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209
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001
ARTIGO ARTICLE
Viroses emergentes e reemergentes
Emerging and reemerging viral diseases
1 Departamento de Virologia,
Instituto Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Brasil 4365.
Rio de Janeiro, RJ
21040-360, Brasil.
hermann@ioc.fiocruz.br
Hermann G. Schatzmayr 1
Abstract Recent decades have witnessed previously unknown viruses like HIV, along with other
previously controlled viruses like dengue. The most important mechanisms have been the emer-
gence of new viral strains by genetic alterations, the breakdown of species barriers by viruses,
and viral spread from ecological niches. The main factors facilitating such mechanisms have
been demographic pressure, with the expansion of the agricultural frontier, social behavior pat-
terns, intensive air traffic, transporting both vectors and infected humans, importation of ani-
mals carrying the viruses, large-scale ecological alterations like dam- and road-building, and
the widespread transformation of health systems, with a reduction in resources and infrastruc-
ture for disease control activities. Discussions on an international scale have recommended in-
vestments in the areas of Epidemiological Surveillance, Research Applied to Public Health, an
emphasis on disease prevention and vector control measures, and infrastructure improvements in
the health sector at the local, State, and federal level to reduce the impact of these viral diseases.
Key words Virus Diseases; Virus; Epidemiological Surveillance; Prevention and Control; Public
Health
Resumo Nas últimas décadas, viroses antes desconhecidas, como o HIV, e o ressurgimento de
outras que haviam sido controladas, como o dengue, têm sido observadas. Os mecanismos mais
importantes envolvidos são o surgimento de novas amostras virais por modificações genéticas, a
transposição da barreira de espécie por um vírus e a disseminação viral a partir de um nicho
ecológico. Os principais fatores que facilitam estes mecanismos são a pressão demográfica – com
a expansão da área agrícola –, os padrões de comportamento social, o intenso tráfego aéreo –
que transporta vetores e pessoas infectadas –, a importação de animais – o que carreia vírus –
modificações ecológicas de grande porte – como a construção de barragens e estradas – e a reco-
nhecida transformação dos sistemas de saúde no mundo, com redução dos recursos e da infra-
estrutura para ações de controle de doenças. Discussões em âmbito internacional recomendam
investimentos nas áreas de Vigilância Epidemiológica, Pesquisa aplicada à Saúde Pública, ênfa-
se em ações de prevenção de doenças e controle de vetores, além de melhor infra-estrutura do se-
tor saúde, em níveis local, estadual e federal para reduzir o impacto destas doenças virais.
Palavras-chave Viroses; Vírus; Vigilância Epidemiológica; Prevenção e Controle; Saúde Pública
SCHATZMAYR, H. G.210
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001
Introdução
Nos últimos anos têm sido reveladas várias in-
fecções humanas até então desconhecidas, da
mesma forma que tem ocorrido a reemergência
de outras que haviam sido controladas ao lon-
go dos anos (Garrett, 1994; Schatzmayr, 1997).
A maioria dessas infecções é de origem vi-
ral, bastando que nos lembremos da AIDS, co-
mo marcante exemplo de doença emergente, e
do dengue, como doença reemergente, para que
se avalie a gravidade de semelhantes infecções.
O problema das viroses emergentes e ree-
mergentes é complexo, porém pode-se reco-
nhecer que, em sua maioria, essas viroses são
desencadeadas por atividades humanas que
modificam o meio ambiente, em especial, pela
pressão demográfica (Wilson et al., 1994). A ne-
cessidade de vetores para a transmissão de vá-
rias das viroses emergentes e reemergentes in-
troduz fatores ecológicos de importância na dis-
cussão que se efetiva nos países de clima tropi-
cal. Mecanismos de mutação e recombinação
genéticas – em particular, dos vírus RNA – são
conhecidos de longa data como forma de gera-
ção de novos padrões genômicos.
Por sua vez, reconhece-se, em âmbito mun-
dial, uma visível decadência dos sistemas de
saúde, fruto da elevada demanda e dos custos
crescentes da assistência médica, que vem a ab-
sorver grande parte dos recursos antes destina-
dos às áreas de prevenção e controle de agravos.
Origem das viroses emergentes
e reermergentes
Segundo Morse (1993), existem três mecanis-
mos de surgimento dessas infecções, os quais
podem eventualmente estar associados:
1) surgimento de vírus desconhecido pela
evolução de nova variante viral;
2) introdução, no hospedeiro, de um vírus
existente em outra espécie (transposição da
barreira de espécie);
3) disseminação de determinado vírus a
partir de uma pequena população humana ou
animal, na qual este vírus surgiu ou em que foi
originalmente introduzido.
Reconhece-se que diversos vírus – em espe-
cial, do grupo RNA – apresentam taxas de mu-
tação elevadas, como no caso da influenza, ví-
rus que possui genoma segmentado e é capaz
de atingir número significativo de hospedeiros
animais. Por estes mecanismos surgem, me-
diante seleção natural, amostras de maior viru-
lência a partir de grande número de padrões
genômicos circulantes.
A possibilidade de alcançar qualquer ponto
da Terra por transporte aéreo em poucas horas,
tem proporcionado o deslocamento de vetores
de um continente a outro, bem como o contato
direto do homem com áreas remotas, onde
existe a possibilidade de haver agentes até en-
tão desconhecidos. Igualmente, a importação
de animais pode trazer novos agentes de doen-
ça ao contato do homem.
