O documento discute iniciativas de desenvolvimento na região leste de São Paulo, incluindo a reforma do Mercado Municipal de São Miguel Paulista e projetos de reciclagem que usam pneus descartados para construção. Também aborda o uso de microcrédito para apoiar pequenos negócios locais e melhorar as vendas no final do ano.
1. Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul
Ano XI - Número 36 - Novembro de 2010
Inaugurado na década de 1960, o Mercado
Municipal de São Miguel Paulista – terceiro
no ranking paulistano, com movimento de
280 mil toneladas por mês – está passando
por uma reforma completa. O projeto de
Mercadão rejuvenescido
Marco do setor cultural
na região, a Oficina Cultural
Alfredo Volpi, de Itaquera,
completou 20 anos de exis-
tência. Nesse período, ficou
conhecida como um espaço
permanente para o desen-
volvimento de atividades
artísticas e de diversos cursos
oferecidos à população. Os
mais procurados são os de
dança e de teatro. Página 7
Oficina Alfredo
Volpi é referência
na área cultural
Como parte da reforma
da área central de São Miguel,
que inclui a restauração da
Capela de São Miguel Arcan-
jo, a mais antiga da cidade de
São Paulo, a estação de trem
será transferida de local. A
proposta é criar um roteiro
turístico capaz de colocar
o bairro no circuito de pas-
seios obrigatórios para os
paulistanos. Página 4
De olho no
turismo, estação
muda de lugar
A viagem não é longa, dura apenas 1h30,
mas é o tempo suficiente para conduzir o
passageiro ao passado. O Expresso Turístico,
iniciativa da CPTM, leva semanalmente os
turistas paulistanos para Mogi das Cruzes,
na região leste do Estado, cidade que
completou 450 anos. Lá, eles vão conhecer
a Praça da Matriz, o Museu Professora
Guiomar Franco e o Largo do Rosário.
No trajeto, podem acompanhar a saudosa
tarefa do velho picotador de passagem.
Página 8
De volta
ao passado
A ONG Arte em Pneus, de Itaquera, está desenvolvendo um
projeto para utilizar a borracha dos pneus descartados na construção
de paredes para moradias populares. Página 3
Vida nova para os usados
O microcrédito tem ajudado muitos comerciantes da região que
enfrentavam dificuldades para aquecer as vendas no final de ano, como o
caso de Saturmino Reis, vendedor de bonés há 25 anos. Página 2
Empréstimo saudável
Cayan
Fontoura
Divulgação
Kelly
Máximo
Arquivo
Cidadão
recuperação, assinado pelo arquiteto
Ruy Ohtake, prevê espaço para abrigar os
ambulantes da região, a troca do piso dos
três pavimentos e a pintura da área externa
em forma de mosaico. Página 5
2. PÁGINA 2 - NOVEMBRO DE 2010
Microcrédito ajuda na criação de negócios
Busca pelo desenvolvimento e geração de empregos têm aumentado o número de empréstimos
Fotos
Kelly
Máximo
Carolina Faria
Marcia Duarte
Sergio Gomes
Thamirys Lopes
SERVIÇO
Moradora do bairro de União
Vila Nova, na Zona Leste de São
Paulo, Ivaneide dos Santos Menezes,
52 anos, possuía uma pequena bom-
boniere em sua residência e sonhava
em ampliar seu negócio. Na época,
sua renda mensal era R$ 1.000,00 e
após a solicitação de microcrédito
conseguiu abrir, com sua filha, o
Restaurante e Lanchonete Patts, loca-
lizado no Mercado Municipal de São
Miguel Paulista. Assim, gerou vagas
de emprego, hoje ocupadas por sua
filha e duas sobrinhas.
O empréstimo foi utilizado na
melhoria de seu estabelecimento.
“Compramos bastante mercadoria,
investimos em cadeiras novas, enfim
estamos crescendo e pretendemos
melhorar. Hoje, minha renda aumen-
tou em 50%”, relata Ivaneide.
Em São Paulo, a opção pelas em-
presas de microcrédito tem aumen-
tado muito devido à pequena taxa de
juros e à facilidade na solicitação do
empréstimo baseada na formação de
um Grupo Solidário (GS), de 4 a 7
pessoas, que se compromete a honrar
o acordo. Se um membro não conse-
gue pagar, o Grupo assume a dívida
e depois resolve entre si a pendência.
Os grupos solidários são for-
mados por pessoas da mesma co-
munidade e com situação financeira
parecida, assim existe um vínculo
de confiança e solidariedade e cada
um se esforça para não prejudicar
o conjunto. Essa “pressão social
organizada” faz com que o índice
de inadimplência seja baixo.
Como o crédito é concedido ao
Grupo Solidário, a São Paulo Confia –
associaçãocivilsemfinslucrativoscom
objetivo de oferecer crédito a pessoas
de baixa renda, que não conseguem
acesso a financiamento no sistema
bancário tradicional – possibilita
acesso ao crédito e à inclusão social
até para pessoas que, individualmente,
estão em situação
derestriçãocadas-
tral,comnomeno
SPC/Serasa.
Com a proxi-
midade do final
do ano, os came-
lôs da rua Arlin-
do Colaço, mais
conhecida como
‘calçadão de São Miguel’, também
recorrem ao crédito popular. “A
maioria dos camelôs pega emprés-
timo e, no final
do ano, pega
novamente para
comprar muitas
mercadorias e
renovar o esto-
que”, explica Sa-
turmino Reis, 66
anos, vendedor
de bonés e bol-
sas na região desde o ano de 1985.
O empreendedorismo está ga-
nhando espaço na Zona Leste e
Reis é um exemplo disso. “Antes de
montar meu pequeno comércio, tra-
balhava em uma metalúrgica no Ta-
tuapé e nos finais de semana vendia
limão na feira. Percebi que ganhava
muito mais do que em meu serviço”,
recorda. Sua estratégia de vendas é
assistir aos programas esportivos de
domingo, principalmente os ameri-
canos, como jogos da NBA. Assim,
ele escolhe os bonés “mais legais” e
compra modelos semelhantes para
vender em seu comércio.
