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CONTEMPORANEIDADE 
NAS RELAÇÕES FAMILIARES 
Quando nasce-mos, 
recebemos, através 
de nossos pais, um lugar 
dentro de nossa família, com fun-ções 
e papéis a serem desempenha-dos, 
o que nos confere a sensação, 
o sentimento de pertencimento. A 
família é responsável por transmi-tir 
valores e regras, para conviver-mos 
e transitarmos no mundo. 
É muito bom o sentimento 
de pertencer, mas é fundamental 
aprender a se separar também, ou 
seja, nos “desmisturarmos” um 
pouco dos nossos familiares e da-quilo 
que recebemos deles para 
treinarmos novas possibilidades de 
viver. A partir daí poderemos man-ter 
os valores e regras que conside-ramos 
pertinentes e, assim, 
poderemos criar novos valores. 
É na família que começa-mos 
nosso processo de diferencia-ção 
e individuação e, 
posteriormente, faremos o mesmo 
nas demais relações que estabele-cemos, 
como: social, cultural, 
espiritual etc. Vale ressaltar que o 
processo de diferenciação e indivi-duação 
pode, ou não, ocorrer e será 
um processo único para cada indi-víduo. 
IMPACTOS DA 
Para que esse processo 
ocorra, é preciso que eu saiba 
quem sou, o que quero da vida, 
qual o sentido da vida pra mim. 
Precisamos aprender mais sobre 
nós mesmos, sobre o “ser gente”, 
sobre nossa essência mais que 
sobre a aparência. 
No mundo contemporâneo 
percebemos uma dificuldade de as 
pessoas se conectarem com sua 
essência, com seu mundo interno, 
o que lhes dá a sensação de ficarem 
na superfície, empobrecidas emo-cionalmente 
e vazias. O preço para 
pertencermos ao mundo contem-porâneo 
tem sido muito alto, uma 
vez que exige a nossa despersona-lização 
e a nossa desumanização. 
Como resultado, não con-seguimos 
esperar por nada, vive-mos 
atrasados, corremos o tempo 
todo. 
O uso de computadores, 
smartphones e internet tem contri-buído 
muito para pensarmos mais 
e sentirmos menos; uma tecnologia 
desenvolvida para aproximar 
pessoas que, se não utilizada de 
forma saudável, acaba por afastá-las. 
Tudo isso têm contribuído 
muito para uma vida desregrada e 
estressante. 
Fernanda Seabra (*) 
A ação intensa da mídia, 
da globalização e da economia ca-pitalista, 
tem ditado regras, normas 
e valores a serem seguidos. Somos 
bombardeados e seduzidos, cons-tantemente, 
pela idéia de que se 
não seguirmos, por exemplo, a 
moda, não seremos ninguém. 
A propaganda destinada ao 
público infantil representa uma boa 
fatia no mercado oportunista, pois 
as crianças passam a interferir nas 
escolhas daquilo que deveria, ou 
não, ser consumido por suas famí-lias. 
A televisão tem, cada vez 
mais, roubado a infância de nossas 
crianças, interferindo diretamente 
nos valores das famílias. Ela incen-tiva 
a erotização precoce, o con-sumo 
de alimentos industrializados 
e calóricos, estimula o consu-mismo, 
questiona a hierarquia 
familiar, expõe nossas crianças a 
situações degradantes. Ficamos em 
uma posição delicada, como pais e 
educadores, com receio de sermos 
claros e firmes com as crianças, 
temendo não sermos mais amados 
por elas. 
Q
É aí que entramos em um 
circulo vicioso, responsável por 
desfigurar o valor das relações em 
família. Por isso, é necessário 
repensarmos nossos valores, como 
queremos viver e estabelecer 
nossos vínculos, de modo a reduzir 
os impactos causados por essas 
interferências externas. 
Ficamos iludidos, bus-cando 
a perfeição, uma comple-tude 
que, diga-se de passagem, não 
existe. Importante exemplo é o da 
exigência do corpo perfeito, em 
que, se a mulher não for bonita e 
magra, não será feliz, jamais se 
sentindo pertencente a “este 
mundo”. No mundo moderno, não 
temos espaço para viver a tristeza, 
perdemos a oportunidade de apren-der 
através de nossas dores. É a era 
da felicidade obrigatória. 
De que maneira podere-mos 
criar e desenvolver, enquanto 
pais e mães, o pensamento critico 
e reflexivo em nossos filhos, em 
relação ao mundo moderno, se não 
temos tempo para isso e se não 
exercitamos tal atitude, primeira-mente, 
em nós? Como incutir 
valores de conquista e trabalho se 
a nossa preocupação é adquirir 
“coisas”? 
Tal comportamento vai ao 
encontro da ideia de “quanto mais 
se tem, mais se gasta”. Tentamos 
satisfazer os desejos dos filhos, na 
tentativa de amenizar nosso des-conforto 
e culpa pela nossa ausên-cia. 
Vamos ficando confusos com 
influências culturais e sociais e, 
consequentemente, passamos a 
eles essas mesmas informações, o 
que os têm levado a uma insatisfa-ção 
constante, como se tivéssemos 
que buscar, incessantemente, por 
coisas que, muitas vezes, nem 
fazem sentido para nós. 
Não temos tido tempo para 
nos olharmos nos olhos, participar 
da refeição em família, interagir, 
falar de nossas histórias, jogar con-versa 
fora. Comemos e engolimos, 
“goela a baixo”, padrões que apa-rentemente 
parecem ser bons. 
Estamos com pouco contato com a 
realidade, com as nossas deficiên-cias, 
fraquezas e potencialidades. 
Estamos vivendo do lado de fora, 
assistindo o filme da nossa vida, 
sem exercermos o papel principal. 
Somente seremos autores 
de nossa história a partir do mo-mento 
em que começarmos a nos 
descontaminar das modas, quando 
sairmos do padrão “maria vai com 
as outras”, quando pudermos expor 
nossos valores sem medo de ser-mos 
inadequados e antiquados. É 
preciso pensar com a própria 
cabeça e sentir com o próprio co-ração. 
Aí sim, seremos pessoas me-lhores, 
tolerantes, individuadas, 
humanizadas e reais. 
(*) Psicoterapeuta Familiar Sistêmica 
spacofamiliaehumanização@gmail.com 
espacofamiliaehumanização.blogspot.com
HÁBITO DE DIÁLOGO 
Uma das grandes 
maravilhas de ser hu-mano 
é o seu poder de 
dialogar, trocar ideias e experiên-cias, 
compartilhar emoções, nego-ciar, 
discutir e ...amar. 
Somos mais inteligentes 
do que falamos. Pois a fala é so-mente 
um dos meios de comunica-ção 
entre dois seres pensantes. Os 
surdos e mudos têm a linguagem 
dos sinais, regida pela LIBRAS, 
linguagem brasileira de sinais. Há 
especialistas em leituras labiais e 
em linguagens extraverbais. 
Um nenê já gesticula, 
solta sons, acena, bate palmas, 
mexe a cabeça, sorri, fica sério, 
chora, resmunga antes mesmo de 
falar. É um fato universal, não im-porta 
a cultura. Para mim, o pensa-mento 
precede as palavras. 
Em geral, o bebê já con-versa 
com sua mãe com sons, vo-gais 
e poucas consoantes, sem 
palavras formadas. Com 12 meses, 
já usa as primeiras quatro palavras. 
Com 21 meses, seu vocabulário já 
conta com 20 palavras; e eles en-tendem 
muito mais. 
Se uma criança nascesse e 
não tivesse nenhum contato com 
humanos, como o herói de aventu-ras 
Tarzan, o homem macaco 
criado por Burroughs, ou Mowgli, 
idealizado por RudyardKipling, ela 
COMO CRIAR O 
COM O FILHOS? 
deixaria de desenvolver a área ce-rebral 
da fala e seus respectivos 
correlatos cerebrais, alguns dos 
quais impossíveis de serem 
recuperados totalmente, posterior-mente. 
É o que acontece com os 
sotaques das pessoas que apren-dem 
outras línguas após a puber-dade. 
Para falar, um nenê tem 
que pensar. Quanto mais cedo pen-sar, 
mais vai querer falar, e quanto 
mais falar, mais vai ter que pensar. 
É por isso que um dos meios de 
aclarar, organizar e amadurecer as 
ideias e desenvolver os pensamen-tos 
é simplesmente falar o que es-tiver 
pensando. Não se fala uma 
ideia sem sentido, mas pensar sem 
sentido é muito comum. 
Um dos grandes motivos 
do esfriamento dos relacionamen-tos 
entre pais e filhos é a falta de 
comunicação verbal entre eles, 
mesmo que estejam emitindo men-sagens 
extraverbais o tempo todo. 
Quando um pai chega em 
casa, irritado, cansado, preferindo 
descansar em frente da televisão, 
mesmo calado, ele está passando a 
mensagem de que não quer nin-guém 
por perto. 
Quando uma mãe chega 
falando em casa, reclamando da 
bagunça, direto a preparar algo 
para todos comerem, cobrando de 
Içami Tiba (*) 
tudo e de todos, ela já passou a 
mensagem da sua posição e nin-guém 
gosta de ficar por perto. 
Assim, cada vez mais 
todos acabam ficando mais distan-tes 
uns dos outros, mesmo que 
convivam numa mesma casa. O 
que deveria ser um happy hour vira 
uma tragic hour. 
Algumas dicas emergen-ciais 
para que o companheirismo 
volte ao lar: 
• Todos, ao chegarem em suas 
casas, têm meia hora para fazer o 
que quiserem, desde que não inco-modem 
outros presentes; 
• É da responsabilidade de quem 
ficou em casa deixá-la em ordem: 
exigências crescem de acordo com 
a idade. Não é tarefa de mãe arru-mar 
bagunças de ninguém; 
• O jantar deveria ser o happy 
hour: Não está com fome? Peça 
que todos se sentem junto, mesmo 
assim, pois o que importa é a com-panhia, 
a conversa, o alimento da 
alma; 
• Quem não jantar na hora, vai 
ficar sem comer até a manhã do dia 
seguinte. Ninguém morre de fome 
em casa que tem comida, mas o 
comer a qualquer hora estraga 
qualquer qualidade de vida; 
U
• Jantar não é hora de cobranças, 
mas sim de contar "causos" inte-ressantes, 
piadas, aventuras, dar 
feedbacks do que está fazendo, 
perguntar como andam os projetos 
de cada um, compartilhar lembran-ças 
e sonhos; 
• Quem não dedica um tempo para 
conversar, jogar papo fora, orien-tar, 
aconselhar, fazer cobranças e 
espera que tudo aconteça, nunca 
terá este tempo. Ninguém fabrica 
tempo, cada um tem o seu. Já não 
há mais tanto tempo para realizar 
todos os desejos; 
• Após o jantar ninguém sai, nem 
assiste TV, nem usa o computador, 
nem dorme. É hora de fazer as 
obrigações. Não pode dormir en-quanto 
não terminar. Nada de 
"amanhã cedo eu faço". Sacrifícios 
destes mais fortaleceram que ma-taram 
filhos. Se forem dormir, os 
pais têm que acordá-los para termi-nar; 
• Pais bonzinhos são "bobinhos", 
pois estão financiando a falta de 
formação e de educação (formação 
do futuro cidadão ético). Pais pou-padores, 
que não impõem o cum-primento 
das obrigações dos filhos 
nem cobram bons resultados, 
podem formar "príncipes espera-dores" 
de heranças e de prêmios, 
sem comprar bilhetes, no lugar de 
terem filhos empreendedores. 
(*) Psiquiatra, educador, autor dos Best Sellers 
“Quem ama educa” e “Educação Família – 
Presente e Futuro
“Confesso que a 
capa de uma revista de 
circulação nacional me 
espantou”. 
Junto à foto de uma garo-tinha, 
relaxando numa banheira, 
encontro os dizeres: “Banhos de 
espuma, massagens e cromoterapia 
para crianças podem custar até R$ 
440,00 nos spas da capital”. Inda-gando- 
me se havia entendido bem, 
abri a matéria para ler. 
Segundo a reportagem 
“Um dia de princesa”, um pacote 
para meninas a partir de 5 anos, dá 
direito a massagens, escalda-pés, 
esfoliação corporal, máscara facial 
de relaxamento e banho com péta-las 
de rosas. E me pergunto: desde 
quando crianças de 5 anos preci-sam 
disso? 
Já outro, oferece o “Day 
infantil” para crianças a partir de 2 
anos, com duração de quatro horas, 
incluindo massagem relaxante, 
banho de piscina, manicure, pedi-cure, 
penteado e maquiagem com 
direito a cílios postiços. COMO É 
QUE É??? 
A falta de bom senso é 
preocupante. Pais e mães, pelo 
amooor de Deus, deixem seus fi-lhos 
crescerem como crianças, sem 
exagero, sem mimos absurdos e 
caros, com os pés no chão. 
Sobrecarregada de ativida-des 
extracurriculares, como balé, 
judô, inglês, kumon, teclado, etc., 
etc., a menina deveria aproveitar o 
tempo que lhe sobra para ser 
criança. Brincar de bola, andar des-calça, 
rolar com o cachorro no 
tapete e até tomar banho de chuva 
ou de bacia, como eu costumava 
fazer na minha infância. Nada 
disso me estragava, e garanto que 
“desestressa” mais (se é esse o pro-blema) 
que quatro horas de massa-gens 
com óleos essenciais, banhos 
de espuma e de rosas. Não seria 
melhor deixar esses mimos para 
adultos, caso sintam necessidade? 
Seria ótimo se os pais pu-dessem 
assistir com seus filhos 
alguns filmes da Disney com di-reito 
a pipoca e guaraná, assim 
como peças infantis que estives-sem 
em cartaz. A meninada adora 
e a criança que habita no adulto, 
também. Árvores falantes, bichos 
divertidos, bruxas más ... Criança 
ama a fantasia, então, por que levá-la, 
antes do tempo, para um 
mundo real de narcisismo e exage-ros? 
Criada entre sete meninos, 
nunca senti falta de massagens 
com óleos essenciais. Andava des-calça, 
comia goiaba no pé, com 
bicho e tudo, convivia bem com 
meus machucados e esfolamentos. 
Cabelos embaraçados? Nada que 
um creme rinse, hoje chamado de 
“condicionador”, não resolvesse. 
Poças d’água me divertiam; quanto 
mais fundas e barrentas, mais 
atraentes se tornavam. Delícia tam-bém 
era correr atrás de redemoi-nhos 
criados pelos ventos na terra 
seca, para conferir se dentro deles 
morava o capeta. Crianças felizes 
que éramos, adorávamos ir em 
busca de emoções. 
Enfim, outros tempos, 
outra realidade.... 
Na revista, uma leitora se 
manifestou: “Hoje é um banho de 
espuma, massagem, cromoterapia 
clínica de estética. Amanhã, a ca-deira 
do analista e pílulas”. 
Concordo, pois, ao cresce-rem, 
descobrirão que o mundo real 
não é esse “mar de rosas” ou de 
“Jacuzzis de rosas”, em spas mi-rabolantes. 
O mundo real passa 
pelas dificuldades, para poder che-gar 
adiante com equilíbrio, força e 
serenidade. 
Se perguntarmos a 
qualquer pai ou mãe sobre o que 
esperam para o futuro dos seus 
filhos, provavelmente ouviremos 
“que eles sejam felizes”. Valor 
justo e louvável, mas que leva al-guns 
pais ao equivocado caminho 
de tentar prover os filhos da felici-dade 
permanente, não medindo es-forços 
para que suas vidas sejam 
um eterno conto de fadas. 
Se quisermos que nossos 
filhos CRESÇAM e sejam felizes, 
precisamos prepará-los para os 
grandes desafios que a vida, cedo 
ou tarde, lhes irá impor. Um dia, 
todos lidarão com as decepções, 
com as perdas, com as injustiças, 
com as frustrações por sonhos não 
concretizados, enfim, com tudo o 
que faz a vida ser o que é. 
Famílias chegam a se en-dividar 
para oferecer aos filhos fes-tas 
de aniversário estratosféricas, 
viagens incríveis ou os últimos re-cursos 
tecnológicos, e tudo isso 
sem nada lhes exigir em troca, nem 
mesmo um muito obrigado. Será 
que educam ou viciam? 
(*) Presidente e colunista dos jornais 
“Pampulha” e ‘O Tempo” 
REDOMAS SE 
QUEBRAM 
Laura Medioli (*) 
C
Os últimos 40 
anos parecem ter sido os 
que mais mudanças trou-xeram 
para a família. 
Tanto que os pais se perguntam: 
qual é, na atualidade, o mais im-portante 
objetivo da educação? O 
que é ser bom pai hoje? E o que é 
um filho legal? 
Não faz muito tempo, ser 
“um bom menino” significava, 
como dizia o palhaço Carequinha, 
“não fazer pipi na cama nem fazer 
malcriação”, caprichar no trabalho 
de casa, arrumar o quarto, respeitar 
os mais velhos; tarefas razoavel-mente 
fáceis de aprender. Afinal, 
valores como honestidade e inte-gridade 
não estavam em discussão. 
Hoje, significa não apenas saber o 
que é certo ou errado, mas também 
conseguir se opor a atitudes que 
contrariam os princípios da socie-dade 
- o que não é fácil para adul-tos 
nem para crianças. 
Opor-se ao grupo e fazer 
escolhas adequadas demandam 
forte grau de segurança. Signifi-cam 
que nossos filhos têm que 
estar certos de que solidariedade, 
justiça e honestidade não estão 
“fora de moda”. Precisam acreditar 
que, mesmo quando parte dos ho-mens 
não respeita esses princípios, 
não há a mínima condição de 
vivermos com segurança sem eles. 
Como convencê-los, no 
entanto, se a TV, as atitudes 
de muitos adultos, alguns 
programas humorísticos e até 
certas músicas, os bombardeiam 
com mensagens antiéticas? 
Criar adultos dignos – ta-refa 
prioritária da família - de-pende 
basicamente de duas coisas: 
da maneira pela qual nós, pais, 
vivemos o dia-a-dia e da confiança 
que temos nos valores que 
guiam nossas ações. É necessário 
não só sermos íntegros, mas 
também não duvidarmos da 
força dos nossos princípios. 
Quando crianças e jovens 
percebem nos seus mais fortes mo-delos 
(nós, seus pais!) segurança 
inabalável na retidão, na coopera-ção, 
na honra – independente do 
que estejam fazendo os vizinhos, 
parentes e amigos – eles muito 
provavelmente também acredita-rão. 
Se, ao contrário, já que há 
tanta corrupção e impunidade, os 
próprios pais começam a lassear 
seus conceitos ou a repetir diaria-mente 
“que o Brasil não tem jeito”, 
em que irão, seus filhos, acreditar? 
O perigo maior para um 
jovem não são as drogas: é não 
crer no futuro e na sociedade. A 
falta de esperança, essa sim, é que 
pode levar à depressão, ao indivi-dualismo, 
ao consumismo exacer-bado, 
ao suicídio, à marginalidade 
e às drogas. Já a convicção num 
caminho produtivo a ser trilhado 
faz com que os jovens progridam, 
estudem e realizem. Para ter essa 
confiança precisam conviver com 
pessoas que, não apenas vivam de 
acordo com esse modelo, mas 
também que não se deixem abalar 
pelas notícias negativas veiculadas 
pela mídia. Existe sim 
gente desonesta, o que não 
significa que muitos outros não 
sejam dignos e corretos. 
Muita gente acha que en-sinar 
integridade é impossível, por-que 
ignoram que isso se faz 
basicamente através de exemplos 
de vida. Se os pais vivem de 
acordo com princípios, estarão en-corajando 
os filhos a seguirem 
seus passos. Quer dizer, não men-tindo, 
respeitando a lei, não que-rendo 
mudar as regras do jogo de 
acordo com as conveniências, e, 
especialmente, não disseminando 
amargura e descrença, simples-mente 
porque nem todos agem de 
maneira honesta. Na maioria dos 
casos, essa forma de viver será su-ficiente 
para que seus filhos acre-ditem 
nos valores... Afinal, não 
podem contestar – vocês vivem de 
acordo com o que defendem! É a 
nossa integridade que serve de fun-damento 
à construção da identi-dade 
cidadã de nossos filhos. 
Tem coisa mais importante? 
(*) Filósofa, Mestre em Educação,Psicóloga, 
autora do livro ”Educar sem culpa” 
A TAREFA 
PRIORITÁRIA DOS PAIS 
Antônio Roberto (*) 
O
Outro dia mesmo, 
alguém comentava a rela-ção 
atual entre pais e fi-lhos. 
