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Instituto Superior Politécnico de Viseu 
ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA 
FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM 
ANIMAIS DE COMPANHIA 
TRABALHO FINAL DE CURSO 
Enfermagem Veterinária 
Liliana Fonseca Ferreira 
VISEU, 2010
Instituto Superior Politécnico de Viseu 
ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA 
FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM 
ANIMAIS DE COMPANHIA 
TRABALHO FINAL DE CURSO 
Enfermagem Veterinária 
Liliana Fonseca Ferreira 
Orientador: Dr. João Mesquita 
VISEU, 2010
O Orientador 
_________________________________ 
(Dr. João Mesquita)
“As doutrinas expressas neste trabalho 
são da exclusiva responsabilidade do autor”.
V 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, tornaram 
possível a conclusão deste trabalho. 
Agradeço aos meus pais por me terem dado a oportunidade de cursar em 
Enfermagem Veterinária, pois sem o seu apoio não teria sido possível concretizar 
este grande objectivo de vida. 
Aos meus amigos que de uma forma ou outra me ajudaram e apoiaram ao 
longo da minha vida, cada um de uma maneira especial. 
Aos meus colegas de academia que lutaram comigo, me apoiaram e 
vencemos muita coisa juntos, principalmente às amigas que se formaram nesta 
conquista, Isabel, Diana, Armanda e Liliana. 
A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, e aos meus colegas 
estagiários por me terem recebido da melhor forma, pelos ensinamentos 
transmitidos, pelas lições de vida e pelo companheirismo. 
Ao meu orientador, Dr. João Mesquita, pelo apoio prestado durante toda a 
realização do trabalho final de curso, pela orientação na sua execução e por toda 
disponibilidade demonstrada.
VI 
TÍTULO: Fisioterapia e Reabilitação Física em Animais de companhia. 
RESUMO 
A fisioterapia e reabilitação animal é uma área de actividade cada vez mais 
praticada em cães e gatos, sendo sobretudo usada para ajudar os animais a 
regressarem às suas funções naturais antes da lesão. O interesse por esta área em 
animais surge dos benefícios já comprovados em Medicina Humana e na tentativa 
de adaptar algumas das técnicas em pacientes animais. A fisioterapia encontra-se 
em grande expansão em Medicina Veterinária, contudo ainda não aceite por todos. 
A selecção do tratamento para um paciente animal vai depender das informações 
recolhidas pelo clínico durante uma avaliação exaustiva do paciente, sendo 
abordado o procedimento para um correcto exame. Sendo a avaliação da dor um 
dos pontos fulcrais num processo de reabilitação é importante a sua correcta análise 
e controlo. A escolha do protocolo terapêutico é um dos parâmetros mais 
importantes e fundamentais para a recuperação de um paciente. Na elaboração do 
protocolo é preciso ter em conta a as necessidades do paciente, as modalidades de 
fisioterapia disponíveis, a disponibilidades social e financeira do proprietário, 
procurando sempre o mais rápido e melhor meio de recuperação. A participação 
activa do proprietário é fulcral para uma recuperação mais rápida. Abordado também 
neste trabalho foram os vários métodos de fisioterapia existentes e aplicáveis à 
Medicina Veterinária, nomeadamente a termoterapia, com aplicações de frio e de 
calor, o uso de ultra-sons, técnicas de massagem, e exercícios terapêuticos 
passivos, assistidos e activos. Abordaram-se ainda técnicas mais recentes mas de 
igual sucesso, como a utilização da hidroterapia e a estimulação eléctrica. Existem 
tratamentos alternativos, como a acupunctura, que estão a ganhar peso na Medicina 
Veterinária de igual forma como na Medicina Humana. São apresentados três casos 
clínicos que surgiram durante a realização do estágio no Hospital Veterinário 
Montenegro, que foram resolvidos com o auxílio da fisioterapia e dos cuidados de 
enfermagem. Não sendo uma área compreendida por todos, dá reconhecidas 
vantagens para quem a pratica. 
PALAVRAS-CHAVES 
Fisioterapia, Dor, Massagem, TENS, Acupunctura
VII 
TITLE: Physiotherapy and Physical Rehabilitation in Pets. 
ABSTRACT 
Animal physical therapy and rehabilitation is an area of activity with 
increasing utilization in dogs and cats, but mostly to help animals to get back to their 
normal functions after an injury. The interest for these practices in animals comes 
from the verified benefits in Human Medicine and from the attempt to adapt some of 
the techniques in animal patients. Physical therapy is in great expansion inside the 
Veterinary Medicine, although not yet accepted by all. The choice of treatment for an 
animal patient will depend of the information gathered by the physician during an 
exhaustive clinical appraisement. Being the pain appraisement one of the key points 
in the rehabilitation process, its correct analysis and control is an important phase. 
The choice of the therapeutical process is one of the most important and 
fundamental characteristics in patient recovery. In a protocol elaboration, the 
patient’s necessities, the physical therapy modalities available and the social and 
financial status of the owner, need to be accounted. The owner’s active participation 
is crucial for a complete and fast recovery. Approached in this thesis were the 
several physical therapy methods available and applicable in Veterinary Medicine, 
such as thermotherapy with hot and cold applications, the use of ultrasounds, 
massage techniques and passive therapeutical exercises, assisted and active. More 
modern techniques are also approached such as hydrotherapy and electrical 
stimulation. There are alternative treatments like acupuncture; these are gaining 
importance in Veterinary Medicine and in Human Medicine. There are presented 
three clinical cases that appeared during the realization of an internship in the 
Montenegro Veterinary Hospital. These cases were solved with the help of the 
physical therapist and the nursing staff. This area, although yet not fully understood 
by all, is showing to be extremely fruitful in animal rehabilitation to those who practice 
it. 
KEYWORDS 
Physiotherapy, Pain, Massage, TENS, Acupuncture
ÍNDICE GERAL 
AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………….... V 
TÍTULO, RESUMO, PALAVRAS-CHAVE ……………………………………..………. VI 
TITLE, ABSTRACT, KEYWORDS ……………………………………………….......... VII 
ÍNDICE GERAL ………………………………………………………………………….. VIII 
ÍNDICE DE FIGURAS …………………………………………………………………….. XI 
ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………. XI 
ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………….. XV 
I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO ……………. 16 
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………. 18 
1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA …………………………………………………… 19 
1.1. OBJECTIVOS ……………………………………………………………………….. 20 
1.2. INDICAÇÕES………………………………………………………………………… 20 
1.3. CONCEITOS BÁSICOS…………………………………………………………….. 21 
2. EXAME DO PACIENTE ………………………………………………………………. 23 
2.1. EXAME CLÍNICO ……………………………………………………………………. 23 
2.2. EXAME FÍSICO ……………………………………………………………………… 24 
3. DOR ……………………………………………………………………………………… 28 
3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR …………………………………………………………29 
3.2. AVALIAÇÃO DA DOR ……………………………………………………………… 30 
3.3. MANEIO DA DOR …………………………………………………………………… 31 
4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO………………………………………………………. 34 
4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO ………………………………. 34 
4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO …………………………………………. 35 
4.3. MANEIO DO PESO …………………………………………….…………………… 36 
5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA ……………………………………………………… 37 
5.1. TERMOTERAPIA ……………………………………………………………………. 37 
5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA ……………………………… 37 
5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR ……………………………………………….. 38 
5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO ………………………………………….. 39 
5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS ……………………………………………. 41 
5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES ………………………………………….. 41 
5.2. MASSAGEM …………………………………………………………………………. 42 
VIII
5.2.1. RESULTADOS …………………………………………………………… 42 
5.2.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 43 
5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………….43 
5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM …………………………………………… 43 
5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL …………… 43 
5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA …………….. 44 
5.2.4.3. FRICÇÃO ……………………………………………………………….. 45 
5.2.4.4. AGITAR …………………………………………………………………. 46 
5.3.4.5. PERCUSSÃO ………………………………………………………… 46 
5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA …………………………… 47 
5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO ………………………………. 48 
5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO ……………………………. 51 
5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO ………………………………… 54 
5.4. HIDROTERAPIA …………………………………………………………………….. 60 
5.4.1. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 62 
5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 62 
5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA ………………………………… 62 
5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA ……………………………………. 63 
5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS …………..………………………………….. 63 
5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA ……………………………………………………… 65 
5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS ………………………………………………… 67 
5.5.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 67 
5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 67 
5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO 
ELÉCTRICA A USAR …………………………………………………………………….. 68 
5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) 71 
5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS ……………………………………………………… 72 
5.6.1. ACUPUNCTURA …………………………………………………………. 72 
5.6.1.1. INDICAÇÕES…………………………………………………………. 74 
5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS ……………………. 74 
6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA …………………………………. 75 
7. CASOS CLÍNICOS ……………………………………………………………………. 76 
7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI” …………………………………………………… 76 
7.1.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 76 
IX
7.1.2. DIAGNÓSTICO ………………………………………………………….. 76 
7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 79 
7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 80 
7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ” …………………………………………………….. 82 
7.2.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 82 
7.2.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………... 82 
7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 85 
7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 86 
7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY” ………………………………………………….. 88 
7.3.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 88 
7.3.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………… 88 
7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 90 
7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 92 
8. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………….. 94 
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 96 
ANEXO A - TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS 102 
X
ÍNDICE DE FIGURAS 
Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior). ……………. ……………16 
Figura 2. Localização do HVM no mapa. . ……………………………………………. 16 
Figura 3. Corpo clínico do HVM. ………………………………………………………...17 
Figura 4. Recepção. a) e b). ………………………...…………………………………...18 
Figura 5. Consultório pequeno. .... ………………………………………………………18 
Figura 6. Sala de cirurgia. ………………………………………………………………. 18 
Figura 7. Internamento geral do HVM. ………...……………….……………………….18 
Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético. ..…………………. ………. 21 
Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade. .………. ………..…. 21 
Figura 10. Realização do “Kliber test”. ...………………………………………………. 25 
Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver”. ………………………...25 
Figura 12. Goniómetro. …………………………………………………………………...26 
Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retrivers: a) Flexão e 
extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente; c) Extensão do 
cotovelo e ombro, respectivamente. ……………………………………………………. 26 
Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica. …………...27 
Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do 
tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente. ……………28 
Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo. ………………………28 
Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor 
moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor). ……………………………………...29 
Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas. ………………………. ………. 31 
Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa. ………………...35 
Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.38 
Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica 
escolhida. …………………………………………………………………………………...38 
Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. ……………………………39 
Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons. . ………………………………. 40 
Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna. ……………………………………………44 
Figura 25. “Effleurage” no membro posterior. …………...……………………………. 44 
Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior. …………………………………………45 
Figura 27. Técnica de fricção. ……………………………………………………………46 
XI
Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão.……………………………………. 47 
Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha.…………………. 47 
Figura 30. Flexão do membro posterior. ………………………………………………. 49 
Figura 31. Alongamento do membro posterior. ………………………………………. 49 
Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato. ..…………………………. 49 
Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.………. 50 
Figura 34. Movimento bicicleta.…………………………………………………………. 51 
Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. ……………………………………...52 
Figura 36. Exercício numa tábua instável. ……………………………………………. 52 
Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica. a) e b). ………………. 53 
Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica. 53 
Figura 39. Subir e descer escadas. ……………………………………………………. 55 
Figura 40. Exercício de dança. …………………………………………………………. 56 
Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato. ………………. 56 
Figura 42. Exercício na passadeira. ...…………………………………………………. 58 
Figura 43. Exercício com cavaletes. ..…………………………………………………. 58 
Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato. ..………………………. 58 
Figura 45. Obstáculos verticais. …………………………………………………………59 
Figura 46. Mochila com vários pesos. …….…………………………. ………………. 60 
Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é 
imerso. ………………………………………………………………………………………61 
Figura 48. Piscina para cães. ……………………………………………………………63 
Figura 49. Piscina para animais de grande porte. ……………………………………. 63 
Figura 50. Passadeira sub-aquática. ……………………………………………………64 
Figura 51. Colete salva-vidas para cães. ..……………………………………………. 64 
Figura 52. Onda de estimulação típica. …………………………………………………66 
Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa 
área específica (da mesma cor), bilateral à coluna. ………………………………...…69 
Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas 
áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral à coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b) 
Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 – S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f) 
Carpo (C7 – Th2)….……………………………. …………………………………………70 
Figura 55. Acupunctura veterinária. a) Adaptado de Anónimo 2, s/d; b) Adaptado de 
Pereira, 2007; c) Adaptado de Anónimo 6, s/d. ………………………………………. 73 
XII
Figura 56. Shumi. ..………………………………………………………………………. 76 
Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b). ..…………………………………. 78 
Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo. ..…………. 80 
Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha. ……. 80 
Figura 60. Miró. ……………………………………………………………………………82 
Figura 61. Ferida de decúbito. …………………………………………………………...82 
Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito. ……...82 
Figura 63. Estreitamento do espaço intravertebral L2 – L3. a) e b)…………………..83 
Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização 
da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido 
cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste……84 
Figura 65. Spotty..…………………………………………………………………. ……. 88 
Figura 66. Recolha de Líquido cefalorraquidiano. ……………………………………. 89 
Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia. ...……………………………………. 89 
Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.………………………. ……91 
Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha. 
………………………………………………………………………………………………. 91 
Figura 70. Compressão vesical no Spotty. ……………………………………………. 92 
Figura 71. Algaliação no Spotty. …………………………………………………………92 
XIII
ÍNDICE DE QUADROS 
Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriver (em percentagem)..………………26 
Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica..……………………………………...31 
Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo 
a classificação da OMS..…………………………………………………………………. 32 
Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais..……………………………………...59 
Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a terminologia electroterapêutica da 
APTA..……...………………………………………………………………………………. 65 
Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de 
estimulação………………………………………………………………………………….68 
Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi. ………………………………………………76 
Quadro 8. Hemograma do Shumi. ………………………………………………………77 
Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi. …………………………79 
Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. ……………………………...81 
Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró..………………………………………………. 83 
Quadro 12. Hemograma do Miró.....……………………………………………………. 84 
Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró.....………………………. 85 
Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa.……………….………………. 86 
Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty. ……………………………………………. 88 
Quadro 16. Hemograma do Spotty. ……………………………………………………. 89 
Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty. ……………90 
Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty para casa. ……………………………...92 
XIV
XV 
ÍNDICE DE ABREVIATURAS 
AC – Corrente alternada. 
AINES – Anti-inflamatórios não esteróides. 
APTA – Associação Americana de Fisioterapia. 
BUN – Concentração de ureia no sangue. 
CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. 
DC – Corrente directa. 
EMS – Estimulação eléctrica muscular. 
GPT (ALT) – Transaminase glutâmico pirúvica ou alanina aminotransferase. 
GOT (AST) – Transaminase glutâmico oxalacética ou aspartato aminotransferase. 
HCM – Hemoglobina Corpuscular Média. 
HVM – Hospital Veterinário Montenegro. 
MNS – Neurónio motor superior. 
NMES – Estimulação eléctrica neuromuscular. 
RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias. 
RMN – Ressonância magnética nuclear. 
ROM – Amplitude de movimento. 
TAC – Tomografia axial computorizada. 
TENS – Estimulação eléctrica nervosa transcutânea. 
VCM – Volume Corpuscular Médio.
16 
I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO 
No âmbito da Licenciatura em Enfermagem Veterinária da Escola Superior 
Agrária de Viseu, realizou-se um estágio curricular de cinco meses (de Março de 
2010 a Julho de 2010) no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) (Figura 1), na 
cidade do Porto, Rua Pereira Reis Nº191 (Figura 2). 
Figura 1. Hospital Veterinário 
Montenegro (vista exterior) 
(Adaptado de Anónimo 1, s/d). 
Figura 2. Localização do HVM no mapa (Adaptado de Anónimo 2, s/d).
Este estágio teve como objectivos principais consolidar os conhecimentos 
teóricos adquiridos durante o curso de Enfermagem Veterinária e aperfeiçoar 
técnicas de trabalho na prática do dia-a-dia de um hospital. 
O estágio foi orientado pelo director clínico do hospital, o Dr. Luís 
Montenegro e restante equipa, nas áreas de medicina interna, exames 
complementares de diagnóstico, cirurgia e na formação pessoal no que respeita a 
comunicação e interacção com os proprietários dos animais. O corpo clínico (Figura 
3) existente no HVM durante o meu período de estágio era composto por dez 
Médicos Veterinários, dois Enfermeiros Veterinários, uma recepcionista e vários 
estagiários (de Medicina Veterinária e/ou Enfermagem Veterinária). 
As instalações deste hospital estão adequadas às necessidades exigidas 
para realizar o melhor trabalho e dar as melhores condições aos nossos clientes. As 
instalações passam por um rés-do-chão, onde se encontra a recepção (que inclui 
sala de espera e WC para clientes) (Figura 4), os consultórios médicos (grande e 
pequeno (Figura 5)), sala de ecografia e radiografia, sala de cirurgia (Figura 6), 
internamento geral (Figura 7), internamento para pacientes com patologias infecto-contagiosas, 
um balcão como todo o equipamento de análises clínicas, de raio-X 
digital, autoclave e uma arca onde se colocam os pacientes prontos para cremação. 
No 1º piso situa-se a cozinha, a sala de estar (onde se realizam as refeições e 
trabalhos/documentos), a sala de hemodiálise e a farmácia. No 2º piso temos o WC 
para o pessoal do hospital, escritório de administração, sala das rações e ainda uma 
17 
Figura 3. Corpo clínico do HVM (Adaptado de 
Anónimo 3, s/d).
sala vestuário/dormitório. Exteriormente o hospital possui um espaço onde são 
realizados os passeios dos animais internados e possíveis visitas feitas no exterior. 
18 
Figura 4. Recepção (Adaptado de Anónimo 4, 
s/d). 
Figura 6. Sala de cirurgia (Adaptado de Anónimo 
6, s/d). 
Figura 5. Consultório pequeno (Adaptado de 
Anónimo 5, s/d). 
Figura 7. Internamento geral.
19 
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA 
Segundo Forterre (2004) a fisioterapia é definida como uma estimulação 
generalizada ou tratamento selectivo de uma função fisiológica comprometida por 
meios físicos naturais, incluindo uma terapia de estimulação, de regulação e de 
adaptação. A fisioterapia pode ainda ser descrita como sendo o tratamento médico 
de doenças ortopédicas e neurológicas, onde há o uso exclusivo das forças naturais, 
tais como a luz, água, electricidade, calor, frio, massagem e movimento (Weeren, 
2007). 
Fisioterapia é um termo bastante usado na medicina humana, onde está 
implementada há já muitos anos, mas só nos últimos anos é que tem revelado 
interesse da medicina veterinária. Parte do interesse surge dos muitos benefícios 
comprovados na reabilitação no pós-operatório de pacientes humanos e na tentativa 
de adoptar algumas das técnicas para os pacientes animais. Esta área tem sido alvo 
de muitos estudos por parte de investigadores para comprovar os benefícios em 
pacientes animais. A fisioterapia é uma área em grande expansão em medicina 
veterinária, com a existência de diversas oportunidades de formação (cursos de pós-graduação 
para veterinários e fisioterapeutas em diversas universidades europeias, 
Áustria, Alemanha, Espanha e cursos/palestras promovidos por diversas 
associações veterinárias). Porém neste momento em Portugal não existe qualquer 
tipo de regulamentação governamental ou da Ordem do Médicos Veterinários sobre 
esta prática. Na área da fisioterapia e reabilitação animal só no Reino Unido existe 
alguma regulamentação, nos restantes países europeus a prática da fisioterapia 
encontra-se na mesma situação que Portugal. 
A fisioterapia tem duas características diferentes, mas interligadas. Uma 
delas diz respeito à utilização de uma máquina apropriada ou terapêutica, 
empregada na fase de cicatrização para auxiliar a recuperação do tecido, a outra 
preocupa-se com a reeducação do movimento e é conhecida como reabilitação 
(Bromiley, 2000). É cada vez mais usada em cães e gatos, também já usada em 
cavalos, sempre com o objectivo de eliminar a causa músculo-esquelética e/ou 
neurológica, de melhoria dos sinais clínicos, e promover o retorno à função normal.