Ele sugere que as pessoas criem
seu próprio negócio e afirma que basta
saber investir que as coisas podem dar
certo. Com o surgimento dessas novas
empresas,estimula-seageraçãodeem-
pregos na comunidade o que desenca-
deia um processo de desenvolvimento
para todo o bairro.
NA CABEÇA - Reis vende bonés em São Miguel desde 1985 INVESTIMENTO - “Estamos crescendo e pretendemos melhorar”, diz Ivaneide Menezes
Jornal-laboratório do
Curso de Comunicação Social
(Jornalismo)
da Universidade Cruzeiro do Sul
Ano XI
Número 36
Novembro de 2010
Telefone para contato:
(11) 2037-5706
Tiragem: 3 mil exemplares
Impressão: Jornal Última Hora
(11) 4226-7272
Reitora
Sueli Cristina Marquesi
Pró-reitor de Graduação
Luiz Henrique Amaral
Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa
Danilo Antonio Duarte
Pró-reitor de Extensão e
Assuntos Comunitários
Renato Padovese
Coordenador do Curso de
Comunicação Social
Carlos Barros Monteiro
Professores-orientadores
Dirceu Roque de Sousa, Flávia Serralvo, Patrícia Leite e Regina Tavares.
Também participaram desta edição:
Alessandra Maciel, Aline Mateus, André Lóssio, Cauê Lambert,
Diêgo Queiroz, Tiago Ferminiano e Ygor Pinheiro.
EDITORIAL
A presente edição traz matérias
que mostram a preocupação de São
Miguel Paulista em se modernizar
com o objetivo de transformar-se
em polo turístico de São Paulo.
O bairro abriga a capela de São
Miguel Arcanjo, que detém o título
de mais antiga da cidade. Em fase
final de restauração, a capela e o
seu entorno serão valorizados com
a transferência da estação de trem
para a praça Padre Aleixo Monteiro
Mafra, prevista para o próximo ano.
A obra vai facilitar a chegada de
visitantes ao monumento histórico.
De olho no turismo regional
Microcrédito é a concessão de
empréstimos de baixo valor a pe-
quenos empreendedores informais
e microempresas com dificuldades
de acesso ao sistema financeiro tra-
dicional, principalmente por não
teremcomooferecergarantiasreais.
É um crédito destinado à produção
(capital de giro e investimento) e é
concedidocomousodemetodolo-
giaespecífica.Temcomocaracterís-
tica a desburocratização, a rapidez e
a eficiência na concessão.
Fonte: Sebrae
O que é
microcrédito?
São Paulo Confia - Av. Marechal
Tito, 565 - Mercado Municipal de
São Miguel - Pavilhão B - Box 2
- Fone: 2031-3489. Funciona de se-
gundaasexta-feira,das9às18horas.
Onde encontrar
TRABALHO - Filha de Ivaneide no Restaurante Patts, aberto após a concessão do microcrédito
Também pensando em oferecer
melhorias para os consumidores, o
Mercado Municipal de São Miguel
Paulista, responsável pelo movimen-
to de 280 mil toneladas de produtos
mensalmente, está passando por
uma reforma completa. O projeto
do arquiteto Ruy Ohtake prevê, in-
clusive, a pintura externa em forma
de mosaico e criação de espaço para
abrigar os ambulantes da região.
Na mesma linha de benefícios, as
microempresas têm linha de crédito
especial, oferecida pelo programa
São Paulo Confia. Assim, peque-
nos comerciantes podem investir
em mercadorias para o estoque e
ampliar as vendas neste final de
ano. Os empréstimos têm aval dos
grupos solidários, uma espécie de
cooperativa que se responsabiliza
pelo pagamento das mensalidades.
Por fim, o Cidadão mostra
uma reportagem sobre o Expresso
Turístico promovido pela CPTM. O
passeio parte semanalmente da es-
tação da Luz, em São Paulo, e chega
à cidade de Mogi das Cruzes, uma
das mais antigas do Estado. Entre
as opções de visitação estão a praça
da Matriz, o Largo do Rosário, o
museu Professora Guiomar Franco
e o antigo Mercado Municipal.
Boa leitura.
3. NOVEMBRO DE 2010 - PÁGINA 3
A alternativa está na reciclagem
Algumas soluções para amenizar problemas na Zona Leste começam a ser aplicadas
Hevlyn Celso
Thaís Renesto
SERVIÇO
O Cidadão foi até a subprefeitu-
ra de São Miguel Paulista e conver-
sou com responsáveis pela limpeza
pública da região. De acordo com a
arquiteta Márcia de Oliveira Almeida,
39 anos, responsável pela supervisão
técnica, somente nos distritos de Jar-
dim Helena, São Miguel e Vila Jacuí,
há 71 “pontos viciados” de entulho,
ou seja, pontos que a prefeitura
limpa, mas, à noite, o lixo “retorna”.
“Nós temos o chamado entulho
sujo e o entulho limpo. O sujo, que
é um pouco de cada coisa, um pouco
de plástico, de madeira de construção
civil, é menos problemático do que o
entulho limpo, que vem só da cons-
trução civil; esse tipo de material é o
que mais tem e é o que menos verba
a subprefeitura tem para tirar, porque
ele é mais volumoso”, explica Márcia.
A arquiteta afirma que existe um
projeto de uma máquina de tritura-
ção que está sendo estudado pelo
Departamento de Limpeza Urbana
(Limpurb) em conjunto com a Com-
panhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental (Cetesb).
A supervisora apresenta outras
alternativas: “Se você pegar um bloco
de concreto comum e um bloco feito
com material triturado, vê que ele é
muito melhor. Nós fomos visitar uma
usina no interior, em São José do Rio
Preto, e vimos que as guias, bancos e
blocos têm as moléculas muito mais
unidas. Então, o produto final tem um
bomacabamento,émuitomaisplástico,
firme, mais bonito, mais resistente”.
O meio ambiente se
tornou preocupação das
comunidades e políticos,
tanto que algumas leis fo-
ram projetadas e votadas
para ajudar a preservá-lo.
Entretanto, para Márcia,
há dificuldade em fiscali-
zar a aplicação dessas leis.
