O documento discute exames de sangue para avaliação da função tireoidiana, incluindo os níveis dos hormônios TSH, T3 e T4. Ele explica como esses exames podem ser usados para diagnosticar hipotireoidismo e hipertireoidismo, além de outras condições como tiroidite.
1. Exames de sangue para avaliação da tireóide
A tireóide é uma glândula que produz hormônios fundamentais para o metabolismo normal do
organismo. Existem alguns exames de sangue que medem os níveis desses hormônios,
identificando se a produção hormonal é normal, maior ou menor que os valores esperados.
O que são hormônios tireoideanos?
São hormônios produzidos pela tireóide, uma glândula localizada na região inferior do pescoço.
A glândula envolve a traquéia e tem um formato semelhante a uma borboleta – sendo
constituída por 2 lobos unidos pelo istmo. A tireóide produz hormônios a partir do iodo (obtido
principalmente, de em alimentos como frutos do mar, pães e sal).
Os hormônios mais importantes são a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), que constituem
99,9% e 0,1% dos hormônios tireoideanos liberados na circulação, respectivamente.
Entretanto, o hormônio com maior atividade biológica é o T3.
Após a liberação hormonal para a circulação, uma grande quantidade de T4 é convertida em
T3 – o hormônio com maior efeito sobre o metabolismo celular.
Regulação hormonal
A tireóide é controlada pela hipófise, que, por sua vez, é regulada pela tireóide
(“retroalimentação” dos hormônios tireoideanos sobre a hipófise) e pelo hipotálamo.
O hipotálamo produz o hormônio liberador de tireotropina (ou TRH), que promove a liberação
do hormônio estimulador da tireóide (TSH) pela hipófise. Este promove a liberação dos
hormônios tireoideanos. Alterações em qualquer um desses níveis podem provocar uma
deficiência dos hormônios tireoideanos (hipotireoidismo). A produção dos hormônios
tireoideanos é regulada pela hipófise. Quando há níveis reduzidos de hormônios tireoideanos
na circulação, a hipófise libera o TSH para estimular a produção desses hormônios.
>> Hipotálamo – TRH >> Hipófise- TSH >> Tireóide- T4 e T3
Por outro lado, quando ocorrem concentrações elevadas, os níveis de TSH diminuem com o
objetivo de reduzir a produção de hormônios tireoideanos. Nos pacientes com hipotireoidismo,
observa-se uma deficiência de hormônios tireoideanos. Naqueles com hipertireoidismo,
observam-se níveis elevados desses hormônios.
Como é feito o diagnóstico de hipotireoidismo?
Deve-se suspeitar de hipotireoidismo em pacientes com queixa de fadiga, intolerância ao frio,
constipação e extremidades frias. Para confirmar o diagnóstico, é necessário solicitar um
exame de sangue.
Em pacientes com hipotireoidismo, observam-se níveis reduzidos de hormônios tireoideanos
(T3 e T4). Nos estágios iniciais, entretanto, esses valores podem ser normais. Portanto, o
principal exame para o diagnóstico de hipotireoidismo é a dosagem de TSH. Conforme descrito
anteriormente, o TSH é secretado pela hipófise. Quando ocorre uma diminuição dos níveis de
hormônios tireoideanos presentes na circulação, a hipófise libera uma maior quantidade de
TSH para estimular a produção desses hormônios. Essa elevação dos níveis de TSH pode ser
identificada alguns meses ou anos antes da redução nos níveis de T3 e T4 . Entretanto, uma
exceção deve ser lembrada.
Se a deficiência de hormônios tireoideanos for provocada por alterações hipofisárias ou
hipotalâmicas (condições conhecidas por hipotireoidismo secundário ou terciário), os níveis de
TSH serão reduzidos. Um exame diferente, conhecido como teste do TRH, pode ajudar a
2. diferenciar doenças causadas por alterações hipofisárias daquelas causadas por alterações
hipotalâmicas. Esse exame, realizado por especialistas, requer a administração intravenosa.
Como é feito o diagnóstico de hipertireoidismo?
Deve-se suspeitar de hipertireoidismo em pacientes com tremores, sudorese excessiva,
cabelos finos, taquicardia (elevação da freqüência cardíaca) e aumento de volume da tireóide.
Também pode ocorrer exoftalmia (condição na qual os olhos parecem saltar, devido à elevação
das pálpebras superiores). Em estágios avançados, a doença é facilmente diagnosticada. No
início, entretanto, principalmente em pacientes de idade avançada, o diagnóstico pode ser
difícil.
Em todos os casos, é necessário realizar um exame de sangue para confirmar o diagnóstico.
Em pacientes com hipertireoidismo, observam-se níveis elevados dos hormônios tireoideanos.
No entanto, a dosagem de TSH é o principal exame para o diagnóstico.
Quando ocorre uma elevação dos níveis de hormônios tireoideanos presentes na circulação, a
hipófise libera uma menor quantidade de TSH (fenômeno chamado down-regulation, em inglês)
para inibir a produção desses hormônios.
No hipertireodismo, portanto, ocorrem níveis reduzidos ou indetectáveis de TSH. Entretanto,
existe uma exceção. Em casos nos quais os níveis elevados de hormônios tireoideanos são
produzidos por um tumor hipofisário secretor de TSH (condição pouco comum, denominada
hipertireoidismo secundário), observam-se níveis elevados de TSH.
