1. Boletim Rio+20
Edição número 4
Dezembbro 2011/ Janeiro 2012
O Clima, a COP 17 e as falsas soluções
emissões e de maior flexibilidade, o que "As promessas
A 17ª Conferência das Partes (COP) sobre mudança na prática significará uma expansão dos de redução para
climática que ocorreu em Durban em dezembro de 2011 falhou chamados mecanismos compensatórios,
o segundo
novamente em alcançar acordos vinculativos que constituam soluções como o mercado de carbono e REDD,
período
representam
reais à ameaça das mudanças climáticas. Os países conseguiram que não são soluções reais para os
povos. Ao contrário, representam uma
fechar formalmente uma série de acordos sobre questões chave,
panaceia de mercado para ampliar o
menos da
embora de uma forma muito pouco democrática, com pouco
horizonte de ganho do capital usando o
metade do que
conteúdo real, como foi observado por representantes da sociedade
clima como pretexto. E com este novo é necessário
civil presentes, e com os compromissos para reduzir as emissões ainda
mais enfraquecidos. acordo também desaparecerá um dos para manter o
De fato, o Protocolo de Quioto, pilares da Convenção Quadro sobre Mu- aumento da
que expira em janeiro de 2012, teve dança do Clima que reconhece a respon- temperatura
negociada sua continuação para um sabilidade histórica dos países desen- global abaixo
segundo mandato em um clima de volvidos: o princípio das responsa- dos 2 ° C."
urgência. Assim, um acordo foi alcançado bilidades comuns, mas diferenciadas.
em uma corrida para evitar a Definitivamente, o problema do clima não se resolve com
consequências políticas e midiáticas de um soluções de mercado, mas sim questionando o modelo de
vácuo institucional. Inclusive as definições desenvolvimento que o gera e as suas desigualdades estruturais, entre
dos compromissos de redução das emissões e elas a de gênero.
"(...) o o período de duração ficaram suspensos até a Nesse contexto, redes e movimentos presentes em Durban
lançaram um convite à resistência contra o que foi definido como o
problema do próxima Conferência. Além disso, EUA, Japão,
Apartheid Climático. Da mesma forma, ressaltaram a importância de
clima não se Canadá, Rússia, Austrália e Nova Zelândia,
se rearticular em torno do Acordo dos Povos, documento que saiu da
resolve com alguns dos principais emissores de carbono do
Cúpula de Cochabamba em 2010 e que reconhece os direitos da Terra.
mundo, desde já se recusam a participar da
soluções de Assim, a Rio+20 será a próxima etapa na agenda de luta global pela
negociação deste segundo período. Segundo
mercado, o conhecido ativista boliviano, Pablo Solon "As justiça climática, social e ambiental, e as mulheres chamamos à
mas questio promessas de redução para o segundo resistência, que já está em andamento.
nando o período representam menos da metade do
modelo de que é necessário para manter o aumento da Cúpula dos Povos: construir unidade na
desenvolvi temperatura global abaixo dos 2°C". Por outro diversidade
mento que o lado, o Fundo Verde para o clima, que
gera." fornecerá apoio financeiro aos países em No encerramento do Fórum Social Temático em Porto
desenvolvimento para ajudá-los a mitigar os Alegre, no dia 28 de Janeiro, o Comitê Facilitador da Sociedade Civil
efeitos da mudança climática − que terá seus maiores impactos sobre Brasileira para a Rio+20 organizou um ato público para convocar os
as mulheres e comunidades tradicionais −, agora tem um quadro movimentos sociais e as organizações do Brasil e do mundo a
institucional (em que o Banco Mundial desempenha um papel participarem na construção da Cúpula dos Povos que terá lugar
fundamental!), mas ainda é um "Fundo sem fundos" e muitos paralelamente à conferencia das Nações Unidas entre 15 e 23 de
acreditam que os escassos 100 bilhões de dólares prometidos pelos
países desenvolvidos nunca chegarão. Ao invés disso, o fundo vai ser
financiado pelo mercado de carbono e empréstimos privados que
deverão ser devolvidos. No que diz respeito à colaboração de longo
prazo, foi criado um novo instrumento legal pós-Quioto que obrigará
todos os países a reduzirem suas emissões a partir de 2020. Este novo
regime será baseado em promessas "voluntárias" de redução de ChamadoàmobilizaçãoglobalparaaCúpuladosPovos.
