SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Neurose e psicose Psicologia Arquetípica Ajax Salvador
Entradax
Alex Cunha Ribeiro <alexr@cpqd.com.br>
16 de mai
para mim
1
HOME CURSOS ARTIGOS CALENDÁRIO NOTÍCIAS LIVROS VÍDEOS
REIMAGINANDO NEUROSE E PSICOSE
Reimaginando
Estes dois termos carregam várias histórias sendo o termo psicose se diferenciava de neurose por
indicar grave comprometimento no funcionamento social e pessoal com perda ou
comprometimento no teste de realidade, delírios, alucinações etc. O significado tradicional do
termo "psicótico" salientasse a perda do teste de realidade e comprometimento do funcionamento
mental –manifestados por delírios, alucinações, confusão e comprometimento da memória –, dois
outros significados desenvolveram-se, nos últimos 50 anos. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 Psicose
segue sendo relacionada com regressão egóica o que teria levado a sua perda de precisão na
prática clínica e nas pesquisas. Em conseqüência desses múltiplos significados, o termo perdeu sua
precisão na prática clínica e nas pesquisas atuais. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 A Associação Norte-
Americana de Psiquiatria usa psicótico como comprometimento do teste de realidade. De acordo
com o glossário da Associação Norte-Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association), o
termo "psicótico" refere-se a um amplo comprometimento do teste de realidade. Pode ser utilizado
para descrever o comportamento de um individuo em determinado momento, ou um transtorno
mental no qual. em algum momento durante seu curso, todos os indivíduos com o transtorno
apresentam um teste de realidade amplamente prejudicado. Quando o teste de realidade
encontra-se bastante comprometido, o individuo avalia incorretamente a acuidade de suas
percepções e pensamentos e realiza inferências incorretas acerca da realidade externa, mesmo em
face de evidências contrárias. O termo "psicótico" não se aplica a distorções menores da realidade
que envolvam temas de juízo relativo. Por exemplo, uma pessoa deprimida que subestima suas
conquis¬tas não é descrita como psicótica, enquanto aquela que acredita ter causado uma
catástrofe natural o é. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 Neurose é descrito como um transtorno crônico
ou recorrente, ligado à sintomas com angustia inaceitável, estranho (ego-distônico); Ansiedade
expressa sintomas como: obsessão, compulsão, fobia, disfunção sexual etc. Não-psicótico ou seja
com teste de realidade intacto. O termo "neurose" não é usado no DSMIV (Manual Diagnóstico e
Estatístico da Associação NorteAmericana de Psiquiatria) No DSM III Neurose aparecia como: Um
transtorno mental no qual a perturbação predominante á um sintoma ou grupo de sintomas que
angustiam o indivíduo e que ele reconhece como inaceitável e estranho (ego-distônico); o teste de
realidade permanece globalmente intacto. 0 comportamento não viola ativamente as principais
normas sociais (embora possa ser bastante incapacitante). A perturbação e relativamente
persistente ou recorrente sem tratamento e não se limita a uma reação transitória aos estressores.
Não existe uma etiologia ou fator orgânico demonstrável. (Kaplan, et al., 2003)pg. 313 No CID X
(Classificação Internacional das Doenças) procura-se não seguir a dicotomia neurótico-psicótico.
Faz-se isto para evitar o envolvimento de pressupostos acerca de mecanismos psicodinâmicos. O
termo psicose é usado apenas para indicar a presença de alucinações, delírios ou de um número
limitado de várias anormalidades de comportamento Adivisão tradicional entre neurose e psicose
que era evidente na CID-9 (ainda que deliberadamente deixada sem qualquertentativa de definir
esses conceitos)nãotem sidousada na CID-10. Contudo, otermo "neurótico"ainda é mantidopara
usoocasionale é encontrado, por exemplo, notítulode um grupomaior oubloco de transtornos,
F40— F48, "Transtornos neuróticos, relacionados aoestresse e somatoformes". Exceto pela neurose
depressiva, a maioria dos transtornos considerados como neuroses por aqueles que usam
oconceito são encontrados nesse blocoe os restantes estão nos blocos subseqüentes.Ao invés de
seguira dicotomia neurótico-psicótico, os transtornos sãoagora arranjados em grupos de acordo
com osprincipais temas comuns ousemelhanças descritivas, o que dá ao uso uma conveniência
crescente. Por exemplo, Ciclotimia (F34.0)está no blocoF30 —F39, Transtornos dohumor (afetivos),
ao invés de em F60- F69, Transtornos depersonalidade e de comportamentoem adultos;
similarmente, todos os transtornos associados aouso de substâncias psicoativassãoagrupados em
F10-F19, seja qualforsua gravidade. "Psicótico" foi mantido como um termo descritivoconveniente,
particularmente em F23, Transtornos psicóticos agudos e transitórios. Seuusonão envolve
pressupostos acerca de mecanismos psicodinâmicos, porém simplesmente indica a presença de
alucinações, delírios ou de um númerolimitadode várias anormalidades de comportamento, tais
comoexcitaçãoe hiperatividade grosseiras, retardo psicomotor marcante e
comportamentocatatônico. (CID-10OMS, 1993)pg.3 Segue um trajeto de como estas noções
aparecem em textos de Jung e na psicologia arquetípica. Propõe-se um exercício de reimaginar a
descrição da idéia de psicose através da descrição da esquizofrenia no CID X.
Jung apresenta, desde os seus primeiros textos, uma tensão importante entre as linhas de
pensamento que procuram explicar os sintomas da psicopatologia a partir de produto ilógico das
células de uma máquina cerebral em desordem e as dinâmicas psicológicas que são construídas por
processos de associação seguindo complexos. Estes teriam força de atração poderosa como imãs
sobre os conteúdos coagulados, organizando-os em padrões.
Os hábitos seriam formados pela repetição de ações em associação e este conjunto complexo
forçaria o sujeito a determinadas ações. Muitas vezes nos vemos forçados a determinadas ações
por um afeto que, no início, sofre grandes inibições e depois de várias repetições a reação se dá
prontamente a partir de um pequeno impulso, devido à diminuição da inibição. (Jung, 1999) Pg.80
Os hábitos adquiridos nos processos de socialização produziriam marcas, traços unificados em
complexos. Estes tenderiam a funcionar de forma autônoma e a conduzir os sujeitos em
determinadas ações. Assim “A forte tonalidade afetiva cria um caminho, o que reafirma (...) cada
complexo possui uma tendência para a autonomia” (Jung, 1999).
Possibilita com isto superar a divisão entre psique e cérebro indicando que os hábitos, na
socialização, instalam processos psicológicos de automatização e autonomização de complexos na
vida e no cérebro.
Todos os processos psíquicos são correlatos de processos celulares (como admite a concepção
materialista e também o paralelismo psicofísico). Portanto, nada de extraordinário que também os
processos psíquicos da catatonia sejam correlatos de uma série física. Sabemos que a série psíquica
normal se desenvolve sob a constante influência de inúmeras constelações psicológicas que, via de
regra, não nos são conscientes. (Jung, 1999)pg.3 Jung afirma o complexo como resultado de
processos associativos por analogia e semelhança que agem na psique. Chega a afirmar que “o
complexo é uma unidade psíquica” (Jung, 1999). Não haveria algo que pudesse ser unitário, isolado
e fora da psique: Todo acontecimento afetivo torna-se um complexo. Se o acontecimento não
estiver relacionado a um complexo já existente, possuindo assim um significado momentâneo, ele
submerge (...) até o momento em que uma impressão semelhante a reproduza novamente. (Jung,
1999) Pg.58 Os complexos são múltiplos e entre eles Jung destaca o Complexo do Ego; seria um
complexo formado pela percepção geral do corpo, existência e pelos registros da memória.
Considera-o como complexo de fatos psíquicos. Porém refere que : “o ego é um aglomerado de
conteúdos altamente dotados de energia e, assim, quase não há diferença ao falarmos de
complexos e do complexo do ego.” (Jung, 1983) pg.67.
Os complexos poderiam interferir e realizar processos de invasão na consciência; estes não seriam
de forma alguma patológicos, a não ser no sentido do “pathos”, quando patologia significava a
ciência das paixões. Seriam momentos em que a pessoa fica subitamente alterada, tomada por
algo; como se perdesse a cabeça. Historicamente isto era atribuído a um demônio, a um encosto ou
a um "espírito" que tomou o indivíduo. Emoções dominadoras podem ser indesejáveis para o
complexo do Ego, mas não seriam em si patológicas.
Ele diz que se as invasões tornam-se habituais conduzem a Neurose. “A idéia de dissociação
psíquica é a maneira mais segura com que consigo definir uma neurose.” (Jung, 1983) pg.156 A
dissociação da personalidade se daria devido à existência de complexos incompatíveis, que por
estar em posição por demais contrária a parte consciente, separam-se. Qualquer incompatibilidade
poderia causar uma dissociação. Os complexos teriam o centro do poder na condição
esquizofrênica e se emancipariam em relação ao controle consciente a ponto de tornarem-se
visíveis e audíveis como visões ou vozes. os complexos têm um certo poder, uma espécie de ego; na
condição esquizofrênica eles se emancipam em relação ao controle consciente, a ponto de
tornarem-se visíveis e audíveis. Aparecem em visões, falam através de vozes que se assemelham às
de pessoas definidas. (Jung, 1983)pg.67 Jung associa a Psicose esquizofrênica a uma falta de
separação e distinção entre sujeito e objeto que deveria ter ocorrido no processo de individuação.
A separação e distinção da mãe, a "individuação" produz o confronto de sujeito e objeto, o
fundamento do consciente. Antes era a unidade com a mãe, isto é, com o universo.(...) Este
processo não parece ser muito raro na psicose. Um jovem operário adoeceu de esquizofrenia. Em
suas primeiras sensações doentias ele percebia uma relação especial com o Sol e com os astros. As
estrelas se lhe tornaram significativas, ele pensava que tinham alguma coisa a ver com ele, e o Sol
lhe insuflava idéias. Nesta doença encontra-se às vezes esta percepção aparentemente nova da
natureza. Outro paciente começou a entender a linguagem dos pássaros, que lhe traziam
mensagens da amada (Jung, 2008) pg.388 Jung associa que os contrastes aparentes num surto
“encontram-se intimamente relacionadas com lacunas na personalidade do paciente.” (Jung,
1999)pg. 152 ; estas seriam sentidas como falta. Suscita pensar numa função compensatória “Quem
jamais sentiu a necessidade de compensar a aridez da vida de trabalho com a fruição da arte
poética?” (Jung, 1999)pg. 152. Mas indica a solução doente como renuncia temporária do
problema. A distância psicológica que separa o poeta do doente mental é bem grande. O mundo
dopoeta é o mundo dos problemas resolvidos. A realidade é o mundo dos problemas não
resolvidos. O doente mental é o reflexo fiel desta realidade. Sua soluções são insatisfatórias e a sua
cura, uma renuncia temporária ao problema. Este permanece ativo e sem solução no inconsciente,
emergindo, em determindo momento, para criar ilusões num outro cenário. Como senhores bem
podem ver, isso é um fragmento da história da humanidade. (Jung, 1999)pg. 154 Há momentos em
que descreve que na psicose, como a esquizofrenia, o Ego se desintegraria, toda ordem de valores
desapareceria e as coisas não mais poderiam ser reproduzidas voluntariamente. O centro teria se
esfacelado e algumas partes da psique passariam a referir-se a um fragmento do ego, enquanto
outras partes se ligarão a outros fragmentos O Ego (...) é um dado complexo formado
primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de
nossa memória. Todos temos uma certa idéia de já termos existido, de nossa vida em épocas
passadas; todos acumulamos uma série de recordações. Esses dois fatores são os principais
componentes do ego. O que nos possibilita considerá-lo como complexo de fatos psíquicos. A força
de atração desse complexo é poderosa como um imã: ele atrai os conteúdos do inconsciente,(...).
Ele também chama a si impressões do exterior (...) É sempre o centro de nossas atenções e de
nossos desejos, sendo cerne indispensável da consciência. Se ele se desintegra, como na
esquizofrenia, toda ordem de valores desaparece e as coisas não mais podem ser reproduzidas
voluntariamente; O centro se esfacelou e algumas partes da psique passarão a referir-se a um
fragmento do ego, enquanto outras partes se ligarão a outros fragmentos. (Jung, 1983) Pg. 7 Na
psicose haveria a perda da unificação numa totalidade e a personalidade ficaria fragmentada. Na
histeria as personalidades dissociadas ainda permanecem numa espécie de inter-relação, o que
sempre oferece a imagem de uma personalidade total; sendo ainda possível estabelecer um
relacionamento com a pessoa, podemos sentir uma reação dos seus sentimentos. Há apenas a
divisão superficial de alguns compartimentos da memória, mas a personalidade básica está sempre
presente. Na esquizofrenia não acontece a mesma coisa, há apenas fragmentos, sendo impossível
estabelecer a totalidade. Eis porque, se tivermos uma pessoa que vimos sã pela última vez e que,
de repente, enlouqueceu, levamos um choque tremendo ao confrontarmos com a personalidade
fragmentária, partida. Pode-se manipular apenas um fragmento de cada vez, como um caco de
vidro. Não há um contínuo na personalidade, enquanto que, em um caso histérico, pensamos: Ah,
se eu pudesse apagar esse tipo de obscuridade, de sonambulismo, aí surgiria a soma total do
indivíduo. Na esquizofrenia a dissociação é profunda. Os fragmentos jamais se juntam. (Jung,
1983)pg.93
No entanto Jung afirma, em outro momento, que a unidade da consciência é uma mera ilusão; um
sonho de desejo. Que gostamos de pensar que somos unificados, mas isso não acontece nem nunca
aconteceu. Tudo isso se explica pelo fato de a chamada unidade da consciência ser mera ilusão. É
realmente um sonho de desejo. Gostamos de pensar que somos unificados; mas isso não acontece
nem nunca aconteceu. Realmente não somos senhores dentro de nossa própria casa. E agradável
pensar no poder de nossa vontade, em nossa energia e no que podemos fazer. Mas na hora H
descobrimos que podemos fazê-lo até certo ponto, porque somos atrapalhados por esses pequenos
demônios, os complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de movimento
próprio, de viverem sua vida independentemente de nossa intenção. (Jung, 1983) pg. 67 Que seria
impossível a tarefa de unir todos os elementos incompatíveis. Pois o ego pode apenas identificar-se
com uma parte de cada vez. (o doente) tenta ajuntar todos os elementos dispersos no vaso, que é
destinado a ser receptáculo de todo o ser, de todos os elementos incompatíveis. Se tentasse uni-
los, em seu ego, seria uma tarefa impossível, pois o ego pode apenas identificar-se com uma parte
de cada vez. (Jung, 1983) pg. 165 Diz que é a atividade objetivante da consciência que inibe a
explicitação do complexo. Que só apareceria de forma metafórica.
A possibilidade de o complexo vir a se explicitar é inibida pela atividade objetivante da consciência.
O complexo apenas se fará notar de maneira obscura como acontece nos automatismos melódicos
que , em geral, trazem os pensamentos do complexo de forma metafórica. (Jung, 1999) Pg.47
Quando o complexo se fixa, não se modifica de forma alguma, intoxicaria e compromenteria as
funções psíquicas aparecendo como uma psicose. Devemos postular, no caso da dementia praecox,
uma manifestação específica do afeto (toxina?) que aciona definitivamente a fixação do complexo,
comprometendo o conjunto das funções psíquicas. (Jung, 1999)Pg.30 Se o complexo não se
modifica de forma alguma, o que naturalmente só é possível em grave detrimento do complexo do
eu e de suas funções, então devemos falar de uma dementia praecox. (Jung, 1999)Pg 59 Para Jung
quando há o domínio permanente de um complexo insuperável o sujeito estará morto para o meio
ambiente pois seu interesse estaria exclusivamente no complexo
A todo indivíduo normal interessa libertar-se de um complexo obsessivo que impede o
desenvolvimento adequado da personalidade (a adaptação ao meio ambiente). (Jung, 1999)Pg 58
O ego é um aglomerado de conteúdos altamente dotados de energia e, assim, quase não ha
diferença ao falarmos de complexos e do complexo do ego. (Jung, 1983)pg.67 Porém a cisão seria
efeito da revolta e combate do estilo predominante na consciência (“personalidade consciente”)
contra uma manifestação de formações diversas. Seria a oposição e combate as reivindicações,
ampliariam a cisão. Quanto mais se alarga a brecha entre consciente e inconsciente, tanto mais
iminente a cisão da personalidade, que no indivíduo com tendência neurótica leva à neurose,
naquele com predisposição psicótica leva à esquizofrenia, à desintegração da personalidade.
Normalmente os impulsos do inconsciente são realizados inconscientemente (...) quando o
respectivo conteúdo espiritual não é levado em consideração, mas mesmo assim se insinua
inconscientemente na vida intelectual consciente (Jung, 2008) pg. 425 As manifestações se dirigem
não apenas aos pontos fracos do estilo preponderante na consciência, mas às virtudes principais, a
função diferenciada e mesmo aos ideais. Em geral a personalidade consciente se revolta contra a
manifestação do inconsciente e combate suas reivindicações que, como se percebe nitidamente,
não se dirige apenas aos pontos fracos do caráter masculino, mas ameaça também a "virtude
principal" (a "função diferenciada" e o ideal). (Jung, 2008) pg.293 A loucura não apareceria
separada do psiquismo “normal”; ela adquire um sentido; “é uma pessoa que sofre dos mesmos
problemas humanos que nós (...)”. Reconhece-se na doença uma reação inusitada a questões que
se apresentam em todos nós. Quando, porém, penetramos nos segredos do doente, percebemos
que a loucura possui seu sistema próprio (a loucura revela seu sistema), e passamos a reconhecer
na doença mental apenas a reação inusitada a problemas emocionais que pertencem a todos nós.
(Jung, 1999) pg. 149 Jung problematiza as idéias que tentam propor para psicose (demência
praecox) dinamismos ou psicologias diferentes do restante quer seja neurose histérica quer seja do
chamado normal. sabemos bem pouco sobre a psicologia das pessoas normais e dos histéricos para
pressupormos, numa doença tão obscura como a dementia praecox, mecanismos novos e
desconhecidos das demais psicologias. (Jung, 1999) Pg. 15/16 Em “Psicogênese das Doenças
Mentais” há uma forte problematização perguntando se os conteúdos que aparecem no “doente”
com afetos violentos não seriam incongruente apenas para nós, que conhecemos
insuficientemente sua psique, mas também para o sentimento subjetivo do doente?
Jung afirma que os sintomas, “"idéias patológicas" desempenham, freqüentemente, um papel
fundamental” (Jung, 1999); que “O distúrbio súbito da associação pela irrupção de um
encadeamento estranho de idéias também ocorre em pessoas normais”(Jung, 1999). “a associação
incoerente ou "idéia patológica" talvez se relacione com um fenômeno psicológico mais geral”
(Jung, 1999). Que “a experiência de associação nos mostra que esses fenômenos (bloqueio que
parece involuntário; "amnésia", justamente na histeria, pois apenas um passo separa a amnésia do
não-querer-falar.) ocorrem também em pessoas normais” (Jung, 1999).
Assim, é possível pensar que, geralmente, as excitações permanecem incompreensíveis para nós, já
que não percebemos suas causas associativas. Isso se passa inclusive conosco: ficamos durante
certo tempo mal humorados e, até, inconvenientes e não temos consciência da causa. Damos as
respostas mais simples num tom ríspido e fora do normal, etc. Se a própria pessoa normal nem
sempre é capaz de elucidar a causa de seu mau humor, muito menos nós conseguiremos isso em
relação à psique de um demente precoce! (...) Embora no quadro clínico a incongruência seja um
dado bastante freqüente, ela não ocorre apenas na dementia praecox. Na histeria, a incongruência
é, do mesmo modo, algo corriqueiro; (...) A psicanálise, no entanto, descobre os motivos e agora
começamos a compreender por que os doentes assim reagem. (...) Sabendo que a incongruência
também aparece na histeria, será necessário pressupor um mecanismo totalmente novo na
dementia praecox? (Jung, 1999)Pg. 15
Embora Jung diga que a psicose aparece como a invasão de complexos, é com a assimilação destes
que há a proteção contra o isolamento e a psicose. Aponta para a questão da cisão diante da
porção incompreensível e irracional. Afirma a necessidade de formas de expressão coletivas e por
isso não basta, no auxílio profissional, a orientação exclusivamente pessoal. Ao mesmo tempo, a
assimilação do inconsciente protege contra o perigoso isolamento que sente todo aquele que se vê
frente a frente com uma porção incompreensível, irracional, de sua personalidade. Pois o
isolamento leva ao pânico, e com isto tão freqüentemente começa a psicose (...) Quanto mais se
alarga a brecha entre consciente e inconsciente, tanto mais iminente a cisão da personalidade e
aliás sob muitos disfarces. (...) Em geral é necessário o auxílio profissional para sustar uma tal cisão.
(...) visando formar o seu consciente de tal forma que pudesse compreender os conteúdos do
inconsciente coletivo. (...) As relações arquetípicas dos produtos do inconsciente só podem ser
compreendidas com o auxílio das "representations collectives" (LÉVY-BRUHL), (...). De modo algum
basta para isto uma psicologia de orientação exclusivamente pessoal. (Jung, 2008) pg. 425/426 A
questão da cisão estaria intimamente relacionada não apenas a luta, combate, mas ao desagrado e
paralisação da energia psíquica que estava fluindo seguindo um determinado padrão complexo
constelado. Haveriam aspectos desagradáveis na paralisação da energia psíquica. Isto apareceria à
consciência como indesejável, desagradável ou mesmo catástrofe que esta tentaria evitar. “a
