O documento descreve a anatomia e fisiologia da coluna vertebral, mecanismos de lesão da medula espinhal em traumas raquimedulares, avaliação clínica e classificação da lesão medular. O atendimento pré-hospitalar deve proteger a coluna e estabilizar o paciente para transporte a emergência. A avaliação inclui exame neurológico, sensibilidade, força motora e exames de imagem para diagnóstico e tratamento.
3. Coluna Vertebral –
Anatomia e Fisiologia:
A coluna vertebral é composta por 33 ossos
denominados vértebras, que se estendem desde a
base do crânio até o cóccix e são divididos em
grupos conforme sua localização e por
similaridades anatômicas em:
cervicais (07),
torácicas (12),
lombares (05),
sacrais (05) e
coccígeas (04).
4. Coluna Vertebral –
Anatomia e Fisiologia:
São classificados como ossos irregulares, por terem
uma morfologia complexa sem precedentes em
formas geométricas conhecidas.
São separadas entre si por discos
fibrocartilaginosos – os discos intervertebrais, que
tem por função absorver os aumentos de pressão
numa súbita sobrecarga de peso na coluna e
conferir mobilidade entre as vértebras adjacentes,
além de impedir o impacto direto entre as vértebras,
reduzindo assim seu desgaste pelo atrito.
6. Coluna Vertebral –
Anatomia e Fisiologia:
Anatomicamente, as vértebras possuem um forame
vertebral, que quando alinhadas, formam um “túnel”
ósseo, por onde passa a medula espinhal, de onde
ramificam os nervos espinhais.
Além deste arcabouço ósseo, também são
protetores da medula as meninges, lâminas
membranosas de tecido conjuntivo que protegem o
encéfalo e se estendem até o estreitamento da
medula espinhal, em T12, chamado cone medular,
e em L1, sua ramificação denominada cauda
7. Coluna Vertebral –
Anatomia e Fisiologia:
As meninges são três, a saber:
dura-máter (mais externa),
aracnóide (central) e
pia-máter (mais interna).
Entre a aracnóide e a dura-máter, existe um espaço
subdural, e entre a aracnóide e a pia-máter existe o
espaço subaracnóide, por onde circula o líquido
cefalorraquidiano, ou líquor.
8. Coluna Vertebral –
Anatomia e Fisiologia:
A coluna vertebral tem por função dar sustentação
ao corpo, além de proteger a medula espinhal, e
permitir assim que os impulsos nervosos fluam
livremente pelas vias eferentes (motoras) e
aferentes (sensitivas), para que o cérebro envie
comandos e receba sensações.
A interrupção deste fluxo causa isolamento do
segmento corporal no nível e abaixo da lesão,
levando a perda e/ou diminuição da sensibilidade e
da capacidade de movimento.
9. Definição: Traumatismo
Raquimedular
Traumatismo raquimedular é a lesão da medula
espinhal, que pode ser completa ou incompleta.
Apenas aproximadamente em 20 % dos casos a
lesão medular não decorre de traumatismos, sendo
secundária a processos degenerativos / patológicos
tais como tumores, malformações, diabetes.
A grande maioria dos casos de trauma
raquimedulares é decorrente de acidentes. Pode
ser devido a acidentes automobilísticos, ferimentos
por armas de fogo, quedas, acidentes esportivos,
acidentes de trabalho.
(SANTOS, 2005. p. 137)
10. Trauma Raquimedular
Os locais mais comuns de
lesão medular são as áreas
das vértebras C5, C6 e C7,
além da junção das vértebras
torácicas e lombares, T12 e
L1.
(NETTINA, 2007, p.507)
11. Trauma Raquimedular
A energia mecânica tende a ser o agente de lesão
mais comum, sendo ainda o maior responsável
pelos traumatismos raquimedulares.
