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Apresentação Valter Fanini, presidente do Senge-PR

A armadilha das instituições precárias
   Você tem em mãos o segundo                               consequência — o desmantelamento                                O órgão estadual responsável pelo
caderno editado pelo projeto Região                         do aparelhamento técnico do Estado                          planejamento metropolitano, a
Metropolitana de Curitiba em                                para planejar e projetar as soluções                        Comec, há muito deixou de elaborar
Debate, uma iniciativa do Senge-PR.                         que as cidades estão exigindo com                           qualquer plano setorial ligado às
A montagem deste caderno contou                             urgência — não é percebida tão                              funções públicas de interesse comum
com o apoio de entidades como Crea-                         facilmente.                                                 dos municípios metropolitanos, caso
PR, Sindicato dos Arquitetos do                                Nesse caso, cabe às entidades                            do planejamento dos transportes
Paraná (Sindarq), Ambiens Brasil e                          representativas da engenharia e do                          públicos e do sistema viário
Sociedad Peatonal. Nele, abordamos                          urbanismo fazer o alerta, exigir dos                        metropolitanos. Isso é fruto da
a Mobilidade Urbana Regional, com                           poderes executivos que a capacidade                         redução drástica de seus quadros
ênfase nos sistemas de transporte                           técnica do setor público seja                               técnicos, e da inadequada
público de passageiros e na logística                       restaurada, sob pena de termos                              modelagem institucional sobre qual
regional.                                                   recursos financeiros disponíveis, mas                       opera.
   Nos últimos 25 anos, assistimos em                       não projetos para a sua aplicação.                              Quando fazemos uma análise do
todas as regiões metropolitanas a um                           Isso já vem acontecendo com os                           quadro institucional da gestão dos
grande descompasso entre a                                  recursos do Programa de aceleração                          transportes metropolitanos de
demanda por infraestrutura urbana,                          do crescimento (PAC) do governo                             passageiros, mostramos a
derivada do rápido crescimento                              federal, situação mencionada em                             precariedade e — até mesmo — as
populacional, e a capacidade                                várias ocasiões pelo próprio ministro                       ilegalidades em vigor. Mais
financeira do poder público em                              do Planejamento, Paulo Bernardo.                            importante — fazemos o alerta de que
implementá-la. Isso deu origem a uma                                                                                    não haverá possibilidade de um salto
realidade perversa, que pode ser                                                                                        de qualidades na rede de transportes
observada sob duas óticas                                           “Desmantelou-se o                                   metropolitana que atenda às
principais.                                                     aparelhamento técnico do                                necessidades de deslocamentos de
   A primeira delas é o enorme                                    Estado para planejar e                                carga e de passageiros se não
déficit de infraestrutura dessas áreas                          projetar soluções para as                               reconstruirmos as entidades
urbanas, em especial as relacionadas                                                                                    responsáveis pela formulação de seu
ao movimento de carga e
                                                               cidades. Cabe a nós fazer o                              planejamento, execução de projetos e
passageiros. A segunda, o                                       alerta, exigir dos poderes                              implantação de infraestrutura.
desmantelamento das instituições de                           executivos que a capacidade                                   Quando falamos de precariedade
planejamento e projeto responsáveis                           técnica do setor público seja                             institucional, queremos ir além da
pela montagem das políticas públicas                             restaurada, sob pena de                                falta de quadros técnicos ou recursos
para o setor.                                                                                                           financeiros. Falamos principalmente
   O déficit na infraestrutura de                              termos recursos financeiros                              da indefinição das funções das
transporte e movimentação de cargas                           disponíveis, mas não projetos                             diversas entidades que devem atuar
pode ser percebida pelo cidadão                                   para a sua aplicação”                                 no sistema, a falta de mecanismos de
comum quando se depara                                                                                                  articulação entre elas e a ausência
diariamente com o caos reinante no                             A Região Metropolitana de                                de canais de participação da
trânsito das cidades, decorrente de                         Curitiba não é exceção neste                                sociedade. São questões que somente
um sistema viário que não se                                contexto. Prova disto é o inicio tardio                     serão resolvidas a partir da
expandiu de forma estruturada e de                          dos projetos do metrô curitibano, que                       redefinição de uma nova entidade
um transporte público sustentado em                         só parece se efetivar quando se                             metropolitana, tema recorrente em
modalidades de baixa capacidade,                            vislumbrou a existência de recursos                         praticamente todos os artigos e
como o ônibus.                                              financeiros com o anúncio da vinda                          matérias produzidos para os
   No entanto, a segunda                                    da Copa do Mundo para Curitiba.                             cadernos deste projeto.

Este caderno é uma publicação do projeto Região Metropolitana de Curitiba em Debate
Organização e coordenação Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR)
Assessoria Técnica Ambiens Sociedade Cooperativa
Apoio Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Sindicato dos Arquitetos do Paraná (Sindarq),
Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), FAE Centro Universitário, Sociedad Peatonal, Movimento Passe Livre
Edição Rafael Martins (Reg. Prof. 3.849 PR) Reportagem Camila Castro
Fotografia e diagramação Alexsandro Teixeira Ribeiro Fale conosco comunica@senge-pr.org.br
Artigos assinados são de responsabilidade dos autores.
O Senge-PR permite a reprodução do conteúdo deste jornal, desde que a fonte seja citada. Fotolitos/impressão Reproset Tiragem 4 mil exemplares

2                                                                                                                              RMC em debate. Segundo caderno
Artigo


Institucionalização dos
transportes da RMC: histórico
e novas perspectivas
O presidente do Senge-PR, Valter Fanini, explica porque o atual modelo de
administração do transporte coletivo de Curitiba e região é excludente, e diz que a
gestão deveria ser feita com a participação dos 26 municípios da RMC, e não por um
único órgão, a Urbs. “Tamanha diversidade institucional para administrar um mesmo
sistema somente terá possibilidade de funcionar sob um regime organizacional
integrador que contemple a multiplicidade de atores políticos e sociais”, afirma. Para
ele, precisamos de uma nova instituição para gerenciar o transporte, reunindo
governo do estado, prefeitos e sociedade civil organizada

    O processo de ocupação urbana                                                                                   Assim, pode-se dizer que o início do
periférica à Curitiba sobre território de                                                                       sistema de transporte de passageiros da
municípios vizinhos, que se consolidou                                                                          RMC teve caráter “pouco formal”,
com maior intensidade a partir da década                                                                        sustentado exclusivamente por instrumentos
de 70, e a necessidade de deslocamento                                                                          de permissão de operação emitidos pelo
da população dessas áreas, espe-                                                                                então Departamento de Serviços de
cialmente em direção à capital, deu                                                                             Transporte Coletivo – DSTC, ligado ao
origem a uma demanda por transporte                                                                             DER-PR, obedecendo a uma lógica histórica
público urbano de passageiros que foi                                                                           de domínio de território por parte das
rapidamente atendida por linhas de ônibus                                                                       empresas de transporte.
ofertadas por empresas que operavam                                                                                 Ao longo dos mais de 30 anos decorridos
linhas rodoviárias nas imediações dessas                                                                        desde o início desse processo, o poder
novas fronteiras de ocupação.                                                                                   público buscou em diversos momentos
    O Governo do Estado, desde esta                                                                             formas de se assenhorear desse sistema,
época, passou a licenciar a operação                                                                            intervindo ora no campo das infraestruturas
dessas novas linhas de transporte público                                                                       de transporte ora no campo normativo das
baseado numa interpretação dominial de                                                                          concessões dos serviços e no modelo de
território das empresas operadoras, ou                                                                          gestão do sistema, sem, no entanto, ter obtido
seja, concedia licença de operação de                                                                           êxito na construção de um modelo gerencial
novas linhas urbanas a quem estivesse                                                                           estruturado e perene.
operando linhas intermunicipais nas                                                                                 Em 1990 a competência de gerir as linhas
proximidades dessas novas áreas                                                                                 intermunicipais no espaço metropolitano foi
urbanas. Apesar desse procedimento                                                                              transferida do Departamento de Estradas
nunca ter sido explicitado por                                                                                  de Rodagem para a Coordenação da Região
instrumentos formais, como planos,                                                                              Metropolitana de Curitiba (Comec), através
normas, portarias, editais de licitação                                                                         de decreto governamental, consolidando-se
decretos, leis, etc., esta prática constituiu-                                                                  o que de fato já vinha ocorrendo desde 1982
se em um acordo tácito de bom convívio                                                                          por meio de convênios entre as partes.
entre agentes dos governos e empresários                                                                            No ano de 1992, uma tentativa do
para a expansão do que veio a ser a primeira                                                                    governo do estado de licitar as linhas de
rede de transporte público metropolitano.        Valter Fanini é engenheiro civil e servidor público estadual   transporte intermunicipais da RMC através >>

Novembro de 2009                                                                                                                                         3
>>
                                  da Comec resultou em uma batalha judicial cipais e o Governo do Estado do Paraná.
                                  da qual não se conhece os resultados finais             Tamanha diversidade institucional para
                                  até hoje. O que efetivamente se sabe é que administrar um mesmo sistema somente terá
                                  tudo permaneceu exatamente como antes possibilidade de funcionar sob um regime
                                  da tentativa de licitação.                          organizacional integrador que contemple a
                                      Em 1996 foi assinado convênio entre o mul-tiplicidade de atores políticos e sociais.
                                  governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba            Na contramão da necessidade de um
                                  conferindo ou transferindo à Urbs o controle modelo integrador de gestão, adotou-se na RMC
                                  operacional do transporte intermunicipal na um modelo excludente, dando-se a um órgão
                                  RMC, com o objetivo de facilitar o processo da administração indireta da prefeitura municipal
                                  de integração do sistema de transporte de Curitiba, a Urbs, poderes para atuar de forma
                                  metropolitano ao sistema de transporte absolutista sobre os interesses dos demais
                                  curitibano.                                         municípios e do próprio Governo do Estado.
                                      No campo das infraestruturas, a partir do final     Tal condição nos remete de imediato às
                                  da década de 1970, o governo do estado, via perguntas: de que forma isto aconteceu?
                                  Comec, manteve qua-                                                            Seria o convênio
                                  se de forma per-                                                               entre a Comec e a
                                  manente programas          À população, coube assistir Urbs o responsável
                                  voltados a atender as           estarrecida os demais                          por manter tal situ-
                                  necessidades de im-
                                  plantação de infraes-
                                                             prefeitos dos municípios da ação?Quem se de-        não.
                                                                                                                        Obviamente

                                  trutura de transporte         RMC sendo chamados às                            bruçar sobre tal
                                  derivadas da expansão          suas responsabilidades                          instrumento verá
                                  contínua dessa rede de        sobre o sistema por seus                         que se trata de do-
                                  transporte.                                                                    cumento frágil, ge-
                                      Nesse sentido,
                                                              eleitores e obrigados a dar nérico e precário, que
                                  ainda na década de         a incompreensível resposta vem sendo renovado
                                  70 deu-se início à         de que a questão tinha que ano a ano entre as
                                  pavimentação das            ser tratada com o prefeito instituições e que
                                  vias que abrigavam                                                             pode ser revogado a
                                  linhas urbanas de             da cidade vizinha e que                          qualquer momento.
                                  ônibus, utilizando os           eles estavam ausentes                              Onde estará en-
                                  chamados pavimen-                      deste processo                          tão a força man-
                                  tos de baixo custo e                                                           tenedora de tal si-
                                  foi, ao longo dos                                                              tuação, que hoje ex-
                                  anos, projetando e implantando intervenções clui 25 municípios e o Governo do Estado do
                                  de maior porte, de modo a constituir uma Paraná de suas responsabilidades de repre-
                                  rede formada atualmente por mais de oito sentação técnica e política sobre os transportes
                                  corredores metropolitanos de transporte, metropolitanos e não confere à sociedade civil
                                  parcial ou totalmente integrados a rede de a menor chance de participação? E como
                                  transporte de Curitiba, operados através de reverter essa situação? O ordenamento cons-
                                  cerca de 20 terminais de passageiros.               titucional dado para o trato de todas a funções
                                      O fulcro das discussões atuais do sistema públicas de interesse metropolitano e que aponta
                                  de transporte metropolitano, incluindo o de para a necessidade de se constituir órgãos
                                  Curitiba, recai sobre o modelo institucional metropolitanos para o exercício das funções
                                  a ser adotado para contornar definitivamente públicas de interesse comum de seus municípios
                                  as questões de gestão, ligadas a necessidade constitui o primeiro passo para se tentar
                                  de definição do seu centro decisório, sua responder estes questionamento.
                                  administração técnica, o controle social e a            Sabe-se que a Comec deveria ter sido
                                  linha e responsabilidades sobre o pla- reformulada institucionalmente a partir do
  Adotou-se na RMC um             nejamento e investimentos.                          novo ordenamento dado pela Constituição
 modelo excludente, em                Sabe-se que constitucionalmente os de 1988, que estabeleceu nova distribuição
                                  serviços de transporte urbano intra-municipal de competências entre União, estados e
que um órgão da prefeitura        são de responsabilidade dos municípios, municípios na gestão de regiões , e colocou
 de Curitiba tem poderes          enquanto o intermunicipal constituem a necessária participação da sociedade civil
   para atuar de forma            responsabilidade dos Estados. Assim, de nesse processo. No entanto, desde então,
                                  acordo com essa linha de responsabilizações, andou-se em sentido contrário. Além de não
   absolutista sobre os
                                  temos na Região Metropolitana de Curitiba reformular seus estatutos, a Comec foi sendo
  interesses dos demais           27 entidades gestoras do transporte fragilizada como instituição ano a ano com
  municípios e do estado          metropolitano, sendo 26 prefeituras muni- a redução sistemática de seu quadro de

4                                                                                          RMC em debate. Segundo caderno
funcionários, culminando com o cenário atual,          transporte coletivo urbano deu-se sem as                RMC vem provocando, e provocará cada vez
no qual o órgão beira a auto-extinção.                 formalidades legais e contratuais que o                 mais, tensões que tendem a se agravar, como
    A resposta ao questionamento sobre as              gênero da coisa pública exige, o que se                 visto recentemente em relação a implantação
razões da permanência de uma situação no               entendia na ocasião como algo provisório,               pelo governo do Estado dos terminais
mínimo estranha, em que um órgão da                    que seria logo adiante reformulado.                     metropolitanos de ônibus Guaraituba e Roça
administração indireta da prefeitura                                                                            Grande e a recusa da Urbs em iniciar a
municipal permanece com poderes                                                                                 operação dos mesmos, situação que acabou
absolutistas sobre a competência que                                                                            sendo arbitrada pelo Ministério Público.
constitucionalmente são de outros 25
                                                         Um novo modelo de gestão                                   À população coube assistir estarrecida
municípios e do governo do Estado está,                     deve prever a base de                               os demais prefeitos dos municípios da RMC
portanto, no fato de não existir outra                        operação do sistema                               sendo chamados às suas responsabilidades
instituição organizada para substituir                       assentada sobre uma                                sobre o sistema por seus eleitores e
adequadamente a Urbs no papel que vem                                                                           obrigados a dar a incompreensível resposta
desempenhando desde 1996.                                estrutura técnico-funcional                            de que a questão tinha que ser tratada com
    A configuração atual da gestão dos                   com capacidade de elaborar                             o prefeito da cidade vizinha e que eles
transportes na RMC foi implantada no ano                 o planejamento estratégico                             estavam ausentes deste processo.
de 1996 quando um mesmo grupo político                                                                              Deixando os fatos e caminhando para o
                                                          de longo prazo de todas as
administrava o município de Curitiba e o                                                                        campo das proposições de solução para o
Governo do Estado através do que se                           funções públicas de                               aparente dilema existente no sistema de
poderia chamar de cooperação entre amigos                 interesse comum da RMC,                               gestão dos transportes metropolitanos, pode-
para a gestão dos transportes, no lugar de                  aí incluído o transporte                            se dizer que o encaminhamento para um
um modelo de gestão perene e formalmente                                                                        novo modelo de administração dos
constituído através de leis e contratos. A
                                                                     público                                    transportes metropolitanos faz parte do novo
integração dos terminais metropolitanos à                                                                       modelo de gestão proposto para as funções
Rede Integrada de Transportes de Curitiba,                                                                      públicas de interesse comum no Plano de
através do sistema de linhas diretas                       Fosse este modelo estável do ponto de vista         Desenvolvimento Integrado da RMC 2006,
(ligeirinhos), obrigou a transferência de              político poderíamos todos fechar os olhos para          que teve encaminhamento legislativo através
poderes de gestão da Comec para a Urbs                 as desconformidades legais e deixar que o               do projeto de Lei nº. 212/88, em tramitação
como condição para a inclusão das linhas               sistema de transporte de passageiros continuasse        na Assembleia Legislativa do Estado.
metropolitanas no sistema de receitas                  sendo gerido como nos últimos 13 anos.                      A proposta em tramitação devolve ao
públicas e de tarifa integrada operadas em                 No entanto, a ausência de canais formais            órgão metropolitano o poder de gestão
Curitiba.                                              de articulação entre os atores políticos e              atualmente transferido a Urbs e propõe
    Este processo de transferência de                  institucionais que são corresponsáveis pela             como instância máxima deliberativa um co-
poderes e de criação de novas linhas de                administração dos transportes públicos na               legiado formado por prefeitos metropolitanos >>