Exemplo desse mecanismo ocorreu com o
até então desconhecido grupo dos filovírus, os
quais foram introduzidos na Alemanha através
de macacos importados de Uganda, causando
a morte de oito dentre as 31 pessoas que se in-
fectaram pelo contato com os tecidos dos ani-
mais usados em pesquisas. Do mesmo grupo, o
vírus Ebola causou surtos extensos no Zaire e
Sudão em 1976, com cerca de 600 pessoas en-
volvidas e percentagens de 88% de letalidade,
ressurgindo no Zaire em 1995, igualmente com
taxa de letalidade em torno de 77%. A entrada
de pessoas em nichos ecológicos até então iso-
lados é aceita como a origem dos primeiros ca-
sos estudados na epidemia de 1995, no Zaire.
A disseminação do Aedes aegypti e da febre
amarela em nosso País teve lugar através dos na-
vios que atracavam em portos brasileiros, origi-
nando diversas epidemias, tendo sido a primei-
ra delas reportada no século XVI, em Recife. Pe-
lo mesmo mecanismo e, talvez, ainda pelo trans-
porte aéreo, o Aedes albopictus espalhou-se do
Sudeste Asiático para todo o mundo tropical nos
últimos anos, tendo sido reconhecido no Brasil,
em 1987, nas proximidades do Rio de Janeiro.
Pelos dados disponíveis, o vírus HIV ter-se-
ia originado de regiões centrais africanas a par-
tir de amostras de vírus que, circulando entre
primatas, foram capazes de passar a barreira
de espécie e atingir o homem.
A expansão da agricultura a áreas novas, as-
sim como as práticas de colheita e beneficia-
mento de produtos, provoca a entrada em ni-
chos ecológicos onde novos agentes podem ser
encontrados, do mesmo modo que a atração de
roedores silvestres e de outros animais, que se
aproximam do homem em busca de alimento.
Neste último caso, temos, como exemplos, os
vírus Junin e Machupo, agentes de febres he-
morrágicas na Argentina e Bolívia, transmiti-
das ao homem pela urina de roedores silvestres.
A febre amarela, essencialmente doença de
primatas, porém com capacidade de alcançar
o homem que penetre em áreas endêmicas sem
proteção vacinal, alcançou a média anual de 18
casos nos últimos 15 anos. No ano passado, po-
rém surgiu uma epizootia em primatas, que le-
vou a substancial aumento de casos humanos
em que se detectou febre amarela silvestre.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001
Com a entrada de Ae. aegypti nas áreas en-
dêmicas de febre amarela, nas regiões Centro-
Oeste e Norte, o risco de surgimento de infec-
ções urbanas passou a ser uma realidade a ser
enfrentada. O dengue – causado por quatro ti-
pos de vírus – constitui hoje a mais importante
doença viral humana transmitida por mosqui-
tos. Foram notificados no Brasil mais de um
milhão de casos nos últimos anos, desde a epi-
demia de 1981/1982, em Roraima, e a primeira
grande epidemia de 1986, no Rio de Janeiro. A
partir de então, a doença, acompanhando a ex-
pansão do Ae. aegypti, implantou-se igualmen-
te em praticamente todo o Brasil, com a pre-
sença dos vírus tipo 1 e 2, além do risco de en-
trada dos outros dois tipos, presentes em paí-
ses limítrofes, como a Colômbia e Venezuela,
bem como no México e Caribe.
O vírus Rocio surgiu na costa do sul do Es-
tado de São Paulo (Vale da Ribeira) em 1975/
1976 e causou epidemia de encefalite por cerca
de dois anos. O vírus circulou provavelmente
entre pássaros e mosquitos – em particular Ae-
des scapularis e Psorophora ferox. Ocorreram
cerca de mil casos, com seqüelas motoras nos
pacientes e taxa de letalidade de aproximada-
mente 10%, mas não foram descritos casos hu-
manos desde então.
A hepatite C vem crescendo de importância
em todo o mundo. O vírus da hepatite C infec-
ta por mecanismos semelhantes ao vírus B, po-
rém ainda existem cerca de 20% dos casos não
esclarecidos do ponto de vista de seu mecanis-
mo de transmissão. Não se espera o desenvol-
vimento de vacina para futuro previsível, em
razão da variabilidade do vírus e da falta de
métodos para seu cultivo em laboratório. Esta
virose deve ser considerada uma doença emer-
gente por sua expansão e gravidade, com ten-
dência à cronicidade e a quadros terminais de
cirrose e carcinoma hepático.
O gênero Hantavírus – nome derivado de
um rio da Coréia – inclui vírus reconhecidos ini-
cialmente naquele país e, posteriormente, em
extensas áreas da Ásia e Europa. O vírus Han-
taan causou infecções em soldados america-
nos durante a Guerra da Coréia, mas só foi iso-
lado em 1976. Tais agentes são infectantes atra-
vés da urina de ratos infectados, sendo o Apo-
demus agrarius o seu principal vetor na Coréia.
No início da década de 80 foi isolado o ví-
rus Seoul, pertencente ao mesmo grupo dos
Hantavírus, porém circulando em roedores ur-
banos (Rattus rattus e Rattus norvergicus), o que
acrescentou nova dimensão ao problema. Em
1993, foi reconhecida, na América do Norte,
uma entidade clínica com sintomas respirató-
rios graves, com taxa de mortalidade em torno
VIROSES EMERGENTES E REEMERGENTES 211
de 50% dos casos hospitalizados. Vírus do gêne-
ro Hantavírus foram isolados desses casos e as-
sociados a roedores silvestres – em particular,
o Peromyscus maniculatus. No Brasil, em 1993,
foram descritos casos fatais no Centro-Oeste,
Sudeste e Sul do país, ao passo que um vírus de-
nominado Juquitiba foi isolado no Vale da Ribei-
ra, com clara associação com roedores. Como os
casos descritos nos Estados Unidos, observou-
se quadro de insuficiência respiratória aguda.
