1. Homem Darcynianus: uma espécie em extinção
Por Marcelle Santos Vieira
O homem darcynianus era um animal extremamente racional, membro da espécie
Distintus Mascullinitus, pertencente ao gênero Ánthro̱pos Komagamaiusculus. Os extintos
darcynianus possuíam elevado entendimento. Esta espécie ultrapassava os padrões
relacionados apenas à intelectualidade e demonstravam inteligência prática tanto nas
questões triviais, quanto nas mais complexas situações do cotidiano.
Acredita-se que um dos últimos integrantes desta espécie foi visto no condado de
Derbyshire, possivelmente no interior da Inglaterra, em meados do Século XIX. Conhecido
pelo nome de Fitzwilliam Darcy, este ser singular, incorporava as mais prodigiosas
características do gênero masculino. Seu perfil e legado foram cuidadosamente descritos
pela escritora inglesa Jane Austen, que cuidou dos mínimos detalhes para que a
originalidade e a personalidade do homem darcynianus fossem notadamente enaltecidas.
As características essenciais da espécie darcynianus abrangiam aspectos de
honestidade, honradez, caráter, inteligência prática, beleza, discrição, austeridade e,
especialmente, romantismo. Porém, como todo ser humano, carregava algumas
imperfeições; em destaque, o preconceito. No entanto, uma vez que era detentor de um
invejável autoconhecimento, o homem desta espécie procurava sempre seu
aperfeiçoamento e se retratava das suas ações incoerentes com humildade, sem perder
sua elegância e masculinidade, obviamente.
O romantismo do homem darcynianus era reconhecidamente genuíno, pois não lançava
mão de máscaras ou artimanhas para conquistar as moças em geral. Ele não tentava ser
o que não era, procurava apenas ser ele mesmo, Sóbrio, Sério e Sábio. Aliás, a junção
dos três S’s ajudou a construir todo o paradigma em torno do homem ideal, ou seja,
daquele homem que não existe mais. Vale ressaltar que, apesar de Sóbrio, Sério e Sábio,
darcynianus também era espirituoso, com quem era possível conversar horas a fio a
respeito dos mais variados assuntos. Era habilidoso cavaleiro e adepto do cavalheirismo.
Charmoso e de profundos olhos constantes. O homem desta espécie não se apaixonava
facilmente e não conseguiria amar qualquer uma. Ele saberia reconhecer uma mulher
especial e diferenciada.
Darcynianus era capaz dos atos mais benevolentes, do carinho sincero, das palavras
ditas em voz baixa e num tom firme e acolhedor. Ele se prontificava a escutar sobre os
problemas da mulher amada, e fazia isso da melhor maneira, olhando nos seus olhos e
segurando em suas mãos. Carregava sempre consigo um lenço, já que previa as
impetuosas lágrimas daquela para quem dedicava eterno amor. Embora pudesse sentir
preconceito das “origens” dela, ele, no fim das contas, procurava não confundir seus
2. sentimentos por antigas e falhas convenções humanas. Relevava o que o seu amor tinha
de especial e se empenhava por conquistá-lo das formas mais nobres possíveis. Ao se
declarar para a mulher amada, ele apenas diria assim: “Você precisa permitir-me dizer o
quanto eu ardentemente a admiro e a amo”.
O homem darcynianus não poderia se interessar ou deixar-se levar por qualquer outra
mulher estando casado, noivo, em um relacionamento sério ou apenas enamorado. Ele
não seria um solteiro interessado somente em sexo e curtição, muito menos em não
assumir responsabilidades.
Todavia, esta espécie já foi extinta do seio terrestre e muitas são as teorias acerca dos
motivos que causaram o seu desaparecimento. Aqui, vale ressaltar a visão de Vieira
(2011), que afirma ser a falta de valorização feminina a principal impulsionadora desta
catástrofe sem precedentes. E por mais que o feminismo tenha sido benéfico para a
emancipação da mulher, ele trouxe inúmeros prejuízos à vida afetiva da mesma. Hoje,
impera a disputa entre os gêneros, além da falta de respeito e responsabilidade nas
relações. O sexo é tão facilmente acessado que o prazer se torna algo efêmero e sem
valor. Ademais, o amor se torna algo impossível de se encontrar, porque foi esvaziado
dos corações, transformou-se em aspecto secundário, terciário ou quaternário nos
relacionamentos. As mulheres se empenham para trabalhar e conquistar seus espaços no
mundo, mas não são capazes (em sua maioria) de possuir a certeza de ter homens aos
seus lados que as amam incondicionalmente. Os homens, por outro lado, estão
confortáveis, já não precisam mais ser amantes, cuidadosos, não se interessam por
presentear, auxiliar, procurar, muito menos reconhecer ou elogiar. A espécie atual se
encontra numa zona de conforto, e tem a certeza de que o sexo oposto irá ao seu
encontro mais cedo ou mais tarde. E o que sobra para as boas e raras mulheres, é a
saudade do que nunca existiu, dos tempos que jamais serão desfrutados e do amor que
nunca será compartilhado.
***
Este texto é dedicado a todas as BOAS e RARAS mulheres que assim como eu acreditam
na extinção do homem ideal. Também é dedicado para aquelas comprometidas que
gostariam que seus amores herdassem um pouco mais das características darcynianas.
Referências
AUSTEN; J. Pride and Prejudice. London: CRW Publishing Limited, 2003.
VIEIRA; M.S. Da experiência pessoal à abordagem austeniana: desenvolvido na mente
da Marcelle mesmo. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Facebook, 2011.
WIKIPEDIA. Baseado em consultas efetuadas à página:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_sapiens
Texto publicado no site www.janeaustenbrasil.com.br