Realização Apoio
2. junho de 2012 no Rio de Janeiro. Durante o ato que a “economia verde” propõe são
(http://cupuladospovos.org.br/2012/01/convocacao-para-a-cupula-
"Não é só na novas tecnologias para a “salvação” do
construir-unidade-na-diversidade/), vários representantes de
Rio + 20 que a planeta, porém, não modifica a atual
organizações do Brasil e do mundo reafirmaram o compromisso economia verde lógica de exploração da natureza e dos
político pela busca da “unidade na diversidade” na luta contra a está sendo bens comuns da humanidade que se
mercantilização da natureza e por justiça social e ambiental rumo à imposta como promove a partir das grandes
Rio+20. solução à crise. corporações transnacionais e dos
O processo de construção da grande mobilização em torno Existe uma governos dos países mais ricos. Vemos a
à Cúpula dos Povos, também avançou e o Comitê tem agora cinco articulação das economia verde como um novo invólucro
GTs: Mobilização, Processo Oficial, Metodologia, Território e agendas da para uma velha e falida receita, que tem
Comunicação. As organizações Brasileiras e internacionais que Rio+20, do G20 o lucro como objetivo e o consumismo
procuram participar e se comprometer em um desses GT e contribuir
s e das como lema, e longe da “economia do
com propostas e idéias criativas podem entrar em contato com os
negociações cuidado”, em que as mulheres
organizadores da Cúpula (mais informações no site oficial da Cúpula:
oficiais (COPs) acreditamos para haver qualidade de
http://cupuladospovos.org.br/).
sobre mudança
vida para as atuais e futuras gerações.
Este será um dos aspectos
climática nesta
As Mulheres no Fórum Social Temático em Porto direção."
principais dos debates que acontecerão
Alegre! em junho deste ano na Rio+20. Assim,
para fazer parte desse momento, em Porto Alegre avançamos na
definição de estratégias de participação do movimento feminista na
Povos do mundo todo estarão reunidos no Rio de Janeiro em
Rio+20. Contamos para isso com a participação de redes nacionais e
junho de 2012. É nessa data que acontecerá a Rio+20 e também a
internacionais, de mulheres do movimento negro e indígena, de
Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, encontro paralelo ao
camponesas, sindicalistas, estudantes, enfim, da diversidade que
evento oficial. Dela participarão inúmeros movimentos sociais com o
somos. Definimos a importância de procurar formas de estar “juntas e
intuito de unir forças em torno a um objetivo comum: denunciar a
separadas” ao mesmo tempo. Juntas para alcançar visibilidade das
mercantilização da vida e as falsas soluções de mercado para a crise
lutas das mulheres e aumentar nossa força política; separadas pelo
respeito aos objetivos de luta específicos e diferentes de cada
movimento e rede nacional e internacional.
Durante a última sessão de debate sobre as estratégias,
surgiu a proposta de organização de um “território das mulheres”
dentro da Cúpula dos Povos, mobilizando para isso uma ampla
articulação nacional e internacional que busque visibilizar a presença e
AsMulheresnoForumSocialT
emáticoemPortoAlegre. voz do movimento de mulheres na Rio+20 em sua expressão política
de força e pluralidade a partir das propostas e alternativas das
climática e ambiental que propõem as transnacionais e os países que mulheres para um mundo verdadeiramente sustentável.
as representam. E nós, do movimento de mulheres, estaremos ali, Nós mulheres acreditamos que a hora é essa, e que de nós
fazendo parte de uma luta comum e central aos mais diversos depende a contundência dessa presença. Seja nos eventos específicos
movimentos sociais. das mulheres, ou somadas às atividades da Cúpula − como o Dia de
Assim, no Fórum Social Temático que aconteceu em Porto Ação Global − faremos ecoar nossa voz que grita por um planeta justo,
Alegre entre 25 e 28 de janeiro passado, continuamos aprofundando o equitativo e sustentável.
debate dos temas que estarão em jogo na Rio+20,
fundamentalmente a chamada “economia "(...) em
verde” e as formas que adotará a
Porto Alegre
governança ambiental global. Entendemos a
avançamos
na definição
“economia verde” como uma resposta do
próprio sistema à crise capitalista e uma
nova forma de aprofundar o controle e a
de estra
financeirização dos recursos naturais. Não é
tégias de Para assinatura ou cancelamento: erika@equit.org.br
só na Rio+20 que a “economia verde” está participação Para ler os boletins anteriores acesse:
sendo imposta como solução à crise. Existe do movi www.articulacaodemulheres.org.br e www.equit.org.br
uma articulação das agendas da Rio+20, do mento Redação: Érika Masinara e Lucia Santalices
G20 e das negociações oficiais (COPs) sobre feminista na Edição: Graciela Rodriguez e Lucía Santalices
mudança climática nesta direção. De fato, o Rio+20. "
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