Acordo para integração dos terminais metropolitanos à rede de transportes de Curitiba acabou por transferir sua gestão da Comec para a Urbs, empresa da prefeitura

Novembro de 2009                                                                                                                                                 5
>>
     e pelo governador do Estado. O novo modelo
     de gestão prevê ainda a base de operação
     do sistema assentada sobre uma estrutura
     técnico-funcional, com capacidade de
     elaborar o planejamento estratégico de longo
     prazo de todas as funções públicas de
     interesse comum da RMC, aí incluído o
     transporte público de passageiros.
         A partir de uma nova instituição que (i)
     coloque as decisões política dos transportes
     sob o comando dos que possuem legitimidade
     para isto, ou seja, o governador do Estado e
     os prefeitos dos municípios metropolitanos,
     (ii) seja dotada de capacidade técnica para
     formular planos estratégicos de longo prazo
     e assessorar os seus conselhos, será possível
     elaborar contratos específicos, even-
     tualmente com a própria Urbs, transferindo
     responsabilidades pela execução de serviços
     operativos, mas nunca o poder político da
     tomada de decisões estratégicas sobre um
     sistema que abrange e, portanto, afeta a
     população de um conjunto de municípios.
         O novo modelo vem sanar também uma
     falha grave da atual maneira de administrar
     o transporte de passageiros na RMC, que é a
     ausência de canais de participação direta da
     sociedade, uma vez que abre a possibilidade
     de participação da sociedade civil organizada
     através de um conselho consultivo.
         O que impede então que este novo
     modelo seja implementado? Pode-se dizer
     que um dos principais motivos é o
     desconhecimento por parte dos atores
     políticos e da sociedade de modo geral sobre
     a possibilidade de se criar mecanismos de
     gestão que compartilhe o poder e que
     estabeleça corresponsabilidades entre atores
     políticos e sociais para a gestão das
     chamadas funções públicas de interesse
     comum metropolitanas, entre elas os
     transportes públicos.
         O governo do Paraná vem adiando essa
     discussão, apesar de ter publicado em 2006,
     na nova edição do Plano de Desen-
     volvimento Integrado da Região Me-
     tropolitana, uma proposição para um novo
     modelo de gestão metropolitana.
         Não é por outro motivo que esta nova
     edição do “Região Metropolitana de Curitiba
     em Debate” levanta o tema procurando
     auxiliar o debate público iniciado com a
     apresentação na Assembleia Legislativa do
     Projeto de Lei n.º 212/08 que propõe a
     construção de um novo órgão metropolitano
     para a gestão das funções públicas de
     interesse comum na Região Metropolitana
     de Curitiba.
         Esperamos estar cumprindo com nosso
     objetivo.                                       Fila para entrar em estação de ônibus “ligeirinho” lotada, no Centro de Curitiba: um sistema exaurido

     6                                                                                                               RMC em debate. Segundo caderno
Artigo


O ciclo político do serviço
público de transporte
coletivo em Curitiba
O economista Luís Maurício Martins Borges, da Ambiens Sociedade Cooperativa,
avalia os motivos que levaram à concentração nas mãos de poucas empresas do
serviço do transporte público coletivo, passando pela relação entre o empresariado e
o poder público. Borges também discute as variações no valor da tarifa paga pelo
usuário, que “é determinada pelo ciclo político dos mandatos locais”

    O debate sobre o transporte coletivo na                                                  determinadas áreas e conjuntos de linhas
Região Metropolitana de Curitiba, sob o                                                      para estarem aptas a prestarem o serviço
aspecto político e socioeconômico, deve                                                      público. Esta reforma, a despeito da sucessão
considerar, entre diversos aspectos                                                          de inovações positivas do ponto de vista do
primordiais, a relevância da capital do Estado                                               serviço público, contribuiu de fato para a
na hierarquia deste sistema, a sua                                                           concentração de poder político e econômico
estruturação espacial e os problemas que                                                     em poucas e grandes empresas1 . Já neste
decorrem de fatores como adensamento                                                         momento, o governo municipal, além de não
populacional, transformação metropolitana                                                    interferir na sistemática do cálculo do preço
da cidade, concentração de população de                                                      da tarifa, aceitou a prorrogação dos prazos
baixa renda, e a tarifa, da qual se desdobra                                                 de vida útil dos veículos em operação de
o acesso a este serviço público. Discute-se                                                  cinco para dez anos, embora o custo da
neste trabalho especialmente a tarifa e o                                                    renovação da frota contasse nas planilhas
gasto fiscal, que são centrais na                                                            de determinação do preço da passagem.
determinação do ciclo político local em                                                          As mudanças mais conhecidas do sistema
função tanto da concentração do mercado                                                      de transporte, como ônibus expressos e
de serviços públicos de transporte coletivo                                                  ligeirinhos, introduzidas respectivamente nas
como da afinidade entre o conjunto mais                                                      décadas de 1970 e 1990, requereram
amplo de interesses. De um lado interesses                                                   adaptações nos veículos para operação no
das empresas em manter os serviços e obras                                                   sistema concebido pelo poder público
públicas como estão, afinal de contas, este                                                  municipal, que, além da praticidade pro-
um “modelo”, e de outro lado, dos grupos                                                     porcionada, também representaram uma
políticos, que vêm orientando a construção                                                   sólida barreira de mercado à entrada de novas
da capital – ambos sob a finalidade de sua                                                   empresas. Essa barreira constitui-se pelo risco
própria acumulação capitalista sustentada                                                    de imobilização de capital em ônibus especiais,
através do Estado.                                                                           onerosamente adaptados a outras atividades,
    A origem desse sistema remonta-se a                                                      além do volume de capital e influência política
meados da década de 1950, quando o                                                           necessários à concessão da regularidade para
transporte coletivo ainda era constituído pelo                                               o serviço de transporte coletivo. Assim, já na
sistema de lotações, concentradas nas rotas                                                  década de 1970 até os dias hoje, se consolida
mais lucrativas e sem horários fixos. O                                                      a concentração desde mercado sobre as
governo Ney Braga fez uma reforma no                                                         mesmas 10 empresas em atividade.
sistema, na qual as empresas deveriam                                                            A aliança entre setores empresariais e
apresentar uma determinada eficiência                                                        poder executivo municipal nem sempre foi
técnica e profissional e responder por           Luis Maurício Martins Borges é economista   tão fraterna, como conta a história do trans- >>

Novembro de 2009                                                                                                                        7
>>
     porte coletivo com casos bastante elu-                                                                Deste processo que se inicia em meados
     cidativos destes conflitos. O PMDB na                                                             e transcende o fim de um mesmo século
     década de 80 estabeleceu uma aliança com                                                          XX, destaca-se a concentração do mercado
     os movimentos populares, especialmente em                                                         de serviço de transporte público, consolidado
     relação à questão do transporte coletivo, em                                                      na década de 1970, seguida da mobilização
     um momento de agravamento do quadro                                                               política das empresas de ônibus para a defesa
     social causado pelo desemprego e intensa                                                          de seus interesses nos anos 1980. As dez
     migração em meio à transformação e                                                                empresas de transporte coletivo regulares
     recrudescimento da crise econômica. A                                                             de Curitiba4 , representadas pelo Sindicato
     representação desses movimentos                                                                   das Empresas de Transporte Urbano e
     constituía-se através do Movimento das                                                            Metropolitano de Passageiros de Curitiba e
     Associações de Bairros (MABs), pela                                                               Região Metropolitana (Setransp), têm plena
     exigência da redução imediata dos gastos                                                          convergência de interesses com outros
     com transportes e pela redefinição da                                                             sindicatos, como do mercado imobiliário
     relação entre poder público e empresariado                                                        (Ademi e Secovi) e da construção de obras
     de ônibus2 . O temor dos empresários deste                                                        públicas (Apeop), como se verá a seguir.
     setor concretiza-se primeiro quando o então                                                       No entanto, a Setransp representa o centro
     deputado estadual Roberto Requião                                                                 do poder econômico e político historicamente
     encaminhou na Assembleia legislativa projeto                                                      organizado no acesso a grande parte do
     de lei propondo a estatização, não só dos                                                         orçamento público de Curitiba, realizada
     transportes coletivos, mas de todos os                                                            através da empresa de Urbanismo – Urbs,
     serviços públicos da capital. Num segundo                                                         que, atualmente, responde por mais de um
     momento, as ações estatizantes ganharam                                                           quinto do total dos recursos municipais sem
     forma na gestão do prefeito Requião (1985-                                                        qualquer interferência, informação ou
     1988), com apoio popular na mobilização de                                                        prestação de contas à sociedade curitibana.
     fiscais para aferir as condições de operação                                                          É com este histórico apresentado que se
     da frota e apresentar elementos para a                                                            conclui, no findar do século 20, a origem da
     aferição dos cálculos de determinação dos                                                         política recente de tarifa pública de transporte
     preços das passagens de ônibus.                                                                   coletivo, e se passa à sua análise, a partir do
         Após a constatação de inúmeras                                                                segundo governo Taniguchi, nos primeiros
     irregularidades – como fraudes, desvios,                                                          anos do milênio. No último ano do governo
     manipulação de informações e a sonegação                                                          Taniguchi, em 2004, um desentendimento
     deliberada da substituição de ônibus com vida                                                     entre o futuro candidato a prefeito, Beto
     útil vencida ainda em circulação – a gestão                                                       Richa (a época vice-prefeito), com o atual
     Requião requereu judicialmente, com                                                               prefeito a respeito do aumento da tarifa de
     sucesso, a anulação das concessões                                                                transporte coletivo fez com que Richa, na
     outorgadas aos empresários, tornando-os                                                           ausência do outro, oportunamente reduzisse
     permissionários. Isto aumentou o controle                                                         a tarifa, que depois foi aumentada. Tudo às
     público sobre o transporte coletivo, reduzindo                                                    vésperas da eleição. Em 2005, embora a
     a possibilidade de manipulação das planilhas                                                      tarifa de transporte público de Curitiba, no
     de custo. No entanto, as mudanças foram                                                           primeiro ano do governo Richa, tenha sido
     muito pequenas já que não se alterou a                                                            realmente reduzida em R$ 0,10 – passando
     estrutura deste mercado, mantendo-se as                                                           para R$ 1,80 – voltou a R$ 1,90 em 2006 e
     mesmas empresas. Apesar da incon-                                                                 manteve-se constante até 2008. Em janeiro
     veniência a esses empresários, as                                                                 de 2009, após a re eleição de Richa, sem
     alterações nas planilhas de custo das tarifas                                                     surpresa nenhuma a tarifa subiu para R$ 2,20.
     de ônibus puderam ser suportadas e até                                                                Na representação da Figura 1, observa-
     revertidas em benefício destes nos                                                                se que em todo o segundo mandato de
     mandatos posteriores 3 .                                                                          Taniguchi (2001 a 2004) a tarifa pública teve
         O sindicato das empresas de transporte                                                        crescimento superior à despesa com
     público de passageiros deixou sua postura                                                         transporte coletivo deste período. Em 2005,
     meramente reativa e passou a atuar junto à                                                        com a redução da tarifa no primeiro ano do
     Câmara na eleição e cooptação de                                                                  governo Richa, ocorre o crescimento da
     vereadores, construindo um bloco                                                                  despesa de transporte custeada pelo
     parlamentar hegemônico, capaz de                                                                  orçamento público municipal, apresentando
     salvaguardar o setor contra quaisquer                                                             pequena queda em 2006, com aumento do
     ameaças estatizantes, impor seus pontos de                                                        preço da tarifa. O congelamento da tarifa que
     vista sobre a gerência do transporte coletivo e                                                   se seguiu nos anos anteriores às eleições
     até transformar-se em porta voz da demanda                                                        municipais de 2008 foi acompanhado pelo
     de outros setores (Oliveira 2000, p. 152).        Rua congestionada no anel central de Curitiba   aumento da despesa pública de transporte

     8                                                                                                       RMC em debate. Segundo caderno
coletivo. Em janeiro de 2009, após a nova posse
do prefeito, o reajuste da tarifa pública equipara-
se à proporção da evolução das despesas
públicas com transporte coletivo, em um padrão
de financiamento do serviço semelhante ao do
segundo governo de Taniguchi.
    Fica flagrante então que a evolução do
preço da tarifa de ônibus é determinada pelo
ciclo político dos mandatos locais. Disso
decorre o fato de que o serviço se organiza
menos pelo planejamento da expansão do
sistema de transporte do que pelo uso político
eleitoral, como um “subsídio” ao setor,
quando na verdade é um gasto público,
reduzido após as eleições, com o aumento
da tarifa. Transfere-se nestes momentos o
custo do sistema de transporte coletivo para
os usuários. Essa dinâmica sustenta os
interesses de políticos e empresários nos
ciclos de sucessão eleitoral e de acumulação
capitalista, em projetos de expansão e
manutenção do conjunto de serviços públicos
municipais quando da produção de
infraestrutura de ônibus, estações, vias,
iluminação, habitação e saneamento, de
maneira a determinar o lugar de cada classe
de cidadão no espaço da cidade, pela
articulação das condições de transporte e
equipamentos públicos ao trabalho e moradia.


