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emissão e recepção - como
havia pensado Jakobson -,
constitui uma atividade que
demanda exercídos de cum­
plicidade cognitiva na medi­
da em que os participantes
efetuam estratégias comuni­
cacionais para se compreen­
derem. Essa perspectiva am­
pliou a abordagem do ensino
de Hngua na década seguin­
te, pois i_nseriu o estudo da
oraUdade na sala de
aula.t,.. A partir desse
momento, a escrita não era
mais a única modalidade
observada e analisada para
se estudar a língua. Os anos
1980 e 1990 foram responsá­
veis pela guinada no estudo
da fala e da escrita; os livros
didáticos, nessas décadas,
passam a dar uma visão
complementar entre as duas
modalidades, abandonan­
do a antiga visão de escrita
como representação da fala.
SE QUISER CONHECER MELHORA
HISTÓRIA DAS TEORIAS MESTRAS
DA UNGUISTICA, SUGERIMOS A
LEITURA DAS OBRAS:
No entanto, nesse ínte­
rim, veio difundindo-se a
Linguistica Textual, ala de
estudos que defendia o texto
comounidadede análise een­
sino dalíngua,sendode maior
infiuência na Alemanha dos
anos 1960 e 1970, mas estabe­
lecida no Brasil somente em
1983 a partir da publicação
do livro "Linguística de texto:
o que é e como se faz': escrito
por Luiz Antônio Marcuschi.
O deslocamento da base de
estudos lingufsticos foi o
maior legado da Linguística
Textual: a mudança de olhar
sobre a língua, que antes era
vista pelo viés da palavra e
da frase, passa a reconhecer
no texto seu elemento básico
de estudo.
CUrso de
Plltlufslica Geral
Ferdinand
A LINOUISTICA E
O 8N81NO DA LfNOUA
Ainda nos anos 1970, sur­
ge a perspectiva contrastiva,
quando os linguistas passam
a enfatizar a comparação
lexical entre línguas, com
o objetivo de descrevê-las.
Nota-se que, nesseinterstício,
o estudo linguístico recaiu
novamente sobre a palavra
- e o ensino também. Eis aí
o apogeu, na sala de aula, da
,��·��)"'lU;
Morfossintaxe, em detrimen­
to da produção e leitura de textos. Isso explica
a recorrênda, nessa época, em estudar a clas­
sificação de estruturas morfológicas e sintag­
máticas {o que causa resquícios até hoje). A
análise da língua, nesse período, se dava sobre
a perspectiva do erro e acerto da estrutura.
O conceito de erro era visto como um desvio,
e não como algo integrante no processo de
construção das competências com a língua.
Diante dessa viagem his­
tórica em várias décadas do
século XX. percebemos um
pouco como a Linguística
marcou profundamente o
ensino de Hngua por meio
de suas abordagens teóricas.
Hoje as diversas orientações
vigentes sobre o estudo lin­
guístico levam o aluno a
produzir textos como urna
forma de se fazer entender.
Percebemos a linguagem
como uma atividade de na­
tureza sócio-cognitiva, his­
tórica e situacionalmente
desenvolvida para promover
a interaçãó humana. Dessa
forma, as atividades de es­
crita, leitura e análise lin­
guística em sala de aula devem corresponder
a essa assertiva. Infelizmente, muitos profes­
sores ainda lidam com o texto atribuindo-lhe
apenas o valor de instrumento avaliativo, sem
expor qualquer significado na sua produção e/
ou leitura. Esse, sem dúvida, é o prindpal mo­
tivo da falta de interesse dos alunos pelo méto­
do mecanicista e nonsense em que o texto (ou
a redação) é tratado na prática docente. �
WIWamLabov
William labov é um dos
maiores responsáveis por •
teorias importantes ligada
ao estudo da oralidade
e da variação linguística.
Marcos Bagno detalha na
apresentação da edição
brasileira de "Padrões
SoclolingUfsticos":
"'lmfNIC(D dotmbolbodt
LobovSDbte os esiJJdosd!
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 .
c·e NCEITO
Ungua comoAção
A teoria desenvolvida pc
)ohn Austin (1911-1970
reconheceu na !inguage·
o seu papel criativo e
acionai, em detrimento '
ideia vigente, na época,
lfngua como representa<
da realidade e do
pensamento.
REFERÊNCJ41).
Oralidade na sala de a<
Confira reportagem
na edição 15 sobre a
importância da oralidad
no ensino de lingua
portuguesa.
Conhecimento Prático I ÚNGUA PORTUGUESA I :
O ABISMO DO PADRÃO
A DISTÂNCIA EXISTENTE ENTRE A LÍNGUA
DOS FALANTES E A LÍNGUA DOS COMPÊNDIOS
GRAMATICAIS INCITA A DISCUSSÃO
SOBRE A NORMA-PADRÃO E O ENSINO DA GRAMÁTICA
NAS ESCOLAS
II por Tatiana Napoli
CURIOSf(ÔOrigem da gra.J.tica
O primeiro gramático
conhecido da história
é Dionísio da Trácia,
que realizou a primeira
descrição explícita da
língua grega. Agramática
de Dionísio, Téchné
grammatikéz, apresentava
tópicos como valor
fonético das letras (os
antigos não conseguiram
diferenciar sons de letras), .
desenvolvimento da
morfologia, classes de
palavras: nomes, verbos,
particípio, conjunção,
preposição, artigo,
pronome, advérbios.
PORDENT�'
Erro clássico
John Lyons analisa que da
gramática tradicional como
proposta pelos filólogos
alexandrinos derivam
dois equívocos fatais: a
separação rígida entre a
língua escrita e a falada
e a forma de encarar a
mudança das línguas, que
os antigos acreditavam
ser uma "corrupção",
"decadência", conceito
que permanece até hoje.
CIT.U
Formas variantes
Como discorre Carlos
Alberto Faraco no artigo
Norma-Padrão Brasileira,
publicado no livro
"lingüística da Norma":
"Os grupos sociais se
distinguem pelasformas
de lfngua que lhes são
de uso comum. Esse uso
comum caracteriza o que
se chama de a norma
lingDística de determinado
grupo. (._) Osenso de
pertencimento Inclui o ·
uso da forma de {olor
caracterfstica dos prdtlcos
e expectatl!lfls lingOfsticas
do grupo. Nesse sentido,
a norma, qualquer
que seja, não pode ser
compreendida apenas
como um conjunto de
formas 1/ngOistlcas; ela é
também (e prfnclpolmente)
um agregado de valores
socloculturais articulados
com aquelasformas."
· -,; _ .'.. ;
(OMO NAS(EIAM AS GUMÁTICAS
Na Antiguidade, a cidade de Alexandria era um grande centro cultural e detinha um grande
acervo em grego clássico. Como o idioma havia sido modificado pela dominação do povo
grego e pela invasão dos povos bárbaros, com o tempo passou a ser necessário criar notas
explicativas, chamadas de glosas filológicas, para garantir o entendimento dos textos. Essas
glosas são a origem da gramáticai•. que, portanto, já surgiu como instrumento
normativo, privilegiando a língua escrita
,'
e com base na literatura clássica. É com a gramática,
também, que nasce a preocupação com a forma da linguagem (o "certo" e o "errado").