Aproveitamento para o pneu descartado
Thaís Renesto
Com o crescente aumento de veí-
culos nos últimos anos, a preocupação
com o meio ambiente é inevitável,
principalmente devido ao alto
número de pneus descartados. A
iniciativa popular é a nova forma
encontrada para diminuir os trans-
tornos. O designer de produtos
Daniel Beato, 31 anos, em busca
de uma solução inovadora para o
problema, montou uma oficina de
reciclagem de pneus na garagem
de casa; assim, surgiu a ONG Arte
em Pneus, localizada em Itaquera.
Em 2001, Beato criou e começou
a desenvolver uma solução para os
transtornos causados pelo entulho.
No ano de 2004 essa ideia virou um
projeto e se legitimou em 2006. Des-
de então, recebe pedidos de coleta e
reciclagem da região e é responsável
pelo reaproveitamento da borracha
no desenvolvimento de móveis, ca-
deiras, vasos, brinquedos e brindes.
“Como uma associação, recebe-
mos os pedidos, chamamos mão-de-
obra especializada (multiplicadores),
recebemosedistribuímosareceita.Os
pneus, nós recebemos de fabricantes,
doações individuais, coleta nas ruas e
borracharias”, descreve Beato.
A entidade possui projetos de
reutilização e reciclagem. Um deles é
o Arte em Correia e Mangueira, que
reutiliza mangueiras e correias para
fazer brindes ecológicos. Há pouco
tempo atuando como ONG, passa
ainda por melhorias na estrutura para
sanar algumas dificuldades. Segundo
o fundador, o principal problema é a
demanda de trabalho.
“O investimento financeiro está
crescendo, temos algumas concen-
trações de tarefas, mas já está melho-
rando, pois a equipe está aumentando
gradativamente”, anima-se Beato.
Agora, sua preocupação é im-
plantar, juntamente com os demais
funcionários da ONG, uma iniciativa
de incentivo à reciclagem. Além do
trabalho externo de reciclagem e
Ong: Arte em Pneus
Responsável: Daniel Beato
Telefone: 2051-6557
Av. Pires do Rio, 3.321, Itaquera
E-mail: beato@arteempneus.org.br/
contato@arteempneus.com.br.
Outro problema para a
fiscalização são as caçambas
clandestinas. Instaladas ir-
regularmente, prejudicam a
coleta de material reciclável
pela prefeitura. E pela grande
extensão da região, há falta de
fiscais: “A subprefeitura tenta
darumsuporte”,alegaMárcia.
Percebendo os problemas
causados pelo acúmulo de
entulho, os órgãos públicos
passaram a investir em re-
ciclagem. Uma maneira de
amenizar foi a proposta da
criação de Ecopontos, que
recolhem lixos domiciliares,
industriais e hospitalares.
A demanda de pontos
de coleta está aumentando.
Segundo o responsável pela
fiscalização da limpeza públi-
ca, Mauro das Neves Teixeira,
48 anos, a quantidade necessá-
ria ainda não foi atingida. “O
Ecoponto, infelizmente, está
aquém da necessidade, seria o
caso de ter pelo menos um em
cada distrito da cidade. Falta
também um pouco mais de
divulgação”, cobra Teixeira.
As cooperativas foram
outra alternativa criada em
parceria com o poder público.
distribuição do material reciclado,
a entidade propõe uma nova sede,
na qual as paredes serão feitas com
reaproveitamento de pneus usados.
A construção já está em andamento.
“Estamos fazendo testes com
pneus e argamassas ecológicas
diversas, agregando outros tipos
de materiais recicláveis, reaprovei-
tados e orgânicos. A descoberta de
sistemas de construção é bem va-
riada, mas o básico é um em cima
do outro, parafusado e preenchido
com argila”, resume.
ARTE - A borracha dos pneus se transforma em objetos de decoração
RENDA - Reciclagem permite trabalho e ganhos extras para a comunidade
Ecoponto Imperador - Rua Ribeirão Jacú,
201 - telefone: 2052-9679.
Ecoponto Carlito Maia - Rua Domingos
Fernandes Nobre, 109 - telefone: 2586-0709.
Disque Limpurb - 0800-727.0211, atende
das 8 às 18 horas.
Essas associações voluntárias, algu-
mas projetadas para reciclagem de
diversos tipos de materiais, ajudam
a atender as necessidades da comu-
nidade para evitar danos ao meio
ambiente e zelar pela qualidade de
vida dos moradores de locais com
acúmulo de entulho.
Fotos
Divulgação
RECICLAGEM - Uso de pneus velhos é a solução para evitar o acúmulo de entulho nas ruas
4. TRANSPORTES
Uma estratégia para facilitar o turismo no bairro, com destaque para a capela de São Miguel Arcanjo
Nova estação de trem em São Miguel
Índios fugidos e um padre
comprometido: o início do bairro
PÁGINA 4 - NOVEMBRO DE 2010
Felipe
Godoy
MONUMENTO - A capela de São Miguel Arcanjo é a mais antiga da cidade de São Paulo
Simone Alauk
Rafael Silvério
Alice
Furlanetti
PROPOSTA DIVIDIDA - A mudança da estação de trem trará benefícios para os moradores, mas não agradou parte do comércio local
A estação de trem de São Miguel
Paulista está mudando de local. As
obras começaram em outubro de
2009 e devem terminar no próximo
ano. A antiga estação será transferida
da rua Salvador Pires de Medeiros
para a praça Padre Aleixo Monteiro
Mafra, com investimento total pre-
visto de R$ 46,8 milhões.
A desativação e transferência da
estação de trem de São Miguel Pau-
lista fez com que os comerciantes da
região se unissem para buscar uma
solução que mantenha o fluxo de
clientes em suas lojas.
Os comerciantes reivindicam a
construção de um terminal de ônibus
e de uma agência do Poupatempo no
terreno da antiga estação de trem.
Mas o problema é que já existe um
terminal de ônibus em São Miguel,
localizado na rua Tarde de Maio.
O terminal de ônibus fica distan-
te da estação de trem, em um local
isolado, entre os trilhos e o córrego
Itaquera Itaqueruna. “É um terminal
construído antes da abertura de vias
marginais. É ineficiente. Porém, ele
poderia se tornar um equipamento
esportivo, pois antigamente era um
terreno ocupado pelo futebol da
comunidade”, comenta o subprefeito.