O vírus Oropouche, isolado na Ilha de Tri-
nidad, em 1957, vem sendo responsável, desde
1960, por milhares de casos na região amazô-
nica. Modificações ecológicas proporcionaram
grande proliferação do Culicoides paraensis,
principal vetor conhecido da doença para o ho-
mem. A infecção caracteriza-se por cefaléia, fe-
bre, dores musculares e, eventualmente, me-
ningite, porém não se registraram casos fatais.
O vírus Sabiá foi isolado de uma paciente
hospitalizada – que foi a óbito – no primeiro
caso humano conhecido da doença, originário
dos arredores da Grande São Paulo, em locali-
dade de mesmo nome. O quadro apresentado
foi de febre hemorrágica grave, causada por ví-
rus identificado como pertencente à família
Bunyaviridae. Esse vírus possui um risco po-
tencial importante como doença emergente,
que naturalmente ocorreu junto a densos nú-
cleos urbanos.
Descoberto na Argentina em 1957, o vírus
Junin causa quadro de febre hemorrágica, sen-
do transmitido por aerossóis contaminados com
urina de roedores. A doença surgiu quando au-
mentou a produção de grãos na região, assim
como de outros vegetais que serviam de ali-
mento a ratos silvestres. Com a proliferação des-
tes últimos, do gênero Calomys, que se apre-
sentavam naturalmente infectados, surgiram
casos humanos da doença. Uma vacina – hoje
utilizada na região – resultou em rápida queda
do número de casos humanos.
Identificou-se o papel de outra espécie de
Calomys como portador do vírus, transmitin-
do-o através da urina, como no caso do Junin.
Foi possível identificar incremento do cultivo
de milho na região e a conseqüente modifica-
ção do hábitat natural dos roedores, que pas-
saram a ter estreito contato com o homem.
Igualmente no início da década de 50, o ví-
rus Machupo surgiu na Bolívia, próximo à fron-
teira com o Brasil, gerando quadro de febre he-
morrágica e hematêmese na fase avançada da
doença, ocorrendo taxa de letalidade de 50%
nos primeiros casos descritos.
O vírus da AIDS – sem dúvida, a mais im-
portante doença emergente do século XX – evo-
luiu aparentemente a partir de dois núcleos de
SCHATZMAYR, H. G.212
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001
dispersão: um, nos Estados Unidos e outro, na
África Central. Estudos retrospectivos com so-
ros humanos, demonstraram que o vírus HIV
deve ter entrado nos Estados Unidos por volta
da metade da década de 70. Na África, os dados
apontam para um possível caso no Zaire em
1959.
Estudos comparativos das seqüências do
gene p24 do HIV e de vários vírus isolados de
primatas africanos sugerem que o HIV origi-
nou-se de um ancestral que infectava prima-
tas. O tipo 1 de HIV aparentemente infecta o
chimpanzé em condições naturais.
Na década de 70 observou-se, no sul do Ja-
pão, uma doença linfoproliferativa caracteriza-
da como leucemia/linfoma de células T do adul-
to e, em 1980, foi isolado, nos Estados Unidos,
o primeiro retrovírus humano, denominado
HTLV-I, agente de linfomas semelhantes aos
observados no Japão.
Em 1985, demonstrou-se em pacientes do
Caribe que o mesmo vírus estava relacionado a
uma síndrome denominada paraparesia espás-
tica tropical. Outros focos geográficos foram
descobertos e comprovou-se que a doença neu-
rológica poderia ser encontrada também em
regiões não-tropicais.
Outros vírus do grupo denominado HTLV-II
foram encontrados nos Estados Unidos, mas
ainda não se comprovou, com segurança, o pa-
pel desse vírus em quadros neurológicos ou
linfoproliferativos.
Tanto o HIV como HTLV-I infectam células
T, expressando molécula CD4 na sua superfície.
Entretanto, enquanto o HIV destrói essas célu-
las, o HTLV-I estimula a sua proliferação. Anti-
corpos para o HTLV-I têm sido encontrados em
todo o mundo e, no Brasil, foram descritos em
várias regiões, chegando a alcançar níveis de
13% em hemofílicos no Rio de Janeiro, em cer-
ca de 10% dos pacientes politransfundidos e em
populações indígenas (Carvalho et al., 1997).
A paraparesia espástica tropical caracteri-
za-se pela fraqueza crônica e progressiva dos
membros inferiores, ocorrendo em menos de 1%
dos indivíduos que se infectam com o HTLV-I.
O crescente interesse por esses vírus é justifi-
cável, pelos quadros clínicos que causam, sen-
do exemplo de viroses que, a partir de reduzi-
dos núcleos humanos, vieram a se implantar
em todo o mundo.
Na Suécia, em 1958, um vírus do grupo de-
nominado Orthopoxvirus – que inclui a varíola
e a vaccínia – foi isolado de um macaco Cyno-
molgus. Infecções humanas foram reportadas
entre 1970/1986, principalmente no Zaire, on-
de foram encontrados 386 dentre os 404 casos
humanos investigados no período.
Clinicamente, a doença assemelha-se à va-
ríola, porém uma generalizada linfadenopatia
e a ausência de formas hemorrágicas permiti-
ram diagnóstico clínico diferencial. A taxa de
letalidade alcançou 10% em crianças entre 3
meses e 8 anos de idade. O vírus se transmite
com dificuldade de pessoa a pessoa, ao contrá-
rio do que ocorria com a varíola.