ESPAÇOS URBANOS

    A valorização de determinados espaços
urbanos pelo jogo do mercado vale-se
historicamente dos investimentos públicos,
a serviço do fortalecimento das condições
de acumulação no mercado imobiliário, com
a criação de uma falsa escassez de terras
que existe em relação ao poder das distintas
classes sociais, de retenção e acesso a essa
preciosa mercadoria: a terra. Na falta de                                           Passageiros no Terminal Alto Maracanã, em Colombo, um dos mais movimentados da Grande Curitiba
um planejamento político territorial da cidade,
por meio da livre valorização do preço do                                           menos qualificados e valorizados. A aparente         renda que se aproxima das principais vias,
uso (ou desuso) da terra, processa-se a                                             falta de relação entre as políticas públicas         enquanto os conjuntos habitacionais pro-
seleção dos habitantes de mais alta renda                                           urbanas de investimentos em novos conjun-            movidos pelo poder público municipal, assim
para o acesso aos melhores serviços e con-                                          tos habitacionais e vias de comunicação              como as ocupações irregulares, com o efeito
dições, enquanto se relega às classes de                                            rápida é bastante coerente à estratégia de           da valorização das terras, são impelidos a
mais baixa renda espaços mais distantes,                                            concentração da população de mais alta               se distanciar destas novas infraestruturas. >>

     Evolução do crescimento anual do custo da tarifa de ônibus, da despesa
     em transportes coletivos urbanos e do orçamento anual, entre 2001 e 2008

                                                                 2001                   2002              2003        2004        2005           2006           2007           2008/09
   Custo Tarifa de ônibus (R$ 1,00)                              1,10                   1,50              1,65        1,90        1,80           1,90           1,90           2,20
   Despesa em Transporte Coletivo*                              356.030                 442.115           475.500     546.290     672.000        521.925        638.165        673.640
   Orçamento Anual*                                             1.537.000               1.690.000         1.940.000   2.250.000   2.425.000      2.353.691      2.824.411      3.911.233
* (em mil reais)
Fonte: Sítio da prefeitura de Curitiba (2008), Secretaria de Finanças, Informação sobre Orçamento Anual



Novembro de 2009                                                                                                                                                                         9
>>
                                       Não é de difícil constatação a destinação relativas à prestação do serviço também
                                  dos serviços e da infraestrutura pública, público de transporte coletivo. Nenhum outro
                                  determinada por classe de cidadão (pelo seu aspecto do serviço público municipal tem
                                  nível de renda), em espaços dotados de seus números tão bem guardados quanto
                                  consolidada infraestrutura pública e social, este serviço. Um cidadão interessado em
                                  enquanto outros se mantêm impossibilitados buscar informações relevantes a respeito da
                                  de acesso a serviços de saneamento prestação do serviço de transporte coletivo
                                  ambiental, à propriedade legal da moradia decepciona-se na verificação do sítio da
                                  regular e ao padrão de transporte público prefeitura, pois observa a falta de
                                  (como do modelo de Curitiba). É fácil o especificação do programa de transporte
                                  usuário de transporte coletivo concordar que coletivo, no orçamento municipal de 2001 a
                                  este serviço é bom quando você o utiliza nas 2009, detalhado em atividades e projetos, a
                                  linhas de expresso, ligeirinhos e coletores em exemplo de outros programas, como o de
                                  pequenos trechos, fora do horário de pico e habitação.
                                  ao redor ou próximo às vias que levam ao             Os interessados em política urbana não
                                  Centro.                                          encontrarão no diagnóstico do plano de
                                       O sistema de transporte coletivo mostra mobilidade urbana5 informação também
                                  suas inconsistências e obstáculos na medida disponível neste sítio, descrição detalhada dos
                                  em que o passageiro                                                      custos e do histórico
                                  percorre grandes dis-                                                    de serviço (número
                                  tâncias, por várias co-                                                  de pessoas transpor-
                                                                    A evolução do preço
                                  nexões, especialmente                                                    tadas), sob a ausência
                                  no horário de maior                da tarifa de ônibus                   de uma proposta ob-
                                  fluxo de trabalho e                   é determinada                      jetiva de transporte
                                  estudo. A partir dos ex-           pelo ciclo político                   coletivo em massa,
                                  tremos gradientes qua-                                                   considerando as con-
                                  litativos do serviço de
                                                                    dos mandatos locais                    dições diferenciadas
                                  transporte coletivo de                                                   dos cidadãos. Fica
                                  ônibus conclui-se que o                                                  também o registro de
                                  sistema funciona melhor para turismo e lazer que o deputado estadual Tadeu Veneri (PT),
                                  do que para o trabalho e estudo na cidade.       durante o debate entre os autores que
                                       O programa de Transporte Coletivo, escrevem para esta publicação, colocou a sua
                                  como apresentado no Plano Plurianual de insistência, sem sucesso há oito anos, de
                                  Curitiba 2006-2009, pretendendo orientar à acesso a este tipo de informação junto a Urbs.
                                  melhoria da mobilidade através do aperfei-           O transporte coletivo de Curitiba tem boa
                                  çoamento do sistema de transporte, com vis- infraestrutura, porém é melhor de se
                                  tas a atrair mais usuários, apontava a expan- apresentar na sua parte mais visível em
                                  são da infraestrutura de terminais, estações, determinadas áreas privilegiadas e centrais
                                  tubos e veículos (ônibus).                       do que para se utilizar e viver no dia a dia
                                       Para isso, foi realizado gasto público por toda a cidade, especialmente para as
                                  municipal de 21,1% do orçamento total do pessoas de menores níveis de renda, que
                                  município de Curitiba (R$ 2,5 bilhões entre residem e trabalham a maiores distâncias.
                                  2006 e 2009), financiados pela tarifa pública,       A condução política do estado, por parte
                                  o vale transporte (também chamado de VT), dos interesses privados que se perpetuam à
                                  além de outros recursos fiscais, constituindo- décadas na história da cidade, tem nas
                                  se num fenômeno central ao entendimento empresas prestadoras do serviço público de
                                  da política urbana.                              transporte coletivo a “espinha dorsal” da
                                       Embora seja gasto essa fabulosa estrutura mais bem estabelecida das
Um cidadão interessado em
                                  quantidade de recurso público – sustentada alavancas que conduzem a política fiscal,
   buscar informações a           pelo fato de que o orçamento municipal de fundiária e financeira do governo municipal.
 respeito da prestação do         Curitiba é o terceiro maior do Brasil (ver A força deste movimento particular, no que
   serviço de transporte          tabela) em termos per capita –, o transporte toca ao serviço público de transporte coletivo,
                                  coletivo da cidade não é exceção no País no pode ser representada tanto pela história, que
coletivo decepciona-se no         que diz respeito à qualidade do acesso pelos é anterior a muitos de nós, como pelo volume
  site da prefeitura, pois        grupos que mais necessitam deste meio de de recursos e as oportunas oscilações
     observa a falta de           transporte, seja por falta de alternativa ou por recentes da tarifa e do gasto fiscal.
especificação do programa         opção, e especialmente para os moradores             Do ponto de vista dos empresários, a
                                  dos lugares mais distantes do Centro.            convergência é construída pela diversidade
no orçamento municipal de              Um último fato importa ser destacado: a de projetos complementares na construção
        2001 a 2009               omissão de informações de interesse público da cidade, enquanto a divergência dá-se na

10                                                                                       RMC em debate. Segundo caderno
distribuição das fatias dos recursos fiscais.                pública: a primeira, relativa à disponibilidade              sua análise institucional histórica da política urbana,
Sob este aspecto os empresários do trans-                    das informações essenciais para o debate                     o caso de Curitiba, na conformação do modelo
porte coletivo são os grandes vencedores.                    público a respeito do planejamento e da                      Curitibano de planejamento, para o benefício dos
Do ponto de vista da sociedade, a con-                       política de transporte coletivo e, a outra, de               interesses de empresários do setor de transporte
                                                                                                                          coletivo, especuladores do solo urbano e
vergência é construída pela concentração                     redução da especulação imobiliária, por meio
                                                                                                                          empreiteiros de obras públicas. A respeito do setor
dos serviços públicos nas pessoas de                         do IPTU progressivo no tempo, destinando                     de transporte coletivo mostra um interessante
melhores condições sociais, em termos de                                                                                  retrospecto de como se constitui a história 10
renda, enquanto a divergência dá-se pelo                                                                                  empresas privadas que lotearam este serviço público
outro extremo, de pessoas com piores                              A partir dos extremos                                   em Curitiba.
condições de renda, que têm acesso aos                         gradientes qualitativos do
                                                                                                                               2
                                                                                                                                 (Ibid, p. 144) Oliveira no tópico a discussão da
piores serviços e infraestruturas públicas.                                                                               revolução do transporte coletivo, relata a resistência
Isso por força dos interesses ligados à                            transporte coletivo,                                   de setores populares e da classe média frente à
especulação causada por promotores                              conclui-se que o sistema                                  voracidade dos interesses dos empresários deste
imobiliários que usam a expansão da                                                                                       setor na crise dos anos 80.
                                                                  funciona melhor para                                         3
                                                                                                                                  (Ibidem, p. 149) Oliveira explica mais
infraestrutura para seu próprio lucro.
    Estes contrastes de interesses, per-
                                                                 turismo e lazer do que                                   detalhadamente como o empresariado do setor de
                                                                para o trabalho e estudo                                  transporte coletivo fundou uma máquina que imprime
cepções e de possibilidades de vida explicam                                                                              a dinâmica da política urbana das últimas décadas,
importantes conflitos urbanos visíveis em                               na cidade                                         especialmente centrada sobre o transporte público
Curitiba, como a piora do serviço de trans-                                                                               de Curitiba.
                                                                                                                               4
porte coletivo, que acarreta o agravamento                                                                                        As 10 empresas de transporte urbano de
do fluxo de veículos, pessoas e tempo de                     os lotes ociosos e adequados à construção                    Curitiba são as Auto(s) Viação Água Verde Ltda.,
deslocamento, e a especulação pela desocu-                   de moradias, com subsequente efeito de re-                   Viação Curitiba Ltda., Viação Marechal Ltda., Viação
                                                             dução do preço do terreno, orientando as                     Mêrces, Viação Nossa Senhora da Luz, Viação Nossa
pação de imóveis, construídos ou não, que
                                                             áreas de infraestrutura adequadas e dis-                     Senhora do Carmo Ltda., Viação Redentor Ltda.,
expulsa a população para locais cada vez                                                                                  Viação Cidade Sorriso Ltda., Empresa Cristo Rei Ltda.
mais distantes e por vezes inadequados ou                    poníveis ao adensamento populacional.
                                                                                                                          e Transporte Coletivo Glória Ltda.
de risco.                                                        Notas e referências bibliográficas                            5
                                                                                                                                 PHHIS. Plano Municipal de Mobilidade Urbana
                                                                 1
    A conjuntura apresentada aponta para                           DennisonOLIVEIRA(2000,p.137),emCuritiba                e Transporte Integrado –PlanMob Curitiba. Curitiba,
duas saídas potenciais, no campo da política                 e o Mito da Cidade Modelo, apresenta através de              Prefeitura Municipal, IPPUC e COHAB-CT 2008.




TerminalAlto Maracanã, em Colombo, uma das mais concentradas aglomerações urbanas de baixa renda da RMC: exemplo do modelo que impele os mais pobres e se afastar da infraestrutura

Novembro de 2009                                                                                                                                                              11
Reportagem


Impasses entre Urbs e
Comec prejudicam
transporte coletivo
Quem é o gestor do sistema de transporte público da Região Metropolitana de
Curitiba? Quais são as competências e responsabilidades da Urbs e da Comec?
O gerente de Operação do Transporte Coletivo da Urbs, o engenheiro Luiz Filla,
e o diretor do Transporte Metropolitano da Comec, Joel Ramalho, falam sobre a atual
administração do sistema e questões polêmicas, como o impasse nos projetos de
construção e ampliação dos terminais do Alto Maracanã, Guaraituba e Roça Grande.
Reportagem de Camila Castro
    Quando se fala em transporte público                                                              para percebemos sinais do seu esgotamento.
coletivo, logo começam as reclamações dos                                                             O sistema parou, não evoluiu com o tempo.
usuários. Ônibus lotados e sujos, longas filas                                                        E de quem é a responsabilidade? A princípio,
e tempo de espera nos pontos de parada,                                                               em Curitiba, seria da Urbs, administrada pela
alto custo da passagem, poucas linhas e                                                               prefeitura, e, na RMC, da Comec, órgão do
horários e falta de segurança dentro dos                                                              governo do Estado.
veículos e nos terminais são algumas das                                                                  Porém, em 1996 foi assinado convênio
principais queixas dos passageiros que                                                                em que a Comec delega a Urbs “as
utilizam o sistema de transporte coletivo de                                                          atividades de planejamento e gerenciamento
Curitiba e Região Metropolitana. Mesmo                                                                do transporte metropolitano, a implantação
assim, o gerente de Operação do Transporte                                                            de medidas necessárias para a compatibi-
Coletivo da Urbs, o engenheiro Luiz Filla,                                                            lização e adequação do transporte coletivo
afirma que ele é modelo para o mundo.                                                                 metropolitano com o sistema de transporte
    “A Urbs e o sistema de transporte                                                                 coletivo de passageiros de Curitiba, visando
público têm reconhecimento internacional.                                                             a integração operacional destes sistemas que
É preciso conhecer outros sistemas para ver                                                           comporão a rede integrada de transporte
o que se consegue fazer em Curitiba e                                                                 coletivo da Região Metropolitana de
Região Metropolitana. Os corredores, as                                                               Curitiba”.
canaletas, o biarticulado e os ligeirinhos são                                                            “Isso porque a Urbs tinha estrutura
marcas da cidade copiadas por outros                                                                  melhor que a da Comec e, na época, havia
municípios, até no exterior. Mas não podemos                                                          grande facilidade em todos os campos, até
parar, temos que otimizar, buscar sempre um                                                           mesmo político, porque governo e prefeitura
sistema melhor”, diz Filla. E se perguntar-                                                           eram do mesmo grupo”, explica o diretor do
mos a opinião de um usuário: “Modelo? Só                                                              Transporte Metropolitano da Comec, Joel
se for para quem não usa os ônibus todos os                                                           Ramalho. “O convênio é absolutamente
dias, não tem que acordar uma hora mais                                                               legal”, frisam Joel e Filla. “Já foi aditivado
cedo para chegar ao ponto, que fica longe                                                             diversas vezes e, em janeiro do ano passado,
de casa, e ainda encarar horas de viagem                                                              renovado por mais 15 meses”, diz Joel.
até Curitiba no veículo lotado, que pode ser                                                              O convênio determina à Comec o
assaltado”, afirma Nilson Pereira, 31 anos,                                                           controle e a liberação da execução de
morador do Jardim Ana Rosa.                                                                           concessões ou permissões para o serviço
    Ainda que o sistema seja considerado                                                              de transporte coletivo na RMC; o repasse
modelo, basta darmos uma olhada em volta         Luiz Filla, gerente de Transporte Coletivo da Urbs   de recursos à Urbs, para apropriação no

