O documento discute a importância da psicologia no contexto do cuidado hospitalar e da prática clínica. Aborda temas como a ética do cuidado, a enfermagem como profissão do cuidado, a psicologia e sua contribuição para a compreensão holística do ser humano. Também discute a subjetividade como objeto de estudo da psicologia e o papel do psicólogo hospitalar no enfrentamento de "situações-limite".
1. MÓDULO I – A Psicologia no
Contexto da Humanização: a
dimensão subjetiva do Cuidado
Referências Bibliográficas:
Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença - Alfredo Simonetti
Saber Cuidar Ética Do Humano: compaixão ´pela Terra - Leonardo Boff
Psicologias: Uma introdução ao estudo da psicologia - Ana Maria Bahia Bock
Texto sobre Psicologia Hospitalar - Wandeley Angeramin-Camon
O cuidado emocional em Saúde - Ana Cristina de Sá
Psicologia para Enfermagem - Jakob Anthikad (disponível na biblioteca do ICESP)
Outros
2. Aula I – A Psicologia no Contexto do Hospital e da
Prática Clínica
Tópicos da Aula:
• A ética do cuidado
• A enfermagem como profissão do Cuidado.
• O enfermeiro como um cuidador.
• A Psicologia e sua Contribuição para a Compreensão Holística do
Humano.
• Subjetividade: o objeto de estudos da Psicologia.
• A Psicologia Hospitalar
• O enfrentamento de “situações-limite”
• A importância de uma leitura das “dinâmicas subjetivas” no
cotidiano do hospital.
Material de Apoio:
Texto: 11 Situações
3. Reflita:
• Quem cuida de você?
• De quem você cuida?
• Quem foram seus primeiros cuidadores?
• Quais as suas lembranças mais importantes que
envolvem algum tipo de cuidado?
• O quão importante foi a qualidade dos cuidados
que você recebeu ao longo da sua vida para a
definição da pessoa que você é hoje?
• O que é cuidar?
• Qual a importância do “cuidar” em nossas vidas?
4. A Ética do Cuidado
Ética – Palavra que deriva de Ethos e significa o
modo de ser, caráter.
“Mais do que um ato singular ou uma virtude
ao lado das outras, o Cuidado é um modo de ser,
isto é, a forma como a pessoa humana se
estrutura e se realiza no mundo com os outros.
Melhor ainda: é um modo de ser-no-mundo que
funda as relações que se estabelecem com todas
as coisas.”
Leonardo Boff (teólogo e filósofo)
5. A Ética do Cuidado
O ser humano não vive sem cuidado -
essência da condição humana. Sem o cuidado o
homem deixaria de ser humano. A existência
como um ciclo nascer-crescer-reproduzir-morrer
cobra em todos os momentos o toque do
cuidado. O que mais seria o nosso primeiro choro
se não um pedido por cuidado? Ao longo de toda
a nossa vida sentimos tanto a necessidade de
cuidar, como de sermos cuidados. E é justamente
o cuidado que confere um senso de valor e
direção à nossa existência, que sem o cuidado
não seria possível.
6. A FÁBULA-MITO DO CUIDADO
( Antiga Fábula de Higino)
Extraído do Livro Saber Cuidar: A Ética do Humano, Compaixão pela Terra
de Leonardo Boff
"Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada. Tomou um pouco de
barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando, porém Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o
seu nome.
Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura,
pois fora feita de barro, material do corpo da terra. Originou-se então uma discussão generalizada.
De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
"Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto
é, feita de húmus, que significa terra fértil".:
7. Pare e Reflita:
• Em que escola ou faculdade aprendemos a cuidar?
• O cuidado não é uma técnica, é uma modo de se
relacionar com o mundo e com nossos semelhantes.
• O mundo hoje vive uma crise em que a técnica evolui
enquanto o cuidado é deixado de lado. A ética do
cuidado é um contraponto à noção de evolução
baseada apenas no desenvolvimento da técnica.
• Imagine como seria o mundo sem relações de cuidado.
Um “Admirável Mundo Novo”?
• O cuidado pode se faz com o olhar, com gestos,
palavras, ações e toques. O cuidado pode se fazer em
silêncio apenas com a simples presença humana.
8. A enfermagem como profissão do
cuidado
“A Enfermagem é profissão comprometida
com o Cuidado, pode ser definida como uma arte
e, como tal, requer tão exclusiva devoção, tão
duro preparo (...) Como qualquer trabalho com a
tela inerte ou com o mármore frio poderia ser
comparado com o trabalhar com o organismo
vivo, o templo do espírito de Deus? Ela é uma das
belas artes. Eu tenho dito, a mais bela das artes!”
Florence Nightingale - Notas sobre
enfermagem: o que é e o que não é.
9. Saber cuidar implica necessariamente em aprender a cuidar de si e do outro, ter sempre noção
de nossa realidade, possibilidades e limitações. É notório que o cuidar é muito exigente e
pode levar o cuidador ao estresse. Somos limitados, sujeitos ao cansaço e à vivência de
pequenos fracassos e decepções. Sentimo-nos sós. Precisamos ser cuidados, caso contrário,
nossa vontade de cuidar se enfraquece.
Saber cuidar implica saber olhar o outro como uma totalidade indivisível (percepção holística)
“Holos” : total.
Saber cuidar implica em ver o outro como um OUTRO (alteridade) , não como uma COISA
(objetificação). Implica uma relação do tipo “EU- TU” ao invés da relação “EU- ISSO”.