20 
1.1. OBJECTIVOS 
A fisioterapia tem como principais objectivos eliminar a causa da disfunção, 
realçar os sinais clínicos e o alívio da dor. Dor que interfere com o bem-estar dos 
pacientes, e é capaz de causar imunosupressão, inapetência ou caquexia, ou dor 
que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros. Reduzir a 
inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o 
sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou 
minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar 
aderências e a retracção dos tecidos, reduzir contracções e a tensão muscular são 
outras das vantagens da fisioterapia. Esta área da medicina permite também o 
maneio de peso em animais com excesso de peso, a melhora específica e geral de 
aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças 
secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço 
físico e providencia efeitos psicológicos positivos para pacientes e proprietários 
(Clark & McLaughlin, 2001; Levine & Millis, 2004; Bockstahler, 2006; Rivière, 2007; 
Martins, 2010). 
1.2. INDICAÇÕES 
A fisioterapia está indicada em situações de reabilitação pós-cirúrgica em 
casos ortopédicos e neurológicos, lesões músculo-esqueléticas como tendinites, 
bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), entorses, mobilidade reduzida, fraqueza 
muscular; afecções discais associadas a dor e paresia; lesões articulares como 
contracturas e artrites; alívio da dor; cicatrização de feridas; alterações no 
desempenho de um animal atleta; edemas e problemas na circulação sanguínea e 
linfática; complicações do sistema cardiorespiratório e maneio do peso para preparar 
fisicamente o animal para a cirurgia (Clark & McLaughlin, 2001;Levine & Millis, 2004; 
Rivière, 2007).
21 
Tratamento de Problemas 
Músculo-esqueléticos 
Indirectamente 
Vascularização 
Estrutura 
Mobilidade 
Figura 8. A influência do Sistema 
Músculo-esquelético (Adaptado de 
Forterre, 2004). 
Sistema 
Músculo-esquelético 
1.3. CONCEITOS BÁSICOS 
O sistema músculo-esquelético ocupa o papel principal na fisioterapia e 
reabilitação animal (Figura 8), o seu tratamento vai actuar sobre os tecidos, 
melhorando a mobilidade que tenha sido reduzida de algum modo, a dor, a estrutura 
e vascularização dos tecidos. 
Após um trauma é fundamental a restauração da mobilidade através da 
reorganização e vascularização dos tecidos, caso contrário existe uma redução da 
amplitude dos movimentos nas articulações. 
O sistema músculo-esquelético tem a sua função influenciada por ciclos de 
carga e de descarga (Figura 9). A estrutura e manutenção do tecido conjuntivo 
dependem destes ciclos e basta um deles falhar para ocorrer uma alteração a nível 
da estrutura e mobilidade da parte afectada. 
Carga Descarga 
Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade (Adaptado de 
Forterre (2004).
O movimento fisiológico é essencial para a boa condição do sistema 
locomotor (Rivière, 2007). Segundo Millis (2004) e Rivière & Sawaya (2006) citado 
por Rivière (2007) todos os órgãos do sistema locomotor estão sujeitos a alterações 
durante a carga ou a imobilização não fisiológica. Segundo Rivière (2007) alterações 
estas, em que a elasticidade e a resistência mecânica da cartilagem articular e do 
osso subcondral diminuem. O metabolismo ósseo modifica-se e as cápsulas, os 
ligamentos e tendões sofrem contracção e podem esclerosar. Desenvolvem-se 
aderências com perda da mobilidade articular e deficiência proprioceptiva. O tecido 
muscular esquelético sofre uma retracção degenerativa, com formação de fibrose e 
aderências entre os ligamentos. O que irá aumentar a fadiga muscular, a 
perturbação dos processos cicatriciais e provocar um decréscimo na eliminação dos 
resíduos metabólicos e na má circulação sanguínea e linfática capaz de afectar as 
principais funções do corpo. 
Quando um paciente se encontra em condições patológicas ou pós-operatórias 
muitas vezes não consegue colocar uma carga completa no membro 
afectado e através de exercícios passivos e activos da fisioterapia evitam que 
coloque essa carga sobre o sistema músculo-esquelético. Permitindo deste modo 
uma recuperação mais rápida e eficaz. 
22
23 
2. EXAME DO PACIENTE 
A selecção do tratamento vai basear-se principalmente nas bases do clínico, 
bem como no conhecimento da anamnese e exame físico do paciente animal. Ao 
contrário de um paciente humano um animal não tem a capacidade de descrever o 
que está a sentir, apenas de mostrar sinais de problemas (Goff & Crook, 2007). 
Nas perturbações da locomoção nem sempre é claro qual a causa primária, 
se de ordem neurológica ou osteoarticular. Deste modo é então indispensável 
realizar um exame clínico rigoroso para se poder aplicar o tratamento mais eficaz. As 
afecções que provocam alterações a nível da locomoção raramente colocam o 
paciente em risco de vida, contudo a rapidez com que se estabelece um tratamento 
adequado e eficaz pode ser determinante para a recuperação funcional. 
Para o sucesso na medicina de reabilitação física é imprescindível obter 
uma exaustiva avaliação do animal de modo a se obter um diagnóstico que permita 
a escolha do tratamento ideal. Em alguns casos é necessário recorrer a exames 
complementares como a ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia axial 
computorizada (TAC) para permitir obter uma avaliação mais rigorosa. De acordo 
com Bockstahler et al. (2004) nunca se deve iniciar qualquer tratamento sem possuir 
um diagnóstico clínico final. 
2.1. EXAME CLÍNICO 
Numa avaliação inicial é importante fazer uma pesquisa profunda para obter 
a informação geral acerca do animal e da sua história clínica. É importante que o 
clínico saiba todos os pormenores, de modo a poder descartar hipóteses e chegar a 
um diagnóstico. Dados gerais como hábitos alimentares, vacinação e 
desparasitação, alergias, a actividade do animal (cão de guarda, de caça, cão guia) 
e o nível de actividade em que se encontrava anteriormente ao problema são 
fundamentais para o clínico. Quanto à patologia presente é importante o clínico 
questionar o proprietário acerca do início, duração, tratamentos implementados, 
evolução e resposta do animal ao tratamento. É importante nunca esquecer que são 
os proprietários quem melhor conhece os nossos pacientes.
O exame clínico é bastante importante para poder determinar se existe 
alguma patologia, quais as consequências, o tratamento e se possui alguma contra-indicação 
a alguma das modalidades de fisioterapia, e correr o risco de agravar 
sinais (Bockstahler et al., 2004; Goff & Crook, 2007). Por exemplo num animal que 
sofra de insuficiência cardíaca e/ou respiratória está contra-indicado o uso da 
passadeira sub-aquática no seu tratamento. 
24 
2.2. EXAME FÍSICO 
Seguido do exame clínico é muito importante avaliar outros parâmetros, 
como a postura, a atitude, o equilíbrio, a vivacidade, a ergonomia, a amplitude de 
movimento e a dor, de modo a escolher o plano terapêutico ideal a cada paciente. 
Para a avaliação da postura e da atitude recorremos à avaliação de determinados 
exercícios realizados pelo animal. Exercícios como o andar, sentar, deitar, manter-se 
em estação, subir e descer escadas, andar em círculos, avaliando a flexão e 
extensão das articulações, a posição da cabeça, se existe claudicação através da 
avaliação do modo como coloca os membros e se apresenta défices proprioceptivos, 
dentro das capacidades do animal (Bockstahler et al., 2004). 
Outro passo muito importante no exame clínico é a palpação dos membros e 
do tronco. A importância da palpação deve-se ao facto de poder avaliar a simetria, o 
tónus e a condição muscular, a temperatura das articulações e/ou músculos, a 
presença de edema, algum sinal de dor e tensão. Usando as duas mãos, uma mão 
em cada membro simultaneamente (para ser mais fácil verificar alguma diferença), 
inicia-se a avaliação pelos membros anteriores, da parte distal para a parte proximal, 
seguindo para os membros posteriores e por fim avaliar-se os músculos do tronco, 
da parte cranial para a parte caudal, percorrendo todos os músculos de forma 
sistemática (Bockstahler et al., 2004). 
Existem dois testes específicos para avaliar o tronco do animal, são eles o 
“Kibler test” e o “Spinal Process Maneuver”. O “Kliber test” consiste em fazer uma 
prega de pele na região sacral e com as duas mãos colocadas lateralmente á coluna 
vertebral deslocar a dobra no sentido cranial (Figura 10). Este teste é importante 
porque fornece informações sobre problemas nos músculos e pontos de tensão, e
caso existam seria muito difícil conseguir fazer a prega de pele. O teste “Spinal 
Process Maneuver” consiste em pressionar com intensidade crescente as vértebras 
entre dois dedos (por exemplo polegar e indicador) deslocando-os vertical e 
horizontalmente (Figura 11). Está indicado no tratamento de bloqueios vertebrais e 
na detecção de défices de mobilidade, contudo é preciso ter cuidado em pacientes 
com traumatismo medular e hérnias discais (Bockstahler et al., 2004). 
Pode-se ainda avaliar o paciente através de um exame ortopédico e 
neurológico. A avaliação ortopédica e neurológica realiza-se com o animal em 
decúbito lateral ou em estação, e consiste na avaliação de músculos, ossos longos, 
articulações, ligamentos, tendões, com o objectivo de o clínico verificar a existência 
de alguma anomalia. Na tentativa de encontrar pontos de dor, edema, crepitação e 
alguma tensão nos músculos (Bockstahler et al., 2004). 
Como testes adicionais temos a avaliação da amplitude do movimento e a 
medição da massa muscular, que não são apenas parte importantes no exame 
clínico mas também são bastantes úteis para a avaliação do progresso da 
fisioterapia do animal. 
A amplitude do movimento ou Range of Motion (ROM) corresponde ao grau 
de movimento articular e é avaliada através da goniometria. O goniómetro (Figura 
12) deve ser colocado mediante o animal e a sua estrutura anatómica. O objectivo é 
medir o ângulo alcançado no movimento de flexão e extensão (Figura 13) da 
articulação em causa até ao limite fisiológico. Tendo em conta que cada animal é 
25 
Figura 10. Realização do “Kliber test” 
(Adaptado de Leiria, 2008). 
Figura 11. Realização do teste “Spinal 
Process Maneuver” (Adaptado de Leiria, 
2008).
único, o melhor é efectuar a medição também no membro saudável de modo a 
termos um termo de comparação do grau de alteração/normalidade (massa 
muscular, patologia articular, tendões e ligamentos) (Quadro 1). 
26 
Quadro 1. ROM medidos num Labrador 
Retriever (em percentagem) (Adaptado de 
Bockstahler et al., 2004). 
Articulação Flexão Extensão 
Carpo 32 196 
Cotovelo 36 166 
Ombro 57 165 
Tarso 39 164 
Joelho 42 162 
Anca 50 162 
a) 
Figura 12. Goniómetro 
(Adaptado de Bocktahler et 
al., 2004). 
b) c) 
Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retriever. a) Flexão e extensão do 
carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente c) Extensão do cotovelo e ombro, 
respectivamente (Adaptado de Bocktahler et al., 2004).
A medição da massa muscular consiste na medição do perímetro muscular 
do membro ou da região em causa, porém mede-se frequentemente através da coxa 
e/ou úmero (Bockstahler et al., 2004). Para a medição utiliza-se uma fita métrica 
específica e calibrada como se verifica pela Figura 14. 
Todas as medições realizadas deverão posteriormente ser realizadas no 
mesmo local, com o animal no mesmo estado (sedado ou não sedado), na mesma 
posição, pelo mesmo clínico e com a mesma pressão para tentar minimizar ao 
máximo a ocorrência de interferências no resultado. 
27 
Figura 14. Medição da massa muscular 
através de uma fita específica (Adaptado de 
Leiria, 2008).
28 
3. DOR 
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a dor é 
uma experiência emocional ou sensorial desagradável, que provoca reacções de 
protecção motoras e autónomas, por sua vez, conducentes à aprendizagem de 
processos de prevenção passíveis de alterar o comportamento específico da 
espécie em causa, incluindo a interacção social (Gogny, 2006; Mills et al., 2007). 
A dor é mais uma defesa do organismo como a tosse e o vómito, sendo 
complicado a sua distinção entre fisiológica e patológica (Figura 15). As reacções 
motoras e autónomas resultantes fazem o papel protector até um certo ponto, a 
partir do qual, se tornam mais prejudiciais do que o estímulo que desencadeou 
originalmente a resposta (Tacke & Henke, 2004). É a intensidade do estímulo e a 
duração da respectiva aplicação que faz a distinção entre dor fisiológica e dor 
patológica (Figura 16). 
I 
nt 
ensi 
dade 
Fase I 
Dor fisiológica Fase II 
Fase III 
Duração 
Duração 
I 
nt 
ensi 
dade 
Dor patológica 
e analgesia 
Figura 15. Alterações do grau de intensidade e 
duração da dor, em função do tempo, na 
sequência de uma lesão tecidular significativa e 
persistente (Adaptado de Gogny, 2006). 
Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo (Adaptado de 
Gogny, 2006).
29 
3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR 
Podemos classificar a dor perante três parâmetros, a sua duração, origem e 
características clínicas (Tacke & Henke, 2004; Mills et al., 2007). Quanto á duração 
é possível classificar em dor aguda que surge imediatamente a uma lesão e 
desaparece quando o ferimento cicatriza. Tem uma função de alarme e tem boa 
resposta a analgésicos. A dor crónica não tem função de alarme, tem boa resposta a 
fármacos e não está relacionada com estímulos nociceptivos mas tem indicação de 
fisioterapia. É importante fazer a distinção entre dor aguda e dor crónica pois 
necessitam de diferentes abordagens na terapia (Figura 17) (Holler, 2009). 
Pode ter origem somática, em tecidos superficiais, como a pele e/ou em 
tecidos profundos, como ligamentos, ossos, músculos e articulações. Origem 
visceral, em órgãos internos torácicos, abdominais e pélvicos. Pode ainda surgir no 
pós-operatório (como dor aguda), numa degenerescência crónica (sendo possível o 
agravamento da dor, atrofia muscular e inactividade). Ser uma dor neurogénica ou 
neuropática (geralmente dor crónica, e provocada por lesões no sistema nervoso) ou 
mesmo dor oncológica (dependente do tamanho dos tumores e da presença de 
metástases). 
Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor 
insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e 
dor ligeira (sem cor) (Adaptado de Santos, 2009).
30 
3.2. AVALIAÇÃO DA DOR 
Um dos maiores problemas de identificação da dor em animais é mesmo a 
incapacidade de a classificar. Ao contrário dos seres humanos, que possuem a 
capacidade de classificar ou ajudar o clínico a classificar a sua dor, nos animais tem 
que ser unicamente o clínico a avaliar a dor sem qualquer ajuda por parte do animal. 
Um animal com dor, apesar de não conseguir expressar por meio de palavras o que 
está a sentir irá tentar comunicar a dor por meio de comportamentos anormais 
(expressão facial, postura corporal e vocalização), e tanto se pode refugiar como 
imobilizar-se ou reagir com agressividade. 
A avaliação da dor nos animais requer por parte do clínico experiência e 
bom poder de observação (Tacke & Henke, 2004), porém segundo Gogny (2006) 
não existe formação suficiente para avaliar e tratar os pacientes com dor. Em alguns 
animais é muito complicado identificar a dor e determinar a sua intensidade. Os 
recursos terapêuticos a que os clínicos normalmente têm acesso (fármacos 
oficialmente aprovados) não são suficientes, pelo menos em alguns países, como a 
França (Gogny, 2006). 
A avaliação da dor vai depender da análise de uma série de sinais 
comportamentais, como a postura, a expressão facial, alterações das pupilas, algum 
tipo de vocalização e comportamento diferente, a presença de dor á palpação, o 
interesse pela alimentação, possível auto-mutilação e claudicação. Podem ser 
integrados em sistemas de pontuação subjectiva, ou através de escalas analógicas 
(Figura 18) ou numéricas. Sendo fundamental a colaboração do proprietário para 
indicar o grau de dor que lhe parece sentir o animal, sendo quem melhor conhece o 
animal. Temos ainda a possibilidade de avaliação do grau da dor (Quadro 2) através 
da medição da frequência cardíaca, respiratória e a pressão arterial, sendo 
parâmetros que sofrem alterações na presença de dor. Contudo é preciso ter em 
atenção que o stress e a agitação são factores que também podem provocar 
alterações nestes parâmetros (Tacke & Henke, 2004).
31 
Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas (Adaptado de 
Anónimo, Carvalho & Kowacs, 2008). 
3.3. MANEIO DA DOR 
Quadro 2. Avaliação da escala 
visual analógica (Adaptado de 
Tacke & Honke, 2004). 
Gravidade da dor Escala (mm) 
Ausência de dor 0-25 
Dor ligeira 26-50 
Dor moderada 51-75 
Dor insuportável 76-100 
O principal objectivo do maneio da dor é prevenir o aparecimento de 
sintomas e consequências da dor patológica ou no pós-operatório, porém sem 
interferir com o seu ciclo (Tacke & Henke, 2004). Segundo Joshi & Ogunnaike 
(2005) citado por Sellon (2009) após uma análise das consequências do inadequado 
controlo da dor persistente no pós-operatório em pacientes humanos, é agora bem 
aceite que a dor inadequadamente controlada e o stress gerado pela resposta do 
animal têm consequências fisiológicas e psicológicas, que podem levar à disfunção 
de órgãos e aumentar a taxa de morbilidade e mortalidade no pós-operatório.
Os analgésicos estão recomendados nas fases iniciais do tratamento (para 
evitar o desenvolvimento da “memória da dor”), independente do tipo de dor e os 
métodos de fisioterapia disponíveis (termoterapia, TENS, massagem, acupunctura, 
etc.), porém apresentam alguns cuidados a ter. Podem ser administrados 
analgésicos de classes diferentes concomitantemente, caso não haja qualquer 
contra-indicação no seu uso, devem ser usadas doses muito baixas e de acordo 
com as necessidades de cada paciente (Tacke & Henke, 2004). 
A dor foi dividida em três níveis com consequentes protocolos analgésicos, 
consoante a respectiva potência e relação benefício/risco pela Organização Mundial 
de Saúde (OMS), como podemos verificar pelo Quadro 3. Segundo Mills et al. (2007) 
os analgésicos diminuem a sensação da dor mas não a eliminam. 
Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, 
segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006). 
As principais classes farmacológicas utilizadas nos protocolos apresentados 
no Quadro 3 são os AINES, os analgésicos opiáceos, os anestésicos dissociativos e 
os agonistas alfa2. 
O maneio farmacológico é apenas uma parte no controlo da dor, muitos 
pormenores relacionados com cuidados de enfermagem e integração no contexto 
32 
Fase I 
(Dor Ligeira) 
Esperada ou observada 
AINES ou fármacos 
similares utilizados 
individualmente, ou com 
dose reduzida de 
morfina 
Fase II 
(Dor Moderada) 
Esperada ou observada, 
ou insucesso dos 
analgésicos da fase I 
AINES + opióides fracos 
ou AINES + dose 
reduzida de morfina ou 
anestesia local 
Fase III 
(Dor Aguda) 
Esperada ou observada 
ou insucesso dos 
analgésicos da fase II 
Dose elevada de morfina 
e/ou sistema transdérmico 
de fentanil e/ou anestesia 
locoregional + 
potenciação (AINES, 
quetamina, agonista alfa2 
Legenda: AINES – fármacos anti-inflamatórios não esteróides.
social desempenham um papel fundamental (Tacke & Henke, 2004). Métodos de 
fisioterapia como a termoterapia, massagem, TENS, tratamentos alternativos como a 
acupunctura, o uso mínimo de cateteres, um ambiente calmo, maneio suave e 
cuidadoso do animal são alguns exemplos de como se pode minimizar a dor do 
animal. O maneio da dor desempenha um papel importantíssimo em todas as etapas 
da reabilitação física e o animal jamais deve sentir algum tipo de desconforto (Clark 
& McLaughlin, 2001). Cada animal necessita de um maneio específico e de uma 
selecção de métodos adequados ao seu grau de dor, e para uma gestão a longo 
prazo os protocolos para casa são os mais ideais (Holler, 2009). 
33
34 
4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO 
O objectivo principal da realização de um protocolo terapêutico é assegurar 
e preservar uma recuperação funcional total e o mais rapidamente possível. 