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Fundo de Urbanização de Curitiba, para
execução de obras de modernização e
racionalização do sistema de transporte
metropolitano referente a infraestrutura e
construção de novos terminais; a arcar
diretamente com os custos nas obras na
RMC; e a aprovação dos reajustes de tarifas
metropolitanas sugeridas pelo órgão
municipal.
    São responsabilidades da Urbs, segundo
o convênio, planejar o sistema, fiscalizar os
serviços operacionais e gerir todo o
transporte urbano e metropolitano, incluindo
contratações para realização das obras de
melhorias do sistema. A lei municipal nº
12.597, sancionada em janeiro de 2008, veio
reforçar as atribuições da Urbs. Segundo o
texto, o órgão é responsável pela regulação,
gerenciamento, operação, planejamento e
fiscalização do sistema de transporte coletivo
de passageiros em Curitiba e Região
Metropolitana (art. 12).
    A licitação para empresas prestadoras
do serviço de transporte público em Curitiba
também é de responsabilidade da Urbs,
conforme determinação da lei municipal, art.
7.º, reforçada pelo “Parágrafo Único – As
concessões e permissões para a prestação
dos serviços serão outorgadas mediante
prévia licitação, que obedecerá às normas
de legislação municipal e federal sobre
licitações e contratos administrativos (...),
observando-se sempre a garantia dos
princípios constitucionais da legalidade, da
moralidade, da publicidade e da
impessoalidade, e os princípios básicos da
seleção da proposta mais vantajosa para o
interesse coletivo, da probidade admi-
nistrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório e do julgamento objetivo (...)”.
    Até aqui parece ser tudo simples – uma       Joel Ramalho, diretor de Transporte da Comec, defende a criação de um novo modelo institucional
gestão integrada de transporte coletivo, em
que prefeitura e Estado têm suas                 implicaria em aumento de custos, e a Comec custos para uma tarifa já definida precisa
competências e responsabilidades. Porém,         dizia o contrário: o número de ônibus de indicação de fontes de custeio. O que
situações recentes mostram que esta              alimentadores em di-                                               não aconteceu na
administração ainda não é adequada o             reção ao Alto Mara-                                                época dos proje-
suficiente para atender com eficácia a           canã seria menor.            Prefeitura de Curitiba                tos”, explica Filla.
demanda pelo transporte. Podemos                 Portanto, haveria re-              diz que sistema                 Segundo o gerente,
destacar os casos que envolveram a               dução da quilometra-               de transporte é                 “a Urbs deixou
ampliação do terminal do Alto Maracanã e         gem rodada e de 30%                                                claro” que o ideal
a construção dos terminais do Guaraituba e       da demanda.
                                                                           “modelo internacional”.                  seria um terminal
Roça Grande, todos na RMC. Apesar das                “A busca pela             “Só se for pra quem                  único, com infraes-
obras concluídas pelo Estado (investimentos      sustentabilidade, que             não anda nesses                  trutura única, para
de R$ 2,6 milhões), por mais de dois anos o      é uma competência                   ônibus lotados                 o sistema não ter
terminal do Guaraituba ficou sem operação        da Urbs, implica em                                                que arcar com
da Urbs por conta de impasse entre os dois       regras. Na cláusula
                                                                                    todos os dias”,                 novas despesas.
órgãos. O projeto previa ampliação do Alto       terceira, o convênio                rebate usuário                     “Calculamos
Maracanã (investimentos de R$ 3,6 milhões        (aquele, assinado em                                               que a abertura do
do Estado) e repasse de treze linhas para o      1996) estabelece que novas integrações ou Alto Maracanã em dois terminais teria custo
Guaraituba. A Urbs alegava que tal mudança       alterações operacionais que gerem novos inicial de R$ 235 mil, o que, na prática, se >>

Novembro de 2009                                                                                                                                   13
Terminal da Roça Grande: projetado pela Comec para um tipo de operação, recebeu outra pela Urbs. Resultado: não atrai usuários nem lojistas

>> transformou em R$ 270 mil. Mesmo assim,                Guaraituba”, conta Filla. Segundo Joel, a              e devemos começar as obras em pouco
   a Comec continuou com o projeto de novo                Comec “não possuía recursos para repassar              tempo”, afirmou Joel, em agosto. Durante
   terminal”, destaca. Por outro lado, o presi-                                                                    este tempo de discussão, os usuários
   dente da Comec, Alcidino Bittencourt                                                                            conviveram com problemas no sistema de
   Pereira, afirmava na época que a mudança                          Hoje, a rede                                  transporte público. E, mesmo com o
   não implicaria em ônus para o sistema, “mas                     integrada atinge                                impasse desfeito, os problemas continuam,
   em redução de custos em conseqüência da                          mais de 93% de                                 principalmente no Alto Maracanã, como
   diminuição da quilometragem rodada de                                                                           conta Luciana Dias de Souza, 23 anos.
   ônibus alimentadores, que terão seus trajetos
                                                                     Curitiba. Nos                                    “Apesar de haver muitos, os ônibus
   reduzidos em menos de seis quilômetros, no                      treze municípios                                chegam lotados no Alto Maracanã. Tenho
   mesmo corredor de transporte”.                                com maior demanda                                 que sair mais cedo de casa para tentar pegar
       O problema foi resolvido da seguinte                    na Região Metropolitana,                            um que esteja mais vazio, ou espero dois
   forma: “Negociamos com a Comec para                                                                             ou três passarem e pego o quarto”, conta.
   incluirmos o custo do Guaraituba na nova
                                                                  o índice é de 73%                                   O impasse entre Urbs e Comec tam-
   tarifa – quanto ela passou de R$ 1,90 para                                                                      bém prejudica o pleno funcionamento do
   R$ 2,20 – e, em contrapartida, a Comec nos             mensalmente à Urbs para esta manutenção”.              terminal Roça Grande, que entrou em ope-
   ajudaria a reformar e ampliar o terminal do            “Portanto, acordamos que a Comec fará as               ração no mês de agosto. Poucas linhas
   Cabral, que não comporta as linhas do                  obras no Cabral. A licitação está concluída            passam pelo local, porque não há integração

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total com Curitiba, apenas via Alto público urbano e metropolitano, há o subsídio
Maracanã, “o que é desconfortável”, confor- cruzado, conforme explica Filla. A receita
me Joel. Para isso, Filla afirma que é preciso do sistema é pública e o pagamento às
pensar, mais uma vez, nas despesas extras empresas por quilômetro.
e na forma como Curitiba pode absorver a           “O sistema funciona como um caixa
nova demanda. Segundo Filla e Joel, a ideia único. Soma-se todas as despesas do sistema
é colocar as linhas no terminal Santa urbano e metropolitano e divide-se pelo
Cândida, que precisaria de ampliação. Há número de usuários transportados. Portanto,
ainda a possibilidade de usar o terminal do o custo do sistema metropolitano está incluso
Cabral.                                        no valor da tarifa urbana, que é subsidiada
    .“Para colocarmos as linhas no Cabral pela prefeitura de Curitiba. Este subsídio
seria necessária nova ampliação, além da cruzado do sistema urbano para o
que será feita para atender as linhas do metropolitano é superior a R$ 4 milhões
Guaraituba. O total funcionamento do Roça mensais. O usuário do transporte da capital
Grande implica em R$ 500 mil de acréscimo banca isto. A proposta para o reajuste da
de custo. É preciso definir se esse valor será tarifa era de R$ 2,27, mas foi decretado R$
repassado para a tarifa paga pelo usuário 2,20. A tarifa metropolitana é R$ 2,50. Como
ou se o Estado ou a prefeitura local – que é temos 75% do pagamento da tarifa sendo
beneficiada com o sistema integrado – feita pelos usuários urbanos, significa que
repassarão estes recursos”, argumenta Filla. muita gente, com um pouco a mais, subsidia
Segundo Joel, “Urbs                                                      os 25% do sistema
e Comec estão                   Impasse entre Urbs e                     metropolitano. E
estudando a melhor                                                       por isso também há
possibilidade”.
                              Comec prejudica o pleno                    o subsídio da pre-
    Enquanto o pro-               funcionamento de                       feitura. Caso con-
blema não é resolvido,         terminais de ônibus na                    trário, o valor da ta-
mais uma vez quem              Região Metropolitana.                     rifa na Região Me-
paga a conta é o                                                         tropolitana seria
usuário, fala Nilson         Resultado — eles atendem superior a R$ 2,50”,
Pereira, 31 anos,                a poucas linhas, sem                    diz Filla.
morador do Jardim               integração total com                         Diariamente, o
Ana Rosa. “Não há                          Curitiba                      valor arrecadado
ônibus direto para o                                                     pelas empresas de-
Centro de Curitiba. Para voltar, tenho que ve ser depositado em conta gerenciada pela
pegar a linha Pinhais – Guadalupe e, depois, Urbs, que fiscaliza esta operação. “Todos
a Ana Rosa. Pago duas passagens e fica os dias a empresa recebe a quilometragem,
pesado no orçamento. Para ir trabalhar, com dez dias de intervalo. Como a receita é
preciso sair de casa duas horas antes porque pública e o pagamento é por quilômetro, a
não há integração, então, é mais demorado”, Urbs tem mais responsabilidade, o que requer
fala. “De que adianta gastar tanto dinheiro planejamento e fiscalização em relação à
para construir um terminal, se ele não é quilometragem e à receita do sistema”,
usado totalmente? As pessoas não querem afirma Filla.
vir aqui. Os espaços para as lojas estão           O valor repassado pela Urbs às empre-
vazios porque não há gente para comprar. sas inclui combustível e manutenção dos
Não adiantou de nada”, acrescenta Nilson. ônibus. “Para tentar equilibrar as contas, a
    A Urbs, responsável por tudo isso, Urbs foi reduzindo o custo quilômetro pago
responde: “Dentro da técnica de transporte, aos empresários porque a tarifa é baixa, não           “Apesar de haver muitos,
visamos ampliar a integração metropolitana, supre as necessidades. Há falta de caixa                os ônibus sepre chegam
mas também temos que buscar a sustentabi- para este pagamento. Um dos motivos para
                                                                                                  lotados ao terminal do Alto
lidade do sistema e planejar a estrutura das isto pode ser a caixa preta que é a Urbs,
consequências dessas novas integrações, com gastos que ninguém conhece bem.                         Maracanã (em Colombo).
como a ampliação dos terminais ou cons- Além disso, as linhas da RMC continuam                     Tenho que sair mais cedo
trução de novas”, diz Filla.                   com valores baixos e, por isso, as pessoas          de casa para tentar pegar
                                               as utilizam porque as outras são mais caras”,
                                               argumenta Joel.
                                                                                                   um que esteja mais vazio,
    PASSAGENS                                      Por outro lado, os usuários reclamam que        ou é preciso esperar dois
                                               a tarifa é alta. “Entendemos que uma tarifa         ou três passarem antes de
    Além das obras de melhoria e da falta é cara quando ela afeta a capacidade de
                                                                                                        conseguir lugar”
de licitação para as concessões das linhas pagamento da população. Temos sempre
pesarem no cálculo das tarifas do transporte que buscar alternativas para desonerar este >>         Luciana Dias de Souza, usuária

Novembro de 2009                                                                                                                     15
>> custo. Mas as pessoas precisam pensar que     conseguimos construir terminais de inte-
                                    nosso sistema oferece uma rede integrada, gração, para que proporcione a possibilidade
                                    e elas podem ir de mais de um ponto a outro de vários deslocamentos com uma única
                                    pagando apenas uma tarifa. Assim, a tarifa tarifa”, ressalta o engenheiro.
                                    torna-se acessível ao usuário do transporte       Porém, para o presidente do Senge-PR,
                                    coletivo”, avalia Filla, ao ressaltar que em o engenheiro civil Valter Fanini, a pesquisa
                                    todo o mundo o transporte coletivo é é fundamental para o planejamento adequado
                                    subsidiado.                                                            do sistema de trans-
                                        “O nosso subsí-          Urbs estuda a adoção do                   porte. “Devemos
                                    dio é pequeno. O ca-                                                   lembrar que, mais
                                    minho talvez seja es-          bilhete único, que irá                  que demonstrar a
                                    te, aumentar o subsí-       permitir ao usuário pagar                  forma como é car-
                                    dio”, acrescenta.            uma passagem e utilizar                   regada a atual rede
                                    Ainda segundo Filla,                                                   de transportes,
                                                                   diferentes linhas num
                                    o desenvolvimento                                                      indicando eventuais
                                    de uma Pesquisa de           determinado período de                    desvios da oferta
                                    Origem e Destino           tempo. Primeiro teste será em relação à de-
                                    (que coleta dados              realizado na região de                  manda, a pesquisa
                                    sobre demanda, tra-                                                    serve para calibrar
                                    jetos e horários em
                                                                Santa Quitéria, na capital                 os modelos de ge-
                                    que os usuários                                                        ração de viagens
                                    utilizam as linhas, de forma a identificar os futuras, relacionando-as com variáveis socio-
                                    fluxos e permitir o melhor planejamento do econômicas e de uso e ocupação do solo.
                                    transporte) não é determinante, já que o Assim, serve para a formulação do planeja-
                                    sistema em Curitiba e RMC é integrado.         mento de médio e longo prazo dos sistemas
                                        “Hoje, a rede integrada atinge mais de de transportes urbanos, o que não tem sido
                                    93% em Curitiba. Nos treze municípios com a prática em Curitiba e Região Metropo-
                                    maior demanda na Região Metropolitana, o litana”, argumenta.
                                    índice é de 73%. Procuramos proporcionar
                                    esta acessibilidade independente de               INCENTIVOS
                                    pesquisa”, fala o gerente da Urbs.
                                        Mas, e nos casos em que não há integra-       Com a tarifa considerada alta pelos
                                    ção? Filla conta que está em estudo a usuários, muitos têm recorrido a outras
                                    implantação do bilhete único, que permite formas de transporte, como o carro ou a
                                    ao usuário pagar uma passagem e utilizar moto, para se deslocar da RMC a Curitiba,
                                    diferentes linhas em um período determinado seguindo tendência nacional de des-
                                    de tempo. “É o caso da região de Santa locamento entre cidades do entorno e ca-
                                    Quitéria, onde estamos ampliando a estação pitais. Em percursos de até sete quilômetros,
                                    tubo para integrar linhas da região, já que carros e motos são considerados mais
                                    não conseguimos viabilizar o terminal”, disse. baratos para o transporte, conforme mostra
                                        “Cidades que não conseguiram construir pesquisa da Associação Nacional de
                                    terminais de integração, com uma rede Transportes Públicos (ANTP) com dados
                                    racional e sustentável, implantaram o bilhete de abril. O estudo aponta que, para esta
                                    temporal. Em Curitiba, pretendemos adotar distância, usuários de ônibus gastam de 14%
                                    a medida em regiões em que não a 228% a mais do que os que utilizam carro
    “De que adianta gastar
     tanto dinheiro para              Custo de viagem de sete quilômetros,
construir um terminal se ele          considerando o vale-transporte, em reais
 não é usado totalmente? As                                                          Ônibus
                                     Regiões                     Tarifa             VT 1 SM              VT 2 SM      Moto     Gasolina   Álcool
   pessoas não querem vir
                                     Norte                        1,88                 0,56                 1,12       0,76     2,15      2,18
   aqui. Os espaços para as          Nordeste                     1,85                 0,56                 1,12       0,72     2,17      2,04
  lojas estão vazios porque          Centro-Sul                   2,20                 0,56                 1,12       0,75     2,29      2,05
 não há gente para comprar.          Sul                          2,20                 0,56                 1,12       0,70     2,00      1,87
    Não adiantou de nada”            Sudeste                      2,23                 0,56                 1,12       0,68     2,14      1,89
        Nilson Pereira, usuário      Brasil                       2,07                 0,56                 1,12       0,71     2,16      1,99
     do Terminal da Roça Grande      Fonte: Pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos, 10/06/2009