Sempre intrigante, 
talvez por se tratar de processo 
complicado e impreciso. Todos 
somos filhos e talvez, pais um dia. 
Mas nenhum de nós escapou dessa 
condição de filho, pelo menos en-quanto 
nascido de alguém. E nas-cemos 
por decisão alheia ou por 
acidente de percurso. 
Mesmo que não somos cria-dos 
pelos que nos geraram, sere-mos 
cuidados por alguém que os 
substituirá ou alguma instituição 
que nos acolha e cuide da gente, 
até que sejamos independentes. 
Isto leva tempo. Algumas pessoas 
nunca alcançam a independência. 
Acredito que sejam muito infelizes 
por isso, embora alguns achem que 
possa ser uma situação vantajosa. 
Não creio. 
Sabemos quem e como 
foram nossos cuidadores e pais, e 
quase sempre os responsabiliza-mos 
ou até culpamos pelo que 
somos. Mesmo que eles não te-nham 
culpa, jamais poderão provar 
serem inocentes. Então, ser pai e 
mãe já é naturalmente, ou cultural-mente, 
ser culpado. Não devemos 
acreditar que essa dívida possa ser 
paga. Se acreditarmos, tentaremos 
compensar nossos filhos e isso 
pode ser ainda pior do que carregar 
a dívida.N 
unca tente pagá-la. Como 
pais, fizemos o melhor que podía-mos 
na ocasião e, claro, ninguém 
erra porque quer, porque decide 
fazer o pior. Pelo menos, alguém 
“normal”, pois fazê-lo proposital-mente 
seria uma perversão. 
Erramos porque não sabe-mos 
como fazer o melhor em tal ou 
tal situação. E errar não é tão da-noso. 
Provavelmente, nunca errar 
ou acreditar nessa possibilidade, 
pode ser também pior. Se acreditar 
dono da verdade, como se ela fosse 
única, é tentar anular outras possi-bilidades. 
Nunca saberemos quem será o 
filho que tivemos e nenhuma fór-mula 
ou receita poderá nos ajudar. 
É como uma aposta que fazemos, 
investindo no futuro que não é 
nosso e sim de um outro que não 
sabemos o que desejará. 
Tantos pais, por não sabe-rem 
ser pais, tratam os filhos como 
amigos. E disto podemos estar cer-tos: 
filhos não são os amigos. São 
seres humanos que precisam ser 
educados, por nascerem sem noção 
de nada. E a educação ensina o 
certo, o errado, e é preciso insistir 
muito para as crianças aceitarem o 
que pode ou não pode. 
Elas querem experimentar 
o mundo, o que é gostoso, o praze-roso, 
independentemente das con-sequências 
, pois ainda não 
absorveram o princípio da reali-dade. 
Funcionam no registro do 
princípio do prazer. Como fazê-los, 
então, abandonar o prazer pelo 
dever? Com o tempo, a insistência, 
a autoridade e principalmente com 
amor, pois, se não for por amor, 
não cola. Não será uma troca inte-ressante. 
Não valerá a pena. 
E somente com amor con-seguiríamos 
deles algum pro-gresso, 
pois para impor regras de 
comportamento e socialização é 
preciso firmeza, pulso e é aí que 
muitos pais fracassam. Têm de 
fazer cortes nas pessoas que amam. 
Se pudessem, dariam aos filhos 
apenas satisfação, fazendo-os acre-ditar 
num mundo onde tudo é feito 
par agradá-los. 
A criança que se acredita o 
centro do universo e não se acos-tuma 
com frustrações, cresce como 
uma majestade e permanece sem 
noção. Depois de grandes, não vão 
querer saber de outra coisa... 
Assim, ter filhos é um de-safio 
enorme e de grande respon-sabilidade. 
Se soubéssemos de 
antemão todos os riscos, talvez de-cidiríamos 
não tê-los. Mas, é que 
às vezes, para continuar o que quer 
que seja, é preciso ignorar a ver-dade 
toda. Vale para a perpetuação 
da espécie. 
E não somente isso. Depois 
de tudo o que penamos para educá-los, 
ver que eles se tornaram inde-pendentes, 
capazes e diferentes de 
tudo que planejamos ou quisemos 
para eles, é muito bom nos certifi-carmos 
de que se tornaram adultos 
com sua própria história para es-crever. 
(*) Psicanalista, colunista do jornal 
“Estado de Minas” 
MISTÉRIOS 
DA CRIAÇÃO 
Regina Teixeira Costa (*) 
O
“MAS TODO MUNDO FAZ!”, 
“MAS TODO MUNDO TEM!” 
Esses são argu-mentos 
poderosos que 
os filhos utilizam, há 
algumas gerações, para testar os 
limites que os pais colocam. 
Muitos se sentem pressionados 
e cedem, temendo que os filhos 
sejam excluídos do grupo de 
amigos. Lembram-se de se 
sentirem humilhados e inferio-rizados 
quando eram despresti-giados 
por seus próprios pares 
quando não tinham a mochila 
ou a calça da marca valorizada 
na época, com raiva dos pais 
que lhes negavam o acesso aos 
bens de consumo que represen-tavam 
o passaporte de aceitação 
no grupo. E, agora, sofrem ao 
verem os filhos com medo de 
serem rejeitados e excluídos. 
Dependendo da época, 
mudam os conteúdos, mas o 
processo é idêntico: roupas, 
tênis, mochilas e estojos de 
marca continuam sendo presti-giados 
na nossa sociedade de 
consumo, mas outros bens 
passaram a ser incluídos na 
lista: smartphones, iPads, iPods, 
entre outros. 
Após uma palestra em 
uma escola de classe média alta, 
fui cercada por um grupo de 
mães preocupadas com suas fi-lhas 
de dez anos, que se sentiam 
excluídas do grupo por não es-tarem 
tão conectadas quanto as 
outras, que se comunicavam por 
meio de aparelhos de última ge-ração, 
para combinar progra-mas, 
disseminar fofocas ou 
trocar ideias: o computador e os 
telefones convencionais já eram 
considerados obsoletos, como 
meios de comunicação. 
A pressão para fazer 
parte de uma rede de relaciona-mentos 
também é grande, bur-lando 
a lei da idade mínima: 
“Todos os meus amigos fazem 
parte, só eu vou ficar de fora? 
Maria Tereza Maldonado (*) 
Vou ser discriminado!” argu-menta 
o menino de nove anos, 
ansioso por divulgar as fotos da 
viagem de férias, sem a menor 
noção dos riscos, envolvidos 
pela superexposição de infor-mações 
sobre a vida pessoal. 
Em seu livro Vida para 
consumo, o sociólogo Zygmunt 
Bauman, profundo estudioso da 
sociedade contemporânea, diz 
que vivemos em uma sociedade 
que estimula a nudez física e 
psíquica. Por conta disso, as 
pessoas passam a expor deta-lhes 
de sua vida privada em pú-blico. 
“Se eu posso dar o que 
eles pedem, por que não?”, 
questionavam algumas mães 
temerosas de frustrar desejos 
imperativos por objetos consi-derados 
indispensáveis. “Mãe, 
quando você era criança essas 
coisas nem existiam, mas agora 
não dá para viver sem isso!”. 
E
E o que fazer com a 
preocupação de ver os filhos ex-cluídos 
do convívio, por não 
trocarem mensagens o dia todo 
pelos smartphones? O bullying 
manifestado pela exclusão dos 
que não possuem os objetos 
considerados essenciais é uma 
realidade em muitas escolas, re-velando 
as práticas discrimina-tórias 
presentes na sociedade 
que despreza quem “tem 
menos”, mesmo que “seja 
mais” (inteligente, interessante, 
solidário, entre outras qualida-des 
pessoais). 
“Você não é todo 
mundo!”; “eu não sou todos os 
pais que deixam os filhos terem 
ou fazerem o que você está que-rendo!” 
– estes são os argumen-tos 
tradicionais que os pais 
apresentam para reforçar o 
“não”. Mas o desafio precisa 
prosseguir, para incluir uma 
reflexão crítica sobre o consu-mismo 
e o fortalecimento de 
recursos, para que a criança 
consiga se incluir nos grupos, 
mesmo sem os objetos de de-sejo 
cultuados. A simples posse 
desses objetos não garante a 
inclusão no grupo, até porque 
rapidamente estes são substituí-dos 
por novos modelos, tor-nando 
o anterior (e o seu dono) 
descartável. 
Convidei esse grupo de 
mães preocupadas, a imaginar 
uma situação infelizmente cada 
vez mais comum já no início da 
adolescência: “Pai, se não tiver 
cerveja na minha festa de ani-versário, 
ninguém vai apare-cer!” 
“Todos os meus amigos 
dirigem o carro dos pais com 
quinze anos, por que vocês não 
deixam que eu aprenda logo de 
uma vez?” E, então, nessas si-tuações 
desafiantes, os pais vão 
ceder aos desejos dos 
filhos, para que eles sejam su-postamente 
aceitos pelo 
grupo, mesmo que isso envolva 
riscos e ações impróprias para a 
idade? 
É bom saber que, no cé-rebro 
adolescente, a percepção 
de risco e a capacidade de auto-proteção 
ainda estão em cons-trução. 
É igualmente importante 
lembrar que os pais são amo-rosa 
e legalmente responsáveis 
pelos seus filhos. 
Mais importante do que 
ceder aos desejos do filho é 
convidá-lo a desenvolver a inte-ligência 
dos relacionamentos. 
Como pode convencer os ami-gos 
de que vale a pena irem à 
sua festa de aniversário, mesmo 
sem bebidas alcoólicas? Como 
continuar sendo aceito pelos 
amigos, quando recusa as dro-gas 
que passam a circular livre-mente 
entre eles? Como 
desenvolver recursos pessoais 
para construir uma sólida au-toestima 
e se apresentar como 
uma pessoa de valor, mesmo 
sem usar roupas e acessórios de 
marcas prestigiadas? 
Aprender a transitar 
entre a necessidade de pertencer 
a um grupo e o trabalho de 
construir uma identidade 
pessoal, fundamentada na ética 
do ser, é uma das grandes con-quistas 
do desenvolvimento de 
todos nós. 
(*) Mestre em psicologia, escritora 
e membro da Associação Brasileira de Terapia 
Familiar
A ARTE DE EDUCAR 
O escritor, pales-trante, 
especialista em re-l 
a c i o n a m e n t o 
comportamental e inter-pessoal, 
Antônio Roberto escreveu 
o artigo abaixo, em resposta a uma 
mãe de nome Ana Maria, de Con-tagem, 
MG, que lhe disse: “Estou 
confusa e bastante temerosa na 
educação dos meus filhos. Atual-mente, 
muita coisa vem nos assus-tando 
e tenho medo de orientá-los 
de forma errada”. 
Educar nunca foi uma ta-refa 
fácil. Hoje, porém, a relação 
educadora entre pais e filhos se re-veste 
de maior complexidade e 
maiores desafios. Nós, pais, não 
fomos preparados para o mundo 
atual, globalizado, em profundas 
mudanças. Antigos valores, arrai-gados 
em nossas cabeças, como 
obediência, proteção e controle, 
estão dando lugar a novos valores, 
como autonomia, individualidade, 
capacidade de escolher e mobili-dade. 
Recebemos diariamente 
inúmeras cartas de pais falando da 
dificuldade de educar os filhos. 
Queixam-se da timidez, da rebel-dia, 
da teimosia, da agressividade 
das crianças e dos adolescentes. 
Todos nós sabemos que os filhos 
são resultados dos pais. Talvez daí 
a preocupação que temos na cria-ção 
dos filhos. Eles são aquilo que 
fizemos deles. Um exemplo vale 
mais que mil palavras. Os filhos 
aprendem com o que somos e não 
com o que falamos. É um grande 
desafio darmos exemplo dos valo-res 
que pregamos, estabelecer limi-tes 
de convivência com as crianças 
e jovens, criar pessoas melhores 
que nós, em um mundo de profun-das 
convulsões e mudanças. 
A educação dos filhos, 
porém, não pode ser objeto de 
tanta ansiedade. Para começar, de-vemos 
considerar nossa imperfei-ção 
humana e, por conseqüência, 
não existem pais perfeitos nem 
filhos perfeitos. E a grande tarefa 
paterna e materna é o próprio cres-cimento. 
Algo que atrapalha consi-deravelmente 
nesse assunto é a 
idéia de que os pais, por serem 
adultos, nada têm a aprender. Du-rante 
um encontro com jovens, 
pesquisei o que mais os incomo-dava 
na relação com os pais. A 
grande maioria respondeu que era 
o fato de os pais saberem tudo. A 
única alternativa hoje, em todos os 
campos, e especificamente na edu-cação, 
é os pais se deslocarem da 
fixa posição de ensinar e viajar um 
pouco no espaço do aprender. 
São inúmeras as publica-ções 
hoje disponíveis sobre o as-sunto. 
A maioria dos pais nunca leu 
um livro sobre educação e, às 
vezes, nem acha que isso é impor-tante. 
O resultado é que a única ba-gagem 
de que dispõem é a 
educação que tiveram, numa outra 
época e com pais que também não 
aprenderam a educar. 
Um norte-americano, 
Alvim Tofler, escreveu um livro, 
há 35 anos, chamado Choque do 
futuro. Ele dizia: “Nos próximos 
anos, haverá uma mudança tão 
intensa na sociedade, tão profunda, 
tão rápida e tão global, que as 
Maria Tereza Maldonado (*) 
pessoas ficarão chocadas”. Não há 
um lugar onde esse choque ocorreu 
com tanta intensidade quanto na 
educação. Há hoje uma verdadeira 
revolução na relação com as crian-ças 
e jovens. A educação tradicio-nal 
se baseava em duas finalidades 
principais: ensinar o filho a subsis-tir 
e, para isso, ensiná-lo a compe-tir. 
A nova educação parte de 
outro pressuposto. Se o objetivo 
fundamental da vida é a felicidade, 
não basta o sucesso social e mate-rial. 
Temos de educar o filho tam-bém 
para o sucesso pessoal. 
Educá-lo enquanto pessoa signi-fica 
educá-lo para a felicidade. E, 
por isso mesmo, a ênfase no valor 
da autonomia. Ensinar o filho a es-colher, 
em vez de escolher no lugar 
dele. Daí a importância de valori-zar 
o emocional. Não adianta nos-sos 
filhos obterem muitas 
informações (e isso o mundo lhes 
oferece com muita competência 
pela Internet e outros meios digi-tais) 
se não tiverem inteligência 
emocional. 
A felicidade e o amor à ca-pacidade 
de se relacionar bem 
fazem parte do campo psicológico. 
Educar o filho psicologicamente 
para a vida é um dos maiores desa-fios 
da sociedade hoje. Para isso, 
como pais, também deveremos 
crescer emocionalmente, ou seja, 
aumentar nossa capacidade de nos 
relacionarmos com os filhos com 
amor, bondade e verdade. Nossos 
filhos serão o que nós formos no 
processo de nosso desenvolvi-mento. 
O
É quase unanimi-dade 
entre nós, brasilei-ros: 
o país não padece de 
carência de leis. Leis, nós 
as temos em excesso. O que não 
temos é Estado que as faça cum-prir. 
Nem mesmo o direito mais 
comezinho numa democracia, o di-reito 
de ir e de vir, nós o temos ga-rantido: 
quaisquer 3 ou 4 gatos 
pingados, por razões que absoluta-mente 
não nos dizem respeito, 
fecham uma via pública, rua ou es-trada, 
interditam prédios, privados 
ou não e todos nós, bovinamente, 
temos que nos submeter. É o pa-drão 
Brasil. 
Pois bem, para alegria 
daqueles que não prescindem da 
tutela enxerida do Estado, depois 
de acaloradas discussões, de absur-das 
expectativas, e também do 
inconformismo pela intervenção 
de um Estado burocraticamente 
usurpador, eis que, dia 26 de junho 
passado, materializou-se na Lei 
13.010 o Projeto de Lei 
7672/2010, conhecido como Lei 
da Palmada. 
Limitando-se basicamente 
a alterações na Lei 8069, de 
13.07.90, documento que criou o 
Estatuto da Criança e do Adoles-cente, 
de “palmada” mesmo não 
tem nem menção. Mas, para não 
fugir da demagogia barata, recebeu 
o nome de “Lei menino 
Bernardo”, atrelando-se, desca-rada 
e indevidamente a morte do 
garoto à aplicação desmesurada de 
um costume discutível, mas que 
ainda persiste, algures, como “re-curso 
educacional” em nosso 
país. 
(Por oportuno, o menino 
Bernardo, aqui homenageado, é 
aquele garoto gaúcho de 11 anos 
de idade, que poderia ter sido 
salvo, quando recorreu ao Poder 
Público de sua cidade, contra as 
iniquidades que estavam sendo 
perpetradas contra a sua pessoa, no 
recinto daquilo que era o seu lar de 
criança órfã de mãe. Acabou bar-baramente 
assassinado, num con-luio 
de pai, madrasta e amigos: 
essa a conclusão da polícia). 
Em nenhuma ocasião sus-peitou- 
se, na mídia ou fora dela, de 
que o garoto perdeu a vida porque 
tenha sido vítima de tratamento 
equivocado, eivado de normas 
educativas desvirtuadas e antisso-ciais; 
morreu porque o mataram, a 
sangue frio. E se queriam mesmo 
homenageá-lo, que se desse o 
nome de “menino Bernardo” ao 
Código Penal Brasileiro. É ali, no 
Art. 121, que está catalogada a 
ação monstruosa que lhe tirou a 
vida: “Matar alguém”. 
E a que se prende essa 
nova Lei? Basicamente “assegu-rar 
às crianças e adolescentes o 
direito de serem educados e cui-dados 
sem o uso de castigo físico 
ou de tratamento cruel ou degra-dante, 
como formas de correção, 
disciplina, educação ou qualquer 
outro pretexto, pelos pais, pelos 
integrantes da família ampliada, 
pelos responsáveis, pelos agentes 
públicos executores de medidas 
socioeducativas ou por qualquer 
pessoa encarregada de cuidar 
deles, tratá-los, educá-los ou pro-tegê- 
los.”O 
legislador teve o cui-dado 
de definir que castigo físico é 
aquela “ação de natureza discipli-nar 
ou punitiva, aplicada com o 
uso de força física sobre o edu-cando, 
que resulte em sofrimento 
físico ou lesão”: é aí que o Estado 
vai encaixar a palmada. Então, te-remos 
os questionamentos: palma-das, 
sendo variadas, não têm o 
mesmo poder deletério. Tem a 
“palmadona” e tem a “palmadi-nha”. 
Quem irá avaliar o potencial 
de sofrimento da palmada? O de-legado? 
O Promotor? O psicólogo? 
O Conselho Tutelar? Será criada a 
“palmabrás”, para unificar os con-ceitos 
em todo o país? 
Se o nosso Código Penal, 
que já cuida “das lesões corporais 
e da periclitação da vida e da 
saúde”, assegurando penas de de-tenção 
e reclusão aos autores des-ses 
crimes, não consegue ter 
eficácia, imaginemos a força dessa 
nova lei, onde ela, as penas, resu-mem- 
se a por encaminhamento 
dos autores a cursos e programas 
correcionais, tratamento psicoló-gico 
e advertência. 
Eu me pergunto: nos re-motos 
rincões deste imenso Brasil, 
carentes até de professores do pri-meiro 
grau, quem serão os juízes 
dessas ações? 
Tenho por mim que essa é 
uma lei que, perdida em meio ao 
nosso cipoal jurídico/jurássico, não 
vai pegar. Como inúmeras outras 
neste país. 
(*) Associado da EPB / BH 
LEI DA PALMADA, 
LEI MENINO BERNARDO 
Abílio Campanha Botelho (*) 
É
Filhos podem 
nos proporcionar vi-vências 
e experiências 
afetivas de riqueza incalculável. 
Fazem-nos refletir sobre pontos 
de vista dos mais variados, nos 
mostram o quanto conseguimos 
ser tanto frágeis como fortes, 
irritadiços e pacientes, largados 
e neuróticos, permissivos e 
superprotetores. 
Costumamos ter, dessas 
características, algumas mais 
marcantes que outras, o que 
pode tornar nossas relações 
mais tranquilas ou mais confli-tuosas. 