Mecanismos de Lesão:
Hiperflexão
Hiperextensão
Carga axial
Carga lateral
Ferimentos penetrantes
17. Epidemiologia – Trauma
Raquimedular:
Os fatores de risco predominantes para lesão raquimedular
são idade, sexo, uso de álcool e drogas (lícitas e ilícitas). A
prevenção primária é a mais eficiente forma de prevenção.
A lesão raquimedular ocorre com frequência até quatro
vezes maior em homens que em mulheres. Mais da metade
dos registros de lesão raquimedular ocorre em indivíduos
inseridos na faixa etária dos 16 aos 30 anos, sendo a causa
mais comum os acidentes automobilísticos (35 %) seguida
pela violência (30%), quedas (19%) e práticas desportivas
(8%).
As vértebras mais acometidas são C5, C6 e C7, T12 e L1
devido a maior amplitude de movimento da coluna vertebral
nestas regiões.
(Segundo o Center of Disease Control - CDC (2001)
18. Fisiopatologia – Trauma
Raquimedular:
Lesão primária: Transferência de energia cinética
para a medula espinhal que gera o rompimento dos
axônios, lesão das células nervosas e ruptura dos
vasos sanguíneos.
Lesão secundária: Morte de axônios e células que
não foram inicialmente lesados, pela redução do fluxo
sanguíneo, normalmente causada por alterações no
canal vertebral, hemorragia, edema ou redução da
pressão sistêmica.
Separação dos axônios não se faz imediatamente ao
trauma não penetrante, sendo resultada de um evento
patológico relacionado à lesão da membrana celular.
19. Atendimento Pré-Hospitalar -
Salvar vidas prevenindo
lesões:
Devemos considerar em primeiro lugar a segurança,
afastando-se do trânsito de veículos, de
combustíveis e inflamáveis, de áreas em risco de
desabamento e despenhadeiros. Manter vias aéreas
pérveas, função cardíaca, respiratória, conter
sangramentos, tudo isto, preservando a região
cervical, fazendo a contenção com colar cervical
próprio ou improvisado, a fim de evitar que uma
transecção incompleta evolua para uma transecção
completa. Existe instabilidade ligamentar e vertebral
numa lesão traumática, o que deixa a medula
vulnerável: o movimento pode, portanto lesar ainda
mais a medula já comprometida. Imediatamente, é
necessário instalar a vítima em uma superfície rígida
para transporte até um serviço de emergência,
22. “Desde que a coluna do doente esteja
devidamente protegida, o exame vertebral e a
exclusão de traumas à coluna podem ser
postergados sem riscos, especialmente na
presença de alguma instabilidade sistêmica.”
ATLS
23. Avaliação Clínica:
Irá determinar o nível da lesão neurológica do
paciente:
História Informações sobre o estado geral do
paciente previamente ao trauma.
Exame físico ABC
Exame neurológico Avaliação da sensibilidade,
da função motora e dos reflexos.
24. Avaliação Clínica:
Paciente com fratura da coluna sem lesão medular:
Apresentam dor,
Incapacidade funcional,
Espasmo da musculatura adjacente.