16                                                                                                                 RMC em debate. Segundo caderno
ou moto. Os dados se referem ao custo de demora dos ônibus e a lotação de
desembolso, que inclui tarifa (no caso de passageiros Filla explica que as linhas são
ônibus) e gastos com combustível (motos e dimensionadas de acordo com sua utilização.
carros) e estacionamento (carros). Na              “Nos horários de pico, a ocupação é plena
região Sul, o custo para o usuário de ônibus – passageiros sentados e mais seis pessoas
é de R$ 2,20. Quem usa moto gastará R$ por metro quadrado. Ultrapassado este li-
0,70; carros à gaso-                                                    mite, colocamos
lina, R$ 2, e à álcool,          Com a tarifa alta,                     mais ônibus. Caso
R$ 1,87.                                                                contrário, não au-
    Outra questão             muita gente recorre                       mentamos o serviço
que tem feito os                   a outras formas                      nas linhas, porque
usuários pensarem             de transporte, como                       mais ônibus têm
duas vezes antes de                                                     reflexo direto no
usar os ônibus diz
                                o carro ou a moto,                      custo do sistema”,
respeito às condi-                para se deslocar                      justifica.
ções dos terminais.         das cidades do entorno                          Sobre melhorias
Há muita reclama-              a Curitiba, seguindo                     no transporte públi-
ção sobre falta de                                                      co coletivo — que
conforto e seguran-
                               tendência nacional                       atende mais de 2 mi-
ça. Segundo a Urbs,                                                     lhões de passa-
eles estão sendo reformados. “Algumas geiros por dia, em 21 mil viagens que
obras foram entregues em agosto, outras percorrem mais de 500 mil quilômetros —
estão em conclusão”, diz Filla. Mas não são Filla afirma que o sistema é constantemente
todos os terminais contemplados com obras monitorado e otimizado. Além disso, os
— caso do Guadalupe, Centro da capital.         usuários podem fazer reclamações pelo
    “Tem muita gente que fica aqui usando telefone 156. “Trabalhamos a curtíssimo
drogas, não temos iluminação suficiente, é prazo, para resolver as reclamações dos
tudo sujo”, diz a dona de uma das lojas usuários. A médio prazo, executamos obras,
localizadas ao redor do terminal. “Fomos e a longo prazo fazemos planejamento, em
assaltados três vezes em apenas dois meses. parceria com o Ippuc e a Comec. É de se
A polícia é chamada, mas nada é feito. Pre- esperar que haja problemas, mas, percen-
cisamos melhorar a                                                      tualmente, o índice
infraestrutura desse                                                    deles é mínimo”,
terminal, para redu-             Usuários também                        avalia Filla.
zir os assaltos”, afir-    reclamam das condições                           Já o gerente da
ma a senhora que          dos terminais de ônibus — Comec defende que
prefere não ser                                                         é preciso estabele-
identificada.             velhos, desconfortáveis e cer uma nova orga-
    Até quem não              inseguros. Prefeitura                     nização institucional.
utiliza o transporte         acena com reformas —                       “Como não pode-
público todos os dias                                                   mos pensar em
                               mas não para todas
reclama das condi-                                                      transporte coletivo
ções do sistema.                     as instalações                     por ônibus apenas
Camila Krominski,                                                       para Curitiba, é pre-
13 anos, estuda em curso de informática em ciso uma nova organização institucional que
Curitiba duas vezes por semana. Ela sai do seja ‘dona’ da Urbs, e não pode ser a
terminal do Alto Maracanã num trajeto de Comec, que não tem força e estrutura ne-                       “Falta segurança
mais de uma hora até a capital.                 cessárias para Curitiba e Região Me-             nos ônibus, que estão sempre
    “Falta segurança nos ônibus, que estão tropolitana”, afirma Joel.
sempre cheios. Minha avó, que me acom-             “A Urbs teria que ser subordinada a pelo
                                                                                                  cheios. Minha avó, que me
panha, tem que ir em pé todo este tempo”, menos 12 prefeitos das cidades do núcleo                acompanha, tem que ir em
diz a estudante. Lei municipal diz, em seu da Região Metropolitana, com sistema de                  pé todo este tempo. Os
Capítulo 2, ser de responsabilidade da Urbs competências proporcional ao número de                  lugares reservados para
a “boa qualidade do serviço, envolvendo passageiros. As decisões não podem ser
rapidez, conforto, regularidade, segurança, tomadas nem pelo governador, nem pelo                     idosos estão sempre
continuidade, modicidade tarifária, eficiência, prefeito de Curitiba. Uma decisão individual     ocupados, e nem sempre por
atualidade tecnológica e acessibilidade, acaba optando pela solução política. Uma                      quem tem direito”
particularmente para as pessoas com decisão colegiada, pela solução técnica”,
deficiência, idosos e gestantes”. Sobre a argumenta.                                                 Camila Krominski, usuária


Novembro de 2009                                                                                                                 17
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2.° caderno RMC em Debate - Alexsandro Teixeira Ribeiro

