Este soneto de Luís de Camões explora as contradições do amor, descrevendo seus efeitos ora positivos ora negativos sobre o eu lírico. Na primeira quadra, a fortuna permite a alegria da escrita sobre o amor, mas na segunda, Cupido retira a inspiração poética com medo que sejam revelados seus enganos. No final, o poeta apela a todos os que sofrem por amor que entendam melhor seus versos de acordo com a intensidade do sentimento.
2. Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
Para que seus enganos não dissesse
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.
3. Tema e desenvolvimento
• Contradições do amor:
- 1ª estrofe – a fortuna ou sorte permitiram a
alegria e a escrita sobre a temática do Amor
- 2ª estrofe – o Amor temeu que algo de negativo
fosse registado e retira o engenho ao “eu”
- 3ª e 4ª estrofes – o apelo é endereçado a todas
as vítimas do amor, para que ao ler versos tão
diversos, entendam que estes terão tanto mais
sentido quanto tiver sido o amor vivido/sentido
pelos leitores.
4. Amor
Esperança / Sorte (forças
adjuvantes - Fortuna)
Dor / Sofrimento
(forças contrárias -Cupido)
Contentamento
(leva Camões a escrever
sobre os efeitos do Amor)
Tristeza
(inspiração / engenho
ausentes)
Contradições do Amor
(forças contrárias exercidas por Fortuna
e Cupido)
Puras verdades
5. Estrutura
•Soneto: 2 quadras e 2 tercetos
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
A
B
B
A
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
Para que seus enganos não dissesse
A
B
B
A
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
C
D
E
verdades puras são e não defeitos;
C
E sabei que, segundo o amor tiverdes, D
tereis o entendimento de meus versos. E
Interpolada
Emparelhada
Cruzada
6. Divisão em termos temáticos
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
1ª Parte – efeitos positivos
do amor
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
2ª Parte – efeitos negativos
do amor
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
Para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
3ª Parte – apelo e aviso a
todos os amantes
7. Figuras de estilo
Anástrofe:
“Enquanto quis que Fortuna tivesse” (l.1)
“Para que seus enganos não dissesse” (l.8)
“num breve livro casos tão diversos” (l.11)
“verdades puras são, e não defeitos” (l.12)
Apóstrofe:
“Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos”
Antítese: (entre a primeira e a segunda quadra)
8. Significado das maiúsculas
Fortuna:
Deusa Fortuna e/ou sorte, destino (para salientar a
sua importância)
Amor:
Cupido; a relevância do sentimento de que está
possuído.
9. Questões a colocar:
• Diz a quem se dirige o eu-poético ao utilizar o
vocativo “Ó vós”
• Identifique a que livro se refere o sujeito poético
quando afirma: “Quando lerdes num breve livro
casos tão diversos”.
• A que enganos se refere o enunciador quando
declara: “Escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse”?
• Que outro título darias a este poema? Porquê?
10. Questões a colocar:
• Diz a quem se dirige o eu-poético ao utilizar o
vocativo “Ó vós”
• Identifique a que livro se refere o sujeito poético
quando afirma: “Quando lerdes num breve livro
casos tão diversos”.
• A que enganos se refere o enunciador quando
declara: “Escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse”?
• Que outro título darias a este poema? Porquê?