4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO 
Segundo a Associação Americana de Fisioterapia o protocolo terapêutico é 
elaborado segundo cinco parâmetros, uma avaliação inicial, um exame 
fisioterapêutico, um diagnóstico fisioterapêutico, um prognóstico e o tratamento 
(Bockstahler et al., 2004). A avaliação inicial inclui o conhecimento minucioso da 
história e exame clínico. Após a avaliação inicial o clínico deve reunir toda a 
informação já recolhida e ainda o resultado do exame físico (referido no ponto 3.1.2.) 
elaborando o exame fisioterapêutico. Quanto ao diagnóstico fisioterapêutico, 
constitui uma avaliação mais sintomática, através da análise da tensão muscular, da 
atrofia e da dor. A escolha do plano terapêutico é ainda influenciada pela experiência 
do clínico e pelo conhecimento dos benefícios já provados na Medicina Humana 
(Clark & McLaughlin, 2001), modalidades disponíveis, disponibilidade social e 
financeira do proprietário, procurando sempre o melhor e mais rápido meio de 
recuperação. 
Segundo Bockstahler et al. (2004) é impossível estabelecer um plano 
fisioterapêutico padrão para cada animal. Um plano de tratamento instituído para um 
animal no pós-operatório não será o mesmo para um animal geriátrico. A fase em 
que o animal inicia a fisioterapia também é importante, as necessidades de um 
animal que inicia o tratamento no dia da cirurgia são diferentes das necessidades de 
iniciar a fisioterapia após a cicatrização da sutura. Ao implementar um protocolo de 
reabilitação física, deve ser usada uma abordagem centrada no animal ao decidir 
quando iniciar cada passo, em vez de uma abordagem estritamente centrada no 
calendário (Clark & McLaughlin, 2001). No entanto estes protocolos podem ser 
tomados como gerais, e posteriormente adapta-los às necessidades individuais de 
cada animal.
35 
4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO 
O proprietário desempenha um papel importantíssimo no que diz respeito à 
reabilitação do seu animal. O sucesso da terapia não depende apenas de uma boa 
intervenção terapêutica e de uma óptima escolha em relação ao protocolo, depende 
fundamentalmente do acompanhamento do dono e do seu apoio. A participação 
activa do proprietário é muitas vezes uma mais valia para uma recuperação mais 
rápida (Bockstahler et al., 2004). A fisioterapia não é um tratamento fácil e rápido, 
leva algum tempo, embora em alguns casos se observe resultados positivos pouco 
tempo após o seu início, noutros, como numa situação crónica, a paciência é muitas 
vezes necessária até que resultados sejam visíveis. É importante que haja uma boa 
relação clínico/proprietário para que aumente a motivação do proprietário, e para 
que possam debater as melhores soluções, os objectivos e meios necessários para 
a realização de cada um dos tratamentos. Outro papel muito importante é o seu 
envolvimento directo na reabilitação do animal, através da aplicação de métodos de 
fisioterapia. Aplicações de calor e frio, massagem, exercícios terapêuticos, como os 
movimentos de bicicleta tanto em decúbito lateral com em estação, o exercício de 
levantar e sentar, passeios com trela, e em alguns casos usando a estimulação 
eléctrica (Figura 19). Métodos minuciosamente explicados e seguindo algumas 
recomendações, e comunicar com o clínico acerca dos resultados e dificuldades 
presentes nas sessões, de modo a haver a actualização de frequências e métodos a 
usar. No tratamento de gatos é especialmente importante a participação activa do 
proprietário, permitindo uma rápida reabilitação e melhoria dos sinais clínicos. 
Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de 
TENS em casa (Adaptado de Bockstahler et al., 
2004).
36 
4.3. MANEIO DO PESO 
O maneio do peso é um importante aspecto na fisioterapia de cães e gatos 
com problemas ortopédicos e neurológicos, em que o excesso de peso contribui 
para o desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos e exerce uma pressão 
excessiva sobre articulações, ligamentos e tendões (Bockstahler et al., 2004). É 
preciso prevenir a obesidade em cães especialmente quando se considera que 
carregam 60% do seu peso nos membros anteriores (Innes, 2006). 
Um animal obeso com problemas ortopédicos exige um protocolo 
terapêutico especial. Segundo a experiência de alguns clínicos a combinação da 
perda de peso e a realização de exercícios especiais traz melhores resultados. O 
ideal é que o início dos exercícios terapêuticos coincida com o início do programa de 
perda de peso. O sucesso vai depender muito do protocolo escolhido para o 
paciente, e é importante que o proprietário tenha um papel activo durante todo o 
processo, cumprindo ele próprio o protocolo estabelecido para casa.
37 
5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA 
5.1. TERMOTERAPIA 
A termoterapia consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de 
aquecimento e arrefecimento do corpo do animal. 
5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA 
A aplicação de frio tem efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor 
contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo 
muscular. Em geral induz vasoconstrição, limitando o fluxo sanguíneo à área 
afectada levando a uma redução do edema; diminuição do metabolismo celular; 
alívio da dor por diminuição da condução nervosa e redução do espasmo muscular 
(Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya, 
2007). A sua aplicação está indicada em situações agudas (após uma lesão e no 
período pós-operatório até 72h), trauma, artrites, tendinites, miosites e na prevenção 
de inflamação após exercício (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; 
Sawaya, 2007). 
A crioterapia consiste na aplicação de cubos de gelo (Figura 20), cobertos 
com uma toalha (de modo a não estarem em contacto directo com a pele) e colocar 
sobre a área a tratar. Existem também acumuladores de frio, compressas ou panos 
molhados e sistemas de imersão de água fria (usado muito em cavalos, Figura 21) 
como alternativas aos cubos de gelo. O tempo de aplicação deve ser entre 15 a 25 
minutos mas vai depender da estrutura e do animal em tratamento. Nos cavalos são 
relatados períodos de exposição até 45 minutos, revelando um estudo que um 
cavalo com lesão do tendão flexor digital superficial foi submetido a tratamento com 
frio durante uma hora com resultados positivos e sem sinais de qualquer tipo de 
dano celular (Leiria, 2008). 
De acordo com Clark & McLaughlin (2001) a crioterapia superficial pode 
penetrar nos tecidos a uma profundidade de 1 a 4 cm, com a maior alteração de 
temperatura a ocorrer a 1 cm de profundidade. Para atingir temperaturas mais 
baixas em tecidos mais profundos pode-se usar um penso compressivo, como uma 
ligadura elástica. Deve-se sempre não prolongar o tempo de exposição e evitar o
contacto directo com a área afectada de modo a não causar o efeito contrário, 
vasodilatação e formação de edema local por diminuição da temperatura local. 
A crioterapia não está indicada em animais com alterações de sensibilidade, 
problemas circulatórios (como vasculite, doença vascular periférica, lesão isquémica 
e formigamento), diabetes mellitus ou feridas abertas (Clark & McLaughlin, 2001; 
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). 
38 
Figura 20. Aplicação de frio através de um saco 
de gelo revestido por uma toalha. 
5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR 
Figura 21. Imersão dos 
membros de um cavalo em água 
fria como técnica escolhida 
(Adaptado de Leiria, 2008). 
Após a inflamação aguda estar resolvida é benéfica a aplicação de calor na 
área afectada (hipertermia superficial) de modo a estimular a vasodilatação, 
melhorar o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, aliviar a dor, provocar o 
relaxamento muscular, aumentar a velocidade de condução do impulso, alterar o 
limiar de excitabilidade nociceptiva e aumentar a oxigenação, e facilitar a 
cicatrização (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 
2004; Sawaya, 2007;). É aplicada normalmente em situações de artrites crónicas, 
rigidez e tensão muscular, espondiloartrose, espondilose. Para promover maior 
elasticidade e flexibilidade criando boas condições para a aplicação de métodos 
passivos de fisioterapia, como massagens e a estimulação eléctrica (Clark & 
McLaughlin, 2001;Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
Este método consiste na aplicação de uma fonte de calor na área afectada, 
atingindo cerca de 1 a 11 mm de profundidade do tecido (terapia superficial) através 
de compressas, toalhas, botijas de água quente, parafina, hidroterapia, e 
infravermelhos (Figura 22), durante 15 a 20 minutos. Se pelo contrário a temperatura 
atingir 1 a 3 cm de profundidades já se realiza uma terapia profunda, alcançada 
através de ultra-sons. A frequência do tratamento vai depender do tipo, do grau de 
problema e do efeito desejado. É muito importante uma vigilância constante da pele 
para prevenir danos como queimaduras. 
A aplicação de calor deve ser evitada em situações de inflamação local 
aguda, tumores, feridas abertas, hematomas, problemas graves de circulação e na 
ausência de sensibilidade (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; 
Sawaya, 2007). 
39 
Figura 22. Aplicação de calor através de 
infravermelhos. 
5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO 
O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para 
aquecer os tecidos mais profundos. O ultra-som é produzido incidindo uma corrente 
eléctrica de alta frequência num cristal, como o quartzo (piezoeléctrico). Graças ao 
efeito piezoeléctrico o cristal altera a corrente que recebe produzindo ondas 
ultrasónicas (Bockstahler et al., 2004). As ondas à medida que vão sendo 
absorvidas no músculo vão transformando a energia mecânica em calor. A
quantidade de calor produzida vai depender da área a tratar (tipo de tecido e 
gravidade), frequência, intensidade, modo de aplicação e resposta individual do 
animal. 
Na fisioterapia e reabilitação são usadas ondas de frequência que variam 
entre 0.5 a 5 MHz, mas o mais frequente é verificar-se equipamentos com 
frequências de 1 MHz (baixa frequência) e 3.3 MHz (alta frequência) (Bockstahler et 
al., 2004). A frequência é escolhida consoante a profundidade do tecido desejado 
para incidir o ultra-som, se a profundidade de penetração desejada for entre 0 a 3 
cm (zonas ósseas) usa-se a frequência 3 MHz, se for entre 2 e 5 cm (tecidos mais 
profundos) já se utiliza a frequência mais baixa, 1MHz (Bockstahler et al., 2004). A 
intensidade corresponde à taxa de energia distribuída por unidade de área (W/cm2). 
Podem ser usados dois modos de transmissão de ultra-sons, modo contínuo, em 
que a energia é constantemente produzida e modo pulsátil. No modo pulsátil é 
possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa, 
permitindo o uso de intensidades mais elevadas alcançando os níveis de 
temperatura desejados sem provocar qualquer tipo de dano tecidular e alterar a 
permeabilidade das células e melhorar o seu metabolismo (Bockstahler et al., 2004). 
A sonda pode ser colocada directamente na pele sobre um gel hidrossolúvel 
(sobre uma pele tosquiada, aumenta a transmissão de ultra-sons) (Figura 23) ou 
quando se trata de uma área pequena ou irregular pode-se imergir a área submersa 
em água e colocar a sonda a 1 a 2 cm de distância (Clark & McLaughlin, 2001; 
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Os movimentos devem ser suaves, lentos e 
em círculos (Bockstahler et al., 2004). 
40 
Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
41 
5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS 
Existe uma grande variedade de indicações para o uso do ultra-som como 
meio terapêutico, patologias articulares ou componentes ligados, como artrites, 
sinovites, tendinites, bursites, patologias musculares, aderências. Pode também 
potenciar a aplicação transdérmica de fármacos (Clark & McLaughlin, 2001). 
A terapia por ultra-sons apresenta efeitos térmicos e efeitos não térmicos. 
Os efeitos térmicos permitem um alívio da dor, diminuindo a tensão muscular 
levando a um aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, melhoria da 
elasticidade das estruturas fibrosas, melhoria da nutrição dos tecidos, aumentando a 
suplementação de oxigénio e aumentando a eliminação de produtos metabólicos. Os 
efeitos não térmicos incluem o aumento da permeabilidade celular, do transporte de 
cálcio, remoção de células sanguíneas do espaço intersticial e aumento da 
actividade fagocítica dos macrófagos (Clark & McLaughlin, 2001). 
5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES 
O seu uso está contra-indicado em áreas infectadas, áreas com problemas 
de circulação, na presença de trombos ou na presença de tumores malignos. Não se 
deve aplicar directamente sobre os olhos, coração, útero grávido, gónadas e 
cartilagem em animais jovens (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; 
Sawaya, 2007; Leiria, 2008). A maior parte das preocupações surge do perigo de 
queimaduras dos tecidos, devido a intensidades muito elevadas e movimentos muito 
lentos ou então períodos de paragem da sonda no mesmo ponto, podendo provocar 
cavitação instável, um fenómeno no qual se formam e crescem umas bolhas de gás 
que expandem e explodem afectando os tecidos (Clark & McLaughlin, 2001; 
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
42 
5.2. MASSAGEM 
A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, medicina do 
desporto e da reabilitação humana. É já um facto conhecido há muito tempo que a 
massagem se confirmou eficaz em animais, que eles a aceitam bem e até reagem 
favoravelmente; daí ter sido tida como modalidade no tratamento veterinário 
(Bockstahler et al., 2004). Apesar de poder haver alguma passagem directa de 
princípios e práticas de humanos para os animais, é claro que existem ideias 
unicamente para os animais, até porque existem diferenças anatómicas, funcionais e 
cinesiológicas. Os animais não podem ser instruídos para relaxarem ao contrário 
dos humanos (Monk, 2007). 
A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície 
confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio clínico devera 
apresentar-se relaxado, confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao 
animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a criar algum 
relaxamento entre ambos. Sempre que possível deve ser aplicado calor na área a 
massajar, antes e após a massagem. 
5.2.1. RESULTADOS 
Esta modalidade tem diferentes efeitos e objectivos, consoante as técnicas 
escolhidas, a sua duração, frequência, intensidade, velocidade e direcção. 
Os seus efeitos passam por permitir o relaxamento mental e físico do animal; 
quebrar aderências, o ciclo vicioso da dor e a tensão muscular; libertar endorfinas 
endógenas; melhorar a circulação venosa, linfática e arterial; facilitar a eliminação de 
resíduos e a suplementação de oxigénio; estimula o sistema nervoso e acelera a 
recuperação muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & 
Henke, 2004; Rivière, 2007). A massagem não afecta a massa muscular, o grau de 
atrofia ou a força segundo Geiringer (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001).
43 
5.2.2. INDICAÇÕES 
As suas principais indicações são consequências dos efeitos descritos 
anteriormente, estando como objectivo primário a eliminação da dor e consequente 
contracção muscular, que exacerba ainda mais a dor pré-existente (Bockstahler et 
al., 2004). Podemos recorrer á massagem em situações de tensão muscular 
secundária a um problema medular ou articular, mobilização de aderências, 
regulação da tonicidade muscular, prevenção e/ou recuperação de lesões antes e 
após os exercícios ou redução ou prevenção de estase e linfostase (Bockstahler, 
2004). 
5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES 
Esta modalidade está contra-indicada em situações em que a área a 
massajar se encontre com uma inflamação e/ou infecção, doenças dermatológicas, 
como presença de dermatófitos, tumores, febre, insuficiências cardíacas 
descompensadas ou distúrbios circulatórios (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler, 
2004). 
5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM 
Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em Medicina 
Veterinária, porém apenas serão apresentadas as que são consideradas como as 
mais eficazes. 
5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL 
Esta técnica permite a manipulação de músculos superficiais, aumentando o 
fluxo sanguíneo e linfático, neutralizando a estase (Bockstahler et al., 2004). Pode 
ainda ser usada entre massagens mais profundas ou no fim de cada sessão de 
massagens com a intenção de relaxar o animal. É frequentemente realizada com o 
animal em estação, colocando-se o clínico de lado ou mesmo atrás do animal. A
técnica consiste em deslocar as mãos suavemente sobre a superfície da pele do 
animal, com movimentos no sentido do crescimento do pêlo, começando pelo 
pescoço partindo para as costas, garupa (Figura 24) e terminando nos membros 
(Figura 25). Depois de massajar os membros partir novamente para o pescoço, e 
assim repetidamente. As mãos devem permanecer abertas, realizando movimentos 
lentos e que estejam sempre em contacto, nunca passar com as duas mãos de uma 
vez directamente duma área para a outra, por exemplo deixar uma mão no membro 
posterior e colocar a outra no pescoço e só então largar a mão do membro e passa-la 
para o pescoço (Bockstahler et al., 2004). Permitir que a pele deslize suavemente 
sobre a fáscia subjacente vai reduzir as aderências segundo Blaser (1988) citado 
por Clark & McLaughlin (2001). 
44 
Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna 
(Adaptado de Leiria, 2008). 
Figura 25. “Effleurage” no 
membro posterior (Adaptado de 
Leiria, 2008). 
5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA 
Pode ser aplicado superficialmente ou mais profundamente (Bockstahler et 
al., 2004). Uma vez superficial obtém-se uma diminuição do tónus muscular, através 
da realização de uma prega de pele e massajando os tecidos (Figura 26). A direcção 
deve ser no sentido das fibras musculares, podendo em todo o caso ser diagonal ou 
perpendicular a elas, iniciando sempre na cauda e ir evoluindo para o pescoço, se a 
lesão for nos membros deve evoluir da região distal-proximal (Bockstahler et al.,
2004; Rivière, 2007). O “Pétrissage” em profundidade consiste em manobrar um 
grupo de músculos entre o polegar e os restantes dedos (abrindo e fechando as 
mãos). Nas costas colocamos uma mão de cada lado da coluna vertebral ou ambas 
as mãos do mesmo lado. Devemos aumentar o grau de pressão muito lentamente, 
uma vez com este exercício verificar-se um aumento da tonicidade muscular, 
podendo gerar dor. 
45 
Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior 
(Adaptado de Leiria, 2008). 
5.2.4.3. FRICÇÃO 
Esta técnica pode ser realizada de forma superficial ou profunda, numa área 
localizada ou disseminada do corpo do animal (Figura 27) (Bockstahler et al., 2004). 
Permite o aumento do fluxo sanguíneo, promove a eliminação de toxinas e ainda 
pode quebrar aderências (Bockstahler et al., 2004). Para exercer esta técnica numa 
área maior são utilizadas as pontas dos dedos ou o punho, deslizando 
cuidadosamente para a frente e para trás ou em direcção contrária às fibras 
musculares, aumentando a pressão conforme a necessidade. Numa área mais 
localizada desliza-se de forma circular as pontas dos dedos (idealmente uma mão 
em cima da outra para ajudar na massagem), deslocando assim a pele e numa 
pressão baixa inicialmente, aumentando até atingir as camadas mais profundas de 
músculos. É uma excelente técnica para aliviar áreas com demasiada tensão. 
Encontra-se contra-indicada em situações agudas, inflamatórias e/ou infecciosas ou
em regiões com deposições de cálcio segundo Pinheiro (1998) citado por Leiria 
(2008). 
46 
Figura 27. Técnica de fricção (Adaptado de Leiria, 
2008). 
5.2.4.4. AGITAR 
Consiste numa técnica superficial usada para o relaxamento de músculos, 
durante a manipulação de tecidos profundos e no final de sessões de massagens. 
Através desta técnica pode-se trabalhar um conjunto de músculos (agarrando um 
grupo de músculos e gentilmente agitar para a frente e para trás) ou o membro 
inteiro (agarrando a parte distal do membro e agitando gentilmente). 
5.2.4.5. PERCUSSÃO 
Técnica muito usada para relaxar os músculos e melhorar a circulação 
(Bockstahler et al., 2004). Através de batimentos suaves realizados na pele com a 
palma da mão em forma de concha (Figura 28) ou com a zona lateral (Figura 29) 
(Rivière, 2007; Bockstahler et al., 2004). Permite trabalhar grandes áreas 
musculares (Rivière, 2007).
Figura 29. Percussão com a palma da mão em 
forma de concha (Adaptado de Leiria, 2008). 
47 
Figura 28. Percussão com a zona lateral da 
mão (Adaptado de Leiria, 2008). 
5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA 
Segundo Mikail & Pedro (2006) citado por Leiria (2008) a cinesioterapia é um 
método não invasivo e utiliza o movimento como meio de terapia. 