  • 1. Apresentação Valter Fanini, presidente do Senge-PR A armadilha das instituições precárias Você tem em mãos o segundo consequência — o desmantelamento O órgão estadual responsável pelo caderno editado pelo projeto Região do aparelhamento técnico do Estado planejamento metropolitano, a Metropolitana de Curitiba em para planejar e projetar as soluções Comec, há muito deixou de elaborar Debate, uma iniciativa do Senge-PR. que as cidades estão exigindo com qualquer plano setorial ligado às A montagem deste caderno contou urgência — não é percebida tão funções públicas de interesse comum com o apoio de entidades como Crea- facilmente. dos municípios metropolitanos, caso PR, Sindicato dos Arquitetos do Nesse caso, cabe às entidades do planejamento dos transportes Paraná (Sindarq), Ambiens Brasil e representativas da engenharia e do públicos e do sistema viário Sociedad Peatonal. Nele, abordamos urbanismo fazer o alerta, exigir dos metropolitanos. Isso é fruto da a Mobilidade Urbana Regional, com poderes executivos que a capacidade redução drástica de seus quadros ênfase nos sistemas de transporte técnica do setor público seja técnicos, e da inadequada público de passageiros e na logística restaurada, sob pena de termos modelagem institucional sobre qual regional. recursos financeiros disponíveis, mas opera. Nos últimos 25 anos, assistimos em não projetos para a sua aplicação. Quando fazemos uma análise do todas as regiões metropolitanas a um Isso já vem acontecendo com os quadro institucional da gestão dos grande descompasso entre a recursos do Programa de aceleração transportes metropolitanos de demanda por infraestrutura urbana, do crescimento (PAC) do governo passageiros, mostramos a derivada do rápido crescimento federal, situação mencionada em precariedade e — até mesmo — as populacional, e a capacidade várias ocasiões pelo próprio ministro ilegalidades em vigor. Mais financeira do poder público em do Planejamento, Paulo Bernardo. importante — fazemos o alerta de que implementá-la. Isso deu origem a uma não haverá possibilidade de um salto realidade perversa, que pode ser de qualidades na rede de transportes observada sob duas óticas “Desmantelou-se o metropolitana que atenda às principais. aparelhamento técnico do necessidades de deslocamentos de A primeira delas é o enorme Estado para planejar e carga e de passageiros se não déficit de infraestrutura dessas áreas projetar soluções para as reconstruirmos as entidades urbanas, em especial as relacionadas responsáveis pela formulação de seu ao movimento de carga e cidades. Cabe a nós fazer o planejamento, execução de projetos e passageiros. A segunda, o alerta, exigir dos poderes implantação de infraestrutura. desmantelamento das instituições de executivos que a capacidade Quando falamos de precariedade planejamento e projeto responsáveis técnica do setor público seja institucional, queremos ir além da pela montagem das políticas públicas restaurada, sob pena de falta de quadros técnicos ou recursos para o setor. financeiros. Falamos principalmente O déficit na infraestrutura de termos recursos financeiros da indefinição das funções das transporte e movimentação de cargas disponíveis, mas não projetos diversas entidades que devem atuar pode ser percebida pelo cidadão para a sua aplicação” no sistema, a falta de mecanismos de comum quando se depara articulação entre elas e a ausência diariamente com o caos reinante no A Região Metropolitana de de canais de participação da trânsito das cidades, decorrente de Curitiba não é exceção neste sociedade. São questões que somente um sistema viário que não se contexto. Prova disto é o inicio tardio serão resolvidas a partir da expandiu de forma estruturada e de dos projetos do metrô curitibano, que redefinição de uma nova entidade um transporte público sustentado em só parece se efetivar quando se metropolitana, tema recorrente em modalidades de baixa capacidade, vislumbrou a existência de recursos praticamente todos os artigos e como o ônibus. financeiros com o anúncio da vinda matérias produzidos para os No entanto, a segunda da Copa do Mundo para Curitiba. cadernos deste projeto. Este caderno é uma publicação do projeto Região Metropolitana de Curitiba em Debate Organização e coordenação Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) Assessoria Técnica Ambiens Sociedade Cooperativa Apoio Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Sindicato dos Arquitetos do Paraná (Sindarq), Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), FAE Centro Universitário, Sociedad Peatonal, Movimento Passe Livre Edição Rafael Martins (Reg. Prof. 3.849 PR) Reportagem Camila Castro Fotografia e diagramação Alexsandro Teixeira Ribeiro Fale conosco comunica@senge-pr.org.br Artigos assinados são de responsabilidade dos autores. O Senge-PR permite a reprodução do conteúdo deste jornal, desde que a fonte seja citada. Fotolitos/impressão Reproset Tiragem 4 mil exemplares 2 RMC em debate. Segundo caderno
  • 2. Artigo Institucionalização dos transportes da RMC: histórico e novas perspectivas O presidente do Senge-PR, Valter Fanini, explica porque o atual modelo de administração do transporte coletivo de Curitiba e região é excludente, e diz que a gestão deveria ser feita com a participação dos 26 municípios da RMC, e não por um único órgão, a Urbs. “Tamanha diversidade institucional para administrar um mesmo sistema somente terá possibilidade de funcionar sob um regime organizacional integrador que contemple a multiplicidade de atores políticos e sociais”, afirma. Para ele, precisamos de uma nova instituição para gerenciar o transporte, reunindo governo do estado, prefeitos e sociedade civil organizada O processo de ocupação urbana Assim, pode-se dizer que o início do periférica à Curitiba sobre território de sistema de transporte de passageiros da municípios vizinhos, que se consolidou RMC teve caráter “pouco formal”, com maior intensidade a partir da década sustentado exclusivamente por instrumentos de 70, e a necessidade de deslocamento de permissão de operação emitidos pelo da população dessas áreas, espe- então Departamento de Serviços de cialmente em direção à capital, deu Transporte Coletivo – DSTC, ligado ao origem a uma demanda por transporte DER-PR, obedecendo a uma lógica histórica público urbano de passageiros que foi de domínio de território por parte das rapidamente atendida por linhas de ônibus empresas de transporte. ofertadas por empresas que operavam Ao longo dos mais de 30 anos decorridos linhas rodoviárias nas imediações dessas desde o início desse processo, o poder novas fronteiras de ocupação. público buscou em diversos momentos O Governo do Estado, desde esta formas de se assenhorear desse sistema, época, passou a licenciar a operação intervindo ora no campo das infraestruturas dessas novas linhas de transporte público de transporte ora no campo normativo das baseado numa interpretação dominial de concessões dos serviços e no modelo de território das empresas operadoras, ou gestão do sistema, sem, no entanto, ter obtido seja, concedia licença de operação de êxito na construção de um modelo gerencial novas linhas urbanas a quem estivesse estruturado e perene. operando linhas intermunicipais nas Em 1990 a competência de gerir as linhas proximidades dessas novas áreas intermunicipais no espaço metropolitano foi urbanas. Apesar desse procedimento transferida do Departamento de Estradas nunca ter sido explicitado por de Rodagem para a Coordenação da Região instrumentos formais, como planos, Metropolitana de Curitiba (Comec), através normas, portarias, editais de licitação de decreto governamental, consolidando-se decretos, leis, etc., esta prática constituiu- o que de fato já vinha ocorrendo desde 1982 se em um acordo tácito de bom convívio por meio de convênios entre as partes. entre agentes dos governos e empresários No ano de 1992, uma tentativa do para a expansão do que veio a ser a primeira governo do estado de licitar as linhas de rede de transporte público metropolitano. Valter Fanini é engenheiro civil e servidor público estadual transporte intermunicipais da RMC através >> Novembro de 2009 3
  • 3. >> da Comec resultou em uma batalha judicial cipais e o Governo do Estado do Paraná. da qual não se conhece os resultados finais Tamanha diversidade institucional para até hoje. O que efetivamente se sabe é que administrar um mesmo sistema somente terá tudo permaneceu exatamente como antes possibilidade de funcionar sob um regime da tentativa de licitação. organizacional integrador que contemple a Em 1996 foi assinado convênio entre o mul-tiplicidade de atores políticos e sociais. governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba Na contramão da necessidade de um conferindo ou transferindo à Urbs o controle modelo integrador de gestão, adotou-se na RMC operacional do transporte intermunicipal na um modelo excludente, dando-se a um órgão RMC, com o objetivo de facilitar o processo da administração indireta da prefeitura municipal de integração do sistema de transporte de Curitiba, a Urbs, poderes para atuar de forma metropolitano ao sistema de transporte absolutista sobre os interesses dos demais curitibano. municípios e do próprio Governo do Estado. No campo das infraestruturas, a partir do final Tal condição nos remete de imediato às da década de 1970, o governo do estado, via perguntas: de que forma isto aconteceu? Comec, manteve qua- Seria o convênio se de forma per- entre a Comec e a manente programas À população, coube assistir Urbs o responsável voltados a atender as estarrecida os demais por manter tal situ- necessidades de im- plantação de infraes- prefeitos dos municípios da ação?Quem se de- não. Obviamente trutura de transporte RMC sendo chamados às bruçar sobre tal derivadas da expansão suas responsabilidades instrumento verá contínua dessa rede de sobre o sistema por seus que se trata de do- transporte. cumento frágil, ge- Nesse sentido, eleitores e obrigados a dar nérico e precário, que ainda na década de a incompreensível resposta vem sendo renovado 70 deu-se início à de que a questão tinha que ano a ano entre as pavimentação das ser tratada com o prefeito instituições e que vias que abrigavam pode ser revogado a linhas urbanas de da cidade vizinha e que qualquer momento. ônibus, utilizando os eles estavam ausentes Onde estará en- chamados pavimen- deste processo tão a força man- tos de baixo custo e tenedora de tal si- foi, ao longo dos tuação, que hoje ex- anos, projetando e implantando intervenções clui 25 municípios e o Governo do Estado do de maior porte, de modo a constituir uma Paraná de suas responsabilidades de repre- rede formada atualmente por mais de oito sentação técnica e política sobre os transportes corredores metropolitanos de transporte, metropolitanos e não confere à sociedade civil parcial ou totalmente integrados a rede de a menor chance de participação? E como transporte de Curitiba, operados através de reverter essa situação? O ordenamento cons- cerca de 20 terminais de passageiros. titucional dado para o trato de todas a funções O fulcro das discussões atuais do sistema públicas de interesse metropolitano e que aponta de transporte metropolitano, incluindo o de para a necessidade de se constituir órgãos Curitiba, recai sobre o modelo institucional metropolitanos para o exercício das funções a ser adotado para contornar definitivamente públicas de interesse comum de seus municípios as questões de gestão, ligadas a necessidade constitui o primeiro passo para se tentar de definição do seu centro decisório, sua responder estes questionamento. administração técnica, o controle social e a Sabe-se que a Comec deveria ter sido linha e responsabilidades sobre o pla- reformulada institucionalmente a partir do Adotou-se na RMC um nejamento e investimentos. novo ordenamento dado pela Constituição modelo excludente, em Sabe-se que constitucionalmente os de 1988, que estabeleceu nova distribuição serviços de transporte urbano intra-municipal de competências entre União, estados e que um órgão da prefeitura são de responsabilidade dos municípios, municípios na gestão de regiões , e colocou de Curitiba tem poderes enquanto o intermunicipal constituem a necessária participação da sociedade civil para atuar de forma responsabilidade dos Estados. Assim, de nesse processo. No entanto, desde então, acordo com essa linha de responsabilizações, andou-se em sentido contrário. Além de não absolutista sobre os temos na Região Metropolitana de Curitiba reformular seus estatutos, a Comec foi sendo interesses dos demais 27 entidades gestoras do transporte fragilizada como instituição ano a ano com municípios e do estado metropolitano, sendo 26 prefeituras muni- a redução sistemática de seu quadro de 4 RMC em debate. Segundo caderno
  • 4. funcionários, culminando com o cenário atual, transporte coletivo urbano deu-se sem as RMC vem provocando, e provocará cada vez no qual o órgão beira a auto-extinção. formalidades legais e contratuais que o mais, tensões que tendem a se agravar, como A resposta ao questionamento sobre as gênero da coisa pública exige, o que se visto recentemente em relação a implantação razões da permanência de uma situação no entendia na ocasião como algo provisório, pelo governo do Estado dos terminais mínimo estranha, em que um órgão da que seria logo adiante reformulado. metropolitanos de ônibus Guaraituba e Roça administração indireta da prefeitura Grande e a recusa da Urbs em iniciar a municipal permanece com poderes operação dos mesmos, situação que acabou absolutistas sobre a competência que sendo arbitrada pelo Ministério Público. constitucionalmente são de outros 25 Um novo modelo de gestão À população coube assistir estarrecida municípios e do governo do Estado está, deve prever a base de os demais prefeitos dos municípios da RMC portanto, no fato de não existir outra operação do sistema sendo chamados às suas responsabilidades instituição organizada para substituir assentada sobre uma sobre o sistema por seus eleitores e adequadamente a Urbs no papel que vem obrigados a dar a incompreensível resposta desempenhando desde 1996. estrutura técnico-funcional de que a questão tinha que ser tratada com A configuração atual da gestão dos com capacidade de elaborar o prefeito da cidade vizinha e que eles transportes na RMC foi implantada no ano o planejamento estratégico estavam ausentes deste processo. de 1996 quando um mesmo grupo político Deixando os fatos e caminhando para o de longo prazo de todas as administrava o município de Curitiba e o campo das proposições de solução para o Governo do Estado através do que se funções públicas de aparente dilema existente no sistema de poderia chamar de cooperação entre amigos interesse comum da RMC, gestão dos transportes metropolitanos, pode- para a gestão dos transportes, no lugar de aí incluído o transporte se dizer que o encaminhamento para um um modelo de gestão perene e formalmente novo modelo de administração dos constituído através de leis e contratos. A público transportes metropolitanos faz parte do novo integração dos terminais metropolitanos à modelo de gestão proposto para as funções Rede Integrada de Transportes de Curitiba, públicas de interesse comum no Plano de através do sistema de linhas diretas Fosse este modelo estável do ponto de vista Desenvolvimento Integrado da RMC 2006, (ligeirinhos), obrigou a transferência de político poderíamos todos fechar os olhos para que teve encaminhamento legislativo através poderes de gestão da Comec para a Urbs as desconformidades legais e deixar que o do projeto de Lei nº. 212/88, em tramitação como condição para a inclusão das linhas sistema de transporte de passageiros continuasse na Assembleia Legislativa do Estado. metropolitanas no sistema de receitas sendo gerido como nos últimos 13 anos. A proposta em tramitação devolve ao públicas e de tarifa integrada operadas em No entanto, a ausência de canais formais órgão metropolitano o poder de gestão Curitiba. de articulação entre os atores políticos e atualmente transferido a Urbs e propõe Este processo de transferência de institucionais que são corresponsáveis pela como instância máxima deliberativa um co- poderes e de criação de novas linhas de administração dos transportes públicos na legiado formado por prefeitos metropolitanos >> Acordo para integração dos terminais metropolitanos à rede de transportes de Curitiba acabou por transferir sua gestão da Comec para a Urbs, empresa da prefeitura Novembro de 2009 5
  • 5. >> e pelo governador do Estado. O novo modelo de gestão prevê ainda a base de operação do sistema assentada sobre uma estrutura técnico-funcional, com capacidade de elaborar o planejamento estratégico de longo prazo de todas as funções públicas de interesse comum da RMC, aí incluído o transporte público de passageiros. A partir de uma nova instituição que (i) coloque as decisões política dos transportes sob o comando dos que possuem legitimidade para isto, ou seja, o governador do Estado e os prefeitos dos municípios metropolitanos, (ii) seja dotada de capacidade técnica para formular planos estratégicos de longo prazo e assessorar os seus conselhos, será possível elaborar contratos específicos, even- tualmente com a própria Urbs, transferindo responsabilidades pela execução de serviços operativos, mas nunca o poder político da tomada de decisões estratégicas sobre um sistema que abrange e, portanto, afeta a população de um conjunto de municípios. O novo modelo vem sanar também uma falha grave da atual maneira de administrar o transporte de passageiros na RMC, que é a ausência de canais de participação direta da sociedade, uma vez que abre a possibilidade de participação da sociedade civil organizada através de um conselho consultivo. O que impede então que este novo modelo seja implementado? Pode-se dizer que um dos principais motivos é o desconhecimento por parte dos atores políticos e da sociedade de modo geral sobre a possibilidade de se criar mecanismos de gestão que compartilhe o poder e que estabeleça corresponsabilidades entre atores políticos e sociais para a gestão das chamadas funções públicas de interesse comum metropolitanas, entre elas os transportes públicos. O governo do Paraná vem adiando essa discussão, apesar de ter publicado em 2006, na nova edição do Plano de Desen- volvimento Integrado da Região Me- tropolitana, uma proposição para um novo modelo de gestão metropolitana. Não é por outro motivo que esta nova edição do “Região Metropolitana de Curitiba em Debate” levanta o tema procurando auxiliar o debate público iniciado com a apresentação na Assembleia Legislativa do Projeto de Lei n.º 212/08 que propõe a construção de um novo órgão metropolitano para a gestão das funções públicas de interesse comum na Região Metropolitana de Curitiba. Esperamos estar cumprindo com nosso objetivo. Fila para entrar em estação de ônibus “ligeirinho” lotada, no Centro de Curitiba: um sistema exaurido 6 RMC em debate. Segundo caderno