A filosofia e a gramática, então, uniram seus conceitos, e a correção de pensamento passou
a estar ligada à correção da forma. Esses conceitos chegaram até nós pelos romanos, que,
no processo de expansão, assimilaram o conceito de gramática dos gregos e aplicaram-no ao
latim, com a normatização da língua. O processo de fonnalização do latim levou à divisão entre
"latim clássico" e "latim vulgar" (ou popular).
Durante o Renascimento (séculos XIV a XVI) ocorreu a criação das gramáticas das línguas
vemáculas. Com o tempo, o latim deixou de ser a língua única do conhecimento. Em português,
a primeira gramática, de Fernão de Oliveira, é de 1536. Em 1540, surgiu a gramática de João
de Barros. As gramáticas das formas vernáculas tomaram como base o modelo greco-latino e
ocorreu a perpetuação do "erro clássico C� " da tradição gramatical apontado pelo linguista
inglês John Lyons, de a gramática já ter nascido com caráter normativo, o que foi incorporado
nessas novas descrições.
DEFINIÇÕES
O termo norma, em si, pode ser usado
em mais de um contexto, tanto no sentido
de regras e padrões quanto para designar o
conjunto de formas variantes�} carac­
terístico de um determinado grupo, como
em "a norma adolescente".
A norma culta, em uma definição sim­
ples, é a norma de língua usada pelos falan­
tes mais escolarizados da língua. O caráter
pernóstico do adjetivo "culto" pode render
pressupostos equivocados, como a oposição
a uma norma "inculta", totalmente despro­
vida de cultura. Tal presunção se reflete em
comentários como "fulano não sabe falar
português" ou "fulano é ignorante em por­
tuguês", sem considerar que, mesmo entre
os falantes mais escolarizados, a língua varia
no eixo do estilo em relação aos contextos e
aos níveis de formalidade, ficando cada vez
mais afastada da gramática normativa.
Existe, ainda, um conhecimento que
circula e não está necessariamente na lín­
gua, mas, sim, nos compêndios formais da
língua. Essa é a norma-padrão, postulada
pelas gramáticas, que tem como objetivo a
padronização.
Carlos Alberto Faraco define que a nor­
ma culta diz respeito à variedade utilizada
pelas pessoas que têm mais proximidade
com a modalidade escrita e, portanto, pos­
suem uma fala mais próxima das regras de
tal modalidade. Já a norma-padrão, na in­
terpretação de Faraco, relaciona-se às práti­
cas socioculturais que constituem a cultura
letrada num todo, ou seja, toda e qualquer
atividade que tem o processo histórico do
escrever como pano de fundo.
A CONSTRUÇÃO DA
NORMA-PADRÃO
No Ocidente, a norma-padrão se esta­
beleceu por meio de um processo iniciado
quando dialetos de prestígio ganharam for­
ma escrita e continuado por meio da cons­
tituição da literatura canônica, base para a
codificação da língua com o surgimento da
gramática. A literatura é, portanto, sustenta­
ção empírica da norma-padrão.
No Brasil, o estabelecimento da norma­
padrão se deu no século XIX, com o intuito
de, na definição de Faraco, "neutralizar a va­
riação e controlar a mudança", numa tenta­
tiva de unificar a língua e torná-la unitária
e homogênea. Para tanto, foi estabelecido
que a norma seria criada a partir de textos
de escritores portugueses<IJ, numa
tentativa de ditar o idioma correto para uso
dos brasileiros.
54 I Conhecimento Prático I ÚNGUA PORTUGUESA
Essa relação posteriormente gerou uma
crise de valores entre literatura e gramática.
Para a padronização da língua, o gramático
"higieniza" o texto literário e passa a enxergá­
lo como exemplo de correção gramatical. A
simbiose correusem conttatemposaté o início
do século XX. Com o Modernismo, a literatu­
ra rompeu com a tradição e se recusoua man­
ter o papel de paradigma. A principal base de
referência passou a ser, então, a imprensa,
especialmente os grandes jornaisQ",
que adotaram manuais de redação para fi­
xar o padrão de linguagem de seus textos.
Tal inversão acabou por aprofundar a di­
ferença entre a norma-padrão e a realidade
da língua, já que, na explicação de Carlos
Alberto Faraco, "os jornais nada mais fize­
ram do que transcrever acriticamente o que
está estipulado nos velhos compêndios de
gramática, que são, reconhecidamente, ar­
tificiais em excesso quanto ao padrão que
preconizam (...). Os jornais se mostraram
incapazes de ampliar seu universo de refe­
rências quanto ao padrão escrito brasileiro.
E nisso há um grande paradoxo, já que seus
próprios textos constituem, hoje, uma das
principais fontes desse mesmo padrão".
NORMA-PADRÃO E
A DIVERS!DADE LINGUÍSTICA
Por visar à sistematização da língua, a
norma-padrão considera tudo o que é di­
ferente dela como errado. Esse traço está
presente desde a origem da gramática,
na Antiguidade (vide box ':4. Origem da
Gramática"): a padronização da língua com
o intuito de preservá-la das mudanças.A es­
colha de qual seria a "melhor" e "mais corre­
ta" forma de usar a língua recaiu sobre a lín­
gua escrita. O linguista Marcos Bagno, autor
e organizador de várias obras que tratam do
tema, assinala que a norma-padrão foi esta­
belecida sob dois equívocos: primeiro, a su­
pervalorização da escrita em detrimento da
fala, a qual representa o uso real da língua;
segundo, a visão das mudanças linguísticas
como deterioramento e corrupção da língua,
em vez de simples mudanças.
O processo de padronização teve o efei­
to de aproximar e confundir, no imaginá­
rio dos falantes, os conceitos de padrão e
OPINIÃ.Escritores portugueses
Marcos Bagno vê
na repulsa da elite
brasileira pelo modo
de falar português uma
continuação no tempo
desse espírito colonialista,
"que se recusa atribuir
qualquer valor ao que
é autóctone, sempre
visto como primitivo e
incivilizado".
MEMGfRIA
Osgrandes jornais
O primeiro manual de
redação da imprensa
brasileira surgiu em 1951,
elaborado por Roberto
Pompeu de Souza para
o Diário Carioca, para
acompanhar o processo
de modernização do
jornal calcado no estilo
dos grandes jornais
americanos. Em 1953,
Carlos Lacerda, também
inspirado na imprensa
norte-americana, elaborou
um manual para seu
Tribuna da Imprensa,
impresso num folheto e
distribuído aos redatores.
No Oc:id_ente, a
n QPrr. c _1�)8rl r-"" ,-,-� .._ _J_J_ _ :::J, ]:-J J.lJ. 0fv'
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canônica.
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O PROJOO NURC
Com o intuito de descrever os usos reais da norma culta do país, em 1969
foi criado o Projeto NURC (Norma Urbana Culta), que contribuiu em muito
para um maior esclarecimento do uso real da língua. O projeto foi baseado
na ideia de Juan Lope Blanch, professor da Universidade Nacional Autônoma
do México, que propôs a organização de um grande projeto coletivo a fim de
descrever a norma culta no espanhol falado.
O projeto foi realizado em cinco cidades brasileiras: Recife, Salvador, Rio de
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. As localidades foram escolhidas seguindo
os critérios do Projeto: apenas cidades com mais de cem anos de fundação
e mais de um milhão de habitantes. Em 1985, durante a XIII Reunião
Nacional do Projeto NURC, decidiu-se que as cidades intercambiariam 18
entrevistas de seu acervo com as demais. Esse acervo constituiu-se o que se
convencionou chamar corpus compartilhado.