O fato é que, não im-porta 
como sejam, é raro 
encontrarmos pais e mães que, 
apesar de todas as dificuldades 
por que já passaram, por causa 
de seus filhos e decepções com 
a paternidade e maternidade, 
prefeririam nunca tê-los tido. 
Porém, alguns buscam 
na experiência de ter filhos, o 
preenchimento do vazio que a 
vida a dois, muitas vezes, pode 
trazer. Os filhos se tornam o 
centro das atenções, quando o 
saudável seria fazer de toda a 
família a peça principal. 
O relacionamento do casal não 
deve ser negligenciado, pois 
quanto mais equilibrado, mais 
sucesso terá a dinâmica fami-liar. 
O que se vê, muitas 
vezes, são casais que se sentem 
perdidos, quando os filhos cres-cem 
e deixam o núcleo familiar, 
indo morar sozinhos ou com ou-tras 
pessoas. Ao mesmo tempo 
em que é esperado, e até certo 
ponto desejado, (que um dia os 
filhos deixem a casa paterna), 
muitos pais se deprimem 
quando caem na realidade e per-cebem 
que não mais adminis-tram 
a vida das 
“crianças”, como fizeram du-rante 
tanto tempo. E o pior, 
terão de administrar, a partir da-quele 
momento, a vida a dois. 
O que fazer quando 
resta apenas o 
casal, sozinho, dentro de casa, 
em meio a quartos e lugares à 
mesa vazios? Qualquer relação 
sofre inúmeras modificações ao 
longo das décadas, o que nos 
impede de responder que seria 
possível voltar a viver como era 
no início do casamento (o que 
deve ser visto como uma vanta-gem). 
Descobre-se que os fi-lhos 
que vieram para preencher 
o vazio na relação do casal, se 
foram, deixando um vazio ainda 
maior, pois enquanto o casal se 
dedicava apenas ou principal-mente 
a educá-los e amá-los, se 
esqueceu de alimentar a própria 
relação ou optou por negligen-ciar 
as necessidades inerentes 
da vida a dois. 
Os pais costumam ainda 
cobrar dos filhos uma atenção 
maior; afinal, se dedicaram toda 
a vida a eles, filhos, é dever 
e hora de receberem a recom-pensa. 
Os conflitos que se ini-ciaram 
lá atrás, entre o 
casal, que não sabia o que fazer 
sozinho, sem filhos, se agravam 
agora: afinal, um vazio preen-che- 
se apenas por aquele que o 
sente, independentemente de 
quem esteja ao seu lado, seja 
seu cônjuge, filho, pai, mãe, 
qualquer um a quem se ame. 
(*) Jornalista, Mestre e Doutora em Ciência da 
Informação pela Escola de Ciência da Informa-ção 
da Universidade de Minas Gerais, colunista 
do jornal “Estado de Minas 
FILHOS - 
PARA QUE TÊ-LOS 
Patrícia Espírito Santo (*) 
F 
“Os pais costumam cobrar 
dos filhos uma atenção maior”
CASAIS PRECISAM FICAR 
ATENTOS AO QUE FALAM COM 
E PERTO DOS FILHOS 
A n t i g a m e n t e 
as crianças dormiam cedo, 
comiam separado e 
quando se intrometiam na con-versa 
dos adultos ouviam: 
“Isso não é assunto de 
criança”. Os papéis eram definidos 
e os pais não tinham tantas dúvi-das. 
Hoje, época em que todos 
querem ser jovens, e em que 
vemos garotos e garotas, imatu-ros, 
já montando família, a distân-cia 
entre pais e filhos diminuiu 
tanto, que os casais se atrapalham 
ao definir o que podem ou não 
falar com as crianças. E isso, cá 
entre nós, é um assunto muito im-portante. 
Claro que essa defini-ção 
depende da idade dos filhos. 
Crianças pequenas devem ser pou-padas 
de problemas, devem ter 
a certeza de que os pais estão 
ali para protegê-las. 
Por isso, é prudente o 
casal evitar brigas na frente delas 
e, mais que isso, brigas em função 
de algo relacionado a elas, uma de-sobediência, 
por exemplo, o que 
causa enorme ansiedade na 
criança. Mas também não é o caso 
de nunca deixar o filho saber de 
nada. Não deve haver fingimento. 
Se a criança vê que os pais não 
se falam e pergunta à mãe: “Você 
está com raiva do papai?”. 
Ela deve responder natu-ralmente: 
“Sim, estamos brigados, 
mas você não precisa se preocu-par, 
vamos resolver entre nós, 
fique tranquila”. 
Pais podem e devem de-monstrar 
se estão tristes ou alegres. 
No caso de uma perda, um animal 
que morre, uma doença na famí-lia, 
a criança deve ser informada e 
incentivada a expressar sua tris-teza. 
Se acontece uma grande ale-gria, 
um casamento, um novo 
irmão, também deve poder ficar 
alegre, se congratular. É sempre 
bom expressar sentimentos, o 
que não é bom é que a criança par-ticipe 
de fofocas ou se preocupe 
com disputas familiares. Esses não 
são assuntos para as crianças. Com 
elas, outras conversas podem 
ser incentivadas. Sobre a história 
da família, por exemplo. 
Elas precisam saber 
quem são ou foram seus avós e 
bisavós, de que culturas vieram, 
como foi a infância dos pais, como 
era sua vida quando tinham a idade 
deles. Isso dá estrutura, ajuda a va-lorizar 
as origens. Também não é 
ruim conversar sobre a vida finan-ceira 
da família, desde que não seja 
para se queixar . 
Haveria assuntos proibi-dos? 
Sim. Entre eles, criticar um 
dos pais ou avós, reclamar de 
falta de dinheiro, atribuir culpa ao 
pai ou à mãe pela vida que a famí-lia 
leva e dar detalhes sobre a 
vida sexual dos pais. Este último 
tema costuma surgir quando há 
uma separação e o pai ou a 
mãe, empolgados com um 
novo romance, começam 
Leniza Castello Branco (*) 
falar sobre sua vida íntima. Que-rem 
ser amigos dos filhos, mas não 
é o caso. Pai e mãe não são “os 
amigos”, são pai e mãe para sem-pre. 
Se acontecer uma separa-ção, 
os filhos devem ser postos 
a par, mas sem detalhes e nunca 
expressando raiva ou culpando o 
parceiro. Deve ficar claro que foi 
o casal que se separou e que nin-guém 
se separa de filho. 
Na adolescência, 
surgem outras questões. Hoje 
é comum adolescentes terem pais 
que querem ser tão jovens quanto 
eles. Isso é um problema. Mesmo 
que vivam momentos parecidos, 
como novos romances, esse não 
é um assunto, como já foi dito, 
para filhos. Pais que querem viver 
uma segunda adolescência, junto 
com a dos filhos, e se vestem como 
eles, frequentam os mesmos luga-res, 
esquecendo que são pais, 
causam insegurança nos 
jovens, que também não irão que-rer 
crescer. 
Pais maduros, que vive-ram 
a adolescência na época certa, 
por sua vez, podem ajudar os 
filhos a crescer e a assumir suas 
responsabilidades. 
(*) Psicóloga e Analista Junguiana na capital 
paulista, membro da Sociedade Brasileira de 
Psicologia Analítica (SBPA) 
Fonte: Revista Caras / 07 Ago 2013 
A
BRINCADEIRA SÉRIA: 
CRIANÇAS, 
MÍDIA LOCAL E 
SUSTENTABILIDADE 
(*) Rodrigo Scapolatempore 
É um grande cli-chê 
falar que as crianças 
são o futuro do país. Mas 
um clichê necessário. Acontece 
que muito mais do que futuro, elas 
devem nortear o nosso presente e 
nos tornar pessoas melhores; cida-dãos 
comprometidos com nossa 
comunidade. Sejam nossos filhos, 
sobrinhos ou irmãos, os pequenos 
devem ser nossa maior motivação 
para pensarmos em criar, agora, 
um mundo melhor. E, como sem-pre 
defendemos, o mundo melhor 
passa, necessariamente, e priorita-riamente, 
por nossa vivência local, 
pela vizinhança e pelo exercício da 
“micro-cidadania”. 
“Micro-cidadania?” Você 
deve estar se perguntando. Sim, é 
isto mesmo, e no bom sentido. 
Trago este termo ousado para re-forçar 
que é no nosso “menor am-biente” 
de convivência, ou seja, 
com a família, em casa, no seu pré-dio 
e no bairro, que começamos a 
dar exemplo, a partir de nossas re-lações 
sociais mais próximas. E o 
termo, a bem da verdade, não tem 
a ver com menos comprometi-mento 
ou com mínimo esforço-ci-dadão. 
Muito pelo contrário. Tem 
a ver com fazer mais com menos. 
Afinal, não dá para pensar numa 
cidade harmoniosa se o seu bairro, 
ou sua vizinhança, está um caos. 
Certo? 
E as crianças, o que têm 
com isso? Elas são simplesmente o 
exemplo vivo do produto social 
que, em breve, teremos criado. É 
por isso que as mídias locais 
devem atuar, com orgulho, sempre 
em prol da família e da cidadania, 
voltadas ao bem estar local. Com a 
atuação conjunta de imprensa, mo-radores 
e comerciantes, associa-ções 
e poder público, é possível 
fazer do seu bairro e da sua vizi-nhança 
um local ainda melhor, 
hoje, agora, e, assim, no futuro. 
Por isso, é necessário que 
as mídias segmentadas divulguem 
com mais afinco várias ações de 
entidades locais que protegem nos-sas 
crianças carentes e acreditamos 
que esta é uma das missões mais 
nobres do jornalismo comunitário. 
Incentivar a inserção dos pequenos 
na política mirim é um dos grandes 
passos que podemos dar em dire-ção 
ao verdadeiro processo da sus-tentabilidade. 
E as escolas, no seu 
dever, precisam entender a impor-tância 
de incentivar o jornal local 
que, como mídia séria e de credi-bilidade, 
deve direcionar sempre 
seu norte aos conceitos que os edu-cadores 
atuais tanto procuram. 
(*) Editor-Chefe do Jornal do Gutierrez, presta 
consultorias na área de jornalismo comunitário 
e empresarial. 
É
Ao falarmos de 
família, de sua constru-ção, 
de seus anseios e di-ficuldades, 
nos deparamos, muitas 
vezes, com um complexo de situa-ções 
que nos faz pensar com 
quem dividir nossas dúvidas, a 
quem buscar, a quem recorrer. Pen-sar, 
enfim, em quem poderia nos 
auxiliar, trazendo soluções para 
problemas difíceis. 
Aí é quando nos remete-mos 
à nossa fé e buscamos, na 
pessoa de Jesus, (independente-mente 
de credo religioso), um 
caminho a seguir. 
A história nos conta que 
Jesus veio para nos salvar, dando 
sua própria vida por nós. Mas, em 
sua passagem pela terra, Ele apli-cou 
métodos que facilitaram sua 
comunicação com as pessoas, 
homens, muitas vezes, duros de 
coração, difíceis, resistentes aos 
ensinamentos. 
Podemos dizer que Jesus 
foi um pedagogo, usou a pedago-gia 
da Flexibilidade, ou seja, sua 
metodologia se adaptava a uma 
situação determinada. 
Especificamente, seu mé-todo 
apresentava o conteúdo de 
seu ensino, o Reino e seu projeto 
de amor, e sua própria identidade. 
Raramente fazia discursos 
ou pregações de “Comunicação 
unilateral”, como costumamos 
dizer. Ele ensinava a partir de uma 
situação específica: uma conversa, 
uma pergunta, uma necessidade e, 
muitas vezes, a partir da resistência 
de seus ouvintes. 
Suas parábolas entravam 
no imaginário do outro e davam 
respostas às mais variadas pergun-tas. 
Fazendo uma analogia 
com os dias de hoje, Jesus, como 
mestre pedagogo, nos mostra atitu-des 
que as famílias (pai/mãe) 
devem ter para com seus filhos, 
visando um maior e melhor enten-dimento. 
Senão vejamos: 
1 - Adotar o ensino personalizado, 
centrado na criança, atendendo às 
suas dúvidas, às suas necessida-des, 
derrubando expectativas, 
usando linguagem prática e 
ilustrada, fazendo com que o 
ensino se torne mais acessível e 
compreensível. 
2 - Ensinar através de métodos e 
recursos variados, usando repeti-ções, 
simbologias, trocadilhos, me-táforas, 
provérbios, comparações, 
enigmas, parábolas, etc.( Jesus, di-versas 
vezes, para auxiliar a com-preensão 
de sua mensagem, fazia 
uso da linguagem visual, sementes, 
passarinhos, campos, montanhas, 
moedas, peixes, água, etc.), enfim, 
optar pelo ensino baseado na re-flexão. 
3 - Despertar na criança a curio-sidade, 
ou seja, responder aos 
questionamentos com um novo 
questionamento, assegurando ao 
ouvinte tirar suas próprias conclu-sões, 
sempre orientando com o 
ensinamento centrado em valores 
familiares próprios. 
4 - Ensinar, a partir do relaciona-mento 
afetuoso, da interação com 
o outro, de uma forma autêntica. 
Demonstrar, através de uma convi-vência 
positiva e afetuosa, princí-pios 
e formas para um diálogo 
franco. 
5 - Lembrar, sobretudo, que o en-sinamento 
de Jesus (que hoje serve 
para nós, pais) se dava pelo próprio 
exemplo: 
a) “Orem como eu oro”; 
b) “Amem como eu os amo”; 
c) “Sirvam como eu sirvo”; 
d) “Carreguem sua cruz como eu 
carrego a minha”; 
e) “Cuidem das ovelhas assim 
como eu o faço”. 
Seguramente, os melhores 
mestres/pais são exemplos vivos 
do conteúdo de seu ensino, algo 
que arrasta, não simplesmente 
“gente”, mas “homens” prontos a 
exercerem o aprendizado. 
Assim, como pais, deve-mos 
pensar acerca da nossa missão 
e, a partir do Mestre Jesus, procu-rar 
seguir seus ensinamentos, tão 
atuais e significativos nos dias de 
hoje... e amar... como Jesus. 
(*) Advogada, Educadora, Pós-graduada em 
Direito Educacional, Casal DR / EPB / São 
A FAMÍLIA... 
FRUTO DO AMOR DE JESUS... 
O VERDADEIRO PEDAGOGO 
Regina Lustre Azevedo Gabriele (*) 
A
A família é um 
sistema vivo, formado 
por suas partes que são os 
subsistemas. Subsistema pai, sub-sistema 
mãe e subsistema filhos 
que, juntos, formam a família. A 
existência dos filhos só é possível 
a partir das partes pai e mãe. Ao 
nascer, o bebê não tem condições 
próprias de sobrevivência e neces-sita 
ser alimentado, cuidado e pro-tegido 
por outras pessoas. Assim, 
além dessas partes (subsistemas 
pai, mãe e filhos) existirem, é 
essencial que desempenhem suas 
funções (filhos precisam de pais 
atuantes/presentes), umas em 
relação às outras. E isso é possível 
através das relações. 
Existem relações dentro 
das famílias e dessas com outros 
sistemas maiores (escola, igreja, 
trabalho, clubes, etc.). Podem-se 
ver famílias que fazem uma boa 
troca com ambientes externos. Ou-tras 
são completamente fechadas, 
presas em si mesmas, impedidas 
de crescer e não permitem que seus 
membros cresçam com o mundo. 
Temos aqui uma paranóia sutil, 
como se o mundo representasse 
uma ameaça. 
Por outro lado, encontram-se, 
também, famílias excessiva-mente 
abertas, as quais se tornam 
vulneráveis, pelo grande número 
de invasões sofridas. O que dife-rencia 
o primeiro do segundo 
exemplo acima são os tipos de 
fronteiras, também chamados de 
limites. Esses são estabelecidos 
pelas famílias, no seu interior e 
com os outros sistemas externos. 
As fronteiras garantem as 
diferenciações e o processo de 
individuação dentro da família. 
Fazer parte de uma família signi-fica 
compartilhar regras, costumes 
e valores, mas a diferenciação/ 
individuação é importante, pois se 
trata do processo de permissão 
para cada membro ter suas carac-terísticas 
particulares, que serão 
construídas ao longo da existên-cia. 
Assim, é imprescindível 
que as fronteiras familiares tenham 
certo grau de permeabilidade (nem 
muito aberta e nem muito 
fechada), permitindo as trocas den-tro 
da família e com sistemas 
maiores. 
O nascimento de uma 
criança na família iniciará uma re-lação, 
daqueles que protegem com 
aquele que precisa ser cuidado e 
protegido. Assim, filhos pequenos 
precisam ser protegidos e os pais 
precisam desempenhar esse papel 
de protetores. Mas à medida que os 
filhos vão crescendo, haverá a 
necessidade de se mudar essa rela-ção. 
Os pais passarão de uma po-sição 
mais ativa para uma mais 
passiva, ou seja, de protetores a 
consultores, para uma função de 
suporte e apoio. Os filhos, de pro-tegidos 
a consultantes, caminham 
para sua libertação e individualiza-ção. 
Esse movimento fica claro na 
adolescência e a presença de gru-pos 
de colegas, da escola, das 
“baladas” fica cada vez mais evi-dente. 
A entrada desses grupos é 
extremamente importante para 
ajudá-los no processo de indivi-duação 
e afirmação da sua singu-laridade. 
Inicia-se a vontade de 
pensar e expressar diferentemente 
da família. É a primeira tentativa, 
mais forte, de constituir um EU, de 
buscar uma identidade própria, daí 
a importância da entrada de diver-sos 
ambientes externos. 
Por isso é que a flexibili-dade 
dos pais para a abertura das 
fronteiras e permissão de trocas 
dos filhos com outros ambientes é 
necessária. 
Além disso, o respeito à 
privacidade dos filhos (criar fron-teiras, 
também, entre os membros 
da família) deve ser ressaltado, 
principalmente, nessa fase. Filhos 
têm direito a intimidade e nem 
tudo será contado aos pais, assim 
como esses, também, não devem 
contar tudo da sua intimidade aos 
filhos. Pais não são “os amigos” 
dos filhos. 
Fronteiras no interior da 
família e dessa com outros am-bientes 
(nem abertas demais e nem 
fechadas), serão a possibilidade de 
construir relações mais saudáveis 
e respeitosas. 
(*) Psicóloga Clínica com formação em Psico-terapia 
Familiar Sistêmica Camila 
rl2@hotmail.com 
www.camila-lobato.blogspot.com 
FRONTEIRAS 
FAMILIARES 
Camila Ribeiro Lobato (*) 
A
Se receber críticas, a 
criança pode passar a omitir os 
acontecimentos aos pais. Mas, se 
for incentivada a refletir sobre seus 
atos e a confrontá-los, ela mesma, 
com o que aprende deles, vai revê-los 
e a análise dessa revisão tende 
a levar a uma mudança de atitude. 
Tal mudança deve ser acompa-nhada 
pelos pais, estimulada e 
reforçada positivamente. 
É nos diálogos diários e no 
acompanhamento de todo o pro-cesso 
de construção de valores e 
crenças - e também no acompanha-mento 
dos processos de revisão e 
mudança de hábitos e atitudes 
inadequadas da criança - que os 
pais vão saber, claramente, como 
estão seus filhos e como eles se 
comportam dentro e fora de casa. 
Aí está a base de uma edu-cação 
sólida. Essa educação, assim 
construída, requer um trabalho 
cotidiano. Deixar acumular as 
experiências e atitudes negativas 
ou indesejáveis da criança pode 
fazer com que elas se enraízem e 
se cristalizem, o que dificulta os 
processos de mudança. 
Se a sociedade influencia 
a família, por outro lado, a família 
também influencia a sociedade. A 
família tem a primazia nos 
processos educacionais. Ela tem o 
privilégio, dentre todas as institui-ções 
que visam a educação e o 
aperfeiçoamento humano, na cons-trução 
de personalidades responsá-veis 
e saudáveis, sob todos os 
pontos de vista. É preciso que a 
família assuma, urgentemente, sua 
responsabilidade na formação de 
cada um de seus membros, para 
que possamos ver uma sociedade 
mais humana e educada. 
(*) Psicóloga, professora de 
psicologia, escritora
A CONVIVÊNCIA FAMILIAR 
E OS AMBIENTES EXTERNOS 
Externo e interno: qual é a distância entre eles? 
Crianças e jovens apren-dem 
com seus pais, principal-mente, 
a partir do que observam 
e, vão extraindo, em seu 
cotidiano, de suas falas e atitu-des 
- o que se dá no decorrer de 
dias, meses e anos, seja na mesa 
de refeição, na sala de TV, nos 
passeios, comemorações etc. 