Existem outros exames para a avaliação da tireóide?
Os exames mencionados acima podem confirmar a deficiência ou a produção aumentada de
hormônios tireoideanos e, portanto, são utilizados para o diagnóstico de hipotireoidismo ou
hipertireoidismo. Entretanto, eles não apontam uma causa específica.
Para identificá-la, o médico deve levar em consideração a história clínica, o exame físico e, em
alguns casos, outros exames complementares, como a pesquisa de anticorpos anti-
tireoideanos, exames de medicina nuclear, ultra-sonografia de tireóide, dentre outros.
Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) – o que é?
O melhor método para confirmar ou descartar o diagnóstico de câncer é a biópsia de tireóide.
Durante muitos anos, o procedimento de escolha foi a core biópsia, um método que consiste na
retirada de um fragmento da glândula através de cirurgia. Atualmente, a PAAF é considerada o
método de escolha para a obtenção de pequenas amostras de tecido tireoideano. Trata-se de
um procedimento simples que, quando realizado de forma adequada, apresenta um índice de
falsos negativos menor que 5% (ou seja, em menos de 5 casos, entre 100 pacientes com
alterações, a doença não será diagnosticada).
A PAAF deve ser realizada em todos os nódulos tireoideanos?
Em alguns casos, o médico pode preferir não realizar a biópsia de um nódulo tireodeano. Em
pacientes com hipertireoidismo, por exemplo, a chance de um nódulo representar câncer é
significativamente menor, principalmente quando outros estudos (como a cintilografia) mostram
que o nódulo produz hormônios (nódulo “quente”). O médico pode solicitar a PAAF para:
diagnosticar um nódulo tireoideano;
ajudar a estabelecer o tratamento de um nódulo tireoideano;
drenar um cisto que causa sintomas;
administrar uma medicação para evitar o reaparecimento de um cisto recorrente.
3. Suspeita de hipertiroidismo
Quais exames solicitar: TSH e T4 livre. Se o TSH estiver abaixo do limite inferior da
normalidade (0,3 mUI/L) ou suprimido (inferior a 0,03 mUI/L), com níveis de T4 livre acima de
0,45 ng/dL, o diagnóstico é confirmado.; Se o TSH estiver abaixo do limite da normalidade, com
T4 livre dentro do normal, deve-se avaliar a possibilidade de hipertiroidismo subclínico.Se o
TSH e o T4 livre estiverem normais, fica afastada a possibilidade de hipertiroidismo.
Exames Complementares:
- Dosagem de T3 livre pode ser mais discriminativa que a de T4 livre em pacientes em uso de
tiroxina;
- Dosagens de TSH e de T4 livre podem estar baixas em casos de hipertiroidismo induzido pelo
uso de T3 ou derivados;
- Pesquisa de anticorpos anti-peroxidase tiroidiana (anti-TPO) e anti-tiroglobulina podem ser
úteis na definição de doença auto-imune tiroidiana, assim como a pesquisa de anticorpos anti-
receptor de TSH é patognomônica de doenças de Graves;
- Nos raríssimos casos de tumor hipofisário produtor de TSH, os níveis de T4 livre e de TSH
estão concomitantemente elevados.
Suspeita de hipotiroidismo
Quais exames solicitar: inicialmente uma dosagem de TSH é suficiente. Se o TSH estiver
significantemente elevado (acima de 20,0 mUI/L), o diagnóstico é comprovado. A dosagem de
T4 livre pode ser útil para avaliar o grau de comprometimento metabólico. Se o TSH estiver
acima do normal mas pouco elevado (entre 5,0 e 20,0 mUI/L), solicitar T4 livre. Se esses estão
abaixo do normal, o diagnóstico é comprovado; se dentro da faixa da normalidade, deve-se
avaliar a possibilidade de hipotiroidismo suclínico. Se o TSH estiver normal, o hipotiroidismo é
afastado, com exceção dos pacientes com suspeita de lesão hipotálamo-hipofisária.
Exames Complementares:
- Pesquisa de anticorpos anti-peroxidase tiroideana (TPO) e anti-tiroglobulina podem
comprovar etiologia auto-imune (Tiroidite de Hashimoto).
Suspeita de tioridite
Exames Complementares:
Quais exames solicitar: Se a suspeita é de tiroidite auto-imune, solicitar anticorpos anti-TPO e
anti-tiroglobulina. A dosagem de TSH pode ser útil na definição do estado funcional da
glândula. Se a suspeita é de tiroidite subaguda de origem viral, solicitar exames para avaliação
de processo inflamatório agudo (hemossedimentação, alfa 1-glicoproteína e PCR). A captação
de iodo abolida confirma o diagnóstico. A dosagem de TSH e de T4 livre auxiliam na definição
do processo inflamatório, sendo o encontro de níveis de TSH e de T4 livre auxiliam na
definição do processo inflamatório, sendo o encontro de níveis de TSH suprimidos, com T4
elevado e captação suprimida, patognômico da condição. A pesquisa de anticorpos anti-TPO e
anti-tiroglobulina podem ser úteis no diagnóstico diferencial com tiroidite auto-imune