Este documento descreve a burguesia portuense do século XIX em Portugal. Apresenta o contexto histórico da ascensão da burguesia no século XIX e a ideologia liberal que serviu os seus interesses. Descreve também o estilo de vida burguês, incluindo a educação, cultura, moda e lazer da época.
1. Gestão do Património História de Portugal II
“A BOA SOCIEDADE”
Um olhar sobre a Burguesia Portuense do Século XIX
Docente: Dr. Amândio Barros
Discentes: Ana Silva
Joana Vieira
Márcia Fernandes
2. Gestão do Património História de Portugal II
1. A ORDEM BURGUESA
1.1. Contextualização Histórica
Situação politico económica de instabilidade;
1820 - instauração do Liberalismo;
Praça da Ribeirinha - centro fundamental económico e social da cidade;
Rio Douro - papel económico vital para o burgo:
- Comércio do vinho do Porto;
- Estabelecimento de relações comerciais com o Brasil.
3. Gestão do Património História de Portugal II
1. A ORDEM BURGUESA
1.1. Contextualização Histórica
Entre 1832/1833 assiste-se à destruição da baixa Ribeirinha com as bombardas dos miguelistas:
- Incêndio do Convento de S. Francisco;
- Propagação da cólera por cada ponto da cidade;
Os burgueses abandonam o burgo para viver nos palacetes:
- Ruptura entre o espaço do lar com o espaço da actividade económica das famílias ricas.
4. Gestão do Património História de Portugal II
1. A ORDEM BURGUESA
1.1. Contextualização Histórica
Segundo Vitorino Magalhães Godinho, o período entre 1870 e o século XX, é marcado
fundamentalmente por fracassos nacionais nos planos:
Político:
- Liberalismo por concretizar-se;
- Ascensão do Republicanismo na última década do século XIX.
Económico - Tentativas falhadas de industrialização.
Social - Impossibilidade implantação da sociedade burguesa.
Cultural - Preocupação de uma cultura esclarecida, inteligente e realista, que não consegue
atingir a eficácia social.
5. Gestão do Património História de Portugal II
2. A SUBIDA AO PODER DA BURGUESIA EM PORTUGAL
É no século XIX que a burguesia se afirma:
Idealmente liberal;
Socialmente conservadora;
Economicamente regrada;
IDEOLOGIA DO PROGRESSO
2.1. Tipos de burguesia
Burguesia industrial ou de comércio;
Burguesia ao serviço do Estado;
Burguesia de rendimentos.
6. Gestão do Património História de Portugal II
2. A SUBIDA AO PODER DA BURGUESIA EM PORTUGAL
2.2. Como a ideologia liberal serviu os interesses da burguesia
Clero + nobreza = Ociosidade
Burguesia = Empreendorismo
Ideais do liberalismo:
Liberdade associada ao individualismo;
Voto censitário;
Self-made man.
Acções do liberalismo:
Proibição das associações;
Produção determina estatuto;
Valorização do trabalho.
7. Gestão do Património História de Portugal II
2. A SUBIDA AO PODER DA BURGUESIA EM PORTUGAL
2.3. A alta burguesia empresarial e financeira - origem e poderes
Estrato da burguesia mais elevado e mais respeitado
Exerciam o seu poder através:
Do ensino;
Da imprensa;
Do lançamento de modas e ideias.
Através do controlo global da sociedade da Idade Média, os burgueses tornavam a opinião
pública favorável aos seus interesses.
2.4. Declínio do poder da burguesia
1880 – Burguesia perde protagonismo com a introdução do sufrágio universal.
8. Gestão do Património História de Portugal II
3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.1. Características da burguesia
Caracterizado pelo bem-estar material e escolha do tipo de vida;
Grupo social condutor da sociedade civil, que virá acumular capital económico, cultural e
genético;
Capacidade de criar bens e serviços capazes de atender todas as necessidades da sociedade;
O objectivo da sua actividade era a transformação da sociedade:
- Como fruto da interacção humana;
- Iniciativa humana.
9. Gestão do Património História de Portugal II
3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.1. Características da burguesia
De acordo com Maria Antonieta Cruz o burguês era definido como:
- Pouco delicado;
- Gestos grosseiros;
- Pouco instruído.