Os pais, em geral, tecem 
comentários e analisam fatos, 
desde os mais corriqueiros até 
os de cunho político, econô-mico, 
esportivo, religioso e 
moral. E é, nesses momentos, 
que influenciam seus filhos 
significativamente, semeando 
ideias e sentimentos, contri-buindo 
para o direcionamento 
de suas escolhas futuras. 
A família, compreen-dida 
como um microcosmo 
social, é igualmente estruturada 
por regras, direitos, valores e 
tradições - uma construção que 
se dá num tempo e num espaço 
específicos. Assim, muito do 
que serviu para as gerações 
anteriores, passa por inevitáveis 
mudanças na criação de novas 
estruturas familiares: desde a 
arquitetura da casa, sua decora-ção 
e utensílios, até o tipo de 
comunicação do grupo familiar, 
a escolha de metas e a maneira 
de se educar filhos. 
Os determinantes sócio-históricos 
são considerados os 
principais organizadores da 
família. Estudos apontam para o 
seu surgimento, seus conflitos, 
suas transformações, desestru-turações 
e reestruturações em 
diferentes períodos e culturas 
humanas. Assim, as funções 
paternas e maternas, as expecta-tivas 
de realização social dos 
filhos, ou seja, as regras exter-nas 
vão sendo construídas, cul-turalmente, 
pelos homens e 
determinam a rota e o mapa a se 
desenhar e a se cumprir também 
no âmbito familiar. De tempos 
em tempos novos designs apa-recem, 
não sem conflitos e de-safios, 
pois a história segue 
como se tivesse vida própria. 
Cabe ao homem compreendê-la, 
reconhecendo-se como um 
dos protagonistas de sua cons-trução. 
Maria Cristina Fellet (*) 
Assim sendo, em toda 
cena familiar, adultos conver-sam 
sobre os fatos políticos, 
econômicos e sociais de seu 
tempo, com maior ou menor 
senso crítico, com argumentos 
bem alicerçados ou não; cientes 
ou não da diversidade de pontos 
de vista. 
É aqui que os filhos, 
sem mesmo o saberem, vão 
moldando o seu olhar, sua per-cepção, 
o seu interno. E quem 
sabe, no futuro, irão reconhecer 
a possível força construtiva que 
poderão exercer em sua escola, 
família e trabalho ... ou não. 
Externo e interno: faces 
de uma mesma moeda! Hoje, 
como sempre, cada indivíduo se 
forma a partir de ideias e opi-niões 
compartilhadas pelo seu 
grupo social. 
Nos tempos atuais, com 
o advento da internet, constata-se 
uma verdadeira invasão de 
informações, que são, segundo 
os analistas, tão grandes em 
número quanto em superficiali-dade....
Será que existe um filtro 
para que muitas dessas informa-ções 
possam ser excluídas (as 
desnecessárias) e aquelas, con-sideradas 
pertinentes e de “boa 
fonte,” possam virar conheci-mento? 
E, ainda, com maturi-dade 
e aprofundamento, se 
transformarem em sabedoria? 
Porque o conhecimento é uma 
tradução, uma decodificação, 
um esforço cognitivo que ana-lisa 
e transforma as informações 
recebidas. Já a sabedoria é a uti-lização 
desse conhecimento, 
sustentada por valores humanos 
essenciais. 
Portanto, ao se discutir a 
influência dos ambientes exter-nos 
na convivência familiar, é 
importante compreender que o 
ambiente interno, ou seja, a sub-jetividade, 
será sempre formada 
nesse contexto e a partir dele. 
Considera-se que uma 
informação que chega ao coti-diano 
familiar pode produzir, da 
mesma forma, um comentário 
preconceituoso ou crítico, vio-lento 
ou respeitoso, com bases 
autoritárias ou democráticas, 
idealizando, mesmo, ações des-trutivas 
ou solidárias. 
Crianças e jovens ficam 
atentos, às vezes sem perceber, 
às conversas informais dos pais 
acerca do mundo externo. Atitu-des 
das mais diversas ordens 
vão sendo “engravidadas” e 
gestadas a partir daí. 
Pensar, sentir e agir – eis 
aí, portanto, um tripé construído 
a partir de agentes externos. E 
se tais agentes forem avaliados 
criticamente, com respeito à 
intersubjetividade e ao direcio-namento 
ético, eles poderão, 
certamente, organizar “inter-nos” 
na direção do bem comum. 
Trata-se da aventura humana 
que desafia alcançar os seus 
mais almejados pilares - simul-taneamente 
externos e internos 
- os da liberdade, da igualdade 
e da fraternidade. 
(*) Psicóloga
A CONVIVÊNCIA FAMILIAR 
E OS AMBIENTES EXTERNOS: 
UMA INFLUÊNCIA RECÍPROCA 
É sabido que o 
meio externo exerce 
grande influência sobre a 
família. A sociedade, com 
todos os seus aparatos de comuni-cação, 
influencia a família em suas 
crenças, valores, modo de vida, 
relações e hábitos. 
Muitas vezes essa influência 
é negativa. Então a família precisa 
parar e discutir, entre seus mem-bros, 
questões sociais importantes 
e confrontá-las com seus hábitos, 
valores e crenças, inclusive os 
ético-morais; esquecemo-nos, 
porém, de que essa influência não 
é unilateral, ela é recíproca: a 
sociedade influencia a família e a 
família influencia a sociedade. 
Como a família influencia 
a sociedade? Que influências nega-tivas 
ela exerce no meio externo, 
fora dos muros familiares? 
Vivemos uma época em que 
a responsabilidade da família em 
educar seus membros tornou-se 
relativa; a tarefa de educar tem 
sido confiada a terceiros; ela está 
entregue a babás (virtuais, inclu-sive), 
creches, etc. 
Essa desatenção de alguns 
pais com a educação de seus filhos 
pode trazer consequências indese-jáveis, 
não apenas nas relações 
familiares, mas, também, na socie-dade 
mais ampla. Diariamente 
lemos notícias de atos de vanda-lismo 
e de violência que ocorrem 
em nossas ruas, vizinhanças, 
centros comerciais e vias públicas. 
As brigas e discussões podem se 
iniciar por motivos banais, total-mente 
contornáveis. Onde está o 
bom humor? O bom senso? O res-peito 
por si mesmo e pelo outro? 
Onde estão as famílias de pessoas 
que perdem o autocontrole nas vias 
públicas, nos espaços sociais? 
É na família que aprende-mos 
o respeito, a ética, a cidadania, 
a sustentabilidade, a ter cortesia 
dentro e fora de casa. São os pais, 
principalmente com seus exem-plos, 
mais do que com palavras, 
que passam valores a seus filhos. A 
partir da assimilação desses valo-res 
e da prática deles em todos os 
ambientes, a vida social se torna 
mais agradável. Na família apren-demos 
a usar as coisas sem dani-ficá- 
las e a preservar os bens 
públicos, a contornar pequenos 
problemas e a evitar grandes 
discussões, inclusive nos relacio-namentos 
sociais e de trabalho. 
A família precisa pensar 
nas relações que estabelece entre 
seus membros e em sua atuação no 
meio externo. Esses apenas repro-duzem, 
nos espaços públicos, 
aquilo que vivenciam nas relações 
mais íntimas. Violência gera vio-lência 
e, às vezes, forma-se uma 
bola de neve que invade todos os 
espaços da sociedade e cresce 
imensuravelmente. É na família 
que reside uma das mais poderosas 
estratégias para a modificação 
desse quadro: o compromisso com 
a educação e a formação ético-moral 
dos filhos. 
Todas as divergências, por 
Stefânie Arca Garrido Loureiro (*) 
maiores que sejam e mesmo que 
envolvam muitas pessoas e grupos, 
começam no indivíduo; a educação 
desse indivíduo esteve sob a 
responsabilidade de seus pais ou 
daqueles que lhes substituíram. 
Essa educação começa na infância, 
desde o primeiro ano de vida e 
segue até a fase adulta. 
A Psicologia mostra a impor-tância 
da convivência familiar nos 
primeiros anos de vida da criança. 
O famoso psiquiatra e pesquisador, 
Erik Erikson, enfatiza determina-dos 
sentimentos e habilidades que 
são adquiridos, especialmente, nos 
primeiros anos de vida. Dentre eles 
está a noção de certo e errado, a 
base para a moralidade, para a cria-tividade, 
para a capacidade de crer 
- de ter fé em algo - a iniciativa, a 
autonomia, a confiança em si e nos 
outros. 
É importante que os pais 
estejam presentes e que acompa-nhem 
cada momento da vida de 
seus filhos. É necessário abrir, 
diariamente, espaço para o diá-logo, 
para que a criança e o adoles-cente 
falem de suas experiências 
fora de casa, de seu dia, de seus 
sentimentos. Não se deve ter uma 
posição crítica, mas acolhedora. A 
postura dos pais deve levar a 
criança, se necessário, a pensar no 
que fez e que ela mesma avalie, 
sob o olhar firme e afetuoso deles, 
se o que fez durante o dia foi 
adequado e condiz com o que 
aprendeu. 
O
INFLUÊNCIAS DA MOBILIDADE 
URBANA E DA OCUPAÇÃO 
TERRITORIAL NA CONVIVÊNCIA 
Dentre os onze 
países mais populosos, o 
Brasil é o que apresenta a 
maior taxa de população urbana do 
mundo, atingindo o valor de 84,4 
% no censo IBGE 2010. Como 
consequência, as cidades estão 
cada vez maiores, aumentando a 
distância entre a residência das 
pessoas e os seus locais de traba-lho, 
de lazer, de educação e dos 
centros de saúde. Mais tempo se 
perde para o ir e vir. Menos tempo 
se tem para o convívio familiar. 
Em um passado próximo, 
onde as cidades eram menores e 
mais acolhedoras, as famílias eram 
maiores e seus membros moravam 
mais perto entre si; avós, tios, ir-mãos, 
primos e demais pessoas da 
confiança dos pais serviam e aju-davam 
no apoio e na rotina diária 
da criação dos filhos. 
Com a concentração da 
população urbana, segundo o 
IBGE, a formação clássica da fa-mília, 
‘casal com filhos’, deixou de 
ser maioria no Brasil. Hoje predo-minam 
outros tipos. As famílias 
são pequenas, formadas por casais 
sem filhos, ou formadas por um 
dos genitores e seus filhos. A mu-dança 
na constituição familiar re-flete 
os avanços sociais, sanitários, 
culturais, políticos e econômicos 
que têm a cidade como fonte. 
Com a família menor, a 
cidade com diversidade urbanística 
e arquitetônica é ainda mais 
desejável. A família pequena pre-cisa 
do apoio das disponibilidades 
coletivas. Para ela torna-se essen-cial 
uma cidade bem mantida, bem 
conservada, mais densa, que ofe-reça 
espaços públicos com vitali-dade 
e que permita a solidariedade 
humana, nas várias faixas etárias e 
camadas sociais. 
No entanto, o que ainda 
observamos na organização territo-rial 
da maioria dos municípios 
mais habitados, é a cidade extensa, 
com a implantação de novos 
bairros, de grandes conjuntos habi-tacionais, 
de grandes condomínios, 
socialmente homogêneos e mono-funcionais. 
Isso exige sistema de 
mobilidade urbana capaz de satis-fazer 
o desejo de deslocamento das 
pessoas. 
Nesse sentido, acredita-mos 
serem positivas e necessárias 
a implantação e manutenção 
de mais e melhores meios de trans-porte 
coletivo (sobre pneus e sobre 
trilhos); mais e melhores calçadas 
para os pedestres; mais e melhores 
ciclovias; e, mais e melhores pla-nejamentos 
e ocupações territoriais 
das cidades. 
Os congestionamentos são 
cada vez maiores e atingem nú-mero 
crescente de cidades (e não 
só as metrópoles). 
Na intenção de minimizar 
esse problema, sugerimos que as 
pessoas reflitam sobre a atual cul-tura 
do automóvel. Defendemos 
um convívio inteligente com tal 
meio de transporte individual, 
optando as pessoas, quando possí-vel, 
por outro modo de locomo-ção. 
Diante dos pontos coloca-dos, 
fica evidenciado que os am-bientes 
urbanos são cada vez mais 
importantes na inovação, no em-prego 
e em uma vida social mais 
rica e diversificada. No entanto, as 
cidades, apesar de seu extraordiná-rio 
dinamismo, não são capazes de 
oferecer horizontes promissores à 
maior parte daqueles que nelas 
habitam.D 
esejamos um melhor 
cenário para o convívio familiar, 
onde avós, pais, filhos e netos des-frutem 
de maior tempo juntos, o 
suficiente para que os valores, 
limites e raízes sejam fortalecidos 
e favoreçam a educação e o pre-paro 
dos seus membros, para o 
exercício de uma cidadania plena. 
Temos convicção de que a 
melhoria da mobilidade urbana e 
da ocupação territorial contribuirá 
no aumento do tempo livre das 
pessoas, permitindo-lhes convívio 
familiar maior, em quantidade e 
em qualidade. 
As famílias merecem e a 
sociedade agradecerá. 
(*) Associados da EPB / BH 
FAMILIAR 
Sônia e Antonio Prata (*) 
D
Atendendo a 
crianças e adolescentes 
na clínica, constante-mente 
recebo pais angus-tiados 
com determinados 
comportamentos dos filhos. Faço 
abaixo um recorte de algumas das 
queixas: 
•“ela está revoltada demais, não 
respeita nossa autoridade, só quer 
saber de assistir Rebeldes... se a 
gente não a deixa fazer algo, ela 
insiste, insiste... e nos vence pelo 
cansaço” (relato de um casal a 
respeito da filha, de 12 anos). 
•“ele não pára de comer, está an-sioso, 
e a gente não pode falar 
nada que ele chora” (mãe falando 
sobre o filho de 8 anos). 
• “a senhora acha que meu filho 
pode ser gay? Não...eu não tenho 
preconceito, eu respeito, mas na 
minha família nunca teve disso 
não... e isso não é de Deus.” (pai, 
sobre o filho de 18 anos). 
• “ela está com ciúme da irmãzi-nha 
que nasceu...está só apron-tando, 
agressiva...já falei com ela 
que eu a amo do mesmo jeito...eu 
entendo o ciúme dela, eu com-preendo, 
tadinha...mas já falei com 
ela que é bobagem esse ciúme...” 
(mãe, fazendo relato à terapeuta, 
na presença da filha, de 10 anos). 
Obviamente, os fragmen-tos 
acima são apenas “pontas dos 
icebergs” de cada uma das histó-rias. 
Não me proponho, aqui, a 
fazer uma análise destes casos, 
mas desejo abordar um dos aspec-tos 
que nos chama a atenção em 
todos eles. 
É expressiva a dificuldade 
dos pais em acolher e escutar os 
filhos. Nos quatro casos acima, 
perguntei aos pais se eles já 
haviam tentado escutar a respeito 
do que estava ocorrendo. Todos 
responderam afirmativamente. 
Pedi que descrevessem como foi a 
escuta. Ao final, todos reconhece-ram 
que ouviram e falaram...mas 
não escutaram. Rubem Alves, em 
seu texto “Escutatória”, dizia que 
somos mestres na falatória e 
iniciantes na arte de “silenciar por 
dentro” para ouvir o outro. 
Observo que, quando se trata do 
diálogo com crianças e adolescen-tes, 
a dificuldade é ainda maior. 
Vivemos em uma lógica adulto-cêntrica. 
No caso acima, onde a 
menina estava com ciúme da irmã 
recém-nascida, auxiliei a mãe a 
sustentar uma postura acolhedora 
com a filha e, novamente, ouvir 
sua queixa. A filha conseguiu 
dizer, chorando, que já não mais se 
sentia amada. A mãe, muito emo-cionada 
e sem saber o que fazer 
com isso, defendeu-se: “ô filha...eu 
não deixei de te amar...que boba-gem...”. 
Foi preciso auxiliar a mãe 
a se entregar àquele momento de 
intimidade, em que a menina de 
dez anos, corajosamente, dizia de 
sua dor (uma dor que não era 
bobagem). Quando ela conseguiu 
acolher a filha em seus braços e no 
silêncio de suas lágrimas, aconte-ceu 
a escuta, aconteceu o encontro. 
Talvez um passo para a cura. 
Não, não é fácil escutar. 
Especialmente quando o que o 
outro tem a dizer é potencialmente 
ameaçador para nós. Escutar é algo 
paradoxal, porque é complexo, 
mas de uma simplicidade extrema. 
Requer coragem. Os pais do pri-meiro 
relato se encorajaram e 
escutaram a filha dizer que eles 
não tinham autoridade sobre ela e 
nem sobre a própria casa, já que 
todos os parentes interferiam nas 
decisões deles. Tiveram que repen-sar 
a relação conjugal. 
A mãe do segundo relato 
conseguiu perceber, na fala do 
filho, que ela era tão ou mais 
ansiosa que ele. Desabou em lágri-mas, 
reconhecendo a sua própria 
depressão. O pai do jovem de 
dezoito anos ainda não conseguiu 
escutar do filho que é homosse-xual. 
Parece ser o limite desse pai, 
que permanece, a cada jogo de 
futebol, desferindo chavões homo-fóbicos 
mascarados de piada. É a 
forma sutil, mas extremamente 
agressiva, com a qual ele tenta ini-bir 
o filho a dizer-lhe a verdade 
sobre sua orientação afetivo se-xual. 
A dificuldade de escutar o 
filho é gerada por vários aspectos. 
Vivemos em uma sociedade an-siosa, 
onde é difícil parar, silenciar, 
para ouvir o outro. 
Muitos de nós fomos cria-dos 
em famílias que primavam por 
uma rigorosa hierarquia, onde os 
mais novos não tinham o poder da 
palavra. E outros fatores psicológi-cos 
nos impedem de entrar em 
contato com a dor do outro. Essa 
lógica da “falatória” gera disfun-ções 
em todas as nossas relações, 
sobretudo nas parentais. 
Os comportamentos ou 
sintomas das crianças e adolescen-tes 
são sinalizadores que, se escu-tados, 
podem modificar para 
melhor a dinâmica familiar. Para 
isso, os pais necessitam ter a cora-gem 
de perceber suas próprias 
incoerências. Ou seja, só se pode 
escutar um filho quando se tem 
ousadia e autoamor de escutar-se 
a si mesmo. 
(*) Graduada em Terapia Ocupacional pela 
UFMG, com especialização em Psicodrama, 
qualificação avançada em Saúde Mental e for-mação 
em Intervenção Sistêmica. 
patiterapia@yahoo.com.br 
A DOR DE UM FILHO, 
A DOR DOS PAIS 
Patrícia Antunes Tavares (*) 
A
APRENDENDO E ENSINANDO 
A CONVIVER NO 
MUNDO VIRTUAL 
Em 1992, foi en-viada 
a primeira mensa-gem 
de SMS, 
inaugurando um novo espaço de 
interação e alterando, de forma 
inexorável, os padrões de compor-tamento 
e o estilo de vida das pes-soas. 
Com um simples apertar de 
um botão, rompem-se fronteiras 
geográficas e instantaneamente 
nos inserimos numa rede sem limi-tes, 
onde informações, games, re-lações, 
interatividade, aprendizagem 
e entretenimento são continua-mente 
ofertados e atualizados. A 
tecnologia digital conectada em 
rede constitui um sistema global de 
comunicação, troca de informa-ções, 
serviços e recursos indispen-sáveis 
ao ser humano. Não 
podemos e não sabemos mais viver 
apartados do ambiente virtual e de 
suas facilidades e possibilidades, 
mas precisamos aprender a convi-ver 
no ciberespaço com crítica e 
discernimento. 
Como educadores, esta-mos 
assustados diante da primeira 
geração de crianças e adolescentes 
on-line que nasceu, emocional e 
intelectualmente, pertencente ao 
universo digital. A familiaridade e 
a adesão apaixonada às novas 
tecnologias os inscreve como 
autores num mundo de distâncias 
e limites subtraídos, tempos relati-vizados, 
identidades simuladas, 
felicidades e imagens inventadas, 
proliferadas e protegidas pela 
crença do anonimato. Nasce o filho 
digital no cenário da difusão 
tecnológica contemporânea e 
emerge o desafio de ser educador 
de uma geração portadora de uma 
cultura singular, a cibercultura. 