Segundo o comerciante Ioannis
Evangelus Katsakis, conhecido como
Johnny, os comerciantes do entorno
da estação receiam a diminuição do
movimento de pessoas com a trans-
ferência da estação. “Ninguém nos
procurou para informar nada, no
ano passado armaram um ‘pequeno
circo’ na frente da velha estação com
apresentação do edital de licitação da
empresa ganhadora da obra e foram
embora, sem dar sequer uma expli-
cação”, concluiu ele.
Hoje o terreno ocupado por
prédios e pela velha estação será de-
socupado. Segundo o presidente da
CPTM (Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos), Sérgio Avelleda, se a
prefeitura precisar da área, ela estará
à disposição. Ele não vê nenhum
problema em ceder o espaço para a
implantação de outro equipamento.
O diretor superintendente da
Distrital São Miguel Paulista, da
Associação Comercial de São Paulo
(ACSP), Antônio Abrão Mustafá
Assem, diz que é importante definir
o destino da estação que será desati-
vada. “Estamos nos reunindo com
a CPTM para que seja decidida uma
ocupação do terreno, antes que fique
vazio e mal utilizado. Essa é nossa
preocupação”, conclui.
Embora o prefeito tenha dito que
a ideia de um terminal será avaliada, a
Secretaria Estadual de Gestão Pública
informou que, dos 15 Poupatempos
que serão construídos como parte do
plano de expansão, não há nenhum
previsto para o bairro de São Miguel.
O subprefeito da regional informa
que a mudança terá duas finalidades:
servir como plano de expansão da
CPTM, que deverá reduzir para 3
minutos o tempo de espera entre um
trem e outro; e contribuir para facilitar
o turismo em São Miguel, mais espe-
cificamente, na Capela de São Miguel
Arcanjo, um patrimônio histórico não
só do bairro, mas brasileiro. “Essa
mudançavaisermuitoimportantepara
o nosso bairro”, declara Maria Con-
ceição Almeida de Oliveira, moradora
local há mais de 40 anos.
Alice
Furlanetti
FUTURO - Estratégia para incentivar o turismo na região
Em 1560 um grupo de índios
chefiados por Piquerobi fugiu do
Colégio Jesuíta de São Paulo para
morar na região do Ururaí (região da
atual São Miguel). Pouco tempo de-
pois, o Padre José Anchieta, em uma
tentativa de catequizar tais índios,
construiu na área uma igreja que
ganhou o nome de São Miguel (que
era o anjo de devoção do padre).
Aos poucos, essa igreja foi ga-
nhando notoriedade e importância
entre os moradores, até que em 1622
foi substituída por um templo novo,
idealizado e construído pelo Padre
João Álvares e pelo carpinteiro e
bandeirante Fernão Munhoz.
A localização de São Miguel tam-
bém atraía interesse comercial por
estar perto da margem esquerda do
rio Tietê. Em 1623, vários índios de
Itaquaquecetuba foram transferidos
para lá, o que mostra a importância
cultural que o bairro (aldeia na épo-
ca) foi adquirindo.
João Álvares e Fernão Munhoz
também revolucionaram São Mi-
guel trazendo visitantes de todas
as partes do Brasil para verem a
riqueza cultural da região, como a
produção da cerâmica e totens in-
dígenas. Além disso, eles acabaram
revitalizando o local (mesmo no
século XVII), melhorando a facha-
da da capela e reformando a praça
Aleixo Monteiro Mafra. Talvez
agora seja a hora para uma nova
revitalização.
A mudança
da estação é uma
estratégia que pen-
sa no turismo de
São Miguel Pau-
lista: centralizar a
estação na praça
Aleixo Monteiro
Mafra onde fica a capela de São
Miguel Arcanjo, um marco histórico
para o bairro. Um
ponto turístico que
trará novo público
ao bairro. “É uma
medida que ajuda-
rá na revitalização
do centro de São
Miguel”, comenta
o subprefeito.
Capela de São Miguel Arcanjo:
Praça Padre Aleixo Monteiro
Mafra, 11 - São Miguel Paulista
- Tel.: (11) 2032-4160.
Serviço
5. PÁGINA 6 - NOVEMBRO DE 2010 SAÚDE
Lei antifumo aumenta busca por tratamento
Hospitais e outras unidades de tratamento atendem população que deseja parar de fumar
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o cigarro é responsável por 30% das mortes por câncer
Jovem sai de bar para poder fumar, na Zona Leste de São Paulo
Parar de fumar: um desafio diário
Quem já tentou parar de fumar
sabe que são inúmeras as dificulda-
des e os desafios enfrentados. Para
quem fuma há quase uma vida intei-
ra, como o aposentado Alcides José
Ribeiro, de 72 anos, as dificuldades
são ainda maiores. Neste depoimen-
to ao jornal Cidadão, Ribeiro relata
como é a vida de quem não apenas
quer, mas precisa parar de fumar. Ele
confessa que já tentou, mas não teve
força de vontade suficiente.
Marjorie
Luz
Sirlene
Farias
Ana Paula Viana
Camila Ribeiro
Nodia7deagostodoanopassado
entrou em vigor em todo o Estado de
São Paulo a lei antifumo (nº 13.541,
de 7 de maio de 2009). Por meio dela,
ficouproibidooconsumodeprodutos
fumígenos (como cigarros, charutos e
cachimbos) em ambientes fechados
e de uso coletivos. Os fumantes de
todo o Estado têm agora apenas duas
opções: fumar em casa ou na rua. Na
Zona Leste, os estabelecimentos têm
liderado a adesão à lei, segundo mos-
tra um levantamento do número de
registrosdemultas,feitopelaVigilância
Sanitária.
Deacordocomoartigo8ºdanova
legislação, “caberá ao Poder Executivo
disponibilizar em toda a rede de saúde
pública do Estado, assistência terapêu-
tica e medicamentos antitabagismo
para os fumantes que queiram parar
de fumar”. Em levantamento feito
pela equipe do Cidadão, a prática,
no entanto, ainda parece estar muito
longe da teoria. Na região de São
Miguel e adjacências, o Hospital Santa
Marcelina de Itaquera e o Centro de
Atenção Psicossocial – Álcool e Dro-
gas (Caps-AD) de São Mateus são os
poucos que apresentam projetos para
ajudar a população local que quiser
parar de fumar.