A metodologia do NURC se baseia na análise de gravações feitas em três
etapas: uma entrevista com um informante e um documentador, outra com
um informante e dois documentadores (ambas as conversas sobre um
tema proposto) e uma alocução formal. Nessa terceira etapa, gravou-se
uma situação mais formal, por exemplo, uma palestra. Em seguida essas
gravações foram analisadas, a fim de se estabelecerem as regras do uso real
da língua nesses contextos, por pessoas familiarizadas com a escrita.
DE ACORDO COM A DESCRIÇÃO DE MARCOS BAGNO, ,
OS OBJETIVOS DE TAL PROJETO SÃO:
.
1 Dispor de material sistematicamente levantado que possibilite o estudo
•da modalidade oral culta da língua portuguesa em seus aspectos
fonético, fonológico, morfossintático, sintático, lexical e estílístico;
2 Ajustar o ensino da língua portuguesa, em todos os seus graus, a uma
•realidade linguística concreta, evitando a imposição indiscriminada
de uma só norma histórico-literária, por meio de um tratamento menos
prescritivo e mais ajustado às diferenças linguísticas e culturais do país;
3 Superar o empirismo na aprendizagem e no ensino da língua-padrão
•pelo estabelecimento de uma norma culta real;
4 Basear o ensino em princípios metodológicos apoiados em dados
•linguísticos cientificamente estabelecidos;
5 Conhecer as normas tradicionais que estão vivas e quais as superadas,
•a fim de não sobrecarregar o ensino com fatos linguísticos inoperantes;
6 Corrigir distorções no esquema tradicional da educação, entravado por
•uma orientação acadêmica e beletrista.
56 I ConhecimentoPrático I LÍNGUA PORTUGUESA
da própria língua. A norma-padrão é a re­
ferência pela qual os falantes identificam a
língua, atribuindo a ela um falso caráter
homogêneo. Isso acarreta no tratamento da
variação&. e da mudança linguísticas
como desvios, erros, "não-língua".
Faraco reflete sobre a questão: "A mu­
dança lingüística é certamente um dos pon­
tos mais complicados a ser enfrentado em
qualquer debate sobre a língua, em especial
sobre a norma-padrão, porque o sentimel­
to geral dos falantes é de que a língua (iden­
tificada, em certo imaginário social, com o
padrão) é estática; e, desse modo, eles ten­
dem a confundir a mudança com uma idéia
de decadência, degeneração, desintegração
da língua".
NORMA CULTA E
NORMAS I?OPULARES
Da mesma forma que a
norma-padrão se confunde
com a língua em si, os termos
norma-padrão e norma culta fre­
quentemente são usados, de modo er­
rôneo, como sinônimos. Há uma distân­
cia entre aquilo que os falantes de fato usam
da língua e aquilo que está nos compêndios
gramaticais. A norma culta, no entanto,
inegavelmente está mais próxima do padrão
do que as demais normas, uma vez que, nas
palavras de Faraco, "os codificadores e os
que assumem o papel de seus guardiães e
cultores saem dos extratos sociais usuários
da norma culta". Ao mesmo tempo
em que esse fator aproxima
as duas normas, tam-
bém se configura
1
. ..··�· ..
·J•.,•
como um motivo de tensão. O movimento
histórico da norma culta tende a criar um
abismo entre ela e o padrão, que absorve
as mudanças linguísticas lentamente e, por
consequência, se configura cada vez mais
artificial e anacrônico.
Não existe uma separação estanque en­
tre a norma-padrão, a norma culta e as nor­
mas populares. O que existe é uma espiral
em que a distância em relação à norma-pa­
drão é maior: as norma�se interpenetram
no contínuo dialetal� . Ou seja, as for­
mas variantes dos falantes mais escolariza­
dos em contextos comuns de conversação
estão, assim como as normas populares,
consideravelmente distantes da norma­
padrão idealizada. A grande diferença está
na maneira como são encarados os desvios
em relação à norma-padrão nos diferentes
____..
-�- grupos de falantes.
REFERÊNCIÁ
Variação
O linguista Carlos
Travaglia separa as
variações linguísticas em
dois grupos: variações
dialetais, referentes
às diferenças de uso
ocasionadas pelas
diferentes características
de seus falantes (grau
de escolaridade, classe
social, naturalidade); e
variações de registro, que
são as diferenças de uso
ocasionadas pelo grau
de formalidade usada
no uso da língua e que
dependem das condições
de produção e do contexto
em que a situação
acontece.
r--.,
C' NCEITO
Contínuo dialeb!l
Em Linguística, o termo
contínuo dialetal designa
o conjunto de dialetos
falados ao longo de uma
área geográfica extensa,
com pequenas diferenças
nas zonas geograficamente
próximas, e que
perdem gradualmente a
inteligibilidade mútua à
medida que as distâncias
se tornam maiores.
Por 'lise,r à
sistematizaçãc) da
língua, a norrna-paclroo
considera tudo o qt."Le
é diferente deJt:L con1o
errado.
I
)
I
!
:I
UMA QUESTÃO TERMINOLÓGICA
VARIEDADES
PRESTIGIADAS
VARIEDADES
ESTIGMATIZADAS
Para evitar a contaminação de sentido a partir do senso comum do termo
"norma culta", Marcos Bagno propõe, em "A Norma Oculta", designar as
variedades linguísticas dos falantes com alta escolaridade e vivência urbana
usando a palavra prestígio em seu sentido sociológico, já que "o que está
realmente em jogo não é a língua, propriamente dita, mas sim o prestígio
social dos falantes". Assim, ele sugere o uso de variedades de prestígio
ou variedades prestigiadas para a chamada "norma culta" e variedades
estigmatizadas para a "norma popular", no intuito de impedir a identificação
de popular com inculto ou errado.
Fonte: "A Norma Oculta - Língua & Poder na Sociedade", Marcos Bagno, editora Parábola.
Darnesma
forrna que a
norrna-padrão
se confun.de ·
con1 a lillgua ern
si, os termos
norrna-padrão
e norma culta
frequentemente
são usados, de
modo errôneo,
como sinônimos.
Os desvios dos falantes considerados for­
madores da norma culta - moradores de
zonas urbanas, com escolaridade superior
completa e alto grau de letramento - são
geralmente despercebidos, ignorados ou re­
levados, enquanto os erros dos falantes das
normas populares são condenados como
ignorância ou falta de cultura. É como se
existissem "erros mais errados" ··-:,_ do
que outros. Isso porque há uma relação entre
o prestígio social do falante e a aceitação de
suas variações linguísticas: falantes da nor­
ma culta identificam menos erros na fala das
pessoas da sua mesma origem social e, quan­
do o fazem, geralmente as ocorrências são
encaradas como meros lapsos, ao contrário
do que acontece com os desvios identifica­
dos com asnormas populares.
MITOS DA NORMA-PADRÃO
Alguns mitos circundam o imaginá­
rio comum. Um dos maiores é o estigma
de intocável que envolve a norma-padrão,
vista como atemporal, desconectada da
história e absolutamente estanque. Nada
disso é verdade: a norma-padrão é fruto da
realização dos falantes, tem uma história
própria e opera a partir de uma fonte, não
é um produto do acaso. Outro desatino é
a visão de uma norma-padrão homogênea,
sem variação, que opera de acordo com
uma lógica própria. Na realidade, a nor­
ma-padrão tem no seu interior os fatos de
variação, ou porque varia de acordo com
a recomendação das gramáticas ou porque
mesmo a gramática aceita mais de uma
forma de determinadas ocorrências.
r ...