Os principais objectivos passam por aumentar o ROM, a flexibilidade, o uso 
do membro afectado, reduzindo o grau de claudicação, fortalecer e aumentar a 
massa muscular e a agilidade sem presença de dor (Clark & McLaughlin, 2001; 
Bockstahler et al., 2004; Rivière, 2007). Os exercícios terapêuticos são uma parte 
fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós-operatório, 
fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os 
proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal. Esta fase 
é muito importante pois cria-se uma ligação cada vez mais forte entre proprietário e 
animal, e os proprietários começam a ter noção das alterações da condição física 
dos seus animais e quando tal acontece procuram ajuda médica de imediato. 
Graças à grande variedade de exercícios é possível escolher os que melhor 
se adequam a cada paciente, desde movimentos passivos, assistidos a activos, e é 
importante que não se torne numa rotina, numa sessão de exercícios repetidos que 
aborreçam tanto o clínico como o paciente (Bockstahler et al., 2004). Deve-se tentar 
nunca provocar dor no paciente podendo prejudicar toda a recuperação conseguida 
até ao momento, através do reflexo inibidor, e encadear um menor uso do membro.
A aplicação de frio (crioterapia) posteriormente a uma sessão de exercícios intensos 
é o ideal para permitir o alívio da dor e minimizar a inflamação. 
48 
5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO 
É um exercício que ajuda a manter ou melhorar a flexibilidade dos músculos, 
tendões e ligamentos, a flexão e extensão das articulações, e melhorar a estrutura e 
a função neuromuscular. É muito usado na recuperação de cães em condições 
neurológicas, como ruptura do disco intervertebral, ou complicações do sistema 
músculo-esquelético (Bockstahler et al., 2004). O tempo e a frequência do exercício 
vão depender de cada animal. É fundamental proporcionar conforto ao animal, 
colocando-o sob uma superfície protegida por algo acolchoado e não proporcionar 
uma sessão muito exigente, correndo o risco de provocar dor e atrasar a 
recuperação. Tal como o nome indica o animal não participa activamente no 
processo, o que também exige do clínico um maior conhecimento da anatomia e 
fisiologia do corpo. 
a) Exercício de amplitude de movimento (ROM) 
Segundo Bockstahler et al. (2004) este exercício é importante em cães 
jovens e cães submetidos a cirurgias da articulação, principalmente fracturas de 
cotovelo e fémur e estabilização de uma ruptura do ligamento cruzado cranial. O 
objectivo principal é flectir e estender as articulações individualmente dependendo 
do seu grau de amplitude confortável (Bockstahler et al., 2004). Isto é, uma 
articulação é lentamente flectida ou estendida (dependendo do movimento desejado) 
até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma 
vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido 
do estímulo. Geralmente a flexão da articulação é mais tolerada que a extensão. 
Existem outros movimentos considerados como apropriados, como é o caso 
do movimento de rotação, principalmente no ombro e quadril, e os movimentos de 
adução e abdução.
49 
b) Exercício de alongamento 
Muitas vezes é usado em associação com o exercício ROM, e em situações 
de rigidez muscular e diminuição da amplitude do movimento (ROM). O seu principal 
objectivo é alongar e realinhar os tecidos moles e o colageneo para não rasgar nem 
dilacerar os tecidos, de acordo com (Bockstahler et al., 2004). Este exercício 
consiste em flectir (Figura 30) ou estender lentamente (Figuras 31 e 32) uma 
articulação dependendo do movimento desejado, até se obter qualquer sinal de 
desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no 
membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Em geral o movimento de 
extensão é menos confortável que o de flexão. Podem ser também realizados 
movimentos de adução, abdução e rotação. 
Figura 30. Flexão do membro posterior. Figura 31. Alongamento do membro 
posterior (Adaptado de Leiria, 2008). 
Figura 32. Alongamento do membro 
posterior num gato (Adaptado de Anónimo 
8, s/d).
50 
c) Exercício do reflexo flexor 
Este exercício é principalmente usado em pacientes com défices 
neurológicos bem como no exame neurológico. Consiste em beliscar a pele 
existente entre os dedos, em resposta o paciente deve flectir o membro estimulado 
(Figura 33). O estímulo tem como objectivo a contracção muscular, de modo a 
prevenir atrofia por desuso e aumento do tónus muscular. 
Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia. 
d) Movimento de bicicleta 
O movimento de bicicleta pode ser realizado posicionando o animal em 
decúbito lateral ou em estação. Este exercício é muito utilizado em animais com 
défices neurológicos, em associação com o ROM e em animais que tenham 
dificuldade em suportar o seu peso nos membros (usando neste caso apenas a 
posição de estação). Neste movimento o exercício passa por ir lentamente formando 
círculos, no sentido caudal-dorsal-cranial (Figura 34), caso necessário em posição 
de estação pode-se colocar uma mão de lado para auxiliar o animal. Sendo preciso 
flectir e estender todas as articulações durante a execução de um círculo. O 
objectivo principal passa por influenciar o sentido pela marcha e prevenir ou 
melhorar o ROM.
51 
Figura 34. Movimento bicicleta (Adaptado de Leiria, 2008). 
5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO 
É um exercício adequado para pacientes que já conseguem suportar algum 
do seu peso, principalmente pacientes com défices neurológicos e/ou lesões 
pélvicas bilaterais. Tem como principais objectivos aumentar a força, resistência, 
propriocepção e sensibilidade neuromuscular (Bockstahler et al., 2004). Os 
exercícios assistidos consistem em exercícios em que o animal participa activamente 
porém com auxílio do clínico. 
a) Manter-se em estação assistido por uma toalha 
O exercício assistido consiste em providenciar um suporte para o cão ou 
gato (um arnês, uma toalha, etc.) para o conduzir e apoiar durante a execução de 
movimentos simples, como o caminhar (Figura 35) (Rivière, 2007). O exercício 
permite assistir um animal que não tenha força necessária para suportar a totalidade 
do peso do seu corpo. O cão é colocado na posição de estação e com o auxílio de 
uma toalha ou funda auxiliar o animal na sustentação do seu peso, permitindo que 
este carregue apenas o peso que é capaz (Bockstahler et al., 2004). Porém com o 
seguimento do tratamento a força realizada pelo clínico deve diminuir à medida que 
o animal vai aumentando a quantidade de peso capaz de suportar.
52 
Figura 35. Caminhar com auxílio de uma 
toalha. 
b) Prancha de equilíbrio 
É uma actividade que permite fortalecer o equilíbrio do animal. Consiste em 
colocar o animal sobre uma prancha de equilíbrio ou uma simples tábua instável, 
auxiliando-o para evitar possíveis quedas, realizando-se movimentos oscilatórios em 
todas as direcções (Figura 36). 
Figura 36. Exercício numa tábua instável (Adaptado de Anónimo 7, s/d). 
c) Bola terapêutica 
A bola terapêutica é uma boa ajuda para o animal com problemas 
proprioceptivos que o apoia durante a marcha. De acordo com Saunders (2007) 
citado por Leiria (2008) é muito importante em pacientes neurológicos, pós-cirúrgicos, 
com displasia da anca ou cotovelo, com artrites, patologia lombosagrada
e em animais de desporto, O exercício consiste em colocar o animal em estação 
sobre a bola (Figura 37) ou apoiando apenas os membros posteriores ou anteriores 
(Figura 38), movimentando-se lateralmente, para a frente e para trás (Bockstahler et 
al., 2004). 
53 
a) b) 
Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010). 
Figura 38. Animal apoiando os membros 
posteriores sobre uma bola terapêutica 
(Adaptado de HVM, 2010). 
d) Flexão e extensão cervical e flexão lateral 
Flexão e extensão cervical e flexão lateral permitem que o animal melhore a 
mobilidade de modo a se manter em estação, equilibrado. Realiza-se este exercício 
estimulando o animal a movimentar a cabeça no sentido lateral e/ou dorsal – ventral, 
caso necessário pode-se usar objectos (como uma bola) ou mesmo uma 
recompensa como estímulos.
54 
5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO 
De acordo com Riviére (2007) os exercícios terapêuticos activos deverão ser 
iniciados o mais cedo possível, tendo em conta as fases de cicatrização do tecido 
lesado. Isto é, a iniciação deste tipo de exercícios vai depender da resposta do 
paciente á reabilitação. É necessário que o animal responda aos exercícios passivos 
sem desconforto aparente e que já seja capaz de suportar o seu peso sobre o 
membro afectado. Os exercícios activos têm como principal objectivo a recuperação 
da força e locomoção. Permitindo também uma recuperação e melhoramento da 
capacidade cardiorespiratória bem como do nível de actividade e um alívio da dor. 
Existe uma grande variabilidade de exercícios activos e o importante é saber 
escolher os que melhor se adequam a cada animal. 
a) Caminhar lentamente 
Este exercício talvez seja dos mais importantes na reabilitação do pós-operatório 
e em animais com afecções crónicas. As caminhadas são frequentemente 
realizadas incorrectamente, têm de ser realizadas á velocidade do cão, não de quem 
o leva a caminhar (Bockstahler et al., 2004). Estas caminhadas têm que ser feitas 
muito lentamente para o animal conseguir equilibrar o seu peso e não ter receio de ir 
colocando o membro afectado no solo, podemos também contribuir para que isso 
aconteça elogiando-o sempre que o apoiar no solo. 
Inicialmente as caminhadas devem ser realizadas 2 a 3 vezes por dia 
durante uns 2 a 5 minutos cada. Após os primeiros dias de caminhadas se a 
claudicação não tiver piorado pode-se ir aumentando o tempo em 1 a 3 minutos por 
dia (Bockstahler et al., 2004). 
b) Subir / Descer escadas 
Subir e descer escadas é o exercício ideal para trabalhar a extensão das 
articulações (Figura 39). Este exercício deve ser iniciado quando o animal já se 
encontra com melhorias visíveis e já ser capaz de caminhar sobre o membro 
afectado apesar da existência de alguma claudicação. Deverá começar por
caminhar lentamente em degraus de altura baixa de modo a ir adquirindo o uso 
normal dos membros e adaptando os membros a alguma extensão, não permitindo 
que este avance degraus ou mesmo que salte sobre eles. Assim verificado evolução 
no quadro do animal poder-se-á introduzir desafios e caminhar por degraus de altura 
mais elevada. É vantajoso para criar força muscular principalmente nos membros 
posteriores (Bockstahler et al., 2004). 
55 
c) Dançar 
Figura 39. Subir e descer escadas 
(Adaptado de Rivière, 2007). 
Este exercício consiste em levantar os membros anteriores do solo e 
movimentar o animal para a frente e para trás, parecendo que este está a dançar 
(Figura 40). Este método permite um fortalecimento dos músculos dos membros 
posteriores. Alguns animais tentam se esticar de tal modo que quase conseguem 
chegar ao solo, nestas situações o ideal é que o clínico se coloque na parte de trás 
do animal e que lhe levante os membros anteriores, segurando pelas axilas 
(Bockstahler et al., 2004). 
Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito 
que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam 
sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).
56 
Figura 40. Exercício de dança 
(Adaptado de Leiria, 2008). 
d) Carrinho de mão 
O exercício “carrinho de mão” permite que o animal fortaleça os músculos 
dos membros anteriores. Este método exige que se levante ambos os membros 
posteriores do solo e se mova o animal para a frente (Figura 41). Um animal com 
propriocepção normal vai mover-se para a frente para não cair, animais com alguma 
fraqueza dos membros anteriores podem necessitar de um apoio. 
Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito 
que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam 
sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004). 
Figura 41. Aplicação do exercício de 
carrinho de mão em um gato 
(Adaptado de Rivière, 2007).
57 
e) Levantar / Sentar 
Os exercícios de levantar/sentar são ideais para aumentar a capacidade de 
ROM e força nos posteriores, fortalecendo os glúteos, os extensores do joelho e do 
pescoço. Segundo Bockstahler et al. (2004) são movimentos usados principalmente 
em situações de displasia da anca e afecções dos membros posteriores. É preciso 
ter atenção e verificar se o animal se senta e levanta correctamente, flectindo ao 
mesmo tempo ambos os membros posteriores quando se senta e se os estende ao 
mesmo tempo quando se coloca em estação. 
f) Estímulo nociceptivo 
Este exercício consiste em colocar por exemplo uma carica ou mesmo uma 
tampa de plástico na extremidade do membro saudável, de modo a criar um 
desconforto e encorajar o uso do membro afectado. Contudo é preciso ter cuidado 
com este exercício pois pode provocar desconforto tal que o animal recuse mesmo a 
movimentar-se. 
g) Passadeira rolante 
A passadeira rolante é dos métodos mais utilizados em reabilitação animal 
(Figura 42). A sensação do solo movimentar-se debaixo do animal vai incentiva-lo a 
usar o membro afectado para tentar equilibrar o seu peso de modo a não cair, 
realizando deste modo uma marcha mais equilibrada e correcta. Durante esta 
actividade o ideal é que esteja presente mais que uma pessoa a acompanhar o 
animal no exercício. Uma pessoa pode colocar-se em frente ao animal a incentiva-lo 
a andar, se necessário recorrer a recompensas, e outra de lado do animal de modo 
a que possa visualizar adequadamente a sua marcha e efectuar qualquer correcção 
se necessário. Inicialmente ou em animais mais fracos pode ser usado uma faixa a 
suportar o peso. 
Este exercício permite um alívio da dor e do stress do movimento em certas 
circunstâncias, tais como, dor em casos de distensão da anca num cão com
displasia da anca e num pós-operatório de ligamento cruzado (Bockstahler et al., 
2004). 
58 
Figura 42. Exercício na 
passadeira (Adaptado de 
Anónimo 9, s/d). 
h) Obstáculos horizontais 
Este é um método usado com a finalidade de incentivar o uso do membro 
afectado e aumentar o ROM, através do uso de cavaletes (Figuras 43 e 44). Em 
alguns casos uma simples escada pode servir para a realização do exercício 
(Bockstahler et al., 2004). Os trilhos estão espaçados igualmente ou com larguras 
diferentes, um boa ideia é inicialmente os espaços terem a mesma largura mas um 
pouco menor que o comprimento das passadas do paciente (Bockstahler et al., 
2004). O objectivo é fazer com que o animal caminhe por entre os espaços, 
permitindo a extensão e flexão das articulações dos membros. 
Figura 43. Exercício com cavaletes 
(Adaptado de Anónimo 7, s/d). 
Figura 44. Exercício com cavaletes 
realizado por um gato (Adaptado de 
Anónimo 9, s/d).
59 
i) Obstáculos verticais 
Estes obstáculos verticais são postes colocados em linha recta, de modo a 
que o animal passe entre eles, de um lado para o outro (Figura 45). É útil para 
permitir a flexão lateral da medula espinal, aumentar a propriocepção e fortalecer os 
músculos. A distância entre os postes deverá ser menor que o comprimento do 
próprio animal, de modo que o obrigue a flectir a medula espinal. 
Figura 45. Obstáculos verticais 
(Adaptado de Anónimo 7, s/d). 
j) Exercícios de fortalecimento muscular 
Os exercícios de fortalecimento muscular são usados para melhorar a força 
e a velocidade do animal. Incluem actividades como levantar e carregar pesos 
(Quadro 4), e correr a grandes velocidades em pequenas distâncias. Levantar e 
carregar pesos em fisioterapia animal é semelhante ao levantar pesos de uma 
pessoa (Bockstahler et al., 2004). Existem umas mochilas com vários pesos (Figura 
46) que podem ser colocadas sobre o dorso do animal fortalecendo vários músculos 
e uns pesos para se colocarem directamente nos membros com objectivo de ajudar 
a fortalecer os músculos durante a flexão na marcha. 
Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais (Adaptado 
de Bockstahler et al., 2004). 
Peso (Kg) 0.25 0.5 1 2 
Tamanho do cão Pequeno Médio Grande Muito grande
60 
Figura 46. Mochila com 
vários pesos (Adaptado de 
CiaPet, 2008). 
k) Levantar a pata 
Este exercício consiste em estimular o cão a levantar um dos membros 
anteriores usando um biscoito como recompensa. Tem como finalidade flectir a 
articulação do cotovelo e fortalecer os músculos dos membros anteriores. Pode 
também ser utilizado para combater uma atrofia muscular. 
5.4. HIDROTERAPIA 
Existem provas suficientes na actualidade do sucesso da hidroterapia em 
seres humanos, contudo existe uma grande falta de informação na literatura 
veterinária e de fisioterapia no que diz respeito a protocolos, directrizes e na 
implementação desses programas em animais (Monk, 2007). Muitos dos princípios e 
técnicas de hidroterapia usadas em humanos podem ser usados em pacientes 
animais, tendo em consideração as diferenças de tamanho, tipo de corpo, lesões e 
diferenças na comunicação (Monk, 2007). 
A água tem uma variedade de propriedades que são importantes avaliar de 
modo a ser possível desenvolver programas de hidroterapia ideias para animais, de 
modo a haver um correcto uso e máximo aproveitamento da técnica. A densidade da
água é de 1.0, a densidade de outros corpos depende da sua composição e é 
comparada á da água. A gordura possui 0,8 de densidade, que uma vez menor que 
a da água, irá flutuar, já o tecido ósseo tem densidade de 2.0, afundando na água 
(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). A capacidade de flutuar de um corpo vai ser 
igual ao peso do liquido movimentado por esse mesmo corpo quando imerso, 
segundo o principio de Arquimedes. A terapia aquática é uma forma especial de 
exercício que ajuda a reduzir a quantidade de peso que o paciente suporta até 91% 
(Figura 47). Esta situação permite que o animal suporte menor peso que em terra, 
permitindo exercer movimentos mais confortavelmente. A pressão hidrostática 
também é um parâmetro importante de avaliar, corresponde á pressão exercida pela 
água sobre o corpo imerso. Esta pressão confere algum grau de apoio e 
sustentação ao animal auxiliando no movimento e pode ainda reduzir edemas por 
melhorar a circulação sanguínea e linfática, contudo cria alguma resistência ao 
movimento do tórax sendo um pouco perigoso para animais com problemas 
cardíacos e/ou respiratórios. É importante também perceber que existe à superfície 
uma maior e mais forte ligação entre moléculas em relação á profundidade, o que 
torna a terapia dentro de água mais fácil ao animal (Bockstahler et al., 2004; Monk, 
2007). 
61 
Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a 
quantidade de água em que é imerso (Adaptado de Leiria, 
2008).
62 
5.4.1. INDICAÇÕES 
A hidroterapia ou terapia aquática tem se tornado muito importante na 
reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o 
melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da 
condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória; 
reduzir e/ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema 
(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Está indicada principalmente em situações 
de patologia neurológica como no pós-cirúrgico do disco intervertebral, mielopatia 
degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica; no pós-cirúrgico de ortopedia 
com fracturas, ruptura do ligamento cruzado cranial e displasia da anca. É favorável 
também em casos de artrite, espondilose e fraqueza muscular (Bockstahler et al., 
2004; Monk, 2007; Rivière, 2007). 
5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES 
A hidroterapia não é uma terapia que possa ser aplicada a todos os animais, 
apesar de ser excelente em certas situações existem outras em que o seu uso é 
contra indicado ou é preciso ter um cuidado acrescido. Como na presença de uma 
situação de ferida aberta, drenante e/ou infectante, a incisão ainda por cicatrizar, 
problemas gastrointestinais, respiratórios, cardíacos ou sistémicos, medo da água, 
hipertermia, falta de condição física, epilepsia, animal com tosse do canil ou na 
presença de problemas de incontinência urinária ou fecal (Clark & McLaughlin, 2001; 
Bockstahler et al, 2004; Monk, 2007). 
5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA 
Após a avaliação do estado de reabilitação em que se encontra o animal é 
preciso escolher o método de hidroterapia mais adequado aos objectivos do seu 
tratamento, ao seu tamanho e ao equipamento disponível. Existe uma enorme 
variedade de opções para animais de pequeno porte como uma simples banheira, 
tanque, piscinas para crianças e piscinas para adultos (usada para natação e a
realização de exercícios), praias, barragens, lagos, rios, passadeiras aquáticas, 
piscinas próprias para animais de pequeno porte (usada para natação e a realização 
de exercícios, Figura 48). Para animais de grande porte pode-se recorrer a piscinas 
construídas para o efeito (Figura 49), praias, barragens, rios e a passadeiras 
aquáticas. 
Figura 49. Piscina para animais de grande porte 
(Adaptado de Monk, 2007). 
Figura 48. Piscina para cães (Adaptado de 
Monk, 2007). 
É importante nesta terapia pensarmos como entra e sai o animal da água. 