  • 6. Artigo O ciclo político do serviço público de transporte coletivo em Curitiba O economista Luís Maurício Martins Borges, da Ambiens Sociedade Cooperativa, avalia os motivos que levaram à concentração nas mãos de poucas empresas do serviço do transporte público coletivo, passando pela relação entre o empresariado e o poder público. Borges também discute as variações no valor da tarifa paga pelo usuário, que “é determinada pelo ciclo político dos mandatos locais” O debate sobre o transporte coletivo na determinadas áreas e conjuntos de linhas Região Metropolitana de Curitiba, sob o para estarem aptas a prestarem o serviço aspecto político e socioeconômico, deve público. Esta reforma, a despeito da sucessão considerar, entre diversos aspectos de inovações positivas do ponto de vista do primordiais, a relevância da capital do Estado serviço público, contribuiu de fato para a na hierarquia deste sistema, a sua concentração de poder político e econômico estruturação espacial e os problemas que em poucas e grandes empresas1 . Já neste decorrem de fatores como adensamento momento, o governo municipal, além de não populacional, transformação metropolitana interferir na sistemática do cálculo do preço da cidade, concentração de população de da tarifa, aceitou a prorrogação dos prazos baixa renda, e a tarifa, da qual se desdobra de vida útil dos veículos em operação de o acesso a este serviço público. Discute-se cinco para dez anos, embora o custo da neste trabalho especialmente a tarifa e o renovação da frota contasse nas planilhas gasto fiscal, que são centrais na de determinação do preço da passagem. determinação do ciclo político local em As mudanças mais conhecidas do sistema função tanto da concentração do mercado de transporte, como ônibus expressos e de serviços públicos de transporte coletivo ligeirinhos, introduzidas respectivamente nas como da afinidade entre o conjunto mais décadas de 1970 e 1990, requereram amplo de interesses. De um lado interesses adaptações nos veículos para operação no das empresas em manter os serviços e obras sistema concebido pelo poder público públicas como estão, afinal de contas, este municipal, que, além da praticidade pro- um “modelo”, e de outro lado, dos grupos porcionada, também representaram uma políticos, que vêm orientando a construção sólida barreira de mercado à entrada de novas da capital – ambos sob a finalidade de sua empresas. Essa barreira constitui-se pelo risco própria acumulação capitalista sustentada de imobilização de capital em ônibus especiais, através do Estado. onerosamente adaptados a outras atividades, A origem desse sistema remonta-se a além do volume de capital e influência política meados da década de 1950, quando o necessários à concessão da regularidade para transporte coletivo ainda era constituído pelo o serviço de transporte coletivo. Assim, já na sistema de lotações, concentradas nas rotas década de 1970 até os dias hoje, se consolida mais lucrativas e sem horários fixos. O a concentração desde mercado sobre as governo Ney Braga fez uma reforma no mesmas 10 empresas em atividade. sistema, na qual as empresas deveriam A aliança entre setores empresariais e apresentar uma determinada eficiência poder executivo municipal nem sempre foi técnica e profissional e responder por Luis Maurício Martins Borges é economista tão fraterna, como conta a história do trans- >> Novembro de 2009 7
  • 7. >> porte coletivo com casos bastante elu- Deste processo que se inicia em meados cidativos destes conflitos. O PMDB na e transcende o fim de um mesmo século década de 80 estabeleceu uma aliança com XX, destaca-se a concentração do mercado os movimentos populares, especialmente em de serviço de transporte público, consolidado relação à questão do transporte coletivo, em na década de 1970, seguida da mobilização um momento de agravamento do quadro política das empresas de ônibus para a defesa social causado pelo desemprego e intensa de seus interesses nos anos 1980. As dez migração em meio à transformação e empresas de transporte coletivo regulares recrudescimento da crise econômica. A de Curitiba4 , representadas pelo Sindicato representação desses movimentos das Empresas de Transporte Urbano e constituía-se através do Movimento das Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Associações de Bairros (MABs), pela Região Metropolitana (Setransp), têm plena exigência da redução imediata dos gastos convergência de interesses com outros com transportes e pela redefinição da sindicatos, como do mercado imobiliário relação entre poder público e empresariado (Ademi e Secovi) e da construção de obras de ônibus2 . O temor dos empresários deste públicas (Apeop), como se verá a seguir. setor concretiza-se primeiro quando o então No entanto, a Setransp representa o centro deputado estadual Roberto Requião do poder econômico e político historicamente encaminhou na Assembleia legislativa projeto organizado no acesso a grande parte do de lei propondo a estatização, não só dos orçamento público de Curitiba, realizada transportes coletivos, mas de todos os através da empresa de Urbanismo – Urbs, serviços públicos da capital. Num segundo que, atualmente, responde por mais de um momento, as ações estatizantes ganharam quinto do total dos recursos municipais sem forma na gestão do prefeito Requião (1985- qualquer interferência, informação ou 1988), com apoio popular na mobilização de prestação de contas à sociedade curitibana. fiscais para aferir as condições de operação É com este histórico apresentado que se da frota e apresentar elementos para a conclui, no findar do século 20, a origem da aferição dos cálculos de determinação dos política recente de tarifa pública de transporte preços das passagens de ônibus. coletivo, e se passa à sua análise, a partir do Após a constatação de inúmeras segundo governo Taniguchi, nos primeiros irregularidades – como fraudes, desvios, anos do milênio. No último ano do governo manipulação de informações e a sonegação Taniguchi, em 2004, um desentendimento deliberada da substituição de ônibus com vida entre o futuro candidato a prefeito, Beto útil vencida ainda em circulação – a gestão Richa (a época vice-prefeito), com o atual Requião requereu judicialmente, com prefeito a respeito do aumento da tarifa de sucesso, a anulação das concessões transporte coletivo fez com que Richa, na outorgadas aos empresários, tornando-os ausência do outro, oportunamente reduzisse permissionários. Isto aumentou o controle a tarifa, que depois foi aumentada. Tudo às público sobre o transporte coletivo, reduzindo vésperas da eleição. Em 2005, embora a a possibilidade de manipulação das planilhas tarifa de transporte público de Curitiba, no de custo. No entanto, as mudanças foram primeiro ano do governo Richa, tenha sido muito pequenas já que não se alterou a realmente reduzida em R$ 0,10 – passando estrutura deste mercado, mantendo-se as para R$ 1,80 – voltou a R$ 1,90 em 2006 e mesmas empresas. Apesar da incon- manteve-se constante até 2008. Em janeiro veniência a esses empresários, as de 2009, após a re eleição de Richa, sem alterações nas planilhas de custo das tarifas surpresa nenhuma a tarifa subiu para R$ 2,20. de ônibus puderam ser suportadas e até Na representação da Figura 1, observa- revertidas em benefício destes nos se que em todo o segundo mandato de mandatos posteriores 3 . Taniguchi (2001 a 2004) a tarifa pública teve O sindicato das empresas de transporte crescimento superior à despesa com público de passageiros deixou sua postura transporte coletivo deste período. Em 2005, meramente reativa e passou a atuar junto à com a redução da tarifa no primeiro ano do Câmara na eleição e cooptação de governo Richa, ocorre o crescimento da vereadores, construindo um bloco despesa de transporte custeada pelo parlamentar hegemônico, capaz de orçamento público municipal, apresentando salvaguardar o setor contra quaisquer pequena queda em 2006, com aumento do ameaças estatizantes, impor seus pontos de preço da tarifa. O congelamento da tarifa que vista sobre a gerência do transporte coletivo e se seguiu nos anos anteriores às eleições até transformar-se em porta voz da demanda municipais de 2008 foi acompanhado pelo de outros setores (Oliveira 2000, p. 152). Rua congestionada no anel central de Curitiba aumento da despesa pública de transporte 8 RMC em debate. Segundo caderno
  • 8. coletivo. Em janeiro de 2009, após a nova posse do prefeito, o reajuste da tarifa pública equipara- se à proporção da evolução das despesas públicas com transporte coletivo, em um padrão de financiamento do serviço semelhante ao do segundo governo de Taniguchi. Fica flagrante então que a evolução do preço da tarifa de ônibus é determinada pelo ciclo político dos mandatos locais. Disso decorre o fato de que o serviço se organiza menos pelo planejamento da expansão do sistema de transporte do que pelo uso político eleitoral, como um “subsídio” ao setor, quando na verdade é um gasto público, reduzido após as eleições, com o aumento da tarifa. Transfere-se nestes momentos o custo do sistema de transporte coletivo para os usuários. Essa dinâmica sustenta os interesses de políticos e empresários nos ciclos de sucessão eleitoral e de acumulação capitalista, em projetos de expansão e manutenção do conjunto de serviços públicos municipais quando da produção de infraestrutura de ônibus, estações, vias, iluminação, habitação e saneamento, de maneira a determinar o lugar de cada classe de cidadão no espaço da cidade, pela articulação das condições de transporte e equipamentos públicos ao trabalho e moradia. ESPAÇOS URBANOS A valorização de determinados espaços urbanos pelo jogo do mercado vale-se historicamente dos investimentos públicos, a serviço do fortalecimento das condições de acumulação no mercado imobiliário, com a criação de uma falsa escassez de terras que existe em relação ao poder das distintas classes sociais, de retenção e acesso a essa preciosa mercadoria: a terra. Na falta de Passageiros no Terminal Alto Maracanã, em Colombo, um dos mais movimentados da Grande Curitiba um planejamento político territorial da cidade, por meio da livre valorização do preço do menos qualificados e valorizados. A aparente renda que se aproxima das principais vias, uso (ou desuso) da terra, processa-se a falta de relação entre as políticas públicas enquanto os conjuntos habitacionais pro- seleção dos habitantes de mais alta renda urbanas de investimentos em novos conjun- movidos pelo poder público municipal, assim para o acesso aos melhores serviços e con- tos habitacionais e vias de comunicação como as ocupações irregulares, com o efeito dições, enquanto se relega às classes de rápida é bastante coerente à estratégia de da valorização das terras, são impelidos a mais baixa renda espaços mais distantes, concentração da população de mais alta se distanciar destas novas infraestruturas. >> Evolução do crescimento anual do custo da tarifa de ônibus, da despesa em transportes coletivos urbanos e do orçamento anual, entre 2001 e 2008 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008/09 Custo Tarifa de ônibus (R$ 1,00) 1,10 1,50 1,65 1,90 1,80 1,90 1,90 2,20 Despesa em Transporte Coletivo* 356.030 442.115 475.500 546.290 672.000 521.925 638.165 673.640 Orçamento Anual* 1.537.000 1.690.000 1.940.000 2.250.000 2.425.000 2.353.691 2.824.411 3.911.233 * (em mil reais) Fonte: Sítio da prefeitura de Curitiba (2008), Secretaria de Finanças, Informação sobre Orçamento Anual Novembro de 2009 9
  • 9. >> Não é de difícil constatação a destinação relativas à prestação do serviço também dos serviços e da infraestrutura pública, público de transporte coletivo. Nenhum outro determinada por classe de cidadão (pelo seu aspecto do serviço público municipal tem nível de renda), em espaços dotados de seus números tão bem guardados quanto consolidada infraestrutura pública e social, este serviço. Um cidadão interessado em enquanto outros se mantêm impossibilitados buscar informações relevantes a respeito da de acesso a serviços de saneamento prestação do serviço de transporte coletivo ambiental, à propriedade legal da moradia decepciona-se na verificação do sítio da regular e ao padrão de transporte público prefeitura, pois observa a falta de (como do modelo de Curitiba). É fácil o especificação do programa de transporte usuário de transporte coletivo concordar que coletivo, no orçamento municipal de 2001 a este serviço é bom quando você o utiliza nas 2009, detalhado em atividades e projetos, a linhas de expresso, ligeirinhos e coletores em exemplo de outros programas, como o de pequenos trechos, fora do horário de pico e habitação. ao redor ou próximo às vias que levam ao Os interessados em política urbana não Centro. encontrarão no diagnóstico do plano de O sistema de transporte coletivo mostra mobilidade urbana5 informação também suas inconsistências e obstáculos na medida disponível neste sítio, descrição detalhada dos em que o passageiro custos e do histórico percorre grandes dis- de serviço (número tâncias, por várias co- de pessoas transpor- A evolução do preço nexões, especialmente tadas), sob a ausência no horário de maior da tarifa de ônibus de uma proposta ob- fluxo de trabalho e é determinada jetiva de transporte estudo. A partir dos ex- pelo ciclo político coletivo em massa, tremos gradientes qua- considerando as con- litativos do serviço de dos mandatos locais dições diferenciadas transporte coletivo de dos cidadãos. Fica ônibus conclui-se que o também o registro de sistema funciona melhor para turismo e lazer que o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), do que para o trabalho e estudo na cidade. durante o debate entre os autores que O programa de Transporte Coletivo, escrevem para esta publicação, colocou a sua como apresentado no Plano Plurianual de insistência, sem sucesso há oito anos, de Curitiba 2006-2009, pretendendo orientar à acesso a este tipo de informação junto a Urbs. melhoria da mobilidade através do aperfei- O transporte coletivo de Curitiba tem boa çoamento do sistema de transporte, com vis- infraestrutura, porém é melhor de se tas a atrair mais usuários, apontava a expan- apresentar na sua parte mais visível em são da infraestrutura de terminais, estações, determinadas áreas privilegiadas e centrais tubos e veículos (ônibus). do que para se utilizar e viver no dia a dia Para isso, foi realizado gasto público por toda a cidade, especialmente para as municipal de 21,1% do orçamento total do pessoas de menores níveis de renda, que município de Curitiba (R$ 2,5 bilhões entre residem e trabalham a maiores distâncias. 2006 e 2009), financiados pela tarifa pública, A condução política do estado, por parte o vale transporte (também chamado de VT), dos interesses privados que se perpetuam à além de outros recursos fiscais, constituindo- décadas na história da cidade, tem nas se num fenômeno central ao entendimento empresas prestadoras do serviço público de da política urbana. transporte coletivo a “espinha dorsal” da Embora seja gasto essa fabulosa estrutura mais bem estabelecida das Um cidadão interessado em quantidade de recurso público – sustentada alavancas que conduzem a política fiscal, buscar informações a pelo fato de que o orçamento municipal de fundiária e financeira do governo municipal. respeito da prestação do Curitiba é o terceiro maior do Brasil (ver A força deste movimento particular, no que serviço de transporte tabela) em termos per capita –, o transporte toca ao serviço público de transporte coletivo, coletivo da cidade não é exceção no País no pode ser representada tanto pela história, que coletivo decepciona-se no que diz respeito à qualidade do acesso pelos é anterior a muitos de nós, como pelo volume site da prefeitura, pois grupos que mais necessitam deste meio de de recursos e as oportunas oscilações observa a falta de transporte, seja por falta de alternativa ou por recentes da tarifa e do gasto fiscal. especificação do programa opção, e especialmente para os moradores Do ponto de vista dos empresários, a dos lugares mais distantes do Centro. convergência é construída pela diversidade no orçamento municipal de Um último fato importa ser destacado: a de projetos complementares na construção 2001 a 2009 omissão de informações de interesse público da cidade, enquanto a divergência dá-se na 10 RMC em debate. Segundo caderno
  • 10. distribuição das fatias dos recursos fiscais. pública: a primeira, relativa à disponibilidade sua análise institucional histórica da política urbana, Sob este aspecto os empresários do trans- das informações essenciais para o debate o caso de Curitiba, na conformação do modelo porte coletivo são os grandes vencedores. público a respeito do planejamento e da Curitibano de planejamento, para o benefício dos Do ponto de vista da sociedade, a con- política de transporte coletivo e, a outra, de interesses de empresários do setor de transporte coletivo, especuladores do solo urbano e vergência é construída pela concentração redução da especulação imobiliária, por meio empreiteiros de obras públicas. A respeito do setor dos serviços públicos nas pessoas de do IPTU progressivo no tempo, destinando de transporte coletivo mostra um interessante melhores condições sociais, em termos de retrospecto de como se constitui a história 10 renda, enquanto a divergência dá-se pelo empresas privadas que lotearam este serviço público outro extremo, de pessoas com piores A partir dos extremos em Curitiba. condições de renda, que têm acesso aos gradientes qualitativos do 2 (Ibid, p. 144) Oliveira no tópico a discussão da piores serviços e infraestruturas públicas. revolução do transporte coletivo, relata a resistência Isso por força dos interesses ligados à transporte coletivo, de setores populares e da classe média frente à especulação causada por promotores conclui-se que o sistema voracidade dos interesses dos empresários deste imobiliários que usam a expansão da setor na crise dos anos 80. funciona melhor para 3 (Ibidem, p. 149) Oliveira explica mais infraestrutura para seu próprio lucro. Estes contrastes de interesses, per- turismo e lazer do que detalhadamente como o empresariado do setor de para o trabalho e estudo transporte coletivo fundou uma máquina que imprime cepções e de possibilidades de vida explicam a dinâmica da política urbana das últimas décadas, importantes conflitos urbanos visíveis em na cidade especialmente centrada sobre o transporte público Curitiba, como a piora do serviço de trans- de Curitiba. 4 porte coletivo, que acarreta o agravamento As 10 empresas de transporte urbano de do fluxo de veículos, pessoas e tempo de os lotes ociosos e adequados à construção Curitiba são as Auto(s) Viação Água Verde Ltda., deslocamento, e a especulação pela desocu- de moradias, com subsequente efeito de re- Viação Curitiba Ltda., Viação Marechal Ltda., Viação dução do preço do terreno, orientando as Mêrces, Viação Nossa Senhora da Luz, Viação Nossa pação de imóveis, construídos ou não, que áreas de infraestrutura adequadas e dis- Senhora do Carmo Ltda., Viação Redentor Ltda., expulsa a população para locais cada vez Viação Cidade Sorriso Ltda., Empresa Cristo Rei Ltda. mais distantes e por vezes inadequados ou poníveis ao adensamento populacional. e Transporte Coletivo Glória Ltda. de risco. Notas e referências bibliográficas 5 PHHIS. Plano Municipal de Mobilidade Urbana 1 A conjuntura apresentada aponta para DennisonOLIVEIRA(2000,p.137),emCuritiba e Transporte Integrado –PlanMob Curitiba. Curitiba, duas saídas potenciais, no campo da política e o Mito da Cidade Modelo, apresenta através de Prefeitura Municipal, IPPUC e COHAB-CT 2008. TerminalAlto Maracanã, em Colombo, uma das mais concentradas aglomerações urbanas de baixa renda da RMC: exemplo do modelo que impele os mais pobres e se afastar da infraestrutura Novembro de 2009 11