1 •,J:;
' .
Grande parte da generalização desses
nceitos está ligada à falta de reflexão e
odução de conhecimento sobre a gramá­
·a normativa.
A substituição da literatura pelos jor­
is como referência do uso normativo e a
;seminação dos manuais de redação que
�nas repetem formas consagradas fazem
1companhamento dos processos de mu-
1Ça da língua ocorrer em um ritmo ab­
utamente lento e, como resultado, o pa­
to hoje tende a ser mais rígido do que no
:sado. Com a ausência de estudiosos re­
indo e produzindo conhecimento so bre
o assunto para "atualizar" a norma-padrão,
a distância entre ela e as outras normas cada
vez aumenta mais.
O ENSINO E A
NOVA NORMA-PADRÃO
A estreita relação entre a norma-padrão e
a escola, o ensino formal, torna a sala de aula
um palco fundamental para 9 reflexão sobre
a norma-padrão. A discussão passa necessa­
riamente pelo professor de português e pela
maneira como ele encara o ensino da língua.
Sírio Possentitl, no artigo "A cor da
língua e outras croniquinhas de lingüista",
destaca que o trabalho com a gramática na
escola deve, sem desprezar a gramática nor­
mativa, enfatizar a gramática internalizada
·-.· :. .
CIT.U
Sírio Possenti
"Oque o o/uno produz
reflete o que ele sabe
(gramática internalizada).
A comparação sem
preconceito das formas é
uma tarefa da gramática
descritiva. Ea explicitação
da aceitação ou rejeição
social de tais formas é
uma tarefa da gramática
normativo. As três podem
evidentemente conviver na
escola. Em especial, pode­
se ensinar o padrão sem
estigmatizar e humilhar
o usuário de formas
populares como 'nós vai'."
POR DENTR(��
"erros mais errados"
Marcos Bagno analisa
esse fenômeno no livro ·�
Norma Oculta -Língua
& Poder na sociedade
brasileira":
"Quando o 'erro'já se
tornou uma regra na
lfngua {lllada pelos
cidadãos mais letrados,
elepossa despercebido
ejá não provoca arrepios
nem dores de ouvido -
multo embora contrarie
as regras da gramática
normativo, aquelas que,
teoricamente, deveriam ser
seguidas pelas pessoas
'cultas', sobretudo quando
escrevem textos que
exigem mais 'cuidado'.
Assim, há erros mais
errados (ou mais 'crassos?
do que outros- a
escala de 'crassidade' é
inversamente proporcional
à escala do prestigio
social: quantamenos
prestigiado socialmente
é um Indivíduo, quanto
mois boixo ele estiver
na pirâmide das classes
soda/s, mais erros (e erros
mais crassos) os membros
dos classes privilegiadas
encontnlm na lfrrgua dele...
., eiinfiei:;niento Prátlco I LíNGUA PORTUGUESA I 59
. . �:.-.. ,, : . -.',�)·: .
.
. .:
I
l
• Ungua e linguagem em
questão
Org.: MariaT. G. Pereira
Editora: UERJ
Páginas: 336
Ano: 1997
• Unguagem e escola
Autora: Magda Soares
Editora: Atica
Páginas: 95
Ano:1992
• Ungüistica da norma
Org.: Marcos Bagno
Editora: Loyola
Páginas: 360
Ano:2002
• Metodologia e prática de
ensino da língua portuguesa
Autores: Maria Helena Santos Araújo,
Maria Teonila de Faria Alvim, Luiz
Carlos Travaglia
Editora: Edufu
Páginas: 234
Ano:2007
• Por que não ensinar
gramática na escola
Autor: Sírio Possenti
Editora: Mercado
de Letras
Páginas: 96
Ano:1996
• A cor da língua
Autor: Sírio Possenti
Editora: Mercado
de Letras
Páginas: 168
Ano:2001
• Nonna lingüística
Org.: Marcos Bagno
Editora: Loyola
Páginas: 299
Ano:2001
:" .
AS MUDANÇAS liNGUÍSnW
As alterações na língua começam pela fala. Os textos escritos em geral refletem as
mudanças da fala em descompasso, que se torna ainda maior quando se trata da
absorção pela gramática.
O processo de mudança linguística ocorre quando duas ou mais formas variantes entram
em disputa e uma delas cai em desuso: prtmeiro há a variação histórica; depois, a mudança
linguística em si. A forma preexistente ao processo de variação é chamada de "forma
conservadora"; a forma da variação, de "forma inovadora". Mesmo as mudanças linguísticas
mais profundas são lentas e graduais, o que, por um lado, significa que, em algum nível,
a língua está sempre mudando; por outro lado, a língua é a mesma, porque sua unidade
permanece inalterada.
O britânico James Milroy, ao discutir o tema da padronização linguística - especialmente o
fato de que ela não ser universal- afirma que o pensamento linguístico está contaminado por
uma ideologia da língua-padrão, ou seja, uma perspectiva que confunde a língua com seu
padrão, usando como exemplo as línguas europeias de amplo uso. Milroy lembra que muitos
dos métodos e teorias em Linguística são elaborados tendo essas línguas em sua norma-padrão
como referência e considera que essa ideologia inevitavelmente interfere na Linguística e na
análise das línguas em geral.
do estudante e a gramática descritiva. Ou
seja, a escola deve dar "prioridade absoluta
para a leitura, para a escrita, a narrativa oral,
o debate e todas as formas de interpretação
(resumo, paráfrase etc.)". É nessa perspec­
tiva que devem ser incluídas as variedades
linguísticas, retratando a língua por outras
modalidades além da padrão. "É no momen­
to em que o aluno começa a reconhecer sua
variedade linguística como uma varieda­
de entre outras que ele ganha consciência
de sua identidade linguística e se dispõe à
observação das variedades que não domi­
na". O caminho indicado por Possenti para
a capacitação do aluno na norma-padrão
é a leitura frequente, que deve conduzir à
produção independente e crítica, com uma
consciência ampla da língua.
Nesse mesmo sentido, ao analisar as pers­
pectivas sociais da relação entre escola e lin­
guagem, Magda Soares, no livro "Linguagem
e Escola", aponta que as escolas atualmente
trabalham com uma atitude prescritiva dian­
te das diferenças de linguagem entre classes
sociais e relaciona a crise no ensino de por­
tuguês à distância entre a linguagem dos in­
divíduos de diferentes camadas sociais. Para
Soares, é imprescindível que a escola saiba
lidar com as diferentes normas sem qualquer
tipo de discriminação e atue visando à instru­
mentalização do aluno.
O fato de nem as classes que dominam
a escrita conseguirem refletir a norma­
padrão evidencia a necessidade de uma re­
forma que promova a incorporação de usos
linguísticos já consagrados pelo uso tanto
na fala quanto na escrita. da maioria dos
falantes. Exemplos não faltam: mesóclise,
regências variáveis de certos verbos que já
são corriqueiras na norma culta (como as­
sistir, aspirar, obedecer usados como verbos
transitivos diretos), a concordância verbal
variável em orações com verbo à esquerda
do sujeito, entre outros. Quem sabe assim
se acabe com o estigma de que "brasileiro
não sabe o português". é
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MELO, Iran Ferreira de. As contribuições da linguística para o ensino de língua portuguesa. Revista conhecimento prático língua portuguesa. n. 19, p. 52 60.

