Este documento discute as visões de Marx e Gramsci sobre cultura e sociedade. Apresenta brevemente a vida e obra de Marx, destacando seus conceitos fundamentais como materialismo histórico e dialético. Também resume a influência de Marx no estudo da cultura pelas ciências sociais e sua visão sobre arte e sociedade. Em seguida, aborda a vida e obra de Gramsci, focando em seus conceitos de hegemonia e subalternidade e o lugar dos intelectuais na sociedade.
4. Karl Marx nasce e cresce vivenciando adventos da Idade contemporânea. Está tem como marco a Revolução Francesa (1789);
5. Os aspectos culturais da época possibilitam o contato com uma nova perspectiva de produção do conhecimento. Mas, a maior marca desse período histórico para a sua obra foi a percepção e a crítica do desenvolvimento e consolidação do regime capitalista;
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7. Karl Heinrich Marx nasceu em Trier (atual Alemanha Ocidental) a 5 de maio de 1818;
8. O ambiente familiar contribuiu para sua formação. Filho de um advogado judeu, convertido ao protestantismo, adepto de idéias liberais e democráticas, razão pela qual sua casa se tornou um ambiente de discussão em torno de teóricos iluministas e liberais, como Voltaire e Rousseau;
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10. Doutorou-se em 1841, em filosofia, na Universidade de Iena, com a apresentação de uma tese sobre os filósofos materialistas da antiguidade, Demócrito e Epicuro;
11. Desejo lecionar em Universidades de Berlim. Como o Governo de Frederico IV proibirá todos os simpatizantes das teorias do filósofo Hegel de lecionar, Marx acaba se voltando para área jornalística;
12. Colabora com Gazeta Renana. Que defendia ideias democráticas, mudanças políticas e reforma do Estado.
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14. Por conta da censura, deixa a Gazeta Renana. Dedica-se à crítica do pensamento de Hegel;
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16. 1845: expulso de Paris por pressão do governo alemão. Após publicar críticas ao governo Alemão;
17. 1847: expulso de Bruxelas, por ajudar na organização dos trabalhadores e escrever sobre a face injusta do capitalismo;
18. Vai para Londres, mas logo volta para França e depois para Alemanha sempre fugindo das perseguições e processos.Família de Marxcom Engels
22. Por isso a materialidade para Marx é social, ou seja, são as condições de produção e a reprodução da vida social
23. O trabalho é o mediador da relação homem – natureza;
24. É pelo trabalho que os homens estabelecem relações de produção, cooperação ou exploração. As relações são determinadas pela propriedade e pelas formações socioeconômicas;
25. Propriedade e aspectos socioeconômicos determinam as formas de consciência social (arte, filosofia, religião, direito, dentre outras) e as instituições jurídicas-políticas (Estado);
26. A sociedade não determina a consciência, mas é a consciência que determina a sociedade. Assim, o homem não pode ficar alheio as formas de produção material e social. O homem não pode estar alienado.Condiciona
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29. Proletariado: classe que produz a riqueza social, apropriada pelo capital sob a forma da mais-valia, que vive inteiramente de seu próprio trabalho;
32. Trabalho é a relação metabólica do homem com a natureza, a partir do qual se extraem os meios de produção e os meios de subsistência, indispensáveis à existência social;
47. Gramsci assinatura e impressões digitais, novembro de 1926 Primeiro Caderno" de Gramsci, 08 de fevereiro de 1929
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49. Marx e o materialismo dialético Para Hegel, a dialética é concebida como essencialmente idealista, abstrata, quase metafísica. Fechada em um raciocínio circular, assume um aspecto dogmático, apenas com a coerência interna do raciocínio servindo de justificativa final ao sistema do pensamento. Marx e Engels se apropriam do método dialético, porém, numa perspectiva materialista, afirmando Marx: “O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.” (MARX)