Em 1995, surgiu na Inglaterra uma síndro-
me de incoordenação motora em bovinos (do-
ença da vaca louca) que evolui para óbito em
curto prazo. A entidade é semelhante à doença
de Creutzfeldt-Jacob (CJD), ambas causando
encefalopatia espongiforme igualmente fatal e
irreversível. A partir de 1996, reconheceu-se a
existência de 52 casos humanos de uma nova
forma de CJD que atingia população jovem e
que foi relacionada ao consumo de carne bovi-
na contaminada. O agente é uma proteína mo-
dificada, denominada prion, a qual induz a for-
mação de novas proteínas idênticas a ela e que
causam as lesões cerebrais. A doença aparen-
temente surgiu pelo uso de carne de ovinos na
alimentação de bovinos.
A partir de agosto de 1999, casos humanos
de encefalite – causadas pelo vírus West Nile –
foram identificados pela primeira vez nas Amé-
ricas, na cidade de Nova Iorque. O vírus pode
ter sido introduzido a partir de casos humanos
ou de pássaros migratórios. Este vírus passa a
constituir novo problema de saúde pública pa-
ra nosso Continente (CDC, 1999).
Medidas propostas para o controle
global das viroses emergentes/
reemergentes
Diante do surgimento dessas viroses emergen-
tes/reemergentes, ao lado de várias outras do-
enças não-virais – como a cólera, salmonelo-
ses, infecções por Entamoeba coli 0157:H7 –,
bem como o surgimento de resistência a dro-
gas de vários agentes bacterianos, formou-se
um sentido de alerta e da necessidade de ava-
liação em âmbito internacional.
Diversos grupos levantaram os problemas
causados por essas doenças, em particular, o
CDC/Atlanta (Centers for Disease Control and
Prevention), a Organização Mundial de Saúde e
as Nações Unidas com suas estruturas afilia-
das, o Instituto Nacional de Saúde, Academias
de Ciência de vários países, Instituto Pasteur e
seus afiliados no mundo, entre inúmeras ou-
tras entidades.
Das discussões iniciais foram gerados vá-
rios documentos nos quais são indicadas as
grandes linhas de atuação, que foram resumi-
VIROSES EMERGENTES E REEMERGENTES 213
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001
das em documento do CDC/Atlanta (CDC,
1999), publicado em 1992:
Objetivo I: Vigilância – Descobrir, investigar
rapidamente e acompanhar patógenos emer-
gentes, as doenças que causam e os fatores en-
volvidos no surgimento do quadro.
Objetivo II: Pesquisa Aplicada – Integrar os
laboratórios e a epidemiologia para apoio à
saúde pública.
Objetivo III: Prevenção e Controle – Estimu-
lar a comunicação e a circulação de informa-
ções sobre as doenças emergentes e assegurar
a implementação de estratégias de prevenção.
Objetivo IV: Infra-estrutura – Fortificar a in-
fra-estrutura de saúde pública em níveis local,
estadual e federal, para permitir o estabeleci-
mento da Vigilância (Objetivo I) e a implemen-
tação dos programas de Prevenção e Controle
(Objetivo II).
A proposta visa estabelecer sistemas ágeis
de reconhecimento de problemas, capazes de
divulgá-los em nível internacional a curto pra-
zo, assim como investigar episódios nos quais
doenças emergentes/reemergentes sejam sus-
peitadas.
Considerando a situação dos sistemas de
saúde no mundo – com visível perda de estru-
tura e recursos –, as doenças emergentes/ree-
mergentes têm significado um encargo pesa-
do para os países em desenvolvimento. No ca-
so da AIDS e do dengue, para citar dois exem-
plos, observa-se contínua expansão do núme-
ro de casos ao longo dos últimos anos, sem
haver real expectativa de mudança em futuro
próximo.
O custo assistencial de algumas dessas in-
fecções é elevado, e o nosso país carece de uni-
dades hospitalares preparadas para atender
pacientes com infecções que tragam risco para
o pessoal médico e paramédico. Igualmente,
não dispomos ainda de um único Laboratório
de Alta Segurança, que permita o isolamento e
a identificação de agentes infecciosos de alto
risco. Tais fatos nos tornam dependentes do en-
vio das amostras clínicas ao exterior para com-
provar a suspeita da presença de vários desses
agentes. A montagem imediata dessas duas es-
truturas parece-nos essencial, bem como a or-
ganização de forças-tarefas regionais compos-
tas de epidemiologistas, laboratoristas e infec-
tologistas que possam ser acionadas para in-
vestigar, com rapidez, casos suspeitos de doen-
ça agudas não definidas que apresentem po-
tencial risco para a comunidade.
Referências
CARVALHO, S. M. F.; OLIVEIRA, M. S. P. & THULER, L.
C. S., 1997. HTLV-I and HTLV-II infections in
hematologic disorders patientes, cancer patients
and healthy individuals from Rio de Janeiro,
Brazil. Journal of AIDS and Human Retrovirology,
15:238-242.
CDC (Centers for Disease Control and Prevention),
1999. Update: West-Nile viral encephalitis-New
York, 1999. MMWR, 48:890.
GARRETT, L., 1994. The Coming Plague. New York:
Farrar, Strauss & Giroux.
MORSE, S. S., 1993. Emerging Viruses. New York: Ox-
ford University Press.
