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Jane Austen é pop: o papel do leitor e do espectador na Austen Mania
                                 Autora: Marcela Soalheiro (UFF)

Marcela Soalheiro graduou-se em Comunicação Social – Cinema, pela Universidade Federal Fluminense,
em 2011. Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense
com a pesquisa "Jane Austen é pop: o papel do leitor e do espectador na Austen Mania", sob orientação
do Professor Dr. Maurício de Bragança.

Resumo:

         Este trabalho busca pensar o papel do novo-leitor das obras de Jane Austen: uma espécie de
leitor/produtor que advém não apenas do encontro literário com os romances da escritora, mas sobretudo,
pelas apropriações das adaptações cinematográficas. Assim, buscaremos as razões para a relevância
atual dessas obras, considerando público-alvo, mídia, produtor e espectador, analisando as causas e as
conseqüências do fenômeno contemporâneo de adaptação e apropriação da autora.

Resumo Expandido:

       O cinema adapta Jane Austen desde 1938. Nos últimos quinze anos essas produções
cinematográficas se tornaram consideravelmente mais volumosas.
Neste trabalho busco razões para a relevância atual dessas obras, considerando público-alvo, mídia,
produtor e espectador, analisando as causas e as consequências do fenômeno contemporâneo de
adaptação e apropriação da autora. Com isso pretendo entender o surgimento de um leitor que eu
chamarei de novo-leitor: aquele que já chega à obra impregnado de informações cinematográficas.

Proponho que a leitura que o espectador cinematográfico fará do romance, se ele o fizer, será repleta de
imagens carregadas por ele da tela para a página. E ainda, que a obra de Jane Austen está em constante
construção devido a esse movimento feito pelo espectador/leitor.

Mesmo não conhecendo os livros no original, não lido nenhuma das obras, uma pessoa é capaz de dizer
do que se tratam; ou, talvez, descrever as paisagens ou os costumes que ela retratou. Esse imaginário
que permite o conhecimento da sua obra mesmo sem conexão direta do público com os romances foi em
grande parte criado pelo cinema. John Ellis diz que, quando lidamos com cânones “A adaptação lida com
a memória do romance, uma memória que pode ser derivada da leitura, ou, como é mais comum com um
clássico da literatura, uma memória cultural circulada.” (Ellis, 1982)

Neste caso específico, tratando de quase um século de adaptações, devemos considerar a possibilidade
de o leitor ser conhecedor da obra produzida pela indústria do cinema e da televisão, aquela que já foi lida
anteriormente pelo adaptador. Então é possível supor que, quando abrimos um livro hoje, estamos
impregnados de informações inexistentes nas páginas e isso irá conduzir nossa interpretação. E essa
interpretação, subjetiva e repleta de imagens cinematográficas, é parte integrante do que conhecemos
como Jane Austen hoje e irá construir o que chamaremos de Jane Austen no futuro.

A esse respeito Hutcheon diz que: “Há também outra possibilidade: o nosso interesse surge, na verdade
nós podemos ler ou ver aquele chamado original após termos passado pela experiência da adaptação,
desafiando, assim, a autoridade de qualquer noção de prioridade. Múltiplas versões existem lateralmente,
não verticalmente.” (Hutcheon, 2006)

Atenta a essa nova perspectiva sobre Austen, Jeanne Kiefer publicou, em 2008, Anatomia de uma janeite,
uma pesquisa que fez em busca do perfil do fã contemporâneo de Jane Austen. Sobre como elas (98%
dos 4.501 entrevistados eram mulheres) entraram em contato com Jane Austen: 30% começaram lendo
um dos romances contra 26% que entraram em contato através do cinema e televisão. Kiefer diz também
que, quanto mais jovens os entrevistados, maior a proporção da iniciação através do audiovisual.