50. Marx e o materialismo dialético Em Teses sobre Feuerbach, de quem apreendeu e reformulou o materialismo, Marx afirma: “O principal defeito de todo materialismo até aqui (inclusive o de Feuerbach) é que o objeto, a realidade, o mundo sensível só são apreendidos sob a forma de objeto ou de intuição, mas não como atividade humana sensível, enquanto práxis, não de maneira não subjetiva.” (MARX, p.99)
51. Diálogo com Hegel HEGEL - “O racional é real; o real é racional”. MARX – Realidade é diferente do Real “Nenhum desses filósofos teve a idéia de se perguntar qual era a ligação entre a filosofia alemã e a realidade alemã, a ligação entre a sua crítica e o seu próprio meio material.” Marx Visão do sujeito – pensamento / sociedade
52. Diálogo com Hegel Núcleo da dialética de Hegel - Tese, antítese e síntese 1° momento – ser em si 2° momento – ser para si 3° momento – ser por si Hegel - a evolução só tem lugar no espírito e como ideia absoluta Marx - a alteração do mundo se dá na vida prática, ação contradição – práxis – alienação
53. Diálogo com Hegel “O que vale como essência posta (gesetze) e a superar da alienação não é que o ser humano se objetive desumanamente, em oposição a si mesmo, mas sim que se objetive diferenciando-se do pensamento abstrato e em oposição a ele”. Marx (O Saber Absoluto, p.36) Exteriorização de todas as suas forças genéricas só é posśivel em virtude da ação conjunta dos homens enquanto resultado da história
54. A influência de Marx na noção de cultura nas ciências sociais
55. A influência de Marx na noção de cultura nas ciências sociais Importante destacar que Marx não se deteve em um estudo específico sobre cultura, no entanto, pode-se definir a partir do pensamento de Marx “o conceito de cultura está no âmago da concepção de consciência como existência consciente: a consciência diretamente ligada a um estado de coisas existente e, também, condição para a possível transformação desse estado de coisas.” (OUTWAITE, p. 94)
56. A influência de Marx na noção de cultura nas ciências sociais Nesse sentido, a cultura da classe dominante é a cultura dominante, não na sua essência, mas como reflexo da distinção de classes. Essa dominação cultural, no entanto, nunca é total, na medida em que o subalterno não está desarmado do jogo cultural (CUCHE, 144). “A dominação cultural nunca é total e definitivamente garantida e por essa razão, ela deve sempre ser acompanhada de um trabalho para inculcar essa dominação cujos efeitos não são jamais unívocos; eles são às vezes ‘perversos’, contrários às expectativas dos dominantes, pois sofrer a dominação não significa necessariamente aceitá-la.” (CUCHE, p.146)
57. Arte e sociedade segundo Marx “A arte grega supõe a mitologia grega, quer dizer, a natureza e as formas da sociedade, já elaboradas pela imaginação popular, ainda que de uma maneira inconscientemente artística. São estes os seus materiais. A arte grega, portanto, não se apoia numa mitologia qualquer, isto é, numa maneira qualquer de transformar, ainda que inconscientemente, a natureza em arte (a palavra natureza designa aqui tudo o que é objetivo, e portanto também a sociedade). De modo nenhum a mitologia egípcia poderia ter gerado a arte grega; nem poderia ter gerado uma sociedade que tivesse alcançado um nível de desenvolvimento capaz de excluir as relações mitológicas com a natureza exigindo do artista uma imaginação independente da mitologia. Trata-se de uma mitologia que proporciona o terreno favorável ao florescimento da arte grega”'. Marx (Uma contribuição para a crítica da economia política, p.21).
59. Hegemonia O termo “hegemonia” aparece em Lênin, pela primeira vez, num escrito de 1905. Diz ele: “Segundo o ponto de vista proletário, a hegemonia pertence a quem bate com maior energia, a quem se aproveita de toda ocasião para golpear o inimigo; pertence àquele a cujas palavras correspondem os fatos, é o líder ideológico da democracia, criticando-lhe qualquer inconsequência”.
60. Hegemonia e subalternidade Hegemonia em Gramsci: entendida não apenas como direção política, mas também como direção moral, cultural e ideológica. Subalternidade em Gramsci: surge como uma categoria política e cultural para os camponeses ao Sul da Itália. O Estado e a Igreja.