paralisia da energia progressiva de fato tem aspectos desagradáveis. Ela aparece como coincidência
indesejável ou mesmo como catástrofe, que naturalmente se deseja evitar.” (Jung, 2008) pg.293 No
entanto, Jung afirma que entende por sujeito todos os estímulos, sentimentos, pensamentos, e
sensações vagos e obscuros que perturbam e criam obstáculos à continuidade da vivência
consciente do objeto. Entendo por sujeito, convêm dizer desde já, todos aqueles estímulos,
sentimentos, pensamentos, e sensações vagos e obscuros que não é possível demonstrar que
promânem da continuidade da vivência consciente do objeto, mas que pelo contrário, surgem
como perturbação e obstáculo, (...) (Jung, 1981)Pg.478 Poderia ser dito que o sujeito aparece como
o que resiste a continuidade do que a consciência objetificou com unidade? Se for assim o sujeito
apareceria como algo que interrompe a energia progressiva e agradável? Tanto que indica que as
invasões e dissociações, características da “doença neurótica” seriam um fator favorável, uma
tentativa de auto-cura. (...) é uma tentativa de auto-cura, (...) Não se pode mais entender a doença
como um ens per se, como uma coisa desenraizada, como há algum tempo atrás se julgava que
fosse. (Jung, 1983) pg.156 Portanto o favorável não é o que parece agradável e favorecendo o fluxo
de energia no complexo do Ego, mas o que interrompe ou paralisa um determinado funcionamento
automatizado de forma complexa. É na loucura que se pode descobrir um sentido no sem-sentido.
A loucura revela novos sentidos, outras organizações complexas A série de acontecimentos
aparentemente tão absurdos, as "loucuras", adquire, de repente, um sentido; descobrimos um
sentido no sem-sentido, conquistando, assim, uma aproximação mais humana do doente mental.
Ele é uma pessoa que sofre dos mesmos problemas humanos que nós (Jung, 1999) pg. 149
É interessante que, Jung indica que a esquizofrenia estaria relacionada com o individualismo. “o
distúrbio mental conhecido pelo individualismo e pela originalidade de seus produtos.” (Jung, 2008)
Pg. 131 Retomando a noção de “Doença” em Jung e na psicologia arquetípica.
A Doença para Jung não pode ser vista como coisa em si, como algo separável ou isolado, como
uma coisa que estivesse em algum lugar (na pessoa, nas células, no cérebro etc.) uma vez que a
unidade da psique não é um átomo ou uma unidade em abstração como no sentido da matemática.
A unidade aparece como um complexo de relações e a doença também e portanto não pode ser
um “ente em si”. “o médico não deve jamais perder de vista o seguinte: as doenças são processos
normais perturbados e nunca “entia per si”, dotados uma psicologia autônoma.” (Jung, 1983) pg. 2
O que indicaria a doença seriam as situações onde ocorre a fixação de um complexo, quando ele
não se modifica de forma alguma, quando há o dominio permanente de um complexo insuperável
etc. Jung nos diz que somos sempre conduzidos de alguma forma, por algum complexo, em
inúmeras constelações ! a série psíquica normal se desenvolve sob a constante influência de
inúmeras constelações psicológicas que, via de regra, não nos são conscientes. (Jung, 1999) Pg.3 A
constelação dos eventos se organizaria seguindo estilos de consciência, fantasias dominantes,
estilos imaginativos de discurso que funcionam como padrões Arquetípicos. Estes são melhor
comparáveis aos deuses gregos. As formas de viver, pensar, de sentir etc. seriam, então, alegorias
destes estilos e não o contrário! Seria o que organiza os eventos em constelações.
Patrícia Berry em conferência realizada em São Paulo em 2009 refere que Jung designava deus
como tudo que cruza o caminho, perturba, muda o curso da vida. “todas as coisas que cruzam o
meu caminho de forma inesperada, violenta, tudo que perturba minhas visões subjetivas, meus
planos e minhas intenções e mudam o curso da minha vida para melhor ou pior” Jung por Berry Se
os deuses aparecem como o que conduz, faz sofrer, rir, chorar, pensar, interrompe e limita o
caminho do ego, então: “Os deuses tornaram-se doenças”. (Jung, 2003) §54
Não está se dizendo que os sintomas ou os desconfortos levariam o sujeito a corrigir “seu” caminho
ou buscar a divindade interna ou externa; que haveria “um” caminho próprio do sujeito e outros
desviantes ou doentes e que os sintomas levariam a correção do caminho torto em busca de “um”
caminho natural, espontâneo, verdadeiro etc. Não!
Os padrões arquetípicos (deuses), como a psique, alma ou vida, estão em nós e nós estamos neles,
ao mesmo tempo. Eles atravessam, conduzem e constituem a todos nós. “Alma ou Psique que não
apenas está em nós, como uma série de dinamismo, mas também nós estamos nela.” (Hillman,
1975)pg.134
Só pensaria que age livremente quem não pensa no que o leva a agir. Na dimensão da ação, do
julgamento, da conduta, não se trataria nunca de um indivíduo que age, julga, se comporta, mas
tratar-se-ia de algo que o leva a agir julgar e se comportar.
Na psicologia arquetípica, James Hillman em “Revendo a Psicologia” (Hillman, 1975) nos contra-
educa, instabiliza os pontos de sustentação do pensar habitual propondo que nunca
verdadeiramente temos idéias! Elas é que nos têm, suportam, contêm e nos governam. As Idéias
como formas de olhar.
Os padrões arquetípicos (deuses), seriam infinitudes verdadeiras; melhor comparados aos deuses
gregos que atravessavam a tudo como infinitos sem bordas, sem começo ou fim. Estes não são
seres que protegem ou castigam; são padrões que buscam coagular, organizar, conduzir na máxima
intensidade, a partir de valores específicos de cada configuração.
“Quando a vida se inflamava, no desejo ou no sofrimento, ou mesmo na reflexão, os heróis
homéricos sabiam que ali havia um deus em ação ...”. (Calasso, 1996) pg.68 Configura-se para
Hillman uma “Doença” nas situações em que só se tem altar para um único deus! Ou em toda
forma de fundamentalismo. Diz também que a “patologia é a maneira mais palpável de
testemunhar os poderes que estão além do controle do ego” e que “é através dos ferimentos na
vida humana que os deuses entram” (Hillman, 1975) Os complexos patológicos mostrariam a
organizações de eventos em constelações a partir de padrões arquetípicos diferentes do que está,
no momento, controlando como se fosse o melhor e mais saudável.
Os sujeitos investem em diferentes intensidades nas expectativas de seguir valores ligados à
realização de uma vida bem sucedida. Constituem o complexo do Ego, no processo de socialização,
construindo identidades socialmente reconhecidas, internalizam com isto padrões que podem ser
utilizados, normativamente, sobre os sujeitos, a psique e a vida.
Sofrer-se-ia por não poder tomar distância das normas que obrigam a realizar certos valores, certas
expectativas, que, para o sujeito, parecem totalmente ligadas à realização de uma vida bem
sucedida. Os complexos “patológicos” exprimiriam outras normas de vida possíveis, que teriam
organizado os eventos em constelações de forma diversa, a partir de diferentes estilos de
consciência, fantasias dominantes, estilos imaginativos de discurso. As categorias Psicopatológicas
seriam como vasos para aglutinar exprimir outras normas de vida. Seriam padrões arquetípicos ou
normas organizadas histórica e socialmente, diferentes do que está, no momento, controlando
como se fosse o melhor e mais saudável. Validariam muitas formas outras de viver, pensar, de
sentir, valorar; dariam legitimidade às transformações nas formas de constituir famílias, tribos,
redes sociais, realizar trocas, trabalhar, morar etc.
O patológico não seria a ausência de norma, mas uma norma diversa, porém repelida pela instância
que está, naquele momento, dominando a vida.
Podem-se traçar semelhanças profundas entre esta forma de pensar e as idéias de George
Canguilhem no texto “O Normal e o Patológico” (Canguilhem, 2000) quando afirma que doença
acontece quando só se pode admitir uma única norma, não se pode ultrapassá-la, infringir a norma
habitual e constituir normas novas. “o doente é doente por só poder admitir uma norma. O doente
não é anormal por ausência de norma, e sim por incapacidade de ser normativo.” (Canguilhem,
2000) pg. 149 “o que caracteriza a saúde é a possibilidade de ultrapassar a norma que define o
normal momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual e de instituir normas
novas em situações novas” (Canguilhem, 2000) pg.160 Ou seja, se está doente quando se está
totalmente absorvido pelo meio; mas o meio não está do lado de fora. O meio se duplicou. Ele
exerce seus efeitos nas idéias e valores que orientam a sociedade e não só dirigem, mas constituem
a identidade do Eu nas pessoas.
As normas poderiam estar internalizadas por elos de associação abstratos. Jung fala de “unidade
funcional” no texto sobre “o complexo de tonalidade afetiva e seus efeitos gerais sobre a psique”;
ali descreve, num exemplo, que ao encontrar na rua um velho amigo: “em meu cérebro, surge uma
imagem, uma unidade funcional” (Jung, 1999). Estas unidades construídas por abstração de alguns
elementos presentes em determinados acontecimentos seriam transformadas em sistemas
complexos, tanto em traços arquivados em conexões neuronais, chamados de memória, como em
experiências históricas sedimentadas nos processos mais elementares, modos de vida, valores
sociais, condutas etc. que se atualizariam em todos os indivíduos.
Assim unidades abstratas que aparecem, tanto em valores sociais, como em traços neuronais,
determinam de antemão as possibilidades de reação e organizam sistemas que fornecem o padrão
e a transgressão (a regra anunciada e as alternativas ao padrão) ligando estes a disposições de
conduta independentes das crenças que se tenha e do que está acontecendo no presente vivo.
Poderiam estas unidades abstratas serem imaginadas como princípios de incerteza, “padrões mais
profundos do funcionamento psíquico, as raízes da alma que governam as perspectivas que temos
de nós mesmos e do mundo.” (Hillman, 1975) e então pode-se aproximá-las da noção daquilo que é
chamado de padrão arquetípico?
Padrões arquetípicos que se apresentariam tanto nas relações no mundo como internalizados em
automatismos cerebrais com autonomia. Interessa tomar distância, libertar-se destes complexos
obsessivos, como diria Jung. A todo indivíduo normal interessa libertar-se de um complexo
obsessivo que impede o desenvolvimento adequado da personalidade (a adaptação ao meio
ambiente). (Jung, 1999)Pg 58 A loucura desvelaria o momento em que “o outro” de um estilo de
racionalidade dominante não pode ser escutado, compreendido e acolhido.
As categorias e descrições psicopatológicas forneceriam, à maneira dos mitos, a inter-relação de
poderes humanos (poderes que o Ego julga controlar heroicamente) e sobre-humanos (forças que o
conduzem) como nos aponta Hillman em Mito da análise. (Hillman, 1984)
A questão pode ser: “(...) a qual categoria (a qual Deus) pertence este problema?” (Hillman, 1984)
pg.146
As categorias Psicopatológicas invertem-se com o aprofundar metafórico Os diagnósticos
categoriais apresentam o que foi constelado, num processo histórico, como o outro da razão, da
saúde e da vida realizada.
Olhando metaforicamente, através das descrições diagnósticas, que se pode perceber
implicitamente as normas valorizadas de forma mais viva e encarnada. Metáfora como uma forma
de ver que se aproxima do que aparece como constelação de atributos aglutinados e não como
unidades totalizantes.
As categorias Psicopatológicas condensam as normas tácitas que atravessam a todos e das quais se
precisa tomar distância, ao pretender trabalhar no campo da saúde mental buscando dissolver e
superar certezas, fundamentalismos, verdades únicas e literalismos hegemônicos.
A psicologia arquetípica, através de Hillman, fala de um estilo de consciência Heróico que procura
determinar unificando (Hillman, 1975). A literalização seria a resposta do olhar unificador do Ego
heróico sobre o diverso, o múltiplo, as contradições no mundo, na tentativa de eliminar a tensão
entre o desconhecido, descontrolado, inquieto, pulsante e indeterminado e as configurações
determinadas. Problemas seriam efeitos do ego heróico sobre o que se apresenta como
desconhecido, descontrolado na busca de paralisar o movimento constante da vida. A psique teria
um trabalho de criar patologias (Patologizar) (Hillman, 1975) para dispor de bolsas para tudo o que
não encontra lugar e permitir que o movimento não fosse bloqueado.
O Ego Heróico diante do diverso, do múltiplo, da tensão busca unificar; constitui “uma”
representação diante do diverso da existência; diante de uma questão vê problemas literais a
serem resolvidos; realiza sua tarefa de coagular o múltiplo em significados particulares que é
chamado: fatos, dados, problemas, realidade. Se este se apropriar do controle e buscar a
dominação única de sua perspectiva sobre os movimentos e a multiplicidade da vida, torna-se o
único deus ao qual se deu altar, então se tem a doença!
E se for exatamente o complexo do Eu/Ego que, ao não conseguir tomar distância do estilo heróico
de consciência, obsessivamente impede a vida em sua pulsação, multiplicidade e indeterminação e
destrói conexões diferentes no cérebro e no mundo.
Isto pode fazer pensar que o complexo que não se modifica de forma alguma e que leva a falar em
demência praecox seria o próprio complexo do Eu sendo conduzido em identificação com o estilo
de consciência Heróico?
Hillman no texto “Paranóia” diz que o caminho é tornar-se parte do quadro. O modo de penetrar
em qualquer quadro clínico é tornar-se parte do quadro, e isto é válido tanto para a compreensão
teórica de uma síndrome, quanto para a terapia de um caso individual que sofre da síndrome.
Paranóia (Hillman, 1993) pg.14 citação 6 Aproximação inicia-se pelo Pathos, tudo o que nos faz
sofrer, sentir, rir, chorar, pensar desta ou daquela maneira; o que nos conduz; aquilo que nos
atravessa, nos move e também nos constitui. Como diante dos limites, do desconhecido, a psique
constantemente construiria fantasias explicativas, que vistas literalmente, nos apresentariam as
patologias; estas seriam vasos para aglutinar estas fantasias.
Não seria importante entrar, metaforicamente, no que é apresentado como psicopatologia? Foi por
um crepúsculo de vago outono que eu parti para essa viagem que nunca fiz. (...) Eu não parti de um
porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque nunca lá estive. (...) Julgais, sem dúvida, que
as minhas palavras são absurdas. É que nunca viajaste como eu. Viagem nunca feita (Pessoa, 1996)
pg. 41 Tomam-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas, Penetra-me fisicamente o cais e
sua atmosfera (...) Acelera-se cada vez mais o volante dentro de mim (...) Chamam por mim as
águas. Chamam por mim os mares. Chamam por mim levantado uma voz corpórea, os longes, as
épocas marítimas todas sentidas (...) (Pessoa, 1996) pg. 319 Ode marítima/Álvaro de
Campos/Fernando Pessoa
Há vozes que mandam, querem me obrigar a fazer coisas... Visões que dizem o que vai acontecer
no futuro... Há chips implantados em mim que controlam o que faço...
Há vozes e vozes, perseguições e perseguições. Algumas poemas e outras sintomas. Algumas
possibilidade de vida e outras prisão. O que encarcera é o fato de serem vozes ou pensamentos de
perseguição? Para quem, para que forma de ver, para que estilo de consciência, vozes e
perseguições são um problema aprisionante?
Pode-se metaforizar e tornar-se parte do quadro, na descrição do diagnóstico de Esquizofrenia no
CID X
Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais e
características do pensamento e da percepção (...) (CID-10 OMS, 1993)pg.85
No meio das características fundamentais do pensamento e da percepção tinha um transtorno,
tinha um transtorno no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra
no meio do caminho ... No Meio do Caminho/ Carlos Drummond de Andrade
Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você? A lista/Oswaldo
Montenegro A perturbação envolve as funções mais básicas que dão à pessoa normal um senso de
individualidade unicidade e direção de si mesmo. (CID-10 OMS, 1993) pg.85
Meu tema é a vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto
os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos (...) Esta é a vida vista
pela vida. Posso não ter sentido, mas é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa. (...) E
doidamente me apodero dos desvãos de mim (...) Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. Água
viva/Clarisse Lispector Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados (...) e por afeto
inadequado ou embotado. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como
conhecidos ou partilhados por outros. (CID-10 OMS, 1993) Inadequado como imperfeição? Que
santificados do absurdo os artistas que queimaram uma obra muito bela, daqueles que, podendo
fazer uma obra bela, de propósito a fizeram imperfeita, (...) Por que escrevo este livro? Porque o
reconheço imperfeito. Calado seria a perfeição; escrito imperfeiçoa-se...” (Pessoa, 1996)pg.27/28
Apoteose da Mentira/Fernando Pessoa
E se a norma do pensamento e a percepção sem distorções, os afetos adequados e sem
embotamentos, o senso de unicidade, individualidade e direção de si mesmo; os pensamentos e
atos íntimos não compartilhados, tornarem-se norma única? O único deus ao qual se dê altar? (...) e
podem se desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais
trabalham de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido, de formas que
são muitas vezes bizarras. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 Karl Jaspers em Patologia Geral fala de delírio
como uma alteração na forma do pensamento com convicção extraordinária, certeza subjetiva,
incomparável, Impossibilidade de influenciamento da parte da experiência e de raciocínios
constringentes e impossibilidade do conteúdo. Aplicando-se os três critérios ao pensamento literal
e unificador não poderíamos dizer que é ele que tem certeza plena? Não se duvida do Princípio da
não contradição! Uma proposição verdadeira não pode ser falsa e uma proposição falsa não pode
ser verdadeira. Nenhuma proposição, portanto, pode ser os dois ao mesmo tempo - Ou é A ou é
não A. Não pode ser A e “não A” ao mesmo tempo. Como nos apresenta Aristóteles na Metafísica
livro IV capítulo 4. Subjaz no pensamento literal a idéia de que semelhanças e analogias não são
formas de conhecimento e sim ficções do espírito. Que discernir é estabelecer identidades. E que o
ser pensado é essencialmente representado; onde aparece como objeto adequado a categorização.
Isto leva a idéia de autodeterminação e liberdade que se caracteriza pela certeza subjetiva; ou seja,
só se aceita algo que satisfaça as exigências de verdade para mim. Embora vários pensadores
tenham problematizado este princípio lógico com raciocínios constringentes e elementos da
experiência, aparece haver uma impossibilidade de influenciamento nas idéias. Todas as operações
desta razão literal são pautadas por: unidade, identidade e diferença. Entre os autores que refletem
sobre a questão da Unidade e Identidade, buscando superar as oposições entre “Um e Múltiplo”,
“Ser e Nada” estão: Heráclito ao dizer que: O combate (Pólemos) é o que é comum; onde a
harmonia visível esconde a tensão, não visível; esta tensão é a mais bela Harmonia! Afirma a não
existência de solução para a tensão. Não escutar a tensão constitutiva das coisas, levaria os homens
a viverem como se possuíssem um particular e tomarem por particular o que é comum. (Heráclito,
1973).
Para Nietzsche “toda palavra torna-se conceito quando tem de convir a um sem-número de casos,
nunca iguais, portanto, a casos claramente desiguais. E chamamos de igual o desigual para
podermos nos comunicar.” (Nietzsche, 1978).
Adorno aponta que é através das operações de construção de unidade e identidade, onde torna-se
igual o desigual, que se instala um sistema de equivalências; tudo pode ser transformado em
unidade e visto como uma coisa (reificação) e adquire uma forma que permite trocas (forma
mercadoria). O princípio da unificação do diverso da intuição sensível, sob a forma de um objeto,
que é dado pelo próprio “Eu”, leva à coisificação do mundo. (Adorno, et al., 1985)
Para Hegel toda determinação é um processo relacional. Só se determinaria algo em relação a
outro algo que é posto ao mesmo tempo; quando é posto em uma situação, em um contexto
próprio a existência. Determina-se um objeto através do acesso as suas qualidades, mas como toda
qualidade é uma determinação relacional, a identidade do ser consigo mesmo é sempre em
trabalho de contraste relacional tentando excluir uns dos outros. Fora da estruturas de relação só
pode haver indeterminação. O Ser aparece como o excesso que indica como toda estruturação de
objeto vai ser sempre assombrada pela indeterminação. Ser e Nada são abstrações. O devir seria o
primeiro pensamento concreto. O devir introduziria a oposição no interior do Ser. Nada no interior
do Ser é o devir (Hegel, 1995). Pode-se pensar então em determinação para além da idéia da
determinação atributiva de predicados limitadores e em objeto para além da idéia do objeto como
pólo fixo da identidade.
O pensamento metafórico simbólico, imaginativo seria uma forma de pensar por constelações ou o
que pode ser entendido como algo muito próximo de pensar por metáforas (metáfora como uma
forma de ver que se aproxima do que aparece como constelação de atributos aglutinados e não
como unidades totalizantes), seria uma construção imaginativa que se aproxima do olhar poético e
que afirma a potência cognitiva da mímese. Pensar por constelações pode aproximar este
pensamento do que Walter Benjamim refere como constelações: a idéia pertence a uma esfera
fundamentalmente distinta daquela em que estão os objetos que ela apreende. (...) Sua
significação pode ser ilustrada por uma analogia. As idéias se relacionam com as coisas como as