Paciente com lesão medular:
Perda de resposta à estimulo doloroso,
Incapacidade de realizar movimentos vontuntários,
Queda da pressão arterial com bradicardia,
Alteração no controle dos enficteres,
Priapismo,
Respiração diafragmática
26. Avaliação Clínica:
Síndrome Característica
Síndrome da medula
central
Cervical – comprometimento membros inferiores
e superiores
Síndrome da medula
anterior
Preservação da propriocepção e perda variável
da função motora e sensitiva à dor
Síndrome da medula
posterior
Manutenção da sensibilidade à dor e a função
motora, propriocepção alterada
Síndrome de Brown-
Séquard
Hemissecção da medula – perda da função
motora e proprioceptiva do lado da lesão e perda
da sensibilidade à dor e temperatura do lado
oposto
Síndrome de cone medular Incontinência vesical, fecal e alteração da função
sexual
Síndrome da cauda equina L1, L2 – paresia de membros inferiores,
arreflexia, distúrbios da sensibilidade e
27. Avaliação Sensibilidade:
É realizada por meio da avaliação de sensibilidade
tátil e dolorosa do paciente, através de 20
dermátomos:
Mamilos – T4
Processo Xifóide – T7
Região Inguinal – T12 a L1
Região Perineal – S2, S3, S4
Atribui uma avaliação numérica nos achados
clínicos:
0 – ausente
1 – alterada
29. Avaliação Motora:
Avaliação dos 10 pares miótomos e a força muscular
graduada :
C5 – Flexores do cotovelo
C6 – Flexores do punho
C7 – Extensores do cotovelo
C8 – Flexores do dedo
T1 – Abdutores
L2 – Flexores do quadril
L3 – Flexores do joelho
L4 – Dorsiflexores do tornozelo
L5 - Extensores longos dos dedos
S1 – Flexores plantares do tornozelo
31. Avaliação Motora:
Segue a escala:
0 – Paralisia total,
1 – Contração palpável,
2 – Movimento ativo eliminado pela força da
gravidade,
3 – Movimento ativo que vence a força da
gravidade,
4 – Movimento ativo contra alguma resistência,
5 – Normal.
OBS: Também examina-se o esfíncter anal externo
32. Classificação da lesão
medular:
A Escala de Comprometimento da ASIA (American Spinal
Injury Association), baseada na completude da lesão (grau
de transecção da medula) e na função sensorial / motora.
Grau Tipo de lesão Manifestações Recuperação
A Completa Ausência de função motora e
sensitiva abaixo da lesão
15,5% cervical
7% torácica
B Incompleta Função sensitiva, mas não
motora
47%
C Incompleta Alguma força motora 84%
D Incompleta Força motora 84%
E Nenhuma Função sensitiva e função motora 100%
34. Exames:
Radiografia antero-posterior, perfil e transoral
(diagnóstico de 84% lesão cervical).
Tomografia Computadorizada: Avaliação da
morfologia da fratura.
Ressonância Magnética: Análise de contusões
medulares.
35. Quadro Clínico – Trauma
Raquimedular:
Fase aguda (de 1 a 24 horas após o trauma).
Nesta fase, o edema provocado pelo trauma ainda é um dos
limitadores da avaliação da lesão. Portanto, pode ser difícil
determinar o grau de transecção da medula. Testa-se a
capacidade motora e sensitiva com maior frequência a fim
de acompanhar a involução do edema.
Intervenções cirúrgicas nesta fase são recomendadas
quando houver instabilidade vertebral, a fim de evitar
maiores agravos à lesão pré-existente. Os objetivos são
remover os fragmentos ósseos que porventura estejam
comprimindo a medula, além de estabilizar as vértebras,
para que o processo de reabilitação possa ser iniciado
precocemente. O succinato dissódico de metilpredinisolona
(corticóide) deve ser administrado até oito horas após a
lesão, com dose de manutenção por 48 horas.
36. Quadro Clínico – Trauma
Raquimedular:
Fase subaguda (de 24 horas até uma semana pós-
trauma).
As trações com halo cervical são comumente utilizadas
para tratar as lesões cervicais. A mobilização precoce,
em blocos, e os exercícios passivos devem ser
iniciados tão logo o paciente esteja em condições de
estabilidade clínica e cirúrgica. Programa-se uma
hiperalimentação, com dieta líquida por sonda,
progredindo para pastosa, tão logo a condição do
cliente permita, hipercalórica, hiperprotéica e rica em
fibras, a fim de retardar o balanço nitrogenado negativo.
O volume da dieta deve aumentar gradualmente,
conforme a tolerância.