Se for numa piscina de reabilitação permite que o animal entre de um modo gradual 
através de uma rampa, se estiver a usar um tanque ou uma banheira baixa-se 
lentamente e com cuidado o animal ou coloca-se o animal dentro e vai-se enchendo 
o tanque ou banheira calmamente com água. O importante é não encorajar o animal 
a saltar para dentro e/ou para fora e nunca deixá-lo sozinho durante a terapia. 
63 
5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA 
Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira sub-aquática 
(Figura 50) constitui o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal 
as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o 
ROM. Mas é preciso ter alguns cuidados, colocá-la num local amplo e ter umas
dimensões consideráveis de modo a ser possível monitorizar o tratamento por todos 
os lados e ainda contribuir para a diminuição da ansiedade do animal. Deve ser 
inspeccionada regularmente, avaliar a funcionalidade do termóstato (que mantém 
automaticamente a temperatura da água) e efectuar a limpeza necessária. 
A passadeira sub-aquática permite ainda, andar a velocidades, inclinações e 
níveis de água diferentes, mediante a condição do animal e a sua progressão 
(Bockstahler et al., 2004). 
Exercícios como manter-se em estação são benéficos em situações de 
patologia neurológica como pós cirúrgico de hérnias discais, mielopatia degenerativa 
e mielopatia fibrocartilaginosa embólica. Este exercício permite-lhes ganhar alguma 
estabilidade, coordenação e força muscular. Inicialmente pode-se apoiar o animal 
com as mãos ou com alguma faixa para o ajudar a equilibrar-se e ir soltando as 
mãos, porém assim que se vir algum sinal de fraqueza voltar a apoiá-lo. É 
recomendável a utilização de colete salva-vidas (Figura 51), facilitando a 
manipulação e é um suporte extra para o animal. Uma vez já capaz de permanecer 
em estação pode-se avançar para exercícios como o de “bicicleta” com o objectivo 
de melhoramento da locomoção, da propriocepção e melhoramento da amplitude do 
movimento. Pode-se ainda tentar provocar desequilíbrios no animal através da 
colocação de pressão sobre o animal ou provocando alguma turbulência na água, 
permitindo alguma conquista da coordenação, propriocepção e fortalecimento 
muscular. Outro exercício também ele importante é o caminhar dentro de água, mas 
é preciso dar algum tempo ao animal para se habituar, o ideal é que a primeira 
sessão seja apenas de brincadeira, dando muitos elogios e prémios. 
64 
Figura 50. Passadeira sub-aquática (Adaptado de 
Bockstahler et al., 2004). 
Figura 51. Colete salva-vidas para cães 
(Adaptado de Monk, 2007).
Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a Terminologia 
electroterapêutica da APTA (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). 
65 
5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS 
No caso de não haver a possibilidade de uso de uma passadeira, os 
exercícios descritos anteriormente, o manter-se em estação na água, a colocação de 
obstáculos (como o exercício de bicicleta, sustentação de pesos) e o simples 
caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa. Podemos acrescentar o 
exercício da natação como uma mais valia para o animal. A natação é um excelente 
exercício para o fortalecimento dos músculos e aumentar o ROM das articulações, 
uma vez que nadar requer uma maior flexão do joelho e um movimento maior dos 
membros. Para se poder executar este exercício é preciso haver condições 
favoráveis, a temperatura ser a mais adequada, e é importante secar bem o animal 
após este sair da água. 
5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA 
De acordo com Bockstahler et al. (2004) a estimulação eléctrica corresponde 
a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de 
várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor 
aguda e crónica ou atrofia muscular. 
Existe uma diversidade de tipos de estimulação (Quadro 5) possíveis através 
da aplicação de uma corrente eléctrica, cuja resposta vai depender de parâmetros 
de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso (Figura 52). 
NMES 
(Estimulação eléctrica neuromuscular) 
Estimulação eléctrica de um músculo ou tecido 
através de um nervo ileso. 
TENS 
(Estimulação eléctrica nervosa transcutânea) 
Uma forma de NMES, usada para o tratamento 
da dor. 
EMS 
(Estimulação eléctrica muscular) 
Estimulação directa sobre as fibras musculares 
de um músculo sem nervo.
Tese 6
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Tese 6

  • 1. Instituto Superior Politécnico de Viseu ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA TRABALHO FINAL DE CURSO Enfermagem Veterinária Liliana Fonseca Ferreira VISEU, 2010
  • 2. Instituto Superior Politécnico de Viseu ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA TRABALHO FINAL DE CURSO Enfermagem Veterinária Liliana Fonseca Ferreira Orientador: Dr. João Mesquita VISEU, 2010
  • 4. “As doutrinas expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor”.
  • 5. V AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, tornaram possível a conclusão deste trabalho. Agradeço aos meus pais por me terem dado a oportunidade de cursar em Enfermagem Veterinária, pois sem o seu apoio não teria sido possível concretizar este grande objectivo de vida. Aos meus amigos que de uma forma ou outra me ajudaram e apoiaram ao longo da minha vida, cada um de uma maneira especial. Aos meus colegas de academia que lutaram comigo, me apoiaram e vencemos muita coisa juntos, principalmente às amigas que se formaram nesta conquista, Isabel, Diana, Armanda e Liliana. A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, e aos meus colegas estagiários por me terem recebido da melhor forma, pelos ensinamentos transmitidos, pelas lições de vida e pelo companheirismo. Ao meu orientador, Dr. João Mesquita, pelo apoio prestado durante toda a realização do trabalho final de curso, pela orientação na sua execução e por toda disponibilidade demonstrada.
  • 6. VI TÍTULO: Fisioterapia e Reabilitação Física em Animais de companhia. RESUMO A fisioterapia e reabilitação animal é uma área de actividade cada vez mais praticada em cães e gatos, sendo sobretudo usada para ajudar os animais a regressarem às suas funções naturais antes da lesão. O interesse por esta área em animais surge dos benefícios já comprovados em Medicina Humana e na tentativa de adaptar algumas das técnicas em pacientes animais. A fisioterapia encontra-se em grande expansão em Medicina Veterinária, contudo ainda não aceite por todos. A selecção do tratamento para um paciente animal vai depender das informações recolhidas pelo clínico durante uma avaliação exaustiva do paciente, sendo abordado o procedimento para um correcto exame. Sendo a avaliação da dor um dos pontos fulcrais num processo de reabilitação é importante a sua correcta análise e controlo. A escolha do protocolo terapêutico é um dos parâmetros mais importantes e fundamentais para a recuperação de um paciente. Na elaboração do protocolo é preciso ter em conta a as necessidades do paciente, as modalidades de fisioterapia disponíveis, a disponibilidades social e financeira do proprietário, procurando sempre o mais rápido e melhor meio de recuperação. A participação activa do proprietário é fulcral para uma recuperação mais rápida. Abordado também neste trabalho foram os vários métodos de fisioterapia existentes e aplicáveis à Medicina Veterinária, nomeadamente a termoterapia, com aplicações de frio e de calor, o uso de ultra-sons, técnicas de massagem, e exercícios terapêuticos passivos, assistidos e activos. Abordaram-se ainda técnicas mais recentes mas de igual sucesso, como a utilização da hidroterapia e a estimulação eléctrica. Existem tratamentos alternativos, como a acupunctura, que estão a ganhar peso na Medicina Veterinária de igual forma como na Medicina Humana. São apresentados três casos clínicos que surgiram durante a realização do estágio no Hospital Veterinário Montenegro, que foram resolvidos com o auxílio da fisioterapia e dos cuidados de enfermagem. Não sendo uma área compreendida por todos, dá reconhecidas vantagens para quem a pratica. PALAVRAS-CHAVES Fisioterapia, Dor, Massagem, TENS, Acupunctura
  • 7. VII TITLE: Physiotherapy and Physical Rehabilitation in Pets. ABSTRACT Animal physical therapy and rehabilitation is an area of activity with increasing utilization in dogs and cats, but mostly to help animals to get back to their normal functions after an injury. The interest for these practices in animals comes from the verified benefits in Human Medicine and from the attempt to adapt some of the techniques in animal patients. Physical therapy is in great expansion inside the Veterinary Medicine, although not yet accepted by all. The choice of treatment for an animal patient will depend of the information gathered by the physician during an exhaustive clinical appraisement. Being the pain appraisement one of the key points in the rehabilitation process, its correct analysis and control is an important phase. The choice of the therapeutical process is one of the most important and fundamental characteristics in patient recovery. In a protocol elaboration, the patient’s necessities, the physical therapy modalities available and the social and financial status of the owner, need to be accounted. The owner’s active participation is crucial for a complete and fast recovery. Approached in this thesis were the several physical therapy methods available and applicable in Veterinary Medicine, such as thermotherapy with hot and cold applications, the use of ultrasounds, massage techniques and passive therapeutical exercises, assisted and active. More modern techniques are also approached such as hydrotherapy and electrical stimulation. There are alternative treatments like acupuncture; these are gaining importance in Veterinary Medicine and in Human Medicine. There are presented three clinical cases that appeared during the realization of an internship in the Montenegro Veterinary Hospital. These cases were solved with the help of the physical therapist and the nursing staff. This area, although yet not fully understood by all, is showing to be extremely fruitful in animal rehabilitation to those who practice it. KEYWORDS Physiotherapy, Pain, Massage, TENS, Acupuncture
  • 8. ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………….... V TÍTULO, RESUMO, PALAVRAS-CHAVE ……………………………………..………. VI TITLE, ABSTRACT, KEYWORDS ……………………………………………….......... VII ÍNDICE GERAL ………………………………………………………………………….. VIII ÍNDICE DE FIGURAS …………………………………………………………………….. XI ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………. XI ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………….. XV I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO ……………. 16 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………. 18 1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA …………………………………………………… 19 1.1. OBJECTIVOS ……………………………………………………………………….. 20 1.2. INDICAÇÕES………………………………………………………………………… 20 1.3. CONCEITOS BÁSICOS…………………………………………………………….. 21 2. EXAME DO PACIENTE ………………………………………………………………. 23 2.1. EXAME CLÍNICO ……………………………………………………………………. 23 2.2. EXAME FÍSICO ……………………………………………………………………… 24 3. DOR ……………………………………………………………………………………… 28 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR …………………………………………………………29 3.2. AVALIAÇÃO DA DOR ……………………………………………………………… 30 3.3. MANEIO DA DOR …………………………………………………………………… 31 4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO………………………………………………………. 34 4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO ………………………………. 34 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO …………………………………………. 35 4.3. MANEIO DO PESO …………………………………………….…………………… 36 5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA ……………………………………………………… 37 5.1. TERMOTERAPIA ……………………………………………………………………. 37 5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA ……………………………… 37 5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR ……………………………………………….. 38 5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO ………………………………………….. 39 5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS ……………………………………………. 41 5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES ………………………………………….. 41 5.2. MASSAGEM …………………………………………………………………………. 42 VIII
  • 9. 5.2.1. RESULTADOS …………………………………………………………… 42 5.2.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 43 5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………….43 5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM …………………………………………… 43 5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL …………… 43 5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA …………….. 44 5.2.4.3. FRICÇÃO ……………………………………………………………….. 45 5.2.4.4. AGITAR …………………………………………………………………. 46 5.3.4.5. PERCUSSÃO ………………………………………………………… 46 5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA …………………………… 47 5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO ………………………………. 48 5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO ……………………………. 51 5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO ………………………………… 54 5.4. HIDROTERAPIA …………………………………………………………………….. 60 5.4.1. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 62 5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 62 5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA ………………………………… 62 5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA ……………………………………. 63 5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS …………..………………………………….. 63 5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA ……………………………………………………… 65 5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS ………………………………………………… 67 5.5.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 67 5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 67 5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA A USAR …………………………………………………………………….. 68 5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) 71 5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS ……………………………………………………… 72 5.6.1. ACUPUNCTURA …………………………………………………………. 72 5.6.1.1. INDICAÇÕES…………………………………………………………. 74 5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS ……………………. 74 6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA …………………………………. 75 7. CASOS CLÍNICOS ……………………………………………………………………. 76 7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI” …………………………………………………… 76 7.1.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 76 IX
  • 10. 7.1.2. DIAGNÓSTICO ………………………………………………………….. 76 7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 79 7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 80 7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ” …………………………………………………….. 82 7.2.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 82 7.2.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………... 82 7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 85 7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 86 7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY” ………………………………………………….. 88 7.3.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 88 7.3.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………… 88 7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 90 7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 92 8. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………….. 94 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 96 ANEXO A - TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS 102 X
  • 11. ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior). ……………. ……………16 Figura 2. Localização do HVM no mapa. . ……………………………………………. 16 Figura 3. Corpo clínico do HVM. ………………………………………………………...17 Figura 4. Recepção. a) e b). ………………………...…………………………………...18 Figura 5. Consultório pequeno. .... ………………………………………………………18 Figura 6. Sala de cirurgia. ………………………………………………………………. 18 Figura 7. Internamento geral do HVM. ………...……………….……………………….18 Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético. ..…………………. ………. 21 Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade. .………. ………..…. 21 Figura 10. Realização do “Kliber test”. ...………………………………………………. 25 Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver”. ………………………...25 Figura 12. Goniómetro. …………………………………………………………………...26 Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retrivers: a) Flexão e extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente; c) Extensão do cotovelo e ombro, respectivamente. ……………………………………………………. 26 Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica. …………...27 Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente. ……………28 Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo. ………………………28 Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor). ……………………………………...29 Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas. ………………………. ………. 31 Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa. ………………...35 Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.38 Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica escolhida. …………………………………………………………………………………...38 Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. ……………………………39 Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons. . ………………………………. 40 Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna. ……………………………………………44 Figura 25. “Effleurage” no membro posterior. …………...……………………………. 44 Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior. …………………………………………45 Figura 27. Técnica de fricção. ……………………………………………………………46 XI
  • 12. Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão.……………………………………. 47 Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha.…………………. 47 Figura 30. Flexão do membro posterior. ………………………………………………. 49 Figura 31. Alongamento do membro posterior. ………………………………………. 49 Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato. ..…………………………. 49 Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.………. 50 Figura 34. Movimento bicicleta.…………………………………………………………. 51 Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. ……………………………………...52 Figura 36. Exercício numa tábua instável. ……………………………………………. 52 Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica. a) e b). ………………. 53 Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica. 53 Figura 39. Subir e descer escadas. ……………………………………………………. 55 Figura 40. Exercício de dança. …………………………………………………………. 56 Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato. ………………. 56 Figura 42. Exercício na passadeira. ...…………………………………………………. 58 Figura 43. Exercício com cavaletes. ..…………………………………………………. 58 Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato. ..………………………. 58 Figura 45. Obstáculos verticais. …………………………………………………………59 Figura 46. Mochila com vários pesos. …….…………………………. ………………. 60 Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é imerso. ………………………………………………………………………………………61 Figura 48. Piscina para cães. ……………………………………………………………63 Figura 49. Piscina para animais de grande porte. ……………………………………. 63 Figura 50. Passadeira sub-aquática. ……………………………………………………64 Figura 51. Colete salva-vidas para cães. ..……………………………………………. 64 Figura 52. Onda de estimulação típica. …………………………………………………66 Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa área específica (da mesma cor), bilateral à coluna. ………………………………...…69 Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral à coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b) Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 – S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f) Carpo (C7 – Th2)….……………………………. …………………………………………70 Figura 55. Acupunctura veterinária. a) Adaptado de Anónimo 2, s/d; b) Adaptado de Pereira, 2007; c) Adaptado de Anónimo 6, s/d. ………………………………………. 73 XII
  • 13. Figura 56. Shumi. ..………………………………………………………………………. 76 Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b). ..…………………………………. 78 Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo. ..…………. 80 Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha. ……. 80 Figura 60. Miró. ……………………………………………………………………………82 Figura 61. Ferida de decúbito. …………………………………………………………...82 Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito. ……...82 Figura 63. Estreitamento do espaço intravertebral L2 – L3. a) e b)…………………..83 Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste……84 Figura 65. Spotty..…………………………………………………………………. ……. 88 Figura 66. Recolha de Líquido cefalorraquidiano. ……………………………………. 89 Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia. ...……………………………………. 89 Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.………………………. ……91 Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha. ………………………………………………………………………………………………. 91 Figura 70. Compressão vesical no Spotty. ……………………………………………. 92 Figura 71. Algaliação no Spotty. …………………………………………………………92 XIII
  • 14. ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriver (em percentagem)..………………26 Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica..……………………………………...31 Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS..…………………………………………………………………. 32 Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais..……………………………………...59 Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a terminologia electroterapêutica da APTA..……...………………………………………………………………………………. 65 Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de estimulação………………………………………………………………………………….68 Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi. ………………………………………………76 Quadro 8. Hemograma do Shumi. ………………………………………………………77 Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi. …………………………79 Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. ……………………………...81 Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró..………………………………………………. 83 Quadro 12. Hemograma do Miró.....……………………………………………………. 84 Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró.....………………………. 85 Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa.……………….………………. 86 Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty. ……………………………………………. 88 Quadro 16. Hemograma do Spotty. ……………………………………………………. 89 Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty. ……………90 Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty para casa. ……………………………...92 XIV
  • 15. XV ÍNDICE DE ABREVIATURAS AC – Corrente alternada. AINES – Anti-inflamatórios não esteróides. APTA – Associação Americana de Fisioterapia. BUN – Concentração de ureia no sangue. CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. DC – Corrente directa. EMS – Estimulação eléctrica muscular. GPT (ALT) – Transaminase glutâmico pirúvica ou alanina aminotransferase. GOT (AST) – Transaminase glutâmico oxalacética ou aspartato aminotransferase. HCM – Hemoglobina Corpuscular Média. HVM – Hospital Veterinário Montenegro. MNS – Neurónio motor superior. NMES – Estimulação eléctrica neuromuscular. RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias. RMN – Ressonância magnética nuclear. ROM – Amplitude de movimento. TAC – Tomografia axial computorizada. TENS – Estimulação eléctrica nervosa transcutânea. VCM – Volume Corpuscular Médio.
  • 16. 16 I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO No âmbito da Licenciatura em Enfermagem Veterinária da Escola Superior Agrária de Viseu, realizou-se um estágio curricular de cinco meses (de Março de 2010 a Julho de 2010) no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) (Figura 1), na cidade do Porto, Rua Pereira Reis Nº191 (Figura 2). Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior) (Adaptado de Anónimo 1, s/d). Figura 2. Localização do HVM no mapa (Adaptado de Anónimo 2, s/d).
  • 17. Este estágio teve como objectivos principais consolidar os conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso de Enfermagem Veterinária e aperfeiçoar técnicas de trabalho na prática do dia-a-dia de um hospital. O estágio foi orientado pelo director clínico do hospital, o Dr. Luís Montenegro e restante equipa, nas áreas de medicina interna, exames complementares de diagnóstico, cirurgia e na formação pessoal no que respeita a comunicação e interacção com os proprietários dos animais. O corpo clínico (Figura 3) existente no HVM durante o meu período de estágio era composto por dez Médicos Veterinários, dois Enfermeiros Veterinários, uma recepcionista e vários estagiários (de Medicina Veterinária e/ou Enfermagem Veterinária). As instalações deste hospital estão adequadas às necessidades exigidas para realizar o melhor trabalho e dar as melhores condições aos nossos clientes. As instalações passam por um rés-do-chão, onde se encontra a recepção (que inclui sala de espera e WC para clientes) (Figura 4), os consultórios médicos (grande e pequeno (Figura 5)), sala de ecografia e radiografia, sala de cirurgia (Figura 6), internamento geral (Figura 7), internamento para pacientes com patologias infecto-contagiosas, um balcão como todo o equipamento de análises clínicas, de raio-X digital, autoclave e uma arca onde se colocam os pacientes prontos para cremação. No 1º piso situa-se a cozinha, a sala de estar (onde se realizam as refeições e trabalhos/documentos), a sala de hemodiálise e a farmácia. No 2º piso temos o WC para o pessoal do hospital, escritório de administração, sala das rações e ainda uma 17 Figura 3. Corpo clínico do HVM (Adaptado de Anónimo 3, s/d).
