chouji disse enquanto lambia o sorvete. “Essa refeição pra três pessoas...”. No começo, Shikamaru não entendeu o significado das palavras de Chouji. Mais um tempo se passou e a ficha caiu. Uma gota de suor apareceu em sua testa. “Você não tá pensando...” Shikamaru perguntou estranhamente, chocado com o entendimento. “Você não vai comer... com... eles, né...?” Chouji o olhou e começou a rir. “Claro que não. Mesmo sendo eu, não sou capaz de interromper o encontro de dois recém-casados”. “E-entendi... isso seria meio...” “Eu vou pedir ao dono pra comer em mesas separadas”. “... Você tá falando sério?” Sem pensar muito, Shikamaru olhou para o teto. O ventilador estava girando sem parar como sempre. O ventilador de teto continuava a girar em silencio. Um paralelo a Chouji, que continuava a tomar o sorvete determinada, mas silenciosamente. Em pouco tempo, o horário do almoço já havia terminado e os clientes na churrascaria começaram a ir embora. A paz havia retornado ao Yakiniku Q. Escutando ao leve barulho do ventilador na agora quieta churrascaria, Shikamaru continuou a se preocupar com o presente. Um vale-refeição de alta qualidade. Esse foi o presente que Chouji havia preparado. Definitivamente não tinha nada ruim a respeito do presente. Mas... Mas enquanto não tinha um lado ruim, por que pra três pessoas? O restaurante Ryotei deveria ter pensado na frequência com a qual os casais iam sozinhos, querendo mais privacidade – amantes sem interrupções. O restaurante não tinha pensado nisso? Se era pra três pessoas, claro que pessoas como Chouji acabariam indo junto...! Shikamaru criticava internamente as políticas de um restaurante que nunca foi com uma expressão de desgosto. Na mente dele, ele imaginava Naruto e Hinata se arrumando um pouco mais para a chance de comer num restaurante refinado.
  • 9. E então, na mesa de trás, Chouji. Pedindo uma segunda porção da comida enquanto observava atentamente os recém-casados. ... Isso funcionaria mesmo...? Não, naquele momento, o presente de Chouji estava bom. Era um presente bem típico de Chouji de qualquer forma. Agora, o problema maior era o de Shikamaru, que não tinha pensado em nada. Ele tinha que devotar seus pensamentos a uma boa ideia de presente. Shikamaru se endireitou na cadeira, e silenciosamente fechou os olhos. Whenever Shikamaru was thinking deeply about something –for example, his next move in his favourite game of shougi, or a complicated strategy in the middle of a mission– he had the habit of sitting in a certain way as he thought. He didn’t purposely try to get into that position. It happened naturally. It was the position that he could think best in. On that note, nobody would’ve ever expected Shikamaru to end up resorting to his thinking position in the middle of Yakiniku Q. He himself hadn’t even expected that things would come to this. Shikamaru gathered his thoughts inside his head. Something that would be suitable as wedding present…several possibilities and options floated across his mind.