Farmacologicamente, bloqueadores H2 são
administrados para evitar irritação gástrica e
hemorragias; a administração do sal sódico
37. Quadro Clínico – Trauma
Raquimedular:
Fase Crônica ou Ajustamento medular (após uma
semana do trauma). As complicações devem ser
tratadas, tais como infecções (antibioticoterapia);
comprometimento respiratório (estimulação elétrica do
nervo frênico, ventilação mecânica, fisioterapia
respiratória); lesão mucocutânea traumática e
prevenção de ulceras por pressão; ossificação
heterotrópica (uso de quelantes de cálcio e
antiinflamatórios); siringomielia (drenagem);
espasticidade (antiespasmódicos orais e intratecais,
cirurgia, estimulação da medula espinhal); dor
neuropática central (anticonvulsivantes, sedativos
38. Quadro Clínico – Trauma
Raquimedular:
A reabilitação inclui suporte clínico e psicossocial,
fisioterapia, avaliação urológica, terapia ocupacional,
incluindo sempre o cliente e seu núcleo familiar.
Devem ser enfatizadas as habilidades, e não as
incapacidades, o foco da reabilitação é a adaptação
do indivíduo a sua condição, visando extrair a melhor
integração deste com o meio. Quanto mais adaptado
a sua nova condição, mais eficientemente o indivíduo
desempenhará as suas atividades de vida diária
(AVD).
Mesmo em casos onde o comprometimento seja total,
impedindo qualquer participação física do indivíduo, a
sua atitude mental pode, e deve ser estimulada, pois
a perda da capacidade motora e sensitiva não implica
na perda do raciocínio, nem em uma
39. Complicações Orgânicas do
Trauma Raquimedular:
Devido à complexidade do sistema nervoso, as
lesões raquimedulares podem levar à
complicações orgânicas variadas, dependendo do
grau da lesão, altura da lesão, tempo transcorrido
entre o trauma e o atendimento, e qualidade do
atendimento inicial.
As complicações em longo prazo incluem a
síndrome do desuso, a disreflexia autônoma,
infecções vesical e renal, espasticidade e
depressão
40. Complicações Sociais do
Trauma Raquimedular:
O indivíduo que sofre uma lesão medular, com
comprometimento que gera incapacidade, defronta-
se com uma nova realidade, onde o
acompanhamento e o cuidado de inúmeros
profissionais de saúde especializados (médicos,
enfermeiros, terapeuta ocupacional, psicólogo,
psiquiatra), além de engenheiros de reabilitação,
assistente social se fazem constantes.
Reside aí o risco de perda da privacidade, do direito
ao isolamento, e em casos mais graves, perde-se
41. O Papel do Enfermeiro:
Como integrante da equipe multidisciplinar, numa
abordagem interdisciplinar, o enfermeiro é o
elemento que tem maior contato com a família e
com o cliente, por características inerentes à
prática profissional. Desta forma, as medidas que
o enfermeiro programar são determinantes do
sucesso ou fracasso tanto do atendimento inicial
(com relação aos agravos da lesão raquimedular)
quanto ao inicio precoce do processo de
reabilitação.
42. O Papel do
Enfermeiro:
O enfermeiro deve considerar a necessidade de
conversar sobre a vida sexual do seu cliente.
Podem ser necessárias adaptações para que este
viva plenamente a manifestação do desejo sexual,
que é uma necessidade fisiológica básica, e não
deve ser reprimida unicamente devido à nova
condição física em que este se encontra.
44. Referências:
CARPENITO-MOYET, L.J. Diagnósticos de Enfermagem: aplicação à
prática clínica. 10 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
DANGELO, J.G; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Sistêmica e
Segmentar: para o estudante de medicina. 2 ed. São Paulo: Atheneu.
2004.
NETTINA, S.M. Prática de enfermagem. 8 ed. Rio de janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
SANTOS, J. L (revisão técnica); SANTOS, R.G (tradução). Guia
Profissional para Fisiopatologia. Tradução de: Professional Guide of
pathophysiology. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
SANTOS, RR; CANETTI, MD; RIBEIRO JR, C; ALVAREZ, FS. Manual de
Socorro de Emergência. Seção de ensino e treinamento / Grupamento
de Socorro de Emergência /Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio
de Janeiro / Secretaria de Estado de Defesa Civil. São Paulo: Atheneu,
2005.