Sobre isso Steenkamp diz que:

Como exemplo, apresento uma parente que é uma mulher bem-sucedida e inteligente. Após ver a versão
da BBC de 1995 de Orgulho e Preconceito, uma grande quantidade de vezes, ela se declarou viciada e
animadamente alugou The Jane Austen Book Club, Becoming Jane e a versão da Keira Knightley de
Orgulho e Preconceito [...]. Apesar de não demonstrar nenhum interesse em ler Orgulho e Preconceito,
tendo, brevemente, experimentado a leitura uma vez, ela ainda se refere ao texto como o melhor livro que
nunca leu. (Steenkamp, 2009)

Esse trecho ilustra a diferença entre os leitores de Jane Austen, suas origens (seja através da literatura ou
através do cinema) e o limite de seus interesses.

Além disso, observo o movimento que esse mesmo novo-leitor fará, deixando de ser consumidor e
contribuindo para a produtividade, participando ativamente desse fenômeno, produzindo conteúdo e, por
vezes, se afirmando como co-autor da escritora, como na caso do recente Orgulho e Preconceito e
Zumbis.



Bibliografia:

 BAZIN, André. Por um cinema impuro. São Paulo: Brasiliense, 1991.
CURI, Pedro. Fan-Films: da produção caseira a um cinema especializado.Dissertação de mestrado.
Programa de Pós Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, 2010. Rio de Janeiro,
UFF, 2010.
ELLIS, John. The literary adaptation. Screen 23 (Maio-Junho): 3-5, 1982.
HUTCHEON, Linda. A theory of adaptation. Nova Iorque: Routledge, 2006.
KIEFER, Jeanne. Anatomy of a Janeite: results from the Jane Austen survey, 2008.
LYNCH, D. S.. Cult of Jane Austen. In: J. Todd, Jane Austen in context (pp.111-120). Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
SANDERS, Julie. Adaptation and Appropriation. Nova Iorque: Routhledge, 2006.
SOLENDER, Elsa. Recreating Jane Austen's World on film. 2002.
STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Florianópolis: UFSC, 2006.
STEENKAMP, Elzette. Janeites for a new millenium. 2009.
XAVIER, Ismail. Do texto ao filme: a trama, a cena e a construção do olhar no cinema. São Paulo.


Fonte: http://www.socine.org.br/adm/ver_sem2.asp?cod=717

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  • 2. animadamente alugou The Jane Austen Book Club, Becoming Jane e a versão da Keira Knightley de Orgulho e Preconceito [...]. Apesar de não demonstrar nenhum interesse em ler Orgulho e Preconceito, tendo, brevemente, experimentado a leitura uma vez, ela ainda se refere ao texto como o melhor livro que nunca leu. (Steenkamp, 2009) Esse trecho ilustra a diferença entre os leitores de Jane Austen, suas origens (seja através da literatura ou através do cinema) e o limite de seus interesses. Além disso, observo o movimento que esse mesmo novo-leitor fará, deixando de ser consumidor e contribuindo para a produtividade, participando ativamente desse fenômeno, produzindo conteúdo e, por vezes, se afirmando como co-autor da escritora, como na caso do recente Orgulho e Preconceito e Zumbis. Bibliografia: BAZIN, André. Por um cinema impuro. São Paulo: Brasiliense, 1991. CURI, Pedro. Fan-Films: da produção caseira a um cinema especializado.Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, 2010. Rio de Janeiro, UFF, 2010. ELLIS, John. The literary adaptation. Screen 23 (Maio-Junho): 3-5, 1982. HUTCHEON, Linda. A theory of adaptation. Nova Iorque: Routledge, 2006. KIEFER, Jeanne. Anatomy of a Janeite: results from the Jane Austen survey, 2008. LYNCH, D. S.. Cult of Jane Austen. In: J. Todd, Jane Austen in context (pp.111-120). Cambridge: Cambridge University Press, 2005. SANDERS, Julie. Adaptation and Appropriation. Nova Iorque: Routhledge, 2006. SOLENDER, Elsa. Recreating Jane Austen's World on film. 2002. STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Florianópolis: UFSC, 2006. STEENKAMP, Elzette. Janeites for a new millenium. 2009. XAVIER, Ismail. Do texto ao filme: a trama, a cena e a construção do olhar no cinema. São Paulo. Fonte: http://www.socine.org.br/adm/ver_sem2.asp?cod=717