“...não há quem saiba conversar, quem se interesse por duas ideias de arte e literatura. Há apenas a vida
de escritório, do Banco, da alfândega, a vida de boi sorumbático (...).Depois, feito o negócio, tudo se
amorrinha no pesadume crasso e bilioso da digestão flatulenta.”
Isabel Pires Lima (antologia),
em Trajectos do Porto na Memória Naturalista.
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3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.2. A vida burguesa
A vida social burguesa portuense era evidenciada pelos encontros nos:
Cafés e botequins:
- O Portuense;
- O Suíço;
- O Lisbonense;
- O Águia d’ Ouro;
- O Brasil;
- O Guichard.
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3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.2. A vida burguesa
Jardins:
- O Jardim da Cordoaria;
- O Jardim de S. Lázaro ;
- O Passeio Alegre.
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3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.2. A vida burguesa
Os seus momentos de diversão eram caracterizados pelos:
- Bailes;
- Saraus;
- Salões;
- Banhos na Foz.
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3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.2. A vida burguesa
A moda burguesa era dominada pela combinação extravagante de tentação e proibição;
Predomínio do recato e a ocultação da sensualidade e da sexualidade;
Proliferavam-se as alusões e os estímulos ao mundo dos sentidos e das sensações;
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3. O QUOTIDIANO BURGUÊS
3.2. A vida burguesa
Os homens burgueses vestiam-se de
claro.
As mulheres burguesas usavam:
- Chapéus com laços em volta do
pescoço;
- Vestidos de grande roda de balão,
com folhos e laços com padrões de
riscas, xadrez e folhos idênticos.
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3. O QUOTIDIANO BURGÊS
3.2. A vida burguesa
Nos finais dos anos 80 do século XIX, tende-se a usar:
- O escurecimento da silhueta com vestidos de veludo
onde imperavam os castanhos e os cinzentos, criando uma
ideia de elegância sóbria.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.1 Instrução primária
Os Liberais deram particular atenção ao ensino primário devido:
- à preocupação com a dissipação das trevas da ignorância;
- ao aperfeiçoamento moral dos homens;
- ao desenvolvimento económico.
A frequência de ensino elementar só passou a ser obrigatória, sob pena de multa, a partir de 1844.
Foram abertas muitas escolas por iniciativa do poder central, de particulares, das câmaras municipais,
das juntas de paróquia ou mesmo a pedido dos habitantes das aldeias.
17. Gestão do Património História de Portugal II
4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.1 Instrução primária
No Portugal Oitocentista foi grande a diferença, quantitativa e qualitativa, de ensinamentos
ministrados aos homens e às mulheres.
Inegável empenhamento do liberalismo no progresso da instrução pública no nosso país com os
resultados obtidos, nomeadamente a redução do analfabetismo.
Na cidade do Porto, apenas na burguesia encontramos uma alfabetização generalizada.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.2 Instrução secundária
A implantação dos liceus no nosso país foi bastante lenta devido:
- às reformas sucessivas;
- à escassez de professores com formação escolar suficiente para leccionar.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 Instrução superior
É destinada para as classes elevadas da sociedade, donde
saem, pela maior parte os funcionários públicos.
Um curso tirado na universidade, não raro, assegurava a
presença em lugares de destaque e responsabilidade na vida
económica e política.
Na cidade do Porto, existiam duas instituições de ensino superior, a
Academia Politécnica e a Escola Médico-Cirúrgica.
20. Gestão do Património História de Portugal II
4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.2 Outros indicadores de educação e cultura
Através dos inventários orfanológicos, eram os médicos quem possuíam mais livros:
- temas ligados à profissão dos falecidos, sobretudo códigos de leis, temas de direito, medicina,
cirurgia, comércio bem como temas ligados à cultura francesa.
Há que salientar a biblioteca que dispunham os sócios da Associação Comercial do Porto, que
congregava uma parcela limitada da burguesia mercantil da cidade, a mais opulenta, a mais culta e
também a mais influente.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 A Cultura
Os equipamentos culturais sucedem-se a um ritmo vertiginoso, numa cidade que se pretende modernizar,
vontade de uma burguesia que quer fazer concorrência à capital.