SCHATZMAYR, H. G., 1997. O Brasil diante das doen-
ças emergentes e reemergentes: Realidades e per-
spectivas. In: O Livro da Profecia: Brasil no Ter-
ceiro Milênio (J. C. Marques, ed.), Coleção Senado,
v. 1, pp. 303-312, Brasília: J. Campelo Marques.
SCHATZMAYR, H. G., 2000. Dengue situation in Brazil
by year 2000. Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz, 95:179-181.
WILSON, M. E.; LEVINS, R. & SPIELMAN, A., 1994.
Disease in evolution: Global changes and emer-
gence of infectious diseases. Annals of the New
York Academy of Sciences, 70:740-747.

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  • 1. 209 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001 ARTIGO ARTICLE Viroses emergentes e reemergentes Emerging and reemerging viral diseases 1 Departamento de Virologia, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4365. Rio de Janeiro, RJ 21040-360, Brasil. hermann@ioc.fiocruz.br Hermann G. Schatzmayr 1 Abstract Recent decades have witnessed previously unknown viruses like HIV, along with other previously controlled viruses like dengue. The most important mechanisms have been the emer- gence of new viral strains by genetic alterations, the breakdown of species barriers by viruses, and viral spread from ecological niches. The main factors facilitating such mechanisms have been demographic pressure, with the expansion of the agricultural frontier, social behavior pat- terns, intensive air traffic, transporting both vectors and infected humans, importation of ani- mals carrying the viruses, large-scale ecological alterations like dam- and road-building, and the widespread transformation of health systems, with a reduction in resources and infrastruc- ture for disease control activities. Discussions on an international scale have recommended in- vestments in the areas of Epidemiological Surveillance, Research Applied to Public Health, an emphasis on disease prevention and vector control measures, and infrastructure improvements in the health sector at the local, State, and federal level to reduce the impact of these viral diseases. Key words Virus Diseases; Virus; Epidemiological Surveillance; Prevention and Control; Public Health Resumo Nas últimas décadas, viroses antes desconhecidas, como o HIV, e o ressurgimento de outras que haviam sido controladas, como o dengue, têm sido observadas. Os mecanismos mais importantes envolvidos são o surgimento de novas amostras virais por modificações genéticas, a transposição da barreira de espécie por um vírus e a disseminação viral a partir de um nicho ecológico. Os principais fatores que facilitam estes mecanismos são a pressão demográfica – com a expansão da área agrícola –, os padrões de comportamento social, o intenso tráfego aéreo – que transporta vetores e pessoas infectadas –, a importação de animais – o que carreia vírus – modificações ecológicas de grande porte – como a construção de barragens e estradas – e a reco- nhecida transformação dos sistemas de saúde no mundo, com redução dos recursos e da infra- estrutura para ações de controle de doenças. Discussões em âmbito internacional recomendam investimentos nas áreas de Vigilância Epidemiológica, Pesquisa aplicada à Saúde Pública, ênfa- se em ações de prevenção de doenças e controle de vetores, além de melhor infra-estrutura do se- tor saúde, em níveis local, estadual e federal para reduzir o impacto destas doenças virais. Palavras-chave Viroses; Vírus; Vigilância Epidemiológica; Prevenção e Controle; Saúde Pública
  • 2. SCHATZMAYR, H. G.210 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001 Introdução Nos últimos anos têm sido reveladas várias in- fecções humanas até então desconhecidas, da mesma forma que tem ocorrido a reemergência de outras que haviam sido controladas ao lon- go dos anos (Garrett, 1994; Schatzmayr, 1997). A maioria dessas infecções é de origem vi- ral, bastando que nos lembremos da AIDS, co- mo marcante exemplo de doença emergente, e do dengue, como doença reemergente, para que se avalie a gravidade de semelhantes infecções. O problema das viroses emergentes e ree- mergentes é complexo, porém pode-se reco- nhecer que, em sua maioria, essas viroses são desencadeadas por atividades humanas que modificam o meio ambiente, em especial, pela pressão demográfica (Wilson et al., 1994). A ne- cessidade de vetores para a transmissão de vá- rias das viroses emergentes e reemergentes in- troduz fatores ecológicos de importância na dis- cussão que se efetiva nos países de clima tropi- cal. Mecanismos de mutação e recombinação genéticas – em particular, dos vírus RNA – são conhecidos de longa data como forma de gera- ção de novos padrões genômicos. Por sua vez, reconhece-se, em âmbito mun- dial, uma visível decadência dos sistemas de saúde, fruto da elevada demanda e dos custos crescentes da assistência médica, que vem a ab- sorver grande parte dos recursos antes destina- dos às áreas de prevenção e controle de agravos. Origem das viroses emergentes e reermergentes Segundo Morse (1993), existem três mecanis- mos de surgimento dessas infecções, os quais podem eventualmente estar associados: 1) surgimento de vírus desconhecido pela evolução de nova variante viral; 2) introdução, no hospedeiro, de um vírus existente em outra espécie (transposição da barreira de espécie); 3) disseminação de determinado vírus a partir de uma pequena população humana ou animal, na qual este vírus surgiu ou em que foi originalmente introduzido. Reconhece-se que diversos vírus – em espe- cial, do