  • 18. sala vestuário/dormitório. Exteriormente o hospital possui um espaço onde são realizados os passeios dos animais internados e possíveis visitas feitas no exterior. 18 Figura 4. Recepção (Adaptado de Anónimo 4, s/d). Figura 6. Sala de cirurgia (Adaptado de Anónimo 6, s/d). Figura 5. Consultório pequeno (Adaptado de Anónimo 5, s/d). Figura 7. Internamento geral.
  • 19. 19 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA Segundo Forterre (2004) a fisioterapia é definida como uma estimulação generalizada ou tratamento selectivo de uma função fisiológica comprometida por meios físicos naturais, incluindo uma terapia de estimulação, de regulação e de adaptação. A fisioterapia pode ainda ser descrita como sendo o tratamento médico de doenças ortopédicas e neurológicas, onde há o uso exclusivo das forças naturais, tais como a luz, água, electricidade, calor, frio, massagem e movimento (Weeren, 2007). Fisioterapia é um termo bastante usado na medicina humana, onde está implementada há já muitos anos, mas só nos últimos anos é que tem revelado interesse da medicina veterinária. Parte do interesse surge dos muitos benefícios comprovados na reabilitação no pós-operatório de pacientes humanos e na tentativa de adoptar algumas das técnicas para os pacientes animais. Esta área tem sido alvo de muitos estudos por parte de investigadores para comprovar os benefícios em pacientes animais. A fisioterapia é uma área em grande expansão em medicina veterinária, com a existência de diversas oportunidades de formação (cursos de pós-graduação para veterinários e fisioterapeutas em diversas universidades europeias, Áustria, Alemanha, Espanha e cursos/palestras promovidos por diversas associações veterinárias). Porém neste momento em Portugal não existe qualquer tipo de regulamentação governamental ou da Ordem do Médicos Veterinários sobre esta prática. Na área da fisioterapia e reabilitação animal só no Reino Unido existe alguma regulamentação, nos restantes países europeus a prática da fisioterapia encontra-se na mesma situação que Portugal. A fisioterapia tem duas características diferentes, mas interligadas. Uma delas diz respeito à utilização de uma máquina apropriada ou terapêutica, empregada na fase de cicatrização para auxiliar a recuperação do tecido, a outra preocupa-se com a reeducação do movimento e é conhecida como reabilitação (Bromiley, 2000). É cada vez mais usada em cães e gatos, também já usada em cavalos, sempre com o objectivo de eliminar a causa músculo-esquelética e/ou neurológica, de melhoria dos sinais clínicos, e promover o retorno à função normal.
  • 20. 20 1.1. OBJECTIVOS A fisioterapia tem como principais objectivos eliminar a causa da disfunção, realçar os sinais clínicos e o alívio da dor. Dor que interfere com o bem-estar dos pacientes, e é capaz de causar imunosupressão, inapetência ou caquexia, ou dor que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros. Reduzir a inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar aderências e a retracção dos tecidos, reduzir contracções e a tensão muscular são outras das vantagens da fisioterapia. Esta área da medicina permite também o maneio de peso em animais com excesso de peso, a melhora específica e geral de aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço físico e providencia efeitos psicológicos positivos para pacientes e proprietários (Clark & McLaughlin, 2001; Levine & Millis, 2004; Bockstahler, 2006; Rivière, 2007; Martins, 2010). 1.2. INDICAÇÕES A fisioterapia está indicada em situações de reabilitação pós-cirúrgica em casos ortopédicos e neurológicos, lesões músculo-esqueléticas como tendinites, bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), entorses, mobilidade reduzida, fraqueza muscular; afecções discais associadas a dor e paresia; lesões articulares como contracturas e artrites; alívio da dor; cicatrização de feridas; alterações no desempenho de um animal atleta; edemas e problemas na circulação sanguínea e linfática; complicações do sistema cardiorespiratório e maneio do peso para preparar fisicamente o animal para a cirurgia (Clark & McLaughlin, 2001;Levine & Millis, 2004; Rivière, 2007).
  • 21. 21 Tratamento de Problemas Músculo-esqueléticos Indirectamente Vascularização Estrutura Mobilidade Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético (Adaptado de Forterre, 2004). Sistema Músculo-esquelético 1.3. CONCEITOS BÁSICOS O sistema músculo-esquelético ocupa o papel principal na fisioterapia e reabilitação animal (Figura 8), o seu tratamento vai actuar sobre os tecidos, melhorando a mobilidade que tenha sido reduzida de algum modo, a dor, a estrutura e vascularização dos tecidos. Após um trauma é fundamental a restauração da mobilidade através da reorganização e vascularização dos tecidos, caso contrário existe uma redução da amplitude dos movimentos nas articulações. O sistema músculo-esquelético tem a sua função influenciada por ciclos de carga e de descarga (Figura 9). A estrutura e manutenção do tecido conjuntivo dependem destes ciclos e basta um deles falhar para ocorrer uma alteração a nível da estrutura e mobilidade da parte afectada. Carga Descarga Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade (Adaptado de Forterre (2004).
  • 22. O movimento fisiológico é essencial para a boa condição do sistema locomotor (Rivière, 2007). Segundo Millis (2004) e Rivière & Sawaya (2006) citado por Rivière (2007) todos os órgãos do sistema locomotor estão sujeitos a alterações durante a carga ou a imobilização não fisiológica. Segundo Rivière (2007) alterações estas, em que a elasticidade e a resistência mecânica da cartilagem articular e do osso subcondral diminuem. O metabolismo ósseo modifica-se e as cápsulas, os ligamentos e tendões sofrem contracção e podem esclerosar. Desenvolvem-se aderências com perda da mobilidade articular e deficiência proprioceptiva. O tecido muscular esquelético sofre uma retracção degenerativa, com formação de fibrose e aderências entre os ligamentos. O que irá aumentar a fadiga muscular, a perturbação dos processos cicatriciais e provocar um decréscimo na eliminação dos resíduos metabólicos e na má circulação sanguínea e linfática capaz de afectar as principais funções do corpo. Quando um paciente se encontra em condições patológicas ou pós-operatórias muitas vezes não consegue colocar uma carga completa no membro afectado e através de exercícios passivos e activos da fisioterapia evitam que coloque essa carga sobre o sistema músculo-esquelético. Permitindo deste modo uma recuperação mais rápida e eficaz. 22
  • 23. 23 2. EXAME DO PACIENTE A selecção do tratamento vai basear-se principalmente nas bases do clínico, bem como no conhecimento da anamnese e exame físico do paciente animal. Ao contrário de um paciente humano um animal não tem a capacidade de descrever o que está a sentir, apenas de mostrar sinais de problemas (Goff & Crook, 2007). Nas perturbações da locomoção nem sempre é claro qual a causa primária, se de ordem neurológica ou osteoarticular. Deste modo é então indispensável realizar um exame clínico rigoroso para se poder aplicar o tratamento mais eficaz. As afecções que provocam alterações a nível da locomoção raramente colocam o paciente em risco de vida, contudo a rapidez com que se estabelece um tratamento adequado e eficaz pode ser determinante para a recuperação funcional. Para o sucesso na medicina de reabilitação física é imprescindível obter uma exaustiva avaliação do animal de modo a se obter um diagnóstico que permita a escolha do tratamento ideal. Em alguns casos é necessário recorrer a exames complementares como a ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia axial computorizada (TAC) para permitir obter uma avaliação mais rigorosa. De acordo com Bockstahler et al. (2004) nunca se deve iniciar qualquer tratamento sem possuir um diagnóstico clínico final. 2.1. EXAME CLÍNICO Numa avaliação inicial é importante fazer uma pesquisa profunda para obter a informação geral acerca do animal e da sua história clínica. É importante que o clínico saiba todos os pormenores, de modo a poder descartar hipóteses e chegar a um diagnóstico. Dados gerais como hábitos alimentares, vacinação e desparasitação, alergias, a actividade do animal (cão de guarda, de caça, cão guia) e o nível de actividade em que se encontrava anteriormente ao problema são fundamentais para o clínico. Quanto à patologia presente é importante o clínico questionar o proprietário acerca do início, duração, tratamentos implementados, evolução e resposta do animal ao tratamento. É importante nunca esquecer que são os proprietários quem melhor conhece os nossos pacientes.
  • 24. O exame clínico é bastante importante para poder determinar se existe alguma patologia, quais as consequências, o tratamento e se possui alguma contra-indicação a alguma das modalidades de fisioterapia, e correr o risco de agravar sinais (Bockstahler et al., 2004; Goff & Crook, 2007). Por exemplo num animal que sofra de insuficiência cardíaca e/ou respiratória está contra-indicado o uso da passadeira sub-aquática no seu tratamento. 24 2.2. EXAME FÍSICO Seguido do exame clínico é muito importante avaliar outros parâmetros, como a postura, a atitude, o equilíbrio, a vivacidade, a ergonomia, a amplitude de movimento e a dor, de modo a escolher o plano terapêutico ideal a cada paciente. Para a avaliação da postura e da atitude recorremos à avaliação de determinados exercícios realizados pelo animal. Exercícios como o andar, sentar, deitar, manter-se em estação, subir e descer escadas, andar em círculos, avaliando a flexão e extensão das articulações, a posição da cabeça, se existe claudicação através da avaliação do modo como coloca os membros e se apresenta défices proprioceptivos, dentro das capacidades do animal (Bockstahler et al., 2004). Outro passo muito importante no exame clínico é a palpação dos membros e do tronco. A importância da palpação deve-se ao facto de poder avaliar a simetria, o tónus e a condição muscular, a temperatura das articulações e/ou músculos, a presença de edema, algum sinal de dor e tensão. Usando as duas mãos, uma mão em cada membro simultaneamente (para ser mais fácil verificar alguma diferença), inicia-se a avaliação pelos membros anteriores, da parte distal para a parte proximal, seguindo para os membros posteriores e por fim avaliar-se os músculos do tronco, da parte cranial para a parte caudal, percorrendo todos os músculos de forma sistemática (Bockstahler et al., 2004). Existem dois testes específicos para avaliar o tronco do animal, são eles o “Kibler test” e o “Spinal Process Maneuver”. O “Kliber test” consiste em fazer uma prega de pele na região sacral e com as duas mãos colocadas lateralmente á coluna vertebral deslocar a dobra no sentido cranial (Figura 10). Este teste é importante porque fornece informações sobre problemas nos músculos e pontos de tensão, e
  • 25. caso existam seria muito difícil conseguir fazer a prega de pele. O teste “Spinal Process Maneuver” consiste em pressionar com intensidade crescente as vértebras entre dois dedos (por exemplo polegar e indicador) deslocando-os vertical e horizontalmente (Figura 11). Está indicado no tratamento de bloqueios vertebrais e na detecção de défices de mobilidade, contudo é preciso ter cuidado em pacientes com traumatismo medular e hérnias discais (Bockstahler et al., 2004). Pode-se ainda avaliar o paciente através de um exame ortopédico e neurológico. A avaliação ortopédica e neurológica realiza-se com o animal em decúbito lateral ou em estação, e consiste na avaliação de músculos, ossos longos, articulações, ligamentos, tendões, com o objectivo de o clínico verificar a existência de alguma anomalia. Na tentativa de encontrar pontos de dor, edema, crepitação e alguma tensão nos músculos (Bockstahler et al., 2004). Como testes adicionais temos a avaliação da amplitude do movimento e a medição da massa muscular, que não são apenas parte importantes no exame clínico mas também são bastantes úteis para a avaliação do progresso da fisioterapia do animal. A amplitude do movimento ou Range of Motion (ROM) corresponde ao grau de movimento articular e é avaliada através da goniometria. O goniómetro (Figura 12) deve ser colocado mediante o animal e a sua estrutura anatómica. O objectivo é medir o ângulo alcançado no movimento de flexão e extensão (Figura 13) da articulação em causa até ao limite fisiológico. Tendo em conta que cada animal é 25 Figura 10. Realização do “Kliber test” (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver” (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 26. único, o melhor é efectuar a medição também no membro saudável de modo a termos um termo de comparação do grau de alteração/normalidade (massa muscular, patologia articular, tendões e ligamentos) (Quadro 1). 26 Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriever (em percentagem) (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Articulação Flexão Extensão Carpo 32 196 Cotovelo 36 166 Ombro 57 165 Tarso 39 164 Joelho 42 162 Anca 50 162 a) Figura 12. Goniómetro (Adaptado de Bocktahler et al., 2004). b) c) Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retriever. a) Flexão e extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente c) Extensão do cotovelo e ombro, respectivamente (Adaptado de Bocktahler et al., 2004).
  • 27. A medição da massa muscular consiste na medição do perímetro muscular do membro ou da região em causa, porém mede-se frequentemente através da coxa e/ou úmero (Bockstahler et al., 2004). Para a medição utiliza-se uma fita métrica específica e calibrada como se verifica pela Figura 14. Todas as medições realizadas deverão posteriormente ser realizadas no mesmo local, com o animal no mesmo estado (sedado ou não sedado), na mesma posição, pelo mesmo clínico e com a mesma pressão para tentar minimizar ao máximo a ocorrência de interferências no resultado. 27 Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 28. 28 3. DOR Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a dor é uma experiência emocional ou sensorial desagradável, que provoca reacções de protecção motoras e autónomas, por sua vez, conducentes à aprendizagem de processos de prevenção passíveis de alterar o comportamento específico da espécie em causa, incluindo a interacção social (Gogny, 2006; Mills et al., 2007). A dor é mais uma defesa do organismo como a tosse e o vómito, sendo complicado a sua distinção entre fisiológica e patológica (Figura 15). As reacções motoras e autónomas resultantes fazem o papel protector até um certo ponto, a partir do qual, se tornam mais prejudiciais do que o estímulo que desencadeou originalmente a resposta (Tacke & Henke, 2004). É a intensidade do estímulo e a duração da respectiva aplicação que faz a distinção entre dor fisiológica e dor patológica (Figura 16). I nt ensi dade Fase I Dor fisiológica Fase II Fase III Duração Duração I nt ensi dade Dor patológica e analgesia Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente (Adaptado de Gogny, 2006). Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo (Adaptado de Gogny, 2006).
  • 29. 29 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR Podemos classificar a dor perante três parâmetros, a sua duração, origem e características clínicas (Tacke & Henke, 2004; Mills et al., 2007). Quanto á duração é possível classificar em dor aguda que surge imediatamente a uma lesão e desaparece quando o ferimento cicatriza. Tem uma função de alarme e tem boa resposta a analgésicos. A dor crónica não tem função de alarme, tem boa resposta a fármacos e não está relacionada com estímulos nociceptivos mas tem indicação de fisioterapia. É importante fazer a distinção entre dor aguda e dor crónica pois necessitam de diferentes abordagens na terapia (Figura 17) (Holler, 2009). Pode ter origem somática, em tecidos superficiais, como a pele e/ou em tecidos profundos, como ligamentos, ossos, músculos e articulações. Origem visceral, em órgãos internos torácicos, abdominais e pélvicos. Pode ainda surgir no pós-operatório (como dor aguda), numa degenerescência crónica (sendo possível o agravamento da dor, atrofia muscular e inactividade). Ser uma dor neurogénica ou neuropática (geralmente dor crónica, e provocada por lesões no sistema nervoso) ou mesmo dor oncológica (dependente do tamanho dos tumores e da presença de metástases). Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor) (Adaptado de Santos, 2009).
  • 30. 30 3.2. AVALIAÇÃO DA DOR Um dos maiores problemas de identificação da dor em animais é mesmo a incapacidade de a classificar. Ao contrário dos seres humanos, que possuem a capacidade de classificar ou ajudar o clínico a classificar a sua dor, nos animais tem que ser unicamente o clínico a avaliar a dor sem qualquer ajuda por parte do animal. Um animal com dor, apesar de não conseguir expressar por meio de palavras o que está a sentir irá tentar comunicar a dor por meio de comportamentos anormais (expressão facial, postura corporal e vocalização), e tanto se pode refugiar como imobilizar-se ou reagir com agressividade. A avaliação da dor nos animais requer por parte do clínico experiência e bom poder de observação (Tacke & Henke, 2004), porém segundo Gogny (2006) não existe formação suficiente para avaliar e tratar os pacientes com dor. Em alguns animais é muito complicado identificar a dor e determinar a sua intensidade. Os recursos terapêuticos a que os clínicos normalmente têm acesso (fármacos oficialmente aprovados) não são suficientes, pelo menos em alguns países, como a França (Gogny, 2006). A avaliação da dor vai depender da análise de uma série de sinais comportamentais, como a postura, a expressão facial, alterações das pupilas, algum tipo de vocalização e comportamento diferente, a presença de dor á palpação, o interesse pela alimentação, possível auto-mutilação e claudicação. Podem ser integrados em sistemas de pontuação subjectiva, ou através de escalas analógicas (Figura 18) ou numéricas. Sendo fundamental a colaboração do proprietário para indicar o grau de dor que lhe parece sentir o animal, sendo quem melhor conhece o animal. Temos ainda a possibilidade de avaliação do grau da dor (Quadro 2) através da medição da frequência cardíaca, respiratória e a pressão arterial, sendo parâmetros que sofrem alterações na presença de dor. Contudo é preciso ter em atenção que o stress e a agitação são factores que também podem provocar alterações nestes parâmetros (Tacke & Henke, 2004).
  • 31. 31 Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas (Adaptado de Anónimo, Carvalho & Kowacs, 2008). 3.3. MANEIO DA DOR Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica (Adaptado de Tacke & Honke, 2004). Gravidade da dor Escala (mm) Ausência de dor 0-25 Dor ligeira 26-50 Dor moderada 51-75 Dor insuportável 76-100 O principal objectivo do maneio da dor é prevenir o aparecimento de sintomas e consequências da dor patológica ou no pós-operatório, porém sem interferir com o seu ciclo (Tacke & Henke, 2004). Segundo Joshi & Ogunnaike (2005) citado por Sellon (2009) após uma análise das consequências do inadequado controlo da dor persistente no pós-operatório em pacientes humanos, é agora bem aceite que a dor inadequadamente controlada e o stress gerado pela resposta do animal têm consequências fisiológicas e psicológicas, que podem levar à disfunção de órgãos e aumentar a taxa de morbilidade e mortalidade no pós-operatório.
  • 32. Os analgésicos estão recomendados nas fases iniciais do tratamento (para evitar o desenvolvimento da “memória da dor”), independente do tipo de dor e os métodos de fisioterapia disponíveis (termoterapia, TENS, massagem, acupunctura, etc.), porém apresentam alguns cuidados a ter. Podem ser administrados analgésicos de classes diferentes concomitantemente, caso não haja qualquer contra-indicação no seu uso, devem ser usadas doses muito baixas e de acordo com as necessidades de cada paciente (Tacke & Henke, 2004). A dor foi dividida em três níveis com consequentes protocolos analgésicos, consoante a respectiva potência e relação benefício/risco pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como podemos verificar pelo Quadro 3. Segundo Mills et al. (2007) os analgésicos diminuem a sensação da dor mas não a eliminam. Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006). As principais classes farmacológicas utilizadas nos protocolos apresentados no Quadro 3 são os AINES, os analgésicos opiáceos, os anestésicos dissociativos e os agonistas alfa2. O maneio farmacológico é apenas uma parte no controlo da dor, muitos pormenores relacionados com cuidados de enfermagem e integração no contexto 32 Fase I (Dor Ligeira) Esperada ou observada AINES ou fármacos similares utilizados individualmente, ou com dose reduzida de morfina Fase II (Dor Moderada) Esperada ou observada, ou insucesso dos analgésicos da fase I AINES + opióides fracos ou AINES + dose reduzida de morfina ou anestesia local Fase III (Dor Aguda) Esperada ou observada ou insucesso dos analgésicos da fase II Dose elevada de morfina e/ou sistema transdérmico de fentanil e/ou anestesia locoregional + potenciação (AINES, quetamina, agonista alfa2 Legenda: AINES – fármacos anti-inflamatórios não esteróides.