constelações com as estrelas. O que quer dizer, antes de mais nada, que as idéias não são nem os
conceitos dessas coisas, nem as suas leis. Elas não servem para o conhecimento dos fenômenos, e
estes não podem, de nenhum modo, servir como critérios para a existência das idéias. (Benjamim,
1984) Pg. 56 Jung falava da importância do conteúdo e da necessidade de aprofundar nos
processos associativos e não ficar com as unidades. Hillman indicará que o olhar metafórico
dissolveria os atributos aglutinados pelo literalismo do ego heróico e quebraria a vivência de
unidade e de imediaticidade de qualquer coisa. “a regressão infinita do psicologizando, seu
processo interiorizante do visível ao invisível (...) chega a um descanso ao encontrar a permanente
ambiguidade da metáfora, onde descansar e permanecer são ficções –“como se”. (...) como todo
conceito intelectual, repousa ou encontra solo permanente e base na metáfora e pode apenas se
estabelecer pelo consentimento da metáfora. (Hillman, 1975)Pg. 153 Isto se alinha a Hillman
quando fala na via negativa e na natureza metafórica da Alma: “O terapeuta não literaliza (...) ele se
move ao longo da Via negativa tentando desliteralizar todas as formulações” (...) (Hillman, 1983)pg.
76 A natureza metafórica da alma tem uma necessidade suicida, uma afinidade com o mundo das
trevas (...) Aquele sentido de fraqueza, de inferioridade, de mortificação, de masoquismo, e de
fracasso é inerente ao método metafórico em si, o qual anula a definição da consciência como
controle sobre os fenômenos. (Hillman, 1983)pg. 48 O poeta talvez ajude quando diz que: Ter
opiniões definidas e certas, instintos, paixões e caráter fixo e conhecido – tudo isto monta ao
horror de tornar nossa alma um fato.(...) Viver é um doce fluido estado de desconhecimento das
coisas e de si próprio. Livro do desassossego/Máximas / Fernando Pessoa Volta-se a descrição no
CID X As alucinações, especialmente auditivas, são comuns e podem comentar sobre o
comportamento ou os pensamentos do paciente. (CID-10 OMS, 1993)pg. 85
A questão é aparecerem vozes comentando comportamentos, pensamentos ou sentimentos ou o
que as vozes são tomadas como literais? Qual a diferença de que aparece em todos? Quantas vozes
não chamam, metaforicamente, a cada momento cada ser humano? A questão pode estar mais na
literalidade e na insistência dos chamamentos. A insistência é o nosso esforço, A desistência o
nosso prêmio. (...) Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante
humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação. Clarisse
Lispector
A percepção é freqüentemente perturbada de outras formas: cores ou sons podem aparecer
excessivamente vívidos ou alterados em qualidade e aspectos irrelevantes das coisas comuns,
podem parecer mais importantes que todo o objeto ou a situação (CID-10 OMS, 1993)pg. 85
Quando a percepção não é perturbada? A percepção depende em parte dos estímulos externos,
mas é elaborada por uma série de conexões. O que se vê não são os comprimentos de ondas e sim
uma imagem formada no lobo occipital fruto de muitas interferências. Interessante que aspectos
são irrelevantes para quem? Para o senso comum? Há algo que não está dando a mesma relevância
ordinária para as coisas. Perplexidade é também comum no início e leva, frequentemente, a uma
crença de que situações cotidianas possuem um significado especial, usualmente sinistro, destinado
unicamente ao indivíduo. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 As situações cotidianas não deveriam ter
significado especial? A questão é dar um significado ou ter que desvendar o significado? Ou estar
certo de que o significado é sinistro? Sinistro para quem? Na perturbação característica do
pensamento esquizofrênico, aspectos periféricos e irrelevantes de um conceito total, que estão
inibidos na atividade mental normalmente dirigida, são trazidos para o primeiro plano e utilizados,
no lugar daqueles que são relevantes e adequados à situação. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 E se a
norma que indica quais aspectos devem ficar mais reforçados, em primeiro plano, utilizados de
maneira adequada a um conceito total, relativo a esta norma, tornar-se fundamentalista? E se só
puder dar altar a estes aspectos (a este deus)? Os outros poderão ser considerados periféricos e
irrelevantes e deverão estar inibidos? Dessa forma, o pensamento se torna vago, elíptico e obscuro
e sua expressão em palavras, algumas vezes incompreensível. São assíduas as interrupções e
interpolações no curso do pensamento e os pensamentos podem parecer serem retirados por um
agente exterior. O humor é caracteristicamente superficial, caprichoso ou incongruente. A
ambivalência e a perturbação da volição podem aparecer como inércia, negativismo ou estupor. A
catatonia pode estar presente. (CID-10 OMS, 1993) pg. 85
Psicose ou “Esquizofrenia” é o que se apresenta quando alguém: 1. Ouve vozes ou vê coisas que
outros não vêem? 2. Têm os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos sentidos como
conhecidos ou partilhados por outros? 3. Desenvolve explicações, a ponto de que forças trabalham
de forma a influenciar os pensamentos e as ações? 4. Não consegue separar nitidamente o que
pensa do que acontece? 5. Apresenta afetos inadequados ou embotados? 6. Não apresenta um
senso de individualidade,unicidade ou direção de si mesmos firmes? 7. O Humor se expressa
superficial, caprichoso, incongruente ou ambivalente? 8. Quando há perturbação da volição que
aparece como inércia, negativismo ou estupor?
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. Hoje (...) tenho que arrumar mala, (...) A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar
a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, (...)
Tenho que existir a arrumar malas. (...) Grandes/ Álvaro de Campos / Fernando Pessoa
Pode-se reimaginar esquizofrenia como o que aparece quando o estilo de consciência, unificador
(que Hillman chama de ego heróico), conduz e obriga o sujeito a: 1. Dar importância, ter que
responder e seguir todas as vozes que aparecem? 2. Ter que reagir, explicar e entender tudo que
percebe? 3. Ter que separar nitidamente o que pensa do que acontece? 4. Não poder ter dúvidas,
incertezas, não saber?
5. Não poder dividir, falar, compartilhar etc. 1. Não poder se ver como múltiplo e um? 2. Não poder
ter sentimentos contraditórios (amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo)?
Qualquer estilo de consciência, ao virar norma e tomar de forma única e fundamentalista a vida,
poderia transformar-se em doença? E se o olhar literal, heróico, que busca unificar, identificar,
dominou as descrições do que aparece como indivíduo, transtorno esquizofrênico, sintomas etc.
Não teria este olhar tornado-se a norma única ao invalidar outras aproximações como pensar por
analogias, constelações e metáforas ?
Quando em Re-Visioning psychology Hillman fala do estilo de consciência baseado no herói e ego-
centrado, diz que este dá crédito aos problemas e desacredita as fantasias; “(...) as fantasias se
apresentam primeiramente projetadas como os problemas, que são fantasias literalizadas.”
(Hillman, 1975)
O Literalismo procura manter estável o que está em constante movimento; esquecer as diferenças
entre os múltiplos na construção das idéias, conceitos e representações; funciona como se
conhecimento só pudesse ser síntese totalizante da multiplicidade, numa ordem de sucessão, de
causalidade, de categorias que unifiquem. Realiza sua tarefa de coagular o múltiplo em significados
singulares que chamamos: fatos, dados, problemas, realidade.
Ao começar esta reflexão foi relatado que psicose estava associada comprometimento do teste de
realidade chega-se num ponto onde se afirma que, com razão, há mesmo um comprometimento no
teste de realidade, porém agora se inverte a questão. Chama-se de fatos dados e realidade o efeito
do ego heróico unificador e literalizante sobre a vida em movimento e a multiplicidade de sentidos
possíveis.
Quando algo aparece para um sujeito este algo não permanece sempre o mesmo com o passar do
tempo. Isto que tinha uma forma, textura, cheiro e consistência com o tempo mudará. Quando se
tenta descrevê-lo só se é capaz de fazer descrições comparando com outros atributos que sempre
estão mudando também. E o sentido da coisa dependerá de cada olhar e do momento histórico em
que a coisa aparecer. O sentido dependerá sempre da interpretação do outro. Ou seja o que se
chama de realidade está em fluxo de transformação constante, em relação ao que está
estabelecido como conhecido. Inverte-se a noção de realidade material e pode-se entender como
realidade aquilo que, indeterminado e em mudança, resiste às unificações e estabilizações
engendradas pelo olhar unificador, guiado pelos princípios de unidade, identidade e diferença.
Vendo através das ilusões dos problemas na realidade das fantasias, vamos do ego heróico ao ego
imaginal. (Hillman, 1975) Psicologizar tenta dissolver o material em mãos, não resolvendo-o, mas
dissolvendo-o na fantasia em que está congelado (como um “problema”). Em outras palavras, nós
assumimos que eventos têm uma casca externa que chamamos dura, resistente, real (Hillman,
1975) Problemas, transtornos, verdades, dados, fatos, realidade. Podem ser efeitos do “eu
unificador”, ego heróico, razão instrumental sobre o que se apresenta como desconhecido,
descontrolado, vivo, pulsando, em movimento. Os problemas, assim como as verdades, podem ser
vistas como metáforas que se literalizaram, se unificaram, pela dominação deste olhar, através das
operações de construção de unidades e identidades. Dominados pela unidade, uma viagem só pode
ser uma viagem; uma voz, apenas uma voz; um transtorno, apenas “um” transtorno.
Pode-se re-imaginar a esquizofrenia como a apresentação de uma identificação maciça com
funcionamento ego heróico.
Poderiam os sintomas falar de uma reação quando a vida está dominada de forma fundamentalista,
pelo que está mais bem estabelecido, unificado, funcionando “melhor”, integrado ao “Eu” (Ego
heróico) de forma mais automática?
Poderia os sofrimentos vividos pelo “Ego”, identificado maciçamente pelo estilo heróico, estar
pedindo a interrupção, o bloqueio disto que não para de funcionar automaticamente? Na clínica
não é frequente a expressão : “A cabeça não para!”
Quem sabe não pare por ficar tentando reproduzir as mesmas soluções (remédios metafóricos) que
foram os mais valorizados, lhe deram mais reconhecimento no contexto vivido pelo “Eu” e, talvez
por isso mesmo, lhe deram mais prazer, tenha adquirido maior saliência e tenha dominado a vida
como norma única.
É curioso que fantasia neuropsicofaramacológica de que a dopamina seria o neurotransmissor mais
largamente considerado envolvido com a esquizofrenia (antiga demência praecox), vem da
observação de que substâncias que elevam os níveis de dopamina, como anfetaminas e cocaína,
podem produzir sintomas quase indistintos da esquizofrenia. Soma-se a isto que todas as
substâncias antipsicóticas são bloqueadores dopaminérgicos. Os “psicofármacos aceitos no
tratamento dos transtornos esquizofrênicos são, direta ou indiretamente, inibidores de dopamina.
(...)” (Bressan, et al., 2008). Porém é também a dopamina que está relacionada com os sistemas de
saliência e de recompensa e prazer. O que faz com que certos sistemas tenham mais importância e
que, quanto mais usado, mais ele se fortalece e acaba por remover os outro mais fracos.
Dopamina é o neurotransmissor envolvido com a função de saliência e sistema de recompensa e
prazer em sistemas neuronais do sistema nervoso central. (...) A saliência (dada pela dopamina) em
certos sistemas está relacionada ao aumento da importância que determinadas idéias apresentam
para as pessoas (Bressan, et al., 2008) pg.158
Pode-se rever e imaginar que justamente o processo de constituição do complexo do Eu, conduzido
por princípios de unidade e identidade poderiam se formar incrementando a liberação de
dopamina e produzindo saliência destes traços sobre outros. Como a dopamina também se
relaciona com o sistema de recompensa e prazer, a repetição das associações salientes geraria
sensação de prazer retro alimentando o sistema. Isto incrementaria a durabilidade e estabilidade
das repetições que seriam cada vez mais prazerosas quanto mais se reproduzissem; em especial
com o menor número de interferências, obstáculos ou resistências.
Estudos de neuroplasticidade afirmam haver uma massiva poda neuronal que remove mais da
metade das sinapses até a puberdade, no transcorrer habitual da vida. O crescimento sináptico,
seguido por poda, que acompanha o desenvolvimento, aumentaria a performance da rede de
associações da memória com recursos sinápticos limitados. “A melhor estratégia de poda neuronal
se mostra no apagamento ou destruição de sinapses de acordo com sua eficácia, removendo as
sinapses mais fracas primeiro” (Chechik, et al., 1999). O desuso das sinapses ocasionaria sua atrofia
e perda de suas funções.
Se Jung apontava que o nascimento da psiquiatria se deu no seio do materialismo pernicioso e que
há muito tempo “ela vem privilegiando ao órgão, o instrumento, em detrimento da função” (Jung,
1999) pg.145, a própria neuropsiquiatria, ao realizar-se, chega a afirmar que, literalmente, a função
faria o órgão.
Pode-se entender que o resultado da sociabilidade, ao se realizar, liberaria as “toxinas metabólicas”
de que Jung falava. Então estas não estariam em oposição ao funcionamento dos complexos na
psique, mas seriam a expressão da própria formação destes. A educação tem por fim implantar
complexos duradouros na criança. ... A tonalidade afetiva se mantêm devido a estímulos
constantemente atualizados. (Jung, 1999)Pg 36 As associações com o corpo, o prazer na realização
automatizada da vida poderia tornar a vida insuperável e auxiliar o trabalho de destruição? O eu
constitui a expressão psicológica de uma combinação firmemente associada entre todas as
sensações corporais. (...) Devido sua ligação direta com as sensações corporais, é o mais estável e
rico em associações (Jung, 1999)Pg 33 O complexo do Eu ao assumir a unificação (combinação
estável de múltiplos em um) de forma fundamentalista no domínio da vida que daria suporte ao
que apareceria como doença?
Seria o sujeito com todos aqueles estímulos, sentimentos, pensamentos e sensações vagos e
obscuros que, surgindo como perturbação e obstáculo à continuidade da vivência consciente da
unidade do objeto, poderia interromper a dominação das unificações em complexos, em especial o
mais forte e estável complexo, o do Eu?
Jung problematiza a consciência como a atividade do pensamento dirigido. Ele nos aponta para
uma base essencial que seria a afetividade. Pensar e agir seriam sintomas da afetividade. Citando
Bleuler diz: "A afetividade, portanto, mais do que uma reflexão é o elemento que pulsa em todas as
nossas ações e omissões.(...)” O estado afetivo é um fato dominante e as idéias lhes são sujeitas. –
a lógica dos raciocínios é somente causa aparente.(...) (Jung, 1999) Pg 31 Seria o afeto, como o
elemento que pulsa em todas as nossas ações e omissões, que instabilizaria os complexos
unificados possibilitando associações e conexões novas capazes de impedir a dominação de um
único estilo de consciência - de dar altar a um único deus?
Entende-se então a profundidade do que Hillman fala com “a alma ou psique teria uma particular
relação com a morte” (Hillman, 1975). A morte como metáfora da dissolução destas relações de
associações complexas que valoram a partir das vivencias relacionadas ao funcionamento do Ego
identificado com o padrão heróico.
Jung falava da importância do conteúdo e da necessidade de aprofundar nos processos associativos
e não ficar com as unidades. Hillman indicará que o olhar metafórico dissolveria os atributos
aglutinados pelo literalismo do ego heróico e quebraria a vivência de unidade e de imediaticidade
de qualquer coisa.
“a regressão infinita do psicologizando, seu processo interiorizante do visível ao invisível (...) chega
a um descanso ao encontrar a permanente ambiguidade da metáfora, onde descansar e
permanecer são ficções –“como se”. (...) como todo conceito intelectual, repousa ou encontra solo
permanente e base na metáfora e pode apenas se estabelecer pelo consentimento da metáfora.
(Hillman, 1975)Pg. 153 Não se deveriam usar todos os dispositivos necessários e acessíveis para
instabilizar os fundamentalismos? Dar espaço para outros estilos?
Deslocar a posição ocupada que só dá altar a um único deus (este que se colocou como norma
única pelo uso repetitivo e contínuo da mesma solução unificadora, do mesmo remédio
metafórico)?
Não são as soluções que se dá na vida que sustentam ao que aparece como “problema” ?
Haveria sustentação para a estabilidade de sintomas, (identidades, propriedades - doente, saudável
etc.) ao interromper a repetição da norma única literalista e, através de encontros e processos,
fosse possível : a. Ter altar para muitos deuses? b. Poder olhar também metaforicamente, num
estilo de consciência Imaginal? c. Reconhecer o sujeito da ação como um lugar de movimento,
indeterminação e flexibilidade? d. Conseguir olhar através de múltiplos padrões de consciência. e.
Buscar aprofundar nas invisibilidades, sem identificar-se fixamente com nenhum padrão,
identidade ou propriedade?
Seria possível tal constelação de sintomas se os sujeitos no mundo pudessem se reconhecer e ser
reconhecidos como posição de indeterminação? Isto não dissolveria a sintomatologia no processo
contínuo da vida no mundo?
A questão é que o estilo unitário está presente cotidianamente na gramática do senso comum que
orienta a todos, quando não se esta fazendo arte ou poesia!
(...) Fornecei-me metáforas, imagens, literatura,/porque em real verdade, a sério, literalmente,
minhas sensações são um barco de quilha para o ar, minha imaginação uma ancora meio submersa,
minha ânsia um remo partido, e a tessitura dos meus nervos uma rede a secar na praia! (...)
(Pessoa, 1977) Ode marítima /Fernando Pessoa
O horizonte é manter o uso de todos os recursos disponíveis, comprometido no sentido das
condições para que, a vida não fique dominada por uma norma única, fundamentalista e os sujeitos
possam ser normativos. A vida possa seguir o fluxo do devir, configurando e dissolvendo
configurações infinitamente.
O temor de errar introduz uma desconfiança na ciência, (...) porque não introduzir uma
desconfiança nesta desconfiança, e não temer que esse temor de errar já seja o próprio erro?
(Hegel, 2007) pg. 72 Fenomenologia do Espírito/ GWF Hegel
“Renda-se, (...). Mergulhe no que você não conhece (...). Não se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer entendimento” Clarisse Lispector
Bibliografia Adorno Theodoro e Horkheimer Max Dialética do Escalrecimento [Livro]. - Rio de
Janeiro : Jorge Zahar, 1985. Benjamim Wlater Origem do Drama Barroco Alemão [Livro]. - São Paulo
: Brasiliense, 1984. Bressan Rodrigo, Villares Cecília Cruz e Assis Jorge Cândido de Entre a razão e a
ilusão –desmitificando a loucura [Livro]. - São Paulo : Farma Editores, 2008. Calasso Roberto As
Núpcias de Cadmo e harmonia [Livro]. - São Paulo : Companhia das Letras, 1996. Canguilhem
Georges O normal e o patológico [Livro]. - Rio de Janeiro : Forense, 2000. Chechik Gal, Meilijson
Isaac e Ruppin Eytan Neuronal Regulation: A Mechanism For Synaptic Pruning During Brain
Maturation [Artigo] // Neural Computation. - Tel Aviv : [s.n.], novembro 15 de 1999. - Vol. 11. - pp.
2061- 2080. CID-10 OMS Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento- Organização
Mundial da Saúde [Livro]. - Porto Alegre : Artes Médicas, 1993. Hegel G. W. F. Fenomenologia do
Espírito [Livro]. -Petropolis : Vozes, 2007. - 4a. Hegel G.W.F. Enciclopédia das ciências filosóficas - A
Ciência da lógica [Livro]. - São Paulo : edições Loyola, 1995. - Vol. 1. Heráclito de Éfeso Pensadores
Os Pré-socráticos [Seção do Livro] // Fragmentos. - São Paulo : Abril Cultural, 1973. Hillman James O
mito da análise [Livro]. - Rio de Janeiro : Paz e terra, 1984. Hillman James Paranóia [Livro]. -
Petropólis : Vozes, 1993. Hillman James Re-Visioning Psychology [Livro]. -New York : Harper and
Row, 1975. Jung Carl Gustav Estudos Alquímicos [Livro]. -Petrópolis : Vozes, 2003. - Vol. XIII Obras
Completas. Jung Carl Gustav Fundamentos de Psicologia Analítica [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 1983.
- Vol. XVIII/1. Jung Carl Gustav Psicogênese das doenças mentais [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 1999. -
Vol. III das Obras Completas . Jung Carl Gustav Simbolos da transformação: análise dos preludios de
uma esquizofrenia [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 2008. - Vol. V das Obras Completas. Jung Carl Gustav
Tipos psicológicos [Livro]. - Rio de Janeiro : Zahar editores, 1981. Kaplan Harold I., Sadock Benjamim
J. e Grebb Jack A. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica
[Livro]. - Porto Alegre : artmed, 2003. - 7a. Nietzsche Friedrich W. A Gaia Ciência [Seção do Livro] //
Pensadores- Nietzsche / A. do livro Nietzsche Friedrich. - São paulo : Abril Cultural, 1978. Pessoa
Fernando Fernando Pessoa Obra poética em um volume [Livro]. - Rio deJaniero : editora nova
aguilar SA , 1977. Pessoa Fernando O livro do desassossego [Livro]. -Campinas : Unicamps, 1996. -
Vol. 1.
Mais Artigos
02.04 VIDA 28.03 A PALAVRA (EN)CANTADA 30.01 A FILOSOFIA DA RELIGIÃO EM CARL GUSTAV
JUNG 28.01 INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA 11.12 CELEBRIDADE SOU EU 05.12 RAÍZES FILOSÓFICAS
EM JUNG - KANT 29.11 QUAL O SENTIDO DA VIDA? 22.11 REFLEXÕES A RESPEITO DAS NOÇÕES DE
INCONSCIENTE E OPOSTOS EM JUNG E HILLMAN 29.10 PSICOSSOMÁTICA INTEGRANDO MENTE,
ALMA E MEIO AMBIENTE 18.10 AMIZADE
CONTATO ALUNOS FORMADOS -LISTA PROFISSIONAL PARCEIROS - LINKS OUVIDORIA CORPO
DOCENTE
MATERIAL DE AULAS