O caminho é longo, mas já co-
meça a ser traçado. O Hospital Santa
Marcelina de Itaquera possui um
Comitê Antifumo, que disponibiliza
informações sobre os malefícios do
cigarro, por meio de palestras perió-
dicas. O projeto tem como finalidade
criar um programa que incentive os
funcionáriosdohos-
pital a largar o vício.
Segundoaassessoria
de comunicação do
hospital, o Comitê
pretende ampliar
essa ação, mas antes,
é necessário o apoio
doEstadocommedicamentoseincen-
tivo financeiro.
OmédicoJorgeNakatami,especia-
lizado em Pneumologia, explica que o
Comitê foi criado para conscientizar
“Fumo há exatos 60 anos. Começei
a fumar cedo, em minha adolescência,
observando meus amigos que eram mais
velhos. Achava bonito ver meus amigos
fumarem. Quando me ofereceram, não
pensei duas vezes. Fiz a pior escolha.
Nunca consegui parar de fumar.
Tento parar de fumar há 20
anos, mas nunca consegui. O máximo
de tempo que consegui viver sem o cigar-
ro, e ainda assim com muita dificuldade,
foram três meses. Reconheço que minha
vontade não é o suficiente. Não tenho
atitudes de quem realmente quer parar,
pois quem quer vai até o fim e para
definitivamente.
Não consigo caminhar por muito
tempo, minhas pernas doem muito e sinto
falta de ar. Nunca procurei ajuda médica
especificamente contra o uso do cigarro.
Eu não acredito nesses tratamentos, acho
que eles apenas viciam as pessoas nos
remédios. Para mim, isso tudo não passa
de uma droga substituta.”
O tabaco é o maior inimigo da
saúde, pois possui diversas subs-
tâncias tóxicas em sua composição.
Abaixo, a relação de males que o
cigarro pode causar:
Perda de cabelo
Catarata
Rugas e envelhecimento da pele
Perda de audição
Câncer / Cancro de pele
Cárie nos dentes
Doenças pulmonares
Osteoporose
Úlceras no estômago
A maior preocupação, porém,
deve ser o perigo de originar o cân-
cer, principalmente na garganta ou
nos pulmões. Fumantes de longa
data formam o grupo de maior
risco, mas aqueles que fumam
moderadamente também podem
sofrer problemas de saúde.
Além disso, a exposição de
mulheres grávidas ao fumo passivo
podecausarreduçãonocrescimen-
to fetal. Quando a mulher fuma
durante a gravidez, aumentam os
riscos de abortos espontâneos,
nascimentos prematuros, bebês de
baixo peso e de mortes fetais.
Malefícios
do cigarro
fumante e às pessoas
ao redor. Nakatami
esclarece que, além
das palestras, o hos-
pital tem trabalhado
com peças teatrais
nascrechesdaregião,
sempre buscando
fortalecer na população local uma
cultura contra o cigarro.
OCentrodeReferênciadeÁlcool,
Tabaco e Outras Drogas (Cratod) é
o órgão da Secretaria da Saúde que
fornece o treinamento necessário aos
profissionais da saúde que trabalharão
prestando assistência ao cidadão que
quiser parar de fumar. Esses profis-
sionais prestam atendimento nas Uni-
dades Básicas de Saúde (UBS) e nos
Centros de Atenção Psicossocial/
ÁlcooleDrogas(Caps-AD).Naregião
da Zona Leste, três unidades do Caps-
AD atendem pessoas que procuram
tratamento antitabaco: Penha, Jardim
Nélia e São Mateus.
A psicóloga Rita de Cassia Mag-
nanelli, que presta atendimento no
Caps-AD Liberdade de Escolha, em São
Mateus, explica que os usuários que
procuram o atendimento recebem
orientações e tratamento clínico e psi-
cológico. Os grupos
reúnem, em média,
30 a 40 pessoas, em
oitoencontrosorien-
tados por três aten-
dentes, um psicólo-
go, um enfermeiro e
um médico.
Segundo Rita, a procura por esses
grupos aumentou após a entrada em
vigor da lei antifumo. O maior moti-
vador para que o fumante recorra ao
Caps-AD é a saúde (casos de doença
pulmonarobstrutivacrônicaecâncer).
Alémdogrupoantitabaco,hátambém
tratamento contra o álcool e outras
drogas em geral.
Quem quiser procurar o aten-
dimento do Caps-AD deve levar
documento de identidade e cartão do
SUS (caso a pessoa não possua cadas-
tro, poderá fazê-lo na hora). Para o
atendimento, após aguardar na lista de
espera(médiadeumadoismeses),será
realizadaumatriagemparaorientações
sobre o tratamento e para marcar o dia
do “PARA” (o usuário não devefumar
no dia da primeira sessão).
Os fumantes que não quiserem
largar o vício devem lembrar que o
respeito ao próximo é fundamental.
Como o próprio médico Nakatami
diz, “o fumante passivo passa a sofrer
as consequências de um fumante.
Essa é a nossa justificativa para a cria-
ção do Comitê. Você tem o direito
de estragar a sua vida, mas não a do
seu próximo.”
O Caps-AD Liberdade de Escolha
fica localizado na
rua Joaquim Gou-
veia Franco, 150,
no bairro de São
Mateus, e funciona
de segunda-feira à
sexta-feira, das 7 às
18 horas.
“Você tem o direito
de estragar a sua
vida, mas não a do
seu próximo”
Jorge Nakatami
O hospital busca
fortalecer na
população local
uma cultura contra
o cigarro
Muitas pessoas, ao parar de
fumar, pensam em benefícios à
saúde apenas a longo prazo. Mas
as vantagens em largar o cigarro
são muitas e podem ser sentidas
imediatamente após a última
tragada. Veja os benefícios no
quadro abaixo:
Em 20 minutos, a pressão
sanguínea e a pulsação voltam ao
normal.
Em 2 horas, não há mais nico-
tina circulando no sangue.
Em 8 horas, o nível de oxigênio
no sangue se normaliza.