  • 11. Reportagem Impasses entre Urbs e Comec prejudicam transporte coletivo Quem é o gestor do sistema de transporte público da Região Metropolitana de Curitiba? Quais são as competências e responsabilidades da Urbs e da Comec? O gerente de Operação do Transporte Coletivo da Urbs, o engenheiro Luiz Filla, e o diretor do Transporte Metropolitano da Comec, Joel Ramalho, falam sobre a atual administração do sistema e questões polêmicas, como o impasse nos projetos de construção e ampliação dos terminais do Alto Maracanã, Guaraituba e Roça Grande. Reportagem de Camila Castro Quando se fala em transporte público para percebemos sinais do seu esgotamento. coletivo, logo começam as reclamações dos O sistema parou, não evoluiu com o tempo. usuários. Ônibus lotados e sujos, longas filas E de quem é a responsabilidade? A princípio, e tempo de espera nos pontos de parada, em Curitiba, seria da Urbs, administrada pela alto custo da passagem, poucas linhas e prefeitura, e, na RMC, da Comec, órgão do horários e falta de segurança dentro dos governo do Estado. veículos e nos terminais são algumas das Porém, em 1996 foi assinado convênio principais queixas dos passageiros que em que a Comec delega a Urbs “as utilizam o sistema de transporte coletivo de atividades de planejamento e gerenciamento Curitiba e Região Metropolitana. Mesmo do transporte metropolitano, a implantação assim, o gerente de Operação do Transporte de medidas necessárias para a compatibi- Coletivo da Urbs, o engenheiro Luiz Filla, lização e adequação do transporte coletivo afirma que ele é modelo para o mundo. metropolitano com o sistema de transporte “A Urbs e o sistema de transporte coletivo de passageiros de Curitiba, visando público têm reconhecimento internacional. a integração operacional destes sistemas que É preciso conhecer outros sistemas para ver comporão a rede integrada de transporte o que se consegue fazer em Curitiba e coletivo da Região Metropolitana de Região Metropolitana. Os corredores, as Curitiba”. canaletas, o biarticulado e os ligeirinhos são “Isso porque a Urbs tinha estrutura marcas da cidade copiadas por outros melhor que a da Comec e, na época, havia municípios, até no exterior. Mas não podemos grande facilidade em todos os campos, até parar, temos que otimizar, buscar sempre um mesmo político, porque governo e prefeitura sistema melhor”, diz Filla. E se perguntar- eram do mesmo grupo”, explica o diretor do mos a opinião de um usuário: “Modelo? Só Transporte Metropolitano da Comec, Joel se for para quem não usa os ônibus todos os Ramalho. “O convênio é absolutamente dias, não tem que acordar uma hora mais legal”, frisam Joel e Filla. “Já foi aditivado cedo para chegar ao ponto, que fica longe diversas vezes e, em janeiro do ano passado, de casa, e ainda encarar horas de viagem renovado por mais 15 meses”, diz Joel. até Curitiba no veículo lotado, que pode ser O convênio determina à Comec o assaltado”, afirma Nilson Pereira, 31 anos, controle e a liberação da execução de morador do Jardim Ana Rosa. concessões ou permissões para o serviço Ainda que o sistema seja considerado de transporte coletivo na RMC; o repasse modelo, basta darmos uma olhada em volta Luiz Filla, gerente de Transporte Coletivo da Urbs de recursos à Urbs, para apropriação no 12 RMC em debate. Segundo caderno
  • 12. Fundo de Urbanização de Curitiba, para execução de obras de modernização e racionalização do sistema de transporte metropolitano referente a infraestrutura e construção de novos terminais; a arcar diretamente com os custos nas obras na RMC; e a aprovação dos reajustes de tarifas metropolitanas sugeridas pelo órgão municipal. São responsabilidades da Urbs, segundo o convênio, planejar o sistema, fiscalizar os serviços operacionais e gerir todo o transporte urbano e metropolitano, incluindo contratações para realização das obras de melhorias do sistema. A lei municipal nº 12.597, sancionada em janeiro de 2008, veio reforçar as atribuições da Urbs. Segundo o texto, o órgão é responsável pela regulação, gerenciamento, operação, planejamento e fiscalização do sistema de transporte coletivo de passageiros em Curitiba e Região Metropolitana (art. 12). A licitação para empresas prestadoras do serviço de transporte público em Curitiba também é de responsabilidade da Urbs, conforme determinação da lei municipal, art. 7.º, reforçada pelo “Parágrafo Único – As concessões e permissões para a prestação dos serviços serão outorgadas mediante prévia licitação, que obedecerá às normas de legislação municipal e federal sobre licitações e contratos administrativos (...), observando-se sempre a garantia dos princípios constitucionais da legalidade, da moralidade, da publicidade e da impessoalidade, e os princípios básicos da seleção da proposta mais vantajosa para o interesse coletivo, da probidade admi- nistrativa, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo (...)”. Até aqui parece ser tudo simples – uma Joel Ramalho, diretor de Transporte da Comec, defende a criação de um novo modelo institucional gestão integrada de transporte coletivo, em que prefeitura e Estado têm suas implicaria em aumento de custos, e a Comec custos para uma tarifa já definida precisa competências e responsabilidades. Porém, dizia o contrário: o número de ônibus de indicação de fontes de custeio. O que situações recentes mostram que esta alimentadores em di- não aconteceu na administração ainda não é adequada o reção ao Alto Mara- época dos proje- suficiente para atender com eficácia a canã seria menor. Prefeitura de Curitiba tos”, explica Filla. demanda pelo transporte. Podemos Portanto, haveria re- diz que sistema Segundo o gerente, destacar os casos que envolveram a dução da quilometra- de transporte é “a Urbs deixou ampliação do terminal do Alto Maracanã e gem rodada e de 30% claro” que o ideal a construção dos terminais do Guaraituba e da demanda. “modelo internacional”. seria um terminal Roça Grande, todos na RMC. Apesar das “A busca pela “Só se for pra quem único, com infraes- obras concluídas pelo Estado (investimentos sustentabilidade, que não anda nesses trutura única, para de R$ 2,6 milhões), por mais de dois anos o é uma competência ônibus lotados o sistema não ter terminal do Guaraituba ficou sem operação da Urbs, implica em que arcar com da Urbs por conta de impasse entre os dois regras. Na cláusula todos os dias”, novas despesas. órgãos. O projeto previa ampliação do Alto terceira, o convênio rebate usuário “Calculamos Maracanã (investimentos de R$ 3,6 milhões (aquele, assinado em que a abertura do do Estado) e repasse de treze linhas para o 1996) estabelece que novas integrações ou Alto Maracanã em dois terminais teria custo Guaraituba. A Urbs alegava que tal mudança alterações operacionais que gerem novos inicial de R$ 235 mil, o que, na prática, se >> Novembro de 2009 13
  • 13. Terminal da Roça Grande: projetado pela Comec para um tipo de operação, recebeu outra pela Urbs. Resultado: não atrai usuários nem lojistas >> transformou em R$ 270 mil. Mesmo assim, Guaraituba”, conta Filla. Segundo Joel, a e devemos começar as obras em pouco a Comec continuou com o projeto de novo Comec “não possuía recursos para repassar tempo”, afirmou Joel, em agosto. Durante terminal”, destaca. Por outro lado, o presi- este tempo de discussão, os usuários dente da Comec, Alcidino Bittencourt conviveram com problemas no sistema de Pereira, afirmava na época que a mudança Hoje, a rede transporte público. E, mesmo com o não implicaria em ônus para o sistema, “mas integrada atinge impasse desfeito, os problemas continuam, em redução de custos em conseqüência da mais de 93% de principalmente no Alto Maracanã, como diminuição da quilometragem rodada de conta Luciana Dias de Souza, 23 anos. ônibus alimentadores, que terão seus trajetos Curitiba. Nos “Apesar de haver muitos, os ônibus reduzidos em menos de seis quilômetros, no treze municípios chegam lotados no Alto Maracanã. Tenho mesmo corredor de transporte”. com maior demanda que sair mais cedo de casa para tentar pegar O problema foi resolvido da seguinte na Região Metropolitana, um que esteja mais vazio, ou espero dois forma: “Negociamos com a Comec para ou três passarem e pego o quarto”, conta. incluirmos o custo do Guaraituba na nova o índice é de 73% O impasse entre Urbs e Comec tam- tarifa – quanto ela passou de R$ 1,90 para bém prejudica o pleno funcionamento do R$ 2,20 – e, em contrapartida, a Comec nos mensalmente à Urbs para esta manutenção”. terminal Roça Grande, que entrou em ope- ajudaria a reformar e ampliar o terminal do “Portanto, acordamos que a Comec fará as ração no mês de agosto. Poucas linhas Cabral, que não comporta as linhas do obras no Cabral. A licitação está concluída passam pelo local, porque não há integração 14 RMC em debate. Segundo caderno
  • 14. total com Curitiba, apenas via Alto público urbano e metropolitano, há o subsídio Maracanã, “o que é desconfortável”, confor- cruzado, conforme explica Filla. A receita me Joel. Para isso, Filla afirma que é preciso do sistema é pública e o pagamento às pensar, mais uma vez, nas despesas extras empresas por quilômetro. e na forma como Curitiba pode absorver a “O sistema funciona como um caixa nova demanda. Segundo Filla e Joel, a ideia único. Soma-se todas as despesas do sistema é colocar as linhas no terminal Santa urbano e metropolitano e divide-se pelo Cândida, que precisaria de ampliação. Há número de usuários transportados. Portanto, ainda a possibilidade de usar o terminal do o custo do sistema metropolitano está incluso Cabral. no valor da tarifa urbana, que é subsidiada .“Para colocarmos as linhas no Cabral pela prefeitura de Curitiba. Este subsídio seria necessária nova ampliação, além da cruzado do sistema urbano para o que será feita para atender as linhas do metropolitano é superior a R$ 4 milhões Guaraituba. O total funcionamento do Roça mensais. O usuário do transporte da capital Grande implica em R$ 500 mil de acréscimo banca isto. A proposta para o reajuste da de custo. É preciso definir se esse valor será tarifa era de R$ 2,27, mas foi decretado R$ repassado para a tarifa paga pelo usuário 2,20. A tarifa metropolitana é R$ 2,50. Como ou se o Estado ou a prefeitura local – que é temos 75% do pagamento da tarifa sendo beneficiada com o sistema integrado – feita pelos usuários urbanos, significa que repassarão estes recursos”, argumenta Filla. muita gente, com um pouco a mais, subsidia Segundo Joel, “Urbs os 25% do sistema e Comec estão Impasse entre Urbs e metropolitano. E estudando a melhor por isso também há possibilidade”. Comec prejudica o pleno o subsídio da pre- Enquanto o pro- funcionamento de feitura. Caso con- blema não é resolvido, terminais de ônibus na trário, o valor da ta- mais uma vez quem Região Metropolitana. rifa na Região Me- paga a conta é o tropolitana seria usuário, fala Nilson Resultado — eles atendem superior a R$ 2,50”, Pereira, 31 anos, a poucas linhas, sem diz Filla. morador do Jardim integração total com Diariamente, o Ana Rosa. “Não há Curitiba valor arrecadado ônibus direto para o pelas empresas de- Centro de Curitiba. Para voltar, tenho que ve ser depositado em conta gerenciada pela pegar a linha Pinhais – Guadalupe e, depois, Urbs, que fiscaliza esta operação. “Todos a Ana Rosa. Pago duas passagens e fica os dias a empresa recebe a quilometragem, pesado no orçamento. Para ir trabalhar, com dez dias de intervalo. Como a receita é preciso sair de casa duas horas antes porque pública e o pagamento é por quilômetro, a não há integração, então, é mais demorado”, Urbs tem mais responsabilidade, o que requer fala. “De que adianta gastar tanto dinheiro planejamento e fiscalização em relação à para construir um terminal, se ele não é quilometragem e à receita do sistema”, usado totalmente? As pessoas não querem afirma Filla. vir aqui. Os espaços para as lojas estão O valor repassado pela Urbs às empre- vazios porque não há gente para comprar. sas inclui combustível e manutenção dos Não adiantou de nada”, acrescenta Nilson. ônibus. “Para tentar equilibrar as contas, a A Urbs, responsável por tudo isso, Urbs foi reduzindo o custo quilômetro pago responde: “Dentro da técnica de transporte, aos empresários porque a tarifa é baixa, não “Apesar de haver muitos, visamos ampliar a integração metropolitana, supre as necessidades. Há falta de caixa os ônibus sepre chegam mas também temos que buscar a sustentabi- para este pagamento. Um dos motivos para lotados ao terminal do Alto lidade do sistema e planejar a estrutura das isto pode ser a caixa preta que é a Urbs, consequências dessas novas integrações, com gastos que ninguém conhece bem. Maracanã (em Colombo). como a ampliação dos terminais ou cons- Além disso, as linhas da RMC continuam Tenho que sair mais cedo trução de novas”, diz Filla. com valores baixos e, por isso, as pessoas de casa para tentar pegar as utilizam porque as outras são mais caras”, argumenta Joel. um que esteja mais vazio, PASSAGENS Por outro lado, os usuários reclamam que ou é preciso esperar dois a tarifa é alta. “Entendemos que uma tarifa ou três passarem antes de Além das obras de melhoria e da falta é cara quando ela afeta a capacidade de conseguir lugar” de licitação para as concessões das linhas pagamento da população. Temos sempre pesarem no cálculo das tarifas do transporte que buscar alternativas para desonerar este >> Luciana Dias de Souza, usuária Novembro de 2009 15
  • 15. >> custo. Mas as pessoas precisam pensar que conseguimos construir terminais de inte- nosso sistema oferece uma rede integrada, gração, para que proporcione a possibilidade e elas podem ir de mais de um ponto a outro de vários deslocamentos com uma única pagando apenas uma tarifa. Assim, a tarifa tarifa”, ressalta o engenheiro. torna-se acessível ao usuário do transporte Porém, para o presidente do Senge-PR, coletivo”, avalia Filla, ao ressaltar que em o engenheiro civil Valter Fanini, a pesquisa todo o mundo o transporte coletivo é é fundamental para o planejamento adequado subsidiado. do sistema de trans- “O nosso subsí- Urbs estuda a adoção do porte. “Devemos dio é pequeno. O ca- lembrar que, mais minho talvez seja es- bilhete único, que irá que demonstrar a te, aumentar o subsí- permitir ao usuário pagar forma como é car- dio”, acrescenta. uma passagem e utilizar regada a atual rede Ainda segundo Filla, de transportes, diferentes linhas num o desenvolvimento indicando eventuais de uma Pesquisa de determinado período de desvios da oferta Origem e Destino tempo. Primeiro teste será em relação à de- (que coleta dados realizado na região de manda, a pesquisa sobre demanda, tra- serve para calibrar jetos e horários em Santa Quitéria, na capital os modelos de ge- que os usuários ração de viagens utilizam as linhas, de forma a identificar os futuras, relacionando-as com variáveis socio- fluxos e permitir o melhor planejamento do econômicas e de uso e ocupação do solo. transporte) não é determinante, já que o Assim, serve para a formulação do planeja- sistema em Curitiba e RMC é integrado. mento de médio e longo prazo dos sistemas “Hoje, a rede integrada atinge mais de de transportes urbanos, o que não tem sido 93% em Curitiba. Nos treze municípios com a prática em Curitiba e Região Metropo- maior demanda na Região Metropolitana, o litana”, argumenta. índice é de 73%. Procuramos proporcionar esta acessibilidade independente de INCENTIVOS pesquisa”, fala o gerente da Urbs. Mas, e nos casos em que não há integra- Com a tarifa considerada alta pelos ção? Filla conta que está em estudo a usuários, muitos têm recorrido a outras implantação do bilhete único, que permite formas de transporte, como o carro ou a ao usuário pagar uma passagem e utilizar moto, para se deslocar da RMC a Curitiba, diferentes linhas em um período determinado seguindo tendência nacional de des- de tempo. “É o caso da região de Santa locamento entre cidades do entorno e ca- Quitéria, onde estamos ampliando a estação pitais. Em percursos de até sete quilômetros, tubo para integrar linhas da região, já que carros e motos são considerados mais não conseguimos viabilizar o terminal”, disse. baratos para o transporte, conforme mostra “Cidades que não conseguiram construir pesquisa da Associação Nacional de terminais de integração, com uma rede Transportes Públicos (ANTP) com dados racional e sustentável, implantaram o bilhete de abril. O estudo aponta que, para esta temporal. Em Curitiba, pretendemos adotar distância, usuários de ônibus gastam de 14% a medida em regiões em que não a 228% a mais do que os que utilizam carro “De que adianta gastar tanto dinheiro para Custo de viagem de sete quilômetros, construir um terminal se ele considerando o vale-transporte, em reais não é usado totalmente? As Ônibus Regiões Tarifa VT 1 SM VT 2 SM Moto Gasolina Álcool pessoas não querem vir Norte 1,88 0,56 1,12 0,76 2,15 2,18 aqui. Os espaços para as Nordeste 1,85 0,56 1,12 0,72 2,17 2,04 lojas estão vazios porque Centro-Sul 2,20 0,56 1,12 0,75 2,29 2,05 não há gente para comprar. Sul 2,20 0,56 1,12 0,70 2,00 1,87 Não adiantou de nada” Sudeste 2,23 0,56 1,12 0,68 2,14 1,89 Nilson Pereira, usuário Brasil 2,07 0,56 1,12 0,71 2,16 1,99 do Terminal da Roça Grande Fonte: Pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos, 10/06/2009 16 RMC em debate. Segundo caderno
  • 16. ou moto. Os dados se referem ao custo de demora dos ônibus e a lotação de desembolso, que inclui tarifa (no caso de passageiros Filla explica que as linhas são ônibus) e gastos com combustível (motos e dimensionadas de acordo com sua utilização. carros) e estacionamento (carros). Na “Nos horários de pico, a ocupação é plena região Sul, o custo para o usuário de ônibus – passageiros sentados e mais seis pessoas é de R$ 2,20. Quem usa moto gastará R$ por metro quadrado. Ultrapassado este li- 0,70; carros à gaso- mite, colocamos lina, R$ 2, e à álcool, Com a tarifa alta, mais ônibus. Caso R$ 1,87. contrário, não au- Outra questão muita gente recorre mentamos o serviço que tem feito os a outras formas nas linhas, porque usuários pensarem de transporte, como mais ônibus têm duas vezes antes de reflexo direto no usar os ônibus diz o carro ou a moto, custo do sistema”, respeito às condi- para se deslocar justifica. ções dos terminais. das cidades do entorno Sobre melhorias Há muita reclama- a Curitiba, seguindo no transporte públi- ção sobre falta de co coletivo — que conforto e seguran- tendência nacional atende mais de 2 mi- ça. Segundo a Urbs, lhões de passa- eles estão sendo reformados. “Algumas geiros por dia, em 21 mil viagens que obras foram entregues em agosto, outras percorrem mais de 500 mil quilômetros — estão em conclusão”, diz Filla. Mas não são Filla afirma que o sistema é constantemente todos os terminais contemplados com obras monitorado e otimizado. Além disso, os — caso do Guadalupe, Centro da capital. usuários podem fazer reclamações pelo “Tem muita gente que fica aqui usando telefone 156. “Trabalhamos a curtíssimo drogas, não temos iluminação suficiente, é prazo, para resolver as reclamações dos tudo sujo”, diz a dona de uma das lojas usuários. A médio prazo, executamos obras, localizadas ao redor do terminal. “Fomos e a longo prazo fazemos planejamento, em assaltados três vezes em apenas dois meses. parceria com o Ippuc e a Comec. É de se A polícia é chamada, mas nada é feito. Pre- esperar que haja problemas, mas, percen- cisamos melhorar a tualmente, o índice infraestrutura desse deles é mínimo”, terminal, para redu- Usuários também avalia Filla. zir os assaltos”, afir- reclamam das condições Já o gerente da ma a senhora que dos terminais de ônibus — Comec defende que prefere não ser é preciso estabele- identificada. velhos, desconfortáveis e cer uma nova orga- Até quem não inseguros. Prefeitura nização institucional. utiliza o transporte acena com reformas — “Como não pode- público todos os dias mos pensar em mas não para todas reclama das condi- transporte coletivo ções do sistema. as instalações por ônibus apenas Camila Krominski, para Curitiba, é pre- 13 anos, estuda em curso de informática em ciso uma nova organização institucional que Curitiba duas vezes por semana. Ela sai do seja ‘dona’ da Urbs, e não pode ser a terminal do Alto Maracanã num trajeto de Comec, que não tem força e estrutura ne- “Falta segurança mais de uma hora até a capital. cessárias para Curitiba e Região Me- nos ônibus, que estão sempre “Falta segurança nos ônibus, que estão tropolitana”, afirma Joel. sempre cheios. Minha avó, que me acom- “A Urbs teria que ser subordinada a pelo cheios. Minha avó, que me panha, tem que ir em pé todo este tempo”, menos 12 prefeitos das cidades do núcleo acompanha, tem que ir em diz a estudante. Lei municipal diz, em seu da Região Metropolitana, com sistema de pé todo este tempo. Os Capítulo 2, ser de responsabilidade da Urbs competências proporcional ao número de lugares reservados para a “boa qualidade do serviço, envolvendo passageiros. As decisões não podem ser rapidez, conforto, regularidade, segurança, tomadas nem pelo governador, nem pelo idosos estão sempre continuidade, modicidade tarifária, eficiência, prefeito de Curitiba. Uma decisão individual ocupados, e nem sempre por atualidade tecnológica e acessibilidade, acaba optando pela solução política. Uma quem tem direito” particularmente para as pessoas com decisão colegiada, pela solução técnica”, deficiência, idosos e gestantes”. Sobre a argumenta. Camila Krominski, usuária Novembro de 2009 17