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Síndrome De Burnout Seminário
Síndrome De Burnout   SeminárioSíndrome De Burnout   Seminário
Síndrome De Burnout SeminárioProfessor Robson
 
Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Inaiara Bragante
 
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividade
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividadeComportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividade
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividadeAnaí Peña
 
DoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasDoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasenfermagem
 
5093 palestra saude_mental_(3)
5093 palestra saude_mental_(3)5093 palestra saude_mental_(3)
5093 palestra saude_mental_(3)Ana Ferraz
 
Intervenção em crises
Intervenção em crisesIntervenção em crises
Intervenção em crisesAroldo Gavioli
 
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamento
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamentoSindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamento
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamentoJean Souza
 
Desenvolvendo Inteligência emocional
Desenvolvendo Inteligência emocionalDesenvolvendo Inteligência emocional
Desenvolvendo Inteligência emocionalAlexandre Rivero
 
Saúde mental e cidadania
Saúde mental e cidadaniaSaúde mental e cidadania
Saúde mental e cidadaniaAroldo Gavioli
 
Neuroses
NeurosesNeuroses
NeurosesUNICEP
 

Mais procurados (20)

Saúde mental no trabalho
Saúde mental no trabalhoSaúde mental no trabalho
Saúde mental no trabalho
 
Síndrome De Burnout Seminário
Síndrome De Burnout   SeminárioSíndrome De Burnout   Seminário
Síndrome De Burnout Seminário
 
Emoção e cognição
Emoção e cogniçãoEmoção e cognição
Emoção e cognição
 
Depressão palestra
Depressão   palestraDepressão   palestra
Depressão palestra
 
Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização
 
Saúde mental e trabalho
Saúde mental e trabalhoSaúde mental e trabalho
Saúde mental e trabalho
 
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividade
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividadeComportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividade
Comportamento agressivo, raiva, irritação, hiperatividade
 
TCC - Terapia Cognitiva Comportamental
TCC - Terapia Cognitiva ComportamentalTCC - Terapia Cognitiva Comportamental
TCC - Terapia Cognitiva Comportamental
 
Ansiedade
AnsiedadeAnsiedade
Ansiedade
 
Mecanismos de defesa do ego
Mecanismos de defesa do egoMecanismos de defesa do ego
Mecanismos de defesa do ego
 
DoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasDoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicas
 
Palestra Setembro Amarelo
Palestra Setembro AmareloPalestra Setembro Amarelo
Palestra Setembro Amarelo
 
historia da tcc
historia da tcchistoria da tcc
historia da tcc
 
5093 palestra saude_mental_(3)
5093 palestra saude_mental_(3)5093 palestra saude_mental_(3)
5093 palestra saude_mental_(3)
 
Intervenção em crises
Intervenção em crisesIntervenção em crises
Intervenção em crises
 
A rede de atenção psicossocial (raps)
A rede de atenção psicossocial (raps)A rede de atenção psicossocial (raps)
A rede de atenção psicossocial (raps)
 
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamento
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamentoSindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamento
Sindrome de Burnout - Causas, sintomas e tratamento
 
Desenvolvendo Inteligência emocional
Desenvolvendo Inteligência emocionalDesenvolvendo Inteligência emocional
Desenvolvendo Inteligência emocional
 
Saúde mental e cidadania
Saúde mental e cidadaniaSaúde mental e cidadania
Saúde mental e cidadania
 
Neuroses
NeurosesNeuroses
Neuroses
 

Semelhante a Reimaginando a neurose e psicose na psicologia arquetípica de Jung

Teoria psicanalítica
Teoria psicanalíticaTeoria psicanalítica
Teoria psicanalíticaEdleusa Silva
 