grupo RNA – apresentam taxas de mu- tação elevadas, como no caso da influenza, ví- rus que possui genoma segmentado e é capaz de atingir número significativo de hospedeiros animais. Por estes mecanismos surgem, me- diante seleção natural, amostras de maior viru- lência a partir de grande número de padrões genômicos circulantes. A possibilidade de alcançar qualquer ponto da Terra por transporte aéreo em poucas horas, tem proporcionado o deslocamento de vetores de um continente a outro, bem como o contato direto do homem com áreas remotas, onde existe a possibilidade de haver agentes até en- tão desconhecidos. Igualmente, a importação de animais pode trazer novos agentes de doen- ça ao contato do homem. Exemplo desse mecanismo ocorreu com o até então desconhecido grupo dos filovírus, os quais foram introduzidos na Alemanha através de macacos importados de Uganda, causando a morte de oito dentre as 31 pessoas que se in- fectaram pelo contato com os tecidos dos ani- mais usados em pesquisas. Do mesmo grupo, o vírus Ebola causou surtos extensos no Zaire e Sudão em 1976, com cerca de 600 pessoas en- volvidas e percentagens de 88% de letalidade, ressurgindo no Zaire em 1995, igualmente com taxa de letalidade em torno de 77%. A entrada de pessoas em nichos ecológicos até então iso- lados é aceita como a origem dos primeiros ca- sos estudados na epidemia de 1995, no Zaire. A disseminação do Aedes aegypti e da febre amarela em nosso País teve lugar através dos na- vios que atracavam em portos brasileiros, origi- nando diversas epidemias, tendo sido a primei- ra delas reportada no século XVI, em Recife. Pe- lo mesmo mecanismo e, talvez, ainda pelo trans- porte aéreo, o Aedes albopictus espalhou-se do Sudeste Asiático para todo o mundo tropical nos últimos anos, tendo sido reconhecido no Brasil, em 1987, nas proximidades do Rio de Janeiro. Pelos dados disponíveis, o vírus HIV ter-se- ia originado de regiões centrais africanas a par- tir de amostras de vírus que, circulando entre primatas, foram capazes de passar a barreira de espécie e atingir o homem. A expansão da agricultura a áreas novas, as- sim como as práticas de colheita e beneficia- mento de produtos, provoca a entrada em ni- chos ecológicos onde novos agentes podem ser encontrados, do mesmo modo que a atração de roedores silvestres e de outros animais, que se aproximam do homem em busca de alimento. Neste último caso, temos, como exemplos, os vírus Junin e Machupo, agentes de febres he- morrágicas na Argentina e Bolívia, transmiti- das ao homem pela urina de roedores silvestres. A febre amarela, essencialmente doença de primatas, porém com capacidade de alcançar o homem que penetre em áreas endêmicas sem proteção vacinal, alcançou a média anual de 18 casos nos últimos 15 anos. No ano passado, po- rém surgiu uma epizootia em primatas, que le- vou a substancial aumento de casos humanos em que se detectou febre amarela silvestre.
  • 3. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001 Com a entrada de Ae. aegypti nas áreas en- dêmicas de febre amarela, nas regiões Centro- Oeste e Norte, o risco de surgimento de infec- ções urbanas passou a ser uma realidade a ser enfrentada. O dengue – causado por quatro ti- pos de vírus – constitui hoje a mais importante doença viral humana transmitida por mosqui- tos. Foram notificados no Brasil mais de um milhão de casos nos últimos anos, desde a epi- demia de 1981/1982, em Roraima, e a primeira grande epidemia de 1986, no Rio de Janeiro. A partir de então, a doença, acompanhando a ex- pansão do Ae. aegypti, implantou-se igualmen- te em praticamente todo o Brasil, com a pre- sença dos vírus tipo 1 e 2, além do risco de en- trada dos outros dois tipos, presentes em paí- ses limítrofes, como a Colômbia e Venezuela, bem como no México e Caribe. O vírus Rocio surgiu na costa do sul do Es- tado de São Paulo (Vale da Ribeira) em 1975/ 1976 e causou epidemia de encefalite por cerca de dois anos. O vírus circulou provavelmente entre pássaros e mosquitos – em particular Ae- des scapularis e Psorophora ferox. Ocorreram cerca de mil casos, com seqüelas motoras nos pacientes e taxa de letalidade de aproximada- mente 10%, mas não foram descritos casos hu- manos desde então. A hepatite C vem crescendo de importância em todo o mundo. O vírus da hepatite C infec- ta por mecanismos semelhantes ao vírus B, po- rém ainda existem cerca de 20% dos casos não esclarecidos do ponto de vista de seu mecanis- mo de transmissão. Não se espera o desenvol- vimento de vacina para futuro previsível, em razão da variabilidade do vírus e da falta de métodos para seu cultivo em laboratório. Esta virose deve ser considerada uma doença emer- gente por sua expansão e gravidade, com ten- dência à cronicidade e a quadros terminais de cirrose e carcinoma hepático. O gênero Hantavírus – nome derivado de um rio da Coréia – inclui vírus reconhecidos ini- cialmente naquele país e, posteriormente, em extensas áreas da Ásia e Europa. O vírus Han- taan causou infecções em soldados america- nos durante a Guerra da Coréia, mas só foi iso- lado em 1976. Tais agentes são infectantes atra- vés da urina de ratos infectados, sendo o Apo- demus agrarius o seu principal vetor na Coréia. No início da década de 80 foi isolado o ví- rus Seoul, pertencente ao mesmo grupo dos Hantavírus, porém circulando em roedores ur- banos (Rattus rattus e Rattus norvergicus), o que acrescentou nova dimensão ao problema. Em 1993, foi reconhecida, na América do Norte, uma entidade clínica com