Entre 12 e 24 horas, os pulmões
já funcionam melhor.
Em 3 semanas, a respiração
se torna mais fácil e a circulação
sanguínea melhora ainda mais.
Em 1 ano, o risco de o fumante
sofrer um infarto é reduzido pela
metade.
Entre 5 e 10 anos, o risco de o
fumante sofrer infarto será igual
ao de pessoas que nunca fumaram.
Benefícios ao
largar o vício
Fernando
Piovezam
O pneumologista Jorge Nakatami
os funcionários do Santa
Marcelina e a população
sobreosriscosqueocigar-
ro provoca à saúde.
SegundoNakatami,“o
público-alvo inicialmente
foram os funcionários.
Com o passar do tempo,
fomosagregandoestrutura
e agora temos um ambu-
latório antifumo, que faz
tratamentos com acom-
panhamento psicólogico
e clínico para qualquer
pessoa interessada em par-
ticipar. Pretendemos aten-
der a população, porém é
necessáriotreinarmosmais
funcionários e agregar-
mos uma infra-estrutura
ampla”.
As palestras realizadas
pelo Santa Marcelina são
abertas ao público e escla-
recem sobre os malefícios
que o cigarro causa ao
6. NOVEMBRO DE 2010 - PÁGINA 7
CULTURA
Duas décadas de cultura e cidadania
Com atividades variadas, Oficina Cultural Alfredo Volpi é referência em Itaquera
Hudson Miranda
Luiz Valente
No final dos anos 1980, Itaquera
ainda não possuía um polo ou centro
de referência de arte. Em agosto
de 1989, por iniciativa do governo
estadual, a comunidade foi contem-
plada com a inauguração da primeira
oficina cultural de bairro do Estado
de São Paulo. Batizada com o nome
do pintor modernista Alfredo Volpi,
a unidade vem cumprindo a inclusão
social e cultural com êxito, além de
incentivar o trabalho de artistas da
comunidade e entorno.
Quem confirma o sucesso é a
coordenadora Nancy Sueli Olandim
Mollo, 59 anos, que aponta que,
desde sua chegada à Oficina, há três
anos, seu maior desafio é atender a
quantidade de pessoas que procuram
as atividades. “Por ano, são em média
5 mil inscritos para uma demanda de
menos de 2 mil vagas”, enfatiza.
Nancytambémressaltaasatisfação
de trabalhar com a comunidade. Para
ela, que anteriormente atuava como
restauradoradeobrasdearte,restaurar
pessoas é melhor. “A arte é transfor-
madora”, completa. Conta, ainda, a
história de alunos que frequentam
o espaço desde o início. “Algumas
pessoas entraram aqui com 40 anos
e hoje, com 60, ainda participam dos
cursos. São diversas as faixas etárias,
temos crianças de 7 anos e idosos de
mais de 80”, fala, com orgulho.
O núcleo, que é referência na área
teatral, tem hoje uma grande procura
nas oficinas de dança. Do total de
inscritos, cerca de 48% buscam os
ritmos de samba rock, dança de salão,
dança do ventre e dança de rua.
Estudante no final da década de
1990 e hoje funcionária da Oficina,
Patrícia Vieira Campos, 32 anos, é
uma das pessoas que conseguiu en-
contrar seu objetivo profissional em
uma das atividades que a oficina ofe-
rece após participar de um workshop
O teatro sempre esteve presente
nos 20 anos da Oficina Cultural.
Diversos professores já passaram
Oportunidade para lecionar teatro
Hudson Miranda
Luiz Valente
Volpi em 2000 e 2004, promovido
pela própria unidade, premiando os
melhores grupos de teatro da região.
De volta à unidade em 2007,
já como professor, ministrou para
adultos a oficina Cenas da Vida Real.
Criada em agosto de 1989, a
Oficina Cultural Alfredo Volpi, loca-
lizada no centro de Itaquera, atende
a comunidade do bairro e região há
20 anos. Homens e mulheres, crianças
e idosos buscam as oficinas de artes
plásticas, teatro e dança para obter
mais conhecimento ou para se distrair.
Caroline Borges
Cinthia Colombo
Além de entreter, Oficina serve
como experiência de vida
DANÇA - O casal Antonio e Ilda não perde nenhuma aula
É o caso do casal Antonio Figueire-
do Moura, 65 anos, e Ilda Vicente,
62 anos, que, para evitar a rotina de
aposentados, pratica diversos cursos,
entre eles o de dança de salão. Para o
aposentado Antonio e sua esposa, a
dona de casa Ilda, a oficina foi uma
novidade. Apesar da idade que eles
têm, nunca haviam participado de
um grupo de atividades desse tipo,
como dança de salão e canto. SIMPATIA - Lima mostra sua pasta de trabalhos
No projeto, os atores encenavam suas
próprias histórias. Depois, em 2008,
montou dois musicais infantis com
a ajuda da musicista e amiga pessoal,
Cléo Lima.
Perguntado sobre um momen-
Cursos variados
atendem diversas
faixas etárias
A Oficina Cultural Alfredo
Volpi está localizada no bairro de
Itaquera, na rua Victório Santin,
206. Seu horário de funcionamen-
to vai de segunda à sexta-feira, das
13 às 22 horas, e aos sábados, das
10 às 18 horas.
Os cursos oferecidos no local
atendem a diversas faixas etárias,
desde crianças, a partir dos 7 anos,
até grupos da terceira idade. Suas
principais atividades são:
Oficinas de dança, capoeira,
dança de rua, dança do ventre e
dança de salão para diversos tipos
de faixa etária.
Cursos de teatro, como forma-
ção de atores, oficina Do avesso de
nariz vermelho o palhaço, oficina de
jogos teatrais e workshop de ma-
quiagem artística e caracterização.
Artes plásticas: técnicas de
pintura em relevo, iniciação à
pintura e workshop de pintura por
desconstrução.
Música: canto coral, oficina
de cavaquinho, percussão, violão
popular e viola caipira.
Alémdestes,háoficinadefoto-
grafia na rua, workshops de criação
de figurinos, criação de contos
de fadas e dramaturgia, criação e
desenvolvimento de blogs com
técnicasdeartemidiáticae workshop
de desenho aplicado à publicidade.