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdfRosangela Pereira
 
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jung
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e JungPalestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jung
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jungtacio111
 
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de Associações
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de AssociaçõesCurso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de Associações
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de AssociaçõesFelipe de Souza
 
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das Neuroses
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das NeurosesCurso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das Neuroses
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das NeurosesTacio Aguiar
 
Psicanalise e neurociencia antonio carlos pacheco
Psicanalise e neurociencia  antonio carlos pachecoPsicanalise e neurociencia  antonio carlos pacheco
Psicanalise e neurociencia antonio carlos pachecoMarcos Silvabh
 
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...Bianca Giannotti
 
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoAnna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoHerbert Nogueira
 
Psicopatologias Contemporâneas
Psicopatologias ContemporâneasPsicopatologias Contemporâneas
Psicopatologias ContemporâneasFrei Ofm
 
Psicologia da personalidade AULA 2.pdf
Psicologia da personalidade  AULA 2.pdfPsicologia da personalidade  AULA 2.pdf
Psicologia da personalidade AULA 2.pdfElionayFigueiredo1
 
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010Lina Sue
 
Somatoformes
SomatoformesSomatoformes
SomatoformesAna Lopes
 
Aula 11 A Psicologia espírita por Joanna de Angelis
Aula 11  A Psicologia espírita por Joanna de AngelisAula 11  A Psicologia espírita por Joanna de Angelis
Aula 11 A Psicologia espírita por Joanna de AngelisProf. Paulo Ratki
 
Fundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologiaFundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologiaUNICEP
 

Semelhante a Reimaginando a neurose e psicose na psicologia arquetípica de Jung (20)

Teoria psicanalítica
Teoria psicanalíticaTeoria psicanalítica
Teoria psicanalítica
 
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf
60439317 psicopatologia-e-psicanalise-pdf
 
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jung
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e JungPalestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jung
Palestra Semelhanças e diferenças entre Freud e Jung
 
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de Associações
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de AssociaçõesCurso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de Associações
Curso Jung – Estudos Experimentais - Psicanalise e Experimento de Associações
 
Software Junguiano
Software JunguianoSoftware Junguiano
Software Junguiano
 
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das Neuroses
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das NeurosesCurso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das Neuroses
Curso O Desenvolvimento Infantil - Módulo A Etiologia das Neuroses
 
Psicanalise e neurociencia antonio carlos pacheco
Psicanalise e neurociencia  antonio carlos pachecoPsicanalise e neurociencia  antonio carlos pacheco
Psicanalise e neurociencia antonio carlos pacheco
 
As divergências na análse
As divergências na análseAs divergências na análse
As divergências na análse
 
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...
Byington - Prefácio do Livro: Cérebro, Inteligência e Vínculo Emocional na De...
 
NO LIMITE DAS EMOÇÕES
NO LIMITE DAS EMOÇÕESNO LIMITE DAS EMOÇÕES
NO LIMITE DAS EMOÇÕES
 
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoAnna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
 
Psicopatologias Contemporâneas
Psicopatologias ContemporâneasPsicopatologias Contemporâneas
Psicopatologias Contemporâneas
 
Psicologia da personalidade AULA 2.pdf
Psicologia da personalidade  AULA 2.pdfPsicologia da personalidade  AULA 2.pdf
Psicologia da personalidade AULA 2.pdf
 
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010
AULA BECK E ALFORD - Prof. Lina - 2010
 
Somatoformes
SomatoformesSomatoformes
Somatoformes
 
( Espiritismo) # - adenauer m f novaes - complexos
( Espiritismo)   # - adenauer m f novaes - complexos( Espiritismo)   # - adenauer m f novaes - complexos
( Espiritismo) # - adenauer m f novaes - complexos
 
Cérebro social
Cérebro social Cérebro social
Cérebro social
 
Aula 11 A Psicologia espírita por Joanna de Angelis
Aula 11  A Psicologia espírita por Joanna de AngelisAula 11  A Psicologia espírita por Joanna de Angelis
Aula 11 A Psicologia espírita por Joanna de Angelis
 
Fundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologiaFundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologia
 
COMPLEXOS NA VISÃO JUNGUIANA
COMPLEXOS NA VISÃO JUNGUIANACOMPLEXOS NA VISÃO JUNGUIANA
COMPLEXOS NA VISÃO JUNGUIANA
 

Último

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulao
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulaoTeorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulao
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulaoEduardoBarreto262551
 
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.ppt
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.pptSistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.ppt
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.pptMrciaVidigal
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdf
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdfSíndrome de obstrução brônquica 2020.pdf
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdfVctorJuliao
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...LuisCSIssufo
 
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro anoRevisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro anoAlessandraRaiolDasNe
 
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humanajosecavalcante88019
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 

Último (17)

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulao
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulaoTeorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulao
Teorias da Evolução e slides sobre darwnismo e evoulao
 
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.ppt
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.pptSistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.ppt
Sistema _ Endocrino_ hormonios_8_ano.ppt
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdf
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdfSíndrome de obstrução brônquica 2020.pdf
Síndrome de obstrução brônquica 2020.pdf
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
 
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro anoRevisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
 
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana
84723012-ACIDENTES- ósseos anatomia humana
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V25_...
 