61. Hegemonia e subalternidade As classes subalternas e a concepção dominante. O pensamento de Gramsci ocupa um ponto central nos subaltern studies, trabalho levado a cabo pelo historiador Ranajit Guha, na Índia a partir de 1982. Guha define os estudos subalternos como "escuta da voz pequena da história".
63. O lugar dos intelectuais na sociedade Análise tendo por referência a sociedade e suas relações sociais. Para compreender o papel, as atividades do intelectual, é preciso situá-lo no conjunto geral das relações sociais Historicamente, essas categorias formam-se em conexão com todos os grupos, mas, principalmente, sofrem elaborações amplas e complexas com o grupo social dominante.
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67. O trabalho na teoria marxiana No trabalho estranhado (alienação), o sujeito (o homem) tornou-se um objeto e o objeto (a propriedade), um sujeito. Marx constrói o seu conceito de sociedade em torno da propriedade privada e de sua relação conflitiva com o trabalho humano (Frederico, 2009).
68. A sociedade capitalista Estruturas sociais reproduzem as relações sociais de classe, a divisão do trabalho e a propriedade privada. Uma visão de mundo objetivada na superestrutura da sociedade capitalista: Estado e sociedade civil. A relação entre intelectuais e o mundo da produção é mediatizada pela sociedade civil e pela sociedade política ou Estado
72. A categoria dos intelectuais tradicionais mais antiga é a dos eclesiásticos.
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74. O Estado na visão de Gramsci Estado = sociedade civil + sociedade política “Hegemonia encouraçada de coerção” (Gramsci) Fonte: Farias, 2001
75. O Estado na visão de Gramsci Sociedade Civil: “consenso ‘espontâneo’ dado pelas grandes massas da população à orientação impressa pelo grupo fundamental dominante à vida social, consenso que nasce ‘historicamente’ do prestígio [...] obtida pelo grupo dominante por causa de sua posição e de sua função no mundo da produção” Sociedade Política: “aparelho de coerção estatal que assegura a disciplina dos grupos que não ‘consentem’, nem ativa nem passivamente, mas que é constituído para toda a sociedade na previsão dos momentos de crise no comando e na direção, nos quais desaparece o consenso espontâneo” .
76. A função dos intelectuais Os intelectuais têm um papel importante no processo de consolidação/constituição de uma visão de mundo: Os intelectuais são os “prepostos” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social pelo consenso e do governo político pela coerção.
80. Um novo intelectual A produção do conhecimento deve estar comprometida com a construção de uma nova visão de mundo. O intelectual tem um papel importante no processo de constituição de uma sociedade emancipada. O primeiro passo é a crítica de si mesmo e do mundo como produto historicamente determinado.
81. “Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas ‘originais’; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, ‘socializá-las’ por assim dizer; e, portanto, transformá-las em uma base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral” (Gramsci, p.95-96).
82. “O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato ‘filosófico’ bem mais importante e ‘original’ do que a descoberta, por parte de um ‘gênio’ filosófico, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais” (Gramsci, p.96).
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85. Cultura, escola e trabalho Os organismos culturais atuam de forma integrada. A formação intelectual continua na vida profissional e no cotidiano e se mantém como responsabilidade da sociedade emancipada.
86. “Os elementos sociais empregados no trabalho profissional não devem cair na passividade intelectual, mas devem ter à sua disposição (por iniciativa coletiva e não de indivíduos, como função social orgânica reconhecida como de utilidade pública e necessidades públicas) institutos especializados em todos os ramos de pesquisa e de trabalho científico, para os quais poderão colaborar e nos quais encontrarão todos os subsídios necessários para qualquer forma de atividade cultural que pretendem empreender” (Gramsci, 40-41).