MÚSICA – Escolas de Música e de Canto
Escola Popular de Canto (1855), a funcionar nos Paços do Concelho, com cursos nocturnos e diurnos,
acabando por ter cerca de 200 alunos;
Instituto Musical (1863) criado por Carlos Dubini, da Companhia Lírica, com um curso popular (gratuito)
e um curso superior, com matrícula aberta a todos com mais de 8 anos, sabendo ler e contar e com um
fiador de bom comportamento moral;
Sociedade Filarmónica, criada por Francisco Eduardo, onde ficam como professores famosos cantores
líricos que visitam a cidade;
Academia de Música, no Palácio de Cristal, com cerca de 500 alunos.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 A Cultura
TEATROS
Teatro de S. João, o mais antigo, inaugurado em 1798;
Príncipe Real ou Teatro Circo, na esquina da Sá da Bandeira com a Rua de Santo António;
Teatro Gil Vicente, no Palácio de Cristal;
Teatro Baquet, destruído por um terrível incêndio em 1888;
Teatro dos Recreios, destinado essencialmente à opera, em Alexandre Herculano;
23. Gestão do Património História de Portugal II
4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
Assim,
Denota-se um gosto burguês pelo teatro lírico e pela ópera.
O Porto do ultra-romantismo “está na iminência de se tornar uma cidade amante da música e um dos
públicos mais conhecidos da Europa”(Gaspar M. Pereira, O Porto de Camilo).
Todavia, há quem sustente a tese de que os comportamentos de grande parte dos frequentadores das
grandes ocasiões culturais se pautam pela lógica do reconhecimento social; muitas vezes, a mise-en-
scène dos espectadores suplantava a dos actores.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 A Cultura
IMPRENSA
Comércio do Porto, onde se torna habitual a publicação de romances e
novelas em fascículos, lidos ao serão para toda a família;
A Palavra, do visconde de Samodães, católico e conservador;
O Primeiro de Janeiro, progressista;
O Jornal de Notícias (1888);
Jornais literários A Grinalda e A Actualidade (este último dirigido por
Teófilo Braga) (1874).
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 A Cultura
OUTROS ASPECTOS CULTURAIS
Espectáculos de fogos de artifício, nas comemorações mais
significativas;
Bailes de máscaras no Carnaval;
Concertos de bandas;
Touradas em Matosinhos e Gaia;
Futebol inglês, lançado na cidade pelo Oporto Cricket Club.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
4.3 A Cultura
EQUIPAMENTOS CULTURAIS
Palácio de Cristal.
Museus:
Museu Portuense (do Ateneu de D. Pedro);
Museu Municipal (Allen);
Museu Industrial e Comercial, anexo ao Palácio de Cristal.
Bibliotecas:
Biblioteca da Bolsa;
Biblioteca da Escola Politécnica;
Biblioteca da Escola Médica;
Biblioteca Pública.
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4. A EDUCAÇÃO E A CULTURA
CONCLUINDO
A burguesia portuense é um grupo social que se assume como condutor da sociedade civil,
após a Revolução de 1820 e que, no seu caminho, manifestou dificuldade em decidir pelo modernismo ou
pelo conservadorismo de valores e estilos que nunca lhe pertenceram mas, acima de tudo, acentua a sua
obsessão pela imortalidade, numa sociedade por ela criada, numa cultura em nome da “utilidade pública”
e do “bem comum”.
A sua é a “moral da rejeição”: rejeitam-se as impurezas, o nome do sexo, os operários que
fazem greve, os servidores, remetidos para o sótão, os pelintras, os endividados, os jogadores, os
celibatários, os locais “infectos” (velhos bairros da Sé e da Rua Escura, das ilhas).
Nos anos 80 do século XIX, a cidade considerava-se a civilização.
28. Gestão do Património História de Portugal II
5. O CASAMENTO E A MORTE
Momentos privilegiados de afirmação da diferença
Casamento burguês
Código Civil Português de 1867 – casamento civil facultativo;
Preferencialmente entre pessoas da mesma classe social;
Precariedade económica – uniões de facto.
Morte burguesa
Ritos funerários – distinção entre abastados e resto da população;
Preocupação em salvar a alma;
Ritual simbólico que pretendia traduzir generosidade e redução de tensões sociais;
Testamentos - capacidades económicas e crenças religiosas do defunto;
Notícias necrológicas - ressaltam os membros mais prestigiados da família enlutada.