LOTAÇÃO - Oficina Cultural Alfredo Volpi recebe anualmente cerca de 5 mil inscrições para diversos cursos
sobre Nelson Rodrigues. “As oficinas
não têm o intuito de profissionalizar,
mais sim de incentivar a arte”, diz.
Formada em Educação Artística,
Patrícia conta que seu primeiro curso
na unidade foi o de Jornalismo, em
1998, com a jornalista Lilian Kalil.
Logo entrou para o curso de teatro
e, em seguida, tornou-se uma das
integrantes do grupo Pichaim. Em
seu currículo também há experiências
em escolas estaduais e núcleos educa-
cionais. Patrícia ressalta a importância
da oficina para a comunidade: “Todo
indivíduo tem de ter o mínimo direito
à cultura.”
Outro exemplo é a estudante de
Artes Cênicas, Graziele Silva Ferreira,
22 anos, que ao participar da oficina
de expressão corporal teve certeza de
seu desejo. “Eu participei da oficina
para ter certeza do que queria. E hoje
estudo para concretizar meu sonho
de ser atriz de teatro”, revela.
Hoje, a rede de oficinas culturais é
composta por 22 unidades espalhadas
portodooEstado.Agestãoéfeitapela
Secretaria Estadual da Cultura (SEC)e
a produção realizada pela Associação
Amigos das Oficinas Culturais do Es-
tado de São Paulo. Mais informações
pelo site www.assaoc.org.br.
Hudson
Miranda
Luiz
Valente
Hudson
Miranda
pela casa produzindo oficinas
e workshops e incentivando dis-
putados festivais.
Morador do bairro de Ar-
tur Alvim, o paulista Edson
Araújo Lima, 42 anos, que
possui grande experiência no
cenário teatral, conta que seu
primeiro contato com a oficina
foi no curso de cinema, com os
professores Marcos Brandão
e Rogério Pimenta, em 2000.
Lima, explica, com alegria,
sobre o momento em que criou
dentro da Oficina a Companhia
Clássica Vanguarda (Clavan) –
com o apoio do Projeto Ade-
mar Guerra e da Secretaria de
Cultura. “Foi muito bom, uma
felicidade muito grande, tinha
gente que vinha de Guaianases
até aqui (Itaquera) a pé para
poder participar”. Disputou
vários festivais, incluindo o Fest
to marcante na unidade, ele
recorda do momento quando
recebeu o convite para dar
aulas: “A primeira vez que me
chamaram para dar aula, rece-
bendo salário, num lugar que
você admira, que frequenta,
que gosta, foi muito gratifican-
te”. Ele enfatiza a importância
da coordenadora Nancy Mollo
para sua vinda. “A Nancy já
conhecia meu trabalho de
Pirituba e quando veio para a
Alfredo Volpi me fez o convi-
te”, agradece o professor.
Atualmente, comanda cer-
ca de 50 crianças na Oficina de
Teatro Dramaturgia de Tatiana
Belinky. Lima também faz
questão de reforçar seu profis-
sionalismo: “Sou um professor
de teatro, dou aula há mais de
20 anos. São 42 peças, 6 mil
alunos, muita coisa.”
7. TURISMO
CHEGADA - O trem estaciona na plataforma, em Mogi das Cruzes, e os turistas são recebidos por seus guias
Expresso Turístico: Mogi de portas abertas
PÁGINA 8 - NOVEMBRO DE 2010
Camila Miranda
Cayan Fontoura
Eram 8h30 quando o trem partiu
da estação da Luz, na região central de
São Paulo, com previsão de chegada
em Mogi das Cruzes às 10 horas. Pelas
caixas de som eram reproduzidas
informações sobrea história das estra-
das de ferro paulistas. A composição
é formada por apenas três vagões: o
primeiro é o maquinário e nos dois
últimosficamospassageiros.Otrajeto
inicial é feito nos trilhos da linha 12
da CPTM e, quando chega a Calmon
Viana, passa para a linha 11.
O interior do trem estava em bom
estado, as poltronas eram confortá-
veis, havia dois banheiros no fim do
vagão. A cada estação ou ponto con-
siderado histórico que passávamos,
era anunciado no rádio a história do
local e região ao redor. Mesmo assim,
durante a viagem não houve nada
de muito novo, isso talvez por conta
de ser o caminho normal do trem, e
algumas paisagens por onde os trens
metropolitanos passam não são mui-
to agradáveis.
Para compensar
as paisagens, havia
um grupo fechado
de idosos em nosso
vagão muito anima-
dos, e, além disso,
dois homens bem
trajados, com direito
a quepe e tudo mais, posavam para
fotos e animavam os passageiros.
Chegando a Mogi, fomos recep-
cionados pela agência de turismo, que
a partir dali seria responsável pelos
roteiros na cidade. Há três opções
de passeios dados pela agência: o
cultural, o das flores e o ecológico.
Segundo o guia que nos atendeu, Gi-
liard Ribeiro, ainda serão criadas em
breve mais duas opções de itinerário
pelo município. O mais procurado e
mais barato é o cultural.
Ribeiro ainda conversou um pou-
co com a gente sobre a importância
que teve a chegada do Expresso Tu-
rístico em Mogi. Ele nos contou que
houve uma parceria entre a agência
que ele trabalha e a Etec Presidente
GetúlioVargasparaageraçãodevagas
de estágio para os alunos que fazem o
curso técnico de tu-
rismo. Inclusive ele
próprio é estagiário
na agência. “Antes,
sábado e domingo
eram parados, por
que Mogi é conhe-
cida uma cidade de
Cayan
Fontoura
MARCO - O ponto zero da cidade, na praça Coronel Benedito Almeida
Tarifas do trecho Luz-Mogi das Cruzes – Pessoa física (50% de desconto
para até três acompanhantes).
1 pessoa – R$ 28,00
2 pessoas – R$ 42,00
3 pessoas – R$ 56,00
4 pessoas – R$ 70,00
Vagão inteiro – Vagão PI ou Vagão SI – R$ 1.500,00
Roteiros:
Rural – Circuito das Flores (ônibus, guia de turismo e seguro) – R$ 42,00.