88. Jornalismo em Lênin Plano de um jornal político para toda a Rússia Críticas dos economicistas: “trabalho político vivo”, “algo de mais concreto”. “Falar agora de uma organização cujos fios seriam atados a um jornal para toda a Rússia é produzir em profusão ideias abstratas e um trabalho de gabinete, é fazer literatura falsificada” - Nadejdine
89. A defesa de Lênin em “O que fazer?” Concepção leninista do jornal para a emancipação: Tática do partido revolucionário Ferramenta educativa Formação de quadros Instrumento de agit-prop Função organizativa ISKRA
90. Iskra (contexto de “O que fazer?”) “Esse jornal atiçaria cada fagulha da luta de classes e da indignação popular, para daí fazer surgir um grande incêndio” “É com isto que precisamos sonhar. ‘É preciso sonhar’, escrevo essas palavras e de repente tenho medo.” Citando Pissarev, “O desacordo entre sonho e realidade nada tem de nocivo se, cada vez que sonha, o homem acredita seriamente em seu sonho”.
91. Os periódicos para Gramsci Imprensa operária Formação cultural e de consciência de classe Estimular círculos de leitura Despertar entusiasmo, unidade e coesão das massas Imprensa burguesa Defesa de um sistema econômico e de valores da classe dominante
92. Algumas experiências de Gramsci Avanti! – “em plena sociedade mercantil, o princípio antimercantil, que impunha a sinceridade e a verdade” (Os leitores, em Os Intelectuais) L’Ordine Nuovo (1919, influência da revolução russa) Conselhos de Fábrica Escola de cultura do L’Ordine Nuovo
93. Ascensão do Fascimo na Itália (1921) L’Ordine Nuovo análise da crise econômica política da Itália; organização da classe para a democracia; formação de dirigentes. Cultura como uma dimensão política Com a consolidação do fascismo, “a tarefa que se impunha dessa nova edição era refletir sobre a situação dos trabalhadores sob a dominação fascista, retomar o trabalho de educação política analisando as possibilidades reais de ação autônoma e de discussão dos problemas organizativos em um sistema reacionário”
95. Dimensão estratégica da educação Batalha das ideias Espaços de mediações entre a economia e o Estado: Partidos, sindicatos, imprensa e escola. “Gramsci olha para a educação como um homem político” – programa educacional, métodos e práticas Centro unitário de cultura consciência política Princípio da unidade entre trabalho intelectual e trabalho industrial
96. István Mészaros Fórum Mundial de Educação, 2004 “Educação não é um negócio. Não deve qualificar para o mercado, mas para a vida” “Educar é, citando Gramsci, colocar o fim à separação entre homo faber e homo sapiens, é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias” “Desde muito pequeno tive de interromper a minha educação para ir à escola” – Garcia Márquez
97. Paulo Freire O protagonismo humano é fundamental no processo de transformação da sociedade Contexto latino na escrita de “Pedagogia do oprimido” o papel das lideranças revolucionárias na organização e união dos oprimidos ( a co-laboração, a desideologização) “unidade entre o trabalho manual e o trabalho intelectual; entre prática e teoria”
98. “Segundo Freire, é necessário que a classe trabalhadora reveja ou reconheça aquilo que já conhece. Nessa perspectiva, a ação revolucionária tem como ponto de partida a percepção que os trabalhadores estão tendo do mundo. Não obstante, não se reduz a esse momento. Para além dos saberes socialmente construídos, é direito dos trabalhadores conhecerem aquilo que não conhecem; em outras palavras, participarem da produção do novo conhecimento. Este processo, por sua vez, vincula-se dialeticamente à participação na produção da vida material (produzir o que, para quem, contra quem e contra quê?).”
99. O poema pedagógico Makarenko e o desafio da colônia Gorki: o novo homem Coletividade e trabalho Disciplina e família "Nunca mais ladrões nem mendigos: somos os dirigentes.” “Por um lado elas estão privadas de todos os beneficios do desenvolvimento humano e, por outro, são excluídas das soluções salvadoras, pela simples razão da sua luta pela sobrevivência”
100. "O mais desagradável dos diálogos é aquele em que o interlecutor que tem o poder para decidir joga com a teoria, acreditando que a teoria determina a realidade” - Makarenko “A cabeça pensa onde os pés pisam” - Freire