Reimaginando a neurose e psicose na psicologia arquetípica de Jung

  • 1. Neurose e psicose Psicologia Arquetípica Ajax Salvador Entradax Alex Cunha Ribeiro <alexr@cpqd.com.br> 16 de mai para mim 1 HOME CURSOS ARTIGOS CALENDÁRIO NOTÍCIAS LIVROS VÍDEOS REIMAGINANDO NEUROSE E PSICOSE Reimaginando Estes dois termos carregam várias histórias sendo o termo psicose se diferenciava de neurose por indicar grave comprometimento no funcionamento social e pessoal com perda ou comprometimento no teste de realidade, delírios, alucinações etc. O significado tradicional do termo "psicótico" salientasse a perda do teste de realidade e comprometimento do funcionamento mental –manifestados por delírios, alucinações, confusão e comprometimento da memória –, dois outros significados desenvolveram-se, nos últimos 50 anos. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 Psicose segue sendo relacionada com regressão egóica o que teria levado a sua perda de precisão na prática clínica e nas pesquisas. Em conseqüência desses múltiplos significados, o termo perdeu sua precisão na prática clínica e nas pesquisas atuais. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 A Associação Norte- Americana de Psiquiatria usa psicótico como comprometimento do teste de realidade. De acordo com o glossário da Associação Norte-Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association), o termo "psicótico" refere-se a um amplo comprometimento do teste de realidade. Pode ser utilizado para descrever o comportamento de um individuo em determinado momento, ou um transtorno mental no qual. em algum momento durante seu curso, todos os indivíduos com o transtorno apresentam um teste de realidade amplamente prejudicado. Quando o teste de realidade encontra-se bastante comprometido, o individuo avalia incorretamente a acuidade de suas percepções e pensamentos e realiza inferências incorretas acerca da realidade externa, mesmo em face de evidências contrárias. O termo "psicótico" não se aplica a distorções menores da realidade que envolvam temas de juízo relativo. Por exemplo, uma pessoa deprimida que subestima suas conquis¬tas não é descrita como psicótica, enquanto aquela que acredita ter causado uma catástrofe natural o é. (Kaplan, et al., 2003)pg. 308 Neurose é descrito como um transtorno crônico ou recorrente, ligado à sintomas com angustia inaceitável, estranho (ego-distônico); Ansiedade expressa sintomas como: obsessão, compulsão, fobia, disfunção sexual etc. Não-psicótico ou seja com teste de realidade intacto. O termo "neurose" não é usado no DSMIV (Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação NorteAmericana de Psiquiatria) No DSM III Neurose aparecia como: Um transtorno mental no qual a perturbação predominante á um sintoma ou grupo de sintomas que angustiam o indivíduo e que ele reconhece como inaceitável e estranho (ego-distônico); o teste de realidade permanece globalmente intacto. 0 comportamento não viola ativamente as principais normas sociais (embora possa ser bastante incapacitante). A perturbação e relativamente
  • 2. persistente ou recorrente sem tratamento e não se limita a uma reação transitória aos estressores. Não existe uma etiologia ou fator orgânico demonstrável. (Kaplan, et al., 2003)pg. 313 No CID X (Classificação Internacional das Doenças) procura-se não seguir a dicotomia neurótico-psicótico. Faz-se isto para evitar o envolvimento de pressupostos acerca de mecanismos psicodinâmicos. O termo psicose é usado apenas para indicar a presença de alucinações, delírios ou de um número limitado de várias anormalidades de comportamento Adivisão tradicional entre neurose e psicose que era evidente na CID-9 (ainda que deliberadamente deixada sem qualquertentativa de definir esses conceitos)nãotem sidousada na CID-10. Contudo, otermo "neurótico"ainda é mantidopara usoocasionale é encontrado, por exemplo, notítulode um grupomaior oubloco de transtornos, F40— F48, "Transtornos neuróticos, relacionados aoestresse e somatoformes". Exceto pela neurose depressiva, a maioria dos transtornos considerados como neuroses por aqueles que usam oconceito são encontrados nesse blocoe os restantes estão nos blocos subseqüentes.Ao invés de seguira dicotomia neurótico-psicótico, os transtornos sãoagora arranjados em grupos de acordo com osprincipais temas comuns ousemelhanças descritivas, o que dá ao uso uma conveniência crescente. Por exemplo, Ciclotimia (F34.0)está no blocoF30 —F39, Transtornos dohumor (afetivos), ao invés de em F60- F69, Transtornos depersonalidade e de comportamentoem adultos; similarmente, todos os transtornos associados aouso de substâncias psicoativassãoagrupados em F10-F19, seja qualforsua gravidade. "Psicótico" foi mantido como um termo descritivoconveniente, particularmente em F23, Transtornos psicóticos agudos e transitórios. Seuusonão envolve pressupostos acerca de mecanismos psicodinâmicos, porém simplesmente indica a presença de alucinações, delírios ou de um númerolimitadode várias anormalidades de comportamento, tais comoexcitaçãoe hiperatividade grosseiras, retardo psicomotor marcante e comportamentocatatônico. (CID-10OMS, 1993)pg.3 Segue um trajeto de como estas noções aparecem em textos de Jung e na psicologia arquetípica. Propõe-se um exercício de reimaginar a descrição da idéia de psicose através da descrição da esquizofrenia no CID X. Jung apresenta, desde os seus primeiros textos, uma tensão importante entre as linhas de pensamento que procuram explicar os sintomas da psicopatologia a partir de produto ilógico das células de uma máquina cerebral em desordem e as dinâmicas psicológicas que são construídas por processos de associação seguindo complexos. Estes teriam força de atração poderosa como imãs sobre os conteúdos coagulados, organizando-os em padrões. Os hábitos seriam formados pela repetição de ações em associação e este conjunto complexo forçaria o sujeito a determinadas ações. Muitas vezes nos vemos forçados a determinadas ações por um afeto que, no início, sofre grandes inibições e depois de várias repetições a reação se dá prontamente a partir de um pequeno impulso, devido à diminuição da inibição. (Jung, 1999) Pg.80 Os hábitos adquiridos nos processos de socialização produziriam marcas, traços unificados em complexos. Estes tenderiam a funcionar de forma autônoma e a conduzir os sujeitos em determinadas ações. Assim “A forte tonalidade afetiva cria um caminho, o que reafirma (...) cada complexo possui uma tendência para a autonomia” (Jung, 1999). Possibilita com isto superar a divisão entre psique e cérebro indicando que os hábitos, na socialização, instalam processos psicológicos de automatização e autonomização de complexos na vida e no cérebro. Todos os processos psíquicos são correlatos de processos celulares (como admite a concepção materialista e também o paralelismo psicofísico). Portanto, nada de extraordinário que também os
  • 3. processos psíquicos da catatonia sejam correlatos de uma série física. Sabemos que a série psíquica normal se desenvolve sob a constante influência de inúmeras constelações psicológicas que, via de regra, não nos são conscientes. (Jung, 1999)pg.3 Jung afirma o complexo como resultado de processos associativos por analogia e semelhança que agem na psique. Chega a afirmar que “o complexo é uma unidade psíquica” (Jung, 1999). Não haveria algo que pudesse ser unitário, isolado e fora da psique: Todo acontecimento afetivo torna-se um complexo. Se o acontecimento não estiver relacionado a um complexo já existente, possuindo assim um significado momentâneo, ele submerge (...) até o momento em que uma impressão semelhante a reproduza novamente. (Jung, 1999) Pg.58 Os complexos são múltiplos e entre eles Jung destaca o Complexo do Ego; seria um complexo formado pela percepção geral do corpo, existência e pelos registros da memória. Considera-o como complexo de fatos psíquicos. Porém refere que : “o ego é um aglomerado de conteúdos altamente dotados de energia e, assim, quase não há diferença ao falarmos de complexos e do complexo do ego.” (Jung, 1983) pg.67. Os complexos poderiam interferir e realizar processos de invasão na consciência; estes não seriam de forma alguma patológicos, a não ser no sentido do “pathos”, quando patologia significava a ciência das paixões. Seriam momentos em que a pessoa fica subitamente alterada, tomada por algo; como se perdesse a cabeça. Historicamente isto era atribuído a um demônio, a um encosto ou a um "espírito" que tomou o indivíduo. Emoções dominadoras podem ser indesejáveis para o complexo do Ego, mas não seriam em si patológicas. Ele diz que se as invasões tornam-se habituais conduzem a Neurose. “A idéia de dissociação psíquica é a maneira mais segura com que consigo definir uma neurose.” (Jung, 1983) pg.156 A dissociação da personalidade se daria devido à existência de complexos incompatíveis, que por estar em posição por demais contrária a parte consciente, separam-se. Qualquer incompatibilidade poderia causar uma dissociação. Os complexos teriam o centro do poder na condição esquizofrênica e se emancipariam em relação ao controle consciente a ponto de tornarem-se visíveis e audíveis como visões ou vozes. os complexos têm um certo poder, uma espécie de ego; na condição esquizofrênica eles se emancipam em relação ao controle consciente, a ponto de tornarem-se visíveis e audíveis. Aparecem em visões, falam através de vozes que se assemelham às de pessoas definidas. (Jung, 1983)pg.67 Jung associa a Psicose esquizofrênica a uma falta de separação e distinção entre sujeito e objeto que deveria ter ocorrido no processo de individuação. A separação e distinção da mãe, a "individuação" produz o confronto de sujeito e objeto, o fundamento do consciente. Antes era a unidade com a mãe, isto é, com o universo.(...) Este processo não parece ser muito raro na psicose. Um jovem operário adoeceu de esquizofrenia. Em suas primeiras sensações doentias ele percebia uma relação especial com o Sol e com os astros. As estrelas se lhe tornaram significativas, ele pensava que tinham alguma coisa a ver com ele, e o Sol lhe insuflava idéias. Nesta doença encontra-se às vezes esta percepção aparentemente nova da natureza. Outro paciente começou a entender a linguagem dos pássaros, que lhe traziam mensagens da amada (Jung, 2008) pg.388 Jung associa que os contrastes aparentes num surto “encontram-se intimamente relacionadas com lacunas na personalidade do paciente.” (Jung, 1999)pg. 152 ; estas seriam sentidas como falta. Suscita pensar numa função compensatória “Quem jamais sentiu a necessidade de compensar a aridez da vida de trabalho com a fruição da arte poética?” (Jung, 1999)pg. 152. Mas indica a solução doente como renuncia temporária do problema. A distância psicológica que separa o poeta do doente mental é bem grande. O mundo dopoeta é o mundo dos problemas resolvidos. A realidade é o mundo dos problemas não resolvidos. O doente mental é o reflexo fiel desta realidade. Sua soluções são insatisfatórias e a sua
  • 4. cura, uma renuncia temporária ao problema. Este permanece ativo e sem solução no inconsciente, emergindo, em determindo momento, para criar ilusões num outro cenário. Como senhores bem podem ver, isso é um fragmento da história da humanidade. (Jung, 1999)pg. 154 Há momentos em que descreve que na psicose, como a esquizofrenia, o Ego se desintegraria, toda ordem de valores desapareceria e as coisas não mais poderiam ser reproduzidas voluntariamente. O centro teria se esfacelado e algumas partes da psique passariam a referir-se a um fragmento do ego, enquanto outras partes se ligarão a outros fragmentos O Ego (...) é um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória. Todos temos uma certa idéia de já termos existido, de nossa vida em épocas passadas; todos acumulamos uma série de recordações. Esses dois fatores são os principais componentes do ego. O que nos possibilita considerá-lo como complexo de fatos psíquicos. A força de atração desse complexo é poderosa como um imã: ele atrai os conteúdos do inconsciente,(...). Ele também chama a si impressões do exterior (...) É sempre o centro de nossas atenções e de nossos desejos, sendo cerne indispensável da consciência. Se ele se desintegra, como na esquizofrenia, toda ordem de valores desaparece e as coisas não mais podem ser reproduzidas voluntariamente; O centro se esfacelou e algumas partes da psique passarão a referir-se a um fragmento do ego, enquanto outras partes se ligarão a outros fragmentos. (Jung, 1983) Pg. 7 Na psicose haveria a perda da unificação numa totalidade e a personalidade ficaria fragmentada. Na histeria as personalidades dissociadas ainda permanecem numa espécie de inter-relação, o que sempre oferece a imagem de uma personalidade total; sendo ainda possível estabelecer um relacionamento com a pessoa, podemos sentir uma reação dos seus sentimentos. Há apenas a divisão superficial de alguns compartimentos da memória, mas a personalidade básica está sempre presente. Na esquizofrenia não acontece a mesma coisa, há apenas fragmentos, sendo impossível estabelecer a totalidade. Eis porque, se tivermos uma pessoa que vimos sã pela última vez e que, de repente, enlouqueceu, levamos um choque tremendo ao confrontarmos com a personalidade fragmentária, partida. Pode-se manipular apenas um fragmento de cada vez, como um caco de vidro. Não há um contínuo na personalidade, enquanto que, em um caso histérico, pensamos: Ah, se eu pudesse apagar esse tipo de obscuridade, de sonambulismo, aí surgiria a soma total do indivíduo. Na esquizofrenia a dissociação é profunda. Os fragmentos jamais se juntam. (Jung, 1983)pg.93 No entanto Jung afirma, em outro momento, que a unidade da consciência é uma mera ilusão; um sonho de desejo. Que gostamos de pensar que somos unificados, mas isso não acontece nem nunca aconteceu. Tudo isso se explica pelo fato de a chamada unidade da consciência ser mera ilusão. É realmente um sonho de desejo. Gostamos de pensar que somos unificados; mas isso não acontece nem nunca aconteceu. Realmente não somos senhores dentro de nossa própria casa. E agradável pensar no poder de nossa vontade, em nossa energia e no que podemos fazer. Mas na hora H descobrimos que podemos fazê-lo até certo ponto, porque somos atrapalhados por esses pequenos demônios, os complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de movimento próprio, de viverem sua vida independentemente de nossa intenção. (Jung, 1983) pg. 67 Que seria impossível a tarefa de unir todos os elementos incompatíveis. Pois o ego pode apenas identificar-se com uma parte de cada vez. (o doente) tenta ajuntar todos os elementos dispersos no vaso, que é destinado a ser receptáculo de todo o ser, de todos os elementos incompatíveis. Se tentasse uni- los, em seu ego, seria uma tarefa impossível, pois o ego pode apenas identificar-se com uma parte de cada vez. (Jung, 1983) pg. 165 Diz que é a atividade objetivante da consciência que inibe a explicitação do complexo. Que só apareceria de forma metafórica.
  • 5. A possibilidade de o complexo vir a se explicitar é inibida pela atividade objetivante da consciência. O complexo apenas se fará notar de maneira obscura como acontece nos automatismos melódicos que , em geral, trazem os pensamentos do complexo de forma metafórica. (Jung, 1999) Pg.47 Quando o complexo se fixa, não se modifica de forma alguma, intoxicaria e compromenteria as funções psíquicas aparecendo como uma psicose. Devemos postular, no caso da dementia praecox, uma manifestação específica do afeto (toxina?) que aciona definitivamente a fixação do complexo, comprometendo o conjunto das funções psíquicas. (Jung, 1999)Pg.30 Se o complexo não se modifica de forma alguma, o que naturalmente só é possível em grave detrimento do complexo do eu e de suas funções, então devemos falar de uma dementia praecox. (Jung, 1999)Pg 59 Para Jung quando há o domínio permanente de um complexo insuperável o sujeito estará morto para o meio ambiente pois seu interesse estaria exclusivamente no complexo A todo indivíduo normal interessa libertar-se de um complexo obsessivo que impede o desenvolvimento adequado da personalidade (a adaptação ao meio ambiente). (Jung, 1999)Pg 58 O ego é um aglomerado de conteúdos altamente dotados de energia e, assim, quase não ha diferença ao falarmos de complexos e do complexo do ego. (Jung, 1983)pg.67 Porém a cisão seria efeito da revolta e combate do estilo predominante na consciência (“personalidade consciente”) contra uma manifestação de formações diversas. Seria a oposição e combate as reivindicações, ampliariam a cisão. Quanto mais se alarga a brecha entre consciente e inconsciente, tanto mais iminente a cisão da personalidade, que no indivíduo com tendência neurótica leva à neurose, naquele com predisposição psicótica leva à esquizofrenia, à desintegração da personalidade. Normalmente os impulsos do inconsciente são realizados inconscientemente (...) quando o respectivo conteúdo espiritual não é levado em consideração, mas mesmo assim se insinua inconscientemente na vida intelectual consciente (Jung, 2008) pg. 425 As manifestações se dirigem não apenas aos pontos fracos do estilo preponderante na consciência, mas às virtudes principais, a função diferenciada e mesmo aos ideais. Em geral a personalidade consciente se revolta contra a manifestação do inconsciente e combate suas reivindicações que, como se percebe nitidamente, não se dirige apenas aos pontos fracos do caráter masculino, mas ameaça também a "virtude principal" (a "função diferenciada" e o ideal). (Jung, 2008) pg.293 A loucura não apareceria separada do psiquismo “normal”; ela adquire um sentido; “é uma pessoa que sofre dos mesmos problemas humanos que nós (...)”. Reconhece-se na doença uma reação inusitada a questões que se apresentam em todos nós. Quando, porém, penetramos nos segredos do doente, percebemos que a loucura possui seu sistema próprio (a loucura revela seu sistema), e passamos a reconhecer na doença mental apenas a reação inusitada a problemas emocionais que pertencem a todos nós. (Jung, 1999) pg. 149 Jung problematiza as idéias que tentam propor para psicose (demência praecox) dinamismos ou psicologias diferentes do restante quer seja neurose histérica quer seja do chamado normal. sabemos bem pouco sobre a psicologia das pessoas normais e dos histéricos para pressupormos, numa doença tão obscura como a dementia praecox, mecanismos novos e desconhecidos das demais psicologias. (Jung, 1999) Pg. 15/16 Em “Psicogênese das Doenças Mentais” há uma forte problematização perguntando se os conteúdos que aparecem no “doente” com afetos violentos não seriam incongruente apenas para nós, que conhecemos insuficientemente sua psique, mas também para o sentimento subjetivo do doente? Jung afirma que os sintomas, “"idéias patológicas" desempenham, freqüentemente, um papel fundamental” (Jung, 1999); que “O distúrbio súbito da associação pela irrupção de um encadeamento estranho de idéias também ocorre em pessoas normais”(Jung, 1999). “a associação
  • 6. incoerente ou "idéia patológica" talvez se relacione com um fenômeno psicológico mais geral” (Jung, 1999). Que “a experiência de associação nos mostra que esses fenômenos (bloqueio que parece involuntário; "amnésia", justamente na histeria, pois apenas um passo separa a amnésia do não-querer-falar.) ocorrem também em pessoas normais” (Jung, 1999). Assim, é possível pensar que, geralmente, as excitações permanecem incompreensíveis para nós, já que não percebemos suas causas associativas. Isso se passa inclusive conosco: ficamos durante certo tempo mal humorados e, até, inconvenientes e não temos consciência da causa. Damos as respostas mais simples num tom ríspido e fora do normal, etc. Se a própria pessoa normal nem sempre é capaz de elucidar a causa de seu mau humor, muito menos nós conseguiremos isso em relação à psique de um demente precoce! (...) Embora no quadro clínico a incongruência seja um dado bastante freqüente, ela não ocorre apenas na dementia praecox. Na histeria, a incongruência é, do mesmo modo, algo corriqueiro; (...) A psicanálise, no entanto, descobre os motivos e agora começamos a compreender por que os doentes assim reagem. (...) Sabendo que a incongruência também aparece na histeria, será necessário pressupor um mecanismo totalmente novo na dementia praecox? (Jung, 1999)Pg. 15 Embora Jung diga que a psicose aparece como a invasão de complexos, é com a assimilação destes que há a proteção contra o isolamento e a psicose. Aponta para a questão da cisão diante da porção incompreensível e irracional. Afirma a necessidade de formas de expressão coletivas e por isso não basta, no auxílio profissional, a orientação exclusivamente pessoal. Ao mesmo tempo, a assimilação do inconsciente protege contra o perigoso isolamento que sente todo aquele que se vê frente a frente com uma porção incompreensível, irracional, de sua personalidade. Pois o isolamento leva ao pânico, e com isto tão freqüentemente começa a psicose (...) Quanto mais se alarga a brecha entre consciente e inconsciente, tanto mais iminente a cisão da personalidade e aliás sob muitos disfarces. (...) Em geral é necessário o auxílio profissional para sustar uma tal cisão. (...) visando formar o seu consciente de tal forma que pudesse compreender os conteúdos do inconsciente coletivo. (...) As relações arquetípicas dos produtos do inconsciente só podem ser compreendidas com o auxílio das "representations collectives" (LÉVY-BRUHL), (...). De modo algum basta para isto uma psicologia de orientação exclusivamente pessoal. (Jung, 2008) pg. 425/426 A questão da cisão estaria intimamente relacionada não apenas a luta, combate, mas ao desagrado e paralisação da energia psíquica que estava fluindo seguindo um determinado padrão complexo constelado. Haveriam aspectos desagradáveis na paralisação da energia psíquica. Isto apareceria à consciência como indesejável, desagradável ou mesmo catástrofe que esta tentaria evitar. “a paralisia da energia progressiva de fato tem aspectos desagradáveis. Ela aparece como coincidência indesejável ou mesmo como catástrofe, que naturalmente se deseja evitar.” (Jung, 2008) pg.293 No entanto, Jung afirma que entende por sujeito todos os estímulos, sentimentos, pensamentos, e sensações vagos e obscuros que perturbam e criam obstáculos à continuidade da vivência consciente do objeto. Entendo por sujeito, convêm dizer desde já, todos aqueles estímulos, sentimentos, pensamentos, e sensações vagos e obscuros que não é possível demonstrar que promânem da continuidade da vivência consciente do objeto, mas que pelo contrário, surgem como perturbação e obstáculo, (...) (Jung, 1981)Pg.478 Poderia ser dito que o sujeito aparece como o que resiste a continuidade do que a consciência objetificou com unidade? Se for assim o sujeito apareceria como algo que interrompe a energia progressiva e agradável? Tanto que indica que as invasões e dissociações, características da “doença neurótica” seriam um fator favorável, uma tentativa de auto-cura. (...) é uma tentativa de auto-cura, (...) Não se pode mais entender a doença como um ens per se, como uma coisa desenraizada, como há algum tempo atrás se julgava que