  • 1.
  • 2.
  • 3. JlJ emissão e recepção - como havia pensado Jakobson -, constitui uma atividade que demanda exercídos de cum­ plicidade cognitiva na medi­ da em que os participantes efetuam estratégias comuni­ cacionais para se compreen­ derem. Essa perspectiva am­ pliou a abordagem do ensino de Hngua na década seguin­ te, pois i_nseriu o estudo da oraUdade na sala de aula.t,.. A partir desse momento, a escrita não era mais a única modalidade observada e analisada para se estudar a língua. Os anos 1980 e 1990 foram responsá­ veis pela guinada no estudo da fala e da escrita; os livros didáticos, nessas décadas, passam a dar uma visão complementar entre as duas modalidades, abandonan­ do a antiga visão de escrita como representação da fala. SE QUISER CONHECER MELHORA HISTÓRIA DAS TEORIAS MESTRAS DA UNGUISTICA, SUGERIMOS A LEITURA DAS OBRAS: No entanto, nesse ínte­ rim, veio difundindo-se a Linguistica Textual, ala de estudos que defendia o texto comounidadede análise een­ sino dalíngua,sendode maior infiuência na Alemanha dos anos 1960 e 1970, mas estabe­ lecida no Brasil somente em 1983 a partir da publicação do livro "Linguística de texto: o que é e como se faz': escrito por Luiz Antônio Marcuschi. O deslocamento da base de estudos lingufsticos foi o maior legado da Linguística Textual: a mudança de olhar sobre a língua, que antes era vista pelo viés da palavra e da frase, passa a reconhecer no texto seu elemento básico de estudo. CUrso de Plltlufslica Geral Ferdinand A LINOUISTICA E O 8N81NO DA LfNOUA Ainda nos anos 1970, sur­ ge a perspectiva contrastiva, quando os linguistas passam a enfatizar a comparação lexical entre línguas, com o objetivo de descrevê-las. Nota-se que, nesseinterstício, o estudo linguístico recaiu novamente sobre a palavra - e o ensino também. Eis aí o apogeu, na sala de aula, da ,��·��)"'lU; Morfossintaxe, em detrimen­ to da produção e leitura de textos. Isso explica a recorrênda, nessa época, em estudar a clas­ sificação de estruturas morfológicas e sintag­ máticas {o que causa resquícios até hoje). A análise da língua, nesse período, se dava sobre a perspectiva do erro e acerto da estrutura. O conceito de erro era visto como um desvio, e não como algo integrante no processo de construção das competências com a língua. Diante dessa viagem his­ tórica em várias décadas do século XX. percebemos um pouco como a Linguística marcou profundamente o ensino de Hngua por meio de suas abordagens teóricas. Hoje as diversas orientações vigentes sobre o estudo lin­ guístico levam o aluno a produzir textos como urna forma de se fazer entender. Percebemos a linguagem como uma atividade de na­ tureza sócio-cognitiva, his­ tórica e situacionalmente desenvolvida para promover a interaçãó humana. Dessa forma, as atividades de es­ crita, leitura e análise lin­ guística em sala de aula devem corresponder a essa assertiva. Infelizmente, muitos profes­ sores ainda lidam com o texto atribuindo-lhe apenas o valor de instrumento avaliativo, sem expor qualquer significado na sua produção e/ ou leitura. Esse, sem dúvida, é o prindpal mo­ tivo da falta de interesse dos alunos pelo méto­ do mecanicista e nonsense em que o texto (ou a redação) é tratado na prática docente. � WIWamLabov William labov é um dos maiores responsáveis por • teorias importantes ligada ao estudo da oralidade e da variação linguística. Marcos Bagno detalha na apresentação da edição brasileira de "Padrões SoclolingUfsticos": "'lmfNIC(D dotmbolbodt LobovSDbte os esiJJdosd! ünguageméamplamente tea�nheddo. Multo embonloseu conceito de'sockll'venhasendo aitlcodo (ecom nailo)po esb.rdlososfiUadDso outn conerrtBteórlms-come oon611511do discurso, o sodologkl do Unguagem, onflopologio UngUfstim, ' sodollngDfsticolntemciot etx:. -. éinegávelque osocloUngüfstlco wrladonistu tem{omed� suporteempfrlcopomo combomõsconstruções kteo��queseop6klt nos dlfetetlfllSlingOfstim comoptet21ciDpomsuas. polflimsdediscriminoçãt deexdusõosoclol... /'"' . c·e NCEITO Ungua comoAção A teoria desenvolvida pc )ohn Austin (1911-1970 reconheceu na !inguage· o seu papel criativo e acionai, em detrimento ' ideia vigente, na época, lfngua como representa< da realidade e do pensamento. REFERÊNCJ41). Oralidade na sala de a< Confira reportagem na edição 15 sobre a importância da oralidad no ensino de lingua portuguesa. Conhecimento Prático I ÚNGUA PORTUGUESA I :
  • 4. O ABISMO DO PADRÃO A DISTÂNCIA EXISTENTE ENTRE A LÍNGUA DOS FALANTES E A LÍNGUA DOS COMPÊNDIOS GRAMATICAIS INCITA A DISCUSSÃO SOBRE A NORMA-PADRÃO E O ENSINO DA GRAMÁTICA NAS ESCOLAS II por Tatiana Napoli
  • 5. CURIOSf(ÔOrigem da gra.J.tica O primeiro gramático conhecido da história é Dionísio da Trácia, que realizou a primeira descrição explícita da língua grega. Agramática de Dionísio, Téchné grammatikéz, apresentava tópicos como valor fonético das letras (os antigos não conseguiram diferenciar sons de letras), . desenvolvimento da morfologia, classes de palavras: nomes, verbos, particípio, conjunção, preposição, artigo, pronome, advérbios. PORDENT�' Erro clássico John Lyons analisa que da gramática tradicional como proposta pelos filólogos alexandrinos derivam dois equívocos fatais: a separação rígida entre a língua escrita e a falada e a forma de encarar a mudança das línguas, que os antigos acreditavam ser uma "corrupção", "decadência", conceito que permanece até hoje. CIT.U Formas variantes Como discorre Carlos Alberto Faraco no artigo Norma-Padrão Brasileira, publicado no livro "lingüística da Norma": "Os grupos sociais se distinguem pelasformas de lfngua que lhes são de uso comum. Esse uso comum caracteriza o que se chama de a norma lingDística de determinado grupo. (._) Osenso de pertencimento Inclui o · uso da forma de {olor caracterfstica dos prdtlcos e expectatl!lfls lingOfsticas do grupo. Nesse sentido, a norma, qualquer que seja, não pode ser compreendida apenas como um conjunto de formas 1/ngOistlcas; ela é também (e prfnclpolmente) um agregado de valores socloculturais articulados com aquelasformas." · -,; _ .'