  • 33. social desempenham um papel fundamental (Tacke & Henke, 2004). Métodos de fisioterapia como a termoterapia, massagem, TENS, tratamentos alternativos como a acupunctura, o uso mínimo de cateteres, um ambiente calmo, maneio suave e cuidadoso do animal são alguns exemplos de como se pode minimizar a dor do animal. O maneio da dor desempenha um papel importantíssimo em todas as etapas da reabilitação física e o animal jamais deve sentir algum tipo de desconforto (Clark & McLaughlin, 2001). Cada animal necessita de um maneio específico e de uma selecção de métodos adequados ao seu grau de dor, e para uma gestão a longo prazo os protocolos para casa são os mais ideais (Holler, 2009). 33
  • 34. 34 4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO O objectivo principal da realização de um protocolo terapêutico é assegurar e preservar uma recuperação funcional total e o mais rapidamente possível. 4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO Segundo a Associação Americana de Fisioterapia o protocolo terapêutico é elaborado segundo cinco parâmetros, uma avaliação inicial, um exame fisioterapêutico, um diagnóstico fisioterapêutico, um prognóstico e o tratamento (Bockstahler et al., 2004). A avaliação inicial inclui o conhecimento minucioso da história e exame clínico. Após a avaliação inicial o clínico deve reunir toda a informação já recolhida e ainda o resultado do exame físico (referido no ponto 3.1.2.) elaborando o exame fisioterapêutico. Quanto ao diagnóstico fisioterapêutico, constitui uma avaliação mais sintomática, através da análise da tensão muscular, da atrofia e da dor. A escolha do plano terapêutico é ainda influenciada pela experiência do clínico e pelo conhecimento dos benefícios já provados na Medicina Humana (Clark & McLaughlin, 2001), modalidades disponíveis, disponibilidade social e financeira do proprietário, procurando sempre o melhor e mais rápido meio de recuperação. Segundo Bockstahler et al. (2004) é impossível estabelecer um plano fisioterapêutico padrão para cada animal. Um plano de tratamento instituído para um animal no pós-operatório não será o mesmo para um animal geriátrico. A fase em que o animal inicia a fisioterapia também é importante, as necessidades de um animal que inicia o tratamento no dia da cirurgia são diferentes das necessidades de iniciar a fisioterapia após a cicatrização da sutura. Ao implementar um protocolo de reabilitação física, deve ser usada uma abordagem centrada no animal ao decidir quando iniciar cada passo, em vez de uma abordagem estritamente centrada no calendário (Clark & McLaughlin, 2001). No entanto estes protocolos podem ser tomados como gerais, e posteriormente adapta-los às necessidades individuais de cada animal.
  • 35. 35 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO O proprietário desempenha um papel importantíssimo no que diz respeito à reabilitação do seu animal. O sucesso da terapia não depende apenas de uma boa intervenção terapêutica e de uma óptima escolha em relação ao protocolo, depende fundamentalmente do acompanhamento do dono e do seu apoio. A participação activa do proprietário é muitas vezes uma mais valia para uma recuperação mais rápida (Bockstahler et al., 2004). A fisioterapia não é um tratamento fácil e rápido, leva algum tempo, embora em alguns casos se observe resultados positivos pouco tempo após o seu início, noutros, como numa situação crónica, a paciência é muitas vezes necessária até que resultados sejam visíveis. É importante que haja uma boa relação clínico/proprietário para que aumente a motivação do proprietário, e para que possam debater as melhores soluções, os objectivos e meios necessários para a realização de cada um dos tratamentos. Outro papel muito importante é o seu envolvimento directo na reabilitação do animal, através da aplicação de métodos de fisioterapia. Aplicações de calor e frio, massagem, exercícios terapêuticos, como os movimentos de bicicleta tanto em decúbito lateral com em estação, o exercício de levantar e sentar, passeios com trela, e em alguns casos usando a estimulação eléctrica (Figura 19). Métodos minuciosamente explicados e seguindo algumas recomendações, e comunicar com o clínico acerca dos resultados e dificuldades presentes nas sessões, de modo a haver a actualização de frequências e métodos a usar. No tratamento de gatos é especialmente importante a participação activa do proprietário, permitindo uma rápida reabilitação e melhoria dos sinais clínicos. Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).
  • 36. 36 4.3. MANEIO DO PESO O maneio do peso é um importante aspecto na fisioterapia de cães e gatos com problemas ortopédicos e neurológicos, em que o excesso de peso contribui para o desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos e exerce uma pressão excessiva sobre articulações, ligamentos e tendões (Bockstahler et al., 2004). É preciso prevenir a obesidade em cães especialmente quando se considera que carregam 60% do seu peso nos membros anteriores (Innes, 2006). Um animal obeso com problemas ortopédicos exige um protocolo terapêutico especial. Segundo a experiência de alguns clínicos a combinação da perda de peso e a realização de exercícios especiais traz melhores resultados. O ideal é que o início dos exercícios terapêuticos coincida com o início do programa de perda de peso. O sucesso vai depender muito do protocolo escolhido para o paciente, e é importante que o proprietário tenha um papel activo durante todo o processo, cumprindo ele próprio o protocolo estabelecido para casa.
  • 37. 37 5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA 5.1. TERMOTERAPIA A termoterapia consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de aquecimento e arrefecimento do corpo do animal. 5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA A aplicação de frio tem efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo muscular. Em geral induz vasoconstrição, limitando o fluxo sanguíneo à área afectada levando a uma redução do edema; diminuição do metabolismo celular; alívio da dor por diminuição da condução nervosa e redução do espasmo muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya, 2007). A sua aplicação está indicada em situações agudas (após uma lesão e no período pós-operatório até 72h), trauma, artrites, tendinites, miosites e na prevenção de inflamação após exercício (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). A crioterapia consiste na aplicação de cubos de gelo (Figura 20), cobertos com uma toalha (de modo a não estarem em contacto directo com a pele) e colocar sobre a área a tratar. Existem também acumuladores de frio, compressas ou panos molhados e sistemas de imersão de água fria (usado muito em cavalos, Figura 21) como alternativas aos cubos de gelo. O tempo de aplicação deve ser entre 15 a 25 minutos mas vai depender da estrutura e do animal em tratamento. Nos cavalos são relatados períodos de exposição até 45 minutos, revelando um estudo que um cavalo com lesão do tendão flexor digital superficial foi submetido a tratamento com frio durante uma hora com resultados positivos e sem sinais de qualquer tipo de dano celular (Leiria, 2008). De acordo com Clark & McLaughlin (2001) a crioterapia superficial pode penetrar nos tecidos a uma profundidade de 1 a 4 cm, com a maior alteração de temperatura a ocorrer a 1 cm de profundidade. Para atingir temperaturas mais baixas em tecidos mais profundos pode-se usar um penso compressivo, como uma ligadura elástica. Deve-se sempre não prolongar o tempo de exposição e evitar o
  • 38. contacto directo com a área afectada de modo a não causar o efeito contrário, vasodilatação e formação de edema local por diminuição da temperatura local. A crioterapia não está indicada em animais com alterações de sensibilidade, problemas circulatórios (como vasculite, doença vascular periférica, lesão isquémica e formigamento), diabetes mellitus ou feridas abertas (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). 38 Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha. 5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica escolhida (Adaptado de Leiria, 2008). Após a inflamação aguda estar resolvida é benéfica a aplicação de calor na área afectada (hipertermia superficial) de modo a estimular a vasodilatação, melhorar o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, aliviar a dor, provocar o relaxamento muscular, aumentar a velocidade de condução do impulso, alterar o limiar de excitabilidade nociceptiva e aumentar a oxigenação, e facilitar a cicatrização (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya, 2007;). É aplicada normalmente em situações de artrites crónicas, rigidez e tensão muscular, espondiloartrose, espondilose. Para promover maior elasticidade e flexibilidade criando boas condições para a aplicação de métodos passivos de fisioterapia, como massagens e a estimulação eléctrica (Clark & McLaughlin, 2001;Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
  • 39. Este método consiste na aplicação de uma fonte de calor na área afectada, atingindo cerca de 1 a 11 mm de profundidade do tecido (terapia superficial) através de compressas, toalhas, botijas de água quente, parafina, hidroterapia, e infravermelhos (Figura 22), durante 15 a 20 minutos. Se pelo contrário a temperatura atingir 1 a 3 cm de profundidades já se realiza uma terapia profunda, alcançada através de ultra-sons. A frequência do tratamento vai depender do tipo, do grau de problema e do efeito desejado. É muito importante uma vigilância constante da pele para prevenir danos como queimaduras. A aplicação de calor deve ser evitada em situações de inflamação local aguda, tumores, feridas abertas, hematomas, problemas graves de circulação e na ausência de sensibilidade (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). 39 Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. 5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para aquecer os tecidos mais profundos. O ultra-som é produzido incidindo uma corrente eléctrica de alta frequência num cristal, como o quartzo (piezoeléctrico). Graças ao efeito piezoeléctrico o cristal altera a corrente que recebe produzindo ondas ultrasónicas (Bockstahler et al., 2004). As ondas à medida que vão sendo absorvidas no músculo vão transformando a energia mecânica em calor. A
  • 40. quantidade de calor produzida vai depender da área a tratar (tipo de tecido e gravidade), frequência, intensidade, modo de aplicação e resposta individual do animal. Na fisioterapia e reabilitação são usadas ondas de frequência que variam entre 0.5 a 5 MHz, mas o mais frequente é verificar-se equipamentos com frequências de 1 MHz (baixa frequência) e 3.3 MHz (alta frequência) (Bockstahler et al., 2004). A frequência é escolhida consoante a profundidade do tecido desejado para incidir o ultra-som, se a profundidade de penetração desejada for entre 0 a 3 cm (zonas ósseas) usa-se a frequência 3 MHz, se for entre 2 e 5 cm (tecidos mais profundos) já se utiliza a frequência mais baixa, 1MHz (Bockstahler et al., 2004). A intensidade corresponde à taxa de energia distribuída por unidade de área (W/cm2). Podem ser usados dois modos de transmissão de ultra-sons, modo contínuo, em que a energia é constantemente produzida e modo pulsátil. No modo pulsátil é possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa, permitindo o uso de intensidades mais elevadas alcançando os níveis de temperatura desejados sem provocar qualquer tipo de dano tecidular e alterar a permeabilidade das células e melhorar o seu metabolismo (Bockstahler et al., 2004). A sonda pode ser colocada directamente na pele sobre um gel hidrossolúvel (sobre uma pele tosquiada, aumenta a transmissão de ultra-sons) (Figura 23) ou quando se trata de uma área pequena ou irregular pode-se imergir a área submersa em água e colocar a sonda a 1 a 2 cm de distância (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Os movimentos devem ser suaves, lentos e em círculos (Bockstahler et al., 2004). 40 Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
  • 41. 41 5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS Existe uma grande variedade de indicações para o uso do ultra-som como meio terapêutico, patologias articulares ou componentes ligados, como artrites, sinovites, tendinites, bursites, patologias musculares, aderências. Pode também potenciar a aplicação transdérmica de fármacos (Clark & McLaughlin, 2001). A terapia por ultra-sons apresenta efeitos térmicos e efeitos não térmicos. Os efeitos térmicos permitem um alívio da dor, diminuindo a tensão muscular levando a um aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, melhoria da elasticidade das estruturas fibrosas, melhoria da nutrição dos tecidos, aumentando a suplementação de oxigénio e aumentando a eliminação de produtos metabólicos. Os efeitos não térmicos incluem o aumento da permeabilidade celular, do transporte de cálcio, remoção de células sanguíneas do espaço intersticial e aumento da actividade fagocítica dos macrófagos (Clark & McLaughlin, 2001). 5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES O seu uso está contra-indicado em áreas infectadas, áreas com problemas de circulação, na presença de trombos ou na presença de tumores malignos. Não se deve aplicar directamente sobre os olhos, coração, útero grávido, gónadas e cartilagem em animais jovens (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007; Leiria, 2008). A maior parte das preocupações surge do perigo de queimaduras dos tecidos, devido a intensidades muito elevadas e movimentos muito lentos ou então períodos de paragem da sonda no mesmo ponto, podendo provocar cavitação instável, um fenómeno no qual se formam e crescem umas bolhas de gás que expandem e explodem afectando os tecidos (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
  • 42. 42 5.2. MASSAGEM A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, medicina do desporto e da reabilitação humana. É já um facto conhecido há muito tempo que a massagem se confirmou eficaz em animais, que eles a aceitam bem e até reagem favoravelmente; daí ter sido tida como modalidade no tratamento veterinário (Bockstahler et al., 2004). Apesar de poder haver alguma passagem directa de princípios e práticas de humanos para os animais, é claro que existem ideias unicamente para os animais, até porque existem diferenças anatómicas, funcionais e cinesiológicas. Os animais não podem ser instruídos para relaxarem ao contrário dos humanos (Monk, 2007). A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio clínico devera apresentar-se relaxado, confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a criar algum relaxamento entre ambos. Sempre que possível deve ser aplicado calor na área a massajar, antes e após a massagem. 5.2.1. RESULTADOS Esta modalidade tem diferentes efeitos e objectivos, consoante as técnicas escolhidas, a sua duração, frequência, intensidade, velocidade e direcção. Os seus efeitos passam por permitir o relaxamento mental e físico do animal; quebrar aderências, o ciclo vicioso da dor e a tensão muscular; libertar endorfinas endógenas; melhorar a circulação venosa, linfática e arterial; facilitar a eliminação de resíduos e a suplementação de oxigénio; estimula o sistema nervoso e acelera a recuperação muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Rivière, 2007). A massagem não afecta a massa muscular, o grau de atrofia ou a força segundo Geiringer (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001).
  • 43. 43 5.2.2. INDICAÇÕES As suas principais indicações são consequências dos efeitos descritos anteriormente, estando como objectivo primário a eliminação da dor e consequente contracção muscular, que exacerba ainda mais a dor pré-existente (Bockstahler et al., 2004). Podemos recorrer á massagem em situações de tensão muscular secundária a um problema medular ou articular, mobilização de aderências, regulação da tonicidade muscular, prevenção e/ou recuperação de lesões antes e após os exercícios ou redução ou prevenção de estase e linfostase (Bockstahler, 2004). 5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES Esta modalidade está contra-indicada em situações em que a área a massajar se encontre com uma inflamação e/ou infecção, doenças dermatológicas, como presença de dermatófitos, tumores, febre, insuficiências cardíacas descompensadas ou distúrbios circulatórios (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler, 2004). 5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em Medicina Veterinária, porém apenas serão apresentadas as que são consideradas como as mais eficazes. 5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL Esta técnica permite a manipulação de músculos superficiais, aumentando o fluxo sanguíneo e linfático, neutralizando a estase (Bockstahler et al., 2004). Pode ainda ser usada entre massagens mais profundas ou no fim de cada sessão de massagens com a intenção de relaxar o animal. É frequentemente realizada com o animal em estação, colocando-se o clínico de lado ou mesmo atrás do animal. A
  • 44. técnica consiste em deslocar as mãos suavemente sobre a superfície da pele do animal, com movimentos no sentido do crescimento do pêlo, começando pelo pescoço partindo para as costas, garupa (Figura 24) e terminando nos membros (Figura 25). Depois de massajar os membros partir novamente para o pescoço, e assim repetidamente. As mãos devem permanecer abertas, realizando movimentos lentos e que estejam sempre em contacto, nunca passar com as duas mãos de uma vez directamente duma área para a outra, por exemplo deixar uma mão no membro posterior e colocar a outra no pescoço e só então largar a mão do membro e passa-la para o pescoço (Bockstahler et al., 2004). Permitir que a pele deslize suavemente sobre a fáscia subjacente vai reduzir as aderências segundo Blaser (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001). 44 Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 25. “Effleurage” no membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008). 5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA Pode ser aplicado superficialmente ou mais profundamente (Bockstahler et al., 2004). Uma vez superficial obtém-se uma diminuição do tónus muscular, através da realização de uma prega de pele e massajando os tecidos (Figura 26). A direcção deve ser no sentido das fibras musculares, podendo em todo o caso ser diagonal ou perpendicular a elas, iniciando sempre na cauda e ir evoluindo para o pescoço, se a lesão for nos membros deve evoluir da região distal-proximal (Bockstahler et al.,
  • 45. 2004; Rivière, 2007). O “Pétrissage” em profundidade consiste em manobrar um grupo de músculos entre o polegar e os restantes dedos (abrindo e fechando as mãos). Nas costas colocamos uma mão de cada lado da coluna vertebral ou ambas as mãos do mesmo lado. Devemos aumentar o grau de pressão muito lentamente, uma vez com este exercício verificar-se um aumento da tonicidade muscular, podendo gerar dor. 45 Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008). 5.2.4.3. FRICÇÃO Esta técnica pode ser realizada de forma superficial ou profunda, numa área localizada ou disseminada do corpo do animal (Figura 27) (Bockstahler et al., 2004). Permite o aumento do fluxo sanguíneo, promove a eliminação de toxinas e ainda pode quebrar aderências (Bockstahler et al., 2004). Para exercer esta técnica numa área maior são utilizadas as pontas dos dedos ou o punho, deslizando cuidadosamente para a frente e para trás ou em direcção contrária às fibras musculares, aumentando a pressão conforme a necessidade. Numa área mais localizada desliza-se de forma circular as pontas dos dedos (idealmente uma mão em cima da outra para ajudar na massagem), deslocando assim a pele e numa pressão baixa inicialmente, aumentando até atingir as camadas mais profundas de músculos. É uma excelente técnica para aliviar áreas com demasiada tensão. Encontra-se contra-indicada em situações agudas, inflamatórias e/ou infecciosas ou
  • 46. em regiões com deposições de cálcio segundo Pinheiro (1998) citado por Leiria (2008). 46 Figura 27. Técnica de fricção (Adaptado de Leiria, 2008). 5.2.4.4. AGITAR Consiste numa técnica superficial usada para o relaxamento de músculos, durante a manipulação de tecidos profundos e no final de sessões de massagens. Através desta técnica pode-se trabalhar um conjunto de músculos (agarrando um grupo de músculos e gentilmente agitar para a frente e para trás) ou o membro inteiro (agarrando a parte distal do membro e agitando gentilmente). 5.2.4.5. PERCUSSÃO Técnica muito usada para relaxar os músculos e melhorar a circulação (Bockstahler et al., 2004). Através de batimentos suaves realizados na pele com a palma da mão em forma de concha (Figura 28) ou com a zona lateral (Figura 29) (Rivière, 2007; Bockstahler et al., 2004). Permite trabalhar grandes áreas musculares (Rivière, 2007).
  • 47. Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha (Adaptado de Leiria, 2008). 47 Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão (Adaptado de Leiria, 2008). 5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA Segundo Mikail & Pedro (2006) citado por Leiria (2008) a cinesioterapia é um método não invasivo e utiliza o movimento como meio de terapia. Os principais objectivos passam por aumentar o ROM, a flexibilidade, o uso do membro afectado, reduzindo o grau de claudicação, fortalecer e aumentar a massa muscular e a agilidade sem presença de dor (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Rivière, 2007). Os exercícios terapêuticos são uma parte fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós-operatório, fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal. Esta fase é muito importante pois cria-se uma ligação cada vez mais forte entre proprietário e animal, e os proprietários começam a ter noção das alterações da condição física dos seus animais e quando tal acontece procuram ajuda médica de imediato. Graças à grande variedade de exercícios é possível escolher os que melhor se adequam a cada paciente, desde movimentos passivos, assistidos a activos, e é importante que não se torne numa rotina, numa sessão de exercícios repetidos que aborreçam tanto o clínico como o paciente (Bockstahler et al., 2004). Deve-se tentar nunca provocar dor no paciente podendo prejudicar toda a recuperação conseguida até ao momento, através do reflexo inibidor, e encadear um menor uso do membro.
  • 48. A aplicação de frio (crioterapia) posteriormente a uma sessão de exercícios intensos é o ideal para permitir o alívio da dor e minimizar a inflamação. 48 5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO É um exercício que ajuda a manter ou melhorar a flexibilidade dos músculos, tendões e ligamentos, a flexão e extensão das articulações, e melhorar a estrutura e a função neuromuscular. É muito usado na recuperação de cães em condições neurológicas, como ruptura do disco intervertebral, ou complicações do sistema músculo-esquelético (Bockstahler et al., 2004). O tempo e a frequência do exercício vão depender de cada animal. É fundamental proporcionar conforto ao animal, colocando-o sob uma superfície protegida por algo acolchoado e não proporcionar uma sessão muito exigente, correndo o risco de provocar dor e atrasar a recuperação. Tal como o nome indica o animal não participa activamente no processo, o que também exige do clínico um maior conhecimento da anatomia e fisiologia do corpo. a) Exercício de amplitude de movimento (ROM) Segundo Bockstahler et al. (2004) este exercício é importante em cães jovens e cães submetidos a cirurgias da articulação, principalmente fracturas de cotovelo e fémur e estabilização de uma ruptura do ligamento cruzado cranial. O objectivo principal é flectir e estender as articulações individualmente dependendo do seu grau de amplitude confortável (Bockstahler et al., 2004). Isto é, uma articulação é lentamente flectida ou estendida (dependendo do movimento desejado) até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Geralmente a flexão da articulação é mais tolerada que a extensão. Existem outros movimentos considerados como apropriados, como é o caso do movimento de rotação, principalmente no ombro e quadril, e os movimentos de adução e abdução.