sintomas respirató- rios graves, com taxa de mortalidade em torno VIROSES EMERGENTES E REEMERGENTES 211 de 50% dos casos hospitalizados. Vírus do gêne- ro Hantavírus foram isolados desses casos e as- sociados a roedores silvestres – em particular, o Peromyscus maniculatus. No Brasil, em 1993, foram descritos casos fatais no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, ao passo que um vírus de- nominado Juquitiba foi isolado no Vale da Ribei- ra, com clara associação com roedores. Como os casos descritos nos Estados Unidos, observou- se quadro de insuficiência respiratória aguda. O vírus Oropouche, isolado na Ilha de Tri- nidad, em 1957, vem sendo responsável, desde 1960, por milhares de casos na região amazô- nica. Modificações ecológicas proporcionaram grande proliferação do Culicoides paraensis, principal vetor conhecido da doença para o ho- mem. A infecção caracteriza-se por cefaléia, fe- bre, dores musculares e, eventualmente, me- ningite, porém não se registraram casos fatais. O vírus Sabiá foi isolado de uma paciente hospitalizada – que foi a óbito – no primeiro caso humano conhecido da doença, originário dos arredores da Grande São Paulo, em locali- dade de mesmo nome. O quadro apresentado foi de febre hemorrágica grave, causada por ví- rus identificado como pertencente à família Bunyaviridae. Esse vírus possui um risco po- tencial importante como doença emergente, que naturalmente ocorreu junto a densos nú- cleos urbanos. Descoberto na Argentina em 1957, o vírus Junin causa quadro de febre hemorrágica, sen- do transmitido por aerossóis contaminados com urina de roedores. A doença surgiu quando au- mentou a produção de grãos na região, assim como de outros vegetais que serviam de ali- mento a ratos silvestres. Com a proliferação des- tes últimos, do gênero Calomys, que se apre- sentavam naturalmente infectados, surgiram casos humanos da doença. Uma vacina – hoje utilizada na região – resultou em rápida queda do número de casos humanos. Identificou-se o papel de outra espécie de Calomys como portador do vírus, transmitin- do-o através da urina, como no caso do Junin. Foi possível identificar incremento do cultivo de milho na região e a conseqüente modifica- ção do hábitat natural dos roedores, que pas- saram a ter estreito contato com o homem. Igualmente no início da década de 50, o ví- rus Machupo surgiu na Bolívia, próximo à fron- teira com o Brasil, gerando quadro de febre he- morrágica e hematêmese na fase avançada da doença, ocorrendo taxa de letalidade de 50% nos primeiros casos descritos. O vírus da AIDS – sem dúvida, a mais im- portante doença emergente do século XX – evo- luiu aparentemente a partir de dois núcleos de
  • 4. SCHATZMAYR, H. G.212 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001 dispersão: um, nos Estados Unidos e outro, na África Central. Estudos retrospectivos com so- ros humanos, demonstraram que o vírus HIV deve ter entrado nos Estados Unidos por volta da metade da década de 70. Na África, os dados apontam para um possível caso no Zaire em 1959. Estudos comparativos das seqüências do gene p24 do HIV e de vários vírus isolados de primatas africanos sugerem que o HIV origi- nou-se de um ancestral que infectava prima- tas. O tipo 1 de HIV aparentemente infecta o chimpanzé em condições naturais. Na década de 70 observou-se, no sul do Ja- pão, uma doença linfoproliferativa caracteriza- da como leucemia/linfoma de células T do adul- to e, em 1980, foi isolado, nos Estados Unidos, o primeiro retrovírus humano, denominado HTLV-I, agente de linfomas semelhantes aos observados no Japão. Em 1985, demonstrou-se em pacientes do Caribe que o mesmo vírus estava relacionado a uma síndrome denominada paraparesia espás- tica tropical. Outros focos geográficos foram descobertos e comprovou-se que a doença neu- rológica poderia ser encontrada também em regiões não-tropicais. Outros vírus do grupo denominado HTLV-II foram encontrados nos Estados Unidos, mas ainda não se comprovou, com segurança, o pa- pel desse vírus em quadros neurológicos ou linfoproliferativos. Tanto o HIV como HTLV-I infectam células T, expressando molécula CD4 na sua superfície. Entretanto, enquanto o HIV destrói essas célu- las, o HTLV-I estimula a sua proliferação. Anti- corpos para o HTLV-I têm sido encontrados em todo o mundo e, no Brasil, foram descritos em várias regiões, chegando a alcançar níveis de 13% em hemofílicos no Rio de Janeiro, em cer- ca de 10% dos pacientes politransfundidos e em populações indígenas (Carvalho et al., 1997). A paraparesia espástica tropical caracteri- za-se pela fraqueza crônica e progressiva dos membros inferiores, ocorrendo em menos de 1% dos indivíduos que se infectam com o HTLV-I. O crescente interesse por esses vírus é justifi- cável, pelos quadros clínicos que causam, sen- do exemplo de viroses que, a partir de reduzi- dos núcleos humanos, vieram a se implantar em todo o mundo. Na Suécia, em 1958, um vírus do grupo de- nominado Orthopoxvirus – que inclui a varíola e a vaccínia – foi isolado de um macaco Cyno- molgus. Infecções humanas foram reportadas entre 1970/1986, principalmente no Zaire, on- de foram encontrados 386 dentre os 404 casos humanos investigados no período. Clinicamente, a doença assemelha-se à va- ríola, porém uma generalizada linfadenopatia e a ausência de formas hemorrágicas permiti- ram diagnóstico clínico diferencial. A taxa de letalidade alcançou 10% em crianças entre 3 meses e 8 anos de idade. O vírus se transmite com dificuldade de pessoa a