Cultural (guia de turismo) – R$ 10,00.
Ecológico – Circuito Parque das Neblinas (ônibus, guia de turismo,
lanche para trilha e seguro) – R$ 66,00.
*Nenhum dos roteiros inclui almoço.
Mais detalhes sobre a cidade no site: www.mogidascruzes.sp.gov.br.
Mais detalhes sobre os roteiros no site: www.javatur.com.br.
Serviço
estudantes, três uni-
versidades, mas no
fim de semana a ci-
dade é morta. Ago-
ra, com o Expresso,
tem a visitação e o
comércioficaaberto
aosdomingos;antes
não ficava”, relata o estagiário.
O primeiro ponto do passeio é
logo em frente à estação, na Praça
Oswaldo Cruz, mais conhecida como
Praça do Relógio. No local acontece
a exposição de artesanato Feira Feita
à Mão. Somos deixados na feira para
podermos apreciar o artesanato local
e, se possível, levar alguns souvenires.
Acontecia também uma apresentação
de uma banda tocando músicas de
Tim Maia.
De frente com a praça fica a Ciar-
te (Centro de Cidadania e Arte), e lá
dentro havia uma exposição de qua-
dros de artistas locais no saguão de
entrada, mais no fundo há um teatro.
Esse mesmo prédio também abriga a
Secretaria de Cultura local. Na Ciarte
encontramos com o secretário muni-
cipal de Cultura de Mogi das Cruzes,
José Luiz Freire de
Almeida, que falou
um pouco da im-
portância da che-
gada do Expresso
Turístico na cidade.
“Essa questão do
turismo em Mogi
ainda é meio novo. Nunca houve uma
atenção do poder público para fazer
uma divulgação, uma exploração dos
diversos pontos turísticos que nós
temos aqui em Mogi e tão perto da
capital”, resumiu.
O secretário também tratou da
importância dos pontos visitados nos
Camila
Oliveira
Camila
Oliveira
Conheça como funciona o passeio da CPTM, desde a saída, na Luz, até a chegada, no interior de São Paulo
“Ás vezes, não paramos
para prestar atenção
nas coisas que estão bem
debaixo dos nossos olhos”
Wellington Félix
“Agora, com o
Expresso, tem a visitação
e o comércio fica aberto
aos domingos”
Giliard Ribeiro
roteiros oferecidos no
Expresso,comooParque
da Neblina e o bairro do
Itapety, onde há a maior
produção brasileira de
orquídeas. Ele ressalvou
que Mogi possui alguns
artistas importantes, in-
clusive um deles, Nerval
Rodrigues, fará uma ex-
posição nos EUA.
Além disso, o se-
cretário falou de alguns
movimentos populares
que ocorrem na cidade.
“Esses dias nós fizemos
uma manifestação mui-
to interessante. Temos
sete grupos de congada
de Moçambique; nós
fizemos a coroação do
rei Congo. Invadimos a
cidade com essa manifes-
tação, mais popular. Em
breve, teremos também o
SaciInvadeaPraçaeaSe-
mana Monteiro Lobato”,
descreveu o secretário.
Uma hora mais tarde,
na praça, o grupo se
reuniu novamente e começamos a
caminhar até os pontos históricos de
Mogi.Oprimeiroespaçoaservisitado
foi o Largo do Rosário, onde ficava a
Igreja do Rosário, demolida há quase
40anos.Nolocal,osguiasnoscontam
um pouco da história de como surgiu
a cidade de Mogi das Cruzes.
Delá,fomosatéoMercadoMuni-
cipal,queestavafechado,poisocentro
dacidadeestavasemenergiaporconta
de uma manutenção na rede elétrica.
Os guias só nos levaram lá para que,
pelo menos, soubéssemos de sua
existência e nos contaram um pouco
de sua importância histórica. Demos
sequência ao passeio indo até a Praça
Coronel Benedito Almeida. Lá, ficam
a Escola Estadual Coronel Almeida,
o obelisco considerado marco zero
de Mogi e a Catedral de Sant’nna, pa-
droeira da cidade. Ouvimos mais um
pouco de história antes de caminhar-
mos até o Museu Professora Guiomar
Franco, próximo dali. Depois da visita
aomuseu,fomosalmoçar;osguiasnos
deixaramemumrestaurante,
onde teríamos uma hora
para a refeição.
Após o almoço, fomos
ao Complexo Histórico das
Igrejas do Carmo, conside-
rado um dos pontos mais
importantes do passeio. A
Igreja da Ordem Terceira
possui notável retábulo em
madeira entalhada, no estilo
Barroco-Rococó, com o
forro da nave possuindo
primorosas pinturas ilusio-
nistas no estilo das igrejas
barrocas-mineiras. Maravi-
lhosa também é a pintura
do forro da sacristia, de
estilo apurado, com deta-
lhes de influência asiática.
Além disso, lá é apresentado
aos turistas um importante
acervo de imagens em vá-
rios estilos artísticos.
Depois do Complexo
do Carmo, o último ponto
importante que visitamos
foi o Centro de Cultura e
Memória Expedicionários
Mogianos, construído em home-
nagem aos pracinhas; já que foi de
Mogi que saiu o maior contingente
de expedicionários do Brasil.
Às 16h30 já havíamos embarcado
novamente e às 18 horas estávamos
de volta à estação da Luz.
No desembarque, conversamos
com um grupo de ami-
gos que fizeram o pas-
seio juntos para saber
como foi a experiência
de conhecer Mogi das
Cruzes. Wellington Fé-
lix, 20 anos, disse que
já tinha ido a Mogi em
outras oportunidades,
mas nunca havia ob-
servado a cidade do
ponto de vista daque-
le dia. “Ás vezes, não
paramos para prestar
atenção nas coisas que
estão bem debaixo dos
nossos olhos”, alertou.
Já seu colega, Rena-
to Teles, 20 anos, que
é morador de Osas-
co, explicou que o que
mais o impressionou é
que o passeio foi mui-
to gostoso e tem um
preço bem acessível.
“Adorei. Da próxima
vez volto para fazer o
roteiro para Jundiaí”,
prometeu o estudante.
HISTÓRIA - Beco do Sapo, um dos pontos turísticos