29. Gestão do Património História de Portugal II
6. URBANISMO
1ª METADE DO SÉCULO XIX – décadas de 30 e 40
Construção do Palácio da Bolsa (1842)
Construção de mercados – Bolhão e Anjo (1837 e 1839)
Abertura de novas ruas:
- Rua Ferreira Borges (1842)
- Rua da Constituição
- Rua de Gonçalo Cristóvão
- Rua da Duquesa de Bragança
- Rua da Paz
Criação do jardim de S. Lázaro (1834)
Construção da ponte Pênsil (1843)
ALARGAMENTO DOS LIMITES CITADINOS E EXPANSÃO DA MALHA URBANA
– anexação de Lordelo, Foz, Campanhã (1836), Paranhos (1837), criação da freguesia do Bonfim (1841) –
30. Gestão do Património História de Portugal II
6. O URBANISMO
2ª METADE DO SÉCULO XIX – década de 60
Cidade expande-se para a periferia:
- Importantes urbanizações;
- Investimentos de grande envergadura.
Município empreende grandes operações urbanísticas no centro urbano:
- Melhoramento do sistema viário e de transportes;
- Destruição de zonas insalubres.
31. Gestão do Património História de Portugal II
6. O URBANISMO
INFRAESTRUTURAS
ILUMINAÇÃO PÚBLICA NO PORTO
1855 Iluminação a gás das principais artérias
1886 Início da iluminação eléctrica na cidade
1891 Existência de mais de 2500 candeeiros
1901 Existência de mais de 3800 candeeiros
1905 Iluminação pública não ultrapassa os 47% das ruas urbanas
O gás e a electricidade alteram a noção de tempo, permitindo mudanças significativas na organização
da vida doméstica e social. Porém, a sua utilização está longe de ser geral. Em contraste, nos
arrabaldes rurais, continua a presença das velas e dos candeeiros a petróleo.
32. Gestão do Património História de Portugal II
6. O URBANISMO
INFRAESTRUTURAS
ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA NO PORTO
1882 Companhia Geral das Águas do Porto inicia as obras para a distribuição de água
1887 Entra em funcionamento a rede de canalizações
1905 Abastecimento público cobre apenas 32% das ruas da cidade
Quanto ao abastecimento de água, grande parte da cidade continua a usar os fontanários públicos ou
os poços particulares. Mantinha-se, portanto, o hábito de consumo de água destes locais, muitas vezes
impura, contribuindo para o grassar de epidemias.
Finais do século XIX – rede de esgotos abrange apenas 27% das ruas.
33. Gestão do Património História de Portugal II
6. O URBANISMO
TRANSPORTES
TRANSPORTES TRADICONAIS NOVOS TRANSPORTES
1872 - Companhia Carril de Americano
● Cadeirinhas Ferro Americano do Porto à Foz
● Liteiras e Matosinhos Carros puxados por duas ou
● Caleches 1873 - Companhia Carris de mais parelhas de mulas que se
● Seges Ferro do Porto deslocavam sobre carris
● Carroções 1893 – Fusão das duas
● Char-à-bancs companhias, agora Companhia
Carris de Ferro do Porto
Eléctrico
1895 - Tracção eléctrica chega Carro que circula sobre carris,
ao Porto constituído por um motor
eléctrico, cuja energia provém de
uma linha aérea ligada ao carro
por um trólei
34. Gestão do Património História de Portugal II
6. O URBANISMO
TRANSPORTES
TRANSPORTES FERROVIÁRIOS NO PORTO
1864 Ligação Porto/Lisboa
1875 Linha do Minho – Campanhã/Nine
1875 Linha do Douro – Campanhã/Penafiel
1875 Ligação Boavista/Póvoa de Varzim
1879 Linha do Douro – Campanhã/Régua
1881 Ligação Boavista/Famalicão
Os transportes urbanos e as ligações ferroviárias aproximam o Porto dos seus subúrbios e da sua
região e intensificam a mobilidade de gentes entre o centro e a periferia, reforçando os fenómenos
de atracção e expansão urbana.