Paradoxal é a conduta pa-rental. 
Ao mesmo tempo em que os 
pais revelam-se extremamente cui-dadosos 
e preocupados com o 
mundo real, levando e buscando os 
filhos, protegendo-os da ostensiva 
oferta de drogas lícitas e ilícitas, 
atentos aos seus amigos, interessa-dos 
em conhecer outros pais, con-sumindo 
teorias psicológicas de 
como bem educar os filhos e cer-cando- 
os de conselhos e da ajuda 
dos especialistas, esses mesmos 
pais pouco acompanham ou não 
monitoram os filhos no mundo vir-tual. 
Flávia Barros Fialho (*) 
De alguma forma, acredi-tamos 
que o fato de os filhos esta-rem 
em nossas casas, fisicamente 
próximos e ao alcance dos nossos 
olhos, estão protegidos e seguros. 
Esquecemo-nos que eles estão 
num mundo sem limites, sem fron-teiras 
e sem demora. Tudo é instan-tâneo, 
simultâneo e imediato, rico 
e vasto de possibilidades, aventu-ras 
e perigos. Como pais precisa-mos 
ser presença educativa nos 
ciberespaços, orientando nossos 
filhos para um uso seguro, ético e 
saudável das novas tecnologias de 
informação e de comunicação, 
especialmente a internet. 
Crianças e adolescentes, 
no isolamento supostamente se-guro 
dos seus quartos, interagem 
com pessoas de idades, princípios, 
valores e identidades desconheci-das. 
Nossos filhos estão expostos a 
internautas cujas intenções podem 
ser ilegais ou criminosas. O mundo 
virtual, assim como o mundo real, 
é também espaço para a banaliza-ção 
do sexo, da violência, da pedo-filia 
e do consumismo. 
E
Não é por acaso que já sur-giram 
as Delegacias de Repressão 
aos Crimes Virtuais, a Central 
Nacional de Denúncias de Cri-mes 
Cibernéticos e a Promotoria 
Estadual de Combate aos Crimes 
Cibernéticos que, desde 2008, ano 
de sua criação, apoiada em dados 
estatísticos, afirma que são as 
crianças e os adolescentes as prin-cipais 
vítimas de delitos virtuais, 
tanto por falta de orientação ade-quada 
sobre o uso da internet, tanto 
pelo não acompanhamento por 
parte dos pais. 
Tolice nossa acreditar que nossos 
filhos, que passam horas plugados 
e conectados, não são vítimas em 
potencial. A própria natureza cu-riosa, 
impulsiva ou transgressora 
dos nossos filhos os coloca em si-tuação 
de vulnerabilidade e risco. 
Soma-se a isso o fato de que crian-ças 
e adolescentes, motivados pelo 
“anonimato”, “protegidos” por 
seus nicknames (apelidos), fazem 
no virtual muito do que não teriam 
coragem de fazer no encontro e no 
contato real com o outro. Não é por 
acaso que o cyberbullying é, hoje, 
a forma de violência que mais 
cresce no mundo, gerando grande 
sofrimento e inúmeros processos 
judiciais. A ação educativa pode 
traduzir-se em cuidados simples e 
eficazes. A seguir apresento um 
conjunto de sugestões para que 
vocês, pais, acompanhem e orien-tem 
seus filhos navegantes. 
Estabelecer uma rotina 
clara e consistente, definindo os 
dias e os horários de entrada e o 
tempo de conexão, seja para os 
jogos ou para o bate-papo. 
Equilibrar o tempo de con-vivência 
virtual com o tempo de 
convivência familiar, reservando 
tempo para o diálogo, o brincar, os 
passeios e as refeições em família. 
Na hora de dormir, nos 
momentos das refeições ou durante 
a realização dos deveres ou do 
estudo diário, manter os atraentes 
recursos tecnológicos, como celu-lares 
e computadores, desligados . 
Instalar o computador em 
locais da casa em que haja maior 
circulação de pessoas, evitando 
quartos ou lugares mais isolados. 
Indicar e conversar com os 
filhos sobre os sites mais adequa-dos 
à sua faixa etária, dizendo a 
eles que vocês, pais, irão acompa-nhá- 
los nas navegações, verifi-cando 
o histórico de seus acessos. 
Não precisam fazer nada escon-dido, 
afinal, legalmente são vocês 
que respondem judicialmente por 
eles. 
Navegar com o filho para 
conhecer seus sites de preferência, 
as pessoas com as quais ele se 
relaciona, as preferências virtuais 
e a natureza dos conteúdos posta-dos. 
Orientar os filhos para não 
postarem fotos, vídeos ou informa-ções 
particulares ou íntimas, nem 
tampouco repassar conteúdos que 
possam expor terceiros. Tudo o 
que “cai” na rede torna-se de do-mínio 
público e não é possível 
arrepender-se e voltar atrás, pois já 
saiu do seu domínio. 
Esclarecer ao filho que 
mensagens ou comentários com 
termos agressivos, ameaçadores, 
depreciativos sobre ou endereça-dos 
a terceiros não é brincadeira, 
mas um ato de agressão que pode 
ser interpretado como ato crimi-noso. 
Nunca fornecer senhas, 
número de documentos pessoais, 
endereço, escola onde estuda, 
locais onde realiza atividades 
extras ou qualquer dado referente 
à rotina ou aos planos de viagem e 
passeios pessoais e familiares. 
Não aceitar convites de es-tranhos 
para encontros, festas ou 
passeios.D 
enunciar qualquer con-teúdo, 
mensagem ou imagem, 
estranho, inapropriado, constran-gedor, 
pornográfico, violento, no 
disque 100 ou no site 
www.denuncia.org.br 
A tarefa de educar é, sem 
dúvida, árdua, desafiadora e nada 
fácil. Precisamos, pela via do 
diálogo e da observação constante, 
ser referência e presença de limite, 
tanto no mundo real quanto no 
mundo virtual. Por mais que as 
relações estejam mais democráti-cas 
e afetivas, vale lembrar que a 
relação pais e filhos não é marcada 
pela igualdade, já que temos papéis 
e lugares distintos no contexto 
familiar e social. 
É por isso que os educado-res 
somos nós, os adultos. 
(*) Psicóloga, Pedagoga, Especia-lista 
em Psicologia Educacional e 
Mestre em Sociologia da Educação

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Relações familiares na era digital

  • 1. CONTEMPORANEIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES Quando nasce-mos, recebemos, através de nossos pais, um lugar dentro de nossa família, com fun-ções e papéis a serem desempenha-dos, o que nos confere a sensação, o sentimento de pertencimento. A família é responsável por transmi-tir valores e regras, para conviver-mos e transitarmos no mundo. É muito bom o sentimento de pertencer, mas é fundamental aprender a se separar também, ou seja, nos “desmisturarmos” um pouco dos nossos familiares e da-quilo que recebemos deles para treinarmos novas possibilidades de viver. A partir daí poderemos man-ter os valores e regras que conside-ramos pertinentes e, assim, poderemos criar novos valores. É na família que começa-mos nosso processo de diferencia-ção e individuação e, posteriormente, faremos o mesmo nas demais relações que estabele-cemos, como: social, cultural, espiritual etc. Vale ressaltar que o processo de diferenciação e indivi-duação pode, ou não, ocorrer e será um processo único para cada indi-víduo. IMPACTOS DA Para que esse processo ocorra, é preciso que eu saiba quem sou, o que quero da vida, qual o sentido da vida pra mim. Precisamos aprender mais sobre nós mesmos, sobre o “ser gente”, sobre nossa essência mais que sobre a aparência. No mundo contemporâneo percebemos uma dificuldade de as pessoas se conectarem com sua essência, com seu mundo interno, o que lhes dá a sensação de ficarem na superfície, empobrecidas emo-cionalmente e vazias. O preço para pertencermos ao mundo contem-porâneo tem sido muito alto, uma vez que exige a nossa despersona-lização e a nossa desumanização. Como resultado, não con-seguimos esperar por nada, vive-mos atrasados, corremos o tempo todo. O uso de computadores, smartphones e internet tem contri-buído muito para pensarmos mais e sentirmos menos; uma tecnologia desenvolvida para aproximar pessoas que, se não utilizada de forma saudável, acaba por afastá-las. Tudo isso têm contribuído muito para uma vida desregrada e estressante. Fernanda Seabra (*) A ação intensa da mídia, da globalização e da economia ca-pitalista, tem ditado regras, normas e valores a serem seguidos. Somos bombardeados e seduzidos, cons-tantemente, pela idéia de que se não seguirmos, por exemplo, a moda, não seremos ninguém. A propaganda destinada ao público infantil representa uma boa fatia no mercado oportunista, pois as crianças passam a interferir nas escolhas daquilo que deveria, ou não, ser consumido por suas famí-lias. A televisão tem, cada vez mais, roubado a infância de nossas crianças, interferindo diretamente nos valores das famílias. Ela incen-tiva a erotização precoce, o con-sumo de alimentos industrializados e calóricos, estimula o consu-mismo, questiona a hierarquia familiar, expõe nossas crianças a situações degradantes. Ficamos em uma posição delicada, como pais e educadores, com receio de sermos claros e firmes com as crianças, temendo não sermos mais amados por elas. Q
  • 2. É aí que entramos em um circulo vicioso, responsável por desfigurar o valor das relações em família. Por isso, é necessário repensarmos nossos valores, como queremos viver e estabelecer nossos vínculos, de modo a reduzir os impactos causados por essas interferências externas. Ficamos iludidos, bus-cando a perfeição, uma comple-tude que, diga-se de passagem, não existe. Importante exemplo é o da exigência do corpo perfeito, em que, se a mulher não for bonita e magra, não será feliz, jamais se sentindo pertencente a “este mundo”. No mundo moderno, não temos espaço para viver a tristeza, perdemos a oportunidade de apren-der através de nossas dores. É a era da felicidade obrigatória. De que maneira podere-mos criar e desenvolver, enquanto pais e mães, o pensamento critico e reflexivo em nossos filhos, em relação ao mundo moderno, se não temos tempo para isso e se não exercitamos tal atitude, primeira-mente, em nós? Como incutir valores de conquista e trabalho se a nossa preocupação é adquirir “coisas”? Tal comportamento vai ao encontro da ideia de “quanto mais se tem, mais se gasta”. Tentamos satisfazer os desejos dos filhos, na tentativa de amenizar nosso des-conforto e culpa pela nossa ausên-cia. Vamos ficando confusos com influências culturais e sociais e, consequentemente, passamos a eles essas mesmas informações, o que os têm levado a uma insatisfa-ção constante, como se tivéssemos que buscar, incessantemente, por coisas que, muitas vezes, nem fazem sentido para nós. Não temos tido tempo para nos olharmos nos olhos, participar da refeição em família, interagir, falar de nossas histórias, jogar con-versa fora. Comemos e engolimos, “goela a baixo”, padrões que apa-rentemente parecem ser bons. Estamos com pouco contato com a realidade, com as nossas deficiên-cias, fraquezas e potencialidades. Estamos vivendo do lado de fora, assistindo o filme da nossa vida, sem exercermos o papel principal. Somente seremos autores de nossa história a partir do mo-mento em que começarmos a nos descontaminar das modas, quando sairmos do padrão “maria vai com as outras”, quando pudermos expor nossos valores sem medo de ser-mos inadequados e antiquados. É preciso pensar com a própria cabeça e sentir com o próprio co-ração. Aí sim, seremos pessoas me-lhores, tolerantes, individuadas, humanizadas e reais. (*) Psicoterapeuta Familiar Sistêmica spacofamiliaehumanização@gmail.com espacofamiliaehumanização.blogspot.com
  • 3. HÁBITO DE DIÁLOGO Uma das grandes maravilhas de ser hu-mano é o seu poder de dialogar, trocar ideias e experiên-cias, compartilhar emoções, nego-ciar, discutir e ...amar. Somos mais inteligentes do que falamos. Pois a fala é so-mente um dos meios de comunica-ção entre dois seres pensantes. Os surdos e mudos têm a linguagem dos sinais, regida pela LIBRAS, linguagem brasileira de sinais. Há especialistas em leituras labiais e em linguagens extraverbais. Um nenê já gesticula, solta sons, acena, bate palmas, mexe a cabeça, sorri, fica sério, chora, resmunga antes mesmo de falar. É um fato universal, não im-porta a cultura. Para mim, o pensa-mento precede as palavras. Em geral, o bebê já con-versa com sua mãe com sons, vo-gais e poucas consoantes, sem palavras formadas. Com 12 meses, já usa as primeiras quatro palavras. Com 21 meses, seu vocabulário já conta com 20 palavras; e eles en-tendem muito mais. Se uma criança nascesse e não tivesse nenhum contato com humanos, como o herói de aventu-ras Tarzan, o homem macaco criado por Burroughs, ou Mowgli, idealizado por RudyardKipling, ela COMO CRIAR O COM O FILHOS? deixaria de desenvolver a área ce-rebral da fala e seus respectivos correlatos cerebrais, alguns dos quais impossíveis de serem recuperados totalmente, posterior-mente. É o que acontece com os sotaques das pessoas que apren-dem outras línguas após a puber-dade. Para falar, um nenê tem que pensar. Quanto mais cedo pen-sar, mais vai querer falar, e quanto mais falar, mais vai ter que pensar. É por isso que um dos meios de aclarar, organizar e amadurecer as ideias e desenvolver os pensamen-tos é simplesmente falar o que es-tiver pensando. Não se fala uma ideia sem sentido, mas pensar sem sentido é muito comum. Um dos grandes motivos do esfriamento dos relacionamen-tos entre pais e filhos é a falta de comunicação verbal entre eles, mesmo que estejam emitindo men-sagens extraverbais o tempo todo. Quando um pai chega em casa, irritado, cansado, preferindo descansar em frente da televisão, mesmo calado, ele está passando a mensagem de que não quer nin-guém por perto. Quando uma mãe chega falando em casa, reclamando da bagunça, direto a preparar algo para todos comerem, cobrando de Içami Tiba (*) tudo e de todos, ela já passou a mensagem da sua posição e nin-guém gosta de ficar por perto. Assim, cada vez mais todos acabam ficando mais distan-tes uns dos outros, mesmo que convivam numa mesma casa. O que deveria ser um happy hour vira uma tragic hour. Algumas dicas emergen-ciais para que o companheirismo volte ao lar: • Todos, ao chegarem em suas casas, têm meia hora para fazer o que quiserem, desde que não inco-modem outros presentes; • É da responsabilidade de quem ficou em casa deixá-la em ordem: exigências crescem de acordo com a idade. Não é tarefa de mãe arru-mar bagunças de ninguém; • O jantar deveria ser o happy hour: Não está com fome? Peça que todos se sentem junto, mesmo assim, pois o que importa é a com-panhia, a conversa, o alimento da alma; • Quem não jantar na hora, vai ficar sem comer até a manhã do dia seguinte. Ninguém morre de fome em casa que tem comida, mas o comer a qualquer hora estraga qualquer qualidade de vida; U
  • 4. • Jantar não é hora de cobranças, mas sim de contar "causos" inte-ressantes, piadas, aventuras, dar feedbacks do que está fazendo, perguntar como andam os projetos de cada um, compartilhar lembran-ças e sonhos; • Quem não dedica um tempo para conversar, jogar papo fora, orien-tar, aconselhar, fazer cobranças e espera que tudo aconteça, nunca terá este tempo. Ninguém fabrica tempo, cada um tem o seu. Já não há mais tanto tempo para realizar todos os desejos; • Após o jantar ninguém sai, nem assiste TV, nem usa o computador, nem dorme. É hora de fazer as obrigações. Não pode dormir en-quanto não terminar. Nada de "amanhã cedo eu faço". Sacrifícios destes mais fortaleceram que ma-taram filhos. Se forem dormir, os pais têm que acordá-los para termi-nar; • Pais bonzinhos são "bobinhos", pois estão financiando a falta de formação e de educação (formação do futuro cidadão ético). Pais pou-padores, que não impõem o cum-primento das obrigações dos filhos nem cobram bons resultados, podem formar "príncipes espera-dores" de heranças e de prêmios, sem comprar bilhetes, no lugar de terem filhos empreendedores. (*) Psiquiatra, educador, autor dos Best Sellers “Quem ama educa” e “Educação Família – Presente e Futuro
  • 5. “Confesso que a capa de uma revista de circulação nacional me espantou”. Junto à foto de uma garo-tinha, relaxando numa banheira, encontro os dizeres: “Banhos de espuma, massagens e cromoterapia para crianças podem custar até R$ 440,00 nos spas da capital”. Inda-gando- me se havia entendido bem, abri a matéria para ler. Segundo a reportagem “Um dia de princesa”, um pacote para meninas a partir de 5 anos, dá direito a massagens, escalda-pés, esfoliação corporal, máscara facial de relaxamento e banho com péta-las de rosas. E me pergunto: desde quando crianças de 5 anos preci-sam disso? Já outro, oferece o “Day infantil” para crianças a partir de 2 anos, com duração de quatro horas, incluindo massagem relaxante, banho de piscina, manicure, pedi-cure, penteado e maquiagem com direito a cílios postiços. COMO É QUE É??? A falta de bom senso é preocupante. Pais e mães, pelo amooor de Deus, deixem seus fi-lhos crescerem como crianças, sem exagero, sem mimos absurdos e caros, com os pés no chão. Sobrecarregada de ativida-des extracurriculares, como balé, judô, inglês, kumon, teclado, etc., etc., a menina deveria aproveitar o tempo que lhe sobra para ser criança. Brincar de bola, andar des-calça, rolar com o cachorro no tapete e até tomar banho de chuva ou de bacia, como eu costumava fazer na minha infância. Nada disso me estragava, e garanto que “desestressa” mais (se é esse o pro-blema) que quatro horas de massa-gens com óleos essenciais, banhos de espuma e de rosas. Não seria melhor deixar esses mimos para adultos, caso sintam necessidade? Seria ótimo se os pais pu-dessem assistir com seus filhos alguns filmes da Disney com di-reito a pipoca e guaraná, assim como peças infantis que estives-sem em cartaz. A meninada adora e a criança que habita no adulto, também. Árvores falantes, bichos divertidos, bruxas más ... Criança ama a fantasia, então, por que levá-la, antes do tempo, para um mundo real de narcisismo e exage-ros? Criada entre sete meninos, nunca senti falta de massagens com óleos essenciais. Andava des-calça, comia goiaba no pé, com bicho e tudo, convivia bem com meus machucados e esfolamentos. Cabelos embaraçados? Nada que um creme rinse, hoje chamado de “condicionador”, não resolvesse. Poças d’água me divertiam; quanto mais fundas e barrentas, mais atraentes se tornavam. Delícia tam-bém era correr atrás de redemoi-nhos criados pelos ventos na terra seca, para conferir se dentro deles morava o capeta. Crianças felizes que éramos, adorávamos ir em busca de emoções. Enfim, outros tempos, outra realidade.... Na revista, uma leitora se manifestou: “Hoje é um banho de espuma, massagem, cromoterapia clínica de estética. Amanhã, a ca-deira do analista e pílulas”. Concordo, pois, ao cresce-rem, descobrirão que o mundo real não é esse “mar de rosas” ou de “Jacuzzis de rosas”, em spas mi-rabolantes. O mundo real passa pelas dificuldades, para poder che-gar adiante com equilíbrio, força e serenidade. Se perguntarmos a qualquer pai ou mãe sobre o que esperam para o futuro dos seus filhos, provavelmente ouviremos “que eles sejam felizes”. Valor justo e louvável, mas que leva al-guns pais ao equivocado caminho de tentar prover os filhos da felici-dade permanente, não medindo es-forços para que suas vidas sejam um eterno conto de fadas. Se quisermos que nossos filhos CRESÇAM e sejam felizes, precisamos prepará-los para os grandes desafios que a vida, cedo ou tarde, lhes irá impor. Um dia, todos lidarão com as decepções, com as perdas, com as injustiças, com as frustrações por sonhos não concretizados, enfim, com tudo o que faz a vida ser o que é. Famílias chegam a se en-dividar para oferecer aos filhos fes-tas de aniversário estratosféricas, viagens incríveis ou os últimos re-cursos tecnológicos, e tudo isso sem nada lhes exigir em troca, nem mesmo um muito obrigado. Será que educam ou viciam? (*) Presidente e colunista dos jornais “Pampulha” e ‘O Tempo” REDOMAS SE QUEBRAM Laura Medioli (*) C