  • 49. 49 b) Exercício de alongamento Muitas vezes é usado em associação com o exercício ROM, e em situações de rigidez muscular e diminuição da amplitude do movimento (ROM). O seu principal objectivo é alongar e realinhar os tecidos moles e o colageneo para não rasgar nem dilacerar os tecidos, de acordo com (Bockstahler et al., 2004). Este exercício consiste em flectir (Figura 30) ou estender lentamente (Figuras 31 e 32) uma articulação dependendo do movimento desejado, até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Em geral o movimento de extensão é menos confortável que o de flexão. Podem ser também realizados movimentos de adução, abdução e rotação. Figura 30. Flexão do membro posterior. Figura 31. Alongamento do membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato (Adaptado de Anónimo 8, s/d).
  • 50. 50 c) Exercício do reflexo flexor Este exercício é principalmente usado em pacientes com défices neurológicos bem como no exame neurológico. Consiste em beliscar a pele existente entre os dedos, em resposta o paciente deve flectir o membro estimulado (Figura 33). O estímulo tem como objectivo a contracção muscular, de modo a prevenir atrofia por desuso e aumento do tónus muscular. Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia. d) Movimento de bicicleta O movimento de bicicleta pode ser realizado posicionando o animal em decúbito lateral ou em estação. Este exercício é muito utilizado em animais com défices neurológicos, em associação com o ROM e em animais que tenham dificuldade em suportar o seu peso nos membros (usando neste caso apenas a posição de estação). Neste movimento o exercício passa por ir lentamente formando círculos, no sentido caudal-dorsal-cranial (Figura 34), caso necessário em posição de estação pode-se colocar uma mão de lado para auxiliar o animal. Sendo preciso flectir e estender todas as articulações durante a execução de um círculo. O objectivo principal passa por influenciar o sentido pela marcha e prevenir ou melhorar o ROM.
  • 51. 51 Figura 34. Movimento bicicleta (Adaptado de Leiria, 2008). 5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO É um exercício adequado para pacientes que já conseguem suportar algum do seu peso, principalmente pacientes com défices neurológicos e/ou lesões pélvicas bilaterais. Tem como principais objectivos aumentar a força, resistência, propriocepção e sensibilidade neuromuscular (Bockstahler et al., 2004). Os exercícios assistidos consistem em exercícios em que o animal participa activamente porém com auxílio do clínico. a) Manter-se em estação assistido por uma toalha O exercício assistido consiste em providenciar um suporte para o cão ou gato (um arnês, uma toalha, etc.) para o conduzir e apoiar durante a execução de movimentos simples, como o caminhar (Figura 35) (Rivière, 2007). O exercício permite assistir um animal que não tenha força necessária para suportar a totalidade do peso do seu corpo. O cão é colocado na posição de estação e com o auxílio de uma toalha ou funda auxiliar o animal na sustentação do seu peso, permitindo que este carregue apenas o peso que é capaz (Bockstahler et al., 2004). Porém com o seguimento do tratamento a força realizada pelo clínico deve diminuir à medida que o animal vai aumentando a quantidade de peso capaz de suportar.
  • 52. 52 Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. b) Prancha de equilíbrio É uma actividade que permite fortalecer o equilíbrio do animal. Consiste em colocar o animal sobre uma prancha de equilíbrio ou uma simples tábua instável, auxiliando-o para evitar possíveis quedas, realizando-se movimentos oscilatórios em todas as direcções (Figura 36). Figura 36. Exercício numa tábua instável (Adaptado de Anónimo 7, s/d). c) Bola terapêutica A bola terapêutica é uma boa ajuda para o animal com problemas proprioceptivos que o apoia durante a marcha. De acordo com Saunders (2007) citado por Leiria (2008) é muito importante em pacientes neurológicos, pós-cirúrgicos, com displasia da anca ou cotovelo, com artrites, patologia lombosagrada
  • 53. e em animais de desporto, O exercício consiste em colocar o animal em estação sobre a bola (Figura 37) ou apoiando apenas os membros posteriores ou anteriores (Figura 38), movimentando-se lateralmente, para a frente e para trás (Bockstahler et al., 2004). 53 a) b) Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010). Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010). d) Flexão e extensão cervical e flexão lateral Flexão e extensão cervical e flexão lateral permitem que o animal melhore a mobilidade de modo a se manter em estação, equilibrado. Realiza-se este exercício estimulando o animal a movimentar a cabeça no sentido lateral e/ou dorsal – ventral, caso necessário pode-se usar objectos (como uma bola) ou mesmo uma recompensa como estímulos.
  • 54. 54 5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO De acordo com Riviére (2007) os exercícios terapêuticos activos deverão ser iniciados o mais cedo possível, tendo em conta as fases de cicatrização do tecido lesado. Isto é, a iniciação deste tipo de exercícios vai depender da resposta do paciente á reabilitação. É necessário que o animal responda aos exercícios passivos sem desconforto aparente e que já seja capaz de suportar o seu peso sobre o membro afectado. Os exercícios activos têm como principal objectivo a recuperação da força e locomoção. Permitindo também uma recuperação e melhoramento da capacidade cardiorespiratória bem como do nível de actividade e um alívio da dor. Existe uma grande variabilidade de exercícios activos e o importante é saber escolher os que melhor se adequam a cada animal. a) Caminhar lentamente Este exercício talvez seja dos mais importantes na reabilitação do pós-operatório e em animais com afecções crónicas. As caminhadas são frequentemente realizadas incorrectamente, têm de ser realizadas á velocidade do cão, não de quem o leva a caminhar (Bockstahler et al., 2004). Estas caminhadas têm que ser feitas muito lentamente para o animal conseguir equilibrar o seu peso e não ter receio de ir colocando o membro afectado no solo, podemos também contribuir para que isso aconteça elogiando-o sempre que o apoiar no solo. Inicialmente as caminhadas devem ser realizadas 2 a 3 vezes por dia durante uns 2 a 5 minutos cada. Após os primeiros dias de caminhadas se a claudicação não tiver piorado pode-se ir aumentando o tempo em 1 a 3 minutos por dia (Bockstahler et al., 2004). b) Subir / Descer escadas Subir e descer escadas é o exercício ideal para trabalhar a extensão das articulações (Figura 39). Este exercício deve ser iniciado quando o animal já se encontra com melhorias visíveis e já ser capaz de caminhar sobre o membro afectado apesar da existência de alguma claudicação. Deverá começar por
  • 55. caminhar lentamente em degraus de altura baixa de modo a ir adquirindo o uso normal dos membros e adaptando os membros a alguma extensão, não permitindo que este avance degraus ou mesmo que salte sobre eles. Assim verificado evolução no quadro do animal poder-se-á introduzir desafios e caminhar por degraus de altura mais elevada. É vantajoso para criar força muscular principalmente nos membros posteriores (Bockstahler et al., 2004). 55 c) Dançar Figura 39. Subir e descer escadas (Adaptado de Rivière, 2007). Este exercício consiste em levantar os membros anteriores do solo e movimentar o animal para a frente e para trás, parecendo que este está a dançar (Figura 40). Este método permite um fortalecimento dos músculos dos membros posteriores. Alguns animais tentam se esticar de tal modo que quase conseguem chegar ao solo, nestas situações o ideal é que o clínico se coloque na parte de trás do animal e que lhe levante os membros anteriores, segurando pelas axilas (Bockstahler et al., 2004). Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).
  • 56. 56 Figura 40. Exercício de dança (Adaptado de Leiria, 2008). d) Carrinho de mão O exercício “carrinho de mão” permite que o animal fortaleça os músculos dos membros anteriores. Este método exige que se levante ambos os membros posteriores do solo e se mova o animal para a frente (Figura 41). Um animal com propriocepção normal vai mover-se para a frente para não cair, animais com alguma fraqueza dos membros anteriores podem necessitar de um apoio. Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004). Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato (Adaptado de Rivière, 2007).
  • 57. 57 e) Levantar / Sentar Os exercícios de levantar/sentar são ideais para aumentar a capacidade de ROM e força nos posteriores, fortalecendo os glúteos, os extensores do joelho e do pescoço. Segundo Bockstahler et al. (2004) são movimentos usados principalmente em situações de displasia da anca e afecções dos membros posteriores. É preciso ter atenção e verificar se o animal se senta e levanta correctamente, flectindo ao mesmo tempo ambos os membros posteriores quando se senta e se os estende ao mesmo tempo quando se coloca em estação. f) Estímulo nociceptivo Este exercício consiste em colocar por exemplo uma carica ou mesmo uma tampa de plástico na extremidade do membro saudável, de modo a criar um desconforto e encorajar o uso do membro afectado. Contudo é preciso ter cuidado com este exercício pois pode provocar desconforto tal que o animal recuse mesmo a movimentar-se. g) Passadeira rolante A passadeira rolante é dos métodos mais utilizados em reabilitação animal (Figura 42). A sensação do solo movimentar-se debaixo do animal vai incentiva-lo a usar o membro afectado para tentar equilibrar o seu peso de modo a não cair, realizando deste modo uma marcha mais equilibrada e correcta. Durante esta actividade o ideal é que esteja presente mais que uma pessoa a acompanhar o animal no exercício. Uma pessoa pode colocar-se em frente ao animal a incentiva-lo a andar, se necessário recorrer a recompensas, e outra de lado do animal de modo a que possa visualizar adequadamente a sua marcha e efectuar qualquer correcção se necessário. Inicialmente ou em animais mais fracos pode ser usado uma faixa a suportar o peso. Este exercício permite um alívio da dor e do stress do movimento em certas circunstâncias, tais como, dor em casos de distensão da anca num cão com
  • 58. displasia da anca e num pós-operatório de ligamento cruzado (Bockstahler et al., 2004). 58 Figura 42. Exercício na passadeira (Adaptado de Anónimo 9, s/d). h) Obstáculos horizontais Este é um método usado com a finalidade de incentivar o uso do membro afectado e aumentar o ROM, através do uso de cavaletes (Figuras 43 e 44). Em alguns casos uma simples escada pode servir para a realização do exercício (Bockstahler et al., 2004). Os trilhos estão espaçados igualmente ou com larguras diferentes, um boa ideia é inicialmente os espaços terem a mesma largura mas um pouco menor que o comprimento das passadas do paciente (Bockstahler et al., 2004). O objectivo é fazer com que o animal caminhe por entre os espaços, permitindo a extensão e flexão das articulações dos membros. Figura 43. Exercício com cavaletes (Adaptado de Anónimo 7, s/d). Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato (Adaptado de Anónimo 9, s/d).
  • 59. 59 i) Obstáculos verticais Estes obstáculos verticais são postes colocados em linha recta, de modo a que o animal passe entre eles, de um lado para o outro (Figura 45). É útil para permitir a flexão lateral da medula espinal, aumentar a propriocepção e fortalecer os músculos. A distância entre os postes deverá ser menor que o comprimento do próprio animal, de modo que o obrigue a flectir a medula espinal. Figura 45. Obstáculos verticais (Adaptado de Anónimo 7, s/d). j) Exercícios de fortalecimento muscular Os exercícios de fortalecimento muscular são usados para melhorar a força e a velocidade do animal. Incluem actividades como levantar e carregar pesos (Quadro 4), e correr a grandes velocidades em pequenas distâncias. Levantar e carregar pesos em fisioterapia animal é semelhante ao levantar pesos de uma pessoa (Bockstahler et al., 2004). Existem umas mochilas com vários pesos (Figura 46) que podem ser colocadas sobre o dorso do animal fortalecendo vários músculos e uns pesos para se colocarem directamente nos membros com objectivo de ajudar a fortalecer os músculos durante a flexão na marcha. Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Peso (Kg) 0.25 0.5 1 2 Tamanho do cão Pequeno Médio Grande Muito grande
  • 60. 60 Figura 46. Mochila com vários pesos (Adaptado de CiaPet, 2008). k) Levantar a pata Este exercício consiste em estimular o cão a levantar um dos membros anteriores usando um biscoito como recompensa. Tem como finalidade flectir a articulação do cotovelo e fortalecer os músculos dos membros anteriores. Pode também ser utilizado para combater uma atrofia muscular. 5.4. HIDROTERAPIA Existem provas suficientes na actualidade do sucesso da hidroterapia em seres humanos, contudo existe uma grande falta de informação na literatura veterinária e de fisioterapia no que diz respeito a protocolos, directrizes e na implementação desses programas em animais (Monk, 2007). Muitos dos princípios e técnicas de hidroterapia usadas em humanos podem ser usados em pacientes animais, tendo em consideração as diferenças de tamanho, tipo de corpo, lesões e diferenças na comunicação (Monk, 2007). A água tem uma variedade de propriedades que são importantes avaliar de modo a ser possível desenvolver programas de hidroterapia ideias para animais, de modo a haver um correcto uso e máximo aproveitamento da técnica. A densidade da
  • 61. água é de 1.0, a densidade de outros corpos depende da sua composição e é comparada á da água. A gordura possui 0,8 de densidade, que uma vez menor que a da água, irá flutuar, já o tecido ósseo tem densidade de 2.0, afundando na água (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). A capacidade de flutuar de um corpo vai ser igual ao peso do liquido movimentado por esse mesmo corpo quando imerso, segundo o principio de Arquimedes. A terapia aquática é uma forma especial de exercício que ajuda a reduzir a quantidade de peso que o paciente suporta até 91% (Figura 47). Esta situação permite que o animal suporte menor peso que em terra, permitindo exercer movimentos mais confortavelmente. A pressão hidrostática também é um parâmetro importante de avaliar, corresponde á pressão exercida pela água sobre o corpo imerso. Esta pressão confere algum grau de apoio e sustentação ao animal auxiliando no movimento e pode ainda reduzir edemas por melhorar a circulação sanguínea e linfática, contudo cria alguma resistência ao movimento do tórax sendo um pouco perigoso para animais com problemas cardíacos e/ou respiratórios. É importante também perceber que existe à superfície uma maior e mais forte ligação entre moléculas em relação á profundidade, o que torna a terapia dentro de água mais fácil ao animal (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). 61 Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é imerso (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 62. 62 5.4.1. INDICAÇÕES A hidroterapia ou terapia aquática tem se tornado muito importante na reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória; reduzir e/ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Está indicada principalmente em situações de patologia neurológica como no pós-cirúrgico do disco intervertebral, mielopatia degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica; no pós-cirúrgico de ortopedia com fracturas, ruptura do ligamento cruzado cranial e displasia da anca. É favorável também em casos de artrite, espondilose e fraqueza muscular (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007; Rivière, 2007). 5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES A hidroterapia não é uma terapia que possa ser aplicada a todos os animais, apesar de ser excelente em certas situações existem outras em que o seu uso é contra indicado ou é preciso ter um cuidado acrescido. Como na presença de uma situação de ferida aberta, drenante e/ou infectante, a incisão ainda por cicatrizar, problemas gastrointestinais, respiratórios, cardíacos ou sistémicos, medo da água, hipertermia, falta de condição física, epilepsia, animal com tosse do canil ou na presença de problemas de incontinência urinária ou fecal (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al, 2004; Monk, 2007). 5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA Após a avaliação do estado de reabilitação em que se encontra o animal é preciso escolher o método de hidroterapia mais adequado aos objectivos do seu tratamento, ao seu tamanho e ao equipamento disponível. Existe uma enorme variedade de opções para animais de pequeno porte como uma simples banheira, tanque, piscinas para crianças e piscinas para adultos (usada para natação e a
  • 63. realização de exercícios), praias, barragens, lagos, rios, passadeiras aquáticas, piscinas próprias para animais de pequeno porte (usada para natação e a realização de exercícios, Figura 48). Para animais de grande porte pode-se recorrer a piscinas construídas para o efeito (Figura 49), praias, barragens, rios e a passadeiras aquáticas. Figura 49. Piscina para animais de grande porte (Adaptado de Monk, 2007). Figura 48. Piscina para cães (Adaptado de Monk, 2007). É importante nesta terapia pensarmos como entra e sai o animal da água. Se for numa piscina de reabilitação permite que o animal entre de um modo gradual através de uma rampa, se estiver a usar um tanque ou uma banheira baixa-se lentamente e com cuidado o animal ou coloca-se o animal dentro e vai-se enchendo o tanque ou banheira calmamente com água. O importante é não encorajar o animal a saltar para dentro e/ou para fora e nunca deixá-lo sozinho durante a terapia. 63 5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira sub-aquática (Figura 50) constitui o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o ROM. Mas é preciso ter alguns cuidados, colocá-la num local amplo e ter umas
  • 64. dimensões consideráveis de modo a ser possível monitorizar o tratamento por todos os lados e ainda contribuir para a diminuição da ansiedade do animal. Deve ser inspeccionada regularmente, avaliar a funcionalidade do termóstato (que mantém automaticamente a temperatura da água) e efectuar a limpeza necessária. A passadeira sub-aquática permite ainda, andar a velocidades, inclinações e níveis de água diferentes, mediante a condição do animal e a sua progressão (Bockstahler et al., 2004). Exercícios como manter-se em estação são benéficos em situações de patologia neurológica como pós cirúrgico de hérnias discais, mielopatia degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica. Este exercício permite-lhes ganhar alguma estabilidade, coordenação e força muscular. Inicialmente pode-se apoiar o animal com as mãos ou com alguma faixa para o ajudar a equilibrar-se e ir soltando as mãos, porém assim que se vir algum sinal de fraqueza voltar a apoiá-lo. É recomendável a utilização de colete salva-vidas (Figura 51), facilitando a manipulação e é um suporte extra para o animal. Uma vez já capaz de permanecer em estação pode-se avançar para exercícios como o de “bicicleta” com o objectivo de melhoramento da locomoção, da propriocepção e melhoramento da amplitude do movimento. Pode-se ainda tentar provocar desequilíbrios no animal através da colocação de pressão sobre o animal ou provocando alguma turbulência na água, permitindo alguma conquista da coordenação, propriocepção e fortalecimento muscular. Outro exercício também ele importante é o caminhar dentro de água, mas é preciso dar algum tempo ao animal para se habituar, o ideal é que a primeira sessão seja apenas de brincadeira, dando muitos elogios e prémios. 64 Figura 50. Passadeira sub-aquática (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Figura 51. Colete salva-vidas para cães (Adaptado de Monk, 2007).
  • 65. Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a Terminologia electroterapêutica da APTA (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). 65 5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS No caso de não haver a possibilidade de uso de uma passadeira, os exercícios descritos anteriormente, o manter-se em estação na água, a colocação de obstáculos (como o exercício de bicicleta, sustentação de pesos) e o simples caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa. Podemos acrescentar o exercício da natação como uma mais valia para o animal. A natação é um excelente exercício para o fortalecimento dos músculos e aumentar o ROM das articulações, uma vez que nadar requer uma maior flexão do joelho e um movimento maior dos membros. Para se poder executar este exercício é preciso haver condições favoráveis, a temperatura ser a mais adequada, e é importante secar bem o animal após este sair da água. 5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA De acordo com Bockstahler et al. (2004) a estimulação eléctrica corresponde a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor aguda e crónica ou atrofia muscular. Existe uma diversidade de tipos de estimulação (Quadro 5) possíveis através da aplicação de uma corrente eléctrica, cuja resposta vai depender de parâmetros de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso (Figura 52). NMES (Estimulação eléctrica neuromuscular) Estimulação eléctrica de um músculo ou tecido através de um nervo ileso. TENS (Estimulação eléctrica nervosa transcutânea) Uma forma de NMES, usada para o tratamento da dor. EMS (Estimulação eléctrica muscular) Estimulação directa sobre as fibras musculares de um músculo sem nervo.