pessoa, ao contrá- rio do que ocorria com a varíola. Em 1995, surgiu na Inglaterra uma síndro- me de incoordenação motora em bovinos (do- ença da vaca louca) que evolui para óbito em curto prazo. A entidade é semelhante à doença de Creutzfeldt-Jacob (CJD), ambas causando encefalopatia espongiforme igualmente fatal e irreversível. A partir de 1996, reconheceu-se a existência de 52 casos humanos de uma nova forma de CJD que atingia população jovem e que foi relacionada ao consumo de carne bovi- na contaminada. O agente é uma proteína mo- dificada, denominada prion, a qual induz a for- mação de novas proteínas idênticas a ela e que causam as lesões cerebrais. A doença aparen- temente surgiu pelo uso de carne de ovinos na alimentação de bovinos. A partir de agosto de 1999, casos humanos de encefalite – causadas pelo vírus West Nile – foram identificados pela primeira vez nas Amé- ricas, na cidade de Nova Iorque. O vírus pode ter sido introduzido a partir de casos humanos ou de pássaros migratórios. Este vírus passa a constituir novo problema de saúde pública pa- ra nosso Continente (CDC, 1999). Medidas propostas para o controle global das viroses emergentes/ reemergentes Diante do surgimento dessas viroses emergen- tes/reemergentes, ao lado de várias outras do- enças não-virais – como a cólera, salmonelo- ses, infecções por Entamoeba coli 0157:H7 –, bem como o surgimento de resistência a dro- gas de vários agentes bacterianos, formou-se um sentido de alerta e da necessidade de ava- liação em âmbito internacional. Diversos grupos levantaram os problemas causados por essas doenças, em particular, o CDC/Atlanta (Centers for Disease Control and Prevention), a Organização Mundial de Saúde e as Nações Unidas com suas estruturas afilia- das, o Instituto Nacional de Saúde, Academias de Ciência de vários países, Instituto Pasteur e seus afiliados no mundo, entre inúmeras ou- tras entidades. Das discussões iniciais foram gerados vá- rios documentos nos quais são indicadas as grandes linhas de atuação, que foram resumi-
  • 5. VIROSES EMERGENTES E REEMERGENTES 213 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):209-213, 2001 das em documento do CDC/Atlanta (CDC, 1999), publicado em 1992: Objetivo I: Vigilância – Descobrir, investigar rapidamente e acompanhar patógenos emer- gentes, as doenças que causam e os fatores en- volvidos no surgimento do quadro. Objetivo II: Pesquisa Aplicada – Integrar os laboratórios e a epidemiologia para apoio à saúde pública. Objetivo III: Prevenção e Controle – Estimu- lar a comunicação e a circulação de informa- ções sobre as doenças emergentes e assegurar a implementação de estratégias de prevenção. Objetivo IV: Infra-estrutura – Fortificar a in- fra-estrutura de saúde pública em níveis local, estadual e federal, para permitir o estabeleci- mento da Vigilância (Objetivo I) e a implemen- tação dos programas de Prevenção e Controle (Objetivo II). A proposta visa estabelecer sistemas ágeis de reconhecimento de problemas, capazes de divulgá-los em nível internacional a curto pra- zo, assim como investigar episódios nos quais doenças emergentes/reemergentes sejam sus- peitadas. Considerando a situação dos sistemas de saúde no mundo – com visível perda de estru- tura e recursos –, as doenças emergentes/ree- mergentes têm significado um encargo pesa- do para os países em desenvolvimento. No ca- so da AIDS e do dengue, para citar dois exem- plos, observa-se contínua expansão do núme- ro de casos ao longo dos últimos anos, sem haver real expectativa de mudança em futuro próximo. O custo assistencial de algumas dessas in- fecções é elevado, e o nosso país carece de uni- dades hospitalares preparadas para atender pacientes com infecções que tragam risco para o pessoal médico e paramédico. Igualmente, não dispomos ainda de um único Laboratório de Alta Segurança, que permita o isolamento e a identificação de agentes infecciosos de alto risco. Tais fatos nos tornam dependentes do en- vio das amostras clínicas ao exterior para com- provar a suspeita da presença de vários desses agentes. A montagem imediata dessas duas es- truturas parece-nos essencial, bem como a or- ganização de forças-tarefas regionais compos- tas de epidemiologistas, laboratoristas e infec- tologistas que possam ser acionadas para in- vestigar, com rapidez, casos suspeitos de doen- ça agudas não definidas que apresentem po- tencial risco para a comunidade. Referências CARVALHO, S. M. F.; OLIVEIRA, M. S. P. & THULER, L. C. S., 1997. HTLV-I and HTLV-II infections in hematologic disorders patientes, cancer patients and healthy individuals from Rio de Janeiro, Brazil. Journal of AIDS and Human Retrovirology, 15:238-242. CDC (Centers for Disease Control and Prevention), 1999. Update: West-Nile viral encephalitis-New York, 1999. MMWR, 48:890. GARRETT, L., 1994. The Coming Plague. New York: Farrar, Strauss & Giroux. MORSE, S. S., 1993. Emerging Viruses. New York: Ox- ford University Press. SCHATZMAYR, H. G., 1997. O Brasil diante das doen- ças emergentes e reemergentes: Realidades e per- spectivas. In: O Livro da Profecia: Brasil no Ter- ceiro Milênio (J. C. Marques, ed.), Coleção Senado, v. 1, pp. 303-312, Brasília: J. Campelo Marques. SCHATZMAYR, H. G., 2000. Dengue situation in Brazil by year 2000. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 95:179-181. WILSON, M. E.; LEVINS, R. & SPIELMAN, A., 1994. Disease in evolution: Global changes and emer- gence of infectious diseases. Annals of the New York Academy of Sciences, 70:740-747.