  • 6. Os últimos 40 anos parecem ter sido os que mais mudanças trou-xeram para a família. Tanto que os pais se perguntam: qual é, na atualidade, o mais im-portante objetivo da educação? O que é ser bom pai hoje? E o que é um filho legal? Não faz muito tempo, ser “um bom menino” significava, como dizia o palhaço Carequinha, “não fazer pipi na cama nem fazer malcriação”, caprichar no trabalho de casa, arrumar o quarto, respeitar os mais velhos; tarefas razoavel-mente fáceis de aprender. Afinal, valores como honestidade e inte-gridade não estavam em discussão. Hoje, significa não apenas saber o que é certo ou errado, mas também conseguir se opor a atitudes que contrariam os princípios da socie-dade - o que não é fácil para adul-tos nem para crianças. Opor-se ao grupo e fazer escolhas adequadas demandam forte grau de segurança. Signifi-cam que nossos filhos têm que estar certos de que solidariedade, justiça e honestidade não estão “fora de moda”. Precisam acreditar que, mesmo quando parte dos ho-mens não respeita esses princípios, não há a mínima condição de vivermos com segurança sem eles. Como convencê-los, no entanto, se a TV, as atitudes de muitos adultos, alguns programas humorísticos e até certas músicas, os bombardeiam com mensagens antiéticas? Criar adultos dignos – ta-refa prioritária da família - de-pende basicamente de duas coisas: da maneira pela qual nós, pais, vivemos o dia-a-dia e da confiança que temos nos valores que guiam nossas ações. É necessário não só sermos íntegros, mas também não duvidarmos da força dos nossos princípios. Quando crianças e jovens percebem nos seus mais fortes mo-delos (nós, seus pais!) segurança inabalável na retidão, na coopera-ção, na honra – independente do que estejam fazendo os vizinhos, parentes e amigos – eles muito provavelmente também acredita-rão. Se, ao contrário, já que há tanta corrupção e impunidade, os próprios pais começam a lassear seus conceitos ou a repetir diaria-mente “que o Brasil não tem jeito”, em que irão, seus filhos, acreditar? O perigo maior para um jovem não são as drogas: é não crer no futuro e na sociedade. A falta de esperança, essa sim, é que pode levar à depressão, ao indivi-dualismo, ao consumismo exacer-bado, ao suicídio, à marginalidade e às drogas. Já a convicção num caminho produtivo a ser trilhado faz com que os jovens progridam, estudem e realizem. Para ter essa confiança precisam conviver com pessoas que, não apenas vivam de acordo com esse modelo, mas também que não se deixem abalar pelas notícias negativas veiculadas pela mídia. Existe sim gente desonesta, o que não significa que muitos outros não sejam dignos e corretos. Muita gente acha que en-sinar integridade é impossível, por-que ignoram que isso se faz basicamente através de exemplos de vida. Se os pais vivem de acordo com princípios, estarão en-corajando os filhos a seguirem seus passos. Quer dizer, não men-tindo, respeitando a lei, não que-rendo mudar as regras do jogo de acordo com as conveniências, e, especialmente, não disseminando amargura e descrença, simples-mente porque nem todos agem de maneira honesta. Na maioria dos casos, essa forma de viver será su-ficiente para que seus filhos acre-ditem nos valores... Afinal, não podem contestar – vocês vivem de acordo com o que defendem! É a nossa integridade que serve de fun-damento à construção da identi-dade cidadã de nossos filhos. Tem coisa mais importante? (*) Filósofa, Mestre em Educação,Psicóloga, autora do livro ”Educar sem culpa” A TAREFA PRIORITÁRIA DOS PAIS Antônio Roberto (*) O
  • 7. Outro dia mesmo, alguém comentava a rela-ção atual entre pais e fi-lhos. Sempre intrigante, talvez por se tratar de processo complicado e impreciso. Todos somos filhos e talvez, pais um dia. Mas nenhum de nós escapou dessa condição de filho, pelo menos en-quanto nascido de alguém. E nas-cemos por decisão alheia ou por acidente de percurso. Mesmo que não somos cria-dos pelos que nos geraram, sere-mos cuidados por alguém que os substituirá ou alguma instituição que nos acolha e cuide da gente, até que sejamos independentes. Isto leva tempo. Algumas pessoas nunca alcançam a independência. Acredito que sejam muito infelizes por isso, embora alguns achem que possa ser uma situação vantajosa. Não creio. Sabemos quem e como foram nossos cuidadores e pais, e quase sempre os responsabiliza-mos ou até culpamos pelo que somos. Mesmo que eles não te-nham culpa, jamais poderão provar serem inocentes. Então, ser pai e mãe já é naturalmente, ou cultural-mente, ser culpado. Não devemos acreditar que essa dívida possa ser paga. Se acreditarmos, tentaremos compensar nossos filhos e isso pode ser ainda pior do que carregar a dívida.N unca tente pagá-la. Como pais, fizemos o melhor que podía-mos na ocasião e, claro, ninguém erra porque quer, porque decide fazer o pior. Pelo menos, alguém “normal”, pois fazê-lo proposital-mente seria uma perversão. Erramos porque não sabe-mos como fazer o melhor em tal ou tal situação. E errar não é tão da-noso. Provavelmente, nunca errar ou acreditar nessa possibilidade, pode ser também pior. Se acreditar dono da verdade, como se ela fosse única, é tentar anular outras possi-bilidades. Nunca saberemos quem será o filho que tivemos e nenhuma fór-mula ou receita poderá nos ajudar. É como uma aposta que fazemos, investindo no futuro que não é nosso e sim de um outro que não sabemos o que desejará. Tantos pais, por não sabe-rem ser pais, tratam os filhos como amigos. E disto podemos estar cer-tos: filhos não são os amigos. São seres humanos que precisam ser educados, por nascerem sem noção de nada. E a educação ensina o certo, o errado, e é preciso insistir muito para as crianças aceitarem o que pode ou não pode. Elas querem experimentar o mundo, o que é gostoso, o praze-roso, independentemente das con-sequências , pois ainda não absorveram o princípio da reali-dade. Funcionam no registro do princípio do prazer. Como fazê-los, então, abandonar o prazer pelo dever? Com o tempo, a insistência, a autoridade e principalmente com amor, pois, se não for por amor, não cola. Não será uma troca inte-ressante. Não valerá a pena. E somente com amor con-seguiríamos deles algum pro-gresso, pois para impor regras de comportamento e socialização é preciso firmeza, pulso e é aí que muitos pais fracassam. Têm de fazer cortes nas pessoas que amam. Se pudessem, dariam aos filhos apenas satisfação, fazendo-os acre-ditar num mundo onde tudo é feito par agradá-los. A criança que se acredita o centro do universo e não se acos-tuma com frustrações, cresce como uma majestade e permanece sem noção. Depois de grandes, não vão querer saber de outra coisa... Assim, ter filhos é um de-safio enorme e de grande respon-sabilidade. Se soubéssemos de antemão todos os riscos, talvez de-cidiríamos não tê-los. Mas, é que às vezes, para continuar o que quer que seja, é preciso ignorar a ver-dade toda. Vale para a perpetuação da espécie. E não somente isso. Depois de tudo o que penamos para educá-los, ver que eles se tornaram inde-pendentes, capazes e diferentes de tudo que planejamos ou quisemos para eles, é muito bom nos certifi-carmos de que se tornaram adultos com sua própria história para es-crever. (*) Psicanalista, colunista do jornal “Estado de Minas” MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO Regina Teixeira Costa (*) O
  • 8. “MAS TODO MUNDO FAZ!”, “MAS TODO MUNDO TEM!” Esses são argu-mentos poderosos que os filhos utilizam, há algumas gerações, para testar os limites que os pais colocam. Muitos se sentem pressionados e cedem, temendo que os filhos sejam excluídos do grupo de amigos. Lembram-se de se sentirem humilhados e inferio-rizados quando eram despresti-giados por seus próprios pares quando não tinham a mochila ou a calça da marca valorizada na época, com raiva dos pais que lhes negavam o acesso aos bens de consumo que represen-tavam o passaporte de aceitação no grupo. E, agora, sofrem ao verem os filhos com medo de serem rejeitados e excluídos. Dependendo da época, mudam os conteúdos, mas o processo é idêntico: roupas, tênis, mochilas e estojos de marca continuam sendo presti-giados na nossa sociedade de consumo, mas outros bens passaram a ser incluídos na lista: smartphones, iPads, iPods, entre outros. Após uma palestra em uma escola de classe média alta, fui cercada por um grupo de mães preocupadas com suas fi-lhas de dez anos, que se sentiam excluídas do grupo por não es-tarem tão conectadas quanto as outras, que se comunicavam por meio de aparelhos de última ge-ração, para combinar progra-mas, disseminar fofocas ou trocar ideias: o computador e os telefones convencionais já eram considerados obsoletos, como meios de comunicação. A pressão para fazer parte de uma rede de relaciona-mentos também é grande, bur-lando a lei da idade mínima: “Todos os meus amigos fazem parte, só eu vou ficar de fora? Maria Tereza Maldonado (*) Vou ser discriminado!” argu-menta o menino de nove anos, ansioso por divulgar as fotos da viagem de férias, sem a menor noção dos riscos, envolvidos pela superexposição de infor-mações sobre a vida pessoal. Em seu livro Vida para consumo, o sociólogo Zygmunt Bauman, profundo estudioso da sociedade contemporânea, diz que vivemos em uma sociedade que estimula a nudez física e psíquica. Por conta disso, as pessoas passam a expor deta-lhes de sua vida privada em pú-blico. “Se eu posso dar o que eles pedem, por que não?”, questionavam algumas mães temerosas de frustrar desejos imperativos por objetos consi-derados indispensáveis. “Mãe, quando você era criança essas coisas nem existiam, mas agora não dá para viver sem isso!”. E
  • 9. E o que fazer com a preocupação de ver os filhos ex-cluídos do convívio, por não trocarem mensagens o dia todo pelos smartphones? O bullying manifestado pela exclusão dos que não possuem os objetos considerados essenciais é uma realidade em muitas escolas, re-velando as práticas discrimina-tórias presentes na sociedade que despreza quem “tem menos”, mesmo que “seja mais” (inteligente, interessante, solidário, entre outras qualida-des pessoais). “Você não é todo mundo!”; “eu não sou todos os pais que deixam os filhos terem ou fazerem o que você está que-rendo!” – estes são os argumen-tos tradicionais que os pais apresentam para reforçar o “não”. Mas o desafio precisa prosseguir, para incluir uma reflexão crítica sobre o consu-mismo e o fortalecimento de recursos, para que a criança consiga se incluir nos grupos, mesmo sem os objetos de de-sejo cultuados. A simples posse desses objetos não garante a inclusão no grupo, até porque rapidamente estes são substituí-dos por novos modelos, tor-nando o anterior (e o seu dono) descartável. Convidei esse grupo de mães preocupadas, a imaginar uma situação infelizmente cada vez mais comum já no início da adolescência: “Pai, se não tiver cerveja na minha festa de ani-versário, ninguém vai apare-cer!” “Todos os meus amigos dirigem o carro dos pais com quinze anos, por que vocês não deixam que eu aprenda logo de uma vez?” E, então, nessas si-tuações desafiantes, os pais vão ceder aos desejos dos filhos, para que eles sejam su-postamente aceitos pelo grupo, mesmo que isso envolva riscos e ações impróprias para a idade? É bom saber que, no cé-rebro adolescente, a percepção de risco e a capacidade de auto-proteção ainda estão em cons-trução. É igualmente importante lembrar que os pais são amo-rosa e legalmente responsáveis pelos seus filhos. Mais importante do que ceder aos desejos do filho é convidá-lo a desenvolver a inte-ligência dos relacionamentos. Como pode convencer os ami-gos de que vale a pena irem à sua festa de aniversário, mesmo sem bebidas alcoólicas? Como continuar sendo aceito pelos amigos, quando recusa as dro-gas que passam a circular livre-mente entre eles? Como desenvolver recursos pessoais para construir uma sólida au-toestima e se apresentar como uma pessoa de valor, mesmo sem usar roupas e acessórios de marcas prestigiadas? Aprender a transitar entre a necessidade de pertencer a um grupo e o trabalho de construir uma identidade pessoal, fundamentada na ética do ser, é uma das grandes con-quistas do desenvolvimento de todos nós. (*) Mestre em psicologia, escritora e membro da Associação Brasileira de Terapia Familiar
  • 10. A ARTE DE EDUCAR O escritor, pales-trante, especialista em re-l a c i o n a m e n t o comportamental e inter-pessoal, Antônio Roberto escreveu o artigo abaixo, em resposta a uma mãe de nome Ana Maria, de Con-tagem, MG, que lhe disse: “Estou confusa e bastante temerosa na educação dos meus filhos. Atual-mente, muita coisa vem nos assus-tando e tenho medo de orientá-los de forma errada”. Educar nunca foi uma ta-refa fácil. Hoje, porém, a relação educadora entre pais e filhos se re-veste de maior complexidade e maiores desafios. Nós, pais, não fomos preparados para o mundo atual, globalizado, em profundas mudanças. Antigos valores, arrai-gados em nossas cabeças, como obediência, proteção e controle, estão dando lugar a novos valores, como autonomia, individualidade, capacidade de escolher e mobili-dade. Recebemos diariamente inúmeras cartas de pais falando da dificuldade de educar os filhos. Queixam-se da timidez, da rebel-dia, da teimosia, da agressividade das crianças e dos adolescentes. Todos nós sabemos que os filhos são resultados dos pais. Talvez daí a preocupação que temos na cria-ção dos filhos. Eles são aquilo que fizemos deles. Um exemplo vale mais que mil palavras. Os filhos aprendem com o que somos e não com o que falamos. É um grande desafio darmos exemplo dos valo-res que pregamos, estabelecer limi-tes de convivência com as crianças e jovens, criar pessoas melhores que nós, em um mundo de profun-das convulsões e mudanças. A educação dos filhos, porém, não pode ser objeto de tanta ansiedade. Para começar, de-vemos considerar nossa imperfei-ção humana e, por conseqüência, não existem pais perfeitos nem filhos perfeitos. E a grande tarefa paterna e materna é o próprio cres-cimento. Algo que atrapalha consi-deravelmente nesse assunto é a idéia de que os pais, por serem adultos, nada têm a aprender. Du-rante um encontro com jovens, pesquisei o que mais os incomo-dava na relação com os pais. A grande maioria respondeu que era o fato de os pais saberem tudo. A única alternativa hoje, em todos os campos, e especificamente na edu-cação, é os pais se deslocarem da fixa posição de ensinar e viajar um pouco no espaço do aprender. São inúmeras as publica-ções hoje disponíveis sobre o as-sunto. A maioria dos pais nunca leu um livro sobre educação e, às vezes, nem acha que isso é impor-tante. O resultado é que a única ba-gagem de que dispõem é a educação que tiveram, numa outra época e com pais que também não aprenderam a educar. Um norte-americano, Alvim Tofler, escreveu um livro, há 35 anos, chamado Choque do futuro. Ele dizia: “Nos próximos anos, haverá uma mudança tão intensa na sociedade, tão profunda, tão rápida e tão global, que as Maria Tereza Maldonado (*) pessoas ficarão chocadas”. Não há um lugar onde esse choque ocorreu com tanta intensidade quanto na educação. Há hoje uma verdadeira revolução na relação com as crian-ças e jovens. A educação tradicio-nal se baseava em duas finalidades principais: ensinar o filho a subsis-tir e, para isso, ensiná-lo a compe-tir. A nova educação parte de outro pressuposto. Se o objetivo fundamental da vida é a felicidade, não basta o sucesso social e mate-rial. Temos de educar o filho tam-bém para o sucesso pessoal. Educá-lo enquanto pessoa signi-fica educá-lo para a felicidade. E, por isso mesmo, a ênfase no valor da autonomia. Ensinar o filho a es-colher, em vez de escolher no lugar dele. Daí a importância de valori-zar o emocional. Não adianta nos-sos filhos obterem muitas informações (e isso o mundo lhes oferece com muita competência pela Internet e outros meios digi-tais) se não tiverem inteligência emocional. A felicidade e o amor à ca-pacidade de se relacionar bem fazem parte do campo psicológico. Educar o filho psicologicamente para a vida é um dos maiores desa-fios da sociedade hoje. Para isso, como pais, também deveremos crescer emocionalmente, ou seja, aumentar nossa capacidade de nos relacionarmos com os filhos com amor, bondade e verdade. Nossos filhos serão o que nós formos no processo de nosso desenvolvi-mento. O
  • 11. É quase unanimi-dade entre nós, brasilei-ros: o país não padece de carência de leis. Leis, nós as temos em excesso. O que não temos é Estado que as faça cum-prir. Nem mesmo o direito mais comezinho numa democracia, o di-reito de ir e de vir, nós o temos ga-rantido: quaisquer 3 ou 4 gatos pingados, por razões que absoluta-mente não nos dizem respeito, fecham uma via pública, rua ou es-trada, interditam prédios, privados ou não e todos nós, bovinamente, temos que nos submeter. É o pa-drão Brasil. Pois bem, para alegria daqueles que não prescindem da tutela enxerida do Estado, depois de acaloradas discussões, de absur-das expectativas, e também do inconformismo pela intervenção de um Estado burocraticamente usurpador, eis que, dia 26 de junho passado, materializou-se na Lei 13.010 o Projeto de Lei 7672/2010, conhecido como Lei da Palmada. Limitando-se basicamente a alterações na Lei 8069, de 13.07.90, documento que criou o Estatuto da Criança e do Adoles-cente, de “palmada” mesmo não tem nem menção. Mas, para não fugir da demagogia barata, recebeu o nome de “Lei menino Bernardo”, atrelando-se, desca-rada e indevidamente a morte do garoto à aplicação desmesurada de um costume discutível, mas que ainda persiste, algures, como “re-curso educacional” em nosso país. (Por oportuno, o menino Bernardo, aqui homenageado, é aquele garoto gaúcho de 11 anos de idade, que poderia ter sido salvo, quando recorreu ao Poder Público de sua cidade, contra as iniquidades que estavam sendo perpetradas contra a sua pessoa, no recinto daquilo que era o seu lar de criança órfã de mãe. Acabou bar-baramente assassinado, num con-luio de pai, madrasta e amigos: essa a conclusão da polícia). Em nenhuma ocasião sus-peitou- se, na mídia ou fora dela, de que o garoto perdeu a vida porque tenha sido vítima de tratamento equivocado, eivado de normas educativas desvirtuadas e antisso-ciais; morreu porque o mataram, a sangue frio. E se queriam mesmo homenageá-lo, que se desse o nome de “menino Bernardo” ao Código Penal Brasileiro. É ali, no Art. 121, que está catalogada a ação monstruosa que lhe tirou a vida: “Matar alguém”. E a que se prende essa nova Lei? Basicamente “assegu-rar às crianças e adolescentes o direito de serem educados e cui-dados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degra-dante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou pro-tegê- los.”O legislador teve o cui-dado de definir que castigo físico é aquela “ação de natureza discipli-nar ou punitiva, aplicada com o uso de força física sobre o edu-cando, que resulte em sofrimento físico ou lesão”: é aí que o Estado vai encaixar a palmada. Então, te-remos os questionamentos: palma-das, sendo variadas, não têm o mesmo poder deletério. Tem a “palmadona” e tem a “palmadi-nha”. Quem irá avaliar o potencial de sofrimento da palmada? O de-legado? O Promotor? O psicólogo? O Conselho Tutelar? Será criada a “palmabrás”, para unificar os con-ceitos em todo o país? Se o nosso Código Penal, que já cuida “das lesões corporais e da periclitação da vida e da saúde”, assegurando penas de de-tenção e reclusão aos autores des-ses crimes, não consegue ter eficácia, imaginemos a força dessa nova lei, onde ela, as penas, resu-mem- se a por encaminhamento dos autores a cursos e programas correcionais, tratamento psicoló-gico e advertência. Eu me pergunto: nos re-motos rincões deste imenso Brasil, carentes até de professores do pri-meiro grau, quem serão os juízes dessas ações? Tenho por mim que essa é uma lei que, perdida em meio ao nosso cipoal jurídico/jurássico, não vai pegar. Como inúmeras outras neste país. (*) Associado da EPB / BH LEI DA PALMADA, LEI MENINO BERNARDO Abílio Campanha Botelho (*) É