“Alter”: outro
Saber cuidar implica ser afetado pela dor do outro e se importar com seu sofrimento
(compassividade). A compaixão ultrapassa a empatia, na medida em que nela há um desejo e
uma atitude genuína de aliviar o sofrimento do outro. A empatia pode ser descrita apenas
como a percepção da perspectiva emocional ou psicológica do outro. “ Compassione”: com
paixão
10. A Crise do Cuidado
“Estamos vivendo uma crise generalizada, onde o
descuido, o descaso e o abandono são seus sintomas
mais dolorosos. Vemos hoje o descuido com as
crianças do planeta, com os marginalizados, flagelados
pela fome crônica e pela atribulação de “mil doenças”,
que já haviam sido erradicadas que, em decorrência do
grande aumento populacional global, voltam com toda
a sua força. As pessoas atualmente estão muito
sozinhas, egoístas, medrosas e o que é pior, enterrando
seus sonhos.”
Leonardo Boff
11. A enfermagem e a Crise do Cuidado
“Como profissionais de Enfermagem,
podemos tentar modificar esta realidade, ou
contribuir para que a essência do cuidado
humano, enquanto sensibilidade, ciência e arte
de Enfermagem, impere e o descuido para com o
ser humano seja revisto a fim de obter melhoria
da qualidade de vida, com ética e dignidade,
neste espaço planetário em que vivemos?”
Leonardo Boff
12. O enfermeiro como um Cuidador
“Posso dizer com orgulho que dentre as
ciências da saúde, a Enfermagem foi a primeira
que procurou enxergar o indivíduo de maneira
holística.”
Ana Cristina de Sá, O Cuidado
Emocional em Saúde
[in-divíduo: aquilo que não pode ser dividido]
13. A Psicologia e sua Contribuição para a
Compreensão Holística do Humano
“A identidade da Psicologia é o que a diferencia dos
demais ramos das ciências humanas, e pode ser obtida
considerando-se que cada um desses ramos enfoca o
homem de maneira particular. Assim, cada
especialidade — a Economia, a Política, a História etc.
— trabalha essa matéria-prima de maneira particular,
construindo conhecimentos distintos e específicos a
respeito dela. A Psicologia colabor a com o estudo da
subjetividade: é essa a sua forma particular, específica
de contribuição para a compreensão da totalidade da
vida humana.”
Ana Mêrces Bahia Bock,
Psicologias: Uma Introdução ao Estudo da Psicologia
14. Subjetividade: o objeto de estudos da
Psicologia
“A subjetividade - é o mundo de ideias, o mundo
interno do indivíduo, repleto de significados e emoções
construído internamente pelo sujeito a partir de suas
relações sociais, de suas vivências e de sua constituição
biológica; é, também, fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais.(...) A subjetividade é a
maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e
fazer de cada um. É o que constitui o nosso modo de
ser. (...) Ou seja, cada qual é o que é: sua
singularidade.”.
Ana Mercês Bahia Bock, Psicologias: Uma introdução ao estudo da
Psicologia, Subjetividade enquanto objeto de estudo da Psicologia. Pág – 28.
15. A Psicologia Hospitalar
Segundo Simonetti (2004) “Psicologia Hospitalar é o campo de
entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”.
A psicologia hospitalar não cuida apenas das doenças com causas
psíquicas, mas de qualquer doença, pois todas elas envolvem sempre de alguma
forma, aspectos psicológicos, já que o indivíduo que adoece está repleto de
subjetividade. Para Campos (2010) “ouvir clientes, familiares e profissionais de
saúde na busca da compreensão de suas histórias pessoais, de sua forma de
pensar, sentir e agir é a estratégia básica de ação do psicólogo (...) que se coloca
como intermediador das relações interpessoais”.
Assim, pode-se pensar que o psicólogo, como conhecedor do ser humano, tem
também a função de entender os aspectos que envolvem o adoecimento para que
possa auxiliar o individuo a atravessar o processo de hospitalização, facilitando
este processo, oferecendo uma escuta para que o paciente possa falar da doença
ou de qualquer assunto que o angustie. Isso ajuda o mesmo a entender como está
sendo a relação do individuo com a doença, que significados este atribuiu à
hospitalização e ao tratamento e o que este momento simboliza em sua vida.
Compreendendo que o individuo está imerso em sua subjetividade, suas vivências,
sua história de vida e que quando é surpreendido pelo adoecimento, produz
aspectos psicológicos que muitas vezes não havia parado para refletir, pensar ou
até temer.
16. O Enfermeiro e a Psicologia Hospitalar
Em função de sua pratica diária, o enfermeiro, como os outros profissionais
da área da saúde, entram em contato com pessoas atravessado o que podemos
chamar de “situações-limite”. A expressão “situação- limite” baseia-se na filosofia
de Karl Jarpers e designa aquele tipo de situação que faz com que o sujeito entre
em contato e questione o modo como dirige a sua existência. Assim, por exemplo,
o risco de morte iminente, a perda de alguém querido, uma doença incapacitante,
um diagnóstico de doença terminal, um estado de sofrimento e dor crônico, são
situações que obrigam os indivíduos a se reposicionarem frente a inúmeros
aspectos da sua vida, trazendo consigo muita ansiedade e dor. O enfermeiro pode
acessar o universo subjetivo do seu paciente através da escuta clínica e da relação
terapêutica. Mostrar-se disponível para ajudar o paciente na sua travessia pelo
adoecimento, escutando-o, sem necessariamente estabelecer metas ou fingir ter
respostas certas para os seus conflitos. Acompanhar e estar ao lado paciente
como um ouvinte privilegiado, não como um guia.
Neste processo o enfermeiro pode se beneficiar dos conhecimento e da
reflexões levantadas pela psicologia sobre os processos de saúde/doença,
comunicação, angustia, dor, medo etc. podendo assim compreender melhor a
perspectiva de seu paciente e auxiliá-lo de uma maneira mais completa e
humanísta