  • 7. fosse. (Jung, 1983) pg.156 Portanto o favorável não é o que parece agradável e favorecendo o fluxo de energia no complexo do Ego, mas o que interrompe ou paralisa um determinado funcionamento automatizado de forma complexa. É na loucura que se pode descobrir um sentido no sem-sentido. A loucura revela novos sentidos, outras organizações complexas A série de acontecimentos aparentemente tão absurdos, as "loucuras", adquire, de repente, um sentido; descobrimos um sentido no sem-sentido, conquistando, assim, uma aproximação mais humana do doente mental. Ele é uma pessoa que sofre dos mesmos problemas humanos que nós (Jung, 1999) pg. 149 É interessante que, Jung indica que a esquizofrenia estaria relacionada com o individualismo. “o distúrbio mental conhecido pelo individualismo e pela originalidade de seus produtos.” (Jung, 2008) Pg. 131 Retomando a noção de “Doença” em Jung e na psicologia arquetípica. A Doença para Jung não pode ser vista como coisa em si, como algo separável ou isolado, como uma coisa que estivesse em algum lugar (na pessoa, nas células, no cérebro etc.) uma vez que a unidade da psique não é um átomo ou uma unidade em abstração como no sentido da matemática. A unidade aparece como um complexo de relações e a doença também e portanto não pode ser um “ente em si”. “o médico não deve jamais perder de vista o seguinte: as doenças são processos normais perturbados e nunca “entia per si”, dotados uma psicologia autônoma.” (Jung, 1983) pg. 2 O que indicaria a doença seriam as situações onde ocorre a fixação de um complexo, quando ele não se modifica de forma alguma, quando há o dominio permanente de um complexo insuperável etc. Jung nos diz que somos sempre conduzidos de alguma forma, por algum complexo, em inúmeras constelações ! a série psíquica normal se desenvolve sob a constante influência de inúmeras constelações psicológicas que, via de regra, não nos são conscientes. (Jung, 1999) Pg.3 A constelação dos eventos se organizaria seguindo estilos de consciência, fantasias dominantes, estilos imaginativos de discurso que funcionam como padrões Arquetípicos. Estes são melhor comparáveis aos deuses gregos. As formas de viver, pensar, de sentir etc. seriam, então, alegorias destes estilos e não o contrário! Seria o que organiza os eventos em constelações. Patrícia Berry em conferência realizada em São Paulo em 2009 refere que Jung designava deus como tudo que cruza o caminho, perturba, muda o curso da vida. “todas as coisas que cruzam o meu caminho de forma inesperada, violenta, tudo que perturba minhas visões subjetivas, meus planos e minhas intenções e mudam o curso da minha vida para melhor ou pior” Jung por Berry Se os deuses aparecem como o que conduz, faz sofrer, rir, chorar, pensar, interrompe e limita o caminho do ego, então: “Os deuses tornaram-se doenças”. (Jung, 2003) §54 Não está se dizendo que os sintomas ou os desconfortos levariam o sujeito a corrigir “seu” caminho ou buscar a divindade interna ou externa; que haveria “um” caminho próprio do sujeito e outros desviantes ou doentes e que os sintomas levariam a correção do caminho torto em busca de “um” caminho natural, espontâneo, verdadeiro etc. Não! Os padrões arquetípicos (deuses), como a psique, alma ou vida, estão em nós e nós estamos neles, ao mesmo tempo. Eles atravessam, conduzem e constituem a todos nós. “Alma ou Psique que não apenas está em nós, como uma série de dinamismo, mas também nós estamos nela.” (Hillman, 1975)pg.134
  • 8. Só pensaria que age livremente quem não pensa no que o leva a agir. Na dimensão da ação, do julgamento, da conduta, não se trataria nunca de um indivíduo que age, julga, se comporta, mas tratar-se-ia de algo que o leva a agir julgar e se comportar. Na psicologia arquetípica, James Hillman em “Revendo a Psicologia” (Hillman, 1975) nos contra- educa, instabiliza os pontos de sustentação do pensar habitual propondo que nunca verdadeiramente temos idéias! Elas é que nos têm, suportam, contêm e nos governam. As Idéias como formas de olhar. Os padrões arquetípicos (deuses), seriam infinitudes verdadeiras; melhor comparados aos deuses gregos que atravessavam a tudo como infinitos sem bordas, sem começo ou fim. Estes não são seres que protegem ou castigam; são padrões que buscam coagular, organizar, conduzir na máxima intensidade, a partir de valores específicos de cada configuração. “Quando a vida se inflamava, no desejo ou no sofrimento, ou mesmo na reflexão, os heróis homéricos sabiam que ali havia um deus em ação ...”. (Calasso, 1996) pg.68 Configura-se para Hillman uma “Doença” nas situações em que só se tem altar para um único deus! Ou em toda forma de fundamentalismo. Diz também que a “patologia é a maneira mais palpável de testemunhar os poderes que estão além do controle do ego” e que “é através dos ferimentos na vida humana que os deuses entram” (Hillman, 1975) Os complexos patológicos mostrariam a organizações de eventos em constelações a partir de padrões arquetípicos diferentes do que está, no momento, controlando como se fosse o melhor e mais saudável. Os sujeitos investem em diferentes intensidades nas expectativas de seguir valores ligados à realização de uma vida bem sucedida. Constituem o complexo do Ego, no processo de socialização, construindo identidades socialmente reconhecidas, internalizam com isto padrões que podem ser utilizados, normativamente, sobre os sujeitos, a psique e a vida. Sofrer-se-ia por não poder tomar distância das normas que obrigam a realizar certos valores, certas expectativas, que, para o sujeito, parecem totalmente ligadas à realização de uma vida bem sucedida. Os complexos “patológicos” exprimiriam outras normas de vida possíveis, que teriam organizado os eventos em constelações de forma diversa, a partir de diferentes estilos de consciência, fantasias dominantes, estilos imaginativos de discurso. As categorias Psicopatológicas seriam como vasos para aglutinar exprimir outras normas de vida. Seriam padrões arquetípicos ou normas organizadas histórica e socialmente, diferentes do que está, no momento, controlando como se fosse o melhor e mais saudável. Validariam muitas formas outras de viver, pensar, de sentir, valorar; dariam legitimidade às transformações nas formas de constituir famílias, tribos, redes sociais, realizar trocas, trabalhar, morar etc. O patológico não seria a ausência de norma, mas uma norma diversa, porém repelida pela instância que está, naquele momento, dominando a vida. Podem-se traçar semelhanças profundas entre esta forma de pensar e as idéias de George Canguilhem no texto “O Normal e o Patológico” (Canguilhem, 2000) quando afirma que doença acontece quando só se pode admitir uma única norma, não se pode ultrapassá-la, infringir a norma habitual e constituir normas novas. “o doente é doente por só poder admitir uma norma. O doente não é anormal por ausência de norma, e sim por incapacidade de ser normativo.” (Canguilhem,
  • 9. 2000) pg. 149 “o que caracteriza a saúde é a possibilidade de ultrapassar a norma que define o normal momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual e de instituir normas novas em situações novas” (Canguilhem, 2000) pg.160 Ou seja, se está doente quando se está totalmente absorvido pelo meio; mas o meio não está do lado de fora. O meio se duplicou. Ele exerce seus efeitos nas idéias e valores que orientam a sociedade e não só dirigem, mas constituem a identidade do Eu nas pessoas. As normas poderiam estar internalizadas por elos de associação abstratos. Jung fala de “unidade funcional” no texto sobre “o complexo de tonalidade afetiva e seus efeitos gerais sobre a psique”; ali descreve, num exemplo, que ao encontrar na rua um velho amigo: “em meu cérebro, surge uma imagem, uma unidade funcional” (Jung, 1999). Estas unidades construídas por abstração de alguns elementos presentes em determinados acontecimentos seriam transformadas em sistemas complexos, tanto em traços arquivados em conexões neuronais, chamados de memória, como em experiências históricas sedimentadas nos processos mais elementares, modos de vida, valores sociais, condutas etc. que se atualizariam em todos os indivíduos. Assim unidades abstratas que aparecem, tanto em valores sociais, como em traços neuronais, determinam de antemão as possibilidades de reação e organizam sistemas que fornecem o padrão e a transgressão (a regra anunciada e as alternativas ao padrão) ligando estes a disposições de conduta independentes das crenças que se tenha e do que está acontecendo no presente vivo. Poderiam estas unidades abstratas serem imaginadas como princípios de incerteza, “padrões mais profundos do funcionamento psíquico, as raízes da alma que governam as perspectivas que temos de nós mesmos e do mundo.” (Hillman, 1975) e então pode-se aproximá-las da noção daquilo que é chamado de padrão arquetípico? Padrões arquetípicos que se apresentariam tanto nas relações no mundo como internalizados em automatismos cerebrais com autonomia. Interessa tomar distância, libertar-se destes complexos obsessivos, como diria Jung. A todo indivíduo normal interessa libertar-se de um complexo obsessivo que impede o desenvolvimento adequado da personalidade (a adaptação ao meio ambiente). (Jung, 1999)Pg 58 A loucura desvelaria o momento em que “o outro” de um estilo de racionalidade dominante não pode ser escutado, compreendido e acolhido. As categorias e descrições psicopatológicas forneceriam, à maneira dos mitos, a inter-relação de poderes humanos (poderes que o Ego julga controlar heroicamente) e sobre-humanos (forças que o conduzem) como nos aponta Hillman em Mito da análise. (Hillman, 1984) A questão pode ser: “(...) a qual categoria (a qual Deus) pertence este problema?” (Hillman, 1984) pg.146 As categorias Psicopatológicas invertem-se com o aprofundar metafórico Os diagnósticos categoriais apresentam o que foi constelado, num processo histórico, como o outro da razão, da saúde e da vida realizada. Olhando metaforicamente, através das descrições diagnósticas, que se pode perceber implicitamente as normas valorizadas de forma mais viva e encarnada. Metáfora como uma forma
  • 10. de ver que se aproxima do que aparece como constelação de atributos aglutinados e não como unidades totalizantes. As categorias Psicopatológicas condensam as normas tácitas que atravessam a todos e das quais se precisa tomar distância, ao pretender trabalhar no campo da saúde mental buscando dissolver e superar certezas, fundamentalismos, verdades únicas e literalismos hegemônicos. A psicologia arquetípica, através de Hillman, fala de um estilo de consciência Heróico que procura determinar unificando (Hillman, 1975). A literalização seria a resposta do olhar unificador do Ego heróico sobre o diverso, o múltiplo, as contradições no mundo, na tentativa de eliminar a tensão entre o desconhecido, descontrolado, inquieto, pulsante e indeterminado e as configurações determinadas. Problemas seriam efeitos do ego heróico sobre o que se apresenta como desconhecido, descontrolado na busca de paralisar o movimento constante da vida. A psique teria um trabalho de criar patologias (Patologizar) (Hillman, 1975) para dispor de bolsas para tudo o que não encontra lugar e permitir que o movimento não fosse bloqueado. O Ego Heróico diante do diverso, do múltiplo, da tensão busca unificar; constitui “uma” representação diante do diverso da existência; diante de uma questão vê problemas literais a serem resolvidos; realiza sua tarefa de coagular o múltiplo em significados particulares que é chamado: fatos, dados, problemas, realidade. Se este se apropriar do controle e buscar a dominação única de sua perspectiva sobre os movimentos e a multiplicidade da vida, torna-se o único deus ao qual se deu altar, então se tem a doença! E se for exatamente o complexo do Eu/Ego que, ao não conseguir tomar distância do estilo heróico de consciência, obsessivamente impede a vida em sua pulsação, multiplicidade e indeterminação e destrói conexões diferentes no cérebro e no mundo. Isto pode fazer pensar que o complexo que não se modifica de forma alguma e que leva a falar em demência praecox seria o próprio complexo do Eu sendo conduzido em identificação com o estilo de consciência Heróico? Hillman no texto “Paranóia” diz que o caminho é tornar-se parte do quadro. O modo de penetrar em qualquer quadro clínico é tornar-se parte do quadro, e isto é válido tanto para a compreensão teórica de uma síndrome, quanto para a terapia de um caso individual que sofre da síndrome. Paranóia (Hillman, 1993) pg.14 citação 6 Aproximação inicia-se pelo Pathos, tudo o que nos faz sofrer, sentir, rir, chorar, pensar desta ou daquela maneira; o que nos conduz; aquilo que nos atravessa, nos move e também nos constitui. Como diante dos limites, do desconhecido, a psique constantemente construiria fantasias explicativas, que vistas literalmente, nos apresentariam as patologias; estas seriam vasos para aglutinar estas fantasias. Não seria importante entrar, metaforicamente, no que é apresentado como psicopatologia? Foi por um crepúsculo de vago outono que eu parti para essa viagem que nunca fiz. (...) Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque nunca lá estive. (...) Julgais, sem dúvida, que as minhas palavras são absurdas. É que nunca viajaste como eu. Viagem nunca feita (Pessoa, 1996) pg. 41 Tomam-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas, Penetra-me fisicamente o cais e sua atmosfera (...) Acelera-se cada vez mais o volante dentro de mim (...) Chamam por mim as águas. Chamam por mim os mares. Chamam por mim levantado uma voz corpórea, os longes, as
  • 11. épocas marítimas todas sentidas (...) (Pessoa, 1996) pg. 319 Ode marítima/Álvaro de Campos/Fernando Pessoa Há vozes que mandam, querem me obrigar a fazer coisas... Visões que dizem o que vai acontecer no futuro... Há chips implantados em mim que controlam o que faço... Há vozes e vozes, perseguições e perseguições. Algumas poemas e outras sintomas. Algumas possibilidade de vida e outras prisão. O que encarcera é o fato de serem vozes ou pensamentos de perseguição? Para quem, para que forma de ver, para que estilo de consciência, vozes e perseguições são um problema aprisionante? Pode-se metaforizar e tornar-se parte do quadro, na descrição do diagnóstico de Esquizofrenia no CID X Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção (...) (CID-10 OMS, 1993)pg.85 No meio das características fundamentais do pensamento e da percepção tinha um transtorno, tinha um transtorno no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho ... No Meio do Caminho/ Carlos Drummond de Andrade Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você? A lista/Oswaldo Montenegro A perturbação envolve as funções mais básicas que dão à pessoa normal um senso de individualidade unicidade e direção de si mesmo. (CID-10 OMS, 1993) pg.85 Meu tema é a vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos (...) Esta é a vida vista pela vida. Posso não ter sentido, mas é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa. (...) E doidamente me apodero dos desvãos de mim (...) Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. Água viva/Clarisse Lispector Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados (...) e por afeto inadequado ou embotado. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros. (CID-10 OMS, 1993) Inadequado como imperfeição? Que santificados do absurdo os artistas que queimaram uma obra muito bela, daqueles que, podendo fazer uma obra bela, de propósito a fizeram imperfeita, (...) Por que escrevo este livro? Porque o reconheço imperfeito. Calado seria a perfeição; escrito imperfeiçoa-se...” (Pessoa, 1996)pg.27/28 Apoteose da Mentira/Fernando Pessoa E se a norma do pensamento e a percepção sem distorções, os afetos adequados e sem embotamentos, o senso de unicidade, individualidade e direção de si mesmo; os pensamentos e atos íntimos não compartilhados, tornarem-se norma única? O único deus ao qual se dê altar? (...) e podem se desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais trabalham de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido, de formas que são muitas vezes bizarras. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 Karl Jaspers em Patologia Geral fala de delírio como uma alteração na forma do pensamento com convicção extraordinária, certeza subjetiva, incomparável, Impossibilidade de influenciamento da parte da experiência e de raciocínios constringentes e impossibilidade do conteúdo. Aplicando-se os três critérios ao pensamento literal e unificador não poderíamos dizer que é ele que tem certeza plena? Não se duvida do Princípio da
  • 12. não contradição! Uma proposição verdadeira não pode ser falsa e uma proposição falsa não pode ser verdadeira. Nenhuma proposição, portanto, pode ser os dois ao mesmo tempo - Ou é A ou é não A. Não pode ser A e “não A” ao mesmo tempo. Como nos apresenta Aristóteles na Metafísica livro IV capítulo 4. Subjaz no pensamento literal a idéia de que semelhanças e analogias não são formas de conhecimento e sim ficções do espírito. Que discernir é estabelecer identidades. E que o ser pensado é essencialmente representado; onde aparece como objeto adequado a categorização. Isto leva a idéia de autodeterminação e liberdade que se caracteriza pela certeza subjetiva; ou seja, só se aceita algo que satisfaça as exigências de verdade para mim. Embora vários pensadores tenham problematizado este princípio lógico com raciocínios constringentes e elementos da experiência, aparece haver uma impossibilidade de influenciamento nas idéias. Todas as operações desta razão literal são pautadas por: unidade, identidade e diferença. Entre os autores que refletem sobre a questão da Unidade e Identidade, buscando superar as oposições entre “Um e Múltiplo”, “Ser e Nada” estão: Heráclito ao dizer que: O combate (Pólemos) é o que é comum; onde a harmonia visível esconde a tensão, não visível; esta tensão é a mais bela Harmonia! Afirma a não existência de solução para a tensão. Não escutar a tensão constitutiva das coisas, levaria os homens a viverem como se possuíssem um particular e tomarem por particular o que é comum. (Heráclito, 1973). Para Nietzsche “toda palavra torna-se conceito quando tem de convir a um sem-número de casos, nunca iguais, portanto, a casos claramente desiguais. E chamamos de igual o desigual para podermos nos comunicar.” (Nietzsche, 1978). Adorno aponta que é através das operações de construção de unidade e identidade, onde torna-se igual o desigual, que se instala um sistema de equivalências; tudo pode ser transformado em unidade e visto como uma coisa (reificação) e adquire uma forma que permite trocas (forma mercadoria). O princípio da unificação do diverso da intuição sensível, sob a forma de um objeto, que é dado pelo próprio “Eu”, leva à coisificação do mundo. (Adorno, et al., 1985) Para Hegel toda determinação é um processo relacional. Só se determinaria algo em relação a outro algo que é posto ao mesmo tempo; quando é posto em uma situação, em um contexto próprio a existência. Determina-se um objeto através do acesso as suas qualidades, mas como toda qualidade é uma determinação relacional, a identidade do ser consigo mesmo é sempre em trabalho de contraste relacional tentando excluir uns dos outros. Fora da estruturas de relação só pode haver indeterminação. O Ser aparece como o excesso que indica como toda estruturação de objeto vai ser sempre assombrada pela indeterminação. Ser e Nada são abstrações. O devir seria o primeiro pensamento concreto. O devir introduziria a oposição no interior do Ser. Nada no interior do Ser é o devir (Hegel, 1995). Pode-se pensar então em determinação para além da idéia da determinação atributiva de predicados limitadores e em objeto para além da idéia do objeto como pólo fixo da identidade. O pensamento metafórico simbólico, imaginativo seria uma forma de pensar por constelações ou o que pode ser entendido como algo muito próximo de pensar por metáforas (metáfora como uma forma de ver que se aproxima do que aparece como constelação de atributos aglutinados e não como unidades totalizantes), seria uma construção imaginativa que se aproxima do olhar poético e que afirma a potência cognitiva da mímese. Pensar por constelações pode aproximar este pensamento do que Walter Benjamim refere como constelações: a idéia pertence a uma esfera fundamentalmente distinta daquela em que estão os objetos que ela apreende. (...) Sua