  • 12. Filhos podem nos proporcionar vi-vências e experiências afetivas de riqueza incalculável. Fazem-nos refletir sobre pontos de vista dos mais variados, nos mostram o quanto conseguimos ser tanto frágeis como fortes, irritadiços e pacientes, largados e neuróticos, permissivos e superprotetores. Costumamos ter, dessas características, algumas mais marcantes que outras, o que pode tornar nossas relações mais tranquilas ou mais confli-tuosas. O fato é que, não im-porta como sejam, é raro encontrarmos pais e mães que, apesar de todas as dificuldades por que já passaram, por causa de seus filhos e decepções com a paternidade e maternidade, prefeririam nunca tê-los tido. Porém, alguns buscam na experiência de ter filhos, o preenchimento do vazio que a vida a dois, muitas vezes, pode trazer. Os filhos se tornam o centro das atenções, quando o saudável seria fazer de toda a família a peça principal. O relacionamento do casal não deve ser negligenciado, pois quanto mais equilibrado, mais sucesso terá a dinâmica fami-liar. O que se vê, muitas vezes, são casais que se sentem perdidos, quando os filhos cres-cem e deixam o núcleo familiar, indo morar sozinhos ou com ou-tras pessoas. Ao mesmo tempo em que é esperado, e até certo ponto desejado, (que um dia os filhos deixem a casa paterna), muitos pais se deprimem quando caem na realidade e per-cebem que não mais adminis-tram a vida das “crianças”, como fizeram du-rante tanto tempo. E o pior, terão de administrar, a partir da-quele momento, a vida a dois. O que fazer quando resta apenas o casal, sozinho, dentro de casa, em meio a quartos e lugares à mesa vazios? Qualquer relação sofre inúmeras modificações ao longo das décadas, o que nos impede de responder que seria possível voltar a viver como era no início do casamento (o que deve ser visto como uma vanta-gem). Descobre-se que os fi-lhos que vieram para preencher o vazio na relação do casal, se foram, deixando um vazio ainda maior, pois enquanto o casal se dedicava apenas ou principal-mente a educá-los e amá-los, se esqueceu de alimentar a própria relação ou optou por negligen-ciar as necessidades inerentes da vida a dois. Os pais costumam ainda cobrar dos filhos uma atenção maior; afinal, se dedicaram toda a vida a eles, filhos, é dever e hora de receberem a recom-pensa. Os conflitos que se ini-ciaram lá atrás, entre o casal, que não sabia o que fazer sozinho, sem filhos, se agravam agora: afinal, um vazio preen-che- se apenas por aquele que o sente, independentemente de quem esteja ao seu lado, seja seu cônjuge, filho, pai, mãe, qualquer um a quem se ame. (*) Jornalista, Mestre e Doutora em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informa-ção da Universidade de Minas Gerais, colunista do jornal “Estado de Minas FILHOS - PARA QUE TÊ-LOS Patrícia Espírito Santo (*) F “Os pais costumam cobrar dos filhos uma atenção maior”
  • 13. CASAIS PRECISAM FICAR ATENTOS AO QUE FALAM COM E PERTO DOS FILHOS A n t i g a m e n t e as crianças dormiam cedo, comiam separado e quando se intrometiam na con-versa dos adultos ouviam: “Isso não é assunto de criança”. Os papéis eram definidos e os pais não tinham tantas dúvi-das. Hoje, época em que todos querem ser jovens, e em que vemos garotos e garotas, imatu-ros, já montando família, a distân-cia entre pais e filhos diminuiu tanto, que os casais se atrapalham ao definir o que podem ou não falar com as crianças. E isso, cá entre nós, é um assunto muito im-portante. Claro que essa defini-ção depende da idade dos filhos. Crianças pequenas devem ser pou-padas de problemas, devem ter a certeza de que os pais estão ali para protegê-las. Por isso, é prudente o casal evitar brigas na frente delas e, mais que isso, brigas em função de algo relacionado a elas, uma de-sobediência, por exemplo, o que causa enorme ansiedade na criança. Mas também não é o caso de nunca deixar o filho saber de nada. Não deve haver fingimento. Se a criança vê que os pais não se falam e pergunta à mãe: “Você está com raiva do papai?”. Ela deve responder natu-ralmente: “Sim, estamos brigados, mas você não precisa se preocu-par, vamos resolver entre nós, fique tranquila”. Pais podem e devem de-monstrar se estão tristes ou alegres. No caso de uma perda, um animal que morre, uma doença na famí-lia, a criança deve ser informada e incentivada a expressar sua tris-teza. Se acontece uma grande ale-gria, um casamento, um novo irmão, também deve poder ficar alegre, se congratular. É sempre bom expressar sentimentos, o que não é bom é que a criança par-ticipe de fofocas ou se preocupe com disputas familiares. Esses não são assuntos para as crianças. Com elas, outras conversas podem ser incentivadas. Sobre a história da família, por exemplo. Elas precisam saber quem são ou foram seus avós e bisavós, de que culturas vieram, como foi a infância dos pais, como era sua vida quando tinham a idade deles. Isso dá estrutura, ajuda a va-lorizar as origens. Também não é ruim conversar sobre a vida finan-ceira da família, desde que não seja para se queixar . Haveria assuntos proibi-dos? Sim. Entre eles, criticar um dos pais ou avós, reclamar de falta de dinheiro, atribuir culpa ao pai ou à mãe pela vida que a famí-lia leva e dar detalhes sobre a vida sexual dos pais. Este último tema costuma surgir quando há uma separação e o pai ou a mãe, empolgados com um novo romance, começam Leniza Castello Branco (*) falar sobre sua vida íntima. Que-rem ser amigos dos filhos, mas não é o caso. Pai e mãe não são “os amigos”, são pai e mãe para sem-pre. Se acontecer uma separa-ção, os filhos devem ser postos a par, mas sem detalhes e nunca expressando raiva ou culpando o parceiro. Deve ficar claro que foi o casal que se separou e que nin-guém se separa de filho. Na adolescência, surgem outras questões. Hoje é comum adolescentes terem pais que querem ser tão jovens quanto eles. Isso é um problema. Mesmo que vivam momentos parecidos, como novos romances, esse não é um assunto, como já foi dito, para filhos. Pais que querem viver uma segunda adolescência, junto com a dos filhos, e se vestem como eles, frequentam os mesmos luga-res, esquecendo que são pais, causam insegurança nos jovens, que também não irão que-rer crescer. Pais maduros, que vive-ram a adolescência na época certa, por sua vez, podem ajudar os filhos a crescer e a assumir suas responsabilidades. (*) Psicóloga e Analista Junguiana na capital paulista, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA) Fonte: Revista Caras / 07 Ago 2013 A
  • 14. BRINCADEIRA SÉRIA: CRIANÇAS, MÍDIA LOCAL E SUSTENTABILIDADE (*) Rodrigo Scapolatempore É um grande cli-chê falar que as crianças são o futuro do país. Mas um clichê necessário. Acontece que muito mais do que futuro, elas devem nortear o nosso presente e nos tornar pessoas melhores; cida-dãos comprometidos com nossa comunidade. Sejam nossos filhos, sobrinhos ou irmãos, os pequenos devem ser nossa maior motivação para pensarmos em criar, agora, um mundo melhor. E, como sem-pre defendemos, o mundo melhor passa, necessariamente, e priorita-riamente, por nossa vivência local, pela vizinhança e pelo exercício da “micro-cidadania”. “Micro-cidadania?” Você deve estar se perguntando. Sim, é isto mesmo, e no bom sentido. Trago este termo ousado para re-forçar que é no nosso “menor am-biente” de convivência, ou seja, com a família, em casa, no seu pré-dio e no bairro, que começamos a dar exemplo, a partir de nossas re-lações sociais mais próximas. E o termo, a bem da verdade, não tem a ver com menos comprometi-mento ou com mínimo esforço-ci-dadão. Muito pelo contrário. Tem a ver com fazer mais com menos. Afinal, não dá para pensar numa cidade harmoniosa se o seu bairro, ou sua vizinhança, está um caos. Certo? E as crianças, o que têm com isso? Elas são simplesmente o exemplo vivo do produto social que, em breve, teremos criado. É por isso que as mídias locais devem atuar, com orgulho, sempre em prol da família e da cidadania, voltadas ao bem estar local. Com a atuação conjunta de imprensa, mo-radores e comerciantes, associa-ções e poder público, é possível fazer do seu bairro e da sua vizi-nhança um local ainda melhor, hoje, agora, e, assim, no futuro. Por isso, é necessário que as mídias segmentadas divulguem com mais afinco várias ações de entidades locais que protegem nos-sas crianças carentes e acreditamos que esta é uma das missões mais nobres do jornalismo comunitário. Incentivar a inserção dos pequenos na política mirim é um dos grandes passos que podemos dar em dire-ção ao verdadeiro processo da sus-tentabilidade. E as escolas, no seu dever, precisam entender a impor-tância de incentivar o jornal local que, como mídia séria e de credi-bilidade, deve direcionar sempre seu norte aos conceitos que os edu-cadores atuais tanto procuram. (*) Editor-Chefe do Jornal do Gutierrez, presta consultorias na área de jornalismo comunitário e empresarial. É
  • 15. Ao falarmos de família, de sua constru-ção, de seus anseios e di-ficuldades, nos deparamos, muitas vezes, com um complexo de situa-ções que nos faz pensar com quem dividir nossas dúvidas, a quem buscar, a quem recorrer. Pen-sar, enfim, em quem poderia nos auxiliar, trazendo soluções para problemas difíceis. Aí é quando nos remete-mos à nossa fé e buscamos, na pessoa de Jesus, (independente-mente de credo religioso), um caminho a seguir. A história nos conta que Jesus veio para nos salvar, dando sua própria vida por nós. Mas, em sua passagem pela terra, Ele apli-cou métodos que facilitaram sua comunicação com as pessoas, homens, muitas vezes, duros de coração, difíceis, resistentes aos ensinamentos. Podemos dizer que Jesus foi um pedagogo, usou a pedago-gia da Flexibilidade, ou seja, sua metodologia se adaptava a uma situação determinada. Especificamente, seu mé-todo apresentava o conteúdo de seu ensino, o Reino e seu projeto de amor, e sua própria identidade. Raramente fazia discursos ou pregações de “Comunicação unilateral”, como costumamos dizer. Ele ensinava a partir de uma situação específica: uma conversa, uma pergunta, uma necessidade e, muitas vezes, a partir da resistência de seus ouvintes. Suas parábolas entravam no imaginário do outro e davam respostas às mais variadas pergun-tas. Fazendo uma analogia com os dias de hoje, Jesus, como mestre pedagogo, nos mostra atitu-des que as famílias (pai/mãe) devem ter para com seus filhos, visando um maior e melhor enten-dimento. Senão vejamos: 1 - Adotar o ensino personalizado, centrado na criança, atendendo às suas dúvidas, às suas necessida-des, derrubando expectativas, usando linguagem prática e ilustrada, fazendo com que o ensino se torne mais acessível e compreensível. 2 - Ensinar através de métodos e recursos variados, usando repeti-ções, simbologias, trocadilhos, me-táforas, provérbios, comparações, enigmas, parábolas, etc.( Jesus, di-versas vezes, para auxiliar a com-preensão de sua mensagem, fazia uso da linguagem visual, sementes, passarinhos, campos, montanhas, moedas, peixes, água, etc.), enfim, optar pelo ensino baseado na re-flexão. 3 - Despertar na criança a curio-sidade, ou seja, responder aos questionamentos com um novo questionamento, assegurando ao ouvinte tirar suas próprias conclu-sões, sempre orientando com o ensinamento centrado em valores familiares próprios. 4 - Ensinar, a partir do relaciona-mento afetuoso, da interação com o outro, de uma forma autêntica. Demonstrar, através de uma convi-vência positiva e afetuosa, princí-pios e formas para um diálogo franco. 5 - Lembrar, sobretudo, que o en-sinamento de Jesus (que hoje serve para nós, pais) se dava pelo próprio exemplo: a) “Orem como eu oro”; b) “Amem como eu os amo”; c) “Sirvam como eu sirvo”; d) “Carreguem sua cruz como eu carrego a minha”; e) “Cuidem das ovelhas assim como eu o faço”. Seguramente, os melhores mestres/pais são exemplos vivos do conteúdo de seu ensino, algo que arrasta, não simplesmente “gente”, mas “homens” prontos a exercerem o aprendizado. Assim, como pais, deve-mos pensar acerca da nossa missão e, a partir do Mestre Jesus, procu-rar seguir seus ensinamentos, tão atuais e significativos nos dias de hoje... e amar... como Jesus. (*) Advogada, Educadora, Pós-graduada em Direito Educacional, Casal DR / EPB / São A FAMÍLIA... FRUTO DO AMOR DE JESUS... O VERDADEIRO PEDAGOGO Regina Lustre Azevedo Gabriele (*) A
  • 16. A família é um sistema vivo, formado por suas partes que são os subsistemas. Subsistema pai, sub-sistema mãe e subsistema filhos que, juntos, formam a família. A existência dos filhos só é possível a partir das partes pai e mãe. Ao nascer, o bebê não tem condições próprias de sobrevivência e neces-sita ser alimentado, cuidado e pro-tegido por outras pessoas. Assim, além dessas partes (subsistemas pai, mãe e filhos) existirem, é essencial que desempenhem suas funções (filhos precisam de pais atuantes/presentes), umas em relação às outras. E isso é possível através das relações. Existem relações dentro das famílias e dessas com outros sistemas maiores (escola, igreja, trabalho, clubes, etc.). Podem-se ver famílias que fazem uma boa troca com ambientes externos. Ou-tras são completamente fechadas, presas em si mesmas, impedidas de crescer e não permitem que seus membros cresçam com o mundo. Temos aqui uma paranóia sutil, como se o mundo representasse uma ameaça. Por outro lado, encontram-se, também, famílias excessiva-mente abertas, as quais se tornam vulneráveis, pelo grande número de invasões sofridas. O que dife-rencia o primeiro do segundo exemplo acima são os tipos de fronteiras, também chamados de limites. Esses são estabelecidos pelas famílias, no seu interior e com os outros sistemas externos. As fronteiras garantem as diferenciações e o processo de individuação dentro da família. Fazer parte de uma família signi-fica compartilhar regras, costumes e valores, mas a diferenciação/ individuação é importante, pois se trata do processo de permissão para cada membro ter suas carac-terísticas particulares, que serão construídas ao longo da existên-cia. Assim, é imprescindível que as fronteiras familiares tenham certo grau de permeabilidade (nem muito aberta e nem muito fechada), permitindo as trocas den-tro da família e com sistemas maiores. O nascimento de uma criança na família iniciará uma re-lação, daqueles que protegem com aquele que precisa ser cuidado e protegido. Assim, filhos pequenos precisam ser protegidos e os pais precisam desempenhar esse papel de protetores. Mas à medida que os filhos vão crescendo, haverá a necessidade de se mudar essa rela-ção. Os pais passarão de uma po-sição mais ativa para uma mais passiva, ou seja, de protetores a consultores, para uma função de suporte e apoio. Os filhos, de pro-tegidos a consultantes, caminham para sua libertação e individualiza-ção. Esse movimento fica claro na adolescência e a presença de gru-pos de colegas, da escola, das “baladas” fica cada vez mais evi-dente. A entrada desses grupos é extremamente importante para ajudá-los no processo de indivi-duação e afirmação da sua singu-laridade. Inicia-se a vontade de pensar e expressar diferentemente da família. É a primeira tentativa, mais forte, de constituir um EU, de buscar uma identidade própria, daí a importância da entrada de diver-sos ambientes externos. Por isso é que a flexibili-dade dos pais para a abertura das fronteiras e permissão de trocas dos filhos com outros ambientes é necessária. Além disso, o respeito à privacidade dos filhos (criar fron-teiras, também, entre os membros da família) deve ser ressaltado, principalmente, nessa fase. Filhos têm direito a intimidade e nem tudo será contado aos pais, assim como esses, também, não devem contar tudo da sua intimidade aos filhos. Pais não são “os amigos” dos filhos. Fronteiras no interior da família e dessa com outros am-bientes (nem abertas demais e nem fechadas), serão a possibilidade de construir relações mais saudáveis e respeitosas. (*) Psicóloga Clínica com formação em Psico-terapia Familiar Sistêmica Camila rl2@hotmail.com www.camila-lobato.blogspot.com FRONTEIRAS FAMILIARES Camila Ribeiro Lobato (*) A
  • 17. Se receber críticas, a criança pode passar a omitir os acontecimentos aos pais. Mas, se for incentivada a refletir sobre seus atos e a confrontá-los, ela mesma, com o que aprende deles, vai revê-los e a análise dessa revisão tende a levar a uma mudança de atitude. Tal mudança deve ser acompa-nhada pelos pais, estimulada e reforçada positivamente. É nos diálogos diários e no acompanhamento de todo o pro-cesso de construção de valores e crenças - e também no acompanha-mento dos processos de revisão e mudança de hábitos e atitudes inadequadas da criança - que os pais vão saber, claramente, como estão seus filhos e como eles se comportam dentro e fora de casa. Aí está a base de uma edu-cação sólida. Essa educação, assim construída, requer um trabalho cotidiano. Deixar acumular as experiências e atitudes negativas ou indesejáveis da criança pode fazer com que elas se enraízem e se cristalizem, o que dificulta os processos de mudança. Se a sociedade influencia a família, por outro lado, a família também influencia a sociedade. A família tem a primazia nos processos educacionais. Ela tem o privilégio, dentre todas as institui-ções que visam a educação e o aperfeiçoamento humano, na cons-trução de personalidades responsá-veis e saudáveis, sob todos os pontos de vista. É preciso que a família assuma, urgentemente, sua responsabilidade na formação de cada um de seus membros, para que possamos ver uma sociedade mais humana e educada. (*) Psicóloga, professora de psicologia, escritora
  • 18. A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E OS AMBIENTES EXTERNOS Externo e interno: qual é a distância entre eles? Crianças e jovens apren-dem com seus pais, principal-mente, a partir do que observam e, vão extraindo, em seu cotidiano, de suas falas e atitu-des - o que se dá no decorrer de dias, meses e anos, seja na mesa de refeição, na sala de TV, nos passeios, comemorações etc. Os pais, em geral, tecem comentários e analisam fatos, desde os mais corriqueiros até os de cunho político, econô-mico, esportivo, religioso e moral. E é, nesses momentos, que influenciam seus filhos significativamente, semeando ideias e sentimentos, contri-buindo para o direcionamento de suas escolhas futuras. A família, compreen-dida como um microcosmo social, é igualmente estruturada por regras, direitos, valores e tradições - uma construção que se dá num tempo e num espaço específicos. Assim, muito do que serviu para as gerações anteriores, passa por inevitáveis mudanças na criação de novas estruturas familiares: desde a arquitetura da casa, sua decora-ção e utensílios, até o tipo de comunicação do grupo familiar, a escolha de metas e a maneira de se educar filhos. Os determinantes sócio-históricos são considerados os principais organizadores da família. Estudos apontam para o seu surgimento, seus conflitos, suas transformações, desestru-turações e reestruturações em diferentes períodos e culturas humanas. Assim, as funções paternas e maternas, as expecta-tivas de realização social dos filhos, ou seja, as regras exter-nas vão sendo construídas, cul-turalmente, pelos homens e determinam a rota e o mapa a se desenhar e a se cumprir também no âmbito familiar. De tempos em tempos novos designs apa-recem, não sem conflitos e de-safios, pois a história segue como se tivesse vida própria. Cabe ao homem compreendê-la, reconhecendo-se como um dos protagonistas de sua cons-trução. Maria Cristina Fellet (*) Assim sendo, em toda cena familiar, adultos conver-sam sobre os fatos políticos, econômicos e sociais de seu tempo, com maior ou menor senso crítico, com argumentos bem alicerçados ou não; cientes ou não da diversidade de pontos de vista. É aqui que os filhos, sem mesmo o saberem, vão moldando o seu olhar, sua per-cepção, o seu interno. E quem sabe, no futuro, irão reconhecer a possível força construtiva que poderão exercer em sua escola, família e trabalho ... ou não. Externo e interno: faces de uma mesma moeda! Hoje, como sempre, cada indivíduo se forma a partir de ideias e opi-niões compartilhadas pelo seu grupo social. Nos tempos atuais, com o advento da internet, constata-se uma verdadeira invasão de informações, que são, segundo os analistas, tão grandes em número quanto em superficiali-dade....
