O documento discute como os seres humanos nascem prematuros comparados a outras espécies, com cérebros menos desenvolvidos. Isso ocorre porque cérebros maiores exigem nascimentos antecipados, levando a um prolongamento do desenvolvimento pós-natal. Essa "neotenia" traz flexibilidade e capacidade de aprendizagem ao longo da vida, permitindo a adaptação dos humanos a diversos ambientes.
2. Os seres humanos são prematuros: nascem
inacabados.
O pleno desenvolvimento de estruturas tão
complexas como o cérebro é mais lento e
demorado que noutras espécies próximas
(como os chimpanzés).
No nascimento, o cérebro humano atingiu
apenas 25% da dimensão que virá a ter na
idade adulta.
Nos chimpanzés, a dimensão do cérebro no
momento do nascimento corresponde a
cerca de 40% a 50% da que atingirão na
idade adulta.
3. Cérebros maiores obrigam a uma antecipação
do nascimento.
A dimensão do crânio do bebé seria demasiado
grande para a fisiologia da mãe se o cérebro
continuasse a desenvolver-se durante a fase
uterina.
As dificuldades resultantes dos partos de bebés
com cérebros com maiores dimensões poderá
ter levado a evolução a selecionar as gestações
mais curtas.
O resultado foi o retardamento do processo de
crescimento e maturação.
4. Este retardamento fez dos seres humanos
indivíduos inacabados no momento do
nascimento.
Este inacabamento prolonga o período da
infância e da adolescência para permitir o
desenvolvimento das estruturas cerebrais e
da inteligência em interação constante com
o meio.
Por
nascermos
prematuros
e
inacabados, não vimos ao mundo já
equipados com um repertório de
comportamentos rígidos (tal como as
abelhas, etc.) que nos forneçam formas de
adaptação pré-definidas ao meio ambiente.
5. A capacidade de aprendizagem mantém-se
ao longo de todo o ciclo de vida, e constitui
o sinal da flexibilidade do nosso programa
genético.
Como não nascemos já com mecanismos
adaptativos especializados (como acontece
nas outras espécies), somos capazes de nos
adaptar a uma variedade de condições de
vida enorme.
Daí encontrarmos comunidades humanas
em quase todos os locais da Terra, mesmo
os mais inóspitos e improváveis, como os
esquimós.
6. O desenvolvimento do cérebro humano faz-se
maioritariamente depois do nascimento, em
contacto permanente com o meio físico e
social.
Embora esta evolução ocorra de acordo com as
instruções do nosso programa genético, o grau
de maturação do cérebro à nascença deixa um
papel decisivo para os estímulos do meio na
definição do rumo para a nossa evolução como
seres humanos.
7. Em consequência, o desenvolvimento humano
faz-se segundo:
Em lugar da fixidez biológica → a flexibilidade;
Em vez de instintos → a aptidão para aprender;
Em lugar da auto-suficiência → a aptidão para
interagir;
Em vez do determinismo → a indeterminação;
Em vez da especialização → a versatilidade;
Não um programa fechado → um programa
aberto.
8. O que um nascimento prematuro nos faz perder
em acabamento biológico, permite-nos ganhar
em flexibilidade, capacidade de aprendizagem e
adaptação.
É este processo de dependência e interação
social, através do qual a maioria das nossas
aprendizagens ocorre, que nos torna realmente
humanos.
9. Neotenia
Disposição para conservar na idade adulta
traços juvenis ou infantis.
Trata-se, no caso humano, de um processo
evolutivo do qual resulta uma capacidade
de aprendizagem que se prolonga ao longo
de toda a vida.
A neotenia reflecte a falta de acabamento
que conduz ao prolongamento da infância e
adolescência, e que nos humanos permite o
desenvolvimento das estruturas e funções
cerebrais.
Traduz a flexibilidade e abertura do nosso
programa genético.