  • 13. significação pode ser ilustrada por uma analogia. As idéias se relacionam com as coisas como as constelações com as estrelas. O que quer dizer, antes de mais nada, que as idéias não são nem os conceitos dessas coisas, nem as suas leis. Elas não servem para o conhecimento dos fenômenos, e estes não podem, de nenhum modo, servir como critérios para a existência das idéias. (Benjamim, 1984) Pg. 56 Jung falava da importância do conteúdo e da necessidade de aprofundar nos processos associativos e não ficar com as unidades. Hillman indicará que o olhar metafórico dissolveria os atributos aglutinados pelo literalismo do ego heróico e quebraria a vivência de unidade e de imediaticidade de qualquer coisa. “a regressão infinita do psicologizando, seu processo interiorizante do visível ao invisível (...) chega a um descanso ao encontrar a permanente ambiguidade da metáfora, onde descansar e permanecer são ficções –“como se”. (...) como todo conceito intelectual, repousa ou encontra solo permanente e base na metáfora e pode apenas se estabelecer pelo consentimento da metáfora. (Hillman, 1975)Pg. 153 Isto se alinha a Hillman quando fala na via negativa e na natureza metafórica da Alma: “O terapeuta não literaliza (...) ele se move ao longo da Via negativa tentando desliteralizar todas as formulações” (...) (Hillman, 1983)pg. 76 A natureza metafórica da alma tem uma necessidade suicida, uma afinidade com o mundo das trevas (...) Aquele sentido de fraqueza, de inferioridade, de mortificação, de masoquismo, e de fracasso é inerente ao método metafórico em si, o qual anula a definição da consciência como controle sobre os fenômenos. (Hillman, 1983)pg. 48 O poeta talvez ajude quando diz que: Ter opiniões definidas e certas, instintos, paixões e caráter fixo e conhecido – tudo isto monta ao horror de tornar nossa alma um fato.(...) Viver é um doce fluido estado de desconhecimento das coisas e de si próprio. Livro do desassossego/Máximas / Fernando Pessoa Volta-se a descrição no CID X As alucinações, especialmente auditivas, são comuns e podem comentar sobre o comportamento ou os pensamentos do paciente. (CID-10 OMS, 1993)pg. 85 A questão é aparecerem vozes comentando comportamentos, pensamentos ou sentimentos ou o que as vozes são tomadas como literais? Qual a diferença de que aparece em todos? Quantas vozes não chamam, metaforicamente, a cada momento cada ser humano? A questão pode estar mais na literalidade e na insistência dos chamamentos. A insistência é o nosso esforço, A desistência o nosso prêmio. (...) Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação. Clarisse Lispector A percepção é freqüentemente perturbada de outras formas: cores ou sons podem aparecer excessivamente vívidos ou alterados em qualidade e aspectos irrelevantes das coisas comuns, podem parecer mais importantes que todo o objeto ou a situação (CID-10 OMS, 1993)pg. 85 Quando a percepção não é perturbada? A percepção depende em parte dos estímulos externos, mas é elaborada por uma série de conexões. O que se vê não são os comprimentos de ondas e sim uma imagem formada no lobo occipital fruto de muitas interferências. Interessante que aspectos são irrelevantes para quem? Para o senso comum? Há algo que não está dando a mesma relevância ordinária para as coisas. Perplexidade é também comum no início e leva, frequentemente, a uma crença de que situações cotidianas possuem um significado especial, usualmente sinistro, destinado unicamente ao indivíduo. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 As situações cotidianas não deveriam ter significado especial? A questão é dar um significado ou ter que desvendar o significado? Ou estar certo de que o significado é sinistro? Sinistro para quem? Na perturbação característica do pensamento esquizofrênico, aspectos periféricos e irrelevantes de um conceito total, que estão inibidos na atividade mental normalmente dirigida, são trazidos para o primeiro plano e utilizados, no lugar daqueles que são relevantes e adequados à situação. (CID-10 OMS, 1993)pg.85 E se a
  • 14. norma que indica quais aspectos devem ficar mais reforçados, em primeiro plano, utilizados de maneira adequada a um conceito total, relativo a esta norma, tornar-se fundamentalista? E se só puder dar altar a estes aspectos (a este deus)? Os outros poderão ser considerados periféricos e irrelevantes e deverão estar inibidos? Dessa forma, o pensamento se torna vago, elíptico e obscuro e sua expressão em palavras, algumas vezes incompreensível. São assíduas as interrupções e interpolações no curso do pensamento e os pensamentos podem parecer serem retirados por um agente exterior. O humor é caracteristicamente superficial, caprichoso ou incongruente. A ambivalência e a perturbação da volição podem aparecer como inércia, negativismo ou estupor. A catatonia pode estar presente. (CID-10 OMS, 1993) pg. 85 Psicose ou “Esquizofrenia” é o que se apresenta quando alguém: 1. Ouve vozes ou vê coisas que outros não vêem? 2. Têm os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos sentidos como conhecidos ou partilhados por outros? 3. Desenvolve explicações, a ponto de que forças trabalham de forma a influenciar os pensamentos e as ações? 4. Não consegue separar nitidamente o que pensa do que acontece? 5. Apresenta afetos inadequados ou embotados? 6. Não apresenta um senso de individualidade,unicidade ou direção de si mesmos firmes? 7. O Humor se expressa superficial, caprichoso, incongruente ou ambivalente? 8. Quando há perturbação da volição que aparece como inércia, negativismo ou estupor? Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. Hoje (...) tenho que arrumar mala, (...) A mala. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, (...) Tenho que existir a arrumar malas. (...) Grandes/ Álvaro de Campos / Fernando Pessoa Pode-se reimaginar esquizofrenia como o que aparece quando o estilo de consciência, unificador (que Hillman chama de ego heróico), conduz e obriga o sujeito a: 1. Dar importância, ter que responder e seguir todas as vozes que aparecem? 2. Ter que reagir, explicar e entender tudo que percebe? 3. Ter que separar nitidamente o que pensa do que acontece? 4. Não poder ter dúvidas, incertezas, não saber? 5. Não poder dividir, falar, compartilhar etc. 1. Não poder se ver como múltiplo e um? 2. Não poder ter sentimentos contraditórios (amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo)? Qualquer estilo de consciência, ao virar norma e tomar de forma única e fundamentalista a vida, poderia transformar-se em doença? E se o olhar literal, heróico, que busca unificar, identificar, dominou as descrições do que aparece como indivíduo, transtorno esquizofrênico, sintomas etc. Não teria este olhar tornado-se a norma única ao invalidar outras aproximações como pensar por analogias, constelações e metáforas ? Quando em Re-Visioning psychology Hillman fala do estilo de consciência baseado no herói e ego- centrado, diz que este dá crédito aos problemas e desacredita as fantasias; “(...) as fantasias se apresentam primeiramente projetadas como os problemas, que são fantasias literalizadas.” (Hillman, 1975) O Literalismo procura manter estável o que está em constante movimento; esquecer as diferenças entre os múltiplos na construção das idéias, conceitos e representações; funciona como se conhecimento só pudesse ser síntese totalizante da multiplicidade, numa ordem de sucessão, de
  • 15. causalidade, de categorias que unifiquem. Realiza sua tarefa de coagular o múltiplo em significados singulares que chamamos: fatos, dados, problemas, realidade. Ao começar esta reflexão foi relatado que psicose estava associada comprometimento do teste de realidade chega-se num ponto onde se afirma que, com razão, há mesmo um comprometimento no teste de realidade, porém agora se inverte a questão. Chama-se de fatos dados e realidade o efeito do ego heróico unificador e literalizante sobre a vida em movimento e a multiplicidade de sentidos possíveis. Quando algo aparece para um sujeito este algo não permanece sempre o mesmo com o passar do tempo. Isto que tinha uma forma, textura, cheiro e consistência com o tempo mudará. Quando se tenta descrevê-lo só se é capaz de fazer descrições comparando com outros atributos que sempre estão mudando também. E o sentido da coisa dependerá de cada olhar e do momento histórico em que a coisa aparecer. O sentido dependerá sempre da interpretação do outro. Ou seja o que se chama de realidade está em fluxo de transformação constante, em relação ao que está estabelecido como conhecido. Inverte-se a noção de realidade material e pode-se entender como realidade aquilo que, indeterminado e em mudança, resiste às unificações e estabilizações engendradas pelo olhar unificador, guiado pelos princípios de unidade, identidade e diferença. Vendo através das ilusões dos problemas na realidade das fantasias, vamos do ego heróico ao ego imaginal. (Hillman, 1975) Psicologizar tenta dissolver o material em mãos, não resolvendo-o, mas dissolvendo-o na fantasia em que está congelado (como um “problema”). Em outras palavras, nós assumimos que eventos têm uma casca externa que chamamos dura, resistente, real (Hillman, 1975) Problemas, transtornos, verdades, dados, fatos, realidade. Podem ser efeitos do “eu unificador”, ego heróico, razão instrumental sobre o que se apresenta como desconhecido, descontrolado, vivo, pulsando, em movimento. Os problemas, assim como as verdades, podem ser vistas como metáforas que se literalizaram, se unificaram, pela dominação deste olhar, através das operações de construção de unidades e identidades. Dominados pela unidade, uma viagem só pode ser uma viagem; uma voz, apenas uma voz; um transtorno, apenas “um” transtorno. Pode-se re-imaginar a esquizofrenia como a apresentação de uma identificação maciça com funcionamento ego heróico. Poderiam os sintomas falar de uma reação quando a vida está dominada de forma fundamentalista, pelo que está mais bem estabelecido, unificado, funcionando “melhor”, integrado ao “Eu” (Ego heróico) de forma mais automática? Poderia os sofrimentos vividos pelo “Ego”, identificado maciçamente pelo estilo heróico, estar pedindo a interrupção, o bloqueio disto que não para de funcionar automaticamente? Na clínica não é frequente a expressão : “A cabeça não para!” Quem sabe não pare por ficar tentando reproduzir as mesmas soluções (remédios metafóricos) que foram os mais valorizados, lhe deram mais reconhecimento no contexto vivido pelo “Eu” e, talvez por isso mesmo, lhe deram mais prazer, tenha adquirido maior saliência e tenha dominado a vida como norma única. É curioso que fantasia neuropsicofaramacológica de que a dopamina seria o neurotransmissor mais largamente considerado envolvido com a esquizofrenia (antiga demência praecox), vem da
  • 16. observação de que substâncias que elevam os níveis de dopamina, como anfetaminas e cocaína, podem produzir sintomas quase indistintos da esquizofrenia. Soma-se a isto que todas as substâncias antipsicóticas são bloqueadores dopaminérgicos. Os “psicofármacos aceitos no tratamento dos transtornos esquizofrênicos são, direta ou indiretamente, inibidores de dopamina. (...)” (Bressan, et al., 2008). Porém é também a dopamina que está relacionada com os sistemas de saliência e de recompensa e prazer. O que faz com que certos sistemas tenham mais importância e que, quanto mais usado, mais ele se fortalece e acaba por remover os outro mais fracos. Dopamina é o neurotransmissor envolvido com a função de saliência e sistema de recompensa e prazer em sistemas neuronais do sistema nervoso central. (...) A saliência (dada pela dopamina) em certos sistemas está relacionada ao aumento da importância que determinadas idéias apresentam para as pessoas (Bressan, et al., 2008) pg.158 Pode-se rever e imaginar que justamente o processo de constituição do complexo do Eu, conduzido por princípios de unidade e identidade poderiam se formar incrementando a liberação de dopamina e produzindo saliência destes traços sobre outros. Como a dopamina também se relaciona com o sistema de recompensa e prazer, a repetição das associações salientes geraria sensação de prazer retro alimentando o sistema. Isto incrementaria a durabilidade e estabilidade das repetições que seriam cada vez mais prazerosas quanto mais se reproduzissem; em especial com o menor número de interferências, obstáculos ou resistências. Estudos de neuroplasticidade afirmam haver uma massiva poda neuronal que remove mais da metade das sinapses até a puberdade, no transcorrer habitual da vida. O crescimento sináptico, seguido por poda, que acompanha o desenvolvimento, aumentaria a performance da rede de associações da memória com recursos sinápticos limitados. “A melhor estratégia de poda neuronal se mostra no apagamento ou destruição de sinapses de acordo com sua eficácia, removendo as sinapses mais fracas primeiro” (Chechik, et al., 1999). O desuso das sinapses ocasionaria sua atrofia e perda de suas funções. Se Jung apontava que o nascimento da psiquiatria se deu no seio do materialismo pernicioso e que há muito tempo “ela vem privilegiando ao órgão, o instrumento, em detrimento da função” (Jung, 1999) pg.145, a própria neuropsiquiatria, ao realizar-se, chega a afirmar que, literalmente, a função faria o órgão. Pode-se entender que o resultado da sociabilidade, ao se realizar, liberaria as “toxinas metabólicas” de que Jung falava. Então estas não estariam em oposição ao funcionamento dos complexos na psique, mas seriam a expressão da própria formação destes. A educação tem por fim implantar complexos duradouros na criança. ... A tonalidade afetiva se mantêm devido a estímulos constantemente atualizados. (Jung, 1999)Pg 36 As associações com o corpo, o prazer na realização automatizada da vida poderia tornar a vida insuperável e auxiliar o trabalho de destruição? O eu constitui a expressão psicológica de uma combinação firmemente associada entre todas as sensações corporais. (...) Devido sua ligação direta com as sensações corporais, é o mais estável e rico em associações (Jung, 1999)Pg 33 O complexo do Eu ao assumir a unificação (combinação estável de múltiplos em um) de forma fundamentalista no domínio da vida que daria suporte ao que apareceria como doença?
  • 17. Seria o sujeito com todos aqueles estímulos, sentimentos, pensamentos e sensações vagos e obscuros que, surgindo como perturbação e obstáculo à continuidade da vivência consciente da unidade do objeto, poderia interromper a dominação das unificações em complexos, em especial o mais forte e estável complexo, o do Eu? Jung problematiza a consciência como a atividade do pensamento dirigido. Ele nos aponta para uma base essencial que seria a afetividade. Pensar e agir seriam sintomas da afetividade. Citando Bleuler diz: "A afetividade, portanto, mais do que uma reflexão é o elemento que pulsa em todas as nossas ações e omissões.(...)” O estado afetivo é um fato dominante e as idéias lhes são sujeitas. – a lógica dos raciocínios é somente causa aparente.(...) (Jung, 1999) Pg 31 Seria o afeto, como o elemento que pulsa em todas as nossas ações e omissões, que instabilizaria os complexos unificados possibilitando associações e conexões novas capazes de impedir a dominação de um único estilo de consciência - de dar altar a um único deus? Entende-se então a profundidade do que Hillman fala com “a alma ou psique teria uma particular relação com a morte” (Hillman, 1975). A morte como metáfora da dissolução destas relações de associações complexas que valoram a partir das vivencias relacionadas ao funcionamento do Ego identificado com o padrão heróico. Jung falava da importância do conteúdo e da necessidade de aprofundar nos processos associativos e não ficar com as unidades. Hillman indicará que o olhar metafórico dissolveria os atributos aglutinados pelo literalismo do ego heróico e quebraria a vivência de unidade e de imediaticidade de qualquer coisa. “a regressão infinita do psicologizando, seu processo interiorizante do visível ao invisível (...) chega a um descanso ao encontrar a permanente ambiguidade da metáfora, onde descansar e permanecer são ficções –“como se”. (...) como todo conceito intelectual, repousa ou encontra solo permanente e base na metáfora e pode apenas se estabelecer pelo consentimento da metáfora. (Hillman, 1975)Pg. 153 Não se deveriam usar todos os dispositivos necessários e acessíveis para instabilizar os fundamentalismos? Dar espaço para outros estilos? Deslocar a posição ocupada que só dá altar a um único deus (este que se colocou como norma única pelo uso repetitivo e contínuo da mesma solução unificadora, do mesmo remédio metafórico)? Não são as soluções que se dá na vida que sustentam ao que aparece como “problema” ? Haveria sustentação para a estabilidade de sintomas, (identidades, propriedades - doente, saudável etc.) ao interromper a repetição da norma única literalista e, através de encontros e processos, fosse possível : a. Ter altar para muitos deuses? b. Poder olhar também metaforicamente, num estilo de consciência Imaginal? c. Reconhecer o sujeito da ação como um lugar de movimento, indeterminação e flexibilidade? d. Conseguir olhar através de múltiplos padrões de consciência. e. Buscar aprofundar nas invisibilidades, sem identificar-se fixamente com nenhum padrão, identidade ou propriedade?
  • 18. Seria possível tal constelação de sintomas se os sujeitos no mundo pudessem se reconhecer e ser reconhecidos como posição de indeterminação? Isto não dissolveria a sintomatologia no processo contínuo da vida no mundo? A questão é que o estilo unitário está presente cotidianamente na gramática do senso comum que orienta a todos, quando não se esta fazendo arte ou poesia! (...) Fornecei-me metáforas, imagens, literatura,/porque em real verdade, a sério, literalmente, minhas sensações são um barco de quilha para o ar, minha imaginação uma ancora meio submersa, minha ânsia um remo partido, e a tessitura dos meus nervos uma rede a secar na praia! (...) (Pessoa, 1977) Ode marítima /Fernando Pessoa O horizonte é manter o uso de todos os recursos disponíveis, comprometido no sentido das condições para que, a vida não fique dominada por uma norma única, fundamentalista e os sujeitos possam ser normativos. A vida possa seguir o fluxo do devir, configurando e dissolvendo configurações infinitamente. O temor de errar introduz uma desconfiança na ciência, (...) porque não introduzir uma desconfiança nesta desconfiança, e não temer que esse temor de errar já seja o próprio erro? (Hegel, 2007) pg. 72 Fenomenologia do Espírito/ GWF Hegel “Renda-se, (...). Mergulhe no que você não conhece (...). Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento” Clarisse Lispector Bibliografia Adorno Theodoro e Horkheimer Max Dialética do Escalrecimento [Livro]. - Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1985. Benjamim Wlater Origem do Drama Barroco Alemão [Livro]. - São Paulo : Brasiliense, 1984. Bressan Rodrigo, Villares Cecília Cruz e Assis Jorge Cândido de Entre a razão e a ilusão –desmitificando a loucura [Livro]. - São Paulo : Farma Editores, 2008. Calasso Roberto As Núpcias de Cadmo e harmonia [Livro]. - São Paulo : Companhia das Letras, 1996. Canguilhem Georges O normal e o patológico [Livro]. - Rio de Janeiro : Forense, 2000. Chechik Gal, Meilijson Isaac e Ruppin Eytan Neuronal Regulation: A Mechanism For Synaptic Pruning During Brain Maturation [Artigo] // Neural Computation. - Tel Aviv : [s.n.], novembro 15 de 1999. - Vol. 11. - pp. 2061- 2080. CID-10 OMS Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento- Organização Mundial da Saúde [Livro]. - Porto Alegre : Artes Médicas, 1993. Hegel G. W. F. Fenomenologia do Espírito [Livro]. -Petropolis : Vozes, 2007. - 4a. Hegel G.W.F. Enciclopédia das ciências filosóficas - A Ciência da lógica [Livro]. - São Paulo : edições Loyola, 1995. - Vol. 1. Heráclito de Éfeso Pensadores Os Pré-socráticos [Seção do Livro] // Fragmentos. - São Paulo : Abril Cultural, 1973. Hillman James O mito da análise [Livro]. - Rio de Janeiro : Paz e terra, 1984. Hillman James Paranóia [Livro]. - Petropólis : Vozes, 1993. Hillman James Re-Visioning Psychology [Livro]. -New York : Harper and Row, 1975. Jung Carl Gustav Estudos Alquímicos [Livro]. -Petrópolis : Vozes, 2003. - Vol. XIII Obras Completas. Jung Carl Gustav Fundamentos de Psicologia Analítica [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 1983. - Vol. XVIII/1. Jung Carl Gustav Psicogênese das doenças mentais [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 1999. - Vol. III das Obras Completas . Jung Carl Gustav Simbolos da transformação: análise dos preludios de uma esquizofrenia [Livro]. - Petrópolis : Vozes, 2008. - Vol. V das Obras Completas. Jung Carl Gustav Tipos psicológicos [Livro]. - Rio de Janeiro : Zahar editores, 1981. Kaplan Harold I., Sadock Benjamim J. e Grebb Jack A. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica [Livro]. - Porto Alegre : artmed, 2003. - 7a. Nietzsche Friedrich W. A Gaia Ciência [Seção do Livro] //
  • 19. Pensadores- Nietzsche / A. do livro Nietzsche Friedrich. - São paulo : Abril Cultural, 1978. Pessoa Fernando Fernando Pessoa Obra poética em um volume [Livro]. - Rio deJaniero : editora nova aguilar SA , 1977. Pessoa Fernando O livro do desassossego [Livro]. -Campinas : Unicamps, 1996. - Vol. 1. Mais Artigos 02.04 VIDA 28.03 A PALAVRA (EN)CANTADA 30.01 A FILOSOFIA DA RELIGIÃO EM CARL GUSTAV JUNG 28.01 INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA 11.12 CELEBRIDADE SOU EU 05.12 RAÍZES FILOSÓFICAS EM JUNG - KANT 29.11 QUAL O SENTIDO DA VIDA? 22.11 REFLEXÕES A RESPEITO DAS NOÇÕES DE INCONSCIENTE E OPOSTOS EM JUNG E HILLMAN 29.10 PSICOSSOMÁTICA INTEGRANDO MENTE, ALMA E MEIO AMBIENTE 18.10 AMIZADE CONTATO ALUNOS FORMADOS -LISTA PROFISSIONAL PARCEIROS - LINKS OUVIDORIA CORPO DOCENTE MATERIAL DE AULAS