.. ; (OMO NAS(EIAM AS GUMÁTICAS Na Antiguidade, a cidade de Alexandria era um grande centro cultural e detinha um grande acervo em grego clássico. Como o idioma havia sido modificado pela dominação do povo grego e pela invasão dos povos bárbaros, com o tempo passou a ser necessário criar notas explicativas, chamadas de glosas filológicas, para garantir o entendimento dos textos. Essas glosas são a origem da gramáticai•. que, portanto, já surgiu como instrumento normativo, privilegiando a língua escrita ,' e com base na literatura clássica. É com a gramática, também, que nasce a preocupação com a forma da linguagem (o "certo" e o "errado"). A filosofia e a gramática, então, uniram seus conceitos, e a correção de pensamento passou a estar ligada à correção da forma. Esses conceitos chegaram até nós pelos romanos, que, no processo de expansão, assimilaram o conceito de gramática dos gregos e aplicaram-no ao latim, com a normatização da língua. O processo de fonnalização do latim levou à divisão entre "latim clássico" e "latim vulgar" (ou popular). Durante o Renascimento (séculos XIV a XVI) ocorreu a criação das gramáticas das línguas vemáculas. Com o tempo, o latim deixou de ser a língua única do conhecimento. Em português, a primeira gramática, de Fernão de Oliveira, é de 1536. Em 1540, surgiu a gramática de João de Barros. As gramáticas das formas vernáculas tomaram como base o modelo greco-latino e ocorreu a perpetuação do "erro clássico C� " da tradição gramatical apontado pelo linguista inglês John Lyons, de a gramática já ter nascido com caráter normativo, o que foi incorporado nessas novas descrições. DEFINIÇÕES O termo norma, em si, pode ser usado em mais de um contexto, tanto no sentido de regras e padrões quanto para designar o conjunto de formas variantes�} carac­ terístico de um determinado grupo, como em "a norma adolescente". A norma culta, em uma definição sim­ ples, é a norma de língua usada pelos falan­ tes mais escolarizados da língua. O caráter pernóstico do adjetivo "culto" pode render pressupostos equivocados, como a oposição a uma norma "inculta", totalmente despro­ vida de cultura. Tal presunção se reflete em comentários como "fulano não sabe falar português" ou "fulano é ignorante em por­ tuguês", sem considerar que, mesmo entre os falantes mais escolarizados, a língua varia no eixo do estilo em relação aos contextos e aos níveis de formalidade, ficando cada vez mais afastada da gramática normativa. Existe, ainda, um conhecimento que circula e não está necessariamente na lín­ gua, mas, sim, nos compêndios formais da língua. Essa é a norma-padrão, postulada pelas gramáticas, que tem como objetivo a padronização. Carlos Alberto Faraco define que a nor­ ma culta diz respeito à variedade utilizada pelas pessoas que têm mais proximidade com a modalidade escrita e, portanto, pos­ suem uma fala mais próxima das regras de tal modalidade. Já a norma-padrão, na in­ terpretação de Faraco, relaciona-se às práti­ cas socioculturais que constituem a cultura letrada num todo, ou seja, toda e qualquer atividade que tem o processo histórico do escrever como pano de fundo. A CONSTRUÇÃO DA NORMA-PADRÃO No Ocidente, a norma-padrão se esta­ beleceu por meio de um processo iniciado quando dialetos de prestígio ganharam for­ ma escrita e continuado por meio da cons­ tituição da literatura canônica, base para a codificação da língua com o surgimento da gramática. A literatura é, portanto, sustenta­ ção empírica da norma-padrão. No Brasil, o estabelecimento da norma­ padrão se deu no século XIX, com o intuito de, na definição de Faraco, "neutralizar a va­ riação e controlar a mudança", numa tenta­ tiva de unificar a língua e torná-la unitária e homogênea. Para tanto, foi estabelecido que a norma seria criada a partir de textos de escritores portugueses<IJ, numa tentativa de ditar o idioma correto para uso dos brasileiros. 54 I Conhecimento Prático I ÚNGUA PORTUGUESA
  • 6. Essa relação posteriormente gerou uma crise de valores entre literatura e gramática. Para a padronização da língua, o gramático "higieniza" o texto literário e passa a enxergá­ lo como exemplo de correção gramatical. A simbiose correusem conttatemposaté o início do século XX. Com o Modernismo, a literatu­ ra rompeu com a tradição e se recusoua man­ ter o papel de paradigma. A principal base de referência passou a ser, então, a imprensa, especialmente os grandes jornaisQ", que adotaram manuais de redação para fi­ xar o padrão de linguagem de seus textos. Tal inversão acabou por aprofundar a di­ ferença entre a norma-padrão e a realidade da língua, já que, na explicação de Carlos Alberto Faraco, "os jornais nada mais fize­ ram do que transcrever acriticamente o que está estipulado nos velhos compêndios de gramática, que são, reconhecidamente, ar­ tificiais em excesso quanto ao padrão que preconizam (...). Os jornais se mostraram incapazes de ampliar seu universo de refe­ rências quanto ao padrão escrito brasileiro. E nisso há um grande paradoxo, já que seus próprios textos constituem, hoje, uma das principais fontes desse mesmo padrão". NORMA-PADRÃO E A DIVERS!DADE LINGUÍSTICA Por visar à sistematização da língua, a norma-padrão considera tudo o que é di­ ferente dela como errado. Esse traço está presente desde a origem da gramática, na Antiguidade (vide box ':4. Origem da Gramática"): a padronização da língua com o intuito de preservá-la das mudanças.A es­ colha de qual seria a "melhor" e "mais corre­ ta" forma de usar a língua recaiu sobre a lín­ gua escrita. O linguista Marcos Bagno, autor e organizador de várias obras que tratam do tema, assinala que a norma-padrão foi esta­ belecida sob dois equívocos: primeiro, a su­ pervalorização da escrita em detrimento da fala, a qual representa o uso real da língua; segundo, a visão das mudanças linguísticas como deterioramento e corrupção da língua, em vez de simples mudanças. O processo de padronização teve o efei­ to de aproximar e confundir, no imaginá­ rio dos falantes, os conceitos de padrão e OPINIÃ.Escritores portugueses Marcos Bagno vê na repulsa da elite brasileira pelo modo de falar português uma continuação no tempo desse espírito colonialista, "que se recusa atribuir qualquer valor ao que é autóctone, sempre visto como primitivo e incivilizado". MEMGfRIA Osgrandes jornais O primeiro manual de redação da imprensa brasileira surgiu em 1951, elaborado por Roberto Pompeu de Souza para o Diário Carioca, para acompanhar o processo de modernização do jornal calcado no estilo dos grandes jornais americanos. Em 1953, Carlos Lacerda, também inspirado na imprensa norte-americana, elaborou um manual para seu Tribuna da Imprensa, impresso num folheto e distribuído aos redatores. No Oc:id_ente, a n QPrr. c _1�)8rl r-"" ,-,-� .._ _J_J_ _ :::J, ]:-J J.lJ. 0fv' estalx3leceu se por lTeio de 1._�nl processo íniciC?.J::lo quando dialetos de prr::-,c:;t.í .cN_o'--' ,J,_ v.co . gan.ha::arn fonTta ascrita e contt1UélJJo por n1sio da constitlúção da hteratUTC?.v canônica. I i I ' f l �r :I