  • 19. Será que existe um filtro para que muitas dessas informa-ções possam ser excluídas (as desnecessárias) e aquelas, con-sideradas pertinentes e de “boa fonte,” possam virar conheci-mento? E, ainda, com maturi-dade e aprofundamento, se transformarem em sabedoria? Porque o conhecimento é uma tradução, uma decodificação, um esforço cognitivo que ana-lisa e transforma as informações recebidas. Já a sabedoria é a uti-lização desse conhecimento, sustentada por valores humanos essenciais. Portanto, ao se discutir a influência dos ambientes exter-nos na convivência familiar, é importante compreender que o ambiente interno, ou seja, a sub-jetividade, será sempre formada nesse contexto e a partir dele. Considera-se que uma informação que chega ao coti-diano familiar pode produzir, da mesma forma, um comentário preconceituoso ou crítico, vio-lento ou respeitoso, com bases autoritárias ou democráticas, idealizando, mesmo, ações des-trutivas ou solidárias. Crianças e jovens ficam atentos, às vezes sem perceber, às conversas informais dos pais acerca do mundo externo. Atitu-des das mais diversas ordens vão sendo “engravidadas” e gestadas a partir daí. Pensar, sentir e agir – eis aí, portanto, um tripé construído a partir de agentes externos. E se tais agentes forem avaliados criticamente, com respeito à intersubjetividade e ao direcio-namento ético, eles poderão, certamente, organizar “inter-nos” na direção do bem comum. Trata-se da aventura humana que desafia alcançar os seus mais almejados pilares - simul-taneamente externos e internos - os da liberdade, da igualdade e da fraternidade. (*) Psicóloga
  • 20. A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E OS AMBIENTES EXTERNOS: UMA INFLUÊNCIA RECÍPROCA É sabido que o meio externo exerce grande influência sobre a família. A sociedade, com todos os seus aparatos de comuni-cação, influencia a família em suas crenças, valores, modo de vida, relações e hábitos. Muitas vezes essa influência é negativa. Então a família precisa parar e discutir, entre seus mem-bros, questões sociais importantes e confrontá-las com seus hábitos, valores e crenças, inclusive os ético-morais; esquecemo-nos, porém, de que essa influência não é unilateral, ela é recíproca: a sociedade influencia a família e a família influencia a sociedade. Como a família influencia a sociedade? Que influências nega-tivas ela exerce no meio externo, fora dos muros familiares? Vivemos uma época em que a responsabilidade da família em educar seus membros tornou-se relativa; a tarefa de educar tem sido confiada a terceiros; ela está entregue a babás (virtuais, inclu-sive), creches, etc. Essa desatenção de alguns pais com a educação de seus filhos pode trazer consequências indese-jáveis, não apenas nas relações familiares, mas, também, na socie-dade mais ampla. Diariamente lemos notícias de atos de vanda-lismo e de violência que ocorrem em nossas ruas, vizinhanças, centros comerciais e vias públicas. As brigas e discussões podem se iniciar por motivos banais, total-mente contornáveis. Onde está o bom humor? O bom senso? O res-peito por si mesmo e pelo outro? Onde estão as famílias de pessoas que perdem o autocontrole nas vias públicas, nos espaços sociais? É na família que aprende-mos o respeito, a ética, a cidadania, a sustentabilidade, a ter cortesia dentro e fora de casa. São os pais, principalmente com seus exem-plos, mais do que com palavras, que passam valores a seus filhos. A partir da assimilação desses valo-res e da prática deles em todos os ambientes, a vida social se torna mais agradável. Na família apren-demos a usar as coisas sem dani-ficá- las e a preservar os bens públicos, a contornar pequenos problemas e a evitar grandes discussões, inclusive nos relacio-namentos sociais e de trabalho. A família precisa pensar nas relações que estabelece entre seus membros e em sua atuação no meio externo. Esses apenas repro-duzem, nos espaços públicos, aquilo que vivenciam nas relações mais íntimas. Violência gera vio-lência e, às vezes, forma-se uma bola de neve que invade todos os espaços da sociedade e cresce imensuravelmente. É na família que reside uma das mais poderosas estratégias para a modificação desse quadro: o compromisso com a educação e a formação ético-moral dos filhos. Todas as divergências, por Stefânie Arca Garrido Loureiro (*) maiores que sejam e mesmo que envolvam muitas pessoas e grupos, começam no indivíduo; a educação desse indivíduo esteve sob a responsabilidade de seus pais ou daqueles que lhes substituíram. Essa educação começa na infância, desde o primeiro ano de vida e segue até a fase adulta. A Psicologia mostra a impor-tância da convivência familiar nos primeiros anos de vida da criança. O famoso psiquiatra e pesquisador, Erik Erikson, enfatiza determina-dos sentimentos e habilidades que são adquiridos, especialmente, nos primeiros anos de vida. Dentre eles está a noção de certo e errado, a base para a moralidade, para a cria-tividade, para a capacidade de crer - de ter fé em algo - a iniciativa, a autonomia, a confiança em si e nos outros. É importante que os pais estejam presentes e que acompa-nhem cada momento da vida de seus filhos. É necessário abrir, diariamente, espaço para o diá-logo, para que a criança e o adoles-cente falem de suas experiências fora de casa, de seu dia, de seus sentimentos. Não se deve ter uma posição crítica, mas acolhedora. A postura dos pais deve levar a criança, se necessário, a pensar no que fez e que ela mesma avalie, sob o olhar firme e afetuoso deles, se o que fez durante o dia foi adequado e condiz com o que aprendeu. O
  • 21. INFLUÊNCIAS DA MOBILIDADE URBANA E DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL NA CONVIVÊNCIA Dentre os onze países mais populosos, o Brasil é o que apresenta a maior taxa de população urbana do mundo, atingindo o valor de 84,4 % no censo IBGE 2010. Como consequência, as cidades estão cada vez maiores, aumentando a distância entre a residência das pessoas e os seus locais de traba-lho, de lazer, de educação e dos centros de saúde. Mais tempo se perde para o ir e vir. Menos tempo se tem para o convívio familiar. Em um passado próximo, onde as cidades eram menores e mais acolhedoras, as famílias eram maiores e seus membros moravam mais perto entre si; avós, tios, ir-mãos, primos e demais pessoas da confiança dos pais serviam e aju-davam no apoio e na rotina diária da criação dos filhos. Com a concentração da população urbana, segundo o IBGE, a formação clássica da fa-mília, ‘casal com filhos’, deixou de ser maioria no Brasil. Hoje predo-minam outros tipos. As famílias são pequenas, formadas por casais sem filhos, ou formadas por um dos genitores e seus filhos. A mu-dança na constituição familiar re-flete os avanços sociais, sanitários, culturais, políticos e econômicos que têm a cidade como fonte. Com a família menor, a cidade com diversidade urbanística e arquitetônica é ainda mais desejável. A família pequena pre-cisa do apoio das disponibilidades coletivas. Para ela torna-se essen-cial uma cidade bem mantida, bem conservada, mais densa, que ofe-reça espaços públicos com vitali-dade e que permita a solidariedade humana, nas várias faixas etárias e camadas sociais. No entanto, o que ainda observamos na organização territo-rial da maioria dos municípios mais habitados, é a cidade extensa, com a implantação de novos bairros, de grandes conjuntos habi-tacionais, de grandes condomínios, socialmente homogêneos e mono-funcionais. Isso exige sistema de mobilidade urbana capaz de satis-fazer o desejo de deslocamento das pessoas. Nesse sentido, acredita-mos serem positivas e necessárias a implantação e manutenção de mais e melhores meios de trans-porte coletivo (sobre pneus e sobre trilhos); mais e melhores calçadas para os pedestres; mais e melhores ciclovias; e, mais e melhores pla-nejamentos e ocupações territoriais das cidades. Os congestionamentos são cada vez maiores e atingem nú-mero crescente de cidades (e não só as metrópoles). Na intenção de minimizar esse problema, sugerimos que as pessoas reflitam sobre a atual cul-tura do automóvel. Defendemos um convívio inteligente com tal meio de transporte individual, optando as pessoas, quando possí-vel, por outro modo de locomo-ção. Diante dos pontos coloca-dos, fica evidenciado que os am-bientes urbanos são cada vez mais importantes na inovação, no em-prego e em uma vida social mais rica e diversificada. No entanto, as cidades, apesar de seu extraordiná-rio dinamismo, não são capazes de oferecer horizontes promissores à maior parte daqueles que nelas habitam.D esejamos um melhor cenário para o convívio familiar, onde avós, pais, filhos e netos des-frutem de maior tempo juntos, o suficiente para que os valores, limites e raízes sejam fortalecidos e favoreçam a educação e o pre-paro dos seus membros, para o exercício de uma cidadania plena. Temos convicção de que a melhoria da mobilidade urbana e da ocupação territorial contribuirá no aumento do tempo livre das pessoas, permitindo-lhes convívio familiar maior, em quantidade e em qualidade. As famílias merecem e a sociedade agradecerá. (*) Associados da EPB / BH FAMILIAR Sônia e Antonio Prata (*) D
  • 22. Atendendo a crianças e adolescentes na clínica, constante-mente recebo pais angus-tiados com determinados comportamentos dos filhos. Faço abaixo um recorte de algumas das queixas: •“ela está revoltada demais, não respeita nossa autoridade, só quer saber de assistir Rebeldes... se a gente não a deixa fazer algo, ela insiste, insiste... e nos vence pelo cansaço” (relato de um casal a respeito da filha, de 12 anos). •“ele não pára de comer, está an-sioso, e a gente não pode falar nada que ele chora” (mãe falando sobre o filho de 8 anos). • “a senhora acha que meu filho pode ser gay? Não...eu não tenho preconceito, eu respeito, mas na minha família nunca teve disso não... e isso não é de Deus.” (pai, sobre o filho de 18 anos). • “ela está com ciúme da irmãzi-nha que nasceu...está só apron-tando, agressiva...já falei com ela que eu a amo do mesmo jeito...eu entendo o ciúme dela, eu com-preendo, tadinha...mas já falei com ela que é bobagem esse ciúme...” (mãe, fazendo relato à terapeuta, na presença da filha, de 10 anos). Obviamente, os fragmen-tos acima são apenas “pontas dos icebergs” de cada uma das histó-rias. Não me proponho, aqui, a fazer uma análise destes casos, mas desejo abordar um dos aspec-tos que nos chama a atenção em todos eles. É expressiva a dificuldade dos pais em acolher e escutar os filhos. Nos quatro casos acima, perguntei aos pais se eles já haviam tentado escutar a respeito do que estava ocorrendo. Todos responderam afirmativamente. Pedi que descrevessem como foi a escuta. Ao final, todos reconhece-ram que ouviram e falaram...mas não escutaram. Rubem Alves, em seu texto “Escutatória”, dizia que somos mestres na falatória e iniciantes na arte de “silenciar por dentro” para ouvir o outro. Observo que, quando se trata do diálogo com crianças e adolescen-tes, a dificuldade é ainda maior. Vivemos em uma lógica adulto-cêntrica. No caso acima, onde a menina estava com ciúme da irmã recém-nascida, auxiliei a mãe a sustentar uma postura acolhedora com a filha e, novamente, ouvir sua queixa. A filha conseguiu dizer, chorando, que já não mais se sentia amada. A mãe, muito emo-cionada e sem saber o que fazer com isso, defendeu-se: “ô filha...eu não deixei de te amar...que boba-gem...”. Foi preciso auxiliar a mãe a se entregar àquele momento de intimidade, em que a menina de dez anos, corajosamente, dizia de sua dor (uma dor que não era bobagem). Quando ela conseguiu acolher a filha em seus braços e no silêncio de suas lágrimas, aconte-ceu a escuta, aconteceu o encontro. Talvez um passo para a cura. Não, não é fácil escutar. Especialmente quando o que o outro tem a dizer é potencialmente ameaçador para nós. Escutar é algo paradoxal, porque é complexo, mas de uma simplicidade extrema. Requer coragem. Os pais do pri-meiro relato se encorajaram e escutaram a filha dizer que eles não tinham autoridade sobre ela e nem sobre a própria casa, já que todos os parentes interferiam nas decisões deles. Tiveram que repen-sar a relação conjugal. A mãe do segundo relato conseguiu perceber, na fala do filho, que ela era tão ou mais ansiosa que ele. Desabou em lágri-mas, reconhecendo a sua própria depressão. O pai do jovem de dezoito anos ainda não conseguiu escutar do filho que é homosse-xual. Parece ser o limite desse pai, que permanece, a cada jogo de futebol, desferindo chavões homo-fóbicos mascarados de piada. É a forma sutil, mas extremamente agressiva, com a qual ele tenta ini-bir o filho a dizer-lhe a verdade sobre sua orientação afetivo se-xual. A dificuldade de escutar o filho é gerada por vários aspectos. Vivemos em uma sociedade an-siosa, onde é difícil parar, silenciar, para ouvir o outro. Muitos de nós fomos cria-dos em famílias que primavam por uma rigorosa hierarquia, onde os mais novos não tinham o poder da palavra. E outros fatores psicológi-cos nos impedem de entrar em contato com a dor do outro. Essa lógica da “falatória” gera disfun-ções em todas as nossas relações, sobretudo nas parentais. Os comportamentos ou sintomas das crianças e adolescen-tes são sinalizadores que, se escu-tados, podem modificar para melhor a dinâmica familiar. Para isso, os pais necessitam ter a cora-gem de perceber suas próprias incoerências. Ou seja, só se pode escutar um filho quando se tem ousadia e autoamor de escutar-se a si mesmo. (*) Graduada em Terapia Ocupacional pela UFMG, com especialização em Psicodrama, qualificação avançada em Saúde Mental e for-mação em Intervenção Sistêmica. patiterapia@yahoo.com.br A DOR DE UM FILHO, A DOR DOS PAIS Patrícia Antunes Tavares (*) A
  • 23. APRENDENDO E ENSINANDO A CONVIVER NO MUNDO VIRTUAL Em 1992, foi en-viada a primeira mensa-gem de SMS, inaugurando um novo espaço de interação e alterando, de forma inexorável, os padrões de compor-tamento e o estilo de vida das pes-soas. Com um simples apertar de um botão, rompem-se fronteiras geográficas e instantaneamente nos inserimos numa rede sem limi-tes, onde informações, games, re-lações, interatividade, aprendizagem e entretenimento são continua-mente ofertados e atualizados. A tecnologia digital conectada em rede constitui um sistema global de comunicação, troca de informa-ções, serviços e recursos indispen-sáveis ao ser humano. Não podemos e não sabemos mais viver apartados do ambiente virtual e de suas facilidades e possibilidades, mas precisamos aprender a convi-ver no ciberespaço com crítica e discernimento. Como educadores, esta-mos assustados diante da primeira geração de crianças e adolescentes on-line que nasceu, emocional e intelectualmente, pertencente ao universo digital. A familiaridade e a adesão apaixonada às novas tecnologias os inscreve como autores num mundo de distâncias e limites subtraídos, tempos relati-vizados, identidades simuladas, felicidades e imagens inventadas, proliferadas e protegidas pela crença do anonimato. Nasce o filho digital no cenário da difusão tecnológica contemporânea e emerge o desafio de ser educador de uma geração portadora de uma cultura singular, a cibercultura. Paradoxal é a conduta pa-rental. Ao mesmo tempo em que os pais revelam-se extremamente cui-dadosos e preocupados com o mundo real, levando e buscando os filhos, protegendo-os da ostensiva oferta de drogas lícitas e ilícitas, atentos aos seus amigos, interessa-dos em conhecer outros pais, con-sumindo teorias psicológicas de como bem educar os filhos e cer-cando- os de conselhos e da ajuda dos especialistas, esses mesmos pais pouco acompanham ou não monitoram os filhos no mundo vir-tual. Flávia Barros Fialho (*) De alguma forma, acredi-tamos que o fato de os filhos esta-rem em nossas casas, fisicamente próximos e ao alcance dos nossos olhos, estão protegidos e seguros. Esquecemo-nos que eles estão num mundo sem limites, sem fron-teiras e sem demora. Tudo é instan-tâneo, simultâneo e imediato, rico e vasto de possibilidades, aventu-ras e perigos. Como pais precisa-mos ser presença educativa nos ciberespaços, orientando nossos filhos para um uso seguro, ético e saudável das novas tecnologias de informação e de comunicação, especialmente a internet. Crianças e adolescentes, no isolamento supostamente se-guro dos seus quartos, interagem com pessoas de idades, princípios, valores e identidades desconheci-das. Nossos filhos estão expostos a internautas cujas intenções podem ser ilegais ou criminosas. O mundo virtual, assim como o mundo real, é também espaço para a banaliza-ção do sexo, da violência, da pedo-filia e do consumismo. E
  • 24. Não é por acaso que já sur-giram as Delegacias de Repressão aos Crimes Virtuais, a Central Nacional de Denúncias de Cri-mes Cibernéticos e a Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos que, desde 2008, ano de sua criação, apoiada em dados estatísticos, afirma que são as crianças e os adolescentes as prin-cipais vítimas de delitos virtuais, tanto por falta de orientação ade-quada sobre o uso da internet, tanto pelo não acompanhamento por parte dos pais. Tolice nossa acreditar que nossos filhos, que passam horas plugados e conectados, não são vítimas em potencial. A própria natureza cu-riosa, impulsiva ou transgressora dos nossos filhos os coloca em si-tuação de vulnerabilidade e risco. Soma-se a isso o fato de que crian-ças e adolescentes, motivados pelo “anonimato”, “protegidos” por seus nicknames (apelidos), fazem no virtual muito do que não teriam coragem de fazer no encontro e no contato real com o outro. Não é por acaso que o cyberbullying é, hoje, a forma de violência que mais cresce no mundo, gerando grande sofrimento e inúmeros processos judiciais. A ação educativa pode traduzir-se em cuidados simples e eficazes. A seguir apresento um conjunto de sugestões para que vocês, pais, acompanhem e orien-tem seus filhos navegantes. Estabelecer uma rotina clara e consistente, definindo os dias e os horários de entrada e o tempo de conexão, seja para os jogos ou para o bate-papo. Equilibrar o tempo de con-vivência virtual com o tempo de convivência familiar, reservando tempo para o diálogo, o brincar, os passeios e as refeições em família. Na hora de dormir, nos momentos das refeições ou durante a realização dos deveres ou do estudo diário, manter os atraentes recursos tecnológicos, como celu-lares e computadores, desligados . Instalar o computador em locais da casa em que haja maior circulação de pessoas, evitando quartos ou lugares mais isolados. Indicar e conversar com os filhos sobre os sites mais adequa-dos à sua faixa etária, dizendo a eles que vocês, pais, irão acompa-nhá- los nas navegações, verifi-cando o histórico de seus acessos. Não precisam fazer nada escon-dido, afinal, legalmente são vocês que respondem judicialmente por eles. Navegar com o filho para conhecer seus sites de preferência, as pessoas com as quais ele se relaciona, as preferências virtuais e a natureza dos conteúdos posta-dos. Orientar os filhos para não postarem fotos, vídeos ou informa-ções particulares ou íntimas, nem tampouco repassar conteúdos que possam expor terceiros. Tudo o que “cai” na rede torna-se de do-mínio público e não é possível arrepender-se e voltar atrás, pois já saiu do seu domínio. Esclarecer ao filho que mensagens ou comentários com termos agressivos, ameaçadores, depreciativos sobre ou endereça-dos a terceiros não é brincadeira, mas um ato de agressão que pode ser interpretado como ato crimi-noso. Nunca fornecer senhas, número de documentos pessoais, endereço, escola onde estuda, locais onde realiza atividades extras ou qualquer dado referente à rotina ou aos planos de viagem e passeios pessoais e familiares. Não aceitar convites de es-tranhos para encontros, festas ou passeios.D enunciar qualquer con-teúdo, mensagem ou imagem, estranho, inapropriado, constran-gedor, pornográfico, violento, no disque 100 ou no site www.denuncia.org.br A tarefa de educar é, sem dúvida, árdua, desafiadora e nada fácil. Precisamos, pela via do diálogo e da observação constante, ser referência e presença de limite, tanto no mundo real quanto no mundo virtual. Por mais que as relações estejam mais democráti-cas e afetivas, vale lembrar que a relação pais e filhos não é marcada pela igualdade, já que temos papéis e lugares distintos no contexto familiar e social. É por isso que os educado-res somos nós, os adultos. (*) Psicóloga, Pedagoga, Especia-lista em Psicologia Educacional e Mestre em Sociologia da Educação