  • 7. O PROJOO NURC Com o intuito de descrever os usos reais da norma culta do país, em 1969 foi criado o Projeto NURC (Norma Urbana Culta), que contribuiu em muito para um maior esclarecimento do uso real da língua. O projeto foi baseado na ideia de Juan Lope Blanch, professor da Universidade Nacional Autônoma do México, que propôs a organização de um grande projeto coletivo a fim de descrever a norma culta no espanhol falado. O projeto foi realizado em cinco cidades brasileiras: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. As localidades foram escolhidas seguindo os critérios do Projeto: apenas cidades com mais de cem anos de fundação e mais de um milhão de habitantes. Em 1985, durante a XIII Reunião Nacional do Projeto NURC, decidiu-se que as cidades intercambiariam 18 entrevistas de seu acervo com as demais. Esse acervo constituiu-se o que se convencionou chamar corpus compartilhado. A metodologia do NURC se baseia na análise de gravações feitas em três etapas: uma entrevista com um informante e um documentador, outra com um informante e dois documentadores (ambas as conversas sobre um tema proposto) e uma alocução formal. Nessa terceira etapa, gravou-se uma situação mais formal, por exemplo, uma palestra. Em seguida essas gravações foram analisadas, a fim de se estabelecerem as regras do uso real da língua nesses contextos, por pessoas familiarizadas com a escrita. DE ACORDO COM A DESCRIÇÃO DE MARCOS BAGNO, , OS OBJETIVOS DE TAL PROJETO SÃO: . 1 Dispor de material sistematicamente levantado que possibilite o estudo •da modalidade oral culta da língua portuguesa em seus aspectos fonético, fonológico, morfossintático, sintático, lexical e estílístico; 2 Ajustar o ensino da língua portuguesa, em todos os seus graus, a uma •realidade linguística concreta, evitando a imposição indiscriminada de uma só norma histórico-literária, por meio de um tratamento menos prescritivo e mais ajustado às diferenças linguísticas e culturais do país; 3 Superar o empirismo na aprendizagem e no ensino da língua-padrão •pelo estabelecimento de uma norma culta real; 4 Basear o ensino em princípios metodológicos apoiados em dados •linguísticos cientificamente estabelecidos; 5 Conhecer as normas tradicionais que estão vivas e quais as superadas, •a fim de não sobrecarregar o ensino com fatos linguísticos inoperantes; 6 Corrigir distorções no esquema tradicional da educação, entravado por •uma orientação acadêmica e beletrista. 56 I ConhecimentoPrático I LÍNGUA PORTUGUESA da própria língua. A norma-padrão é a re­ ferência pela qual os falantes identificam a língua, atribuindo a ela um falso caráter homogêneo. Isso acarreta no tratamento da variação&. e da mudança linguísticas como desvios, erros, "não-língua". Faraco reflete sobre a questão: "A mu­ dança lingüística é certamente um dos pon­ tos mais complicados a ser enfrentado em qualquer debate sobre a língua, em especial sobre a norma-padrão, porque o sentimel­ to geral dos falantes é de que a língua (iden­ tificada, em certo imaginário social, com o padrão) é estática; e, desse modo, eles ten­ dem a confundir a mudança com uma idéia de decadência, degeneração, desintegração da língua". NORMA CULTA E NORMAS I?OPULARES Da mesma forma que a norma-padrão se confunde com a língua em si, os termos norma-padrão e norma culta fre­ quentemente são usados, de modo er­ rôneo, como sinônimos. Há uma distân­ cia entre aquilo que os falantes de fato usam da língua e aquilo que está nos compêndios gramaticais. A norma culta, no entanto, inegavelmente está mais próxima do padrão do que as demais normas, uma vez que, nas palavras de Faraco, "os codificadores e os que assumem o papel de seus guardiães e cultores saem dos extratos sociais usuários da norma culta". Ao mesmo tempo em que esse fator aproxima as duas normas, tam- bém se configura 1 . ..··�· .. ·J•.,•
  • 8. como um motivo de tensão. O movimento histórico da norma culta tende a criar um abismo entre ela e o padrão, que absorve as mudanças linguísticas lentamente e, por consequência, se configura cada vez mais artificial e anacrônico. Não existe uma separação estanque en­ tre a norma-padrão, a norma culta e as nor­ mas populares. O que existe é uma espiral em que a distância em relação à norma-pa­ drão é maior: as norma�se interpenetram no contínuo dialetal� . Ou seja, as for­ mas variantes dos falantes mais escolariza­ dos em contextos comuns de conversação estão, assim como as normas populares, consideravelmente distantes da norma­ padrão idealizada. A grande diferença está na maneira como são encarados os desvios em relação à norma-padrão nos diferentes ____.. -�- grupos de falantes. REFERÊNCIÁ Variação O linguista Carlos Travaglia separa as variações linguísticas em dois grupos: variações dialetais, referentes às diferenças de uso ocasionadas pelas diferentes características de seus falantes (grau de escolaridade, classe social, naturalidade); e variações de registro, que são as diferenças de uso ocasionadas pelo grau de formalidade usada no uso da língua e que dependem das condições de produção e do contexto em que a situação acontece. r--., C' NCEITO Contínuo dialeb!l Em Linguística, o termo contínuo dialetal designa o conjunto de dialetos falados ao longo de uma área geográfica extensa, com pequenas diferenças nas zonas geograficamente próximas, e que perdem gradualmente a inteligibilidade mútua à medida que as distâncias se tornam maiores. Por 'lise,r à sistematizaçãc) da língua, a norrna-paclroo considera tudo o qt."Le é diferente deJt:L con1o errado. I ) I ! :I
  • 9. UMA QUESTÃO TERMINOLÓGICA VARIEDADES PRESTIGIADAS VARIEDADES ESTIGMATIZADAS Para evitar a contaminação de sentido a partir do senso comum do termo "norma culta", Marcos Bagno propõe, em "A Norma Oculta", designar as variedades linguísticas dos falantes com alta escolaridade e vivência urbana usando a palavra prestígio em seu sentido sociológico, já que "o que está realmente em jogo não é a língua, propriamente dita, mas sim o prestígio social dos falantes". Assim, ele sugere o uso de variedades de prestígio ou variedades prestigiadas para a chamada "norma culta" e variedades estigmatizadas para a "norma popular", no intuito de impedir a identificação de popular com inculto ou errado. Fonte: "A Norma Oculta - Língua & Poder na Sociedade", Marcos Bagno, editora Parábola. Darnesma forrna que a norrna-padrão se confun.de · con1 a lillgua ern si, os termos norrna-padrão e norma culta frequentemente são usados, de modo errôneo, como sinônimos. Os desvios dos falantes considerados for­ madores da norma culta - moradores de zonas urbanas, com escolaridade superior completa e alto grau de letramento - são geralmente despercebidos, ignorados ou re­ levados, enquanto os erros dos falantes das normas populares são condenados como ignorância ou falta de cultura. É como se existissem "erros mais errados" ··-:,_ do que outros. Isso porque há uma relação entre o prestígio social do falante e a aceitação de suas variações linguísticas: falantes da nor­ ma culta identificam menos erros na fala das pessoas da sua mesma origem social e, quan­ do o fazem, geralmente as ocorrências são encaradas como meros lapsos, ao contrário do que acontece com os desvios identifica­ dos com asnormas populares. MITOS DA NORMA-PADRÃO Alguns mitos circundam o imaginá­ rio comum. Um dos maiores é o estigma de intocável que envolve a norma-padrão, vista como atemporal, desconectada da história e absolutamente estanque. Nada disso é verdade: a norma-padrão é fruto da realização dos falantes, tem uma história própria e opera a partir de uma fonte, não é um produto do acaso. Outro desatino é a visão de uma norma-padrão homogênea, sem variação, que opera de acordo com uma lógica própria. Na realidade, a nor­ ma-padrão tem no seu interior os fatos de variação, ou porque varia de acordo com a recomendação das gramáticas ou porque mesmo a gramática aceita mais de uma forma de determinadas ocorrências. r ... 1 •,J:; ' .
  • 10. Grande parte da generalização desses nceitos está ligada à falta de reflexão e odução de conhecimento sobre a gramá­ ·a normativa. A substituição da literatura pelos jor­ is como referência do uso normativo e a ;seminação dos manuais de redação que �nas repetem formas consagradas fazem 1companhamento dos processos de mu- 1Ça da língua ocorrer em um ritmo ab­ utamente lento e, como resultado, o pa­ to hoje tende a ser mais rígido do que no :sado. Com a ausência de estudiosos re­ indo e produzindo conhecimento so bre o assunto para "atualizar" a norma-padrão, a distância entre ela e as outras normas cada vez aumenta mais. O ENSINO E A NOVA NORMA-PADRÃO A estreita relação entre a norma-padrão e a escola, o ensino formal, torna a sala de aula um palco fundamental para 9 reflexão sobre a norma-padrão. A discussão passa necessa­ riamente pelo professor de português e pela maneira como ele encara o ensino da língua. Sírio Possentitl, no artigo "A cor da língua e outras croniquinhas de lingüista", destaca que o trabalho com a gramática na escola deve, sem desprezar a gramática nor­ mativa, enfatizar a gramática internalizada ·-.· :. . CIT.U Sírio Possenti "Oque o o/uno produz reflete o que ele sabe (gramática internalizada). A comparação sem preconceito das formas é uma tarefa da gramática descritiva. Ea explicitação da aceitação ou rejeição social de tais formas é uma tarefa da gramática normativo. As três podem evidentemente conviver na escola. Em especial, pode­ se ensinar o padrão sem estigmatizar e humilhar o usuário de formas populares como 'nós vai'." POR DENTR(�� "erros mais errados" Marcos Bagno analisa esse fenômeno no livro ·� Norma Oculta -Língua & Poder na sociedade brasileira": "Quando o 'erro'já se tornou uma regra na lfngua {lllada pelos cidadãos mais letrados, elepossa despercebido ejá não provoca arrepios nem dores de ouvido - multo embora contrarie as regras da gramática normativo, aquelas que, teoricamente, deveriam ser seguidas pelas pessoas 'cultas', sobretudo quando escrevem textos que exigem mais 'cuidado'. Assim, há erros mais errados (ou mais 'crassos? do que outros- a escala de 'crassidade' é inversamente proporcional à escala do prestigio social: quantamenos prestigiado socialmente é um Indivíduo, quanto mois boixo ele estiver na pirâmide das classes soda/s, mais erros (e erros mais crassos) os membros dos classes privilegiadas encontnlm na lfrrgua dele... ., eiinfiei:;niento Prátlco I LíNGUA PORTUGUESA I 59 . . �:.-.. ,, : . -.',�)·: . . . .: I l
  • 11. • Ungua e linguagem em questão Org.: MariaT. G. Pereira Editora: UERJ Páginas: 336 Ano: 1997 • Unguagem e escola Autora: Magda Soares Editora: Atica Páginas: 95 Ano:1992 • Ungüistica da norma Org.: Marcos Bagno Editora: Loyola Páginas: 360 Ano:2002 • Metodologia e prática de ensino da língua portuguesa Autores: Maria Helena Santos Araújo, Maria Teonila de Faria Alvim, Luiz Carlos Travaglia Editora: Edufu Páginas: 234 Ano:2007 • Por que não ensinar gramática na escola Autor: Sírio Possenti Editora: Mercado de Letras Páginas: 96 Ano:1996 • A cor da língua Autor: Sírio Possenti Editora: Mercado de Letras Páginas: 168 Ano:2001 • Nonna lingüística Org.: Marcos Bagno Editora: Loyola Páginas: 299 Ano:2001 :" . AS MUDANÇAS liNGUÍSnW As alterações na língua começam pela fala. Os textos escritos em geral refletem as mudanças da fala em descompasso, que se torna ainda maior quando se trata da absorção pela gramática. O processo de mudança linguística ocorre quando duas ou mais formas variantes entram em disputa e uma delas cai em desuso: prtmeiro há a variação histórica; depois, a mudança linguística em si. A forma preexistente ao processo de variação é chamada de "forma conservadora"; a forma da variação, de "forma inovadora". Mesmo as mudanças linguísticas mais profundas são lentas e graduais, o que, por um lado, significa que, em algum nível, a língua está sempre mudando; por outro lado, a língua é a mesma, porque sua unidade permanece inalterada. O britânico James Milroy, ao discutir o tema da padronização linguística - especialmente o fato de que ela não ser universal- afirma que o pensamento linguístico está contaminado por uma ideologia da língua-padrão, ou seja, uma perspectiva que confunde a língua com seu padrão, usando como exemplo as línguas europeias de amplo uso. Milroy lembra que muitos dos métodos e teorias em Linguística são elaborados tendo essas línguas em sua norma-padrão como referência e considera que essa ideologia inevitavelmente interfere na Linguística e na análise das línguas em geral. do estudante e a gramática descritiva. Ou seja, a escola deve dar "prioridade absoluta para a leitura, para a escrita, a narrativa oral, o debate e todas as formas de interpretação (resumo, paráfrase etc.)". É nessa perspec­ tiva que devem ser incluídas as variedades linguísticas, retratando a língua por outras modalidades além da padrão. "É no momen­ to em que o aluno começa a reconhecer sua variedade linguística como uma varieda­ de entre outras que ele ganha consciência de sua identidade linguística e se dispõe à observação das variedades que não domi­ na". O caminho indicado por Possenti para a capacitação do aluno na norma-padrão é a leitura frequente, que deve conduzir à produção independente e crítica, com uma consciência ampla da língua. Nesse mesmo sentido, ao analisar as pers­ pectivas sociais da relação entre escola e lin­ guagem, Magda Soares, no livro "Linguagem e Escola", aponta que as escolas atualmente trabalham com uma atitude prescritiva dian­ te das diferenças de linguagem entre classes sociais e relaciona a crise no ensino de por­ tuguês à distância entre a linguagem dos in­ divíduos de diferentes camadas sociais. Para Soares, é imprescindível que a escola saiba lidar com as diferentes normas sem qualquer tipo de discriminação e atue visando à instru­ mentalização do aluno. O fato de nem as classes que dominam a escrita conseguirem refletir a norma­ padrão evidencia a necessidade de uma re­ forma que promova a incorporação de usos linguísticos já consagrados pelo uso tanto na fala quanto na escrita. da maioria dos falantes. Exemplos não faltam: mesóclise, regências variáveis de certos verbos que já são corriqueiras na norma culta (como as­ sistir, aspirar, obedecer usados como verbos transitivos diretos), a concordância verbal variável em orações com verbo à esquerda do sujeito, entre outros. Quem sabe assim se acabe com o estigma de que "brasileiro não sabe o português". é :.. ·. . . �-�. I j;,...·c,., , �. t;·.